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MR- Formação docente e políticas públicas Componentes: Adair Mendes Nacarato- USF/SP E GEPFPM/CEMPEM/FE/UNICAMP; Lúcia Helena Lodi- Diretora de Ensino Médio/SENTEC-MEC Silke Verber- UFPE- PE Coordenação : Maria Auxiliadora Vilela Paiva- CESAT-ES Nesse debate, sugerido pelo GT7, um dos grupos de trabalho da SBEM, que se constitui num grupo cooperativo de pesquisadores que discutem e analisam pesquisas sobre “Os Saberes Profissionais e a Formação de Professores que ensinam Matemática”, a professora Lúcia Helena Lodi abordará a questão da política do Ensino Médio para a formação continuada de professores, com destaque para a estratégia de valorização docente discutida no âmbito do Ministério da Educação. A professora Silke Weber fará um retrospecto da problemática da formação docente, de 1930 aos dias atuais e, em seguida discutirá a legislação educacional recente e a formação acadêmica, destacando tópicos que findaram se impondo na realidade. Ressalta os aspectos a serem considerados na formação tanto em nível institucional como curricular e traz para o debate a forma de averiguação escolhida pelo MEC ao certificar conhecimentos e competências e habilidades dos professores da Educação Básica, como instância reguladora e avaliadora que contribui para profissionalização docente. A professora Adair Mendes Nacarato propõe para o debate as questões relativas às pesquisas nacionais sobre formação do professor, o contexto de reformulação das licenciaturas e a realidade dos cursos de Licenciatura em Matemática, apontando convergências e divergências quanto a esses três aspectos da formação. Em síntese mostra que as pesquisas acadêmicas produzidas pela comunidade de educadores matemáticos apontam alternativas que podem dar conta de alguns problemas relacionados à formação docente, quer inicial, quer continuada. Essas e outras questões deverão ser trazidas para o debate e espera-se que os objetivos que têm orientado as ações de cada um dos segmentos envolvidos na formação docente sejam explicitados e debatidos.

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MR- Formação docente e políticas públicas Componentes: Adair Mendes Nacarato- USF/SP E

GEPFPM/CEMPEM/FE/UNICAMP; Lúcia Helena Lodi- Diretora de Ensino Médio/SENTEC-MEC Si lke Verber - UFPE- PE Coordenação : Mar ia Aux i l i ado ra V i l e l a Pa i va - CESAT-ES

Nesse deba te , suger ido pe lo GT7, um dos g rupos de

t raba lho da SBEM, que se cons t i tu i num grupo coopera t i vo de pesqu isadores que d iscu tem e ana l i sam pesqu isas sobre “Os Saberes Pro f i ss iona is e a Formação de Pro fessores que ens inam Matemát i ca ” , a p ro fessora Lúc ia He lena Lod i abordará a ques tão da po l í t i ca do Ens ino Méd io para a fo rmação con t inuada de p ro fessores , com des taque para a es t ra tég ia de va lo r i zação docen te d iscu t ida no âmb i to do Min is té r io da Educação .

A p ro fessora S i l ke Weber fa rá um re t rospec to da p rob lemát ica da fo rmação docen te , de 1930 aos d ias a tua is e , em segu ida d iscu t i rá a leg is lação educac iona l recen te e a fo rmação acadêmica , des tacando tóp icos que f indaram se impondo na rea l idade . Ressa l ta os aspec tos a se rem cons iderados na fo rmação tan to em n íve l i ns t i tuc iona l como cur r i cu la r e t raz para o deba te a fo rma de aver iguação esco lh ida pe lo MEC ao cer t i f i ca r conhec imentos e competênc ias e hab i l i dades dos p ro fessores da Educação Bás ica , como ins tânc ia regu ladora e ava l iadora que con t r ibu i para p ro f i ss iona l i zação docen te .

A p ro fessora Ada i r Mendes Nacara to p ropõe para o deba te as ques tões re la t i vas às pesqu isas nac iona is sobre fo rmação do p ro fessor, o con tex to de re fo rmu lação das l i cenc ia tu ras e a rea l idade dos cursos de L icenc ia tu ra em Matemát ica , apon tando convergênc ias e d ive rgênc ias quan to a esses t rês aspec tos da fo rmação . Em s ín tese mos t ra que as pesqu isas acadêmicas p roduz idas pe la comun idade de educadores matemát icos apon tam a l te rna t i vas que podem dar con ta de a lguns p rob lemas re lac ionados à fo rmação docen te , quer in i c ia l , quer con t inuada .

Essas e ou t ras ques tões deverão ser t raz idas para o deba te e espera -se que os ob je t i vos que têm or ien tado as ações de cada um dos segmentos envo lv idos na fo rmação docen te se jam exp l i c i tados e deba t idos .

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F o r m a ç ã o d e P ro f e s s o re s e P o l í t i c a s E d u c a c i o n a i s

S i l k e We b e r – U F P E

A q u e s t ã o d a f o r ma ç ã o d e p r o f e s s o r e s e m n í v e l s u p e r i o r

c o n s t i t u i h o j e o p r i n c i p a l d e s a f i o t a n t o d a s i n s t i t u i ç õ e s d e e n s i n o

s u p e r i o r, c o mo d a s i n s t â n c i a s r e s p o n s á v e i s p e l a o f e r t a d a E d u c a ç ã o

B á s i c a . É b e m v e r d a d e q u e n ã o s e t r a t a d e u ma q u e s t ã o n o v a t a n t o é

q u e d u r a n t e o s é c u l o 2 0 f o i o b j e t o d e a l g u ma s c o n t r o v é r s i a s .

I mp o r t a , p o i s , f a z e r u m r á p i d o r e t r o s p e c t o d a p r o b l e má t i c a

d a f o r ma ç ã o d o c e n t e , e m s e g u i d a , me n c i o n a r t ó p i c o s d a l e g i s l a ç ã o

e d u c a c i o n a l r e c e n t e a e s s e r e s p e i t o e , f i n a l me n t e , d e s t a c a r a s p e c t o s

q u e f i n d a r a m s e i mp o n d o , n a a t u a l i d a d e .

1 . A f o r m a ç ã o d o c e n t e e m n í v e l s u p e r i o r

A q u e s t ã o d a f o r ma ç ã o d o c e n t e c o n s t i t u i u u m t ó p i c o

i mp o r t a n t e d o d e b a t e e d u c a c i o n a l d o s a n o s d e 1 9 3 0 , s e n d o a s p e c t o

q u e me r e c e u c o n s i d e r a ç ã o n o M a n i f e s t o d o s P i o n e i r o s d a E d u c a ç ã o

N o v a , n a s u a c r í t i c a a o a c a d e mi c i s mo d a e d u c a ç ã o e s c o l a r.

A n e c e s s i d a d e d e q u a l i f i c a ç ã o d e p e s s o a s a p t a s a o

e x e r c í c i o d o ma g i s t é r i o f o i i n c l u í d a n o E s t a t u t o d a s U n i v e r s i d a d e s

B r a s i l e i r a s d e 1 9 3 1 , q u a n d o f o i c r i a d a a F a c u l d a d e d e E d u c a ç ã o ,

C i ê n c i a s e L e t r a s e p e r s i s t e c o mo p r e o c u p a ç ã o e m 1 9 3 7 q u a n d o d a

c r i a ç ã o d a U n i v e r s i d a d e d o B r a s i l ( L e i n °4 5 2 ) e d a F a c u l d a d e

N a c i o n a l d e E d u c a ç ã o d e s t i n a d a a f o r ma r t r a b a l h a d o r e s i n t e l e c t u a i s ,

r e a l i z a r p e s q u i s a e p r e p a r a r c a n d i d a t o s a o ma g i s t é r i o q u e , u ma v e z

t i t u l a d o s e r e c r u t a d o s p o r c o n c u r s o p ú b l i c o , a t u a r i a m n o e n t ã o e n s i n o

p r i má r i o .

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N o â mb i t o d a r e g u l a me n t a ç ã o d a F a c u l d a d e N a c i o n a l d e

E d u c a ç ã o , p e l o D e c r e t o n °11 9 0 / 1 9 3 9 , f o i c r i a d o o t í t u l o d e b a c h a r e l ,

e m t r ê s a n o s , a s e r c o mp l e me n t ad o c o m ma i s u m a n o d e D i d á t i c a .

C o m t a l d e c i s ã o t e r i a s i d o i n s t i t u í da a l i c e n c i a t u r a , c u j o o b j e t i v o

s e r i a e n s i n a r c o mo o rg a n i z a r a a p r e s e n t a ç ã o d o s c o n h e c i me n t o s

p r o d u z i d o s e m d e t e r mi n a d a á r e a , d o p o n t o d e v i s t a d i d á t i c o .

A Le i n °4 0 2 4 , d e 1 9 6 1 , L e i d e D i r e t r i z e s e B a s e s d a

E d u c a ç ã o , s u b s t i t u i u o E s t a t u t o d a s U n i v e r s i d a d e s e c r i o u o C o n s e l h o

F e d e r a l d e E d u c a ç ã o c o m a t a r e f a , e n t r e o u t r a s , d e f i x a r o s c u r r í c u l o s

mí n i mos a s e r e m v i v e n c i a d o s n o s d i f e r e n t e s c u r s o s d e n í v e l

s u p e r i o r. E s p e c i a l i s t a s d e f i n e m, e n t ã o , o s c o n t e ú d o s c u r r i c u l a r e s e o s

d i p l o ma s d e p e n d e m d o c u mpr i me n t o d a s d i s c i p l i n a s e c o n t e ú d o s

e s t a b e l e c i d o s .

