Múltiplos olhares sobre a escola e o bairro: a percepção ambiental de ... · composto de...

17
Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación 1 ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317 Múltiplos olhares sobre a escola e o bairro: a percepção ambiental de estudantes da escola José Moreira dos Santos e a construção coletiva do conceito de educação ambiental. BROUTELLES, A.M.V; SILVEIRA JÚNIOR, W.J.

Transcript of Múltiplos olhares sobre a escola e o bairro: a percepção ambiental de ... · composto de...

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

1

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

Múltiplos olhares sobre a escola e o bairro: a percepção ambiental de estudantes da escola José

Moreira dos Santos e a construção coletiva do conceito de educação ambiental.

BROUTELLES, A.M.V; SILVEIRA JÚNIOR, W.J.

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

2

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

Múltiplos olhares sobre a escola e o bairro: a percepção ambiental de estudantes da escola José

Moreira dos Santos e a construção coletiva do conceito de educação ambiental

Adriana Magalhães Veiga De Broutelles Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais – Campus Barbacena

[email protected]

Wanderley Jorge da Silveira Junior Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais – Campus Barbacena

[email protected] RESUMO: O trabalho em questão tem como objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa realizada junto a estudantes da Escola Municipal José Moreira dos Santos, localizada no município de Barbacena, estado de Minas Gerais, Brasil. O grupo foi composto de crianças com idade entre oito e doze anos, foi selecionado, pela escola, para participar do projeto de extensão “A arte como sensibilização: uma proposta para Educação Ambiental”, desenvolvido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena, em parceria com a ONG Instituto Curupira. A pesquisa foi desenvolvida como parte inicial do projeto de extensão. Ponderamos que para o desenvolvimento do projeto se fazia necessário, inicialmente, compreender a forma como esses estudantes interagiam com seu ambiente e como se constituía a percepção dos mesmos acerca desse contexto. Partimos da percepção do ambiente escolar e depois do bairro por serem esses os mais vivenciados pelas crianças em seu cotidiano. Para tal utilizamos como instrumentos de coleta de dados: um breve questionário com o foco no diagnóstico das preferências e insatisfações com o ambiente escolar e o bairro. Trabalhamos também com mapas mentais, por meio de desenhos e fotografias de locais do bairro e da escola. Após análise do material, concluímos que as crianças pesquisadas possuem ainda uma percepção naturalizada de seu ambiente, onde os elementos naturais prevalecem em detrimento dos ambientes construídos, refletindo assim as correntes da educação ambiental conservadora e naturalista. Palavras-Chaves: percepção ambiental, educação ambiental, emancipação; RESUMEN: El trabajo en cuestión, tiene como objetivo presentar los resultados de una investigación realizada junto a estudiantes de la Escuela Municipal José Moreira dos Santos, ubicada en la Municipalidad de Barbacena, estado de Minas Gerais, Brasil. El grupo fue compuesto por niños, que tenían entre ocho y doce años de edad. Fueran seleccionados por la escuela para participar en el proyecto de extensión "El arte como sensibilización: una propuesta para la Educación Ambiental", desarrollado por el Instituto Federal de Educación, Ciencia y Tecnología Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena, en colaboración con la ONG, Instituto Curupira. La investigación se llevó a cabo, como la primera parte del proyecto de extensión. Ponderamos que para el desarrollo del proyecto se necesitaba inicialmente entender cómo estos estudiantes interactuaban con su entorno y la forma en que constituían su percepción

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

3

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

acerca de este contexto. Partimos de la percepción del ambiente de la escuela y luego, la del barrio, los espacios más experimentados por estos niños en sus vidas diarias. Para tal, hemos utilizado como instrumentos de recolección de datos, un breve cuestionario con un enfoque en el diagnóstico de las preferencias e insatisfacciones con el ambiente de la escuela y el vecindario. También trabajamos con mapas mentales, con la utilización de dibujos y fotografías del barrio y de la escuela. Después de analizar el material, se concluyó que los niños investigados, todavía tienen una percepción naturalizada de su entorno, donde predominan los elementos naturales a expensas de los entornos construidos, lo que refleja la actual educación ambiental conservadora y naturalista. Palabras clave: conciencia ambiental, educación ambiental, emancipación INTRODUÇÃO O atual modelo de desenvolvimento que vivenciamos, coloca as questões ambientais em segundo plano, o triple desenvolvimento sustentável, onde se explica o uso racional dos recursos naturais. No entanto, este é mais um modelo de desenvolvimento que utiliza uma máscara para destruir o pouco que resta da base natural necessária para a sobrevivência dos seres vivos neste planeta. Antes de nos determos particularmente na Educação Ambiental (EA), é essencial para este estudo, focalizar a Educação. Neste sentido, Carvalho (1998) tem a seguinte definição:

