Movimentos de Capoeira

39

Transcript of Movimentos de Capoeira

Page 1: Movimentos de Capoeira
Page 2: Movimentos de Capoeira

Movimentos de Capoeira - Regras Gerais

1. Na Capoeira quem está a jogar connosco é um amigo, e ambos devemos fazer com que o jogo se desenrole sem violência. Portanto nada de "narizes esmurrados".

2. Nunca nos devemos esquecer de que a Capoeira é um jogo a dois, se um ataca, o outro esquiva e contra-ataca, mas sempre ao ritmo do berimbau. Contudo, devemos ser criativos e evitar que o nosso companheiro adivinhe facilmente qual é o movimento que vamos fazer.

3. Na Capoeira não há agarramentos. Quando é preciso esquivamo-nos e, se o ritmo do jogo "aquece", é prudente manter uma alguma distância do companheiro (pelo menos quando jogamos Capoeira Regional).

 

Movimentos

Esquiva e defesa

Ataque  Floreio

AúCocorinhaCruz GingaQueda de trêsQueda de quatroQueda de rinsNegativaNegativa de angola RolêS-dobrado

ArmadaBençãoCabeçada Chapa de costas Escorão (Chapa) MarteloMeia lua de compassoMeia lua de frentePonteiraQueixadaRasteira

Aú de CostasAú malandroFlick-flack Folha seca MacacoPino ou BananeiraPião de cabeçaSaca rolhas

     

Ginga

É o movimento mais elementar da Capoeira.

Em vez de estar numa posição fixa, o jogador deve manter-se em movimento durante todo o tempo de jogo; todos os outros movimentos derivam deste padrão de movimento que quase parece uma dança.

A Ginga torna-se rapidamente um movimento automático e proporcionando a base para uma grande variedade de movimentos imprevisíveis em todas as direcções e para a simulação de ataques.

Coloca o pé esquerdo atrás do pé direito, de modo a que a perna de trás fique esticada e a perna da frente da frente dobrada formando um ângulo recto entre a coxa e a parte inferior da perna ( 1 direita atrás da base)... move o pé direito para uma posição paralela ao pé esquerdo, mas bem afastada ( 2 paralela)... move o pé esquerdo para trás do pé direito de modo a que a perna de trás fique esticada e a perna da frente da frente dobrada formando um ângulo recto entre a coxa e a parte inferior da perna ( 3 esquerda atrás da base)... move o pé esquerdo para uma posição paralela ao pé esquerdo, mas bem afastada ( 2 paralela)... e assim por diante.

Durante todo o gingado nunca te podes esquecer de proteger a cabeça e a cara com o antebraço/mão do mesmo lado da perna que está esticada para trás, esticando o outro braço para trás de modo a facilitar o equilíbrio.

"a ginga consiste no movimento ritmado de todo o corpo, acompanhando o toque do berimbau, com a finalidade principal de manter o corpo relaxado e o centro de gravidade do corpo em permanente deslocamento, pronto para esquiva, ataque, contra-ataque ou fuga. Durante o gingado, o praticante deve manter-se em movimento permanente, simulando tentativas de ataque e contra-ataque, sempre atento às intenções do parceiro, em contínua postura mental de esquiva e proteção dos alvos potenciais de ataques."

Mestre Decânio

Pino ou bananeira

Page 3: Movimentos de Capoeira

Praticar, praticar, praticar! Este movimento tem muito estilo e faz parte de muitos movimentos defensivos e ofensivos.

Se nunca tentaste fazer um pino ou bananeira, começa por lançar as pernas para o alto junto a uma parede. Não olhe para as mãos, em vez disso mantém sempre os olhos postos na parede para onde está virada a tua barriga, mantendo a cabeça numa posição neutra. Quando conseguires sentir os braços a roçar as orelhas as orelhas está na posição correcta.

Assim que sentires que é capaz, tenta fazer o Pino sem a ajuda da parede. Se estiveres quase a tombar para a frente, levante uma mão e procura ficar em equilíbrio de novo.

Eventualmente, esta manobra pode não funcionar; então tenta rolar para a frente - ou melhor ainda - levanta uma mão, usa a outra mão como eixo e desce os pés suavemente na direcção oposta. (exemplo: levanta a mão esquerda, gira meia volta no sentido dos ponteiros do relógio, volta a por a mão esquerda no chão, baixa uma perna, toca o chão, baixa a outra perna e levante-te, sempre a sorrir.

Queda de Rins

Começa como se quisesses fazer um pino de cabeça: agachado. Vira ambos os joelhos de modo a ficarem a apontar para o lado do teu cotovelo direito. Passa o teu peso para a mão esquerda , de seguida baixa a cabeça.

Coloca a área do tronco acima da tua anca esquerda sobre o cotovelo esquerdo e deixa que o lado esquerdo da tua cabeça toque o chão.

Levanta as pernas lentamente e põe o cotovelo direito no joelho esquerdo para descansar. Neste momento ambas as pernas estarão no ar.

A imagem à direita dá um exemplo de como se pode dar bom uso à Queda de Rins na Capoeira. Na imagem começa-se pela Queda de Três mas pode-se passar igualmente à Queda de Rins a partir de Negativa, saltando etc..

Tomba para um lado mas mantendo o corpo levantado do chão apoiando o flanco no cotovelo do braço de suporte.

Ao princípio parece complicado porque tem de se torcer um pouco o braço, mas depois habituas-te a isso. Agora baixa o corpo um pouco mais, estica a mão livre sobre a cabeça e apoia-a no chão também.

A seguir, deixa que a cabeça toque no chão; colocando-a no alinhamento das mãos (normalmente não é necessário que tudo fique bem alinhado, mas, neste truque, facilita imenso o voltar a posição de pé).

Neste ponto, o peso do corpo apoia-se principalmente no braço . É tempo de te ergueres : Levanta uma perna (no diagrama: a perna direita ) e move-a num arco bem alinhado sobre o tronco. Seguir-se-á a outra perna mas, para já, concentra-te nesta. Faz com que esta perna, depois de passar à vertical da cabeça continue até assentar o pé no chão, na continuação do alinhamento das mãos. Estica o braço que está flectido (na imagem: o esquerdo) impulsionando-te deste modo para cima (6ª imagem).

Isto exigem algum esforço muscular - mais tarde quando já tiveres apanhado o jeito e realizares o movimento com ritmo ser-te-á muito mais fácil de executar. Assim que a cabeça descolar do chão empurra com os dois braços e põe-te de pé.

Aú, Estrela ou Roda.

É um movimento imensamente importante na Capoeira. Usada tanto para uma retirada rápida ou para fazer cair o nosso parceiro numa armadilha.

Aú normal: Assumo que toda a gente sabe fazer isto. Porém, na Capoeira lembra-te sempre de manter o contacto visual com o seu parceiro; nunca olhes para as mãos. Ao princípio, não permanecerás muito tempo apoiado nas duas mãos; tenta ter apenas uma mão de cada vez no chão. Mais tarde podes retardar o movimento ou até mesmo congelá-lo na posição de pino. Está sempre preparado para ser derrubado por uma Cabeçada ou por uma Benção.

Aú pequeno: Não é tão elegante mas é muito mais seguro. Coloca as mãos mais afastadas, move a cabeça mais junto ao chão, conserva os joelhos dobrados e trabalha fortemente com as ancas para mudar o centro de gravidade do teu corpo sobre a tua cabeça.

Page 4: Movimentos de Capoeira

Aú giratório: Começa um Aú para o lado esquerdo até atingires a posição de pino. Aí levanta a mão esquerda e gira apoiado na mão direita, no sentido do s ponteiros do relógio. Depois de teres girado 3 quartos de volta, baixa as pernas como se mostra no diagrama. Isto é um movimento de floreio que te deixará desprotegido durante breves momentos, por isso tenta fazê-lo com rapidez uma vez que deve levar mais tempo a executar do que um vulgar Aú.

Aú para Queda de Rins: Faz um Aú. Quando estiveres a passar pela posição de pino, cai para Queda de Rins e rola, acabando na posição de Negativa.

Malandro: Deste é que eu gosto mesmo. Se estiveres a iniciar um Aú e o teu parceiro agressivo atacar com uma Cabeçada dirigida ao teu estômago, - PAFF-

será punido pelas tuas pernas velozes como um raio.

Para começar, coloca uma mão no chão e salta, torcendo o peito ligeiramente para cima e faz um movimento de canivete com a perna de cima. No início, é mais fácil conservares a outra perna dobrada mas, mais tarde, poderás tentar mantê-la direita.

Por enquanto, cai para a frente ou para o lado. Experimente pontapear acima da cabeça e para a frente, tenta diversos graus de afastamento entres as pernas (pontapear com as duas pernas, fazendo espargata etc). Se nada disto constituir um problema para ti, continua o movimento para pino, faça um Aú malandro na direcção oposta e, então, volta á posição de pé. Ora aí está!, um Aú à Capoeira.

Este é, de facto, um movimento complicado. Para efeitos de treino sugiro que arranjes um parceiro que te dê apoio... de frente para o teu amigo; devem agarrar mutuamente os pulos (vê a imagem: braço direito com braço direito). Agora começa como se fosses fazer um Aú normal.

Logo que estejas no ar, torçe um pouco o tronco para cima... dobra a primeira perna na direcção da cara e, para já, não te preocupes com a outra perna. (...) Se mantiveres uma pega bem forte no antebraço do teu amigo (e vice versa), podes treinar este movimento com grande eficiência. Recomendo vivamente (tal como para qualquer outro movimento) que o pratiques em ambas as direcções .

Cocorinha

É um meio de evitar pontapés circulares a curta distância. Agacha-te debaixo do golpe e

levanta o braço do lado de onde veio o pontapé, de modo a proteger a cabeça. A outra mão toca o chão e ajuda o equilíbrio.

Tem a certeza de que as solas dos pés assentam por inteiro no chão; de outra forma podes ser facilmente derrubado. Conserva sempre o contacto visual com o outro jogador.

Page 5: Movimentos de Capoeira

Queda de Três

Enquanto a Cocorinha é mais empregue na Regional, os "Angoleiros" preferem a queda de três. Agacha-te nos dedos dos pés e põe uma mão diagonalmente por de trás para manter o

equilíbrio.

Ao contrário da Cocorinha, a Queda de Três requer que afastes, um pouco, o tronco do adversário (o esboço à direita mostra o movimento visto de frente). A mão livre protege a cabeça dos pontapés vindo do lado, mais prováveis de ocorrerem na Capoeira Angola do que na Capoeira Regional.

Podes transferir o peso para cima da mão de apoio e inclinares-te afastando-te do outro Jogador se ele chegar demasiado perto; ou podes passar a Queda de Rins, Tesoura Angola, Negativa, Rolê de modo a que o jogo se desenvolva com fluidez.

Queda de Quatro

A queda de Quatro é um movimento típico da Capoeira Angola para defender pontapés circulares. Imaginemos que o teu parceiro lança um Rabo de Arraia e que tu decides evadir-te com uma Queda de Três (descrita em cima).

Tu estás a acompanhar o movimento do pontapé quando o teu companheiro muda subitamente de perna e desenrola um Rabo de Arraia na direcção oposta, visando directamente a tua cara.. Para efectuar a Queda de Quatro tens de deslizar com as mãos, graciosamente, para trás (a partir da Queda de Três) e afastar-te caminhando com as mão até que as pernas fiquem esticadas. A partir desta posição podes fazer um Rolê, cruzar as pernas esticadas e atacar com um Rabo de Arraia, moveres-te de novo para a frente e pores-te de pé, etc., mas tendo sempre o cuidado de não tocar no chão com o rabo.

