Museus e Revitalização Urbana - HOFFMAN

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Cad. Metrop., São Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014 hp://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2014-3211 Museus e revitalização urbana: o Museu de Artes e Ofícios e a Praça da Estação em Belo Horizonte* Museums and urban revitalization: Museu de Artes e Ofícios and Praça da Estação in Belo Horizonte Felipe Eleutério Hoffman Resumo Uma das condições principais em que se observa o nascimento de novos espaços museológicos são os museus implantados durante os chamados proces- sos de revitalização urbana. Se o que se pretende com essas iniciativas é dar “nova vida” a espaços antes considerados “degradados”, cabe se per- guntar qual o papel que essas instituições têm a desempenhar nesses processos. Observando que no Brasil, no final do século XX e início do atual, se desenvolveram diversas propostas e projetos de requalificação urbana, selecionaram-se, como alvo da presente reflexão, o processo de implantação do Museu de Artes e Ofícios (MAO) e sua correlação com os processos de revitalização urbana de parte da região central da cidade de Belo Horizonte. Palavras-chave: museu; cidade; revitalização ur- bana; Praça da Estação; Museu de Artes e Ofícios. Abstract One of the main conditions in which the birth of new museums is observed are the museums that are implemented during the urban revitalization process. If what is intended with these initiatives is to give “new life” to areas that were previously considered “degraded”, it is worth asking what role these institutions should play in these processes. In view of the fact that in Brazil, in the late twentieth century and in the beginning of the current century, several urban regeneration proposals and projects were developed, we selected the process of implementation of the Museu de Artes e Ofícios (Museum of Arts and Trades – MAO) as the target of the present investigation, as well as its connection with the urban revitalization process of part of the central region of the city of Belo Horizonte. Keywords: museum; city; urban revitalization; Praça da Estação (Station Square); Museu de Artes e Ofício.

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Uma das condições principais em que se observam o nascimento de novos espaços museológicos são os Museus implantados durante os chamados processos de revitalização urbana. Se o que se pretende com estas iniciativas é dar “nova vida” a espaços antes considerados “degradados”, cabe se perguntar qual o papel que estas instituições têm a desempenhar nestes processos. Observando que no Brasil no final do século XX e início do atual se desenvolveram diversas propostas e projetos de requalificação urbana, selecionou-se como alvo da presente reflexão, o processo de implantação do Museu de Artes e Ofícios (MAO) e sua corelação com os processos de revitalização urbana de parte da região central da cidade de Belo Horizonte.

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Cad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014htp://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2014-3211Museus e revitalizao urbana:o Museu de Artes e Ofcios e a Praada Estao em Belo Horizonte* Museums and urban revitalization: Museu de Artese Ofcios and Praa da Estao in Belo Horizonte Felipe Eleutrio HoffmanResumoUma das condies principais em que se observa o nascimento de novos espaos museolgicos so os museus implantados durante os chamados proces-sos de revitalizao urbana. Se o que se pretende com essas iniciativas dar nova vida a espaos antesconsideradosdegradados,cabeseper-guntar qual o papel que essas instituies tm a desempenhar nesses processos. Observando que no Brasil, no nal do sculo XX e incio do atual, se desenvolveram diversas propostas e projetos de requalicao urbana, selecionaram-se, como alvo da presente reexo, o processo de implantao do Museu de Artes e Ofcios (MAO) e sua correlao com os processos de revitalizao urbana de parte da regio central da cidade de Belo Horizonte.Palavras-chave: museu; cidade; revitalizao ur-bana; Praa da Estao; Museu de Artes e Ofcios.AbstractOne of the main conditions in which the birth of new museums is observed are the museums that areimplementedduringtheurbanrevitalization process. If what is intended with these initiatives is to give new life to areas that were previously considered degraded, it is worth asking what role these institutions should play in these processes. In view of the fact that in Brazil, in the late twentieth century and in the beginning of the current century, several urban regeneration proposals and projects weredeveloped,weselectedtheprocessof implementationoftheMuseudeArteseOfcios (Museum of Arts and Trades MAO) as the target of the present investigation, as well as its connection with the urban revitalization process of part of the central region of the city of Belo Horizonte.Keywords: museum; city; urban revitalization; Praa da Estao (Station Square); Museu de Artes e Ofcio.Felipe Eleutrio HomanCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014538IntroduoO papel dos museus no mundo tem sido alvo das mais diversas anlises ao longo dos anos, principalmente no mundo contemporneo em que esse papel tem sido cada vez mais alvo de diversos questionamentos. As formas de repre-sentao do outro, o distanciamento entre o museu e pblico, que muitas vezes os conside-ra lugar de coisa velha so apenas algumas das questes com as quais os museus devem lidar na contemporaneidade. No entanto, como colocado por Tostes (2004, p. 5), a importn-cia dos museus no mundo contemporneo no pode ser negada, e muito menos ignorada, o que se pode notar que, mesmo sendo ques-tionados, os museus continuam em voga como espao pblico (Huyssen, 2004, p. 101). De fa-to, as instituies museolgicas continuam a se reinventar, remodelar, e at mesmo novos mu-seus continuam a surgir.Dentre as condies em que se obser-vam o nascimento de novos espaos museol-gicos, se encontram principalmente na relao destes com o espao urbano, os museus im-plantados durante os chamados processos ou operaes de revitalizao urbana. Se o que se pretende com essas iniciativas dar nova vida a espaos antes considerados degrada-dos e problemticos, sobre diversos aspectos, cabe aqui o questionamento sobre qual tem sido o papel desempenhado por essas institui-es nesses processos.Obser vandoquenoBrasil,nofinal do sculo XX e incio do atual, se desenvol-veramdiversaspropostaseprojetosdere-qualificao urbana, coube selecionar, como alvodapresentereflexo,umadasregies em questo que compreende parte da regio central da cidade de Belo Horizonte, mais es-pecificamente a regio da Praa Rui Barbosa, popularmente conhecida como Praa da Es-tao. O processo de revitalizao pelo qual essa passou em tempos recentes e sua inte-grao com a implantao do Museu de Artes e Ofcios (MAO) podem nos ser teis para evi-denciar novas perspectivas no relacionamento museu e espao urbano requalificado. Num primeiro momento sero abordados os processos de revitalizao urbana e sua con-ceituao, apontando algumas problemticas inerentes a tais processos e a incorporao da cultura e das instituies museolgicas nessas propostas. Em seguida, sero tratadas a inser-o do MAO na proposta de revitalizao da Praa da Estao, bem como as dinmicas de incluso e excluso presentes no processo. Por fim, objetiva-se elencar os saldos advindos da implantao dessa instituio luz das ques-tes abordadas anteriormente, buscando en-tender o papel dessa instituio em meio ao espao urbano revitalizado.Processos de gentricaoem meio musealizaoO conceito de revitalizao comumente as-sociado tentativa de dinamizar antigas reas centrais, readaptando-as funo do presente, sendo recorrentes em discursos de gestores e profissionais do urbanismo, ensejando planos e propostas de mudana, geralmente ocorrendo nas zonas centrais de cidades, mas no restri-tas a elas (Barreira, 2010). s vezes encontrada sobre a forma de requalificao, a revitalizao Museus e revitalizao urbanaCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014539costuma designar intervenes realizadas com vistas