MÚSICA: UM INSTRUMENTO MOTIVADOR NO ENSINO DE … · A Teoria Crítica de Giroux utiliza-se do...
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MÚSICA: UM INSTRUMENTO MOTIVADOR NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA
PELO VIÉS DO LETRAMENTO CRÍTICO
Roseli Marques da Silva Mattos 1
Tacel Ramberto Coutinho Leal 2
Resumo
Este trabalho trata de apresentar os resultados obtidos a partir da Implementação de um Projeto Pedagógico, desenvolvido na Escola Estadual Castelo Branco – Ensino Fundamental, Médio e Profissional da cidade de Primeiro de Maio, Estado do Paraná. A proposta foi a de motivar o ensino de Língua Inglesa a partir da utilização da música, objetivando levar os alunos ao aprendizado crítico e à sua condição de agente social transformador. O tema escolhido foi o meio ambiente e, a partir dele, foram trabalhadas atividades de Língua Inglesa que se constituíram em reflexão sobre a degradação do meio ambiente. A metodologia utilizada foi baseada nas propostas de Henry Giroux e sua Pedagogia Crítica e a de Paulo Freire e a Pedagogia Libertadora. Os autores acreditam na função emancipadora e democrática do processo de ensino e de aprendizagem. Sendo que Giroux, ao tratar especificamente do ensino da Língua Inglesa, esclarece que ela deve servir sempre a um propósito social, objetivo este que foi atingido ao se falar e refletir sobre as condições atuais do meio ambiente.
Palavras-chave: Meio Ambiente. Língua Inglesa. Pedagogia Crítica. Música. Ensino Médio.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo apresenta e discute os resultados do desenvolvimento de
uma Proposta Pedagógica que teve como objetivo geral fazer uso da música como
instrumento de letramento crítico no ensino da Língua Inglesa, para uma turma de
alunos do Ensino Médio da escola pública Colégio Estadual “Marechal Castelo
Branco” – Ensino Fundamental, Médio e Profissional, da cidade de Primeiro de Maio,
no Estado do Paraná.
É sabido que a escola pública recebe alunos para o Ensino Médio vindos de
diferentes realidades socioculturais e econômicas. Tais alunos chegam com
objetivos e interesses diversos. Essas diferenças são percebidas quando do ensino
1Curso de Especialização em Língua Portuguesa e Literatura, Graduada em Letras/Língua
Portuguesa e Língua Inglesa na Universidade do Oeste Paulsita (UNOESTE) em Presidente Prudente-SP. Atua no Colégio Estadual “Marechal Castelo Branco” - Ensino Fundamental, Médio e Normal. Primeiro de Maio – PR. Email: [email protected] 2 Doutor em Letras (Inglês e Literatura Correspondente) pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Professor Adjunto da Universidade Estadual de Londrina. UEL/PR. Email: [email protected]
da Língua Inglesa, onde nota-se o desinteresse, a falta de informação e a dificuldade
que eles possuem com relação a este aprendizado.
Também percebe-se que as atividades com músicas, nas quais a Língua
Estrangeira Moderna está inserida, parecem suprir tais diferenças, assim como
ampliam a visão de mundo, a formação de opiniões e a construção das identidades
dos alunos.
A proposta de implementação se apoia na ideia da Pedagogia Crítica de
Henry Giroux, que indica que ao se ensinar uma língua estrangeira deve-se perceber
que a força de sua importância está, justamente, em afirmar sua função
emancipadora e democrática. Ou seja, ela deve servir a um propósito social para
todos a quem é dada a oportunidade de aprendê-la.
No caso dos alunos do Ensino Médio de uma escola pública, eles precisam
sentir a importância deste aprendizado dentro dos contextos de onde vieram, para
que entendam a metodologia e se empenhem, acreditando que o aprendizado da
Língua Inglesa lhes servirá para algum propósito emancipatório.
Este plano de implementação partiu em busca de novas formas de
transformar o ensino e o aprendizado da língua inglesa num objeto significativo para
alunos e professores, e propôs ensinar a Língua Inglesa através da música. Dentre
tantos outros recursos disponíveis, considerou-se a motivação como fator
fundamental para a aprendizagem desta disciplina, sempre acreditando que a
música é uma linguagem universal e de inegável interesse por parte dos alunos.