Negativa

É um movimento muito importante porque há uma vasta série de movimentos que se podem desenvolver na sua sequência... fazer Rolê, uma sequência de Aú / Pino de cabeça / Pino, fazer um Macaco, atacar com um um S-Dobrado, Martelo ou Meia Lua de Compasso, mudar a orientação, recuar, aproximar-se,...

Basicamente é uma maneira de evitar pontapés (ver Cocorinha) mas pode ser feita por si mesma. Pode-se cair na Negativa a partir da Ginga, de um Aú, de uma Queda de Rins, o que quer que seja, mas fá-lo sempre de uma maneira fluida.

Estás com uma perna dobrada e o teu peso deve estar distribuído pelas duas pernas. A outra perna está esticada (ou apenas ligeiramente dobrada), com os dedos dos pés a apontar parta o lado. Isto por razões de segurança, porque se alguém pontapear ou cair no sobre o teu joelho estando o pé a apontar para cima pode provocar uma fractura muito grave da perna.

Obtém o melhor equilíbrio tocando o solo com uma mão do lado da tua perna esticada. A outra perna pode proteger a cabeça se for necessário.

Negativa Angola

A Negativa Angola evidencia todas as marcas da clássica Angola: está-se dobrado mesmo muito em baixo, ambos os pés e ambas as mãos tocam o chão mas tudo o resto flutua ligeiramente acima do chão.

A Negativa Angola evidencia todas as marcas da clássica Angola: está-se dobrado mesmo muito em baixo, ambos os pés e ambas as mãos tocam o chão enquanto tudo o resto flutua ligeiramente acima do chão.

Vindo da Ginga passa a paralela e baixa-te, de um modo semelhante ao da Cocorinha (os pés ficam um

bocadinho mais afastados). Agora 'desliza' para o lado para onde o pontapé vai. (...) Um pouco antes de a cabeça tocar no solo tens de suster o movimento e ficar nesta posição. Uma das mãos dá suporte em frente ao peito, e a outra mão por detrás da linha das costas. Faz lembrar uma flexão de braços com o tronco torcido para um dos lados. A perna do lado

Page 6: Movimentos de Capoeira

de cima fica esticada, a outra perna dobrada. Tenta tocar no chão com ambas as mãos e ambos os pés mas mantendo-te o mais baixo possível. Para retornar à Ginga, é fazeres tudo na direcção oposta.

Quando estiveres, lá em baixo, na Negativa Angola e o teu parceiro estiver bastante perto de ti, muda a posição dos pés. Isto é uma grande preparação para o Rabo de Arraia (Meia Lua de Compasso com ambas as mãos no chão). Rasteja para um Rolê ou uma Meia Lua de Compasso, como se pode ver na imagem à direita, depois da 3ª figura.

A perna de baixo (estão flectidas) move-se para a frente de modo que fica esticada. Deste ponto podes iniciar todos os movimentos das diferentes variantes de Rolê , conforme podes constatar no parágrafo seguinte.

Negativa Angola para Pino-Aú. Quando estiveres em baixo na Negativa, impulsione-te um pouco para a frente com as mãos. Coloca a cabeça direita no chão ( suportada no pescoço). Agora tenta colocar-te em Pino de Cabeça e descer para o outro lado; Deve fazer lembrar um Aú muito afundado com a cabeça no chão. Tenta fazê-lo muito de vagar durante os treinos para aprender a controlar este movimento melhor.

Rolê

Este movimento de rolamento é - de par com a Ginga e o Aú- um dos processos básicos de nos movimentarmos na Roda. O diagrama à direita mostra o Rolê feito a partir de Negativa passando à Ginga.

Começa pela Negativa. Inclina-te para o lado em vais fazer o Rolê (na imagem a esquerda, é sempre a perna esticada) e transfere o teu peso um pouco para frentes. Impulsiona-te esticando a perna que está dobrada enquanto giras apoiado no pé esquerdo até que o peito esteja virado para o chão. A mão de suporte é sempre a mesma.

Agora coloca a outra mão no chão (direita) e lança a perna direita de roda; olha através da pernas de modo a manteres o teu parceiro no campo de visão. Finalmente levanta a tua perna esquerda e lança-a de roda também; gira meia volta e coloca-a atrás de ti apoiando

o pé no chão. É melhor conservares o tronco baixo até concluíres o Rolê, de outro modo podes ser colhido por uma Armada.

Mantém os olhos sempre fixos no teu parceiro durante todo o movimento; enquanto o tronco estiver virado para baixo a cabeça está pendida para baixo.

Aqui temos o Rolê combinado com o Martelo. Fácil e útil.

Basta levantares-te da Negativa mas conservando a mão no chão. Isto cria tensão na anca do lado da perna de trás. se neste momento se levantares a perna de trás, ela deve "voar" pelo ar; bate com o peito do pé e coloca-a no chão depois de ter girado 180 graus (meia volta).

Continua o movimento de Rolê, como já explicámos acim. Por outras palavras: faz o Rolê mas levanta a perna um pouquinho mais alto conservando-a direita enquanto giras.Se fizeres o mesmo movimento mas com um salto teremos algo com um S-Dobrado.

Este é basicamente um Rolê normal mas com uma Meia Lua de Compasso incluída. É

mais fácil de fazer se estiveres um pouco mais afastado do teu parceiro, de modo a que possas rolar na sua direcção em vez de escapares dele. Basta pensar num Rolê em que tu atacas com o calcanhar da perna que estava esticada na Negativa. Mais À frente encontras a descrição para a execução correcta da Meia Lua de Compasso.

Chapa de Costas

Page 7: Movimentos de Capoeira

É um movimento típico da Capoeira Angola. Fá-lo a partir do Rolê, da Queda de Rins, do Rabo de Arraia etc. Apontando às virilhas ou à cabeça. Se o parceiro estiver afastado, não te limite a esticar a perna trabalha também com os braços e a perna de apoio para alcançar mais longe.

Descida básica para negativa

Utilizando a Negativa tanto podes esquivar-te aos pontapés do teu parceiro como "mandá-lo ao tapete". Dobra simplesmente um joelho e mergulha na direcção para onde vai o pontapé. (...) Assegura-te de que o teu tronco fica mesmo em baixo; O teu joelho dobrado deve ser a parte mais elevada do teu corpo. Desliza a outra perna para trás da perna de suporte do teu oponente e engancha o pé no calcanhar dele. Assim que o pontapé tiver passado, transfere o teu peso sobre as tuas mãos e salta para a posição de agachado, mantendo as mãos no chão.

Se tiveres feito tudo bem, puxaste a perna de apoio do teu parceiro e este, caiu.

Meia Lua de Frente

Vindo da Ginga levanta a perna de trás num movimento em meio círculo. Para manter o equilíbrio movimente os braços na direcção oposta de modo a não te desequilibrares.

Quando já não puderes mover mais a tua perna sem voltar costas ao seu parceiro, dobra a perna com que está a pontapear e recua-a para a posição de Ginga (paralela ou de pé atrás da base). Durante a Meia Lua de Frente, os braços devem sempre contrabalançar o movimento das pernas.

Macaco

Agachado com as solas dos pés completamente apoiadas no solo, coloca a mão direita em apoio no solo imediatamente a trás de ti. Agora estica o braço esquerdo para a frente; Concentra-te em toda a sequência e diz "um!" - Lança o braço esquerdo por sobre a cabeça, segue a mão esquerda com os olhos, estica os joelhos, então regressa à posição inicial dizendo "dois!" - repete o primeiro passo mas com mais energia; estica-te para a posição de ponte como mostra a segunda figura; mas não saltes ainda.

Quando disseres "três!" tens de explodir: lança a mão esquerda decididamente sobre a cabeça, lança a cabeça para trás e salta com ambas as pernas.

Se tudo correr bem, aterrarás na posição de Pino, o que te deixa a possibilidade de desencadear 1000 movimentos possíveis como aqueles que já descrevemos a cima; mas, em primeira lugar, desce baixando simplesmente uma perna de cada vez. Para este exercício necessita de bons alongamentos do ombro e da coluna.

Quando estiveres a praticar podes ser ajudado por duas pessoas que te apoiem colocando as mão debaixo das ancas e das costas; estas devem ser capazes de te erguer e ajudar a descrever a trajectória sem qualquer risco de lesão.

S-Dobrado

S-Dobrado é um termo genérico; Esta técnica consente dezenas de variantes.

Para efectuares este pontapé a partir da Ginga basta apoiares-te no chão com a mão esquerda; dobrar a perna esquerda e puxar a outra perna num movimento circular pela frente (em alternativa ao S-Dobrado podes optar, neste momento, por uma Rasteira).

Page 8: Movimentos de Capoeira

Então passa o apoio para a mão direita e arrasta a anca direita para cima num movimento continuo e fluído (esboço3).

Nesta fase podes decidir continuar o S-Dobrado ou executar um Macaco. Para continuares o S-Dobrado conserva as ancas completamente abertas, nunca dobres as ancas! Puxa a anca direita para cima, deixa-a flutuar e por fim poisa o pé direito suavemente à tua frente.

O pontapé em si mesmo é efectuado com a perna esquerda que é arrastada no plano mais afastado do corpo. Lembre-te de bater com o peito do pé. Se for bem feito, a perna de ataque voará e tu poderás girar um pouco mais para poder ficar, de novo, virado par ao teu parceiro. Toda a sequência consiste num único movimento fluído; até mesmo ao final, a perna direita nunca toca o solo. Conserva o movimento circular, evitando quaisquer ressaltos.

Benção

É um pontapé frontal que mesmo assim requer alguma perícia. Levanta um joelho e arqueia o tronco como se fosses agarrar o teu parceiro. Então estica lentamente a perna e empurra o teu oponente virtual para trás.

Tem de trabalhar com bastante força nas ancas. Bater com a sola do pé. Não sacudas o pé; não dês pontapés como se fosse futebol. A perna de ataque não parte directamente do chão, isso tornaria a tua intenção evidente desde logo e deixar-te-ia exposto a contra-ataques.

Quando ergueres o joelho, o teu parceiro não sabe se o que se vai seguir é uma Benção, um Martelo ou qualquer outro pontapé semelhante . Insisto: o objectivo é empurrar o teu parceiro para mais longe e não de o magoá-lo; pontapeia de vagar mas com firmeza.

Ponteira

É parecida com a Benção mas é um movimento completamente diferente.

Enquanto a Benção é um movimento muito comum tanto na Capoeira Angola como na Capoeira Regional, a Ponteira assenta melhor no estilo Regional porque é bastante mais rápida e imprevisível.

Imagina que estás a usar sandálias e te queres ver livre delas; então atira o pé violentamente para a frente num movimento de sacudir de modo a alcançares o mais longe possível (3ª figura), (muito diferente do que acontece com a Benção, em que levantas

primeiro o joelho bem alto e depois é que empurras a perna na direcção do oponente sendo a trajectória do pé é paralela ao chão).

