Multiculturalismo e processos educacionais
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MULTICULTURALISMO E PROCESSOS EDUCACIONAIS NO ENSINO SUPERIOR
Ivone Babinski Cantu1 Maria da Graça Damschi 2
Neoremi de Andrade Tonniazo3 RESUMO: O Multiculturalismo originou-se com a revolução provocada pela informática. É nesta relação que em um mesmo território, os povos, nações e culturas estabelecem os diferentes contatos culturais. A educação multicultural pode se constituir em instrumentos para a superação das diferenças. No espaço pós-moderno, as relações sociais de produção são posicionadas num campo social para além do alcance da lógica, da necessidade e da história. Tais fatos tornam-se cada vez mais densos no cenário nacional, exigindo do educador uma formação multicultural crítica que articule com competência interpretativa, científica e técnica uma realidade, presente no mundo moderno, sem perder a identidade cultural e a postura étnica. É visto como mais um campo de pesquisa que necessita ser abordado porque as diferenças existem e precisam ser conhecidas. Partindo desse pressuposto, em que a sociedade vive, é necessária uma atitude crítica das pessoas que estão engajadas na prática educacional, tendo a aculturação da sociedade que estabelece a diferença, pois é pela identidade que se define a cultura, e pelas diversas identidades, o multiculturalismo. Numa perspectiva pós-moderna é que as pessoas precisam repensar essas relações entre identidade e diferença, pois não há enunciação sem posicionamento, não há cultura sem vida social e não há grupo humano sem cultura, por mais rudimentar que este seja. Com base, nessa compreensão, faz-se necessário um entendimento mais amplo sobre a realidade de cada país. E é através de processos educacionais e práticas pedagógicas que a escola pode fazer e proporcionar estudos e pesquisas sobre os impactos e conseqüências da globalização. PALAVRAS - CHAVE: educação, multiculturalismo, identidade, sociedade. RESUMEN:El multicultural originouse con la revolución y la inflencia de la informática. Es en la relación que en uno mismo teritorio, los pueblos, naciones y culturas estabelecem los doferentes contactos culturales. La educación multicultural puede se constituise em instrumentos per la superación de lãs diferencias. Em el espacio pos-modernidad, lãs relaciones sociales del produción tiene posición em una área social, el más allá y alcanzar de la lógica, necesidad y de la historia. Los acontecimientos tornamse más desnso en el escenario nacional, exigindo del educador una formación multicultural critica haciendo la articulación com competência interpretativa, científica y técnica al la realidad, em momiento actual del mundo moderno, sin perder la identidad cultural y postura étnica. Es un campo de la pesquisa que necesita ser abordado, pues lãs diferencias existem y precisam ser conocidas. Partindo del presuposto, em que la sociedad vive, és nacesaria uma atitude critica de lãs personas que están comprometidas con la educación e su practica.Tiendo al aculturación de la sociedad que estabelece la
1 Professora da Faculdade de Ampére - FAMPER 2 Professora da Faculdade de Ampére - FAMPER 3 Professora da Faculdade de Ampére - FAMPER
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diferncia, pues es por la identidad que si puede definir la cultura, y siempre que lãs diversas identidad, el multiculturalismo. En el momiento pos-modernidad hay muchas personas que necesitam reflexionar las relaciones entre identidad y la diferencia, pues no hay enunciación sin cultura, por mas rudimental que esto sea. Y es por médio del proceso educacional y practicas pedagógicas que la escuela puede hacer y proporcionar un amplio aperfccionamiento y pesquisas que provoquem impactos extendidos entre pueblos de una misma nación o nación de diferentes etnias. Asín, la educación multicultural puede construirse en instrumiento para la superación de lãs diferencias culturales, con el compromisio del educadores en articular el conocimiento sin pierda de la identidad. PLABRAS - LLAVE: educación, multicultural, identidad, sociedad.
1. INTRODUÇÃO
O quê o multiculturalismo tem a ver com os processos educacionais?
“Assim é que se difundem as multiculturas, um novo gênero humano diferente de quantos exista que inaugura uma forma singular de organização sócio-econômica, escravista e numa servidão continuada ao mercado mundial. É assim que a sociedade e a cultura brasileira são conformadas como variantes da versão lusitana da civilização européia ocidental, diferenciadas por coloridos herdados dos índios americanos e dos negros africanos. São características de nação multicultural de formação mesclada por diversas culturas”. (RIBEIRO, 1970).
