Mulheres em Icapuí: produção e cultivo sustentável de algas

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1538 Transformação! Seria a palavra correta para traduzir o que essas mulheres fazem através do seu trabalho. Tudo acontece na Praia de Barrinha, no município de Icapuí no Ceará, mulheres e homens aliaram-se para produzir de forma sustentável. O projeto visa o cultivo das algas e a produção de cosméticos e receitas que utilizam seus subprodutos. As algas liberam mais oxigênio durante a respiração do que consomem, sendo assim têm papel fundamental na manutenção da vida marinha. Além dessa, as algas têm diversas funções podendo ser utilizadas na alimentação, na medicina, na adubação, etc. O único problema de utilizá-la para tais finalidades é a conservação da mesma. Por isso o cultivo das algas proporciona matéria-prima para produção sem extração direta no mar. “Quando começamos as pessoas riam da gente dizendo: olha lá vai o povo plantar alga em corda”, diz Audineide e esse é justamente o princípio básico do cultivo, elas mantêm um banco de algas na Praia da Barrinha e utilizam esse material na produção. As mulheres uniram-se e com o auxílio da Petrobras construíram a sede e ficaram responsáveis pela manutenção. Inicialmente era um grupo grande que participou da capacitação ministrada pelo Projeto de Olho na Água, mas o grupo reduziu-se a apenas quatro mulheres e dois homens que atualmente mantêm o projeto. Tudo começa no mar e quem mantém o banco de algas é Seu Mundinho, figura cativante que desde pequeno lidou com a pesca e se sente orgulhoso de seu engajamento no projeto. “Ninguém pode deixar isso aqui acabar, a gente não tinha nada e hoje já tem uma sede daquela com uma estrutura boa e deixar se perder? Não podemos!”, ressalta ele. Com bastante entusiasmo ele fala das conquistas e da importância de manter viva a sede e sempre produzindo. Icapuí Agosto/2014 Mulheres em Icapuí: produção e cultivo sustentável de algas

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Tudo acontece na Praia de Barrinha, no município de Icapuí no Ceará, mulheres e homens aliaram-se para produzir de forma sustentável. O projeto visa o cultivo das algas e a produção de cosméticos e receitas que utilizam seus subprodutos. O objetivo do projeto não é apenas a venda direta, mas também produzir de forma sustentável e gerar conhecimento e vivência de práticas que deram certo.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1538

Transformação! Seria a palavra correta para traduzir o que essas mulheres fazem através

do seu trabalho. Tudo acontece na Praia de Barrinha, no município de Icapuí no Ceará, mulheres e homens

aliaram-se para produzir de forma sustentável. O projeto visa o cultivo das algas e a produção

de cosméticos e receitas que utilizam seus subprodutos. As algas liberam mais oxigênio durante a respiração do que consomem, sendo assim têm

papel fundamental na manutenção da vida marinha. Além dessa, as algas têm diversas funções

podendo ser utilizadas na alimentação, na medicina, na adubação, etc. O único problema de

utilizá-la para tais finalidades é a conservação da mesma. Por isso o cultivo das algas

proporciona matéria-prima para produção sem extração direta no mar. “Quando começamos as pessoas riam da gente dizendo: olha lá vai o povo plantar alga

em corda”, diz Audineide e esse é justamente o princípio básico do cultivo, elas mantêm

um banco de algas na Praia da Barrinha e utilizam esse

material na produção. As mulheres uniram-se e com o auxílio da

Petrobras construíram a sede e ficaram

responsáveis pela manutenção. Inicialmente

era um grupo grande que participou da

capacitação ministrada pelo Projeto de Olho

na Água, mas o grupo reduziu-se a apenas

quatro mulheres e dois homens que

atualmente mantêm o projeto. Tudo começa no mar e quem mantém o

banco de algas é Seu Mundinho, figura

cativante que desde pequeno lidou com a

pesca e se sente orgulhoso de seu

engajamento no projeto. “Ninguém

pode deixar isso aqui acabar, a

gente não tinha nada e hoje já

tem uma sede daquela com uma

estrutura boa e deixar se

perder? Não podemos!”,

ressalta ele. Com bastante

entusiasmo ele fala das

conquistas e da importância

de manter viva a sede e

sempre produzindo.

Icapuí

Agosto/2014

Mulheres em Icapuí:produção e cultivo sustentável de algas

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Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

Costumeiramente pessoas visitam o banco de

algas e Seu Mundinho fala de tudo que já participou por

conta do projeto. “Já viajei muito, fiz cursos (...), onde

foi que eu imaginei que eu, um pescador, pudesse

conhecer o que eu conheci.”. A filha de Seu Mundinho,

Leandra, iniciou muito nova no projeto e hoje com

incentivo da família concluiu o curso de Aquicultura e

Pesca pelo IFCE (Instituto Federal do Ceará). O processo de cultivo é bastante simples, mas

encontra alguns obstáculos com relação a alguns peixes

que se alimentam do banco e dificultam a produção. As mulheres ficaram responsáveis pela produção

dos cosméticos, mousses, entre outros produtos. Elas se

dividem para manter as atividades sempre em dia e

através do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos)

elas comercializam diretamente para a merenda escolar

e conseguem dessa forma manter a sede e aliam a isso a

produção e venda direta dos cosméticos, assim como

utilizando subprodutos elas preparam lanches. Pra produção dos alimentos elas utilizam o ágar-

ágar, produto que agrega aos alimentos consistência

gelatinosa e é utilizado para produção de mousse,

gelatinas, tortas, entre outros. A extração se faz através

da hidratação e secagem das algas. Além dessa utilidade

podem ser aproveitadas como adubos e auxilia na

diminuição dos danos causados pelo uso excessivo de

pesticidas, fertilizantes, entre outros. Um desafio para todos é a questão da

sazonalidade das vendas, mas mesmo assim se mostram

satisfeitas com as visitas dos turistas, estudantes aos

quais explicam todo o processo de produção e também

vendem seus produtos. As mesmas também estão

inseridas em processos de economia solidária, assim

como participam de feiras e eventos para dar maior

visibilidade aos produtos. O objetivo do projeto não é apenas a venda

direta, mas também produzir de forma sustentável e

gerar conhecimento e vivência de práticas que deram

certo. Todo o processo foi construído dentro da

comunidade para fortalecer os laços e estabelecer

parcerias. À perseverança do grupo se misturam as

histórias de vida de cada um, e assim eles seguem

mantendo a certeza de que “a tendência é só

melhorar...”, como disse Seu Mundinho, e de que em

Icapuí as algas não serão mais exploradas de forma

predatória.

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