A Le i n ° 5 5 4 0 / 1 9 6 8 i n s t i t u i u a R e f o r ma U n i v e r s i t á r i a e

c o m e l a f o i c r i a d a a F a c u l d a d e d e E d u c a ç ã o v o l t a d a p a r a a f o r ma ç ã o

d e p r o f e s s o r e s d e n í v e l mé d i o e a o f e r t a d e ma t é r i a s p e d a g ó g i c a s d a

l i c e n c i a t u r a , l u g a r e s p e c í f i c o p a r a t r a t a r d a s q u e s t õ e s e d u c a c i o n a i s .

Va l e a g o r a f a z e r u ma p e q u e n a d i g r e s s ã o p a r a me l h o r

e n t e n d e r o p a t a ma r e m q u e s e c o l o c o u o d e b a t e e d u c a c i o n a l a p a r t i r

d a d é c a d a d e 1 9 7 0 .

N o â mb i t o d a l u t a e m f a v o r d a d e moc r a c i a , a s v á r i a s

d i me n s õ e s d a r e a l i d a d e b r a s i l e i r a e r a m e n f r e n t a d a s , s o b r e t u d o , p e l a

i n s t â n c i a u n i v e r s i t á r i a , g a n h a n d o r e l e v o a s q u e s t õ e s d a e d u c a ç ã o ,

e n t r e a s q u a i s a d a f o r ma ç ã o d o p r o f e s s o r a d o , c o n s i d e r a n d o a

i mp o r t â n c i a d a ma t e r i a l i z a ç ã o d e u ma e d u c a ç ã o c i d a d ã .

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E r a o mome n t o e m q u e , i n t e r n a c i o n a l me n t e , h a v i a a

r e d e s c o b e r t a d a d e s i g u a l d a d e s o c i a l e d o p a p e l d a e s c o l a n a s u a

ma n u t e n ç ã o , t a n t o p e l a s u a o rg a n i z a ç ã o , c o mo p e l o q u e e n s i n a v a e

p e l o mo d o d e f a z ê - l o , t a l c o mo d e mo n s t r a d o p e l a s t e o r i a s

d e n o mi n a d a s r e p r o d u t i v i s t a 1

N e s s e d e b a t e p e r me a d o d e e x p e r i ê n c i a s e s c o l a r e s

c o mp e n s a t ó r i a s i n s t i t u i u - s e , n o B r a s i l , a p o l a r i z a ç ã o e n t r e

c o mpe t ê n c i a t é c n i c a e c o mpe t ê n c i a p o l í t i c a , s e n d o a e s c o l a p o s t a s o b

s u s p e i t a p o r q u e l u g a r d e r e p r o d u ç ã o d a s r e l a ç õ e s s o c i a i s d e p r o d u ç ã o

e o p r o f e s s o r a d o p a s s o u a s e r p e r c e b i d o c o mo u m d o s a g e n t e s d a

d e s i g u a l d a d e s o c i a l .

O a p r o f u n d a me n t o d e s s e d e b a t e , n o e n t a n t o , c o n d u z i u a o

r e s g a t e d a i mp o r t â n c i a d a e d u c a ç ã o e s c o l a r p a r a a c o n s t r u ç ã o d a

d e moc r a c i a e a o s e u r e c o n h e c i me n t o c o mo d i r e i t o s o c i a l b á s i c o .

A s s i s t e - s e , e n t ã o , à e l a b o r a ç ã o d a co n c e p ç ã o d e e s c o l a c o mo i n s t â n c i a

d e f o r ma ç ã o e e x e r c í c i o d e c i d a d an i a e a o c o n s e q ü e n t e e s b o ç o d e

c r í t i c a à v i s ã o d e e s c o l a c o mo me c a n i s mo d e c o n s e r v a ç ã o d o p o d e r o u

c a n a l d e a s c e n s ã o s o c i a l , e mb o r a s e ma n t e n h a a v i s ã o d e q u e c o n s i s t e

i mp o r t a n t e a p a r e l h o i d e o l ó g i c o d e E s t a d o .

É , p o i s , n o c o n t e x t o d e s s e d e b a t e s o b r e a q u a l i d a d e d o

e n s i n o e d a e d u c a ç ã o e d o s e u p a p e l n a c o n s t r u ç ã o d a s o c i e d a d e

b r a s i l e i r a d e mo c r á t i c a q u e é s a n c i o n a d a a L e i n° 9 3 9 4 d e 1 9 9 6 , ma r c o

d a d i s c u s s ã o a t u a l s o b r e a f o r ma ç ã o d e p r o f e s s o r e s .

2 . A l e g i s l a ç ã o e d u c a c i o n a l re c e n t e e a p ro d u ç ã o a c a d ê m i c a

1 P r i n c i p a i s v e r t e n t e s s e n d o r e p r e s e n t a d a s p o r A L T H U S S E R , L o u i s 1 9 7 1 “ L e s a p p a r e i l s i d e o l o g i q u e s d ’ É t a t ” P e n s é e . 7 0 : 3 - 3 3 ; B O U R D I E u , P i e r r e e P A S S E R O N , J e a n C l a u d e ( 1 9 7 1 ) L a R e p r o d u c t i o n P a r i s : M i n u i t

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A L e i d e D i r e t r i z e s e B a s e s d a E d u c a ç ã o , s a n c i o n a d a e m

1 9 9 6 , t r a z a v a n ç o s p o r q u e : a ) c o m b a s e n a p r o d u ç ã o a c a d ê mi c a

d i s p o n í v e l e s t a b e l e c e i n c u mbê n c i a s d o p r o f e s s o r a d o d a E d u c a ç ã o

B á s i c a ( a r t . 1 3 ) e d a e s c o l a ( a r t . 1 2 ) , q u e s e t o r n a m r e f e r ê n c i a s p a r a a

f o r ma ç ã o d o c e n t e ; b ) f i x a a f o r ma ç ã o s u p e r i o r – l i c e n c i a t u r a p l e n a –

c o mo r e q u e r i me n t o p a r a o e x e r c í c i o p r o f i s s i o n a l , n o p r a z o d e 1 0 a n o s

( a r t . 8 7 β 4 ° ) . M a s a me n c i o n a d a L e i t a mbé m c r i a p o l ê mi c a p o r q u e

d e f i n e n o v o e s p a ç o d e f o r ma ç ã o – o s I n s t i t u t o s S u p e r i o r e s d e

E d u c a ç ã o ( I S E ) - e n o v o c u r s o p a r a a f o r ma ç ã o d e p r o f e s s o r e s d a

E d u c a ç ã o B á s i c a - o C u r s o N o r ma l Su p e r i o r - a o l a d o d o t r a d i c i o n a l

e s p a ç o u n i v e r s i t á r i o , t a l c o mo e x p o s t o n o s s e u s a r t i g o s n ° 6 2 , 6 3 e

6 5 , n ã o i n c o r p o r a n d o , a s s i m, e s p e c i f i c a me n t e , o d e b a t e s o b r e

f o r ma ç ã o d e p r o f e s s o r e s q u e o c o r r i a n o p a í s .

É e v i d e n t e q u e a c o n t r o v é r s i a s u s c i t a d a p o r e s t a

r e g u l a me n t a ç ã o t e m f a v o r e c i d o o a p r o f u n d a me n t o d a d i s c u s s ã o s o b r e

a i d e n t i d a d e d o s c u r s o s d e F o r ma ç ã o d e P r o f e s s o r e s , s e n d o r e a t i v a d a

a p o l a r i z a ç ã o d o s a n o s 1 9 8 0 e n t r e c o mpe t ê n c i a t é c n i c a e c o mpr o mi s s o

p o l í t i c o , q u e h a v i a s i d o r e d u z i d a d u r a n t e o d e b a t e c o n s t i t u c i o n a l e o

p e r í o d o d a f o r mu l a ç ã o d e p r o p o s t a s i n i c i a i s p a r a a L D B .

E n t r e t a n t o , o q u e p a r e c e n o v o é o d e s a f i o d e p e n s a r u ma

f o r ma ç ã o d e p r o f e s s o r e s q u e p o s s a d a r c o n t a d o s c o n t e ú d o s e p r á t i c a s

a s e r e m d e s e n v o l v i d o s a o l o n g o d a Ed u c a ç ã o B á s i c a , a s s u n t o s q u e t ê m

s i d o , f r e q ü e n t e me n t e , o b j e t o s d e e s t u d o d e p r o g r a ma s p ó s - g r a d u a ç ã o

d a s d i v e r s a s á r e a s , n a s ú l t i ma s d é c a d a s , i n s t a d o s q u e f o r a m a

e n f r e n t a r a q u e s t ã o d o f r a c a s s o e s c o l a r.

A s c o n t r i b u i ç õ e s f o r mu l a d a s n e s s e p e r í o d o

p r o p o r c i o n a r a m a a mp l i a ç ã o d a l i t e r a t u r a e s p e c i a l i z a d a s o b r e q u e s t õ e s

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r e l a c i o n a d a s a o s p r o c e s s o s d e e n s i n o e a p r e n d i z a g e m e à d i n â mi c a

e s c o l a r, d e s v e l a n d o a d i s c r i mi n a ç ã o d e q u e é a l v o o a l u n o e o i mp a c t o

r e l a t i v o d a a d o ç ã o d e f o r ma s d e i n t e r v e n ç ã o c o mpe n s a t ó r i a s . A l é m

d i s s o , d e s t a c a r a m a d i f i c u l d a d e d e a e sc o l a c o n s i d e r a r a s e x p e r i ê n c i a s

d e v i d a d o s a l u n o s , b e m c o mo a i mp o r t â n c i a d o e n v o l v i me n t o d e p a i s

e c o mu n i d a d e n o p r o c e s s o e s c o l a r. E s s a p r o d u ç ã o a c a d ê mi c a t e m

i n f l u e n c i a d o a f o r mu l a ç ã o d e p o l í t i c a s e d u c a c i o n a i s n a s d u a s ú l t i ma s

d é c a d a s a t é p o r q u e n ú me r o s i g n i f i c a t i v o d e p r o f e s s o r e s p e s q u i s a d o r e s

p a s s o u a g e r i - l a s .