A problematização da realidade atual, que no contexto de globalização
econômico – cultura desenvolve-se não só processos sociais educativos
homogeneizadores e excludentes, como também emergem movimentos emancipatórios
e de educação para a cidadania.
O desafio reside em o educador (a) multicultural explicitar categorias e construir
métodos que proporcionem a compreensão da diversidade cultural, a interpretação das
diferenças da realidade vividas pelos diferentes sujeitos sociais, no sentido da superação
dos conflitos que deles resultam.
Na educação, o multiculturalismo surge como um novo campo de pesquisa no
enriquecimento cultural e que precisa ser mais bem conhecido pelos professores. São
muitos os processos de complexidades, conflitos e dúvidas inseridos na dinâmica da
globalização, como; as lutas pela construção da cidadania, as relações multiculturais,
práticas sociais educativas que devem ajudar no desenvolver da formação do educador
multicultural. O fazer e o repensar o mundo deve ser abordado com ênfase na
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modalidade educativa. Explicar os motivos das dificuldades encontradas em adotar
conceitos e significados próprios para a adoção de uma postura multicultural, nos
diferentes aspectos de atividade humana, entre os quais, o da educação.
Muitos conflitos que existem entre países do primeiro mundo são focos de
atritos que provocam a rejeição dos demais.
Em Bordenave e Pereira (1982; Berbel (1995, 1996, 2000); Knechtel ( 1998 –
2000) apresentam “O Arco de Maquerez” para levantar problemas e refleti-los buscando
fundamentação teórica e alternativas de soluções para o multiculturalismo nos processos
educacionais.
Da realidade passa-se à observação desta realidade, a situação problema; seguido
de pontos-chave, também chamados pressupostos, teorização (seminário
interdisciplinar); hipótese de solução; aplicação à realidade, prática. (Arco de
Maquerez).
Diante desta “ação x reflexão x ação” pergunta-se: O quê? Quem Onde?
Quando descobrir pontos-chave? (razões, temas, questionamentos, conceitos),
construção em grupos, análise das possibilidades, confronto de idéias através de
reflexões? Como? Onde? Quando aplicar as ações políticas na realidade social?
Educadores críticos são capazes de entender, hoje, o que é essencial para que a
educação dê respostas plausíveis às aclamações da sociedade.
Muitos são os caminhos e pontos relevantes para os fundamentos da cultura, à
compreensão e reconstrução do conhecimento sobre a educação multicultural e a
pedagogia crítica, sobre globalização, o discurso político e as contradições presentes em
sua prática.
Pontos-chave a serem analisados: as principais causas do problema
multicultural; pedagogia crítica; diferenças étnicas de gênero; sexo; religioso. Que
opções e inter-relações poderão acontecer? De que maneira argumentar e construir o
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caminho? Como buscar a transformação? Como construir um quadro teórico-conceitual
referentes aos problemas?
Multiculturalismo crítico ainda não está unanimemente aceito entre
pesquisadores, educadores e na política educacional, como meio de transformação dos
fenômenos e processos sócio-educacionais.
Uma corrente científica enfatiza a impropriedade de embutir fenômenos
multiculturais como prioridade na educação devida sua complexidade.
Para estes críticos e políticos seria mais adequado e mais confortável abordar o
multiculturalismo, julgado complexo, através de algumas iniciativas sociais voltadas, na
maioria das vezes, para solução de problemas com imigrantes, sem maior compromisso
social.
Muito enfatizada na Literatura Científica, é a constatação de esses fundamentos
que necessitarem de uma base teórica que seja cientificamente conhecida e aceita pelos
educadores, o que os torna presente ainda muito subjetivos e relativos.
Outro ponto de divergência refere-se à manipulação da retórica multiculturalista
aos procedimentos utilizados, sendo mais questionados os da valorização das diferenças
étnicas, gênero, de orientação sexual, da resistência e da solidariedade na formação do
cidadão do que conseqüentemente na mediação dos processos educacionais.