Também a música é um recurso de fácil acesso devido aos inúmeros recursos
tecnológicos, tais como tocadores de MP3, aparelhos de telefones celulares, rádios,
televisões, pendrive e outros.
A partir desta escolha, passou-se a integrar os conteúdos e os métodos de
trabalho à realidade dos alunos, buscando relacioná-los com as vivências cotidianas,
objetivando eliminar uma relação hierárquica, ou com tom autoritário, mas,
proporcionando um diálogo franco onde os alunos entendessem que não estavam
sendo impostos a estudar o tema, mas, que este já fazia parte da vida deles.
Por essa razão, o tema degradação do meio ambiente, tão apresentado em
todas as mídias, surgiu como recorrente e importante e passou a integrar a proposta
aqui apresentada. A escolha se deu pela crença de que o assunto já estivesse
presente na vida dos alunos e esperando desenvolver neles um posicionamento
crítico a partir da constatação que eles também são responsáveis pelos
acontecimentos que degradam ou que apoiam a sustentabilidade do planeta.
Ao se pensar numa música que motivasse o estudo do tema proposto (Meio
Ambiente) e que estivesse contextualizada com a proposta, optou-se pela canção
Earth Song, composta e interpretada por Michael Jackson, ídolo pop conhecido
pelos alunos, o que facilitou sua percepção enquanto reflexão do momento atual
pelo qual passa a terra e o convívio dos seres no meio dela.
Ao trabalhar com a música durante a elaboração desta Unidade Didática,
pensou-se em ir além do plano linguístico enquanto se desenvolvia um material com
o objetivo de possibilitar ao aluno momentos de reflexão sobre o tema. O material
desenvolvido também propunha aos alunos momentos de autoavaliação, de tomada
de posicionamento crítico em relação ao ambiente onde estão inseridos. Buscou-se
fazer com que os alunos reconhecessem o contexto da produção da música
escolhida, refletindo, inclusive, sobre as intenções do compositor.
Durante a implementação deste trabalho pedagógico, observou-se a atuação
de cada educando durante o desenvolvimento das atividades, analisando seus
pontos fortes e fracos, bem como se eles adquiriram conhecimentos com o
desenvolvimento das atividades propostas, com vistas à construção de novas
metodologias caso fossem necessárias. O resultado crítico do desenvolvimento
desta proposta é aqui apresentado, com detalhamento de todos os procedimentos, e
a partir do relato das observações da relação entre a revisão teórica e a prática
desenvolvida em sala de aula.
2 UMA TEORIA PARA UMA ESCOLA CRÍTICA
De acordo com as diretrizes curriculares do Estado do Paraná, “a escola tem
o papel de informar, mostrar, desnudar, ensinar regras, não apenas para que sejam
seguidas, mas, principalmente, para que estas possam ser modificadas” (PARANÁ,
2008, p.52). Assim, a escola deve ser compreendida como espaço social propício
para que o aluno se aproprie de conhecimentos e possa compreender a realidade
em que vive e, desta forma, seja instrumentalizado para transformá-la.
A esse respeito, Giroux (1986, p. 156) afirma que
[...] as escolas não são apenas locais de reprodução sociocultural, mas também lugares envolvidos em contestação e lutas sociais contraditórios marcados pela luta e acomodação; também propiciam espaços para o ensino, o conhecimento e as práticas sociais de emancipação. A escola nem é um baluarte da dominação, nem um lócus de revolução; ela contém espaços ideológicos e materiais para o desenvolvimento de pedagogias radicais, um lócus para se criar um discurso crítico em torno das fórmulas que uma sociedade democrática poderia tomar.
Ainda sobre a questão da escola, Giroux (1987, p. 82) a define
[...] como espaço de possibilidade - que crie as condições ideológicas e materiais para uma esfera publica radical, que prepara os estudantes para participar e lutar por esferas públicas democráticas, que os eduque para tomar seu lugar na sociedade a partir de uma posição de fortalecimento e não a partir de uma subordinação econômica e ideológica.