A educação é um subsistema subordinado e articulado ao macro sistema social. Desta forma, as diversas práticas e concepções educativas não possuem uma realidade autônoma, mas estão subordinadas a contexto social mais amplo que condiciona seu caráter e sua direção pedagógica e política.

Desta forma, podemos entender que um processo educativo não nasce puro, livre de intenções, ideologias, manipulações, apenas surge. Ao contrário, é construído dentro de um contexto sócio-histórico muito maior, onde forças políticas, culturais e filosóficas norteiam seu presente, condicionam e pré-deteminam seu futuro. Segundo Lima (2008), o processo educativo não é neutro e objetivo, destituído de valores, interesses e ideologias.

Ao contrário, a educação é uma construção social repleta de subjetividade, de escolhas valorativas e de vontades políticas, dotada de uma especial singularidade, que reside em sua capacidade reprodutiva dentro da sociedade. Ela significa, portanto, uma construção social estratégica dentro da sociedade, por estar envolvida na socialização e formação dos indivíduos e de sua identidade social e cultural.

Ainda segundo o autor, a educação neste sentido, pode assumir um papel tanto conservador quanto emancipatório. Conservador quando busca a manutenção da ordem social, reproduzindo valores, ideologias e interesses dominantes socialmente, e emancipatório quando busca a renovação cultural, política e ética da sociedade, valorizando as potencialidades dos indivíduos que a compõem. Desta forma, compreender o contexto no qual essa educação se insere, significa o primeiro passo para o desenvolvimento de uma educação que se quer emancipatória.

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

4

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

Se olharmos superficialmente, as práticas atuais são muito parecidas, aparentemente falam a mesma linguagem, compartilham os mesmos valores, objetivos, interesses e ideologias. Entretanto, as aparências camuflam diferenças sutis e essenciais, relacionadas aos meios, mas principalmente às finalidades da EA (LIMA, 2005) Podemos observar essas práticas em dois momentos distintos na breve historia da EA, que define bem o seu quadro atual, marcado por diversas práticas que se auto-definem como “educação ambiental”. A grande diferença pode ser observada, sobretudo na visão de meio ambiente que as duas apresentam. O primeiro momento é registrado a conferência de Estocolmo e aos encontros de EA, Belgrado e, Tibilisi. Nestas arenas pensava-se basicamente na relação do ser humano com a natureza, buscava-se através da EA transformar a sociedade. Por outro lado, o segundo momento surge mais claramente a partir da Rio-92, no entanto se consolida em Johanesburgo 2002, com a ideia de desenvolvimento econômico, dito sustentável. Neste sentido, a EA passa a focar o uso racional dos recursos naturais, tendo a tecnologia como uma das principais ferramentas. Lima (2008) define essa polaridade apontando duas grandes correntes, a emancipatória e a conservadora. A primeira está afinada com a ideologia transformadora dos primeiros encontros mundiais de EA, e a segunda segue a EA para o desenvolvimento sustentável. No entanto, algumas práticas de EA aparentemente buscam uma mudança superficial, as consequências podem ser facilmente percebidas, sobretudo quando se olha mais profundamente sobre a grande variedade de práticas de EA desenvolvidas nos mais diversos campos. Em muitos casos, práticas muito simples refletem de forma clara a ingenuidade, oportunidade, confusão teórica ou política. Além disso, o atual cenário é marcado por uma grande diversidade de práticas, atividades e discursos que se definem como EA. Como colocado anteriormente, esta divisão pode ser creditada aos diversos interesses e agendas, promovida quer seja por ingenuidade ou desconhecimento dos princípios que nortearam a EA, ou com a intenção de limitar as ideias e ações da sociedade que estejam em desacordo com interesses maiores. É por essa razão que esse estudo vem tratar dessas discussões a fim de se pensar a EA como uma proposta transformadora. Para tal aliou-se a proposta da “Pedagogia da autonomia” de Freire (2011), respeitando e aproveitando a experiência que os sujeitos da pesquisa possuíam acerca do bairro em que residem e da escola frequentada por eles, para discutir os problemas e demandas locais. Desta forma, buscando desenvolver um projeto de EA emancipatória, que considerasse tais experiências, fez-se necessário conhecer a percepção dos educandos sobre as questões ambientais locais a partir do (re) conhecimento dos problemas e necessidades para então buscar as mudanças desejadas. Conforme colocado por Faggionato (2011) a percepção ambiental possibilita saber como os indivíduos envolvidos concebem o ambiente em que vivem, bem como suas fontes de satisfação e insatisfação. PERCURSOS METODOLÓGICOS