Numa visão crítica manifestada por certos grupos de pesquisadores, constatou-se
que na política educacional, um confuso e indiscriminado uso destes conceitos e
terminologias, sem a devida clareza da concepção crítica do multiculturalismo e seus
significados, pode-se considerar que é válida buscar a informação no que tange o
referencial teórico, para conferir uma determinada situação do estado da arte e, através
da reflexão, fazer correlações anteriores ou de outras sociedades.
Sem este entendimento do multiculturalismo, da pedagogia crítica, e sua força de
expressão pode complicar o processo de comunicação e de educação.
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Considerando estes aspectos, fica evidente que o desenvolvimento do
multiculturalismo crítico não pode ser reduzido a uma questão formal metodológica,
mas partir de uma definição do fenômeno do processo sócio-educacional, aceita pela
comunidade científica e considerar que o resultado desse processo tem uma conotação
extremamente política.
Cabe ao pesquisador-educador construir uma ponte sólida entre os fundamentos
e a expressão crítica do fenômeno, representado pelo conhecimento, pelas atitudes
tomadas frente à nova abordagem curricular decorrente, aplicando recursos
metodológicos adequados.
Isto implica em todos os métodos utilizados na construção de processos
educacionais inovadores que precisam ser avaliados com fidelidade frente às
contradições de sua prática, bem como em direção às novas políticas públicas para fins
políticos à visibilidade do multiculturalismo.
Partindo desse pressuposto de que a atual sociedade vive no multiculturalismo, é
necessária uma atitude crítica das pessoas que estão engajadas na prática educacional. É
preciso avançar no desenvolvimento e no aprimoramento dos conceitos e métodos
usados, integrando nesse esforço as críticas manifestadas no meio científico.
A aculturação é a fusão de duas culturas diferentes que, entrando em contato
contínuo originam mudanças nos padrões de cultura de ambos os grupos. (FICHTER,
1973), enquanto que a endoculturação é o processo de “aprendizagem e educação em
uma cultura desde a infância até a idade adulta” ( KEESING, 1961).
Pode-se falar sobre cultura a partir de uma identidade.
É no pós-modernismo de resistência que as pessoas precisam repensar as
relações entre identidade e diferença; “não há enunciação sem posicionamento, é
preciso se posicionar em algum lugar para poder dizer algo” (HALL, citado por
MCLAREN, 1997, p. 74).
Prossegue o autor dizendo que:
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“A educação multicultural crítica preconiza um educando crítico, comprometido em criar novas zonas de possibilidade e de espaços na sala de aula onde possa lutar por relações sociais democráticas e onde os estudantes possam aprender a situar-se criticamente em suas próprias identidades, concebendo a vida em rede, na noção de solidariedade coletiva” (MCLAREN, 1977, p. 8).
Cultura e Sociedade são dois aspectos da mesma realidade. Não há cultura sem
vida social e não há grupo humano sem cultura, por mais rudimentar que este seja. Não
que cultura seja sinônimo de social. É preciso compreender bem o significado de cultura
porque o termo é utilizado com diversos significados. O mundo contemporâneo nos
confronta com diferentes conceitos culturais. “O eixo histórico temporal pode assumir
experiências do passado (tradição) e construir um futuro que não representa apenas a
reprodução do presente (inovação)” (SUESS, 2001).
Pode-se incluir aqui quase tudo que está a sua volta: idiomas, a comunicação, a
informática, os conhecimentos, (ou a informação), as crenças, ideologias, sistemas
filosóficos, as ciências, a história, os valores, as formas de comportamento, a arte, a
técnica, as tecnologias, os instrumentos, as máquinas, a indústria, as armas, a moda, a
organização social e política.
A isto tudo chama de herança cultural que constituem o patrimônio da
humanidade. Na verdade, podem-se identificar as diversas maneiras de pensar, agir e
sentir.Diante da concepção moderna de que se reveste a cultura, ela é entendida como
objetivação externa, e, não se prende, apenas, a uma concepção subjetiva, vai além.
A leitura da cultura, hoje, como um todo antropológico e, ao mesmo tempo, como
objeto da ciência sócio-antropológica, abre novos e inquietantes questionamentos.