O trabalho na Educação deve ser pensado dentro e fora do espaço escolar.
Este é um trabalho que exige uma luta expandida, que estimule e transforme a
escola num local onde educadores e educandos estejam motivados a um encontro
cultural e formador, visto que este sentimento estimulará a pesquisa da criatividade e
da produção científica ( ZUIN e PUCCI, 1999).
As reflexões que Giroux propõe acerca da escola ultrapassam o espaço
físico, adentrando pela ideologia, pela política que perpassa os portões e mentes
dos que fazem parte da escola, demonstrando como a escola pode encaminhar os
indivíduos para a transformação social.
Giroux (1986) faz uma relação entre a pedagogia radical, que tem uma visão
crítica e deseja mudar a situação criando um novo estado de coisas, e a política
cultural, buscando em Bakhtin e em Freire os elementos de que precisava para
refinar sua reflexão. A contribuição de Bakhtin é importante porque apresenta a
linguagem como um ato eminentemente social e político, vinculado à maneira como
os indivíduos definem o significado e constroem suas relações com o mundo,
através do dialogo permanente com os outros. Enquanto a teoria da educação em
Paulo Freire se fundamenta em uma concepção de linguagem e de cultura na qual o
diálogo e o significado estão fortemente unidos a um projeto social que enfatiza a
primazia do político (GIROUX, 1986).
A partir do pensamento de Giroux é possível pensar as aulas de língua
estrangeira (LE) como assumindo um papel muito importante no ambiente escolar.
Um papel que vai além da gramática normativa e da conversação, aquele que pode
fazer com que o aluno dialogue com o seu meio e construa a história da melhor
forma para si e para humanidade, desse modo, desenvolvendo seu senso crítico e a
participação social ativa. Para tanto esses alunos necessitam encontrar suporte em
sua escola e em seus professores.
É por isso que Giroux (1987, p.8), em seu livro Escola Crítica e Política
Cultural, propõe um papel distinto do tradicionalmente aceito aos professores,
elevando os alunos a um nível de atores sociais. Em suas palavras
[...] quero defender o ponto de vista de que os educadores radicais precisam construir uma linguagem que considere os professores como intelectuais transformadores, a escola como esfera de oposição e a pedagogia radical como uma forma de política cultural.
A Teoria Crítica de Giroux utiliza-se do método dialético, ou seja, o da análise
crítica do tema pesquisado que determinará o que fazer a partir da compreensão
dele, estabelecendo novas bases a partir da contextualização do problema. Para
isso, ele apresenta elementos que reestruturam a pedagogia e valorizam o sujeito e
sua subjetividade, bem como os fatos que a formaram, como, por exemplo, a cultura,
a política, a ideologia. Sabendo-se que muitas vezes o sujeito tem de superar,
resistir, participar, individual ou coletivamente, desse processo de emancipação,
transformando a pedagogia numa pedagogia instrumento de formação, que forma e
transforma os saberes políticos a ponto do indivíduo deixar de ser dominado e
passar a ter uma consciência crítica e um posicionamento político-ideológico (ZUIN;
PUCCI, 1999).
Giroux desenvolve uma teoria onde a escola promove a dialética entre
estrutura e ação humana, pois, enquanto espaço ideológico e cultural a escola
também pode estar aberta à resistência e à promessa de uma pedagogia crítica e
transformadora, assim como são as idéias de emancipação de Paulo Freire. Sua
teoria crítica se apresenta como instrumento de renovação pedagógica sempre
necessária, especialmente na contemporaneidade.
Reconhecer a política cultural e as práticas que sustentam a pedagogia é uma
reflexão constante de Giroux que em sua teoria lembra que: "Paulo Freire construiu
uma teoria de educação que considera seriamente o relacionamento entre a teoria
crítica e os imperativos do comprometimento e luta radical” (GIROUX, 1997, p. 145).
Do contrário como poderia ensinar aos que não contextualizam? Pode-se começar a
refletir esta indagação a partir da compreensão de que: “Ensinar criticamente é
reconhecer a natureza política da educação” (Pennycook, 1994 apud COX; ASSIS-
PETERSON, 2001, p.11).
