Muito além dos cyborgs- Miguel Nicolelis
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7/30/2019 Muito alm dos cyborgs- Miguel Nicolelis
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Sonhar pequeno e sonhar gran-de tomam o mesmo tempo,di-zia a av de Miguel Nicolelis,hoje neurocientista radicado naUniversidade de Duke,nos Es-tados Unidos.Ele segue o ensi-namento risca e sonha grande.
Entre outras coisas,em anos recentes en-sinou macacos a reagir a sinais que re-cebem de um computador diretamenteno crebro e a controlar um brao mec-nico sem mover um dedo. o caminhopara devolver a mobilidade a pessoas quesofreram leso na medula espinhal.
As perspectivas que surgem da in-terao entre crebros e robs mostrampor que a neurocincia uma das reasde pesquisa mais fervilhantes do mo-mento. por isso que Nicolelis foi con-vidado a apresentar seus resultados noprestigioso Frum Nobel do InstitutoKarolinska,na Sucia,sede do PrmioNobel.Em sua palestra,o brasileiro re-capitulou os avanos da neurocincianos ltimos 20 anos e mostrou como eleempurra as fronteiras da cincia.
Um experimento programado parao final de novembro pretende literal-mente derrubar fronteiras.Os mesmosimpulsos cerebrais que comandam aspernas de um macaco andando emDuke percorrero uma conexo de in-ternet ultra-rpida at o Laboratrio deRobtica ATR em Kyoto,no Japo,ondeguiaro os passos de um rob.Este,porsua vez,enviar informaes do percur-so de volta para o macaco.
um ciclo fechado,resume Nico-lelis,que tem em mente uma aplicaomuito menos remota:uma estrutura demetal que vestiria o paciente com defi-cincia e seria controlada por seu pr-prio crebro.O retorno de informaesda prtese robtica para o crebro re-criar uma situao natural,em que ocaminhante ajusta seu movimento deacordo com desnveis que sente no solo.
O experimento ainda est por acon-tecer, mas testes preparatrios deixamseu idealizador confiante.Parte da pre-parao foi treinar os macacos para rea-gir a uma mensagem artificial gerada pe-lo computador,bem diferente dos im-pulsos naturais do crebro.Os compu-tadores,por sua vez,precisaram ser pro-gramados para traduzir a atividade ce-rebral em comandos que controlembraos ou pernas mecnicas.
Em 1989 Nicolelis chegou aos Esta-dos Unidos,onde desenvolveu uma tc-nica para monitorar a atividade de at500 neurnios de uma vez.Assim con-seguimos demonstrar de maneira cate-
grica que o crebro funciona pelaao de populaes de neur-
nios,no clulas isoladas,conta.Essa viso integradado sistema nervoso provo-cou um salto conceitualna rea e difundiu a tcni-
ca pelo mundo todo.
O pesquisador passou ento a apli-car a tcnica em ratos,macacos,depoismacacos maiores e finalmente em pa-cientes com mal de Parkinson.Alm deensinar o crebro a comunicar-se comum computador,seus experimentostm ajudado a entender e contornar os danos que a doena causa no c-rebro.Em ratos transgnicos com sin-tomas semelhantes ao mal de Parkinsonem humanos,vrias clulas do crtexmotor cerebral enviam impulsos aomesmo tempo,em vez de alternada-mente.O resultado que os ratos tre-mem e no conseguem andar.Nicolelisdescobriu que possvel estimular re-gies do sistema nervoso perifrico edessincronizar os impulsos nervosos,que deixam de ser simultneos.O ani-mal comea a tremer menos e volta aconseguir andar,conta.O artigo comesses resultados deve ser enviado parapublicao em dois meses,mas o au-tor j adianta que dever ser possvelusar o mtodo em grande parte dos pa-cientes humanos.
Outra boa notcia que o trabalhode Nicolelis nos Estados Unidos resultaem transferncia de tecnologia para oBrasil.Em 2008 o Hospital Srio-Liba-ns,em So Paulo,comear a usar ummtodo que permite monitorar a ativi-
dade dos neurnios durante cirurgiasem pacientes com Parkinson.O dispo-sitivo permite detectar os neurnioscom funcionamento anmalo e implan-tar microeletrodos para corrigir o pro-blema.Alm disso,a tecnologia que per-mite grandes avanos em Duke est che-gando ao Instituto Internacional deNeurocincias de Natal Edmond e LilySafra,no Rio Grande do Norte,que Ni-colelis fundou e preside.
PESQUISA FAPESP142 DEZEMBRODE 2007 55
NEUROCINCIA
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Comunicao entre crebros e mquinas aproximaprteses robticas da realidade
Muito alm dos cyborgs
MARIA GUIMARES
AZEITE
DELEOS