a conferir aos espaos pblicos formas dinmicas de utilizao, baseadas em investi-mentos comumente associados ao comrcio e lazer. Nessa direo, segundo nos apontado por Barreira (2010, p. 255), Os espaos pbli-cos passam a ser alvos de projetos que visam a recuperar zonas degradadas, imprimindo-lhes outras alternativas de utilizao, oscilantes en-tre a afirmao de sentidos arcaicos e a incor-porao de novos usos a antigas edificaes.Segundo alguns autores (Falco, 2003; Botelho, 2005; Vargas e Castilho, 2006), as pri-meiras experincias teriam ocorrido no contex-to do ps segunda Guerra Mundial, se intensi-ficando nos anos de 1960 principalmente nos centros das grandes cidades norte-americanas e em algumas metrpoles europeias. Em de-corrncia de mudanas no planejamento das polticas urbanas e nos interesses do capital imobilirio, no incio do sculo XX, ocorre um esvaziamento das regies centrais das cidades. Ao longo da dcada de 1960, esses distritos centrais comeam a ser lentamente reocupa-dos por setores mais abastados da populao, que retornam aos centros urbanos em busca de vantagens advindas das proximidades ofereci-das por esses. Segundo Botelho (2005, p. 55):Moradia, trabalho, lazer e consumo esta-vam disponveis nos quarteires vizinhos para aqueles que se dispusessem a mo-rar no centro da cidade. Associava-se a isso o valor que se comeava a agregar aos imveis mais antigos, muitos deles considerados de interesse para preserva-o histrica.Segundo Smith (1996 e 2003 apud Bote-lho, 2005), o processo inicialmente era conduzi-do pelo mercado imobilirio, mas ao longo do tempo, precisamente nos anos 1990, tornou-se uma poltica urbana, uma estratgia articulada e global, fomentando diferentes modos de in-terveno com o intuito de ordenar o espao e devolver aos centros urbanos um papel he-gemnico perdido. Tais operaes passam a ser utilizadas para reforar uma determinada ima-gem da cidade que passa a ser pensada no mais como um local de produo, mas como produto de consumo, uma mercadoria, isso se devendo principalmente ao desenvolvimento da comunicao e da propaganda. So intro-duzidas tcnicas de planejamento estratgico associadas ao marketing urbano, que poten-cializado principalmente devido contribuio de uma arquitetura do espetculo, na qual tem se construdo obras monumentais, por arquite-tos de renome (Oliveira, 2008, p. 8). As propostas de revitalizao tm ocupa-do papel de destaque na compreenso da di-nmica urbana na contemporaneidade dada a abrangncia e frequncia com que tm acon-tecido. Nas ltimas dcadas, estes processos tm se caracterizado por incorporarem a cultu-racomocontedodiferenciadordasvrias expe rincias de revitalizao(Botelho, 2005, p. 54). O uso da cultura tem se destacado co-mo estratgia principal nos novos processos de revitalizao urbana. Sua insero nessas inter-venes tem objetivado uma efetiva incluso das metrpoles na competitiva rede global de cidades ditas culturais ou tursticas, com apro-moo e venda de uma imagem da cidade co-mo mercadoria. Principalmente atravs de uma patrimonializaooumuseificaodaspr-prias cidades, de seus centros ou monumentos histricos, que alguns autores passaram a de-nominar culturalizao ou musealizao das cidades (Huyssen, 2000).1 Esse contexto de Felipe Eleutrio HomanCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014540mercantilizao cultural decorre, entre outros fatores, de um processo de elitizao do espa-o: a gentrificao. Em seu sentido original, a gentrification, ou gentrificao, pressupe uma reapropriao residencial (por grupos de maior poder aquisiti-vo), o que, algumas vezes, demanda a desapro-priaodeantigosmoradores,nessasreas cen trais requalificadas (Jayme e Neves, 2010, p. 611). Com a ampliao das iniciativas de revi-talizao de centros urbanos, bem como dos es-tudos em torno do tema, ocorre um alargamento do sentido do termo que passa a se estender no s sob o aspecto residencial, mas tambm as questes comerciais e de fluxo de pessoas. Portanto, alm da gentrificao residencial, exis-te a gentrificao de consumo e de frequncia, que ser o centro da anlise deste artigo.Marcada por um carter segregacionis-ta, a gentrificao fortemente criticada, pois promove uma destradicionalizao das prticas locais na medida em que gera uma alterao dos sentidos atribudos ao patrimnio, poden-do inclusive acrescentar valores antes inexis-tentes (Leite, 2010). Essa importncia econmi-ca da cultura e o reconhecimento de seu papel na promoo da competitividade territorial das cidades tm originado uma progressiva cultu-ralizao das polticas urbanas. O que alguns autorestmidentificadopormeiodeduas correntesprincipais,sejaporcongelamento, nacriaodecidades-museu,ouatravsde uma patrimonializao desenfreada, seja por difuso, na produo de cidades genricas e deumaurbanizaogeneralizada.Nota-se que nessa nfase dada cultura nos planeja-mentos e processos urbanos tem-se observado predominantemente duas tendncias que por vezes se misturam. A recuperao do ambiente histrico existente e a criao de equipamentos culturais como ncora do projeto, destacando--se entre esses equipamentos os museus e cen-tros culturais (Vaz, 2004b, p. 229).Desdesuaimplantaonasprincipais cidades europeias no sculo XVIII os museus sempre foram prdios diferenciados, de grande significado nos grandes centros urbanos. Nas ltimasdcadas,observa-sequeboaparte dos novos museus tem se inserido em proje-toscujapropostapretendealteraroperfil socioeconmico de cidades ou regies. Cabe destacar aqui que o conceito de museu sofreu grande expanso, principalmente no contexto ps segunda Guerra Mundial no qual a cria-odoIcomtevedeterminanteinfluncia, propiciando grandes avanos na mentalidade museal em resposta s demandas sociais do ps-guerra.2 As crticas aos museus, por movi-mentos que objetivavam uma democratizao da cultura, fazem com que os museus deixem de ser espaos consagrados exclusivamente cultura das elites, aos fatos e personagens ex-cepcionais da histria e passem a incorporar as questes relativas vida cotidiana das co-munidades, s lutas pela preservao do meio ambiente e memria de grupos sociais espe-cficos (Julio, 2006). Novas prticas e teorias sinalizavam uma funo social do museu, que passava a redefinir seu papel tendo como ob-jetivo maior o pblico, e no mais seu acervo, imprimindo aos museus uma funo crtica e transformadora na sociedade, destacando-se o surgimento do conceito de ecomuseu e museu comunitrio3 e o estabelecimento de um Movi-mento Internacional por uma Nova Museolo-gia (Minom). Partindo dessas premissas, nota--se que a implantao de museus durante os chamados processos de revitalizao urbana Museus e revitalizao urbanaCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014541apresentam algumas caractersticascomuns que se repetem nos mais diversos contextos ao redor do globo.Seja com novas construes ou adapta-o de antigos marcos histricos, os museus constituem-seemmarcosurbanos,ejus-tamente essa capacidade de atrao e o seu simbolismoquetmlevadoosplanejadores e urbanistas a utiliz-los como catalisadores nas operaes urbanas. Isto sendo observado tanto do ponto de vista arquitetnico ou pai-sagstico, como a partir dos meios de comuni-cao atravs de uma veiculao miditica. O que corresponderia diretamente necessidade j elencada de criao de uma imagem para a cidade e de sua consequente insero em um mercadoglobal,quefrequentementesed atrelada questo patrimonial, seja ela cultu-ral ou natural, atravs da arquitetura de suas instituies culturais ou das formas de seu pa-trimnio natural.4Uma segunda caracterstica comum ob-servadaquandodaimplantaodemuseus nesses processos a capacidade de gerar uma aglomerao de equipamentos e instituies culturais. Segundo Vaz, quando utilizados co-mo ncoras do processo de revitalizao urba-na, os equipamentos culturais tendem a defi-nir uma espacialidade que lhes assegura uma irradiao sobre seu entorno (2004b, p. 232). Dessa forma a instalao de um museu pode atrair atividades comerciais, bares, restauran-tes, livrarias e outros equipamentos culturais, acabando por gerar uma espcie de territrio cultural. Esse efeito pode surgir espontanea-mente a partir de pessoas ou de grupos infor-mais de produtores culturais que transformam