Ta i s p o l í t i c a s v o l t a d a s , s o b r e t u d o , p a r a a r e f o r mu l a ç ã o d a

o rg a n i z a ç ã o d a a p r e n d i z a g e m, i n c l u e m a o f e r t a d e o p o r t u n i d a d e s d e

f o r ma ç ã o i n i c i a l e c o n t i n u a d a p a r a p r o f e s s o r e s o q u e t e m p r o p i c i a d o o

c o n f r o n t o d e p e r s p e c t i v a s t e ó r i c a s e d e a b o r d a g e n s p e d a g ó g i c a s e o

r e f o r ç o d e p o s t u r a s d e f e n s o r a s d a c o mpe t ê n c i a t é c n i c a o u d a

c o mpe t ê n c i a p o l í t i c a n o e x e r c í c i o d a d o c ê n c i a .

A s s i m, d e s d e a d é c a d a d e 1 9 8 0 a p r o d u ç ã o a c a d ê mi c a

r e c e n t e , t a n t o a i n t e r n a c i o n a l c o mo a b r a s i l e i r a , e m r e l a ç ã o à e s c o l a e

a o a l u n o v e m s e n d o s o c i a l i z a d a e c r i t i c a d a , a o me s mo t e mp o e m q u e

f o i f i c a n d o e v i d e n t e a c o mpl e x i d a d e e n v o l v i d a n a a t i v i d a d e d o c e n t e .

E n t r e t a n t o , o d e b a t e s o b r e a f o r ma ç ã o d o c e n t e n o B r a s i l

d e i x o u d e s e r d e l i n e a d o a p a r t i r d e u ma d i s c u s s ã o n a c i o n a l p e r me a d o

p e l o d e b a t e i n t e r n a c i o n a l , d e n o mi n a d o d e mo v i me n t o i n t e r n o , p a r a t e r

c o mo r e f e r ê n c i a e x p e r i ê n c i a s d e r e f o r ma s e d u c a c i o n a i s r e a l i z a d a s e m

d i v e r s o s p a í s e s e r e c o me n d a ç õ e s d e ó rg ã o s i n t e r n a c i o n a i s a c o r d a d o s

e m c o n v ê n i o s o u c o n t r a t o s , c l a s s i f i c a d o c o mo mo v i me n t o e x t e r n o . 2

2 E s t e a s s u n t o f o i t r a t a d o e m W E B E R , S i l k e ( 2 0 0 3 ) “ P o l í t i c a s e d u c a c i o n a i s , p r á t i c a s e s c o l a r e s e o b j e t i v o s d e a p r e n d i z a g e m : r e p e r c u s s õ e s n a s a l a d e a u l a ” i n V e r b e n a M . S . d e S . L i s i t a e L u c i a n a F . E . C . P . S o u s a ( o r g ) P o l í t i c a s

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

7

N e s s e c o n t e x t o s i t u a - s e a q u e s t ã o d a f o r ma ç ã o d e

p r o f e s s o r e s p e l o d e s e n v o l v i me n t o d e c o mpe t ê n c i a s e d e h a b i l i d a d e s ,

p r o p o s t a p r o v i n d a d o d e b a t e f r a n c ê s e s u í ç o s o b r e a c o mpl e x i d a d e d a

a t i v i d a d e d o c e n t e . P e l a v i a d e p o l í t i c a s e d u c a c i o n a i s d e f i n i d a s p e l o

M E C q u e , a p a r t i r d e 1 9 9 3 , r e t o mo u a a ç ã o c o o r d e n a d o r a d a e d u c a ç ã o

n a c i o n a l n o s s e u s d i f e r e n t e s n í v e i s , e s t a b e l e c e - s e u m p a r a d i g ma d e

f o r ma ç ã o d e p r o f e s s o r e s q u e s e c o n t r a p õ e a o t e o r d o d e b a t e

a c a d ê mi c o p r e d o mi n a n t e n o p a í s , q u e s e d e s e n r o l a v a d e s d e 1 9 7 8 , e m

t o r n o d a b a s e c o mum d a f o r ma ç ã o d o e d u c a d o r. A s s i m, é n a o p o s i ç ã o

e n t r e b a s e c o mu m n a c i o n a l e d i r e t r i z e s c u r r i c u l a r e s n a c i o n a i s q u e s e

s i t u a o p r i n c i p a l o b s t á c u l o à i mp l e me n t a ç ã o e f e t i v a d a s e x i g ê n c i a s d a

LDB.

O r a o q u e e s t á e s t a b e l e c i d o d o p o n t o d e v i s t a n o r ma t i v o

s ã o a s D i r e t r i z e s C u r r i c u l a r e s N a c i o n a i s p a r a a F o r ma ç ã o d e

P r o f e s s o r e s d a E d u c a ç ã o B á s i c a e m n í v e l s u p e r i o r, t e n d o c o mo n ú c l e o

o r i e n t a d o r o d e s e n v o l v i me n t o d e c o mpe t ê n c i a s , v i s a n d o a c o e r ê n c i a

e n t r e f o r ma ç ã o o f e r e c i d a p e l a s i n s t i t u i ç õ e s f o r ma d o r a s e a p r á t i c a

e s p e r a d a d o f u t u r o p r o f e s s o r, c o m e mb a s a me n t o n a p e s q u i s a e f o c o n o

p r o c e s s o d e e n s i n o e a p r e n d i z a g e m e n a d i n â mi c a e s c o l a r.

Ta i s d i r e t r i z e s d e v e r ã o o r i e n t a r a f o r mu l a ç ã o d o p r o j e t o

p e d a g ó g i c o d a s l i c e n c i a t u r a s , t o d a s e l a s i n s t a d a s a i n t e g r a r o s

c o n t e ú d o s c u r r i c u l a r e s d a E d u c a ç ã o B á s i c a c o mo o b j e t o d e e n s i n o e

a p r e n d i z a g e m.

É c l a r o q u e a a s s i mi l a ç ã o e a e x p e r i me n t a ç ã o d e f o r ma t o s

d e p r e p a r a ç ã o p r o f i s s i o n a l i n s p i r a d o s e m t a i s d i r e t r i z e s ,

E d u c a c i o n a i s , p r á t i c a s e s c o l a r e s e a l t e r n a t i v a s d e i n c l u s ã o e s c o l a r . R i o d e J a n e i r o : D P & A , p . 1 1 - 2 4 .

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

8

i n d e p e n d e n t e me n t e d a r e s i s t ê n c i a e x i s t e n t e , v ã o r e q u e r e r u m t e mp o

d e t e r mi n a d o e d e v e r ã o s e r o b j e t o d e a v a l i a ç ã o p o r o c a s i ã o d o

p r o c e s s o d e r e c o n h e c i me n t o d e c a d a l i c e n c i a t u r a , p a r a q u e p o s s a m s e r

f e i t o s a s n e c e s s á r i a s r e f o r mu l a ç õ e s .

D e t o d o mo d o , o B r a s i l d i s p õ e h o j e d e r e f e r ê n c i a s p a r a o

e s t a b e l e c i me n t o d e f o r ma t o s d e p r e p a r a ç ã o p a r a o ma g i s t é r i o d a

E d u c a ç ã o B á s i c a – E d u c a ç ã o I n f a n t i l e a n o s i n i c i a i s d a E d u c a ç ã o

F u n d a me n t a l – e t a mbé m d e d i r e t r i z e s p a r a o e n s i n o mé d i o , p r i n c i p a l

r e f e r ê n c i a p a r a a f o r ma ç ã o d e p r o f e s s o r e s d e s t e n í v e l d e e n s i n o .

É e v i d e n t e q u e a q u a l i d a d e d o p r o j e t o p e d a g ó g i c o

f o r mu l a d o e m c a d a l i c e n c i a t u r a d ep e n d e , s o b r e t u d o , d a c o mp o s i ç ã o d o

c o r p o d o c e n t e d a i n s t i t u i ç ã o f o r ma d o r a , d a s c o n d i ç õ e s d e t r a b a l h o a

e l e o f e r e c i d a , d e s e u c o mpr o mi s s o p r o f i s s i o n a l e x p r e s s o p e l a

v a l o r i z a ç ã o d a s u a f o r ma ç ã o c o n t i n u a d a , d o a c o mpa n h a me n t o q u e f a z

d o d e b a t e e d u c a c i o n a l e d a s i n i c i a t i v a s d e i n t e r c â mb i o q u e t o ma e ,

a i n d a , d e s u a d i s p o s i ç ã o p a r a r e l a c i o n a r - s e c o m o s s i s t e ma s d e

e n s i n o . D i f e r e n t e me n t e d o c u r r í c u l o mí n i mo , n o e n t a n t o , a f o r mu l a ç ã o

d e u m p r o j e t o p e d a g ó g i c o o r i e n t a d o p e l a s D i r e t r i z e s C u r r i c u l a r e s

N a c i o n a i s r e q u e r u m t r a b a l h o c o l e t i v o n ã o p o d e n d o c o n s t i t u i r t a r e f a a

s e r c u mpr i d a a p e n a s p e l o c o o r d e n a d o r d o c u r s o .

A l g u n s a s p e c t o s q u e s e v ê m i mp o n d o c o mo r e f e r ê n c i a n o

d e b a t e s o b r e a f o r ma ç ã o d o c e n t e me r e c e m d e s t a q u e e s e r ã o a s e g u i r

t e ma t i z a d o s .