Que mudanças podem ocorrer em conseqüência da postura sócio-antropológica
científica decisiva sobre a cultura e as características básicas da escolarização? E quais
suas implicações com o multiculturalismo?
Antropologicamente, a cultura, no enfoque clássico, toma um significado amplo.
Quando se trata de multiculturalismo, deve-se antes de tudo abordar o significado de
cultura, pois como se poderia falar de multiculturalismo quando não se sabe o que é
cultura?
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Sendo que cultura vem de cultivar, de fazer amadurecer a semente. É procurar,
portanto, é fazer render frutos às potencialidades de que se dispõe.Assim, pode-se dizer
que uma pessoa que estudou muito e que, portanto cultivou sua inteligência, fazendo
com que aprendesse muito. Surge, então. O termo “homem culto”.
Na definição de (Taylor. 1977), abrange o complexo da vida humana em
sociedade: “... é tudo o que o homem faz e adquire em sociedade, enquanto membros da
sociedade”.
Os processos e as práticas educativas, das quais a escola é apenas uma delas,
reproduzem esses conteúdos e passam a ser elas próprias, uma característica da cultura,
ou das culturas.
Com relação à cultura:
“O Brasil é um país que se caracteriza por ima multiciplicidade de culturas, daí as implicações em diferentes maneiras de ser. Esta natureza multiética e as relações de supremacia cultural da raça humana contribuíram para o surgimento das desigualdades sociais e de intolerância em relação ao diferente ( ao negro, ao índio, ao imigrante e ao pobre). (...) “Este é um problema que perpassa historicamente à experiências do educador quanto sócio - política” (Silva, p.1, 2002).
Acredita-se que vivemos um momento de reavaliar e de reinterpretar o que fomos
e o que pretendemos ser; os conteúdos sócios – histórico culturais a serem
reconsiderados e repassados aos estudantes nos conteúdos curriculares, precisam dar
ênfase ao saber e suas origens. O multiculturalismo nada mais é do que o fato de várias
culturas se encontrarem no mesmo espaço e tempo.
Quando num mesmo país, numa cidade, num mesmo bairro, várias culturas se
encontram e procuram coexistir, tem-se o multiculturalismo. Multi (muitas)
culturalismo (culturas). Mas, a coexistência de várias e diferentes culturas nem sempre é
pacífica, nem sempre é fácil.
Culturas diversas sempre existiram, mas no mesmo país, e se existiram , uma
cultura procurou dominar a outra.O multiculturalismo originou-se com a revolução
provocada pela informática. É pela comunicação via internet, que estamos a par de
todos os acontecimentos planetários em tempo real. É nesta relação que os povos estão
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sempre em contato, nações e culturas ao mesmo tempo. Isto possibilita uma troca
imediata entre as diversas culturas : insta-se , assim, o pluriculturalismo.
Com a comunicação on-line, a própria identidade é colocada em questão e dá-se o
início de um processo de defesa própria.. Só existe pluriculturalismo ou
multiculturalismo quando o cidadão está consciente de sua própria identidade. Nos fins
do século XX se processa a transformação das estruturas sociais mais adiantadas,
especialmente por influência de uma revolução tecnológica; esta que causa impacto
pelos avanços da informática e da comunicação, conforme mencionada, na estrutura
contemporânea “sociedades informacionais”, quer dizer, um surto de informação sem
precedentes causando impacto, no meio social, também conseqüências da globalização,
ao impulsionar a formação de uma economia global, oposta a determinados interesses
que criam novos centros de conflitos, de poder e um processo de mudança cultural
presentes na transformação do papel das mulheres, na sociedade e na maior
preocupação com as questões ambientais, motivadas pela crise ecológica mundial.
Como correlacionar o multiculturalismo, escola com os processos educacionais?
Quando o multiculturalismo transforma-se em uma orientação filosófica que
tematiza as relações da raça, sexo e classe na macro-sociedade, ele reúne pessoas que
agem e se comportam diversamente por causa dos condicionantes citados e que refletem
conflitos entre culturas diversas. É pela identidade que se define a cultura, e pelas
diversas identidades, o multiculturalismo. Portanto, é um conceito relacional, na
medida em que alguém, um eu, um sujeito, se distingue do outro, do qual é diferente no
seu modo de agir, embora seja da mesma raça e do mesmo sexo.