Na ponteira, o pé voa descrevendo um arco do chão até ao estômago/peito do parceiro, contudo não se conserva a perna esticada durante todo o movimento de pontapé. Levanta o joelho enquanto vai esticando progressivamente a perna de modo a que atinja a máxima extensão no momento do impacto. Bate-se com a base dos dedos, para evitar partir os dedos dos pés.

A Ponteira não exige esforço muscular, é mais fácil de executar com bastante balanço e a ponteira bate instantaneamente. Não a utilizes demasiado a menos que queiras tornar o Jogo mais competitivo e agressivo.

Tenta dar sequência à Ponteira com um Martelo ou uma Chapa Giratória sem voltares a por a perna que chuta no chão; Resulta muito bem se pretenderes surpreender o teu oponente e apanhá-lo com a guarda aberta.

Meia Lua de Compasso (Rabo de Arraia)

É um movimento fundamental. Durante a Ginga quando estiveres com um pé atrás da base, mantém os pés onde estão transferindo o apoio para a perna da frente (esticando a perna de trás).

Page 9: Movimentos de Capoeira

Inclina o tronco para dentro e para baixo. toca em baixo com as mãos até que não consigas torcer mais as ancas; deixa pender a cabeça de forma a que nunca percas o contacto visual com o teu parceiro. Neste momento deve ter-se gerado uma enorme energia em consequência da tensão que foi criada ao nível da anca. Liberta esta potência levantando a perna de trás; que deverá voar, de roda, num pontapé meio circular, sem qualquer esforço muscular.

Bate sempre com o calcanhar! Assim que a perna que pontapeia estiver alinhada paralelamente com o tronco, conclui o movimento rodando todo o tronco até ficares de novo de frente para o teu parceiro. Cuidado para não seres atingido devido a teres levantado a cabeça cedo de mais - as Meias Luas de Compasso são frequentemente respondidas com outras Meias Luas.

Este

movimento embora seja dos mais comuns, é porém um dos mais difíceis. Contudo com treino constante serás capaz de despachar Meias Luas de Compasso a uma só mão em fracções de segundo.

Queixada

Este pontapé é um grande golpe de preparação para combinações de diversos pontapés; As sequências mais comuns são a Queixada, a Armada ou os Martelos pulados. O movimento pode sair ligeiramente desastrado quando se usa apenas a força, por isso tenta relaxar e executa-o com fluidez . Procede como se mostra no diagrama à direita. A partir da Ginga, torce o tronco ligeiramente para dentro para gerar alguma força centrífuga para o pontapé . Não deixes pender os braços; mantém-os preparados para a defesa solta da tua cabeça e utiliza-os para reforçar o balanço.

Agora roda com força o tronco na direcção oposta. Enquanto isto cruza a perna de trás por de trás da perna da frente. Levanta a perna da frente (inicial); esta deve voar descrevendo um arco sem qualquer esforço muscular se tiveres produziu suficiente potência de rotação com o movimento do tronco. A tua posição final será espelhada em relação à posição de que partiste ( se partiste com o pé direito atrás da base, terminas com o pé esquerdo atrás da base ), portanto poderás fazer outra Queixa na direcção oposta à que acabaste de efectuar.

Armada

É o pontapé giratório padrão na Capoeira. É um cruzamento entre a Meia Lua de Compasso (rotação) e a Queixada (pontapé à zona). Como de costume, começa a partir da Ginga. Gira para dentro sobre os calcanhares (ou sobre a base dos dedos dos pés); roda 270 graus sobre a perna traseira e 180 graus sobre a perna que agora está à frente. Agora torce com rapidez o tronco até que vejas de novo o teu parceiro.

Nesta fase perdes o contacto visual com o teu parceiro, portanto faz esta parte do movimento com rapidez. Quando já não conseguires torcer mais o tronco, liberta a tensão disparando velozmente a perna de trás que deverá ser arrastada a grande velocidade ao mesmo tempo que o teu tronco se distorce.

Este pontapé é realizado com a ponta do pé que chuta bem virada para cima (Tal como na Meia Lua de Frente ou na Queixada). Leva o pé à posição de repouso, a mesma com que iniciaste o movimento. Podes agora continuar com mais Armadas ou Queixadas na direcção oposta, Meias Luas de Compasso etc.

Martelo

É um pontapé muito comum na Capoeira Regional. Requer uma boa abertura de pernas e um bom sentido de equilíbrio. Parece muito simples mas exige treino constante.

Ergue o joelho como já vimos para o movimento Benção. Gira 90-180 graus sobre a base dos dedos dos pés, mantendo o joelho da perna que vai chutar mais ou menos na mesma

Page 10: Movimentos de Capoeira

posição que tinha. Lembra-te de girar também a ancas. Percebes agora por se necessita de abertura de pernas? Inclina-te um pouco para manter o equilíbrio.

Se tudo tiver sido bem feito, as tuas ancas devem agora estar alinhadas paralelamente com a perna que vai chutar. A coxa da perna que ataca deve estar a apontar directamente para o alvo que quer atingir, (a zona do ombro / cabeça).

Contrariamente aos outros pontapés já mencionados, agora tens de pontapear com rapidez utilizando apenas a parte inferior da perna e bate com o peito do pé.

Para evitar um movimento giratório que te afaste do teu oponente move os braços no sentido oposto - compara apenas o diagrama 2 com o 3 (protege também a cabeça ). Acabou? A perna volta para baixo, para a posição de partida.

O Martelo é muito Regional, muito competitivo, rápido, brutal e inestético. Contudo é uma boa maneira de interromper um oponente que esteja encalhado numa sequência interminável de pontapés circulares: assim que um pontapé mal acabou de passar, solta rapidamente um martelo. Ou fá-lo do lado em que o teu parceiro vai continuar com a Ginga. O melhor que ele tem a fazer é esquivar-se com um Rolê...

Escorão ou Chapa

O Escorão ou Chapa é um pontapé que, de certa forma, é parecido com a Bênção e o Martelo;

Tem de se bater com a sola do pé, mas o corpo toma uma posição lateral. No Escorão (visto de frente), primeiro coloca-se o pé de trás na paralela. Então gira-se o tronco um pouco para a direita, arrastando a perna esquerda, levantando-a um pouco e empurrando-a na direcção do peito do nosso parceiro (observe a figura).

Podes fazer o Escorão a partir de trás , cruzando as pernas como na Queixada atirando depois o pontapé. Ou fazeres um Escorão, como se fosse uma Chapa giratória, em que tens de girar - semelhante à Armada - e então desferir o golpe a partir da rotação e a direito.

Rasteira

É a maneira mais usual de atirar alguém ao chão. É aplicada contra todo o tipo de pontapés. É simples de executar mas muito difícil de aplicar no momento certo. Nota: não varras o pé do teu parceiro num movimento circular, isso só magoaria ambos.

O movimento é estritamente um movimento de vai -vem.Fá-lo da seguinte forma: Se estiver a chegar um pontapé, por exemplo, um pontapé circular

vindo da esquerda, agacha-te para a direita.

Move-te sempre na direcção em vai o pontapé. Desloca o teu peso sobre o pé direito enquanto tentas meter o pé direito por detrás da perna de suporte do atacante.

O joelho direito deve apontar exactamente na direcção oposta do seu alvo (requer um bom alongamento). Ganha balanço pondo a mão direita no chão algures no alinhamento para onde irás puxar. Conserva a perna esquerda esticada e engancha o pé por detrás da perna de suporte do seu parceiro (quanto mais baixo enganchar melhor sairá o arrasto).

Conserva o braço esquerdo sobre a cabeça. Assim que conseguires sentir o calcanhar do teu oponente no teu pé esquerdo, é tempo para puxar com força.

A força não vem principalmente da perna esticada; pois, com excepção do pé que está em gancho, a perna está completamente relaxada. Estica o braço esquerdo para tão longe quanto possível e movimenta-o sobre a cabeça até que a mão esquerda toque o solo. Uma vez que estás esticado desde a mão esquerda até ao pé esquerdo, com este movimento, a perna esquerda é automaticamente arrastada .

O teu parceiro deve começar neste momento a cair... então, conclui o movimento trazendo o pé esquerdo de volta e recuando com a perna direita.

A rasteira é muito dependente do tempo exacto. Faz o arrasto quando o teu parceiro estiver a lançar a perna para cima, esse é o momento certo porque é quando o seu peso está todo apoiado sobre sua a perna de suporte. Quando o pontapé já passou à vertical, é necessário fazer-se a puxada com muito mais força.

Page 11: Movimentos de Capoeira

Cabeçada

(Variante da Capoeira Regional) Conserva as costas direitas. aponta à região do plexo solar do teu parceiro (entre o umbigo e o estômago), dobra os joelhos e inclina-te para a frente. Ganha impulso esticando a perna de trás e ataca a direito.

Conserva as mãos fechadas e soltas em frentes da cara;

Devem propiciar protecção contra joelhadas de surpresa ou movimentos espasmódicos do seu parceiro.

(Variante Angola)

Mantém-te todo em baixo.

Aproxima-te do chão, aponta e lança-te na direcção do estômago do teu parceiro. Vais terminar com as mãos e os pés apoiados no chão, tudo o mais fica em suspensão. Os braços permanecem esticados, as pernas ligeiramente abertas.

A cabeçada é aplicada fundamentalmente contra Aús, pinos e Pinos de Cabeça, mas pode também ser usada contra alguns pontapés (Meia Lua de Compasso, Rabo de Arraia). Os jogadores avançados também apontam à cabeça do oponente (queixo e nariz).

Claro que é perfeitamente possível derrubar alguém de um Pino com uma Benção; mas como o Pino é entendido como uma provocação, pontapear significa fugir ao desafio e optar pela via mais segura e mais fácil.

Vingativa

É um movimento elegante; Se o conseguires efectuar, dar-te-à grande satisfação. Contudo, tens de ser mesmo rápido para conseguires o "timing" adequado.

Quando o teu parceiro estiver a mover-se, tentando aterrar de uma Armada, digamos, tens de colocar o teu pé direito mesmo ao lado do pé direito do teu parceiro.

Apoiado firmemente na perna direita, coloca a outra perna por trás do teu oponente (ver esboço da esquerda). Entretanto usa o cotovelo para evitar que ele

possa escapar para a frente. Agora transfere o apoio do peso do corpo da perna direita para a perna esquerda e observa o teu parceiro a cair lentamente para trás. O empurrão em si mesmo funciona muito bem se for feito no momento exacto.

Cruz

A Cruz é uma maneira elegante de desviar uma Bênção ou uma Ponteira derrubando o parceiro ao mesmo tempo.

Em vez de empurrares para afastar a perna que pontapeia, dobras-te e metes-te por debaixo dela

abrindo os braços de modo a reter a perna do teu parceiro nas costas para que esta não possa resvalar para o lado. Agora ergue-te simplesmente e observa o teu parceiro a cair.

Se fores apanhado com uma Cruz por alguém, não caias de costas como acontece com o Capoeirista da direita (no desenho), porque é um tombo muito duro. Tenta cair para o lado amortecendo a queda com as mãos num movimento semelhante ao Aú

Esta é a Cruz vista de cima.

Para evitar ser-se atingido pela perna de suporte do teu oponente em

Page 12: Movimentos de Capoeira

queda é necessário inclinares a cabeça para a direita. (...) Se estiveres para efectuar uma Cruz e a tua posição for aquela que vê na primeira imagem, terás de rolar a cabeça para o outro lado para que fiques como se vê na segunda figura, isto é com a cabeça do lado de fora .