3 . A s p e c t o s a c o n s i d e r a r n a f o r m a ç ã o d e p ro f e s s o re s

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

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A f o r ma ç ã o d e p r o f e s s o r e s d a E d u c a ç ã o B á s i c a e m n í v e l

s u p e r i o r p a s s o u a c o n s t i t u i r t a r e f a d e t o d a s a s á r e a s d e c o n h e c i me n t o ,

c a d a u ma d e l a s d e v e n d o e x p l i c i t a r e m s e u s p r o j e t o s p e d a g ó g i c o s a s

s u a s p r ó p r i a s e s p e c i f i c i d a d e s n o p r o c e s s o d e t r a n s f o r ma ç ã o d o

c o n h e c i me n t o c i e n t í f i c o e t e c n o l ó g i c o , d a a r t e e d a c u l t u r a e m o b j e t o

d e e n s i n o e d e a p r e n d i z a g e m a s e r a b o r d a d o n o c o n t e x t o e s c o l a r, b e m

c o mo i n d i c a r s u a s p r i o r i d a d e s t e má t i c a s e p r á t i c a s . À s i n s t i t u i ç õ e s

f o r ma d o r a s , p o r o u t r a p a r t e , c a b e a t a r e f a d e f o r mu l a r u m p r o j e t o

i n s t i t u c i o n a l o rg â n i c o d e f o r ma ç ã o d e p r o f e s s o r e s q u e a r t i c u l e a s

p r o p o s t a s p e d a g ó g i c a s a d v i n d a s d a s d i f e r e n t e s l i c e n c i a t u r a s . A l g u n s

d o s a s p e t o s q u e i mp o r t a m s e r c o n s i d e r a d o s e m a mb o s o s c o n t e x t o s s ã o

a s e g u i r d e s t a c a d o s :

1 . d o p o n t o d e v i s t a i n s t i t u c i o n a l : a - e l a b o r a r u m p r o j e t o

p e d a g ó g i c o q u e t e n h a c o mo r e f e r ê n c i a a s d i f e r e n t e s e t a p a s e

mo d a l i d a d e s d a E d u c a ç ã o B á s i c a , o q u e p r e s s u p õ e p o r p a r t e d o

C o l e g i a d o d e C u r s o c l a r o c o n h e c i me n t o d a s D i r e t r i z e s

C u r r i c u l a r e s N a c i o n a i s p a r a a E d u c a ç ã o I n f a n t i l , E n s i n o

F u n d a me n t a l , E n s i n o M é d i o , E d u c a ç ã o d e J o v e n s e A d u l t o s ,

E d u c a ç ã o I n d í g e n a , b e m c o mo d a s p r o p o s t a s c u r r i c u l a r e s ,

i n f o r ma d a s o u n ã o p e l o s P a r â me t r o s C u r r i c u l a r e s N a c i o n a i s ,

a d o t a d a s p e l a s S e c r e t a r i a s d e E d u c a ç ã o d o E s t a d o e d o s

M u n i c í p i o s , c o m a s q u a i s a i n s t i t u i ç ã o fo r ma d o r a s e r e l a c i o n a ;

b - a c o mp a n h a r p r o p o s t a s e

e x p e r i ê n c i a s e m c u r s o e m r e l a ç ã o a c a d a u ma d a s e t a p a s o u

mo d a l i d a d e s d a E d u c a ç ã o B á s i c a , e s p e c i a l me n t e , a q u e l a q u e

c o n c e r n e a s u a á r e a d e a t u a ç ã o ;

c - c o mp a r t i l h a r p r o p o s t a s

p e d a g ó g i c a s e a v a l i a ç õ e s c o m o s s i s t e ma s d e e n s i n o e a s

e s c o l a s s e l e c i o n a d a s c o mo c a mp o d e p r á t i c a , a l é m d a s p r ó p r i a s

c o mu n i d a d e s e m q u e t a i s e s c o l a s s e i n s e r e m;

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

10

d - d i v e r s i f i c a r o s

e s p a ç o s f o r ma d o r e s , i n c l u i n d o o s me i o s e l e t r ô n i c o s , d e

c o mu n i c a ç ã o d e ma s s a , a s d i v e r s a s t e c n o l o g i a s , e i n c e n t i v a n d o a

p r o d u ç ã o c u l t u r a l .

2 . d o p o n t o d e v i s t a c u r r i c u l a r : a – p r e v e r f o r ma s d e s u p e r a r

d e f i c i ê n c i a s e s c o l a r e s e d e a mp l i a r o r e p e r t ó r i o d e

c o n h e c i me n t o s e d e s e n t i d o s d o s p r o f e s s o r e s e m f o r ma ç ã o ;

b - p r o mo v e r o d i á l o g o c o m

o c o n h e c i me n t o p r o d u z i d o n a a c a d e mi a e e m o u t r a s i n s t i t u i ç õ e s

d e p e s q u i s a n a p e r s p e c t i v a d e s ua r e i n t e r p r e t a ç ã o p a r a c o n t e x t o s

e s c o l a r e s ;

c - t e ma t i z a r q u e s t õ e s

s o c i a i s a t u a i s e i n c e n t i v a r o e n r i q u e c i me n t o c u l t u r a l ;

d - i n c l u i r c o mo

c o mp o n e n t e c u r r i c u l a r a p a r t i c i p a ç ã o d o e s t u d a n t e n o p r o j e t o

p e d a g ó g i c o d e e s c o l a s , o r e l a c i o n a me n t o c o m o s s e u s a l u n o s e a

c o mu n i d a d e q u e a s c i r c u n d a ;

e - a r t i c u l a r a p r á t i c a

v i v e n c i a d a c o mo c o mp o n e n t e c u r r i c u l a r e a q u e l a d e s e n v o l v i d a

e m e s t á g i o o b r i g a t ó r i o à r e f l e x ã o e à i n v e s t i g a ç ã o s o b r e a s

d i v e r s a s d i me n s õ e s d a a t u a ç ã o e s c o l a r ;

f - e x p l o r a r a d i me n s ã o

i n v e s t i g a t i v a d a p r á t i c a c o mo f o r ma d e c r i a ç ã o e r e c r i a ç ã o d e

c o n h e c i me n t o ;

g - c o n s i d e r a r a s

e s p e c i f i c i d a d e s p r ó p r i a s d o a l u n a d o d a s e s c o l a s c a mp o d e

p r á t i c a , d a s e t a p a s e mo d a l i d a d e s d a E d u c a ç ã o B á s i c a e d a s

á r e a s d e c o n h e c i me n t o q u e c o mp õ e m o s q u a d r o s c u r r i c u l a r e s ;

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

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h - s u s c i t a r a r e f l e x ã o

s i s t e má t i c a s o b r e o e x e r c í c i o p r o f i s s i o n a l à l u z d o c o n h e c i me n t o

d i s p o n í v e l e d e e x p e r i ê n c i a s r e a l i z a d a s ;

i - e n f a t i z a r s i t u a ç õ e s

p r o b l e ma c u j a s o l u ç ã o r e q u e r a a r t i c u l a ç ã o e n t r e c o n h e c i me n t o s ,

p r á t i c a s , v i v ê n c i a s , o u s e j a , u ma a ç ã o t e ó r i c o - p r á t i c a .

A c o n s i d e r a ç ã o d e s s a s r e f e r ê n c i a s c o n d u z i r á

n e c e s s a r i a me n t e a o d e s e n h o d e u ma ma t r i z c u r r i c u l a r q u e s u p e r e

a o rg a n i z a ç ã o p o r d i s c i p l i n a , t a l c o mo , a l i á s , j á v e m s e n d o

e x p e r i me n t a d o e m a l g u ma s i n s t i t u i ç õ e s fo r ma d o r a s s o b a fo r ma

d e n ú c l e o s t e má t i c o s o u d e t e ma s g e r a d o r e s , d e mo d o a

f a v o r e c e r :

a - o d e s e n v o l v i me n t o d a a u t o n o mi a i n t e l e c t u a l e p r o f i s s i o n a l ;

b - a c o mpr e e n s ã o d e c o n c e i t o s e r e l a ç õ e s n o s p r o c e s s o s d e

e n s i n o e a p r e n d i z a g e m;

c - a t r a n s f o r ma ç ã o d o s o b j e t o s d e c o n h e c i me n t o e m o b j e t o s

d e e n s i n o ;

d - a c o n s t r u ç ã o d e p e r s p e c t i v a i n t e r d i s c i p l i n a r ;

e - a a p l i c a ç ã o d o s c o n h e c i me n t o s a p r e n d i d o s n o p e r í o d o d e

f o r ma ç ã o e e m o u t r a s v i v ê n c i a s ;

f - o r e l a c i o n a me n t o f r e q ü e n t e e n t r e a l u n o s e p r o f e s s o r e s ;

g - a p r o d u ç ã o c o l e t i v a ;

4 E c o m o f i c a a c e r t i f i c a ç ã o ?

A q u e s t ã o d a c e r t i f i c a ç ã o d o d o c e n t e g a l v a n i z o u o d e b a t e

e d u c a c i o n a l n o B r a s i l a p a r t i r d a p u b l i c a ç ã o , p e l o M E C , d a P o r t a r i a

n °1 4 0 3 d e 0 9 d e j u n h o d e 2 0 0 3 i n s t i t u i n d o o S i s t e ma N a c i o n a l d e

C e r t i f i c a ç ã o e F o r ma ç ã o C o n t í n u a d e P r o f e s s o r e s . P e rg u n t a - s e ,

e n t r e t a n t o , s e a c e r t i f i c a ç ã o n ã o c o n s i s t i r i a s e q ü ê n c i a d a s D i r e t r i z e s

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

12

C u r r i c u l a r e s N a c i o n a i s p a r a a F o r ma ç ã o e m n í v e l s u p e r i o r d e

p r o f e s s o r e s d a E d u c a ç ã o B á s i c a ( P a r e c e r C N E / C P n°2 1 / 2 0 0 1 e P e r e c e r

CNE/CP n °2 8 / 2 0 0 2 ) , f o r mu l a d a s n o â mb i t o d o d e b a t e ma i s a mp l o

s o b r e a p r o f i s s i o n a l i z a ç ã o d a a t i v i d a d e d o c e n t e n o p a í s ?