Toda pesquisa é fruto de um processo histórico, ou seja, apresenta os passos pelos quais caminharam os elementos que lhe deram vida tornando possível a sua materialidade. Sujeitos, lugares, tempos e momentos, entre outras coisas mais, cada um de acordo com a sua natureza, vão deixando a sua marca, fazendo com que tome corpo a escrita, busca constante do processo de aprendizagem, que se constitui de diversas formas.

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

5

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

O trabalho que aqui se apresenta, tem também seus caminhos. Veredas que marcaram seu corpo, seu coração, sua mente e sua alma, ou melhor, as suas palavras, suas escritas, suas ideias e seu papel. Na linguagem da vida humana, ele foi se estabelecendo como um ponto de encontro entre as diversas realidades, pessoas e circunstâncias, de modo que a partir de sua história, fosse possível compor os seus percursos. Assim essa é uma proposta a ser construída “com” os sujeitos, sendo pensada em conjunto e a partir das identidades, valores e saberes constituídos por eles, ou seja, trata-se de uma pesquisa-ação por se propor uma investigação que além de compor procedimentos técnicos e operativos para o conhecimento da realidade tem também como objetivo a transformação da realidade em questão pela ação coletiva. Esse formato de pesquisa implica na participação de todos os sujeitos envolvidos, possibilitando a aquisição de conhecimentos necessários para compreender os processos e fenômenos sociais nos quais estão inseridos e a re-significação dos problemas que enfrentam. Essa forma de se investigar a realidade se constitui por si só como ação, mobilização, sensibilização e de conscientização. Conforme aponta Reis (2008) “os participantes de um projeto de pesquisa-ação em educação ambiental deixam de ser “objetos” de pesquisa para realizarem-se como “sujeitos” da investigação científica e da ação educativa.” Ou seja, a utilização da pesquisa-ação dentro de uma proposta de estudo em educação ambiental promove a produção de conhecimentos dos processos educativos ao mesmo tempo em que realiza ações educativas, mistura-se à própria ação de educar visando a transformação da realidade observada.

Além disso, para se efetivar o trabalho proposto, foi utilizado o método de investigação qualitativa, fato que se justifica não apenas por ser tratar de um método que não se prende às estatísticas numéricas, mas também devido aos seus aspectos que merecem ser destacados: compreender a perspectiva dos participantes e sua diversidade, permitir a reflexividade do pesquisador e da pesquisa e também variedade de abordagens e métodos. A utilização da abordagem qualitativa deu-se na tentativa de abarcar as peculiaridades dos sujeitos envolvidos, uma vez que essa abordagem requer maior observação e flexibilidade da realidade, procurando compreendê-la de forma dinâmica, sendo que esta vai se modificando na medida em que os sujeitos vão agindo. Segundo Bogdan e Biklen (1994), na investigação qualitativa a fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal. Para os autores, divorciar o ato, a palavra ou o gesto do seu contexto, é perder de vista o significado; a investigação qualitativa é descritiva; há uma ênfase às palavras e as imagens; os investigadores tendem a analisar os seus dados de forma indutiva (do particular para o geral), ou seja, da raiz prática para o topo teórico; não recolhem dados para confirmar hipóteses. Construção de teoria se dá de “baixo para cima”; o significado é de importância vital na investigação qualitativa. É o outro que adquire destaque, com os significados que atribui ou percepções/representações que elabora. A metodologia aplicada nesse estudo de investigação qualitativa envolveu cinco etapas, nas quais se pretendeu responder às seguintes questões: O que as crianças envolvidas compreendem como meio ambiente e educação ambiental? De que forma essas crianças interagem e percebem o meio ambiente nas quais estão inseridas? Qual a percepção que essas crianças possuem do ambiente escolar e do bairro onde residem? Buscando um maior conhecimento sobre os temas em questão, educação e percepção ambiental e metodologias em pesquisa qualitativa foi realizada na primeira etapa uma revisão bibliográfica através de livros, documentos, teses e dissertações e ainda em sítios da internet. A segunda foi à apresentação da pesquisa a direção, ao corpo docente, aos pais e alunos da Escola Municipal José Moreira e ainda a