Sempre houve diversidade de culturas a partir do momento em que os “clãs” e
as “tubas” se miscigenaram. Mas, os estudos sobre o multiculturalismo são recentes e se
tornaram rigorosos na década de 1980 a 1990, quando era visto sob a perspectiva de
dominantes e dominados. A própria pós-modernidade define-se pelo multiculturalismo,
que é a aceitação do diferente como deferente, e não como desigual ou inferior. As
hegemonias culturais relacionadas às artes, música, dança, artes plásticas, foi
abandonada em prol do respeito pela produção cultural dos outros povos, não evoluídos,
mas como sendo de “outra cultura”.
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Socialmente, o multiculturalismo é viso como uma filosofia anti-racista e como
uma metodologia para a reforma educacional.CAVALLI – SFORZA observa que o
racismo é uma doença, e considera algumas raças geneticamente inferiores . Essas raças
não teriam condições de acompanhar o progresso da ciência e seriam limitadas em sua
inteligência, devendo ser colonizadas pelas “nações dos indivíduos da raça superior”.
A libertação das colônias mostrou que os povos dominados não necessitavam
estar sob domínio de outros nações, sobretudo pela Inglaterra, pela França e pela
Espanha ou por outros países europeus que haviam dividido o mundo entre si.
O etnocentrismo é uma doutrina que considera sua raça e sua cultura como
superior. Ora, esta atitude pode levar ao racismo. Mas o pluriculturalismo preconiza o
relativismo cultural, sendo as diferenças levadas em conta e não consideradas como
desigualdades. O maior erro do etnocentrismo é guindar as diferenças à desigualdades.
Respeitar a identidade própria de cada cultura é o que há de essencial no
pluriculturalismo.
Assim, surgem o interculturalismo e o pluriculturalismo, provocados pelo
multiculturalismo. “O interculturalismo é uma maneira de intervenção diante do
multiculturalismo que tende a colocar a ênfase na relação entre culturas”.
Pluticulturalismo é outra maneira de intervenção que dá ênfase à manutenção da
identidade de cada cultura. Sendo o multiculturalismo como o reconhecimento de que
existem diferentes culturas em um mesmo território.
Na perspectiva intercultural, tende–se a valorizar a convivência de pessoas de
culturas e etnias diferentes e a olhar como sendo guetos as sociedades e grupos que
vivem em uma única cultura.O multiculturalismo tem, portanto, limites e possibilidades,
devendo tornar-se não apenas um substituto para as reformas sociais e nem tampouco
endeusamento das diferenças.
Segundo GRAFF (1992, p. 69) “Todo o ensino é político”, com um “crescente
volume de escritos que clamam por um currículo oposicionista, literatura radical nunca
deixará de se interrogar sobre o que deve ser feito com os professores e estudantes que
não desejam ser radicalizados”.
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O multiculturalismo como movimento social e alternativo de prática educativa
integradora.
2.0 MULTICULTURALISMO E EDUCAÇÃO
O currículo é visto como sendo fator homogeneizador da cultura (Tyler, 1972).
Definição de Kroeber, adotada por Laplantine: “Cultura é o conjunto de
comportamentos, saberes e saber - fazer característicos de um grupo humano ou de uma
sociedade dada, sendo essas atividades adquiridas através de um processo de
aprendizagem, transmitidas a conjunto de seus membros”. (KNECHTEL, Maria do
Rosário, p. 48).
“O multiculturalismo quer a variedade de culturas, a diferença no modo de ver e
de viver o mundo”. (KNECHTEL, P. 48).Por isso, educação multicultural possui várias
tarefas, segundo Carlos Alberto Torres (2001, p. 203). “Ampliar o desenvolvimento de
uma alfabetização étnica e cultural que implica no conhecimento das histórias das
contribuições dos diferentes grupos étnicos à cultura “dominante”, embora esses grupos
sejam normalmente excluídos e marginalizados. E, a partir dessa formação, desenvolver
o sentido de ufania e de orgulho pela própria etnia”.
Os educadores precisam estar conscientes para que façam uma reforma social a
fim de eliminar os preconceitos raciais, cultura sexistas e classistas. O educando deve
ser preparado para uma sociedade mais justa e eqüitativa, na perspectiva proposta por
John Rawls (UNB, 1985).