o local em uma alternativa cultural, ou pode ser induzido, atravs de investidores privados que objetivam atrair determinado segmento de consumidores e novos habitantes, ou ain-da atravs de um planejamento estatal com aintenodefomentarachamadaecono-mia criativa (Amazonas e Lima, 2010). Quan-do esse efeito planejado, como geralmente ocorre em processos de revitalizao urbana, esses recortes vm sendo denominados dis-tritos culturais. Nas palavras de Vaz (2004b, p. 233), o distrito cultural caracteriza-se como uma rea espacialmente distinta e limitada que contm alta concentrao de ofertas cul-turais tanto em termos de consumo como de produo. Esse tipo de agrupamento seria ca-paz de produzir um impacto positivo sobre a produo cultural na medida em que propicia a interao, aprendizado, troca de experin-cias, competio e teste de ideias entre artistas e outros empresrios culturais. Ao mesmo tem-po apresentando um efeito sobre a melhora na qualidade de vida da comunidade local (Ama-zonas e Lima, 2010).5Seja atravs de sua capacidade de mar-carevalorizaroespaourbanooudeseu potencial como um agregador de instituies culturais e investimentos, nota-se que o museu se apresenta como um forte atrativo turstico. Para alguns autores, essa capacidade de atin-gir uma massa crtica inclusive considerada uma condio essencial para o sucesso dessas instituies (ibid.). Porm observa-se que a im-plantao de museus quando da execuo de projetos de revitalizao urbana, quando no atreladaaumacoeso,valorizao,partici-pao e desenvolvimento das comunidades e dos territrios envolvidos, corrobora o proces-sodegentrificaodosespaos.Resultando empolticasdeenobrecimentodoterritrio, que modificam os significados das instituies Felipe Eleutrio HomanCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014542museolgicas,fazendocomquesetornem apenas atrativos com alto potencial turstico, emcentrosdelazer,transformandoopatri-mnioemmercadoriaaltamentevalorizada (Botelho,2005).Menesesnoslembraquea insero da cultura como capital para projetos derecupe raoerenovaourbanafizeram do museu uma alavanca essencial. Entretanto, verifica-se que o habitante tem sido margina-lizado do processo, sendo substitudo pelo tu-rista. O autor prope que a prioridade absoluta seja dada ao habitante, sem que, no entanto, se promova a excluso de ningum, muito menos do turista, e completa: supe-se que o que bom para o turista tem necessariamente que ser bom, antes, para o habitante (Meneses, 2004a, p. 259). Nesse sentido, a implantao de museus que estejam em consonncia com a cultura, os desejos e a vocao da populao da cidade se torna essencial, para se evitar uma dominao simblica do espao a ser revitali-zado. Projetos que no tenham legitimidade local ou que venham a meramente reproduzir modismos importados tendem a ter um efeito negativo sobre a identidade local, evidencian-do um retrocesso na mudana proporcionada pela percepo da funo social dos museus (Amazonas e Lima, 2010, p. 101). Ainda que isoladamente os museus no sejam capazes de sustentar o desenvolvimento de uma localidade, verifica-se sua fundamental importncia como potencial atrativo de investi-mentos e fluxos, assim como seu papel essen-cial como instrumento de valorizao de uma identidade local. O MAO como alavanca para a revitalizaoda Praa da EstaoDe fato, a partir do projeto de implantao doMAOqueaprefeituradacapitalretoma um processo de recuperao da regio, cujos desdobramentos reverberam em um processo mais amplo de revitalizao de toda rea cen-tral de Belo Horizonte.6 Tal processo se mostra emperfeitaconsonnciacomastendncias apontadas por diversos autores, (Falco, 2003; Botelho,2005;Barreira,2010)deexecuo por parte do poder pblico, de estratgias que visam a recuperao e a adaptao das estru-turas histricas dos centros das cidades com vistas reverso de processos de degradao e retomada de um papel hegemnico dessas regies. O que se daria efetivamente a partir de uma perspectiva de incremento das atividades tursticas e culturais.Comonosapontadoemdocumento presente no banco de experincias do Minis-trio das Cidades, esse plano de requalificao do centro de Belo Horizonte teria como um de seus objetivos: incorporartodososagentessociaisda cidade dentro de uma perspectiva de tor-nar Belo Horizonte um grande centro de produoeconsumodecultura,resga-tando uma dvida que a capital tem com os mineiros de no ser ainda um espao representativo e seminal para a cultura de Minas como foi Ouro Preto. (Brasil, Minis-trio das Cidades, 2007) Museus e revitalizao urbanaCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014543Combasenessetrecho,nota-seclara-mente a elaborao de um discurso para a ci-dade que passa a ser pensada no mais apenas como um local de produo, mas como um pro-duto de consumo, uma mercadoria. Se enqua-drando perfeitamente nas caractersticas ob-servadas em intervenes urbanas, apontadas por Vargas e Castilho (2006), na chamada fase de Reinveno Urbana. Ainda com relao a tal plano percebe-se nele o papel fundamental do processo de recuperao da Praa da Estao na medida em que essa apontada como ni-co espao livre no centro da cidade, capaz de sediar grandes eventos pblicos festas, com-cios, shows, representaes teatrais , sendo considerada ainda como rea prioritria de requalificaodoespaourbano.Cabepor fim mencionar o apontamento da implantao do MAO como possibilidade de se tornar um dos lugares mais visitados de Belo Horizonte (Brasil, Ministrio das Cidades, 2007).Tal compromisso do Museu como alavan-ca para o processo de recuperao e revitali-zao da Praa Estao pode ser evidenciado em um discurso da prpria instituio desde sua concepo. Como pode ser observado nos anais dos Seminrios de Capacitao Museo-lgica, a Requalificao do espao urbano: os desafios impostos pela edificao e seu entor-no constam como um dos quatro eixos de seu Figura 1 Primeiro prdio da Estao Central do Brasil,na Praa da Estao (1905). Demolido no incio da dcada de 1920Fonte: Museu de Artes e Ofcios. Projeto Fio da Meada. Contando histria: Praa Rui Barbosa Estao. Belo Horizonte. A primeira dcada do sculo XX. Disponvel em: http://www.mao.org.br/odameada/praca/pop.html).Felipe Eleutrio HomanCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014544projeto museolgico (ICFG, 2004, p. 19). Nesse sentido, so retomadas vrias vezes durante o documento a importncia do papel a ser cum-prido pelo museu como instrumento de requali-ficao de uma rea urbana que, apesar de sua importncia histrico-cultural para a populao de Minas Gerais, est completamente degrada-da (ICFG, 2004, p. 20), da mesma forma levan-ta-se a importncia dessa ao de recupera-o do espao da Praa da Estao para fruio da populao no apenas da capital mineira, mas de todo o pas (ICFG, 2004, p. 20). Ain-da nesae sentido, cita-se como imprescindvel que se estabelea um cronograma de obras e compromissos com os diversos rgos da Pre-feitura de Belo Horizonte, para o tratamento do entorno da edificao (ICFG, 2004, p. 22). Manifesta-se tambm a inteno do museu de firmar parcerias com outros projetos da pre-feitura voltados para a requalificao da vida urbana de Belo Horizonte (ICFG, 2004, p. 24).Dessa forma, torna-se clara a inteno de que a partir da implantao desse espao mu-seolgico se retomasse um antigo projeto de revitalizao urbana que tem uma longa traje-tria, que remonta aos movimentos sociais em defesa da regio na dcada de 1980, passando pelas sucessivas tentativas de recuperao na dcada de 1990, mas que no saram do pa-pel. O MAO, ao ser implantado nos edifcios da Estao Central, passava a representar uma oportunidade indita de requalificao arquite-tnica e de revitalizao sociocultural da rea que os circunda (Franco, 2004).7 Figura 2 Vista do prdio da Estao, a partir do eixoda antiga Av. do Comrcio (hoje Av. Santos Dumont). Inaugurado em 1922Fonte: Museu de Artes e Ofcios. Projeto Fio da Meada. Contando histria: Praa Rui Barbosa Estao. Belo Horizonte. Dcada de 1920. Disponvel em: http://www.mao.org.br/odameada/praca/pop.html Museus e revitalizao urbanaCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014545Semadentrarnomritodasmodifica-es fsicas do espao em si, o processo de re-vitalizao associado implantao do