A seguir, tratar-se-á das relações entre a teoria crítica e a música como
instrumento de mediação.
2.1 A MÚSICA ENQUANTO INSTRUMENTO CRÍTICO DE MEDIAÇÃO
Refletir o discurso da pedagogia crítica no dia a dia do ensino de inglês pode
intensificar a discussão sobre a necessidade de uma prática pedagógica adequada
ao atual contexto, visto que não se vislumbra uma crítica sobre o papel do inglês no
cotidiano escolar, ou na vida das pessoas, sendo a língua inglesa um idioma global
de forte apelo ao o convívio internacional e à formação crítica do educando.
A pedagogia crítica e transformadora pode propiciar emancipação se levar em
consideração os aspectos políticos de ensinar e aprender uma língua mundialmente
conhecida e necessária em diversos contextos, pois, assim, o professor será capaz
de desenvolver nos aprendizes uma consciência cultural crítica que levará a tal
objetivo. Assim, seguindo essa proposta é possível encontrar em Paulo Freire e
Henry Giroux o suporte teórico necessário para essa reflexão e prática.
Dessa forma, adequar a música ao ensino e aprendizagem de LI é uma
proposta que pode trazer grandes benefícios aos educandos. Ao associar a música
cantada à aprendizagem de LI estará se propiciando situações enriquecedoras e
organizando experiências que garantirão a expressividade e aprendizagem dos
alunos.
De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná
(PARANÁ, 2008, p.52) que estão fundamentadas sob os pressupostos da pedagogia
crítica.
[...] a escola é um espaço social democrático, responsável pela apropriação crítica e histórica do conhecimento como instrumento de compreensão das relações sociais e para a transformação da realidade.
É possível dizer, então, que a escola tem o papel de levar o aluno à
construção de conhecimento, fator que proporcione possibilidades para que esse
compreenda a realidade em que vive e seja capaz de transformá-la.
Adequar a música ao ensino e aprendizagem de Língua Inglesa (LI) é uma
proposta que pode trazer grandes benefícios aos educandos. Ao associar a música
à aprendizagem de LI pretende-se propiciar situações enriquecedoras e organizá-las
a espaços para o desenvolvimento de experiências as quais priorizarão a
expressividade dos alunos.
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná (DCE), e as
Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) prescrevem que o ambiente
escolar propicie a formação crítica e reflexiva do aluno, conscientes da escola como
espaço social adequado para apropriação de conhecimentos e compreensão da
realidade em que vive, bem como, a percepção de que a educação é instrumento de
transformação do espaço onde está inserido. Seguindo esse raciocínio, de acordo
com as DCE, a escola tem o papel de informar, mostrar, desnudar, ensinar regras,
não apenas para que sejam seguidas, mas, principalmente, para que possam ser
modificadas (PARANÁ, 2008, p.52).
Com esses pressupostos em mente, espera-se que o trabalho com música
seja um fator motivador, não só de comportamentos favoráveis ao aprendizado da
LI, mas também um fator gerador de engajamento crítico em discussões relativas a
fatores de cidadania.
Ferreira (2001) apoia esta ideia e enfatiza a necessidade da comunicação
verbal para a vida em sociedade, acreditando que a música possa transmitir a
mensagem que pode perpetuar um pensamento, ou uma ideologia, de forma
ordenada. Sobre como manter um pensamento sempre atual, Ferreira (2001, p.9)
acredita que
Muitas vezes é mais eficaz perpetuar um pensamento transmitindo-o verbalmente pelo canto que pela escrita no papel, no papiro, no pergaminho ou na pedra – a história da humanidade prova isso. [...] A música, o som ordenado, assim como é uma linguagem universal também é uma linguagem por meio da qual uma ideia é mais bem difundida ao longo dos tempos [...].
Ao expor os alunos à linguagem musical eles poderão dialogar com o tema
por meio da música, especialmente porque ela faz parte do seu universo musical
(essa idéia está ambígua e um pouco confusa, reescrever), facilitando a construção
do conhecimento pretendido, a partir da representação sobre o tema. Ferreira (2001)
enfatiza que a música é fundamental para os professores e educadores que
desejam ampliar os horizontes de seus alunos e garantir um aprendizado mais
duradouro.