É necessário organizar projetos alternativos e multiculturais para execução de
obras comuns diversas, obras que obriguem as pessoas a conviver uma com as outras.
Não se aprende multiculturalismo lendo e ouvindo: é preciso vivê-lo na prática, no
cotidiano.
Alguns dos procedimentos metodológicos são os estudos etnográficos e os
autobiográficos de Peter Mclarem que permitem uma análise social antropológica
profunda de resistência, sobretudo dos estudantes, na sua criatividade e ousadia e ainda
pouco explorada na educação. Resistência e solidariedade podem se constituir em
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respostas a propostas concretas para a educação multicultural que pelas narrativas dadas
pelos alunos e pelos professores, propiciem a mudança da escola.
Como lidar com pedagogia e o poder? Como transformá-las em práticas sócio-
culturais?Estudar a educação multicultural no contexto da realidade brasileira e
mundial, a partir de um enfoque sócio-antropológico, exige um referencial teórico que
pode ser encontrado em parte na sociologia, na economia, na educação e na
antropologia.
O educador, desconhecendo os aspectos teóricos do multiculturalismo e
interpretando a realidade sem as devidas restrições, pode tirar conclusões incompatíveis
com os processos educacionais. Para contornar este problema, dever-se-á estar
acompanhando uma fundamentação com linguagem explicativa dos procedimentos a
serem adotados, para dar aos educandos e educadores, condições de conhecerem os
procedimentos adequados na sua construção e permitir o desenvolvimento do processo
multicultural. Com as implicações deste, facilitando assim, a sua utilização.
Buscando apoio, na própria teoria educacional, que segundo Mclarem e Girox (2000).
“... é uma das faces discursivas da formação, da pedagogia e da política
cultural. É na teoria e em suas preocupações com as exclusões, com o
policiamento da linguagem, ordenamento e disseminação do discurso, que o
conhecimento se torna manifesto, as identidades são formadas e
descontraídas os agentes coletivos aparecem e a prática crítica encontra as
condições nas quais pode emergir.” (MACLAREN, 2000)
Para desenvolver as competências requeridas, devem-se ampliar os
conhecimentos sobre a pedagogia crítica, elaborando conceitos. Segundo Sacristán
(1999, p.97) “... a cultura dominante nas salas de aula é a que corresponde à visão de
determinados grupos sociais: nos conteúdos escolares e nos textos aparece poucas vezes
a cultura popular, as subculturas dos jovens”, o que é desconsiderado no currículo e, no
entanto, pode muito contribuir para a formação crítica do aluno e professor.
A experiência estudantil é o meio fundamental da cultura, da agência e da
formação de identidade, e deve receber preeminência no currículo por emancipação.
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Para complementar estes fundamentos teóricos tão importantes, relembremos que,
para o desenvolvimento de uma pedagogia crítica, como afirmava Paulo Freire
(FREIRE, 1996, p. 151) “é preciso ler tanto à palavra quanto o mundo”.
Segundo Paulo Freire (1996, p. 151) “poderemos alcançar avanços “pelo
exercício crítico de nossa resistência ao poder manhoso da ideologia”, mudando
atitudes, modo de pensar e criando novas práticas”.
Entende-se que a forma de reagir à transnacionalização dos processos educativos
terá que acontecer, uma vez que, até o momento, o multiculturalismo tem algumas
referências, mesmo que subjacente, nos Parâmetros Curriculares Nacionais e poderão
concorrer muitos mais para homogeneização do que para o respeito à diferença. O
multiculturalismo, dentro da globalização, tem como reflexo o aparecimento de
questões multiculturais: não só gerou, mas impulsionou a padronização na vida social,
econômica, política e cultural.
Os educadores, por meio dos processos educacionais, precisam estar atentos às
maneiras de pensar, de agir e de sentir, dos modos de vida das pessoas, dos educandos,
a fim de não se deixarem levar somente pela lógica do mercado, impregnada pela
globalização, a fim de que não se percam as individualidades e peculiaridades sócio-
culturais regionais, tão próprias e marcantes e que caracterizam cada povo, cada nação e
no caso a cultura brasileira.
