Museu Subaquático

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14 PORTUGAL DIVE PORTUGAL DIVE 15 REPORTAGEM «A criação do museu subaquático está apenas adiada» Felícia Costa, vereadora do Turismo da C.M. de Sesimbra DESENVOLVER O TURISMO TEM SIDO UMA DAS APOSTAS DA AUTARQUIA DE SESIMBRA. A CRIAÇÃO DE UM MUSEU SUBAQUÁTICO E DE RECIFES ARTIFICIAIS SÃO ALGUNS DOS PROJECTOS QUE AINDA NÃO ARRANCARAM. POR: MARISA TEIXEIRA FOTOS: ARQUIVO As restrições são várias, seja a nível da conciliação entre a pesca e o mer- gulho seja quanto aos regulamentos do parque. Estamos com algumas dificuldades para construir o museu. Temos algumas ‘arestas por limar’ e algumas ‘portas para abrir’ que ainda não conseguimos. QUAIS, EM CONCRETO? Por exemplo, no que se refere ao ordenamento do porto de Sesimbra, pois privilegia essencialmente a pesca. As escolas de mergulho não têm as condições óptimas para exerceram a sua actividade, tanto no acesso ao mar quanto nas condições logísticas de reta- guarda e no apoio prestado aos mergulhadores. O PARQUE MARINHO COLOCOU ALGUM TIPO DE RESTRIÇÕES? Já temos autorização para afundar as peças que queremos utilizar (âncoras e canhões, entre outras), mas existem outras questões por resolver, nomeadamente no que se refere à criação de recifes artificiais. Uma outra proposta que apesar de não estar directamente ligada à criação do museu acaba por ter o mesmo objectivo – desenvolver o )) REPORTAGEM primeiro museu suba- quático do país, deve- ria ter sido inaugurado no ano passado, em Sesimbra, com o principal objectivo de im- pulsionar o turismo subaquático. No entanto, apesar de várias datas marcadas para a sua inaugura- ção, acabou por não acontecer. A não-aceitação por parte da co- munidade dos pescadores é um dos motivos do adiamento da iniciativa. A criação de recifes artificiais é também uma proposta da Câmara que continua à espera de autorizações. Para averiguar em que ponto está a situação, a Portugal Dive falou com Felícia Costa, vice-presidente da C. M.de Sesimbra e responsá- vel pela área do turismo, entre outras. O O QUE É QUE A C. M. DE SESIMBRA TEM FEITO PARA APOIAR A ÁREA DO MERGULHO? Estamos neste momento em fase de elaboração de um plano estra- tégico de turismo, que engloba não só o mergulho mas também outras actividades ligadas ao mar. O museu subaquático é apenas um dos projectos. E EM QUE CONSISTE ESSE PROJECTO? Temos as melhores condições em termos de costa. Pode mergulhar- -se praticamente todo o ano, as águas não são excessivamente frias. Os ecossistemas marinhos exis- tentes e a presença do naufrágio River Gurara atraem as atenções de muitos mergulhadores. O projecto mais falado actualmente é a criação de um museu subaquá- tico, com a exposição de algumas peças e respectivos painéis com informação. Contudo, além do sítio escolhido para o museu subaquático estar integrado no Parque Marinho Luiz Saldanha, que tem um regulamento apertado, a comunidade de pes- cadores ficou insatisfeita com a situação. RESOLVER O PROBLEMA COM OS PESCADORES? Avançar mais uma vez para o diálogo com as associaçõesdepescadores,fazê- los perceber que aquela localização não os vai prejudicar. Pelo contrário, pois até pode vir a ser uma forma de os ajudar finan- ceiramente. Por exemplo, ao utili- zarem as suas embarcações para transportar os mergulhadores com- pensa mais a nível económico do que a actividade que desenvolvem. E não existe a obrigação de desistirem da pesca. Se fosse só pelas condi- ções logísticas o projecto já tinha avançado, mas mudar mentalidades é mais difícil. Existe muita coisa que só não está a ser feita por causa disso. E essa é a grande batalha que temos de travar. > Cancun, no México, já tem um museu subaquático turismo subaquático. Colocar um navio no fundo do mar atrai muita vida marinha, que por sua vez atrai os mergulhadores. Actualmente, o regulamento do Parque proíbe a criação de recifes artificiais, mas como está prevista a possibilidade da sua alteração ao fim de três anos, e o prazo estar a aproximar-se, vamos tentar novamente. O presidente da Câmara já tem até uma reunião agendada com o Secretário de Estado das Pes- cas para debater este assunto. Agora é esperar para ver o que acontece. Porém, este projecto provavelmente demorará mais tempo a concretizar- -se do que o museu subaquático. E QUANTO AO MUSEU, QUAIS OS OBSTÁCULOS? Temos a permissão do Instituto de Gestão do Património Arquitectóni- co e Arqueológico (IGESPAR) para a utilização de uma série de peças que foram recolhidas de um naufrágio e o Parque já nos deu autorização para afundar estas peças. Por en- quanto, estão guardadas no Museu da Marinha, em Lisboa. Neste caso específico, os pescado- res que estão insatisfeitos com a criação do museu subaquático. Consideram que a sua actividade é prejudicada porque a área interdita à pesca aumenta. No entanto, o local que consi- deramos ideal nem sequer é muito procurado para esta actividade. QUAL VAI SER A LOCALIZAÇÃO? Estamos a estudar várias possi- bilidades. O mar da Pedra é o ideal, pois as peças têm de ficar escoradas. A maioria das zonas que temos são arenosas e existem poucas áreas com um fundo de pedra com área suficien- te para expor todas as peças. E O QUE PRETENDEM FAZER PARA > Baía de Sesimbra > Cais de embarcações marítimo-turísticas > A comunidade de pescadores ficou insatisfeita