Museu permitiu a reverso de um processo claro de degradao do espao. No entanto, necess-rio explicitar aqui o que se est entendendo co-mo degradao visto que essa a principal justificativa para a necessidade dessas inter-venes no espao urbano. Vaz (2004a, p. 3) a caracteriza como uma alterao no fluxo que se dirigia ao centro urbano. Alterao essa em termos de intensidade, natureza, receita e renda. Ainda tratando da questo da degra-dao, Barreira (2010) nos chama ateno pa-ra os conflitos simblicos que se efetivam em torno do uso do espao pblico, salientando que muitas vezes justifica-se a interveno em nome de um esvaziamento destses espaos, o que, segundo a autora, revela-se na verdade como um ocultamento das chamadas presen-as indesejveis.A regio da Praa da Estao encontra-va-se em um processo de degradao, ocor-rendo, nas proposies de Vaz (2004a), uma clara alterao nos fluxos que se dirigiam regio. Transformava-se, de porto de entra-da da capital, em estacionamento, oficina in-formal, abrigo para moradores de rua, lugar depassagemaserevitadopelapopulao localdevidoasuaimagemassociadacom roubos, assaltos, prostituio, sujeira, delin-quncia entre outros fatores.8 A implantao domuseueoprocessoderevitalizaose colocam como essenciais para reverso deste contexto de degradao, na medida em que, almderecuperarfisicamenteoambiente (ainda que em uma determinada proposta e discurso), torna-se capaz de reverter tambm essa imagem.9O MAO entre a segregao e a inclusoNeste momento, cabe mencionar a questo dos conflitos simblicos que se efetivam em torno dos usos do espao pblico. Conforme coloca-do por Barreira necessrio no se esquecer dos ocultamentos das presenas indesejveis que se configuram tambm como uma das jus-tificativas e consequncias da execuo de pro-cessos de revitalizao (2010). Faz-se necess-rio levar em considerao a multiplicidade de relaes e sentidos que se efetivam no espao urbano, incluindo aqui mesmo aqueles mar-gem dos processos culturais, sociais e polticos hegemnicos e que so na maioria das vezes desconsiderados por serem banais e fragmen-tados (Campici et al., 2006, p. 2).Dessa forma, chega-se a uma das ques-tesessenciaisaseremobservadasquando da anlise de processos de revitalizao urba-na, a ocorrncia do processo de gentrificao. Nopresentecaso,pornosetratarderea com forte sentido residencial e relembrando os apontamentos de Botelho, a revitalizao provocou uma modificao dos usos, mas no modificou o padro residencial das reas afe-tadas, portanto consideraremos como foco das anlises as questes relativas gentrificao de consumo e frequncia (2005).ComrelaocirculaopelaPraa, nota-se claramente o aumento do policiamento pela Guarda Municipal, o que pode contribuir na coibio de crimes e atos vandlicos, porm tal coibio no se reflete no direito de ir e vir Praa da Estao. Por ela circulam diariamente moradoresderua,trabalhadores,famlias, casaisdenamoradosecrianas.Damesma Felipe Eleutrio HomanCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014546forma, a Praa acolhe eventos de carter varia-do, a maioria de grande concentrao popular como shows, manifestaes civis, celebraes festivas e religiosas. Portanto no se v, a priori, um processo claro de segregao e elitizao do espao. No entanto, fazem-se necessrias algumasobservaes.Conformenosaponta Giffoni, o Plano de Reabilitao do Hipercentro de Belo Horizonte, datado de maio de 2007, nos demonstra, em uma sntese da dinmica urbana, que a maior apropriao existente na rea do Conjunto Arquitetnico e Paisagstico da Praa da Estao da populao de rua. Em cima dessa constatao, a autora pontua que as propostas existentes para o lugar no vali-dam esse uso e no apontam alternativas para esse pblico, o que pode caracterizar um pro-cesso de gentrification no local (2011, p. 6). Sem que seja proposta aqui uma abordagem de vitimizao do indivduo preciso que se-jam implementadas aes que busquem uma integraodessaspessoasnovadinmica social e econmica do lugar, compreendendo a questo da populao de rua como uma situa-oqueperpassaporquestessociaismais profundas.Nessesentido,faz-senecessrio propor aes de valorizao e apropriao de maneira plural e inclusiva (Giffoni, 2011).A praa tambm j se transformou em centro de conflito. Em janeiro de 2010, a pre-feitura de Belo Horizonte decretou a proibio de eventos de qualquer natureza nesse espao (Decreto n. 13798). Tal ao justificava-se pelas dificuldades de se limitar o nmero de pessoas e de garantir a segurana pblica no local de-vido aglomerao, bem como as depredaes ocorridas ao patrimnio pblico em decorrn-cia dos eventos realizados na Praa. Sem julgar a pertinncia ou no de tal instrumento, o fato que ocorria uma falta de dimensionamento e consequentemente de controle de tais even-tos. No entanto, tal proposio (a de se proibir eventos de qualquer natureza) acabou gerando grande movimentao por parte da sociedade civil, o que acabou culminando em sua revi-so por parte da prefeitura. Dessa forma, em setembro de 2011 ocorre a publicao da cha-mada Lei da Praa Livre (Lei n. 10277), que dispe sobre a realizao de atividades artsti-cas e culturais em praa pblica no municpio.O que cabe destacar aqui a ocorrncia clara de um processo de gentrificao do es-pao, induzido pela administrao municipal, que repercutiu de maneira negativa inclusive para o MAO. Isso se devendo principalmente ao fato que o MAO passou a ser identificado como a sede principal da Praa por parte de alguns habitantes, que direcionaram suas cr-ticas sua administrao.10 Faz-se necessrio entender que h um conflito entre o projeto da Praa da Estao como um espao para a rea-lizao de grandes eventos e o novo uso dos prdios como museu. Tal conflito pode ser veri-ficado em entrevista realizada por Sales, com a coordenao em Museologia do Museu (Sales, 2010). Outra observao que se faz necessria, a respeito da ocorrncia de um processo de gentrificao no contexto aqui analisado, est relacionada natureza do prprio MAO como museu e realidade dos museus brasileiros. Como visto anteriormente, o processo de im-plantao do MAO herdeiro de uma poca em que j se discute amplamente a necessi-dade dos museus de terem uma funo crtica e transformadora da realidade social. Com a quebra de um paradigma dos museus como lu-gares associados exclusivamente ao universo Museus e revitalizao urbanaCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014547simblico das elites e a uma ideia hierarquiza-da de cultura, bem como de um alargamento da noo de patrimnio (Choay, 2001; Julio, 2006; Mattos, 2010). Questes essas que se rebatem, por exemplo, na natureza do acervo do Museu e na temtica a qual esse se dedica, artefatos do sculo XVIII ao XX relacionados ao universo do trabalho pr-industrial no pas e o trabalho como herana patrimonial respec-tivamente. Alm disso, os prprios edifcios que o Museu ocupa se constituem como tes-temunhos da era industrial, que passam a ser considerados patrimnio a partir das mesmas questes. No entanto, como confirmaremos a partir dos dados de alguns pesquisadores (Cougo, 2007; Corra, 2010), ainda com todos os esforos engendrados no sentido de uma maior participao popular nos museus, tan-to nas questes relativas s suas representa-es nesses espaos (Cunha, 2012), como de sua frequncia a essas instituies, os museus brasileiros ainda so lugares visitados em sua maioria por camadas representantes das elites sociais. E nesse quesito o MAO no constitui exceo.11 Nesse sentido, pode-se perceber, no presente caso, uma conformidade com os apontamentos de Queirs (2007), para o qual a implantao de instituies culturais em es-tratgias de revitalizao urbana acaba por inevitavelmente resultar em um processo de gentrificao. Pois tais instituies so capa-zes de atrair um certo tipo de pessoas, pes-soasessaspertencentesaogrupoquemais consome cultura.SobreacapacidadedoMAOdeatuar no seu entorno produzindo um distrito cul-tural(Vaz,2004b),12jseevidenciavama recuperao do centro histrico da cidade e a possibilidade de transformao da regio em um polo cultural, com o Museu atuando como molapropulsoradoprocesso.Dessemodo, retomando o conceito de Vaz, no qual o dis-trito cultural se caracterizaria como uma rea espacialmente distinta e