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

6

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

aplicação de um questionário estruturado onde os alunos apontaram sua compreensão do conceito de meio ambiente assim como suas satisfações e insatisfações com o seu meio escolar e com bairro em que residem. Neste momento também produziram um mapa mental sobre a percepção que possuíam sobre meio ambiente. A terceira etapa foi constituída por uma expedição exploratória no bairro Santo Antônio, onde se localiza a escola e as crianças envolvidas residem. O recurso fotográfico foi utilizado para registrar o que eles entendiam como meio ambiente bem como outros aspectos que julgassem relevantes. Foram divididos quatro grupos de crianças, ficando cada grupo com cerca de cinco crianças. Cada grupo foi acompanhado por um dos pesquisadores. A quarta etapa foi feita uma apresentação em data show com os mapas mentais e as fotografias feitas pelos alunos onde os mesmo deveriam identificar seus registros e explicá-los, demonstrando o que representam. Essa atividade nos auxiliou a conhecer e compreender ainda mais as ideia de cada um a respeito do meio ambiente em que vivem, assim como oportunizou às crianças a reflexão de suas ações e percepções bem como a construção identitária do grupo.

A quinta etapa envolveu a compilação dos materiais coletados, tais como mapas mentais e fotografias. Análise dos dados encontrados nos questionários, e dos elementos significativos e constitutivos nos mapas mentais e fotografias para posteriormente a discussão a respeito.

.RESULTADOS E DISCUSSÕES

Em um mundo onde as tecnologias e inovações são constantes, e a busca pela facilidade e acúmulos de riquezas é cada vez maior, os danos seriam inevitáveis em contramão e é possível notar no meio ambiente, sem quaisquer dificuldades esses danos decorrendo do desenvolvimento. Logo, seria necessária a criação de mecanismos que amenizassem ou quitassem estes prejuízos ambientais. É quando surgem palavras como “sensibilização”, “desenvolvimento sustentável”, “racionalidade de recursos” e ainda, uma que é tida como importante ferramenta: “educação ambiental”. A LEI No 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999 em seu artigo 1º, traz a definição de educação ambiental:

“Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.”

.Assim, para a que se entenda a importância de preservação e conservação do meio natural, é preciso identificá-lo como sendo parte de um todo, onde cada ser vivo ou não vivo, necessita do outro para sobrevivência. Essa forma de perceber o ambiente só é possível a partir de uma imersão no contexto a ser percebido no intuito de uma experimentação sensitiva na qual cada indivíduo poderá construir suas próprias identificações. Segundo OLIVEIRA (2013) “Habitar as coisas convida-nos a pensar numa relação de familiaridade ou de proximidade com elas, habitar requer imersão, as coisas não estão diante de mim (Objectum), estou entre elas, elas me envolvem (Umwelt) e são minha morada ou o lugar onde habito.”

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

7

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

É nesse aspecto que o campo da percepção fenomenológica nos traz elementos para que se possa desenvolver propostas nas quais os envolvidos estabeleçam suas próprias interações e interpretações. Assim “produzir sentido, interpretar a significância, não é uma atividade puramente cognitiva, ou mesmo intelectual ou cerebral, é o corpo, esse laço de nossas sensibilidades, que significa que interpreta” (DUARTE JR. 2004, p.130).

Para MERLEAU-PONTY (1999), a fenomenologia nos permite desenvolver uma compreensão de nosso mundo por intermédio do conhecimento das essências das vivências e experiências e da consciência. Esse conhecimento se realiza, portanto na percepção, sendo o nosso corpo o canal pelo qual se manifestam os fenômenos a serem percebidos, interpretados, compreendido e significado.