É importante, no entanto, que os aspectos socioculturais também sejam
pensados no momento de seu uso, haja vista que eles serão refletidos em algumas
habilidades dos alunos, como a compreensão oral e escrita, a gramática, o
vocabulário e a pronúncia (BARCELOS, 2004).
Os meios pelos quais a música se difunde hoje estão mais dinâmicos e
acessíveis a todos, especialmente junto dos alunos e também dentro das escolas.
Sendo assim, é possível utilizar a autenticidade da música como material didático,
mesmo que ela não tendo sido criada para esta finalidade, mas, justamente por fazer
parte do dia a dia do aluno.
Ao levar a música para sala de aula como componente didático, será
necessário ter conhecimentos para lidar com tais materiais. Esses conhecimentos
devem ser pensados a partir da compreensão de que os alunos precisam ir além dos
textos didáticos, que em sua maioria foram criados com ênfase na estrutura da
língua e não para a comunicação (MARGIOTO, CRISTOVÃO, 2007, p 8).
O fácil acesso a esse tipo de material é apontado por Murphey (1992) como
uma das vantagens em se utilizar da música nas aulas de língua estrangeira. O
autor também afirma que a música serve como motivação para a maioria dos alunos
e isto está relacionado com o fato da música estar sempre associada ao lazer,
podendo despertar no aluno uma nova relação com o processo de aprendizagem.
Mas, não bastará ouvir e cantar as músicas, diz Murphey (1992), para que os alunos
sejam capazes de se comunicar em outra língua.
É necessário ir além da escolha que agrade aos alunos, é preciso fazer da
música um instrumento que possa motivá-los a compreender e construir seu
conhecimento. É possível pesquisar com eles as músicas que poderão ser utilizadas
e contextualizadas ao dia a dia da aprendizagem da LI, para que seja aproveitado o
conhecimento prévio relacionado a essas canções.
Este recurso poderá facilitar o ensino e a introdução dos aspectos
socioculturais da língua inglesa e propiciar, inclusive, espaço para o
desenvolvimento do senso crítico dos alunos, visto que sua visão sobre a realidade
social poderá ser ampliada, como sugerem as DCEs (PARANÁ, 2008).
3 PRODUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO
3.1 OS PARTICIPANTES DA IMPLEMENTAÇÃO
O público-alvo da implementação deste trabalho foram os alunos de um
primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual “Marechal Castelo Branco-
Ensino Fundamental, Médio e Profissional”, da cidade de Primeiro de Maio, Estado
do Paraná. Sendo que a faixa etária variava entre catorze a dezoito anos e
freqüentavam o período noturno. Uma turma com trinta e seis alunos, o que facilitou
o desenvolvimento do trabalho.
Durante o desenvolvimento das atividades propostas junto aos alunos desta
turma, também participaram deste trabalho professores da Rede Estadual de
Educação do Paraná. Em um total de catorze professores concluintes, que optaram
por este tema no Grupo de Trabalho em Rede, intervindo e participando da
proposta, colaborando com suas informações e troca de experiências, bem como
percebendo como acontece o Programa de Desenvolvimento da Educação em sua
parte prática.
3.2 ELABORAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Para a produção do material didático pedagógico, foi necessário adequar as
metodologias apresentadas à realidade da turma onde foi implementada a proposta.
É bom lembrar que o Programa de Desenvolvimento da Educação - PDE estabelece,
a partir da formação continuada aos professores, um diálogo também com os
alunos, numa interação que pretende produzir resultados e mudanças de qualidade
na prática escolar e na vida dos participantes do projeto e, posteriormente, de toda
escola.