limitada que contm alta concentrao de ofertas culturais tan-to em termos de consumo como de produo (2004b, p. 233).13 O oficialmente denominado Conjunto Paisagstico e Arquitetnico da Praa Rui Bar-bosa14 compreende uma srie de edificaes localizadas em territrio no centro de Belo Ho-rizonte, atravessado pelo Crrego Arrudas e de-limitado a norte e a sul pelos viadutos da Flo-resta e Santa Tereza. Nessa faixa de territrio localizada na regio central da cidade podem ser encontradas uma multiplicidade de iniciati-vas que se agregam de maneira induzida, atra-vs de investidores privados e do planejamento estatal como, por exemplo, a Sede da Superin-tendncia do IPHAN e a representao regional da Funarte, instaladas na antiga Casa do Con-de de Santa Marinha, e a Serraria Souza Pinto, que funciona como centro cultural recebendo eventos de natureza diversa. H tambm ins-tituiesemovimentosqueseagregamde maneira espontnea, no induzida, a partir de pessoas ou de grupos informais de produtores culturais, caso do Duelo de MCs e das ocupa-es de diversos movimentos como o Praia da Estao, que ocorrem nos espaos do viaduto Santa Tereza e na Praa da Estao. Alm das instituies e atividades j consolidadas no es-pao, existe o projeto de criao oficial de um corredor de instituies culturais nomeado Cor-redor Cultural Estao das Artes. Uma proposta da Fundao Municipal de Cultura FMC, que ser executada com recursos do Programa de Acelerao do Crescimento PAC das Cidades Felipe Eleutrio HomanCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014548Histricas, com vistas a uma nova requalifica-o dos espaos incluindo melhoria dos pas-seios, iluminao e a sinalizao dos prdios e monumentos, alm da restaurao da antiga hospedaria, na Rua Aaro Reis, futura sede da Escola Livre de Artes (Canado, 2013). Para a execuo do projeto foi realizado um levan-tamento pela FMC na regio, que identificou mais de 20 equipamentos e instituies ligados rea cultural.A partir desta diversidade de instituies e propostas, fica claro aqui o estabelecimento de um distrito cultural a partir da implantao doMuseuedoprocessoderevitalizaoda Praa Rui Barbosa. O MAO entre o espetculo e o frumQuando utilizados em processos de revitaliza-o urbana, verificam-se duas tendncias que podem se amalgamar, o museu como atrativo turstico, e o museu como instrumento de de-senvolvimento local.Implantado a partir de uma iniciativa do ICFG, em parceria com o Ministrio da Cultu-ra e a CBTU, portanto fruto de uma parceria entre o setor pblico e a iniciativa privada, o MAOquandoanalisadoemconjuntocomo processo de revitalizao da Praa da Estao e, em sentido mais amplo, com o programa de aes de requalificao do centro da cidade (Centro Vivo), com a ampliao das vias de cir-culao da regio (Boulevard Arrudas), com o sistema de transporte rpido por nibus (BRT) e com a sua ligao estratgica ao Aeroporto Internacional de Confins (Linha Verde), parece acompanhar as tendncias observadas ao re-dor do globo, de utilizao de estratgias de marketing urbano, baseadas em intervenes de grande porte para a promoo de uma ima-gem de cidade voltada para o turismo (Olivei-ra, 2008). No entanto, a partir da anlise de suas especificidades que se pode chegar a ou-tros pontos de vista. Comeando pelas qualidades do prdio em si que j se constitua como um marco do espao urbano da cidade, mas no se est fa-lando aqui apenas de suas caractersticas est-ticas, mas tambm de sua identificao afetiva com os moradores da cidade que guardam na lembrana os primrdios da regio.15Alm disso, aps a execuo do projeto de revitalizao e da criao do Museu, a ima-gemdomesmotemsidoalvodeumacons-tanteexposiomiditica.Comoexemplos, podem-se citar as diversas campanhas de di-vulgao da cidade para o turismo, vdeos co-memorativos de redes de televiso, veiculao como imagem de fundo em telejornais locais, capasdelistastelefnicas,revistas,postais, matrias em jornais e revistas, divulgao de sua imagem em trufas de chocolate, alm de ocupar posio de destaque no portal do go-verno federal criado para divulgao da Copa de2014noBrasil,naseodacidade-sede BeloHorizonte.Dessaforma,pode-sedizer que as imagens criadas pela Praa da Estao aps sua revitalizao e pelos edifcios da Esta-o Central, restaurados para abrigar o MAO, coadunam com a imagem do destino Belo Ho-rizonte, como um destino de turismo cultural. Tanto que essa imagem sistematicamente utilizada em todas as campanhas promocionais realizadas pela Belotur e Setur/MG (Gifffoni, 2010, p. 56). Museus e revitalizao urbanaCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014549Somadas as transformaes em grande escala ocorridas no espao, tal cenrio poderia, conforme enunciado por Jacques, apontar para a ocorrncia de um processo de mercantili-zao espetacular da cidade (2004), no qual as estratgias de marketing urbano e turismo lanariamessaimagemespetaculardaurbe em uma competio internacional do mercado de cidades tursticas, que se d principalmen-te atravs de atrativos culturais. No entanto, aindaqueoMAOsejaidentificadocomoo principal gerador de fluxo turstico para o local (Murta, 2008; Giffoni, 2010; Corra, 2010), ele est longe de promover tal espetacularizao. As razes para tanto esto contidas na prpria forma com que o Museu vem atuando na so-ciedade, na apropriao por parte da sociedade dosespaosrevitalizadose,porfim,emum descompasso das instncias governamentais na potencializao de um turismo cultural na capital. Murta (2008) e Giffoni (2010), em tra-balhos de pesquisa a respeito do potencial tu-rstico da regio da Praa da Estao, identifi-cam de maneira semelhante uma presena inci-piente do turismo no espao. Verifica-se a exis-tncia de planos de potencializao turstica nas trs esferas de governo, com metas quan-tificadas para o setor turstico, mas tais planos se apresentam de maneira genrica e no in-dicam aes de retroalimentao do sistema, que levem o turista ao atrativo (Giffoni, 2010). Identifica-se que, apesar de pesquisas feitas pela Fundao Getlio Vargas (FGV) em parce-ria com o Ministrio do Turismo apontarem que Figura 3 - Vista Parcial dos Jardins e dos edifcios da Praa em 1954Fonte: Museu de Artes e Ofcios. Projeto Fio da Meada. Contando histria: Praa Rui Barbosa Estao.Belo Horizonte. Dcada de 1930. Disponvel em: http://www.mao.org.br/odameada/praca/pop.html Felipe Eleutrio HomanCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014550os principais atrativos do destino turstico Belo Horizonte se caracterizam na viso do turista nacional em 50% e na do turista estrangeiro em 48% pela oferta de turismo cultural, h um descompasso entre a identidade/imagem turs-tica que se pretende estabelecer para a cidade pelo governo estadua l (turismo de negcios) e pela municipalidade (turismo cultural). Sendo necessria uma integrao entre as duas ins-tnciasparaumaaoconjuntaquedecida o destino turstico de Belo Horizonte (Giffoni, 2010, p. 60).Aindaquesepercebaumavisoda prefeitura municipal para um uso turstico do conjunto da Praa da Estao, identifica-se que esse uso turstico do espao no se sobreps aseuusocotidiano.Pelocontrriohuma apropriao por parte da sociedade na qual se vislumbra uma presena marcante no cotidiano da regio pela populao local. A Praa da Es-tao, sustentada por sua histria, inserida no cotidiano da populao residente e transforma-da para acolher visitantes, no se fez exclusiva-mente para o turismo, mas se apresenta agora tambm para ele (Murta, 2008, p. 130). Esses apontamentosvodeencontroaoproposto por Meneses, para o qual, na insero da cultu-ra como capital para projetos de revitalizao urbana, toda a prioridade deve ser dada ao ha-bitante, sem, no entanto, promover uma exclu-so do turista (2004b). Ainda segundo o autor, o habitante relaciona-se de forma intensa, con-tnua, constante, atingindo nveis muito abaixo da superfcie das aparncias. J o turista, por mais que sua disposio seja grande e genero-sa, no conta com os efeitos cumulativos da habitualidade, da continuidade, do acrscimo de valor que a experincia cotidiana e a me-mria podem gerar pouco a pouco. A falta de integrao numa trama da vida reduz a fruio ou a concentra predominantemente na dimen-so visual. Dessa forma, preciso estar atento para a inverso