Em outras palavras podemos dizer que os fenômenos se apresentam independentemente da interpretação que se possa fazer deles. No entanto esses se materializam na interconexão estabelecida com a consciência humana por intermédio da percepção que se dá pelo corpo. Como resultado a percepção se funde com a própria existência do sujeito aprendiz em uma relação de reciprocidade tornando-os indissociáveis.

Ainda segundo MERLEAU-PONTY(1999) essa percepção e construção do conhecimento espacial se constituirá principalmente das imagens mentais traçadas a partir das vivências de percepção. É nesse sentido que optamos pela utilização dos mapas mentais como caminho para compreensão da percepção ambiental das crianças envolvidas no estudo.

Os Mapas mentais e suas representações Cada pessoa percebe ao seu modo, o contexto no qual está inserido, atuando

sobre ele de diversas formas. Não é diferente quando se pensa nas interações ocorridas o espaço escolar e no espaço urbano vivenciado pela perspectiva local, que se constitui o bairro no qual residimos. Todos os atores apresentam uma forma diferenciada de perceber e agir nesse ambiente, ou seja, tendem a ocupar diferentes posições e assim assumem perspectivas diferenciadas de ação. Essa diversidade de construção simbólica advém das experiências pessoais de cada sujeito.

De acordo com Oliveira (2006) os mapas mentais se constituem por representações simbólicas da realidade, nas quais cada indivíduo expressa as percepções e interpretações que foram experimentadas e elaboradas. Assim os mapas mentais podem ser considerados como um primeiro referencial no desenvolvimento de pesquisas acerca da percepção ambiental. É nesse sentido que a pesquisa desenvolvida utilizou os mapas mentais, com objetivo de avaliar a percepção que os indivíduos tinham do espaço onde estão inseridos. Os mapas mentais realizados pelas crianças correspondem aos desenhos e nas quais representam o seu espaço experenciado. Na análise e interpretação dos mapas mentais, selecionamos as representações que se apresentaram como mais significativas e que pudessem permitir uma análise mais geral do contexto apresentado. Os procedimentos de análise e interpretação dos mapas mentais se basearam proposta apresentada por Kozel (2001), que se utiliza da classificação dos elementos na imagem, de acordo com a representação constituinte: paisagem natural, paisagem construída, elementos humanos e elementos móveis e as letras (palavras e representações gráficas completos). Utilização de paisagens naturais e de representações gráficas:

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

8

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

Figura 1 - Desenho do Meio Ambiente – Eduarda

Figura 2 - Desenho do Meio Ambiente - Lara

Representação de Elementos Naturais:

Nesse mapa mental observamos elementos naturais, tais como: flores árvores, solo, nuvens, céu, borboleta; Mas também podemos perceber a necessidade de complementação dos ícones desenhados com representações gráficas de forma a se construir um texto carregado de sentidos e ideologias.

Aqui também se encontram presentes a paisagem natural os elementos: sol, nuvem, animais, frutas, árvores assim como a representação gráfica para expressar experiências não constitutivas do ambiente real, mas que fazem parte da consciência vivenciada, isto é, do mundo subjetivo

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

9

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

Figura 3 - Desenho do Meio Ambiente - Sabrina

Figura 4 - Desenho do Meio Ambiente – Kawan

Elementos humanos e paisagem construída em meio à paisagem natural

Nos mapas a seguir apenas a paisagem natural foi registrada, ou seja, se constitui como uma representação do meio ambiente apenas por elementos naturais. Isso nos demonstra a interpretação do ambiente como o lugar no qual se apresentam os elementos naturais.

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

10

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

Figura 5 - Desenho do Meio Ambiente – Lucas

Figura 6 - Desenho do Meio Ambiente - Wesley

Registros Fotográficos: Perspectivas e Focos do Meio Ambiente da Escola e do Bairro

Tanto na figura 5 quanto na figura 6 podemos observar registros de paisagem construída e paisagem natura. . No entanto, podemos perceber que há uma grande diferença na representação dos mesmos. Na figura 6 os elementos naturais e os elementos construídos estão representados de forma distante e separados. Enquanto na figura 5 a paisagem construída encontra-se representada de forma harmoniosa e integrada se misturando também com o elemento humano. Esse mapa foi o único a trazer essa forma de interpretação. Embora ainda sim retrate também dois elementos naturais disformes aparentando uma destruição

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

11

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

Segundo Hofstatter e Oliveira (2013), a utilização do recurso fotográfico nas pesquisas de percepção e educação ambiental estimula a aproximação e o contato com a natureza, propiciando uma vivência da comunidade de maneira diferenciada da já experenciada pelas ações cotidianas. Ainda de acordo com as autoras além de novas experiências a proposta de se utilizar a fotografia, permite a familiarização com a mesma enquanto forma de representação e comunicação.