C o m e f e i t o , e mb o r a t o d o p r o c e s s o d e p r o f i s s i o n a l i z a ç ã o

t e n h a a s ma r c a s d a h i s t ó r i a p r ó p r i a d a s s o c i e d a d e s e m q u e e l e s e

d e s e n v o l v e , a l i t e r a t u r a d i s p o n í v e l i n d i c a q u e e l e g e r a l me n t e s e

c o mp õ e d a s i n i c i a t i v a s t o ma d a s , n o â mb i t o d e u ma a t i v i d a d e d o

mu n d o d o t r a b a l h o , p a r a e s t a b e l e c e r c o mpe t ê n c i a s e s p e c í f i c a s ,

p a d r õ e s d e q u a l i d a d e d o t r a b a l h o d e s e n v o l v i d o e e x p l i c i t a r o s

b e n e f í c i o s q u e t r a z a u ma s o c i e d a d e d e t e r mi n a d a . Tr a t a - s e d e u m

p r o c e s s o a o c a b o d o q u a l u ma a t i v i d a d e o c u p a c i o n a l p r o c u r a a d q u i r i r

o d i r e i t o e x c l u s i v o s o b r e a r e a l i z a ç ã o d e u m t i p o d e t r a b a l h o , o

c o n t r o l e s o b r e a f o r ma ç ã o e o a c e s s o a o t r a b a l h o , b e m c o mo o d i r e i t o

d e d e l i mi t a r e a v a l i a r a f o r ma c o mo o t r a b a l h o é r e a l i z a d o .

D e s s e mo d o , n a s u a t a r e f a d e e l a b o r a r e d e c o o r d e n a r a

p o l í t i c a e d u c a c i o n a l , o M E C c o mo i n s t â n c i a r e g u l a d o r a e a v a l i a d o r a

d a e d u c a ç ã o n a c i o n a l t e r i a l e g i t i mi d a d e p a r a a l é m d a f o r ma ç ã o ,

c o n t r i b u i r p a r a a p r o f i s s i o n a l i z a ç ã o d o c e n t e e s c l a r e c e n d o o s

f u n d a me n t o s d o d e s e mpe n h o d a s t a r e f a s d o c e n t e s , e a s s i m c e r t i f i c a r

c o n h e c i me n t o s , c o mpe t ê n c i a s e h a b i l i d a d e s d o s p r o fe s s o r e s d a

E d u c a ç ã o B á s i c a . A c r í t i c a d e v e r i a s e v o l t a r p a r a a f o r ma d e

a v e r i g u a ç ã o e s c o l h i d a , a d e u m e x a me n a c i o n a l , d e p a r t i c i p a ç ã o

v o l u n t á r i a , d i r i g i d o a t o d o s o s p r o f i s s i o n a i s h a b i l i t a d o s a o e x e r c í c i o

d a d o c ê n c i a .

A c r í t i c a , e n t r e t a n t o , r e s t r i n g i u - s e a o f a t o d e n ã o t e r s i d o

p r e v i a me n t e d i s c u t i d a c o m a c o mu n i d a d e e d u c a t i v a , d e r e c o r r e r a u m

e x a me n a c i o n a l e d e c o n f i r ma r o p r o f e s s o r a d o c o mo p r i n c i p a l

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

13

r e s p o n s á v e l p e l a s n o t ó r i a s d e f i c i ê n c i a s o b s e r v a d a s n o s d i v e r s o s

n í v e i s e mo d a l i d a d e s d a E d u c a ç ã o B á s i c a . N e s s a r e a ç ã o , n o e n t a n t o , a

p r o p o s t a d e a c r e d i t a ç ã o d a s e s c o l a s p o d e s e r i n s t i g a n t e n a me d i d a q u e

t e m c o mo f o c o o p r o j e t o p e d a g ó g i c o a l i d e s e n v o l v i d o . M a s , a f o r ç a

d e s t a p r o p o s t a s e o f u s c a t e n d o e m v i s t a q u e s e p r o p u g n a u m a mp l o

d i a g n ó s t i c o d a s i t u a ç ã o e s c o l a r a n t e s d e c o n f i r ma r o d o mí n i o d e

c o n h e c i me n t o e o d e s e n v o l v i me n t o d e c o mpe t ê n c i a s e d e h a b i l i d a d e s

r e l a c i o n a d a s à d o c ê n c i a . O r a e s s e d i a g n ó s t i c o e s t á f e i t o e r e f e i t o p e l a

p r o d u ç ã o a c a d ê mi c a n a c i o n a l e d o p ró p r i o M E C a t r a v é s d o I N E P, d a s

d u a s ú l t i ma s d é c a d a s . I mp o r t a a s s i m, v e r i f i c a r c o mo a s i t u a ç ã o

e d u c a c i o n a l d e s v e l a d a v e m s e n d o e n f r e n t a d a p e l a s e s c o l a s e p o r

p o l í t i c a s e d u c a c i o n a i s e s t a d u a i s e mu n i c i p a i s e e n c o n t r a r me i o s p a r a

f a z ê - l a s a v a n ç a r n a o b t e n ç ã o d e p a t a ma r e s ma i s e l e v a d o s d e

q u a l i d a d e . É c l a r o , p o r o u t r a p a r t e , q u e s e i mp õ e a p r o f u n d a r o r e f o r ç o

d e p o l í t i c a s d e me l h o r i a i n s t i t u c i o n a l e d e v a l o r i z a ç ã o d o ma g i s t é r i o

p a u t a d a s p e l a me l h o r i a d a s c o n d i ç õe s d e t r a b a l h o , p r i n c i p a l me n t e , o

e s t a b e l e c i me n t o d e u m p i s o s a l a r i a l n a c i o n a l .

5 . A l g u m a s C o n s i d e r a ç õ e s

É , n o e n t a n t o , n a e x p e r i me n t a ç ã o e f e t i v a d e p r o j e t o s

p e d a g ó g i c o s , n o s e u a c o mpa n h a me n t o e n a a v a l i a ç ã o c r í t i c a q u e

d e c o r r e r ã o a s l i n h a s g e r a i s q u e p o d e m s e i mp o r e m mé d i o p r a z o p a r a

a f o r ma ç ã o d e p r o f e s s o r e s .

D e s s e mo d o , p r o s s e g u i r á a d i s p u t a p e l a s t ô n i c a s a s e r e m

d a d a s a o s p r o j e t o s d e f o r ma ç ã o e d e p r o f i s s i o n a l i z a ç ã o d o c e n t e d a n d o

d i n â mi c a p r ó p r i a à s p r o p o s t a s q u e s e r ã o f o r mu l a d a s e v i v e n c i a d a s ,

e s p e r a n d o - s e q u e s e j a m f a v o r á v e i s a o a p r o f u n d a me n t o d e u ma

s o c i e d a d e b r a s i l e i r a d e mo c r á t i c a q u e p o s s a s u p e r a r e m mo l d e s

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

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p r ó p r i o s a s f o r ma s d e e x p l o r a ç ã o e d e d o mi n a ç ã o q u e h o j e a

c a r a c t e r i z a m.

Q u e a s d i f e r e n t e s l i c e n c i a t u r a s i mp l a n t e m c r i t i c a me n t e a s

d i r e t r i z e s c u r r i c u l a r e s v i g e n t e s d e mo d o a q u e s e p o s s a e n c o n t r a r

p o n t o s d e c o n v e rgê n c i a q u e p e r mi t am, d o p o n t o d e v i s t a p e d a g ó g i c o ,

e n c o n t r a r c a mi n h o s q u e f a ç a m a v a n ç a r a c o n s t r u ç ã o d e u ma e d u c a ç ã o

b á s i c a d e q u a l i d a d e .

E n f i m, u rg e q u e a c o mu n i d a d e a c a d ê mi c a e n c o n t r e f o r ma s

d e a p r o f u n d a r c o n v e rgê n c i a s e m t o r n o d a f o r ma ç ã o d e p r o f e s s o r e s

n a q u e l e s a s p e c t o s q u e p o s s a m r e s u l t a r e m p r o v e i t o d a a p r e n d i z a g e m

d o s a l u n o s , a p r e n d i z a g e m q u e c o n s t i t u i d i r e i t o i n a l i e n á v e l d a s n o v a s

g e r a ç õ e s e r e c o n h e c i d a c o mo c o n d i ç ã o p a r a o e x e r c í c i o d a p l e n a

c i d a d a n i a .

M a i o d e 2 0 0 4 .

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

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A FORMAÇÃO DO PROFESSOR QUE ENSINA MATEMÁTICA: PERSPECTIVAS E DESAFIOS FRENTE ÀS POLÍTICAS

PÚBLICAS

Adair Mendes Nacarato -USF/SP e GEPFPM/CEMPEM/FE/UNICAMP

[email protected]

Resumo

O objetivo da minha intervenção no debate sobre as políticas públicas de formação de

professores é provocar reflexões, trazendo questões específicas sobre formação do

professor que ensina matemática. A discussão se centra em três eixos que, no meu

entender, devem estar articulados: 1) as pesquisas nacionais sobre formação de professores.

Para isso, utilizo os dados dos estudos que estão sendo realizados pelo

GEPFPM/CEMPEM/UNICAMP e dos trabalhos apresentados no II SIPEM; 2) o contexto

de reformulação das licenciaturas, para o qual utilizo os documentos produzidos pela

SBEM em 2002 e 2003, quando das discussões sobre a licenciatura em Matemática; 3) a

realidade dos cursos de Licenciatura em Matemática, destacando o perfil do licenciado em

Matemática, utilizando-me dos dados apresentados pelo INEP no Exame Nacional de

Cursos (Provão, 2003). O propósito é apontar convergências e divergências quanto a esses

três aspectos, destacando as interferências do Banco Mundial na elaboração das políticas

públicas de formação de professores e suscitando questões para o debate.