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Entrevista sobre a criação de um museu subaquático em Sesimbra - Portugal Dive

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REPORTAGEm

«A criação do museu subaquático está apenas adiada»

Felícia Costa, vereadora do Turismo da C.M. de Sesimbra

Desenvolver o turismo tem siDo uma Das apostas Da autarquia De sesimbra. a criação De um museu subaquático e De recifes artificiais são alguns Dos projectos que ainDa não arrancaram. Por: MArisA TeixeirA Fotos: Arquivo

as restrições são várias, seja a nível da conciliação entre a pesca e o mer-gulho seja quanto aos regulamentos do parque. estamos com algumas dificuldades para construir o museu. temos algumas ‘arestas por limar’ e algumas ‘portas para abrir’ que ainda não conseguimos.

Quais, em concreto?

por exemplo, no que se refere ao ordenamento do porto de sesimbra, pois privilegia essencialmente a pesca. As escolas de mergulho não têm as condições óptimas para exerceram a sua actividade, tanto no acesso ao mar quanto nas condições logísticas de reta-guarda e no apoio prestado aos mergulhadores.

o ParQue marinho colocou algum tiPo de restrições?

já temos autorização para afundar as peças que queremos utilizar (âncoras e canhões, entre outras), mas existem outras questões por resolver, nomeadamente no que se refere à criação de recifes artificiais. Uma outra proposta que apesar de não estar directamente ligada à criação do museu acaba por ter o mesmo objectivo – desenvolver o ))

REPORTAGEm

primeiro museu suba-quático do país, deve-ria ter sido inaugurado

no ano passado, em sesimbra, com o principal objectivo de im-pulsionar o turismo subaquático. no entanto, apesar de várias datas marcadas para a sua inaugura-ção, acabou por não acontecer. a não-aceitação por parte da co-munidade dos pescadores é um dos motivos do adiamento da iniciativa. a criação de recifes artificiais é também uma proposta da câmara que continua à espera de autorizações.para averiguar em que ponto está a situação, a portugal Dive falou com felícia costa, vice-presidente da c. m.de sesimbra e responsá-vel pela área do turismo, entre outras.