Floreios

Flick-flack (salto de mãos à

retaguarda)

É uma bela maneira de entrar na Roda, na sequência de um Aú ou Macaco ou mesmo só por si. Nota que isto transcene o básico da Capoeira, há um elevado risco de lesão se não tomares as devidas precauções .

Pede a dois amigos que te ajudem e tenta fazê-lo num colchão macio, num ginásio.

De pé, conserva os braços esticados para a frente. Agora senta-te como se houvesse uma cadeira atrás de si. Muito importante: não desloques os joelhos para a frente, conserva as pernas exactamente na mesma posição, move apenas as coxas.

O tronco inclina-se para trás mas as pernas (a parte inferior) permanecem perpendiculares ao chão. Ao mesmo tempo, balança os braços esticados para trás (ver diagrama). Certo de que tua postura consiste em dois ângulos de 90 graus (anca, joelhos), desencadeia os seguintes movimentos ao mesmo tempo:

1. Inverte o balanço dos braços, e lança-os para trás num círculo amplo sobre a cabeça. Faz isto com toda a energia, porque é a única maneira de que dispões para ganhar a rotação necessária. Lança os braços para trás tão longe quanto possível, conserva-os esticados custe o que custar, lança também a cabeça para trás (de qualquer modo vais precisar de ver onde vais aterrar).

2. Estica as pernas o mais rápido que conseguires. A principal força para o salto não provem dos pés mas sim das coxas, o brusco impulso deve propagar-se através das pernas até aos calcanhares.Se fizeste tudo isto certo, o que se segue é bastante óbvio: vais aterrar com as mãos mas a força de translação empurra as pernas parta baixo (uma de cada vez ou ambas ao mesmo tempo).

As sequências mais frequentes são mais Flick- Flacks ou Saltos Mortais.

Para efeitos de treino arranja um colchão de ginásio duro e outro macio. coloca-os de tal modo que possas saltar do colchão duro e aterrar no macio. Tem um amigo de cada lado prontos para ajudar dando-te apoio nas costas (suporte) e debaixo das coxas (rotação).

Na primeira tentativa deixa que os teus amigos façam todo o trabalho; cai para trás e deixa-os carregar todo o peso do teu corpo. Eles devem poisar-te, suavemente, na posição de Pino. Em cada tentativa que se seguir tenta saltar um pouco mais, até já não precisares do apoio activo dos teus amigos.

(Por favor faz isto com cuidado, não me quero sentir culpado por algum acidente que te aconteça. Obrigado).

Pião de Cabeça

Tal como o Flick-Flack este movimento integra-se na "secção" dos floreios. Faz um pino de cabeça e atira uma perna para trás e a outro de roda num arco.

Este é um método 'expedito' de fazer o pino de cabeça e que resulta muito bem.

Au de Costa

A andar para a frente, inclina-te para trás, toca o chão com uma mão, faz um Aú para trás, recua, dá um passo à frente, e começa tudo de novo. A segunda mão deve "viajar" de preferência atrás da cabeça e não à frente da cara.

Page 13: Movimentos de Capoeira

O que torna este movimento divertido de se observar é o facto de de não se mudar de posição com todo este movimento. Fazer o Aú para trás a partir de parado ou em andamento é bastante difícil; é melhor aprenderes primeiro a fazer um Macaco simples.

Pião em pino (saca-rolhas)

O Capoeirista avança com a perna esquerda, cruza com a mão esquerda para a sua perna de trás e inicia uma Meia Lua de Compasso. Em vez de concluir o pontapé levanta a perna que chuta e salta com a perna de suporte e começa a rodopiar.

Antes do braço direito ficar demasiado torcido muda para o braço direito e começa a rodopiar e desce com a perna direita (a que chutou). Agora pode despachar uma Benção se o oponente estiver próximo, mas o nosso amigo decide baixar também a segunda perna e puxa-a para a frente numa Negativa.

Aí em baixo ele muda o apoio par o outro lado e muda a orientação das pernas (esticada - dobrada) e lança agora a perna esticado num poderoso arco para o lado e para cima, para um S-Dobrado / Macaco / Aú.

A perna da frente voa para cima enquanto a perna de trás é retardada; contudo esta rapidamente apanha e ultrapassa a primeira pelo lado de trás (iniciando um Pino em rodopio). Esta rotação é aproximadamente a mesma que se mostra no início da secção dos movimentos básicos a propósito do 'Au' (3º exemplo). Observe aí os detalhes.

O Capoeirista acabou agora o Pião e desce de novo, torcendo um pouco o corpo para que possa ficar de frente para o seu parceiro outra vez. Só por razões de estilo gira sobre a perna direita e continua com um Aú para voltar ao ponto de partida.

Folha Seca

A Folha Seca é um salto à retaguarda feito enquanto nos movemos para a frente.

É semelhante a um pontapé de bicicleta no futebol, excepto porque se cai de pé que .

Lembra-te disto quando tentares o movimento; dá uma pequena corrida de chamada e dá um pontapé numa bola de futebol imaginária parada no chão. Dá o pontapé com grande energia e todo o balanço que conseguir, e deixa a perna parar continuar a sua trajectória.

Ela deve seguir para cima e arrastar a outra perna atrás de si. Assim que a perna tiver passado o ponto mais alto já deves ser capaz de ver o chão de novo; agora aterra simplesmente com a tua perna directora.

Eu recomendo que aprendas primeiro a fazer o mortal à retaguarda antes de tentar este salto, este movimento é bastante mais radical mas parece de cortar a respiração quando é bem feito.

Treina-o na praia ou com colchões grossos num ginásio e arranja alguns amigos que te saimbam ajudar. Se alguma vez dominares a Folha Seca com facilidade poderás combiná-la com um salto em parafuso, que é um dos movimentos mais radicais que já alguma vez vi.

A Folha Seca de lado, pode ser executada como um método de treino para o exercício antecedente.

É basicamente o mesmo movimento mas o plano de rotação é muito mais horizontal e por isso menos arriscado e mais fácil de executar.

Page 14: Movimentos de Capoeira

RITUAIS DA CAPOEIRA MÍSTICA

A Capoeira Mística tem como primeiro princípio o respeito às pessoas que criaram e desenvolveram a capoeira até os dias de hoje e para o capoeirista místico a Capoeira é uma só. A roda de Capoeira Mística inicia com o jogo de Angola, com seus respectivos rituais, passa pelo jogo da Regional e finaliza com o jogo no estilo místico.

DO JOGO DE ANGOLA

A BATERIA: é composta de três berimbaus (berra-boi, médio e viola), dois pandeiros, um atabaque, agogô e reco-reco. OS TOQUES DE BERIMBAU: Angola, São Bento pequeno, São Bento Grande, Jogo de dentro, Apanha laranja no chão, Cavalaria, Samba de Roda. OS CANTOS: ladainha, louvação, entrada e corridos. AS CHAMADAS: de Frente, em cruz, de costas, volta ao mundo e sapinho. JOGO: Após a ladainha, que é executada com apenas os três berimbaus tocando, inicia o canto de louvação e os demais instrumentos começam a tocar. Ainda na ladainha, dois jogadores se posicionaram ao pé do berimbau mestre, e no canto de entrada se cumprimentam e iniciam o jogo, havendo quem saia da queda de rim. Quando a dupla encerra o jogo, os capoeiristas voltam ao pé do berimbau mestre e se cumprimentarem novamente. O jogo sempre se inicia e se encerra com a dupla. A dupla deve estar atenta ao toque do berimbau, pois o jogo pode mudar conforme o toque.

DO JOGO DE REGIONAL

A BATERIA: é composta de um berimbau e dois pandeiros, não havendo atabaque ou outros instrumentos. OS TOQUES DE BERIMBAU: São Bento Grande, Benguela, Cavalaria, Iuna, Amazonas, Idalina e Santa Maria. OS CANTOS: Quadra, louvação, entrada, corrido. O JOGO: Inicia-se a roda com o berimbau e padeiros tocando, momento em que se canta a quadra. Após a quadra e o canto de louvação vem a entrada, momento em que os jogadores que já se encontram no pé do berimbau iniciam o jogo, havendo quem saiu no aú. Quando a dupla encerra o jogo os capoeiristas saem em direção contrária à entrada da roda. Durante o jogo pode haver compra, sem a necessidade dos jogadores retornarem ao pé da roda. O que comprou o jogo já sai no aú do pé do berimbau para não quebrar a dinâmica do jogo. Durante o tempo da Regional, deverão ocorrer as oito seqüências, esquete e cintura desprezada, sendo esta no toque de iuna.

DO JOGO MÍSTICOO jogo místico começa como o de angola, com uma ladainha acompanhada pelo toque místico. A diferença entre a angola e a mística é que o jogo se desenrola no alto e os movimentos são espontâneos. Visa a empolgação, a alegria e a participação efetiva de todos, tanto dos que jogam, como os que cantam, tocam ou se movimentam ao redor da roda. Enfim, a Capoeira Mística visa integrar e fortalecer laços de amizade. A BATERIA: é composta de três berimbaus (berra-boi, médio e viola), três pandeiros ou mais, atabaques, agogôs e reco-recos. OS TOQUES DE BERIMBAU: Toque Místico, Angola, São Bento pequeno, São Bento Grande. OS CANTOS: ladainha, quadra, louvação, entrada e corridos. O JOGO: Após a ladainha, que é executada com apenas os três berimbaus tocando, inicia o canto de louvação e os demais instrumentos começam a tocar. Ainda na ladainha, dois jogadores se posicionaram ao pé do berimbau mestre, e no canto de entrada se cumprimentam e iniciam o jogo. Durante o jogo pode haver compra, sem a necessidade dos jogadores retornarem ao pé da roda. O que comprou o jogo sai do pé do berimbau para não quebrar a dinâmica do jogo.

CURSO DE CAPOEIRA MÍSTICA DO MESTRE JORGE MELCHIADES

Aula 1: Ginga

Aula 2:Meia Lua de

Frente e Cocorinha

Aula 3:Bênção

Aula 4:Negativa Defensiva

Parte teórica

Aula 5:Meia-Lua de Compasso

Aula 6:Rasteira e AúParte teórica

Aula 7:Queixada e

ArmadaParte teórica

Aula 8: O berimbau na

Capoeira

Aula 9:Parafuso

Parte teórica

Aula 10:Martelo e Macaco

Parte teórica

Você não precisa ser atleta, acrobata ou malandro, para desfrutar os prazeres da roda de CAPOEIRA MÍSTICA, uma atividade que resgata a manifestação espontânea, popular e comunitária da festa, do folguedo e do folclore.

É claro que para aprender capoeira sempre é melhor contar com a assistência direta de um bom mestre ou professor e existem ótimos. Porém, se você não pode freqüentar academia ou não quer, faça uso das lições práticas e teóricas que estaremos fornecendo. Porém, não se avexe em consultar o seu médico familiar para saber até onde pode ir, porque ninguém do NUPEP se responsabiliza por acidentes ou problemas decorrentes da sua prática. Feito isso, reúna a família e amigos ou treine sozinho. Comece arrastando os móveis da sala ou

Page 15: Movimentos de Capoeira

improvisando um espaço mais ou menos igual a uma pequena pista de dança. Coloque um CD de músicas de capoeira para rodar e...Dance, dance e dance, mansa, lenta ou freneticamente, mas seguindo as instruções da ginga que oferecemos hoje. Ah, se você ainda não tem o Cd apropriado, pode adquirir um entre os excelentes que estão a venda. É provável que você possa adquirir também, brevemente, um que já começamos a gravar: “Brincando de jogar capoeira”. Vamos lá? Se achar conveniente faça um quadrado no solo, com fita adesiva colorida ou giz, como na figura 1...A medida? Ah sim! Use para a distância de cada lado, a mesma medida que você tiver de um ombro a outro, acrescida de mais uma terça parte.