Figura 7 - Fotografia do Meio Ambiente - Escola

Figura 8 - Fotografia do Meio Ambiente - Escola

Os registros fotográficos representados nas figuras 7 e 8 , retratam o olhar sobre o “Meio Ambiente” da escola como aquele constituído por apenas elementos naturais como árvores, solo , céu e nuvens.

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

12

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

Figura 9 - Fotografia do Meio Ambiente – Bairro

Figura 10 - Fotografia Meio Ambiente Bairro

As crianças ao fotografarem o “Meio Ambiente” do Bairro também focalizaram seus olhares em elementos naturais que compunham o ambiente: flor, paisagem verde com campos e árvores. Mais uma vez representaram a representação intrínseca acerca da interpretação que realizam do conceito de Meio A bi t

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

13

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

Figura 11 - Fotografia de uma árvore no interior da Escola

Figura 12 - Fotografia da praça em frete à Igreja do Bairro

E por fim as fotografias representadas nas figuras 11 e 12 retratam insatisfações detectadas nos ambientes vivenciados. Na figura 11 identificamos uma árvore cortada. A árvore se localizava no interior da Escola. E na figura 12 foi registrado muitos lixos jogados no chão na parte gramada da praça da Igreja. É importante ressaltar que a questão do lixo foi o problema ambiental de maior relevância nos registros.

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

14

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

No contexto das vozes, os diálogos acontecem e os sentidos são tecidos

A utilização do questionário se apresentou como uma forma de delinear mais claramente o contexto a ser pesquisado por meio do despertar das subjetividades intrínsecas dos estudantes pesquisados, para que esse primeiro reconhecimento pudesse nortear os passos seguintes, das ações a serem desenvolvidas. Para Freire (2011) reconhecer sua condição é entender que o lugar que se encontra na sociedade é algo determinado por aqueles que dominam, é ter consciência crítica dos acontecimentos da própria vida é primeira mudança possível. A opção pela predominância de questões abertas foi justamente para que os participantes pudessem expressar suas ideias e construir suas significações. O questionário foi composto das seguintes questões:

O que é Educação Ambiental? O que não tem em sua escola e você gostaria que tivesse? Qual o espaço que você mais gosta e qual o espaço que você menos gosta em sua escola? O que você mais gosta na sua escola e o que você menos gosta? Qual o espaço que você mais gosta e qual o espaço que você menos gosta em seu bairro? O que você mais gosta e o que você menos gosta em seu bairro?

O que é meio ambiente? (marque quantas opções achar necessário) ( ) Árvores, ( ) Escola, ( ) Água, ( ) Praças, ( ) Terra, ( ) Animais domésticos, ( ) Animais selvagens, ( ) Florestas, ( ) Casas, ( ) Igreja/templo, ( )Área de lazer ( )Outros. Quais?_____________________________________________

Gráfico 1 – Análise da resposta dos estudantes à questão 7 do questionário.

Por meio da análise do gráfico acima, no qual estão representadas as respostas da questão sete do questionário e também pelas interpretações dos mapas

O que é meio ambiente?