Para definição do tema foi preciso pensar, antes, em um assunto que fosse
atual e que estivesse no centro das discussões, para que os alunos se
interessassem. Posteriormente, foi preciso pensar em uma música que agradasse à
maioria dos gostos dos jovens e, ao mesmo tempo, fosse crítica, desta forma
decidiu-se pelo tema Meio Ambiente. Em seguida começou a pesquisa sobre as
estratégias a serem utilizadas. No momento da redação do projeto, o conteúdo foi
sendo adaptado em função das dificuldades que se apresentavam para ser
apresentado no ambiente virtual da Secretaria de Estado (SACIR), quando então foi
dado início a elaboração e redação da Unidade Didática, onde constaram todas as
atividades a serem aplicadas junto aos alunos da sala do primeiro ano do Ensino
Médio. Por fim, este artigo apresenta os resultados obtidos acerca das
possibilidades da utilização da música como instrumento motivador e de letramento
no ensino da Língua Estrangeira Moderna - Inglês.
3.3 ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO PEDAGÓGICA
A ideia principal do Plano de Implementação Pedagógica foi o da promoção
de espaços de reflexão crítica a respeito do mundo onde se vive, e, também, a
discussão a respeito do modo de vida dos seres humanos em relação à degradação
do meio ambiente. Tratou-se de questionar sobre os principais problemas nos dias
de hoje, sobre mundo onde se vive, sobre a violência, as drogas, a prostituição, o
abandono de crianças, a pedofilia, o aborto, a miséria, a guerra e o desmatamento,
como sendo os principais desafios que as sociedades vêm enfrentando.
Os alunos devem ser subsidiados para a compreensão do tema proposto,
eles devem interpretar a mensagem para poder (checar concordância) relatar o que
conseguiram aprender. Neste caso, a música deverá servir como motivação e
desafio para aprendizagem, e o professor deverá ser o intermediário entre o que foi
apresentado pela letra da canção e o contexto social no qual os alunos estão
inseridos.
Giroux (1986, p. 156) afirma que “[...] as escolas não são apenas locais de
reprodução sociocultural, mas também lugares envolvidos em contestação e lutas
sociais [...]”. Ao observar as respostas dos alunos e sua percepção sobre a
degradação do meio ambiente, percebe-se que a escola pode ser transformada num
espaço onde a crítica e ação se complementam. Cabe ao professor criar espaços
onde tais lutas sociais possam ser discutidas e transformadas. Mas, para tanto, é
preciso estar atento às demandas e percepções dos educandos.
Partindo destes pressupostos foi possível conversar e apresentar o tema,
falando sobre o Projeto de Implementação e a importância da formação deles para a
preservação do planeta. Os alunos mostraram-se interessados e participaram
ativamente da discussão. Foi possível perceber que eles estão “ouvindo” o que se
diz sobre o Meio. No entanto, quanto a atitudes em prol da preservação, como a
coleta seletiva do lixo ou a utilização consciente da água, estas quase não existiam.
A idéia de Giroux (1986) de que as escolas são “lugares envolvidos em
contestação e lutas sociais” (p.156) precisa, realmente, ser posta em prática, visto
que os alunos, na maioria das vezes, já trazem consigo a percepção e a consciência
de temas sociais importantes. A escola tem por finalidade oferecer, além de
educação e escolarização, a prática e o desenvolvimento da crítica e da ação.
Quando os alunos se depararam com imagens de situações de degradação
humana e da natureza, a expectativa era a de explorar o conhecimento deles a
respeito dos problemas que interferem no meio ambiente observando como eles
veem o mundo.
São indagações como esta, que Paulo Freire (1996) propõe que sejam feitas
pelo processo educacional, pelos que ensinam e pelos que aprendem. A proposta
freireana é a de refletir sobre as relações do ensino com a vivência do aluno.
É o próprio Giroux (1997, p.146-147) que define bem o pensamento de Freire
sobre o papel da escola e da educação:
A educação inclui e vai além da noção de escolarização. As escolas são apenas um local importante no qual ocorre a educação, no qual homens e mulheres tanto produzem como são produto de relações sociais e pedagógicas específicas. Na visão de Freire, a educação representa tanto uma luta por significado quanto uma luta em torno das relações de poder. Sua dinâmica nasce da relação dialética entre indivíduos e grupos que vivem suas vidas, por um lado, dentro de condições históricas e limitações estruturais específicas, e por outro, dentro de formas e ideologias culturais que dão origem às contradições e lutas que definem as realidades vivenciadas das várias sociedades.