Introdução

O objetivo central do debate desta mesa redonda é discutir as políticas públicas de

formação de professor. Nesse contexto não poderíamos deixar de trazer para o debate as

questões específicas da formação do professor que ensina Matemática. Ao utilizarmos a

expressão “professor que ensina Matemática” estamos nos referindo tanto ao professor

especialista que atua de 5a a 8a série e Ensino Médio, quanto ao professor que atua na

Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental – que, embora não tendo uma

formação específica, também é professor de Matemática.

As questões que trarei para o debate centrar-se-ão em 3 eixos: as pesquisas

nacionais sobre formação de professores, o contexto de reformulação das licenciaturas e a

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

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realidade dos cursos de Licenciatura em Matemática. Tenho como propósito apontar

convergências e divergências quanto a esses três aspectos.

A formação do professor que ensina Matemática: perspectivas apontadas pelas

pesquisas X políticas implantadas em consonância com pautas internacionais

O Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação de Professores de Matemática

(GEPFPM), vinculado ao CEMPEM/PRAPEM, Faculdade de Educação, Unicamp,

constituído por professores de instituições públicas e privadas que atuam na formação

docente, pós-graduandos em Educação Matemática e professores da rede de ensino, vem se

debruçando sobre as pesquisas nacionais relativas à formação de professores que ensinam

Matemática, confrontando-os com estudos internacionais. Inicialmente (FIORENTINI et al,

2002), o grupo apresentou um balanço de 25 anos da pesquisa brasileira nessa linha de

investigação – período de 1978 a 2002, compreendendo 112 pesquisas. Complementando

esse estudo, o grupo vem se dedicando a mapear as pesquisas acadêmicas produzidas na

área e os focos desses estudos vêm sendo direcionados para aspectos apontados nesse

balanço que indicam caminhos interessantes para promover a formação docente e o

desenvolvimento profissional (NACARATO et al., 2003; PASSOS, et al., 2004).

Além dessas produções, estarei considerando também os trabalhos que vêm sendo

produzidos pelos membros do GT 7 da SBEM, principalmente aqueles apresentados no II

SIPEM, em 2003.

Mesmo entendendo que, atualmente, não há sentido em dicotomizar a formação

docente em inicial e continuada, por essa ser entendida como um continuum, ainda em

termos de pesquisas não há como desconsiderar essa clássica divisão, mesmo porque, os

programas de formação para cada uma dessas modalidades de formação vêm apresentando

objetivos, lógicas e perspectivas diferenciadas.

Dessa forma, no que se refere à formação inicial as pesquisas vêm apontando

avanços, desafios e lacunas.

No que se refere aos avanços, destacam-se:

O trabalho coletivo nas instituições formadoras, quer na construção e consolidação

dos projetos pedagógicos, quer na implementação de mudanças curriculares ou de

novas tecnologias vem se evidenciando como uma necessidade. É nos processos de

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

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interação e compartilhamento de experiências e saberes matemáticos – específicos,

pedagógicos e curriculares – que o formador se constitui, produz e reelabora saberes

necessários à formação do futuro professor de Matemática. As pesquisas apontam

que os projetos mais bem sucedidos de licenciatura são aqueles em que seus

membros estão engajados e comprometidos com a formação docente.

O papel desempenhado pela Prática de Ensino e Estágio Supervisionado, desde que

contemplem a discussão e reflexão sobre a prática docente. As pesquisas mais

recentes apontam que esse espaço na formação docente possibilita a constituição

dos saberes docentes e a re-significação dos saberes escolares durante a Prática de

Ensino e o Estágio, tendo como eixo de formação a pesquisa e/ou a reflexão

sistemática sobre a prática.(FIORENTINI et al., 2002, p. 145 )

As contribuições das atividades extracurriculares e espaços institucionais paralelos

ou marginais trazem para a formação docente. Esses espaços compreendem:

disciplinas extracurriculares, cursos de extensão, uso de laboratórios de ensino,

grupos de estudos, dentre outros.

A implantação de novos cursos de Graduação, dentro do novo modelo, atendendo às

orientações das Diretrizes Curriculares para a Formação do Professor da Educação

Básica (2001), com destaque para atividades que propiciem a inserção do

licenciando na prática pedagógica desde o início do curso.

As experiências em disciplinas específicas do curso de Licenciatura que

possibilitam a produção de saberes pedagógicos sobre determinados tópicos da

matemática escolar. Somente no II SIPEM foram apresentadas seis pesquisas que

abordavam conteúdos da formação do professor, na concepção de saberes docentes

necessários à prática profissional.

No que se refere aos desafios, destaca-se, principalmente, o papel fundamental

do professor formador de professores. Os estudos – em consonância com o contexto

mundial – apontam que pouco se sabe ainda sobre os saberes necessários ao professor

formador. Sabe-se que, ainda, em muitos cursos, a abordagem dada às disciplinas

específicas dos cursos de graduação ainda se pauta na dimensão técnico-formal. No

entanto, existem pesquisas sinalizando o diferencial dos cursos que contam com formadores

que buscam uma ruptura com tal abordagem. Evidencia-se a necessidade de se investir mais

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

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na constituição de um saber pedagógico disciplinar nos cursos de licenciatura. Esse papel

está nas mãos do formador. Não é apenas o professor das disciplinas pedagógicas que

forma o futuro professor, mas a equipe de docentes que atua na licenciatura. Nesse sentido,

pesquisas nacionais e internacionais apontam o quanto o futuro professor constrói modelos

de docência a partir dos modelos vivenciados.

Quanto às lacunas, no meu entender, a mais significativa diz respeito a pouca

existência de pesquisas discutindo a formação matemática do professor que irá atuar na

Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental. Sabemos que, se o início do

desenvolvimento do pensamento matemático do aluno não for bem trabalhado, esse aluno

enfrentará problemas nas séries posteriores. Nesse sentido, acreditamos ser necessário um

olhar mais cuidadoso para os cursos de Pedagogia que, via de regra, principalmente os das

instituições privadas não contemplam as metodologias específicas, o que acaba

comprometendo seriamente a formação específica desse professor polivalente.

No que se refere à formação continuada, as pesquisas – nacionais e

internacionais – apontam que a virada paradigmática ocorreria a partir dos anos 90 (...)

essa virada representa uma mudança não apenas epistemológica, em relação ao modo de

produção de conhecimentos para a prática pedagógica, mas, além disso, uma mudança

político-pedagógica que inclui a dimensão dos valores. (FIORENTINI, 2002, p.157 )

A principal contribuição das pesquisas nessa área diz respeito ao próprio olhar

do formador para com o professor atuante. Este passa a ser visto como um produtor de

saberes. Assim, os projetos de formação melhor sucedidos mostram uma mudança de foco:

das pesquisas sobre professores passa-se à pesquisa com os professores. Surgem em cena

novos conceitos como: parceria formador ou pesquisador/professor, trabalho coletivo,

trabalho cooperativo e trabalho colaborativo. A colaboração, segundo Hargreaves (1998),

“transformou-se num metaparadigma da mudança educativa e organizacional da idade

pós-moderna”, sobretudo, de um lado, pelo seu “princípio articulador e integrador da

ação, do planejamento, da cultura, do desenvolvimento, da organização e da investigação”

e, de outro, “como resposta produtiva a um mundo no qual os problemas são imprevisíveis,

as soluções são pouco claras e as exigências e expectativas se intensificam”. O trabalho

individual, neste contexto, tem sido visto como uma heresia; algo que deve ser reprimido a

todo custo. (NACARATO et al., 2003, p.14).

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

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Pode-se destacar também pesquisas que vêm sendo realizadas em cursos de

especialização e/ou extensão, mediados ou não pela utilização de tecnologias. Essas

pesquisas apontam a ressignificação dos saberes docentes dos professores participantes

desses contextos de formação.

Evidenciou-se nas pesquisas que nos programas de formação, os conteúdos

matemáticos precisam ser visitados e revisitados, mas sob a ótica do saber pedagógico

disciplinar e da prática pedagógica – que deve ser tomada como ponto de partida nos

programas de formação.

Em síntese, o que as pesquisas brasileiras sobre formação de professores que

ensinam Matemática vêm apontando não difere muito da formação em outras áreas do

conhecimento e convergem para as discussões internacionais sobre o assunto. O professor

vem sendo considerado um produtor de saberes e um ator do processo educacional que

deve ser ouvido e participar dos projetos que lhe dizem respeito, quer no âmbito das

políticas públicas, que no âmbito do contexto escolar.

O lócus de formação vem se revelando diversificado. Há experiências bem

sucedidas com grupos de formação na própria escola, com a presença de professores

universitários, como há também experiências bem sucedidas nas instituições de ensino

superior. Assim, entendemos que a problemática não está em onde ocorre a formação, mas

na forma como essa ocorre e, nesse contexto, o formador acaba sendo peça fundamental.

Como já explicitado, os programas ou projetos de formação – tanto a inicial quanto a

continuada – melhor sucedidos são exatamente aqueles nos quais o formador sabe ouvir e

dar voz ao (futuro) professor; pesquisa com ele e compartilha saberes e experiências.

Os pesquisadores do GT 7 da SBEM entendem que a comunidade de educadores

matemáticos já dispõe de material significativo que possa dar suporte às políticas públicas

de formação de professores.

No entanto, constata-se que as pesquisas desenvolvidas na área pouco ou nada

têm contribuído para a implantação de novas políticas públicas de educação. O que temos

presenciado nos últimos anos é a apropriação, por parte dos órgãos públicos, de conceitos

construídos no âmbito da pesquisa acadêmica. Muitas vezes esses conceitos são re-

significados para atingir interesses e modelos até mesmo antagônicos aos contextos nos

quais foram gerados.