de prioridades que o chamado turismo cultural pode acarretar (Meneses, 2004b, p. 202). Oquefeitoparaacidadepodecom certeza ser aproveitado para o turismo, boas exposies, bons projetos, espaos agradveis que a populao frequente. O turista se sente seguro ao perceber que a populao circula pe-los espaos que ele visita. Espaos apropriados pela populao atraem usos que so interes-santes tambm para o turista (Murta, 2008, p. 99). Alm disso, essa apropriao do espa-o urbano por parte da populao local vai de encontro ao postulado por Jacques, para quem a chave para reverso de processos de espeta-cularizao do espao estaria em uma efetiva participao da sociedade atravs dos usos e significados diversificados que essa imprime ao espao pblico. Contribuindo para a construo de uma cidade como palco, transformando o ci-dado em ator protagonista ao invs de mero espectador (2004).Dessa forma, observa-se que no s na Praa da Estao, mas que no Conjunto Paisa-gstico e Arquitetnico da Praa Rui Barbosa como um todo, diversos atores sociais conse-guem reverter um possvel processo de gentri-ficao no espao ao se apropriarem do mes-mo, seja para encontros ou eventos variados. Iniciativas como o Duelo de MCs, o Quarteiro Eletrnico, Praia da Estao e os movimentos de ocupao nos do prova disto. Museus e revitalizao urbanaCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014551SeaPraadaEstaoeraapenasum corredordepassagem,nelahoj eh uma integrao que provoca um proces-sodeinclusomuitointeressante,um compar tilhamentodoespaopblico por grupos diferenciados. Isso constitui umpontopositivoemumprocessode revitalizaoderea,emquenormal-mente acontece o contrrio, havendo a exclusodosfrequentadoresoriginais. (Murta, 2008, p. 106)Ainda nos resta por fim abordar como a atuao do MAO tem contribudo para a inclu-so efetiva desse morador. Adentramos, por-tanto, nas postulaes sugeridas por Queirs, para o qual espaos de cultura implantados, anteriormente ou a partir de processos de revi-talizao urbana, teriam um papel fundamental a desempenhar nesses processos, a partir de sua atuao e integrao com a realidade so-cial local (2007).NohdvidadequeoMAOuma instituioqueincorporaemsuaproposta um conceito contemporneo de museu. Des-sa maneira, podemos encontrar em suas ins-talaes uma linguagem expositiva que faz usoderecursostecnolgicosemultimeios, comoprojeesdevdeo,ambientaoso-noraecontedoextra,disponibilizadosem multimdias. Sua proposta museogrfica, exe-cutada pela Panopts Musographie e assina-da pelo musegrafo francs Pierre Catel, pro-pe uma integrao museu/estao de modo a fazer com que o usurio do metr se per-ceba imedia tamente, sob os mais diferentes pontos de vista, dentro de um museu (IGFG, 2004, p. 28). Alm disso, o Museu conta com espaos de consumo como o Caf dos Ofcios, sua loja e ainda dispe de espaos alterna-tivospararealizaodeeventosculturais, empresariais e sociais, identificados como de-mandas de uma indstria cultural.O que inicialmente poderia apontar pa-ra a existncia de um museu-espetculo,16 acaba, no entanto, nos demonstrando em um olhar mais aprofundado que a escolha dessas linguagens no Museu se d de maneira bas-tante acertada. Em um primeiro momento com relao proposta museogrfica executada, houve de fato uma valorizao do edifcio com a presena de algumas estruturas adaptadas, que, no entanto, no promovem uma descarac-terizao do mesmo. Os prdios das estaes Central do Brasil e Oeste de Minas se destacam na paisagem urbana sem que se sobressaiam intervenes e acrscimos contemporneos.OusodetecnologiasnoMuseused como complementao da linguagem exposi-tiva, de modo a permitir que no MAO se fa-am presentes diferentes ritmos de visita. Em nenhum momento tal recurso se sobressai so-bre os artefatos expostos na instituio. So eles (os artefatos) que se destacam todo tem-po, articulados conforme os enfoques temti-cos do Museu.Quanto presena dos espaos de con-sumo no MAO, fao aqui duas observaes. A primeira vem da necessidade de percepo dos museus como fenmenos sociais, que esto intrinsecamenterelacionadosssociedades queosgeram(Abreu,2012,p.11);nessa medida esto permanentemente se transfor-mando e se adequando a demandas sociais (Abreu, 2012, p. 12). A segunda observao se apresenta na forma de uma breve colocao de Meneses para o qual nesta tica, valor cultu-ral e valor econmico no so contraditrios e muito menos excludentes. Contraditrias, sim, e excludentes so as lgicas culturais e as de Felipe Eleutrio HomanCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014552mercado (2004a, p. 269). O que quero apon-tarcomtaisobservaesque,seoMuseu oferece tais espaos para consumo, sua exis-tncia se justifica a partir da identificao de uma demanda social para tal. Ainda que os ar-tefatos nele presentes no se encontrem mais nesse contexto, no se deve retirar o espao do museu do mundo cotidiano, do ciclo da vida. preciso incentivar novas formas de apropriao do Museu desde que essas no coloquem em risco o patrimnio sob guarda da instituio e que as mesmas no resultem em um conflito no cumprimento de sua misso e funo so-cial. Portanto, se h demanda para se realizar reunies, palestras ou festas no MAO considero favorvel que ele seja utilizado dessa forma.Ainda que colocadas todas as observa-es acima, o motivo primordial pelo qual o MAO no se constitui como um espao espe-tacularizado reside no fato de que, em sua per-cepo, o fluxo de visitantes est fundamen-talmentecentradonocidadolocalcomoo principal usurio do Museu. Tal acontecimento no se d de maneira gratuita, antes de tu-do uma mentalidade institucional, para a qual contribuem alguns fatores presentes na gnese da instituio. Nestemomento,colocoemdestaque aqui as discusses a respeito da funo social dos museus a partir da dcada de 1970 e de como tais discusses evidenciam novos mo-delos de relacionamento museu/sociedade a Figura 4 Vista da fachada do Prdio da Estao Centralde Belo Horizonte Sede do MAOFonte: Divulgao Belotur. Guia das Sedes da Copa do Mundo: Brasil 2014. Disponvel em: http://www.copa2014.turismo.gov.br/export/sites/default/copa/guia_sedes/Belo_Horizonte/imagens_bh Museus e revitalizao urbanaCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014553partir da consolidao do conceito de Ecomu-seu e museu comunitrio e do estabelecimento de um movimento por uma Nova Museologia.Apartirdessaconstatao,veremos comoosdesdobramentosdessesconceitos atua rodemaneiradecisivanoestabeleci-mentodessavisoporpartedoMAO.Em primeirolugarestooprprioprocessode implantao do Museu e a forma como esse foi conduzido. O estabelecimento de trs se-minrios dedicados apresentao e ao de-bate dos princpios e metodologias de traba-lho que se consolidariam na implantao do futuro museu.17 Antes que o Museu existisse de fato, o mesmo se abria para ser debatido em sociedade. Nesse quesito, o MAO se des-taca propondo uma ao pioneira no universo dos museus brasileiros. Uma informao es-sencial ainda com relao a esse momento de discusso do novo museu foi a elaborao de um Banco de Ideias que reuniu questes e su-gestes de aspectos a serem considerados no processo de implantao do MAO, ideias es-tas que foram e esto sendo, em sua maioria, incorporadas ao projeto do museu, segundo nos aponta os Anais desses seminrios (ICFG, 2004, p. 15).Destacam-seaconstataodaimpor-tncia que o MAO, desde sua concepo, conte com um plano estratgico de comunicao, de modo a torn-lo presente entre a popula-o mesmo antes de sua inaugurao (ICFG, 2004, p. 18), e a ideia de que o Museu se com-portasse desde seu incio (fato atestado pela prpria natureza dos encontros), como uma obra aberta, em processo, acolhendo conexes propostas pelos diversos atores sociais (ICFG, 2004, p. 18).Chamoatenoagoraparaoaponta-mento claro do conceito de ecomuseu como uma das fundamentais referncias para o es-tabelecimento do MAO. Mais uma vez fazendo aluso ao documento dos Anais de Capacita-o Museo lgica, nele explicita-se os trs ti-pos de museu ecomuseus, museus de cincia e tcnica e museus de sociedade tomados co-mo referncia para o conceito gerador (ICFG, 2004, p. 19).Franco, em exposio a respeito do pro-grama museolgico do MAO, menciona que o conceito gerador do Museu objetiva abordar o trabalho