Oo Que é Que a c. m. de sesimbra tem feito Para aPoiar a área do mergulho?

estamos neste momento em fase de elaboração de um plano estra-tégico de turismo, que engloba não só o mergulho mas também outras actividades ligadas ao mar. o museu subaquático é apenas um dos projectos.

e em Que consiste esse Projecto?

temos as melhores condições em termos de costa. pode mergulhar- -se praticamente todo o ano, as águas não são excessivamente frias. os ecossistemas marinhos exis-tentes e a presença do naufrágio river gurara atraem as atenções de muitos mergulhadores.

o projecto mais falado actualmente é a criação de um museu subaquá-tico, com a exposição de algumas peças e respectivos painéis com informação. contudo, além do sítio escolhido

para o museu subaquático estar integrado no parque marinho luiz saldanha, que tem um regulamento apertado, a comunidade de pes-cadores ficou insatisfeita com a situação.

resolver o Problema com os Pescadores?avançar mais uma vez para o diálogo com as associações de pescadores, fazê-los perceber que aquela localização não os vai prejudicar.pelo contrário, pois até pode vir a ser uma forma de os ajudar finan-ceiramente. por exemplo, ao utili-zarem as suas embarcações para transportar os mergulhadores com-pensa mais a nível económico do que a actividade que desenvolvem. e não existe a obrigação de desistirem da pesca. Se fosse só pelas condi-ções logísticas o projecto já tinha avançado, mas mudar mentalidades é mais difícil. existe muita coisa que só não está a ser feita por causa disso. e essa é a grande batalha que temos de travar.

>Cancun, no México,já tem um museu subaquático

turismo subaquático. colocar um navio no fundo do mar atrai muita vida marinha, que por sua vez atrai os mergulhadores. actualmente, o regulamento do parque proíbe a criação de recifes artificiais, mas como está prevista a possibilidade da sua alteração ao fim de três anos, e o prazo estar a aproximar-se, vamos tentar novamente. o presidente da câmara já tem até uma reunião agendada com o secretário de estado das pes-cas para debater este assunto. agora é esperar para ver o que acontece.porém, este projecto provavelmente demorará mais tempo a concretizar- -se do que o museu subaquático.

e Quanto ao museu, Quais os obstáculos?

Temos a permissão do Instituto de Gestão do Património Arquitectóni-co e Arqueológico (IGESPAR) para a utilização de uma série de peças que foram recolhidas de um naufrágio e o Parque já nos deu autorização para afundar estas peças. por en- quanto, estão guardadas no museu da marinha, em lisboa.Neste caso específico, os pescado-

res que estão insatisfeitos com a criação do museu subaquático. Consideram que a sua actividade é prejudicada porque a área interdita à pesca aumenta.no entanto, o local que consi-deramos ideal nem sequer é muito procurado para esta actividade.

Qual vai ser a localização?

Estamos a estudar várias possi-bilidades. O mar da Pedra é o ideal, pois as peças têm de ficar escoradas. a maioria das zonas que temos são arenosas e existem poucas áreas com um fundo de pedra com área suficien-te para expor todas as peças.

e o Que Pretendem fazer Para

>Baía de Sesimbra

>Cais de embarcações marítimo-turísticas

>A comunidade de pescadores ficou insatisfeita

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outras vozesApós a entrevista com a vereadora Felícia Costa, tentámos apurar o que se passa.

Quisemos saber quem está a favor ou contra a criação do museu subaquático de Sesimbra. Há quem refira quezílias entre mergulhadores e pescadores, há quem veja só benefícios, outros que apontam mais desvantagens. O certo é que, possivelmente, o assunto continuará a dar que falar e o projecto continua adiado.Aqui ficam as posições de várias entidades, que, de alguma forma, têm ‘voto na matéria’.

Artesanalpesca – Organização de Produtores de Pesca

Carlos Macedo, adjunto de administração da Artesanalpesca, declara:«Penso que o principal problema que esteve na génese da contestação do museu teve a ver com a forma como o processo foi desencadeado e com o momento em que

foi feito, somado com uma tensão latente entre

pescadores e escolas de mergulho.