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

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Atualmente, não raro, encontramos nos documentos oficiais a utilização de

termos como “professor reflexivo”, “professor pesquisador”, “trabalho coletivo na escola”,

dentre outros, sem que aos professores sejam dadas as condições mínimas de trabalho, para

que ele possa refletir, pesquisar e trabalhar coletivamente. Fala-se na necessidade do

professor desenvolver-se continuamente; no entanto, este não pode se ausentar da sala de

aula, nem mesmo para participar de eventos da área. Fala-se na importância do professor

estar sempre se atualizando; no entanto, os baixos salários não lhe permitem nem mesmo

adquirir livros e bons periódicos na área de atuação para que se mantenha atualizado. Fala-

se na importância do trabalho coletivo na escola, mas o pouco espaço que é dado ao

professor – quando dado – geralmente é preenchido com os problemas burocráticos da

escola. Qual o significado em se falar em professor reflexivo e/ou investigador, com classes

numerosas, carga desumana de trabalho e o stress da profissão?

Pensar em implantação – em larga escala – de políticas públicas que

contemplem os resultados que as pesquisas vêm apontando, requer se pensar nas condições

profissionais do professor e, principalmente, na valorização docente, com salários dignos e

condições decentes de trabalho. Acreditamos não ser com realização de Exames Nacionais

de Certificação de Professores que promoveremos mudanças nas práticas escolares. A

formação deve se pautar em processos de promoção de desenvolvimento e autonomia

profissional e não em processos de avaliação vinculados à lógica de mercado, nos quais o

que conta são as “competências”.

A comunidade educacional tem defendido a necessidade de um maior diálogo

entre governo, professores, pesquisadores e órgãos representativos dessa comunidade. Os

programas de formação devem atender às necessidades internas do país e não pautas

internacionais que traçam prioridades e estratégias com vistas aos investimentos na

educação brasileira. O diálogo deve ocorrer com os especialistas internos e não com

técnicos do Banco Mundial que, tomando por base estudos realizados, principalmente na

América Latina, apontam metas para os países no que se refere às políticas de formação de

professores.

Com o objetivo de suscitar reflexões em nosso debate, destacarei algumas dessas

políticas de formação docente impostas pelo Banco Mundial, com as quais temos convivido

nos últimos anos. Para isso, apropriar-me-ei dos estudos de Rosa María Torres.

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

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Ênfase na formação continuada, relegando à inicial a instituições não

comprometidas com ensino, pesquisa e extensão. Segundo Torres (1998, p.176), a

maioria de “projetos de melhoramento da qualidade da educação” financiados pelo

Banco Mundial nos países em desenvolvimento, quando possuem um componente de

capacitação docente, é de capacitação em serviço. Ainda segundo a autora, a ênfase

atual na capacitação em serviço fundamenta-se, entre outras, na idéia de que não é

preciso contratar novos professores, trata-se apenas de redistribuir racionalmente (e

até depurar) e “reciclar” os existentes. A redução da contratação pode ser obtida por

meio do aumento da relação aluno/professor – fato a que já estamos assistindo em nosso

país com o aumento do número de alunos em sala de aula. Essa lógica imposta à

formação pode ser constatada pelas recentes discussões sobre a criação dos Institutos

Superiores de Educação, retirando a possibilidade da pesquisa na formação inicial.

A prioridade para programas de educação/capacitação à distância: neste

contexto, a educação a distância é promovida como alternativa importante para se

massificar a capacitação docente em serviço (TORRES, 1998, p. 177). Nesse sentido,

temos assistido a uma série de programas e projetos envolvendo capacitação à distância.

Não se trata de descartar essa modalidade de formação, mas analisar sua eficácia. Nesse

sentido, as pesquisas sobre essa modalidade vêm destacando a necessidade de encontros

presenciais.

A prioridade para a tecnologia educativa e o livro didático: segundo Torres

(1998, p.178), na América Latina essa ênfase vem ocorrendo em mão dupla: livro

didático para o aluno e manual para o professor, vistos como a solução para o

problema da capacitação docente (...) uma estratégia compensatória dos maus

salários, da má ou nenhuma capacitação, do escasso tempo disponível para se

atualizar e preparar as aulas. Entendemos haver, ainda nesse item, uma lacuna nas

pesquisas brasileiras que analisem as relações que o professor estabelece com o livro

didático e se este, de fato, contribui para a sua formação continuada.

A capacitação docente como dimensão isolada: os programas de formação

continuada são implantados, de cima para baixo, à margem de tudo o mais, à margem

da reforma curricular ou administrativa, à margem de outras dimensões que afetam o

trabalho e a vida dos professores (políticas de recrutamento e salarial, ambiente de

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

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trabalho, etc.) (TORRES, 1998, p. 179). Nesse sentido, as pesquisas apontam que a

formação não pode ser isolada, ela deve envolver o coletivo da escola, partir das

necessidades do corpo docente.

A formação continuada desconectada da formação inicial: essa formação vem se

pautando na oferta de cursos, geralmente avulsos e sobre temas avulsos, sem uma

articulação adequada entre teoria e prática, sem levar em consideração a complexidade

da prática docentes. Hoje, cada vez mais, presenciamos uma grande contradição: ao

mesmo tempo em que se defende a necessidade de uma “nova escola” e um “novo

papel docente”, em um mundo cada vez mais interconectado e complexo, com enormes

exigências sociais e educacionais insatisfeitas, a capacitação docente diminui e se

estreita, tanto no tempo quanto em seus objetivos e alcances, em sua qualidade e

permanência. O abismo entre o professor ideal suposto pelas reformas educativas e o

professor real, de carne e osso, que ensina diariamente nas salas de aula, não está

diminuindo, mas, pelo contrário, está crescendo. O professor com o qual contam as

reformas educativas contemporâneas, no discurso e no papel, ainda não foi inventado,

ainda não existe (TORRES, 1998, p. 180). Constatamos a pouca ou nenhuma

vinculação dos programas de formação continuada com a formação inicial. Quais as

instituições que vêm promovendo a formação continuada? Qual é o seu

comprometimento com a formação inicial? Quem são os formadores? A qualidade e

seriedade dessas instituições podem ser avaliadas apenas por licitações públicas?

A ausência dos professores na definição de políticas e programas: segundo

Torres, os burocratas e técnicos responsáveis pela formulação de políticas continuam

não sabendo quem são os professores para os quais as reformas se destinam, como

pensam, como ensinam, com vivem, como aprendem...

Embora a autora apresente outras diretrizes do Banco Mundial, as aqui

assinaladas já são suficientes para se entender o contexto das políticas educacionais

relativas à formação docente, implantadas no Brasil nos últimos 10 anos. Nesse sentido,

reafirmo meu entendimento sobre a necessidade de um diálogo mais amplo e aberto,

incluindo formadores, pesquisadores e, principalmente, os professores. Não se trata da

apropriação dos conceitos construídos pelas pesquisas, mas de se buscar uma interlocução

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Anais do VIII ENEM – Mesa Redonda

23

com os diferentes atores do processo educativo para se estabelecer ações convergentes em

termos de significados para esses conceitos.

Enfim, acredito que a formação docente deva ser o centro de qualquer reforma

educativa e não apenas um apêndice.

O contexto de reformulação das Licenciaturas

Desde a publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação

de Professores da Educação Básica (CNE/CP 1, de 18/02/2002) e a subseqüente publicação

das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Matemática, a comunidade de

educadores matemáticos, liderada pela SBEM, vem se debruçando em discussões e debates

sobre os rumos da licenciatura em Matemática no Brasil.

Esse debate tem trazido a público as convergências e divergências entre

aqueles envolvidos na formação do professor de Matemática.

Durante o primeiro semestre de 2002, a SBEM promoveu os fóruns

regionais nos diferentes estados para a discussão desses documentos relativos à

licenciatura. Essa discussão foi ampliada no I Fórum Nacional de Licenciatura em

Matemática, realizado na PUC-São Paulo, em agosto de 2002. Naquela ocasião, a

comunidade de educadores matemáticos considerou relevante a produção de um documento

que analisasse as contradições entre o CNE/CP 1 e as diretrizes curriculares, para posterior

envio ao MEC. Dentre as contradições apontadas pelo documento, destacam-se:

A diferenciação feita entre a formação do bacharel e do licenciando.

Enquanto ao primeiro prevê-se uma sólida formação, ao segundo, uma formação

‘menos sólida’, o suficiente para que este adquira algumas ‘visões’. Dessa forma, não

especifica a necessidade da licenciatura preparar um profissional específico para o

ensino, com sólida formação em Matemática e em Educação Matemática.

É reservada apenas ao bacharel a formação visando à pesquisa e o

ensino superior. Retira, assim, da licenciatura a formação do pesquisador e do professor

do ensino superior, ou seja, a formação do formador de professores.

Após a realização desse fórum, houve uma certa mobilidade da comunidade,

no sentido de elaborar um documento para subsidiar as discussões nas diferentes

instituições de ensino superior que formam o professor de Matemática.

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Uma primeira versão desse documento foi apresentado, em abril de 2003, no

Seminário Nacional: Construindo propostas para os cursos de Licenciatura em Matemática,

realizado em Salvador/Bahia.

Nesse seminário, a diretoria da SBEM apresenta o documento síntese sobre

licenciaturas, o qual foi amplamente discutido. Essas discussões geraram nova versão que

ainda vem passando por re-elaborações, a partir das sugestões e colaborações dos

educadores matemáticos.

Ocorre que, nesse espaço de tempo, vem se acirrando o debate público entre

as diferentes sociedades ligadas à Matemática e, em especial, entre a Sociedade Brasileira

de Matemática (SBM) e a SBEM. No entanto, esse debate pouco tem contribuído para se

avançar nas discussões, uma vez que a SBM também não considera a ampla pesquisa

realizada em Educação Matemática nos últimos vinte e cinco anos e, em especial, no que

diz respeito à formação do professor.