como herana patrimonial. Dessa for-ma, a mesma pontua: Esseconceitogeradorfoiinspiradoem elementosconstitutivosdosmuseusde sociedade, ecomuseus, museus de tcnica, pois estes evidenciam diferentes diretrizes para o tratamento do patrimnio vincula-do ao trabalho, como resultado das rela-es que se estabelecem entre os gestos e o domnio das tcnicas, e so, tambm, modelos de musealizao que privilegiam os ofcios e as artes. (2004, p. 40)Influenciado por esses novos modelos de musealizao, o MAO deveria cumprir o desafio de ser um museu que sensibilize e integre o transeunte cotidiano da regio e nele desper-te uma nova interlocuo relativa s questes intrnsecas ao universo do trabalho no Brasil (Franco,2004,p.40).Destaca-seentouma viso diferenciada por parte da instituio de estabelecer um relacionamento com o territrio abordado e da necessidade de ser dada prio-ridade ao habitante local na apropriao do espao museolgico, convidando a sociedade a uma construo conjunta do Museu.Felipe Eleutrio HomanCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014554Necessidade apontada pela idealizadora do projeto:Maisdoqueummuseuparaacidade, este um museu com a cidade. Aberto opinio pblica, ao dilogo, troca de ideias. Pela forma como temos conduzido a sua implantao, o Museu de Artes e Ofcios tem se caracterizado como uma das mais dinmicas e transparentes ex-perinciasderealizaodeumprojeto culturaldestaenvergadura.(Gutierrez, 2004,p. 34)Porfim,citoaquientrevistarealizada com o responsvel pelo projeto museogrfico do Museu na qual define claramente a voca-odainstituiocomopensadaparaum pblicolocale,prioritariamente,parauma parcelaespecialdessepblicolocal.18Tais prioridades estabelecidas durante o processo de implantao do Museu se desdobram nas atividadesrealizadaspeloMAOhoje.Alm de restaurar um bem cultural com presena marcantenaidentidadebelo-horizontina,o Museuapresentaartefatosqueseidentifi-camcomoimaginriolocalemsuaexposi-o. Alm disso, o MAO se coloca como uma presena ativa na sociedade em que se insere atravs de seu amplo programa educativo e dos programas sociais que utilizam o espao do Museu como laboratrio,19 somadas a ex-posies temporrias que tratam de temticas locais,20 tais aes contribuem para fazer do MAO um museu com profundas ligaes com o tecido social no qual est inserido.Figura 5 Vista area da Praa Rui Barbosa aps o processo de revitalizaoFonte: B&L Arquitetura. Disponvel em: http://www.belarq.com.br/. Museus e revitalizao urbanaCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014555Destamaneiraobserva-se,comonas proposiesde AmazonaseLima(2010),a existncia de um museu que se configura ao mesmo tempo como um importante atrativo turstico e como um instrumento de desenvolvi-mento local, na medida em que leva em consi-derao essa cultura local e as relaes sociais existentes, se destacando como um elemento central no processo de valorizao e ocupao do espao urbano.Consideraes naisOs museus originam-se a partir de estra-tgiasdiferenciadas. Algunsnascemda reuniodegrandeslegadosnacionais, outrosdacoletacientficasistemtica; h aqueles que vm luz para defender determinadosprincpioseideaisdeum determinadogruposocial;muitosso constitudosparareafirmarcontextos econmicos, sociais, tnicos e at mesmo polticos; outros cumprem uma misso de resgate de uma cultura em extino; h ainda os que se dedicam a nos revelar o mundo natural, as experincias e as des-cobertashumanas.Umsemnmerode situaes constitutivas norteia a gerao de museus em todo o mundo, e a museo-logia tem se dedicado intensamente, nas ltimas dcadas, a analisar esses contex-tos, suas caractersticas, seus desafios e resultados. (Franco, 2004, p. 38)Analisarocontexto,ascaractersticas, bem como os desafios e resultados da implan-tao de museus em processos de revitalizao urbana e, de maneira especfica, da implanta-o do MAO na Praa da Estao, regio cen-tral de Belo Horizonte, foi o objetivo principal do estudo aqui desenvolvido.Como visto percebe-se que, quando utili-zados como catalisadores em meio a esses pro-cessos, os museus apresentam a potencialidade de proporcionar uma ampliao dos benefcios sociais resultantes de tais iniciativas, desde que estejam em consonncia com a cultura, os de-sejos e a vocao da populao do territrio no qual se inserem. No entanto, para que se con-solidem de tal forma, necessrio que se esteja atento a algumas armadilhas que se apresen-tam durante o percurso. Como observado, os processosderevitalizaoacabamsempre, em maior ou menor escala, resultando em um processo de gentrificao. Fator que, quando associado a uma possvel espetacularizao do espao urbano, coloca o habitante margem da fruio do local, na medida em que produ-zem espaos de consumo que visam ao turista, consumidor de lugares. Na compreenso do papel que as ins-tituiesmuseolgicastmadesempenhar em meio s aes de ressignificao urbana, observa-se que os museus quando presentes em tais contextos tm um papel central, na me-dida em que poderiam acarretar uma reverso dosprocessosexclusriosdetaisprocessos, transformando o espao espetacularizado em frum, um espao privilegiado e participativo, inclusivo, no qual, ainda que a prioridade seja dada ao habitante local, no se exclui o turista do processo. Por outro lado, quando no vin-culados s aspiraes do tecido social no qual se inserem, resultam na produo de um efeito contrrio, corroborando um processo de gentri-ficao do espao, modificando os significados do patrimnio, transformando-o puramente em um segmento do mercado. Verifica-setambmqueasociedade local tem um papel fundamental, na medida Felipe Eleutrio HomanCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014556em que, como cidados, deve se apropriar, de fato, para os mais diversos usos, dos espaos pblicos. O que permitiria em ltima instncia uma diversidade de significaes e grupos so-ciais sendo representados na dinmica urbana.No que diz respeito realidade em ques-to, verifica-se que a implantao do Museu, somada ao processo de revitalizao da Praa da Estao, foi capaz de devolver uma regio de grande simbolismo para a populao belo--horizontina. A implantao do Museu nos edi-fcios da Estao Central representa a consoli-dao de um antigo desejo de que tais edifica-es assumissem vocaes culturais, sendo en-to resultado de uma legtima demanda social.O projeto de adaptao das edificaes no resultou na criao de um espao espe-tacularizado, com o projeto de interveno e restauro tendo respeitado a ambincia e a vo-lumetria das edificaes. O MAO consolida-se hoje como uma das principais instituies mu-seolgicas da capital e uma referncia nacional pela forma com que foi implantada.Noentanto,algunsdesafiospermane-cem. necessrio que o Museu procure estra-tgias que possam incorporar os diferentes gru-pos sociais de moradores da cidade, atingindo no somente aqueles que tradicionalmente j se caracterizam como um pblico visitante de museus. Tais aes deveriam objetivar uma in-cluso que comece pelos grupos presentes no espao em questo, com a inteno clara de que se rompa com o domnio do discurso.Observa-se a necessidade de uma maior integrao entre as diversas instituies e gru-pos sociais presentes nesse espao, no senti-do de se estabelecer um dilogo permanente entre as diferentes manifestaes, de forma a consolidar o espao de estudo como um polo cultural. Aes como o Duelo de MCs no Mu-seu j se caracterizam como um primeiro passo da instituio na busca de uma interlocuo nesse sentido. preciso entender que o corre-dor cultural na Praa da Estao j existe, com toda sua riqueza, baseada na diversidade, tro-cas e conflitos.Como observado, pela maneira com que foi conduzido, pelas caractersticas da regio e pelos desdobramentos do processo, o primeiro processo de requalificao urbana da regio, em consonncia com o processo de implanta-o do MAO, no produziu um espao de pura gentrificaoeconsumocultural,seconsti-tuindo, pelo contrrio, como um espao frtil e auto-organizado, com uma multiplicidade de manifestaes e grupos culturais. recorrente que prticas urbanas espon-tneas e auto-organizadas tentem ser incor-poradas ao planejamento estratgico oficial a posteriori. Faz-se necessrio que o novo projeto de requalificao j previsto para a regio, com