Árvores

Florestas

Terra e água

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

15

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

mentais e fotografias, podemos concluir que, em linhas gerais, evidenciaram que o conceito de Meio Ambiente para a maioria das crianças envolvidas no projeto está interligado apenas aos componentes naturais, tais como árvores, florestas, terra, água, animais. Apenas em alguns dados incluem as casas, as escolas, as ruas como meio ambiente. O conceito de Educação Ambiental também seguiu o raciocínio da visão naturalista, na qual esse conceito está fortemente arraigado na ação de preservação dos elementos naturais. Essa forma de conceber a educação ambiental não considera os aspectos políticos, econômicos e éticos, ou seja, os aspectos subjetivos que envolvem a construção de uma ação educativa sustentável. Para eles a Educação Ambiental é a transmissão da “tecnologia metodológica” que irá norteá-los na forma de agir no cuidado da natureza. Conforme já vimos essa visão conservadora dificulta o estabelecimento do sentimento de pertencimento, no qual podemos compreender que o Meio Ambiente se constitui pela rede de inter-relações onde as ações de todos podem vir a propiciar tanto harmonia quanto desarmonia, sendo preciso então uma compreensão mais aprofundada dessa teia para que depois se possa promover uma ação que se fundamente no equilíbrio. No entanto, quando as questões focalizaram nas satisfações e insatisfações ambientais os elementos construídos foram sucessivamente aparecendo nas respostas das crianças. No ambiente escolar as preferências foram ambientes mais abertos e maior contato com os elementos naturais. Assim como há uma predileção pelas atividades que de alguma forma são mais flexíveis e nas quais há um maior predomínio da ludicidade. E a insatisfação no ambiente escolar foi apontada pela supressão de um elemento natural, ou seja, pelo corte de uma árvore. Segundo os profissionais da escola, a árvore foi cortada pois estava ameaçando a segurança das crianças dentro da escola, uma vez que a mesma estava prestes a cair. Entretanto mesmo sabendo dessa situação as crianças apontaram para o corte da árvore como um aspecto negativo. Já em relação ao Bairro foram citados como ambientes prediletos os elementos construídos tais como, suas as próprias residências, igreja, ruas e praças. Aparece aqui também um dos problemas ambientais enfrentados pelo Bairro: a questão do lixo. Sendo esta uma das maiores insatisfações detectada. Sobre a questão do lixo (DUARTE JR.,2004,p.158-159) afirma que:

“Na medida em que descubro o prazer sensível de viver num ambiente bonito, deixo de atirar lixo ao redor, passo a cuidar melhor de meu jardim e participo de grupos que exigem, das indústrias instaladas em minha comunidade, um tratamento exemplar de seus resíduos, o que, por extensão, implica minimamente num incremento nos postos de trabalho e na produção por parte daquelas firmas voltadas à confecção de embalagens para lixo, filtros de fumaça, de água, etc.

Assim podemos ressaltar que somente por meio da experimentação do mundo, pela imersão e inserção no cotidiano, ou seja, pela sensibilização, é que temos a possibilidade de construção de uma educação ambiental que vá de fato produzir reflexões concretas e assim promover a conscientização e a transformação da realidade vivida.

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

16

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

CONSIDERAÇÕES FINAIS: DESAFIOS EM ALINHAVO

[...] A fiandeira da teia da estira do tempo, pinta e borda de verde a viagem do vento [...] [...] E as mãos que bordam vão verdejando, e vão viajando pelo caminho da trilha tecida de fio e de linha [...] [...] E o pano pronto, tão de repente depois de tudo sente saudade do passamento daquelas mãos [...] Brandão, 2004

Toda pesquisa se apresenta, de certa forma, como um resultado momentâneo

de um processo de construção em que numa relação dialética, a realidade vai se encontrando com as ideias, que juntas vão abrindo campo para as informações, os debates e as discussões. Essa caminhada, apesar de apresentar resultados, não se constitui um fim em si mesmo, uma vez que se fizesse isso, fecharia as portas para futuras possibilidades de saberes. Portanto, sua história não se encerra, mas dá continuidade aos fluxos dos desafios que nos constituem.

Assim, um dos desafios apontados por esse estudo, é a compreensão dos aspectos subjetivos que envolvem a construção de uma sociedade sustentável, bem como a construção de propostas de educação ambiental que possam partir dessa subjetividade e atuar promovendo mudanças no cerne mais profundo das questões socioambientais. Promover ações que favoreça a transposição da educação ambiental conservadora e atuem dentro de uma perspectiva de educação ambiental crítica e emancipatória levando em consideração os aspectos políticos, econômicos e éticos que se encontram subjacentes ao contexto vivenciado. Arroyo (2008) nos faz refletir que o educar corresponde a um processo de humanização, por meio de espaços que nos levam a emancipação, a autonomia responsável, a subjetividade moral e ética. Ou seja, é nesses contextos mais diversos e globais, que a educação se faz relevante na democratização do saber, da cultura e do conhecimento, conduzindo o educando “a aprender o significado social e cultural dos símbolos construídos tais como as palavras, as ciências, as artes, os valores, dotados da capacidade de propiciar-nos meios de orientação, de comunicação e de participação.” Arroyo (p.144). É por essas veredas e caminhos que o estudo apresentado propõe a construção de um diálogo que possa se pautar na concepção da educação ambiental como um processo mais amplo que se compromete com as formas de desenvolvimento humano e social dentro e fora das instituições escolares.