Aula 1: GINGA

É a posição de guarda da capoeira e serve de base para todos os movimentos durante o jogo: para o deslocamento, defesas e ataques. É um movimento do corpo para os lados e para trás, numa espécie de vaivém que se configura em passos de dança, sempre no ritmo da música e do berimbau.

Para começar a treiná-la, fique em pé naturalmente e com as pernas separadas o suficiente para manter-se confortável com os pés sobre os pontos A e B do quadrado (1). Mantenha-se bem relaxado física e mentalmente, joguem o peso do corpo totalmente para um lado, o direito, por exemplo, flexionando levemente o joelho direito (2). Leve o pé esquerdo para trás, num semi círculo, até o ponto C do quadrado, ao mesmo tempo que o braço esquerdo é levado até a altura do rosto pra protegê-lo e ao corpo. O braço direito fica

solto, relaxado e meio flexionado ao lado do corpo, sendo levado um pouco pra trás no balanço (figuras 3 e 4). Retorne o pé esquerdo ao ponto B, desloque o peso do corpo para a perna esquerda flexionada (figura 5). Isto é muito importante para provocar um deslocamento que produz uma finta interessante quando se está lutando. Tem capoeirista que movimenta muito as pernas e braços mas o corpo quase não se desloca, constituindo-se em um alvo fixo. Repita o movimento anterior do lado esquerdo (figuras 6 e 7) e continue repetindo ambos os movimentos alternados e seguidamente, colocando neles muito ritmo, balanço e molejo. Se treinar com parceiro, procure sincronizar seu gingado com o dele, tomando-o pelas mãos e recuando a perna esquerda quando ele afastar a direita, como mostram os mestres Anjo, que já foi Bojão (Celso Bersi) e Wellington, nas

figuras 8 e 9. Mas, sempre lembrando: com jeito, graça e molho, muito molho.

Aula 2: MEIA LUA DE FRENTE E COCORINHA Agora que você já aprendeu o movimento básico da ginga, já poderá experimentar novas situações do jogo da capoeira.

AQUECIMENTO: Sempre é bom dedicar a primeira quarta parte do tempo do treino ao aquecimento, para evitar dolorosas distensões musculares e câimbras. Nele o leitor poderá fazer exercícios de alongamento, o que é ótimo. Porém, também poderá obter resultados satisfatórios, gingando inicialmente num ritmo

Page 16: Movimentos de Capoeira

lento e gradualmente dando amplitude aos passos e movimentos dos braços, do corpo e da cabeça.

Ao gingar, leve o pé bem atrás, de modos que precise dobra um pouco mais os joelhos e abaixar o corpo. Se você já adquiriu um Cd de capoeira, coloque numa faixa com o ritmo de Angola, que costuma ser lento. Se não adquiriu, então improvise, mas não deixe de dançar.

Nos minutos finais do aquecimento, passe a gingar um pouco mais rápido. Para tanto mude de música. Use uma faixa de São Bento Grande e procure “inventar” durante a ginga, mas sem perder o ritmo, o molho, a malandragem. Pare de repente, com os pés unidos, faça um pião, dê pulinhos com os pés juntos, para frente, lados e para trás... Ria. Alegre-se com o quem puder fazer. Seu parceiro de treino deverá inventar também e ambos devem procurar “afinar”, na dança, uma parceria que nada mais é do que uma deliciosa cumplicidade lúdica.

A MEIA LUA DE FRENTE: Também deve ser praticada na seqüência da ginga. Se você não tem parceiro para treinar não se preocupe. Com um sorriso de pura malícia convide uma cadeira para ser sua parceira. Em certos casos ela será a melhor companhia, porque não quer ser MELHOR do que você e por isso não o atingirá traiçoeiramente ou “sem querer”, nem ser tornará violenta ou o deixará na mão. Faça o movimento demonstrado pelo contra-mestre Anjo sobre a cadeira, o com o parceiro caindo em cocorinha, conforme mostram os dois contra-mestres na foto.

A COCORINHA: É o desvio que pode ser visto na demonstração do contra-mestre Wellington, na figura 5. É um movimento de esquiva frente a ataque vindo do alto, visando atingir lateralmente a cabeça ou a face. Você ginga e abaixa-se, deixando-se cair na posição conhecida como de cócoras e com o braço levantado protegendo a cabeça, do lado onde supõe que o golpe venha.

Faça cocorinha algumas vezes, sem forçar nada. Vá devagar, mas vá sempre. Movimento correto é sempre aquele que você pode fazer descontraído em um dado momento. Não tenha pressa...

Com o parceiro, a ginga deve ser sincronizada, e quando você tiver o pé direito ligeiramente recuado, eleve-o numa curva ascendente que se completa num semi-círculo e vai até a frente da outra perna e retorna ao ponto de origem. Faça o mesmo do outro lado, enquanto o parceiro faz cocorinha. Ao abaixar-se, não perca o outro de vista e levante-se rapidamente, assim que o pé dele passar. Repitam os movimentos revezando as posições e com cuidado para não se machucar.

Ah! Antes que me esqueça, se você tem dificuldade de levantar a perna, ao invés de uma cadeira use um balde ou um tijolo. Se não puder descer na cocorinha, balance o

corpo e dobre as pernas. Tudo o que importa na CAPOEIRA MÍSTICA é que você FAÇA ALGO JUNTO co outros, se movimento e divirta-se com parceiros, amigos e familiares. Seja qual for o seu estado físico, saiba que se estiver movendo-se com amigos queridos, terá sempre uma melhora gradual e sensível na capacidade de se mover, com o tempo.

Aula 3: BÊNÇÃO

Você já aprendeu a realizar um breve aquecimento com os movimentos básicos da ginga, e a realizar a meia lua de frente e a cocorinha. Agora, iremos incluir no repertório dos golpes a BÊNÇÃO. É uma espécie de pisão desferido na altura da linha de cintura ou tórax, do companheiro, que quando o pega desprevenido derruba-o. Se você tiver uma cadeira, um balde ou um tijolo, como companhia para treinar, deve realizar este movimento por cima desses objetos. Se tiver um parceiro, “ao vivo”, ao gingar com ele dê a benção enquanto ele simplesmente afasta-se na ginga. Mais tarde teremos outras alternativas. Os desenhos acima falam por si. Estude-os atentamente e pratique revezando o “ataque” e a “esquiva afastada” com o companheiro. Gingue bastante, dance enquanto realiza os movimentos e não esqueça de divertir-se bastante, do contrário o treino não tem graça, não é?

Aula 4: NEGATIVA DEFENSIVA

Suponho que o leitor já tenha aprendido a se aquecer, a gingar, a meia-lua de frente, a cocorinha e a benção. Hoje aprenderá a esquivar-se um ataque vindo pelo alto executando a negativa defensiva. Se o leitor tiver companheiro de treino, deve começar a treinar com ele o aprendido até agora, na seqüência e sem interrupção:

a) ambos gingam;b) um faz a meia-lua de frente e o outro desce na cocorinha; c) ambos voltam a gingar e revezam os movimentos; d) gingam de novo; e) um faz a bênção e o outro.., vai aprender a sair na negativa.

Viram? Já estão Jogando um pouco de capoeira! Continuem aprendendo e treinando que em breve iremos combinar o batismo de vocês numa roda de capoeira Mística. Ah, se o leitor não tiver parceiro, não ligue. Jogue com a cadeira, com o balde ou com o tijolo,

Page 17: Movimentos de Capoeira

usando a Imaginação e como se jogasse com alguém. Com o parceiro siga os desenhos realizando tudo muito lentamente. Ambos só deverão aumentar a velocidade quando tiverem dominado um sincronismo seguro.

1) Quando o outro avança a perna direita, para aplicar uma benção com a esquerda, você pressentido o que vem, recua levando o pé direito para trás e protegendo o rosto como braço direito: (2 e 3) Deixe o corpo pender para o lado esquerdo. até apoiar a palma da mão no solo e sentar-se sobre o calcanhar direito, mantendo a perna esquerda estendida. Tenha o cuidado de não deixar o polegar em oposição à palma da mão e sim ao lado do dedo indicador, para não lesioná-lo e mantenha o corpo inclinado para a frente, em típica negativa da capoeira Regional. 4) Comece a levantar-se puxando o calcanhar do pé esquerdo para perto do corpo e apoiando-se nele, passe a perna direita sobre ele e vire o corpo pare o lado esquerdo; 5) Apóie a mão direita no solo, à sua frente e levante o quadril, olhando o outro por baixo e entre as próprias pernas. Esta posição, embora considerada suspeita pelos machões, é ponto de partida para vários golpes traumatizantes e

desequilibrantes, Por ora, levante-se! adote a postura inicial e volte a gingar. Pratique bem toda seqüência e até outra vez,

PARTE TEÓRICA

Já vimos que, se não queremos apenas repetir o que outros dizem, observamos a roda de capoeira e analisamos com cuidado o que vemos, para entender o que é essa manifestação popular, de origem afro-brasileira. Na aula passada, verificamos que diante de uma roda de capoeira vimos varias pessoas postadas em círculo, batendo palmas, cantando em resposta ao “puxador canto”, tocadores de berimbau, atabaque, pandeiro ou outros instrumentos. Dois outros, realizam movimentos no centro da “roda”, que SIMULAM uma luta, pois evitam acertar os pés e as mãos no outro. Após vários dos presentes se revezarem no interior da roda, cantarem, tocarem e brincarem, se vão embora, Não há contagem de pontos, ninguém tem o braço levantado ou é declarado vencedor. Aliás, no fim de tudo parece que todos ganham. Se várias pessoas integram esse folguedo, não podemos dizer que capoeira é só uma dança ou urna luta de dois, pois isso indicaria pouca VISÃO ou DESPREZO pelo coletivo, além de SURDEZ para o canto, toques de instrumentos, coro e risos,,, O que é, então, capoeira?

VEJA... se não somos papagaios e dizemos querer resgatar as raízes da autêntica capoeira, devemos também observar os DOCUMENTOS HISTÓRICOS e os documentários sobre os negros africanos, que foram escravizados e trazidos para o Brasil Colonial. Neles, verificamos que semelhantes aos indígenas brasileiros, praticavam RITUAIS, entendidos como encenações individuais ou COLETIVAS, destinadas a atrair chuva. a apaziguar divindades, a atrair proteção de entidades místicas para as guerras contra outras tribos, ou até para rememorar combates em que a tribo saiu vitoriosa ou perdeu... Um RITUAL é conjunto de práticas que revestem de cultura os esquemas instintivos “herdados” dos ancestrais. Alguns psicólogos e filósofos chamam a estrutura dos rituais de arché ou arquétipo, mas é, em última análise, uma estrutura mais ampla de funcionamento das coisas naturais. Então, nos rituais coletivos é comum às pessoas se colocarem em círculo pala se observarem, enquanto dialogam, fazem refeições, festejam, comemoram e dançam, para a guerra e SIMULANDO combates com o inimigo de FORA da tribo... Este é um aspecto muito significativo do ritual coletivo, que normalmente possui a função INTEGRADORA e aglutinadora de TODOS os membros da tribo... Ora, se a primitiva capoeira começou com a função do ritual. de aglutinar, sociabilizar e amparar indivíduos de uma mesma tribo... cor, ou que padeciam de idêntica opressão, a quem interessaria DIVIDI-LA em pedaços, passá-la como luta e relegar ao DESPREZO a prática cultural e aglutinadora do negro?