A forma não foi a correcta, pois os pescadores não foram consultados de uma forma representativa e envolvente. A representação do sector é muito diversificada e dispersa, existindo uma grande maioria de pescadores que não está sequer associado, esse é um problema que não depende dos promotores, mas do qual têm conhecimento. Como tal uma medida desta natureza não pode ser concretizada de forma imediata, deve ser preparada e transmitida em fóruns alargados realizados atempadamente e sem pressões temporais. O momento também não foi o melhor, porque neste momento os pescadores estão a ver serem reduzidas as áreas de pesca dentro do parque marinho

e a criação do museu em última análise representa a interdição (por muito pequena que seja) de mais uma zona de pesca. O conflito latente de que falava prende-se com a forma desordenada como funciona o porto de pesca de Sesimbra e por alguma falta de respeito na ocupação de espaços, pois as escolas de mergulho ocupam os cais da pesca, os estacionamentos da pesca, em suma a zona da pesca influindo de forma negativa no normal funcionamento das empresas de pesca, nomeadamente na preparação dos apetrechos em terra.»

Best Dive

No que se refere ao adiamento do projecto, Carlos Cruz, sócio-gerente deste centro de mergulho em Sesimbra, declara:

«pelo que sei e pelo que se ouve, os armadores da pesca em Sesimbra fizeram força para que isso não acontecesse. Não lhes interessa o desenvolvimento

do mergulho recreativo, no porto de pesca de Sesimbra os pescadores não gostam dos mergulhadores e algo como um barco afundado ou um museu subaquático iria dar muito protagonismo ao mergulho, e eles podem perder o poder que têm neste porto. São algumas entidades relacionadas com a pesca, e não só, que fazem força para que o museu não aconteça».As vantagens que este responsável vê na criação do Museu são várias. «O desenvolvimento do mergulho; aumentar o turismo subaquático estrangeiro. Por outro lado, se não for fundo de mais, o snorkeling poderia desenvolver-se. Ou quem sabe como se faz lá fora, a utilização de narguilês modernos (capacetes de vidro ligados à superfície pelo tubo de tomada de ar a um compressor) e os utilizadores não têm de ter curso de mergulho e podem andar debaixo de água visitando todos os artefactos expostos. E a vila fica a ganhar, pois se houver um aumento de visitantes e mergulhadores, todo o comércio lucra.»

Parque Natural da Arrábida

«Segundo Sofia Castel-Branco da Silveira, directora do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Litoral de Lisboa e Oeste do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, «a criação de um museu subaquático é projecto interessante para a região e para o próprio Parque, quer em termos culturais quer turísticos», acrescentando que

«no que se relaciona com o ordenamento e o regulamento do Parque, este projecto é compatível com os seus objectivos e com a conservação dos valores naturais em causa, particularmente se localizado em áreas de protecção complementar».Quanto ao mar da Pedra como localização para a instalação do Museu, a responsável considera-a «bastante apropriada face ao ordenamento do Parque e provavelmente também uma das mais convenientes face aos fins a que se destina – a visitação por mergulhadores que chegarão vindos pela Vila de Sesimbra».

Associação de Armadores de Pesca do Centro e Sul (AAPCS)

«O presidente da AAPCS, João Narciso, declarou

que «a associação está de acordo com a criação do museu subaquático», mesmo no que se refere à localização. «Não estávamos contra, pois, segundo apurámos, não prejudicava. Até porque a zona não é muito procurada para pescar».

No entanto, o responsável referiu que «apenas um grupo de 3 ou 4 pescadores se opôs à ideia», não sabendo o porquê desse descontentamento, acrescentando que «a autarquia decidiu repensar a localização do museu e estamos à espera de saber as conclusões».

Casa Mar Novo – Artigos de pesca

«Penso que seria positivo, mais um atractivo turístico.

Os pescadores são contra, pelo menos foi o que ouvi dizer», declara António Alves, gerente da loja.