REFERÊNCIAS ARAUJO, Maria Inês Oliveira. (2004). A dimensão ambiental nos currículos de formação de professores de biologia. São Paulo: Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo na área de concentração: ensino de Ciências e Matemática. ARROYO, Miguel G. (2008). Trabalho – Educação e Teoria Pedagógica. In: FRIGOTTO, Gaudêncio (org.). Educação e Crise do Trabalho: perspectivas de final de século. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. (2004). O Jardim de Todos. Campinas, SP: Autores Associados.

Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología, Innovación y Educación

17

ISBN: 978-84-7666-210-6 – Artículo 1317

BOGDAN, R.; BIKLEN, S. (1994). Investigação qualitativa em educação. Portugal:Porto. BRASIL.(1999) LEI N o 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999 disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm Acesso em: 04 mar. 2014 CASCINO, Fabio. (2003). Educação Ambiental: Princípios, História e Formação de Professores. 3aed-São Paulo: Editora SENAC São Paulo. CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. (2011). Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez. CHARLOT, Bernard. (2000). Da relação com o saber, elementos para uma teoria. 1aed. Porto Alegre: ARTMED. DUARTE JR., João-Francisco.(2004). O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível. 3. ed. Curitiba: Criar. FAGGIONATO, S. (2011). Percepção Ambiental. Material e Textos. Disponível em: http://educar.sc.usp.br/biologia/textos/m_a_txt4.html . Acesso em: 04 mar. 2014. FREIRE, Paulo.(2011). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed., São Paulo: Paz e Terra. HALL, S. (2006). A identidade cultural na pós-modernidade. DP&A Editora, 1a edição em 1992, Rio de Janeiro, 11a edição. HOFSTATTER, L. J. V.; OLIVEIRA, H. T. de. (2013) Olhares perceptivos: usos e sentidos da fotografia na educação ambiental. VII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental Rio Claro - SP, 2013. LEFF, Henrique. (2001) Saber ambiental: Sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis, RJ: Vozes. LEME, Taciana Neto.(2006). Os conhecimentos práticos dos professores (re)abrindo caminhos para educação ambiental nas escola. São Paulo. Anablume. LOUREIRO, C, F, B. (2002).Educação Ambiental Crítica: principios teóricos e etodológicos. Rio de Janeiro. LUDKE, Menga e ANDRE, E.D.A. Marli. (1986). Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo EPU. GUIMARAES. Mauro. (2004).Educação Ambiental Critica. In: LAYRARGUES, Pommier Philippe (org). Identidades da Educação ambiental Brasileira Ministério do Meio Ambiente. Diretoria da educação Ambiental. Brasília: Ministério do Meio Ambiente. 2004. p.155 cap.3, 25-34. KOZEL, T. S. – (2001). Das imagens às linguagens do geográfico: Curitiba, a “capital ecológica”. São Paulo. Tese de Doutorado-Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo. LIMA, G. F. da C. (2008). Crise ambiental, educação e cidadania: os desafios da sustentabilidade emancipatória. IN: LOUREIRO, C. F. B.; LAYRARGUES, P. P.; CASTRO, R. de S. (orgs.) Educação ambiental : repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez, 2008. MELO, R; SANTOS, M. Análise da prática pedagógica em educação ambiental no contexto de escola rural em Itaporanga. In: Visões Transdisciplinares sobre Ambiente e Sociedade – www.uff.br/revistavitas/No 2, janeiro de 2012 . MERLEAU-PONTY, M.(1999). Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes. OLIVEIRA, Wanderley C. de. (2013). Ciência e arte na filosofia de Merlau-Ponty: algumas reflexões a partir do ensaio “o olho e o espírito”. SAÚVE, L. (2005).As correntes da Educação Ambiental. In: SATO, M. CARVALHO. I, C, M. (Org.) Educação Ambiental. Porto Alegre: Artmed, 2005. TOZONI-REIS Marília Freitas de Campos. (2008). Pesquisa-ação em Educação Ambiental In Pesquisa em Educação Ambiental, vol. 3, n. 1 – pp. 155-169, 2008.