Bom, novas reflexões ficam para outra vez...É bom dar tratos à bola, pensar e pensar para argumentar a favor ou contra o que expusemos, sem IGNORAR também que pesquisar e estudar são atividades muito importantes! Não para repetIr o que outros dizem, porque não somos papagaios nem “Maria vai com as outras”, mas para aprender com

Page 18: Movimentos de Capoeira

quem expõe idéias razoáveis e para verificar se os documentos, realmente, confirmam ou negam a tese que levantamos, após observar e analisar o que vimos.

Aula 5: MEIA-LUA DE COMPASSO

Depois do aquecimento obtido com a prática dos movimentos anteriores o leitor fará a Meia-Lua de Compasso assim:

a) Ao gingar, gire ambos os braços para a sua direita, direcionando as palmas das mãos para um ponto do solo atrás de você (figuras 1,2,3,);b) Procurando manter o movimento "redondinho" e contínuo mova o pé esquerdo um pouco para frente (figura 3) e apoiando as palmas das mãos no solo termine de costas para o "oponente", como na figura 4 (esta posição é a mesma que você assumiu ao levantar da negativa, da figura 6 da aula passada, lembra?);c) Em movimento continuado, decorrente do impulso dado pelo giro dos braços e do tronco no início, a perna direita levanta e gira no ar com o calcanhar direcionado à orelha direita do companheiro (figuras 5,6,7). É evidente que ele evitará o desgosto da pancada levantando o braço direito para proteger o rosto, mas descendo a mão esquerda para o solo na saída em negativa já aprendida;d) Termine o movimento em pé e gingando (figura 8).Recomendações adicionais: É importante que no movimento giratório não se perca de vista o parceiro momento algum. A meia-lua de compasso deve ser aplicada dos dois lados e muitas vezes, para que se torne movimento rápido e vigoroso. Se tiver parceiro prossiga

com ele, se não tiver, já dissemos, use uma simpática cadeira, um vaso de flores ou um pinico, mas treine fazendo aquilo que você pode.

LEMBRE-SE que na capoeira Mística busca-se a superação dos próprios limites e fazer amigos, não ser melhor que outros. Por outro lado, quando levantar da negativa e estiver naquela posição da figura 6 passada e figura 4 atual, que dizem ser a de "Napoleão quando perdeu a guerra", tente dar continuidade com a meia-lua... Seu companheiro deve esquivar-se com uma cocorinha ou negativa. Vão dançando e girando com um sorriso malandro, mas soltando golpes firmes, sempre em continuidade e com cuidado, zelando pela integridade física e moral do outro e de si mesmo. Ah! Se não tiver o companheiro zele pela integridade própria e da cadeira, do vaso de flores e do... Fique com meu abraço carinhoso.

Aula 6: RASTEIRA e AÚ

Após aquecimento realizado com as técnicas anteriores, o aluno irá executar a rasteira, como movimento ofensivo e o aú, como defesa da rasteira.

Rasteira – Trata-se de um golpe desequilibrante, que tanto serve para ataque ou contra-ataque, e é desferido com a finalidade de arrastar o pé de apoio do “oponente”, quando ele desfere a bênção, a armada, o martelo... A) Ela pode ser dada a partir da cocorinha ensinada na aula 2. Mas, da posição em pé, deixe-se inclinar para o lado e levemente para trás, até colocar a palma da mão esquerda no solo, assumindo a posição da figura B. Ao mesmo tempo que apóia também a mão direita no chão, como na figura C, lance a perna direita em movimento circular e “enganchando” a perna do parceiro, um pouco acima do calcanhar, puxe firme até derruba-lo, em movimento como em D e E. Em seguida volte para a posição A, passando pela posição E; a do Napoleão já conhecida do leitor (Sem maldade. Só me refiro ao treino das figuras 4 da aula 5, e 6 da aula 4). Ah! Em tempo. Antes que o aluno domine a técnica de encaixar o pé no tornozelo do outro, não deve ser desferida contra a cadeira para não se machucar. Depois de praticar suavemente com um amigo e dominar o movimento, porém, pode treinar contra a perna da cadeira e derrubá-la.

Page 19: Movimentos de Capoeira

Contra o penico, que não tem pernas, nem pensar!

Aú – É movimento usado para aproximação, fuga ou exibição de perícia acrobática, sendo conhecido dos ginastas por “roda” ou “estrela”. Na capoeira é feito de forma lenta ou rápida, mas sempre descontraída e com as pernas em diferentes posições, de acordo com o momento do jogo. No “aú fechado, p.ex., o capoeirista gira com as pernas encolhidas e os joelhos protegendo o abdômen e no “aú aberto”, para exibição, as pernas são bem esticadas e abertas. Se encontrar dificuldade, comece colocando a mão esquerda no chão e ao lado do corpo, a mão direita mais à frente, e ao invés de jogar as pernas para o alto, simule o salto da altura que puder. Lembre-se que a meta é a superação gradual das próprias limitações físicas e sendo isto possível ou não, sempre se pode ultrapassar limites mentais, sentimentais, intelectuais, espirituais... Sendo assim, jogar capoeira é como raciocinar. Depois que aprendemos poucos elementos básicos ou princípios, podemos nos arrojar mais longe com relativa segurança. A figura H mostra o aú enquanto movimento defensivo da rasteira. Os dois movimentos devem partir da ginga com muito molho e praticados dos dois lados.

PARTE TEÓRICA - Exercício para a cabeça... O aprendiz deve ler e tentar discutir com outras pessoas o texto CULTURA AFRA E CAPOEIRA até COMPREENDÊ-LO. Até a próxima.

Aula 7: QUEIXADA e ARMADA

Queixada - O aluno ginga e quando chega na posição da figura A, muda o pé direito como na figura b, passando-o na frente do corpo. Aí, impulsiona os ombros, o braço e todo o lado direito do corpo, como se quisesse voltar para a posição da figura A, começando um giro rápido pelos ombros, e cujo impulso deve fazer o pé direito abandonar o solo e subir,

realizando um arco em frente ao corpo. É claro que o aluno deverá dar velocidade e força ao giro da perna, para que este golpe traumatizante “acerte” o queixo do parceiro com o lado externo do pé, (se ele estiver dormindo e não se esquivar). Para começar, faça o pé passar sobre um penico ou tijolo, progrida até passar sobre a guarda de uma cadeira, e depois... Quem sabe? O final do golpe é na posição inicial.

Armada – Gingue e como se fosse dar a queixada, avance um pouco mais o pé direito, até dar as costas para o parceiro, mas sem perdê-lo de vista nem um instante. Em movimento contínuo, dê um giro de corpo completo nos ombros para o lado esquerdo e como se quisesse voltar à posição A, de tal forma que o giro o ajude a tirar o pé esquerdo do solo. Levante-o na altura do rosto do parceiro até descê-lo e termine a volta ao lado do outro. No início o aprendiz terá um pouco de dificuldade para manter o equilíbrio, mas a prática regular leva ao aprimoramento.

PARTE TEÓRICA

Exercício para a cabeça... O aprendiz deve adquirir disciplina para ler e o texto da História da Capoeira em Sorocaba. Leia-o tantas vezes quantas forem necessárias. Não tenha pressa. Lembre-se que precisa aprender a compreender o que lê.

Aula 8: O BERIMBAU NA CAPOEIRA

O historiador sério é pessoa preocupada em trazer a lume fatos do passado, através da exposição pura e simples ou narrativas. Para tanto, deve pesquisar e estudar no presente os resíduos materiais do pretérito, para que as informações a eles relacionados sejam situadas no tempo e no espaço em que os fatos ocorreram. Deve haver muito rigor e o máximo de precisão nesta tarefa, porque a História é uma ciência que exige comprovação da verdade daquilo que se afirma. Qualquer dedução, inferência, hipótese ou teoria, deve derivar dos resíduos ou provas materiais. Sem estas não há História. Resíduos materiais são documentos escritos, fotos, pedras esculpidas, pinturas, ferramentas e utensílios etc., que no passado fizeram parte de um contexto de acontecimentos envolvendo seres, outros objetos e situações. Como conseqüência, a dedução ou inferência do historiador a respeito dessas partes deve ser coerente com o contexto histórico desses outros seres, objetos e situações, para adquirir sentido e credibilidade. Desvinculada do contexto não há dedução ou inferência, apenas acho. Lamentavelmente, alegando que a Historia existente foi documentada pelos “vencedores” ou pela elite de um povo, há lunáticos que em vez de apresentar provas consistentes da história do povo “vencido”, desprezam rigores científicos e partem para a

Page 20: Movimentos de Capoeira

“achologia” e desvarios que apresentam o povo, além de “vencido”, falso, mentiroso. Pois bem, resíduos importantes para o entendimento da capoeira no passado são duas gravuras do pintor alemão, Johann Moritz Rugendas (1802-1858), uma das quais, de 1834 e denominada jogar capoeira ou danse de la guerre, talvez seja o mais antigo documento disponível sobre a capoeira. Nele, o capoeirista experiente pode identificar a “ginga invertida”, a marcação do ritmo por palmas e no tambor. Entre os que estão em volta dos que gingam, “na roda”, há os que dançam. Os princípios básicos que nos permitem identificar e distinguir a capoeira do batuque, do samba, da pernada e de outros folguedos afro-brasileiros, como veremos na próxima edição, já se encontram, bem presentes e visíveis nessa pintura, que também estaremos publicando na próxima edição, para análise. Outro fato notável na pintura é a ausência do berimbau, que foi incorporado bem mais tarde no conjunto rítmico. O berimbau apareceu em gravuras da mesma época e em relatos ligado a vendedores ambulantes, que o tocavam para atrair fregueses, e até agora, apesar de existirem muitos achos a respeito, ninguém sabe informar ao certo, quando ele foi vinculado ao jogo de capoeira, para assumir a regência do canto e dos movimentos gerais e do jogo.

TOQUE BERIMBAU

O berimbau é um instrumento fácil de ser tocado... mal ou não muito bem. Difícil é tocá-lo com a maestria de certos mestres e músicos. Todavia, sabendo que sempre existirão tocadores exímios e outros nem tanto, devemos tentar aprender fazendo o que podemos. Podemos não fazer muito, mas se não tentarmos certamente não faremos nada. Sendo assim, deixemos de nos preocupar com a competição com aqueles que podem tocar melhor do que nós e tentemos superar a nós mesmos, tocando mais do que nada, e procurando melhorar a cada dia o pouco que conquistarmos. O caríssimo amigo e ex-aluno Tudoeira e de Capoeira, o João Carlos do Amaral, lamentou no Informativo número 10, não ter aprendido a tocar, apesar de haver comprado um belo berimbau em sua lua-de-mel na Bahia, em 1971. Pois bem, já pode aprender. Vamos lá amigaço!