A ênfase da discussão continua sendo posta no conteúdo matemático

específico, desconsiderando que o saber disciplinar é apenas uma das dimensões do saber

docente e que esse saber disciplinar, se desprovido de uma abordagem pedagógica e

curricular, não possibilita ao futuro professor as condições mínimas para o exercício da

profissão docente na escola básica. Além disso, algumas posturas públicas de membros da

SBM desconsidera as três dimensões da profissão docente: o saber, o saber-fazer e o saber-

ser.

Outro aspecto diz respeito à polêmica entre as duas formações: bacharelado

X licenciatura. Nessa discussão, um importante fato vem sendo deixado de lado, qual seja,

essa duplicidade de formação só existe nas universidades públicas. Nas universidade

privadas, em via de regra, existe apenas a licenciatura. Nesse sentido, qual seria a

representatividade das instituições privadas no cenário da formação docente?

Considero necessário a realização de um mapeamento das instituições

formadoras de professores de Matemática, principalmente no que diz respeito às condições

de funcionamento desses cursos, as grades curriculares, o tempo de duração, a qualificação

do corpo docente, dentre outros. E, principalmente, que se tenha uma visão ampla sobre a

questão: em que medida essas instituições estão comprometidas com a formação do

professor e com o desenvolvimento de pesquisas? Somente com uma análise dessa questão

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pode-se pensar em políticas públicas de formação docente. Quem, de fato, vem formando o

professor de Matemática nesse país? Ou, de fato, o MEC vem seguindo à risca as

determinações do Banco Mundial, relegando a formação inicial em um segundo plano?

Outra questão ainda que merece nossa reflexão: qual é o perfil do

licenciando em Matemática? A quem se destina os cursos de licenciatura?

A realidade dos cursos de licenciatura: o perfil do licenciado em Matemática

Embora já seja de domínio público o estudo analítico que o INEP realiza,

anualmente, com base nos resultados do Exame Nacional de Cursos, sobre o perfil

socioeconômico dos participantes desse exame, considero importante trazer alguns desses

dados para complementar a discussão anterior. Para tal, utilizarei apenas os dados de 2003,

destacando alguns deles.

No Exame Nacional do Curso de Matemática, em 2003, participaram 379

cursos, dos quais, 40,4% se concentram na Região Sudeste, com o estado de São Paulo

detendo 50% deles. Enquanto nas regiões Norte e Nordeste a maioria dos cursos são de

instituições públicas (federais), nas demais é representativo o número de instituições

privadas. Estas representam 49,3% das instituições de ensino superior que formam

professores de Matemática. Somente o estado de São Paulo, por exemplo, contém 62,5%

das instituições privadas do país.

Esses dados já respondem a questão anterior, ou seja, as instituições privadas

vem sendo ocupando muito espaço na formação do professor de Matemática. E, pelo

sucateamento que as universidade públicas vêm sofrendo, a tendência é que a rede privada

ocupe todo o espaço de formação.

A maioria dos concluintes do curso de Matemática3 é do sexo feminino

(58,2%), o que confirma a tendência do magistério ser predominantemente feminino. No

entanto, vale destacar que os homens representam a maioria nas instituições federais.

Esses graduandos são de família com renda inferior a R$ 2.400,00; a maioria

trabalhou durante o curso (40 horas semanais – 35,5% e 20 horas semanais – 20,1%). A

3 É i m p o r t a n t e d e s t a c a r q u e n o R e l a t ó r i o S í n t e s e d o E N C , o I N E P n ã o d i f e r e n c i a o b a c h a r e l d o l i c e n c i a d o .

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maioria deles possuía pais e mães com escolaridade até 4a série, ou seja, ensino

fundamental incompleto.

A grande maioria (69,3%) cursou todo o ensino médio em escola pública,

sendo 39% provenientes de cursos de ensino médio regular; 32,4% provenientes de curso

de Magistério e 22,9%, de cursos técnicos.

Acredito que apenas esses dados já possibilitam uma visão de quem é esse

professor que está sendo formado, anualmente, pelas instituições de ensino superior.

Defendo, ser impossível num curso de formação inicial de curta duração – tal como sugere

o próprio Banco Mundial4 – formar um professor no seu sentido mais amplo.

Em algumas instituições já é possível constatar o cuidado de organizar um

primeiro ano do curso que resgate os conteúdos matemáticos da educação básica,

principalmente em decorrência do alto índice de alunos provenientes de cursos técnicos e,

com bastante ascensão, de cursos de magistério – nos quais os conteúdos matemáticos são

pouco enfatizados.

Há outros dados bastante interessantes para que se possa analisar quem é o

professor de Matemática que está ingressando na profissão. Por exemplo, a maioria só tem

a televisão como meio de atualização; contaram apenas com a biblioteca da instituição para

acesso a livros; raramente participaram de atividades acadêmicas, mesmo porque as

instituições não ofereceram; poucos tiveram envolvimento com projetos de pesquisa;

raramente participaram de eventos na área (congressos, seminários, encontros) e apenas um

terço desses graduados possui computador em casa. Nesse sentido, o ingresso na profissão

– com os baixos salários pagos ao professor – vai garantir maior acesso a uma literatura

especializada para atualização profissional? Como se pensar em educação à distância se

4 V a l e c i t a r u m a d a s r e c o m e n d a ç õ e s d o B a n c o M u n d i a l , e m s e u d o c u m e n t o d e 1 9 9 5 : P r i o r i t i e s a n d s t r a t e g i e s f o r e d u c a t i o n : a W o r l d B a n k s e c t o r r e v i e w : A f o r m a ç ã o i n i c i a l c o n s i s t e e m e d u c a ç ã o g e r a l e c a p a c i t a ç ã o p e d a g ó g i c a . E s t a c o m b i n a ç ã o a t o r n a m u i t o c a r a , e s p e c i a l m e n t e d e v i d o a o t e m p o i n v e s t i d o n a e d u c a ç ã o g e r a l [ . . . ] E s t a e d u c a ç ã o g e r a l – o c o n h e c i m e n t o d a s m a t é r i a s – p o d e s e r f o r n e c i d a n o e n s i n o s e c u n d á r i o a m a i s b a i x o c u s t o , e n t r e 7 e 2 5 v e z e s m a i s b a r a t o d o q u e a f o r m a ç ã o i n i c i a l . A c a p a c i t a ç ã o p e d a g ó g i c a , p e l o c o n t r á r i o , é m u i t o a p r o p r i a d a p a r a a s i n s t i t u i ç õ e s d e f o r m a ç ã o d o c e n t e . P a r a o s p r o f e s s o r e s d a e s c o l a d e p r i m e i r o g r a u , p o r t a n t o , o c a m i n h o q u e a p r e s e n t a m e l h o r r e l a ç ã o c u s t o - b e n e f í c i o é u m a e d u c a ç ã o s e c u n d á r i a s e g u i d a d e c u r s o s c u r t o s d e f o r m a ç ã o i n i c i a l c e n t r a l i z a d o s n a c a p a c i t a ç ã o p e d a g ó g i c a . ( A p u d T O R R E S , 1 9 9 6 , p . 1 6 5 ) .

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apenas um terço desses profissionais tem computador em casa? Como implementar

propostas inovadoras em sala de aula, com o uso de tecnologia, se essa pouco se fez

presente na formação do aluno? (a maioria considera que a graduação pouco contribuiu

para a formação de competências necessárias à utilização de recursos de informática).

Quanto ao projeto pedagógico das instituições de origem desses graduados e

a sua articulação com aspectos sociais, políticos e culturais da realidade brasileira, a equipe

responsável pela análise das respostas dos graduados, assim se posiciona: é possível

afirmar, diante das respostas, que a reflexão crítica a respeito dos problemas sociais

enfrentados no Brasil vem sendo, de maneira geral, parcialmente valorizada pelos Cursos

de Matemática. A formação na área de Matemática, para alguns, pode estar identificada

com a frieza dos números e caracterizada pelo distanciamento de aspectos importantes da

vida cotidiana (p. 130). Como, diante dessa formação que o professor recebe, pode-se falar

em temas transversais, em interdisciplinaridade e contextualização como preconizam os

parâmetros curriculares de Matemática do ensino fundamental e médio? Caberia à

educação continuada dar conta de suprir as lacunas deixadas pela formação inicial?

Embora o documento contenha outras informações bastante relevantes,

considero que as assinaladas já são suficientes para suscitar o debate. Em que medida o

professor de Matemática está ingressando na profissão com um conhecimento mínimo que

lhe possibilite enfrentar a complexidade da prática pedagógica? Aqui me refiro tanto ao

professor especialista quanto ao polivante.

Qual o sentido de se avaliar o conhecimento do licenciando egresso por meio

de exames nacionais de curso? Ou de exames de certificação? Como atender a diversidade

de contextos e de condições econômicas existentes em nosso país?

Essas constatações e inquietações, sem dúvida, nos remetem para a

necessidade de não apenas se discutir e rever os programas de licenciatura no Brasil, mas

também de se pensar em modalidades de formação continuada que dêem conta de suprir

todas as lacunas que a formação inicial não deu conta.

Em síntese, pode-se dizer que, de um lado, as pesquisas acadêmicas

produzidas pela comunidade de educadores matemáticos, vêm apontando alternativas que

podem dar conta de alguns problemas relacionados à formação docente – quer a inicial,

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quer a continuada; de outro, os dados do relatório do INEP apontam o desafio que está

posto para o desenvolvimento de programas de formação.

No entanto, acredito que esse desafio poderá ser melhor vencido se houver

um diálogo constante entre os diferentes segmentos da comunidade educacional envolvidos

com a formação docente. Mas, que nesse processo, não fique de fora o maior interessado e

a quem se destinam os projetos e políticas propostos: o professor. Que esse passe a ter voz e

ser ouvido.

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