Através da globalização há uma visão no âmbito solidário através da proposição de
políticas públicas que se diminuam as desigualdades e a violência e que se promova a
integração no seu verdadeiro sentido.
A reflexão que Mclaren (2000, p 301) nos traz com seu multiculturalismo
revolucionário, ao “desnudar a complexa teia de uma ideologia dominante racista”, nos
deixa perplexos; todavia em nenhum momento ele conduz a um fatalismo paralisante:
pelo contrário, está tomado por uma pedagogia da esperança.
Então, como aplicar essa reflexão à realização à realidade?
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Pensado em soluções aplicadas à educação é o momento de colocar em prática
pensando o máximo possível em transformação da realidade de onde se extraiu o
problema: multiculturalismo e pedagogia do poder, educação multicultural e pedagogia
crítica – o que são? E quais as suas relações com os processos educacionais?
Podemos organizar essas práticas, a partir de alguns exemplos:
“ O Círculo de cultura e o Centro de Cultura que são práticas sociais educativas criadas e utilizadas com sucesso por Paulo Freire (1996), são modalidades de animação sócio-cultural surpreendentes que podem contribuir na descoberta de “achados”, quer pessoas, quer do grupo. Por exemplo,que o professor seja um educador cultural-coordenador das narrativas e, depois, também do debate; em lugar da aula discursiva, haja o diálogo em que em vez de um aluno passivo seja ele um participante de grupo.(FREIRE, 1996)
Com base, nessa compreensão observemos o que diz Paulo Freire (1996, p. 51).
“A partir das relações do educador multicultural com a realidade que o cerca, relações
resultantes de estar com ela e de estar nela, vai ele dinamizando o seu mundo pelas suas
necessidades, pelos atos de criação, recriação e decisão”.
Junto com os estudantes vai ele conhecendo a realidade, problematizando-a,
dominando-a, humanizando-a; acrescentando a ela algo de que ele e os educandos são
os criadores. Temporalizando “os espaços geográficos, fazem cultura”.
“ Entre os inúmeros desafios gerados com o estudo do multiculturalismo e aspectos
da globalização e, após observações em nossa realidade social e cultural, reflexões,
indagações e problematização constante, após a construção de um referencial teórico
para a busca do entendimento e de soluções para os problemas discutidos, parece que
foi possível sinalizar algumas práticas sociais educativas a serem produzidas para a
educação multicultural.”( Knechtel (p. 83, 2003).
Contribui com o autor a idéia de que:
“... conferência, que se dá sob regência dos portugueses, matizes raciais
dispare, tradições culturais distintas, formações sociais defasadas se enfrentam
e se fundem para dar lugar a um povo, num novo modelo de estruturação
societária”.(RIBEIRO, 1970).
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Que no Brasil se defende as multiculturas, um novo gênero humano diferente de
quantos exista que inaugura uma forma singular de organização sócio – econômica e
escravista numa servidão continuada ao mercado mundial.
A sociedade e a cultura brasileira apresentam variantes da versão lusitana, da
tradição civilizatória européia ocidental, diferenciadas por coloridos herdados dos índios
americanos e dos negros africanos.
Tem-se assim, culturas diversas formando a cultura do povo brasileiro formando
uma nação mesclada por diversas culturas.
REFERÊNCIAS
BEAL, Marcos. Material de estudos – Curso de Especialização em Docência no
Ensino Superior – FAMPER, 2008.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários para a prática
educativa. 2ª ed. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1997.
KNECHTEL, Maria do Rosário. A problematização, recensão crítica e seminário
interdisciplinar: uma alternativa metodológica para o ensino superior.
in:ENDIPE,9., São Paulo,1999.
_____________Multiculturalismo e processos educativos educacionais. Curitiba:
FACINTER, 2003.
MCLAREN, Peter. Multiculturalismo crítico. São Paulo: Cortez, 1997.
RIBEIRO, Darci. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. SP. 2ª ed.
Companhia das Letras,1995. www.gov.br/bpp Texto proveniente: Biblioteca Pública do
Paraná.
SACRISTÁN, J. G. Poderes instáveis em educação. Porto Alegre: Artes Médicas,
1999.