Para começar, conheça as partes do berimbau e como segurá-lo observando o desenho.

1 – Partes do Berimbau.

a) Verga: é o arco de madeira. Nos berimbaus de melhor qualidade é de “biriba”, um pau encontrado na Bahia e em alguns outros Estados do Nordeste.b) Arame: é de aço e muitas vezes retirado de pneus de automóveis. c) Cabaça: é fixada na verga por um barbante para dar ressonância. d) Dobrão: antigamente era uma moeda de cobre, hoje pode ser uma arruela de metal ou pedra. e) Caxixi ou cariri: chocalho de palha ou vime com sementes dentro.f) Vareta ou vaqueta: de madeira. É usada para bater no arame. g) Cavalete: barbante que prende a cabaça.

2 – Berimbaus usados na Capoeira a) Gunga ou Berra Boi: é o de maior cabaça. Seu som é grave e a ele cabe mandar no ritmo do jogo b) Médio: a cabaça é média e normalmente seu toque é inverso ao do Gunga. c) Viola: cabaça pequena. Tem som agudo e é usado no improviso.

3 – Como fazer o toque de Angola O aluno logo irá perceber que pode “afinar” o Berimbau, ou mudar sua tonalidade, modificando a altura do cavalete de barbante. O toque de Angola costuma ser usado para o acompanhamento da Ladainha, canto introdutório ao jogo e que permite a concentração de todos no início da “função”. Esse toque mais o canto permite uma espécie de oração evocativa de proteção energética ou espiritual. Em geral tem ritmo lento e depois que ocorre o “canto de entrada”, convidando os jogadores a dar a volta ao mundo, comanda um jogo lento e bem rente ao chão. Manhoso, cheio de truques e mandinga, molho e charme, os capoeiristas jogam muito próximos, no chamado “jogo de dentro”. Recomendo que o aluno procure ouvir e baixar a lição exemplo, contendo esse toque e o canto de ladainha (capoeira_curso_angola.mp3). É de graça! Mestres como o estupendo Bola Sete e músicos ligados à Capoeira desenvolveram métodos para ensinar berimbau, pandeiro, atabaque etc., dispensando conhecimentos de teoria musical. Mestres Brasília e Déo Lembá usam um esquema apropriado aos instrumentos de percussão, indicando o som e o tempo em uma pauta de apenas uma linha. A nota grave é indicada abaixo da linha e a aguda acima, onde é mostrado também o toque do caxixi . Eles tentam orientar o aluno totalmente leigo em música, principalmente pela escrita que representa o som onomatopéico. Aqui usamos um método que pode ser considerado combinação dos desses três grandes mestres.

Page 21: Movimentos de Capoeira

A representação dos sons. 1 – O som tich é chamado “arranhado” e é tirado encostando-se a “boca da cabaça” na barriga para abafar totalmente o som, enquanto percute-se o arame mantendo o dobrão encostado nele de modo folgado, frouxo. 2 – O som tom é tirado com a percussão (batida da vareta no arame) com a “boca da cabaça” livre, afastada da barriga e sem encostar o dobrão no arame. 3 – O som tim se consegue fazendo a percussão com a “boca da cabaça afastada da barriga, e com o dobrão encostado firmemente no arame” Tocando Angola já. O querido aluno deve pegar o Berimbau e “bater nele” para tirar o seguinte som: tich-tich, tom, tim, um ruído do caxixí, tich-tich, tom, tim, um ruído do caxixí... E vai repetindo até o dedo mindinho doer demais ou a mão não agüentar, ou os familiares e os vizinhos começarem a protestar. Esse é um toque básico. Depois de dominá-lo você vai aprender a enfeitá-lo.

Tchau e bom divertimento.

Aula 9 - PARTE TEÓRICA - Folclore e Cultura Afro Brasileira

PARAFUSO

Com o “parafuso” o capoeirista visa atingir o rosto do oponente com o peito do pé que gira em segundo lugar. Nas figuras 1, 2, e 3 o aluno tem uma repetição da “armada”, ensinada no Informativo n. 16. O movimento do parafuso se inicia com ela, só que muito mais rápido e com maior impulsão focalizada na perna que a princípio ficaria no solo. Neste golpe ela serve de “mola” para um pulo que faz o movimento acontecer praticamente no ar. Ver figuras 4, 5 e 6.

Aula 10 - PARTE TEÓRICA As bobagens sobre capoeira.

Muita bobagem tem sido falada e escrita sobre Capoeira ao longo dos séculos 19 e 20, e se não tomarmos nenhuma providência para melhorar o nível dos conhecimentos sobre o tema, continuaremos, pelo século 21 afora, ouvindo e lendo repetições dessas bobagens.

O problema, aqui, certamente, não é a pessoa falar ou escrever bobagens por ser IGNORANTE no assunto, mas o alastramento da IGNORÂNCIA a nível intolerável, em lugar da propagação de conhecimentos mais corretos e sadios.

Dia destes, por exemplo, encontrei um escritor considerado importante, por ser ligado a órgãos aglutinadores de historiadores e de intelectuais da cidade. Perguntei a ele, tão delicadamente quanto conseguiria, como ele, sendo pesquisador de nossa história, foi

Page 22: Movimentos de Capoeira

capaz de avalizar, com o seu nome, uma obra que afirma, sem prova documental alguma, ter existido capoeira na cidade de Sorocaba antes de 1969. E ele, muito embaraçado, respondeu gaguejando: “Bem, antigamente chamavam a briga de capoeira, e brigava-se muito na cidade...”. A princípio me indignei por ouvir tão grande barbaridade, mas, procurei me acalmar e entender, que afinal, ele fazia o melhor que podia, para justificar a inverdade que apoiou, “entrando de gaiato”. Aliás, o principal recurso usado pelos que originalmente disseminaram tais inverdades pela cidade, foi justamente o de CHAMAR briga de casal, crimes, o uso de patuá, de pernas e de navalha, entre outras coisas, de “capoeira”, para JUSTIFICAR as afirmações levianas feitas anteriormente. Ora, diante da obstinada insistência no erro, nada mais havia para se falar...

Observe, caro leitor, que esse escritor, ao ser questionado por mim, precisaria ter grandeza MORAL para apresentar a humildade do verdadeiro intelectual e admitir que errou. Não teve. E, consciente ou inconscientemente, tentou tornar “lícita” uma inverdade, dizendo que briga era chamada de capoeira, mas se contradizendo, porque ao mesmo tempo sustenta que não é. Ou seja, ele disse, em outras palavras, que antigamente CHAMAVAM a briga, de capoeira. Independente do fato de eu nunca ter ouvido semelhante estultice de capoeiristas ou dos briguentos que conheci, percebamos que ele diz, que antigamente usava-se o NOME “capoeira” para designar a briga de rua.

Bom, é verdade que quem não é capaz de distinguir a capoeira de uma briga pode revelar sua IGNORÂNCIA de muitos modos, inclusive pela palavra escrita e falada. Mas, o meu interlocutor, sem dúvida, é “intelectual” o suficiente para saber, que o sujeito casado com um canhão de mulher, poderá chamá-la de “Sandra Bullock” o quanto quiser, que não terá essa atriz de cinema ao seu lado, na cama, quando for deitar para dormir... Ele sabe, também, que chamar seu gatinho de “Leão” não o transformará na fera com esse NOME. Então, sabendo que o canhão do seu lado não vira a Sandra Bullock, nem o seu gato um leão, só por receberem NOMES da atriz e do “rei das selvas”, deveria saber também, que briga nunca foi capoeira. Do ponto de vista racional, por outro lado, deveria saber também, que quem insiste em JUSTIFICAR mentira anterior tem de mentir mais...

Perguntei-me várias vezes: que tipo de interesse pode ser maior do que a VERDADE para um historiador que nos próprios trabalhos tem sido tão sério? Jogo de influências? Corporativismo? As trinta moedas? Não CRENDO que essa pessoa tenha agido por interesse, preferi CRER que sua IGNORÂNCIA, quanto ao assunto sobre o qual se atreve a opinar, é realmente sincera. Então, decidi esclarecer algo sobre a matéria.

Quando alguém está brigando tem raiva, ódio ou muito MEDO e realiza atividades ofensivas e defensivas coerentes com o OBJETIVO da briga; isto é, o de evitar ser nocauteado, ferido ou morto. Para tanto usa tudo o que pode e é capaz, preferindo, se possível, que seja o outro a desmaiar, a sair ferido ou morto. Se um dos briguentos pratica alguma modalidade de luta, certamente irá usar as técnicas que puder, enquanto briga. Se

o outro pratica a mesma modalidade de arte marcial que ele, faz o mesmo, e ainda assim, ambos estarão brigando.

Se alguém já estiver pensando em JUSTIFICAR a bobagem dita, agora usando a palavra “luta”, deve entender que ela tem significado muito abrangente e apenas por si não esclarece nada. Pode-se usar o termo “luta” para indicar qualquer tipo de conflito, inclusive o de idéias, além da própria briga. Em esporte a palavra pode pressupor confronto de treinamento ou de campeonatos, e em qualquer dos casos com regras combinadas e limitações na aplicação dos golpes, com tempo determinado de duração e intervalos fixados, regulamentos sobre pesos e categorias, um ou mais juízes fiscalizando se não há golpes baixos ou proibidos... E numa briga, meu caro, como se dizia antigamente: “quem pode mais chora menos”. Não há regras e nem limites impedindo golpes baixos ou altos...

Numa briga, o sujeito pode ser “bom de briga” por usar golpes de capoeira, e outro, por usar força descomunal. Se eles se enfrentarem, ainda que numa luta de Vale-tudo, nunca teremos um jogo de capoeira. Sabe por quê? Para ter um jogo de capoeira é preciso dois capoeiristas voltados ao mesmo fim específico de jogar capoeira. Para me entender melhor, pense num sujeito que realiza a prática de dentista. Pensou? Podemos dizer que ele é dentista quando está no exercício da profissão, mas quando está brigando e extrai um dente do seu adversário com um soco, não está praticando a odontologia. Certo? Numa briga o sujeito não é dentista. É briguento.

Agora, procure assistir a um jogo de capoeira. Verifique que dois ficam de cócoras na frente do tocador de berimbau, se benzem, cantam, e depois de autorizados, saem dando golpes manhosos de pés, mãos, cotovelos, joelhos e cabeça, sem a intenção clara de ferir ou atingir o outro. Perceba que um deles até que poderia chutar o rosto do outro em certo momento, pois tem a oportunidade, mas não o faz. Apenas ameaça, sorri de modo brejeiro e vai para “uma parada de mão” ou sai no Aú. Depois de um tempo, ambos se abraçam, trocam de paceiros e continuam dando voltas ao mundo, às vezes por horas e horas seguidas, cantando, rindo, se exercitando, felizes da vida. Isto é briga? Não. É jogo de capoeira. Se dois capoeiristas não se gostam e resolvem brigar, ainda que na roda, deixam de jogar capoeira e passam a brigar. Agora vale tudo entre eles, e quem pode mais, aí, não canta nem dança, chora menos. Certo? Se decidirem lutar capoeira, fazer um jogo duro, poderão agir com maior contundência, só que agora, submetidos às REGRAS que definem especificamente a CAPOEIRA. Se ambos forem para o solo, por exemplo, e alguém der socos, dentadas, arm-locks ou guilhotinas, já estará muito afastado da capoeira. Estará brigando, ou chamando de capoeira a alguma moda inventada recentemente, mas que NADA tem a ver com a tradicional, a legítima, a autêntica capoeira que nos foi legada pelos grandes mestres. Certo?