As experiências de cada um e do grupo, bem como, os elementos culturais
que acompanham os educandos, devem ser consideradas no processo educativo,
pois, são elas que apresentam as diferenças e a complexidade social do mundo
onde eles vivem trazidos para escola na diversidade de pensamento e ações.
Ao introduzir o elemento motivador (a música) ao tema meio ambiente,
objetivou-se identificar a importância do assunto na vida dos alunos. As Diretrizes
Curriculares Estaduais (PARANÁ, 2008) preceituam que é preciso integrar os
conteúdos e os métodos de trabalho à realidade dos alunos, buscando relacioná-los
as vivências cotidianas como estratégia de aprendizado.
A Proposta de Implementação foi a de relacionar a música Earth Song ao
tema meio ambiente, contextualizando o conteúdo disciplinar à vivência dos alunos a
partir da mediação do professor, como propõe Giroux (1997, p.237) quando fala do
professor transformador, que é aquele que deve atuar de forma crítica, levando seus
alunos a compreender melhor o mundo e a sociedade onde se encontram inseridos.
Tendo, portanto, que reconhecer a cultura e os saberes trazidos pelos educandos à
escola, e levando-os a reconhecerem-se como elementos atuantes da sociedade.
Considerou-se o que Giroux e Freire propuseram em seus estudos sobre a
Pedagogia Escolar, sugerindo, ambos, que a escola e seus conteúdos devem
promover a dialética entre a estrutura e a ação dos homens, pois, ali está
verdadeiramente em desenvolvimento dinâmico o espaço cultural/ideológico, que por
ser assim não pode deixar de promover uma pedagogia crítica e transformadora, a
partir dos subsídios que são ofertados para emancipação de cada um. Os elementos
e instrumentos apresentados devem levar necessariamente à renovação pedagógica
e à transformação dos indivíduos para que possam intervir nos problemas da
contemporaneidade.
Ao educador caberá se apropriar destes elementos pedagógicos e refletir a
vivência dos educandos sobre o tema, fazendo o papel de “transformador” dos
conhecimentos que eles trazem consigo mediando entre eles e o tema proposto. O
fator motivacional, no caso a música, servirá para tornar os alunos abertos ao novo
aprendizado, aguçando e permitindo a curiosidade, fazendo com que eles interajam
em busca de respostas e em prol de ações transformadoras.
O tema Meio Ambiente é propício a esta discussão e a apresentação do video
clip com a música Earth Song, objetivou abordar a degradação deste espaço,
questionando sobre a influência do homem neste processo devastador, investigando
a compreensão que os alunos tinham a respeito deste assunto.
Freire (1996, p.26) elucida: “Percebe-se, assim, a importância do papel do
educador, o mérito da paz com que viva a certeza de que faz parte de sua tarefa
docente não apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pensar certo [...]”
Os resultados devem ser percebidos a partir do compartilhamento dos
sentimentos dos alunos a respeito das cenas chocantes do vídeo que foi exibido,
onde implicitamente há o suporte teórico de Henry Giroux e Paulo Freire, no apelo
para a Pedagogia Crítica, com o objetivo de que o tema tenha a capacidade
transformadora de propiciar, a partir da leitura de uma língua mundial, como é o caso
da Língua Inglesa, a leitura de um problema que também é mundial, como é o caso
da devastação do meio ambiente. Os alunos são levados a refletir sobre a
consciência cultural e crítica, tal como propuseram os autores supracitados.
Ao adequar a música ao tema, no processo de ensino e de aprendizagem da
Língua Inglesa (LI), criaram-se situações enriquecedoras onde os questionamentos
possibilitaram perceber que os educandos estavam refletindo e pensando em ações
transformadoras sobre o Meio Ambiente. Quando os participantes trabalharam a
expressão “What about”, a partir do questionamento levantado pela canção,
percebeu-se a compreensão de que tal expressão sobre o tema principal, indagava
exatamente como eles se sentiam, quando se tratava do meio ambiente. O
educador, neste momento, foi desafiado, enquanto ensinava Língua Inglesa, a
estabelecer uma ligação entre o conhecimento comum, que o aluno trouxe consigo,
ao saber científico dentro do espaço escolar.