MARTELO e MACACO

Page 23: Movimentos de Capoeira

Martelo - Com o “martelo” o capoeirista procura atingir costelas e cabeça do oponente, com o peito do pé, pela lateral.

O movimento se inicia na posição ilustrada na figura 1, e a seguir, o joelho é levantado conforme a figura 2, e se gira o quadril. Em movimento continuo, inclina-se o corpo ligeiramente para trás estendendo-se a perna rapidamente, na direção da cabeça ou das costelas do outro (figura 3). É importante recuar a perna, rápido, para evitar que ela seja aprisionada.

Macaco – Com o “macaco” o capoeirista se desloca de um lado para outro com elegância e elasticidade.

Sente-se na posição de cócoras e ponha a mão esquerda no solo atrás de você, abaixo das nádegas (figura 1). Estique agora a mão direita na sua frente e projete-a à frente e para trás, por sobre a cabeça, dirigida para trás dela. Acompanhe a mão com os olhos, enquanto impulsiona com as pernas para jogar vigorosamente o quadril para cima e na direção da mão projetada (figura 2). Se o movimento for coordenado e o impulso for bom, você irá girar o corpo sobre as mãos e descer com as pernas juntas no solo (figuras 3 e 4).

Alerta! É sempre prudente praticar exercícios físicos com o máximo de cuidado, assessorado por médico e professor competente. Nem eu nem ninguém daqui do Nupep irá se responsabilizar por danos sofridos em decorrência da má aplicação da técnica aqui demonstrada.

ALONGAMENTOS

A - Alongamento para o pes-coço.B - Alongamento para o tríceps e parte alta dos ombros.C - Alongamento do ombro parte alta das costas.D - Alongamento dos braços.

E - Alongamento da muscula- tura ao longo da coluna.F - Alongamento lateral do tronco, musculatura ao re- dor da coluna.G - Alongamento das costas e musculatura posterior da coxa. H - Alongamento joelhos, costas, tornozelos, anterior da virilha.

Page 24: Movimentos de Capoeira

I - Alongamento da musculatura anterior do quadril.J - Alongamento da musculatura posterior e an- terior da coxa - alterado.K - Alongamento da parte in- terna da coxa e glúteo.

O - Alongamento do tornozelo.P - Alongamento da muscula- tura anterior da coxa.Q - Alongamento da musculatura posterior da coxa e parte de baixo das costas.

R - Alongamento das costas.S - Alongamento da parte an-terior abdômen e hiperex- tensão das costas.T - Elevação de pernas (relaxante).

O QUE É SER CAPOEIRISTA? Ser capoeirista é muito mais do que aprender a lutar bem. É preciso entender as características da luta e sua origem histórica.Nada foi escrito ou estipulado. Porém, a capoeira tem as suas regras muito bem definidas e que foram sendo transmitidas oralmente de capoeirista para capoeirista.Nada pode ser inventado na capoeira posto que ela provém da prática e não da teoria, apesar de ter alguns princípios teóricos, somente podendo ocorrer o aperfeiçoamento e o desenvolvimento técnico.Devido à sua origem histórica, assim como o escravo que se via diante de mais de um opositor, o capoeirista também tem de ser liso, esperto e oportunista, tendo em vista que na capoeira não há confronto direto nem medição de forças. O que manda é a habilidade, a agilidade e a malícia do jogador.O capoeirista com qualidades tem que ter habilidade, flexibilidade e agilidade para atacar e se defender de seu adversário com a mesma rapidez usando todos os recursos que tiver.Fora da roda de capoeira, a defesa da liberdade em todos os sentidos, a honestidade consigo mesmo e com os outros, o respeito tanto ao fraco tanto quanto ao forte devem orientar a sua vida.Viver para a capoeira, isto é ser um capoeirista!

O DESENVOLVIMENTO FÍSICO DO CAPOEIRISTA

Page 25: Movimentos de Capoeira

Ter um corpo bem estruturado é o princípio de toda pessoa que se empenha na prática do esporte, seja ela qual for.Na capoeira, a formação física é evidente, sendo que todo movimento que o capoeirista desenvolve também desenvolve seus músculos e principalmente suas articulações, dando-lhe muito mais vigor físico e mais maleabilidade.Outro ponto importante que muito é muito evidenciado na capoeira é a respiração, ou seja, o fôlego do capoeirista. Isto se deve ao grande esforço físico desempenhado durante o jogo. Para ter um fôlego bom e portanto um bom preparo físico para executar com eficiência os movimentos da capoeira, o capoeirista deve ser uma pessoa sem vícios, principalmente os da bebida, das drogas e do cigarro. Além disso, o capoeirista deve ser assíduo na freqüência das aulas nas academias e praticar com êxito todos os exercícios ensinados por seu mestre, instrutor ou professor.

A FLEXIBILIDADE DE ARTICULAÇÃO Possuir flexibilidade de articulação, ao que Mestre Bimba chamava de "ter junta", é um elemento de grande importância, não só para se desviar dos golpes, como também para aplicá-los com eficiência.Ter molejo no corpo, jogo de cintura, ginga macia são termos que muitos mestres empregam para incentivar aos seus alunos a praticar os exercícios de flexibilização do corpo.Um capoeirista que tem um bom jogo de cintura se sai muito melhor no jogo e seus movimentos são muito melhor executados, ou seja, se destaca na roda. Faz um jogo bonito tanto na capoeira Angola quanto na Regional.Agilidade e Equilíbrio, a importância da cadeira no treinamento"A Importância das Cadeiras" - Informativo Muzenza - Janeiro/1966A agilidade exerce um relevante papel na capoeira. O capoeirista ágil desvia-se em tempo oportuno dos golpes do adversário e não se deixa prender em nenhum deles. Caso fique preso em um golpe, é ainda a agilidade que o capacita a se livrar aplicando ao seu adversário golpes imprevistos e rápidos que não dêem tempo para o adversário evitá-los.O equilíbrio é outra qualidade indispensável para o capoeirista negacear, deferir os golpes ou se desviar deles. O praticante da capoeira deve explorar de forma irrestrita estas qualidades, ou seja, a agilidade e o equilíbrio, empenhando-se sempre nos exercícios que buscam desenvolver estas habilidades.

Mas, e quando entra no treinamento uma roda de cadeiras? O uso de obstáculos para desenvolver o golpe de vista e segurança dos movimentos da capoeira já é prática antiga, defendida e também usada por Mestre Pastinha e outros mestres mais.

Pastinha disse: - "Eu não inventei o uso das cadeiras, eu vi e achei bom. O círculo das cadeiras é bom para aprender o jogo de dentro." Pastinha ainda acentua a importância da proximidade dos parceiros no jogo da capoeira. Os antigos mestres usavam obstáculos como a roda de cadeiras, de mesas ou das duas juntas para desenvolver a agilidade e o golpe de vista de seus alunos, o que é indispensável na prática da capoeira, principalmente no jogo de dentro, que simula a luta com arma branca.

A referência de Pastinha ao uso pelo seu mestre de cadeiras para delimitar o ambiente de treino é importante porque revela a preocupação desde os tempos antigos com a noção espacial da localização do capoeirista dentro do ambiente em que se desenvolve o jogo.Trata-se do meio de treinar o sexto sentido, de modo a evitar os acidentes de choque dos jogadores com o povo que está assistindo. Desenvolve-se ainda um sentido de presença de obstáculos à volta do jogador, e isso é extremamente importante na avaliação da oportunidade de lançar um ataque ou durante uma esquiva. Psicologicamente, é muito importante a sensação de segurança e autoconfiança.

O treino individual em área delimitada por quatro cadeiras simulando quatro adversários obriga o praticante a desenvolver um senso especial de obstáculos e uma avaliação de distância que lhe são de grande utilização no jogo, na luta e na vida prática.Na década dos anos quarenta, depois de aulas e treinos curriculares, o grupo de alunos do Mestre Bimba permanecia na academia para um treino de briga em ambiente fechado, sempre com o uso de uma arma branca (navalha, facão, faca ou cacete de madeira (porrete)).

Treinar com a luz apagada, com cadeiras, bancos e mesas espalhados pela sala, onde estejam no máximo cinco jogadores, é excelente para a apuração dos reflexos, o que leva ao não acontecimento de acidentes graves ou lesões durante um jogo, pela predominância da esquiva sobre o ataque.

:: A CONCENTRAÇÃO MENTAL DO CAPOEIRISTA :: O capoeirista medita em movimento. Ele conta com o apoio de todos os santos que conhecem e confiam, etc. Antes de sair para o jogo, o capoeirista agacha ao pé do berimbau e reza pela proteção, se benze e pede aos velhos mestres que o protejam.E o capoeirista pula e rodopia, faz misura, enfeita o jogo, faz que vai e não vai e quando menos se espera... ele já foi.Embalados pelo som dos berimbaus, pandeiros e atabaque, os capoeiristas se entregam ao jogo como se um "espírito brincalhão" tomasse conta de seus corpos. O som da capoeira embala, encanta, enfeitiça os jogadores e a platéia, que se prendem ao jogo com a máxima atenção e concentração. A capoeira é uma espécie de dança mágica que toma conta da gente sem a gente perceber ou querer.

Page 26: Movimentos de Capoeira

O escritor brasileiro Dias Gomes, em uma de suas muitas crônicas, disse o seguinte: "Capoeira é dança de gladiadores e luta de bailarinos, é disputa, simbiose perfeita de força, ritmo, poesia e agilidade. Acima de tudo e do espírito da luta, há no capoeirista um sentimento puro de beleza. O capoeira é um artista, um atleta, um jogador e um poeta."

Neste aspecto, teremos quatro pontos básicos:I - A capacidade de opinião: É importantíssimo que um capoeirista tenha opinião própria formada. Isto significa que, ao entrar numa roda, mesmo que seu mestre esteja junto dele, o aluno tem que ter opinião para tomar ele próprio a iniciativa do jogo e não ficar esperando que seu mestre "o empurre" para o jogo ou que outro capoeirista o chame. II - A rapidez de pensamento:: Um bom capoeira deve ser rápido ao pensar. Porém, deve pensar direito. Mas, como conseguir isso? Pensar rápido e a contento de suas atitudes é quase impossível. Porém, se a imaginação for desde cedo bem trabalhada, o capoeirista consegue pensar mais rápido do que seu adversário e com isso consegue ser mais rápido na aplicação do golpe. Rapidez de pensamento quer dizer, acima de tudo, atenção. III - Controle emocional: É importante que o capoeirista controle ao máximo as suas emoções, seja frio e calculista, desde que estes estados de espírito sejam usados somente para o jogo. É fácil fazer isto. Basta que o mestre faça desde o início um trabalho de exercícios mentais com seus alunos, ensinando-os a serem comedidos e frios sem serem mesquinhos e ruins e, principalmente, sem serem violentos. IV - Controle racional: O capoeirista deve raciocinar dentro da roda durante o jogo. Deve ter controle absoluto sobre seus movimentos e deve tentar ao máximo controlar os movimentos de seu adversário, fazendo com que ele jogue o seu estilo de jogo e que aplique os golpes de acordo com os que são aplicados por você.