No momento da aula, verificou-se a própria visão freireana que Giroux (1987,
p. 82) apresenta quando analisa a escola:
[...] como incorporação ideológica e material de uma complexa teia de relações de cultura e poder, como um espaço de contestação, construído socialmente e ativamente envolvido na produção de experiências vividas.
Para saber se os objetivos haviam sido atingidos, optou-se por uma proposta
voltada à realidade deles. Os alunos, de forma geral, estão envolvidos com as
tecnologias da comunicação e informação. A maioria tem aparelhos de telefonia
móvel com acesso a internet e as redes sociais. O projeto então voltou-se para
efetivação dos conhecimentos adquiridos propondo o desafio de desenvolver um
blog objetivando complementar o conteúdo divulgando-o e expandindo para outros o
tema tão atual.
Acreditou-se na assertiva de Freire (1980, p. 26) sobre o fato de que a
conscientização não pode existir fora da práxis e, por isso, “implica que os homens
assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo”, o que justificou a
atividade de desenvolver o blog.
A ideia de Freire (1996) sobre a necessidade de uma pedagogia libertadora
que implica na superação da tradição pedagógica mecanicista e valoriza os
educandos como parte integrante do processo educativo, foi atendida. E este foi o
ponto mais positivo de todo este trabalho que envolveu criatividade e estratégias
além das que comumente estão disponíveis.
Giroux (1997) esclarece que os professores não devem simplesmente
trabalhar como técnicos, ou práticos, mas, como intelectuais transformadores,
capacitados a realizar leituras críticas do mundo e da escola, mobilizando ações
transformadoras dentro dela.
Vislumbou-se o ensino da Língua Inglesa a partir do letramento crítico,
colocando os alunos na posição de sujeitos que eram capazes de mobilizar seus
próprios conhecimentos e habilidades para atuarem sobre a degradação do meio
ambiente.
CONCLUSÃO
O desenvolvimento desta implementação pedagógica, permitiu a percepção
de que o papel da escola é o de informar, mostrar, desnudar, ensinar regras, não
apenas para que sejam seguidas, mas, principalmente, para que possam ser
modificadas, conforme propõe as Diretrizes do Estado do Paraná.
O ensino de Língua Estrangeira Moderna - Inglês, é capaz de envolver os
alunos em temas recorrentes, como o da degradação do Meio Ambiente, ainda mais
quando a música se torna aliada e instrumento de motivação para esta busca.
No caso analisado, os alunos do Ensino Médio se envolveram com o tema
Meio Ambiente enquanto trabalhavam o Inglês. A partir do desenvolvimento deste
projeto foi possível perceber na prática o que a Pedagogia Libertadora de Paulo
Freire e a Pedagogia Crítica de Henry Giroux tem em comum, ou seja, a
possibilidade de se desenvolver um conteúdo onde a responsabilidade pelo papel
social de cada aluno seja percebida por eles a partir de suas próprias críticas, bem
como, o potencial transformador do professor de Língua Estrangeira quando
recupera a natureza política de sua atividade didático-pedagógica.
Enfim, a proposta, acima de tudo, atingiu o objetivo maior que foi o de
focalizar o ensino na educação cidadã, na crítica e na dialética da prática do ensino
e da aprendizagem, quando, ensinando Língua Inglesa, o professor também chamou
os alunos para seus deveres e responsabilidades no espaço onde vivem,
encorajando o debate e incentivando a reflexão do tema que exige ações
transformadoras.
O professor trabalhou com as ideias críticas e com os valores do dia a dia dos
alunos, assumindo a responsabilidade de ligar o ensino da Língua Inglesa à questão
social da degradação do meio ambiente, interrogando, a partir das atividades
propostas com a finalidade de tornar seus alunos cidadãos conscientes e agentes de
transformação social.
Afinal é o próprio Giroux (apud GUILHERME, 2004) quem afirma que a língua
é parte de uma cultura da interrogação e da luta democrática; e a pedagogia crítica
tem sido muito utilizada pelos educadores de língua/cultura estrangeiras, pois estes
desejam um discurso que ligue a crítica à esperança, o conhecimento à paixão e a
pedagogia à justiça.
REFERÊNCIAS
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