o objetivo de implantar o j referido Circuito Cultural Estao das Artes, seja conduzido com bastante cuidado para que no se reproduzam prticas gentrificadoras do espao urbano. Ain-da que esse projeto conte com algumas vanta-gens como o estabelecimento de uma comis-so de acompanhamento, composta por mem-bros dos diferentes grupos que compartilham este espao, o mesmo no se encontra livre de contestao (Canado, 2013).Porfim,cabeobservaraquiaimpor-tnciaqueoespaoemquestotendera assumircomaaproximaodeumevento em grande escala como a realizao de uma Copa do Mundo no Brasil. A Praa da Estao se constituir como um espao privilegiado na realizao dos eventos caractersticos da Museus e revitalizao urbanaCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014557Copa, j que Belo Horizonte se tornou uma de suas cidades-sede, e a Praa da Estao se caracteriza como nico espao aberto na regiocentralcapazderecebereventosde maior porte. Geralmente tais acontecimentos tendem a assumir um carter completamente espetacularizado. Torna-se fundamental que os diferentes grupos e instituies que parti-cipam da construo deste corredor cultural se mobilizem de maneira a demonstrar aquilo que se caracteriza como manifestao autn-tica da cultura local, sem falsificaes ou fal-seamentos, no permitindo que a apropria-o por meio do poder pblico acabe por pro-duzir um espao esvaziado de sua essncia, que, no presente caso, por vezes conflituo-sa, mas tambm de produo e intercmbio cultural ricos.Felipe Eleutrio HoffmanUniversidade Federal de Minas Gerais, Programa de Ps-graduao em Arquitetura e [email protected](*) Este artgo baseado na monografa de concluso de curso do autor, inttulada O papel dos museus em processos de revitalizao urbana: o caso do Museu de Artes e Ofcios de Belo Horizonte defendida em outubro de 2012 no curso de Museologia da Universidade Federal de Ouro Preto.(1) No sentdo utlizado pelo autor, museifcao diria respeito transformao da prpria cidade em museu, e musealizao seria a proliferao de museus nas cidades contemporneas.(2) Para uma viso mais introdutria a respeito da origem do museu e da histria do movimento museolgico ver: Julio (2006, pp. 19-32).(3 Para uma boa introduo ao surgimento dos Ecomuseus ver: Matos (2010).Felipe Eleutrio HomanCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014558(4)Um exerccio interessante neste sentdo efetuar uma pesquisa por imagens em qualquer um dos sites de buscas disponveis na rede, pelo nome de alguma das grandes cidades do globo. A prevalncia de museus, construes histricas, paisagens naturais ou espcimes caracterstcos da fauna ou fora, relacionadas a essas cidades pode ser notada de forma clara. A esse respeito, Boavida nos sinaliza que as imagens: Podem mesmo alterar, no seu conjunto, o curso da sua histria. Algumas cidades tm a si associadas uma imagem positva e empreen-dedora, outras, pelo contrrio, transportam uma carga negatva. Estas imagens negatvas esto sobretudo relacionadas com desemprego, excluso social, violncia e criminalidade, poluio e degradao do espao pblico. J as cidades que tm a si agregadas imagens positvas devem--no geralmente a um bom ambiente urbano, justa social, empreendedorismo, cultura, paz so-cial, acessibilidades ou situao geogrfca e natural favorvel (2010, p. 3).Nesse sentdo, so elencados como paradigmtcos os casos do Centro Georges Pompidou, de Paris, o Museu de Arte Contempornea e o Centro de Cultura Contempornea de Barcelona e o Museu Guggenheim de Bilbao. Sendo esse ltmo talvez o caso mais polmico e controverso de museus que se convertem em novos monumentos das metrpoles (Ohtake, 2000). No caso brasileiro, o Museu de Arte Contempornea, de Niteri, se consttui como exemplo de museu que se converteu em forte cone de uma cidade.(5)Comoexemplorepresentativodestesagrupamentosdemuseuspodemoscitarachamada Museum Mile, situada na 5 Avenida na ilha de Manhatan, Nova York. Uma zona de grande concentrao de museus, nas quais se encontram alguns dos mais visitados do mundo. No caso brasileiro um recente exemplo encontra-se no Circuito Cultural da Praa da Liberdade, em Belo Horizonte. Essa iniciatva ainda em implantao, quando consolidada fgurar como um dos maiores complexos de insttuies culturais do pas.(6) A criao da Praa Rui Barbosa ou Praa da Estao, como popularmente conhecida, coincide com a fundao da cidade de Belo Horizonte no fnal do sculo XIX. Espao seminal da capital mineira, a Praa da Estao marco tanto pelas edifcaes que ainda existem ao seu redor, quantopelosdiversosusosqueessasacolheramaolongodosanos.Esseespaotemse caracterizado na atualidade por um grande nmero de atvidades e insttuies culturais.(7) A este respeito Murta nos apresenta que: Quando, em 2002, o prdio principal foi inaugurado aps a restaurao, a Praa era um grande estacionamento, com problemas de segurana e de iluminao. A visibilidade alcanada pelo prdio recm-restaurado desencadeou uma ampliao das prioridades do Programa Centro Vivo no que dizia respeito esplanada da Praa da Estao. Os urbanistas da municipalidade comearam a perceber que a Praa completaria um corredor cultural juntamente com a Serraria Souza Pinto, a Casa do Conde de Santa Marinha e o Centro Cultural da UFMG, espaos culturais criados em edifcaes que foram preservadas, restauradas e que so signifcatvas na histria de Belo Horizonte. As intervenes na Praa tambm seriam relevantes para a criao de uma estao de nibus de integrao com o metr mais adequada ao perfl da cidade e resultariam numa releitura visual da rea (2008, p. 88). Museus e revitalizao urbanaCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014559(8) Tal quadro ainda se encontra na mente de parte da populao refletindo inclusive como um aspecto negatvo na relao museu-visitante. Como pde ser verifcado em pesquisa realizada por Corra, na qual um determinado morador da cidade assinala a questo da violncia urbana, comoumdosfatorescapazesdeinfluenciarnegativamenteavisitaaoMAO.Naspalavras do entrevistado, a Praa foi um lugar que abrigava crianas de rua, morador de rua, talvez issopossa,noimaginrio,serumdificultadorparaapessoaviraomuseu(2010,p.62). Corroborando tal fato, em investgao realizada por Cougo a respeito do potencial turstco de alguns museus de Belo Horizonte, verifca-se o alto ndice de entrevistados que assinalam o item violncia urbana como um dos principais fatores que difcultariam a visita ao MAO (2007, p. 135).(9) Recorrendo novamente aos dados levantados por Corra, para a qual se percebe uma a ideia de retomada do espao como um recurso urbano de desenvolvimento e qualidade de vida. O que pode ser exemplifcado com a colocao de um desses entrevistados, na qual este diz: hoje mesmo eu fquei na Praa, a gente tem notcias que a Praa tem a Guarda Municipal, est mais bem tratada. Teve uma poca que era horrvel passar por aqui, hoje eu no sinto isso (2010, p. 65).(10) Esta associao entre a gesto da Praa e o Museu nos apontada por Corra: O fato de a instalao do museu ter sido a primeira etapa para a recuperao da Praa da Estao faz com que os moradores da cidade vejam o MAO como uma espcie de sede principal da Praa. Eles acreditam que a manuteno e gerncia do espao externo acontecem a partr do MAO, sendo que, na realidade, isso responsabilidade da Prefeitura Municipal. No raro um cidado entrar no museu e perguntar se no possvel ligar as fontes da Praa por um minutnho, porque ele vai se casar e quer trar uma fotografa para o lbum de casamento (2010, p. 65).(11) Como nos apontam Cougo (2007, p. 125) e Corra (2010, p. 95), a grande maioria dos visitantes do MAO possui um alto nvel de escolaridade, com uma mdia superior a 50% sendo possuidora de formao em nvel superior completo. Da mesma forma no quesito renda domiciliar mensal, a mdia do pblico visitante do Museu tem renda superior a dois mil reais (Corra, 2010, p. 164 e Cougo, 2007, p. 126). Dessa forma nota-se que a maior parte dos visitantes do MAO possui uma situao econmica bastante confortvel, em comparao com a mdia da populao brasileira (Corra, 2010, p. 164). Nessa ligao escolaridade, renda e visitao a museus, nota--se uma relao diretamente proporcional. Quanto maior a escolaridade, maior a renda e maior a frequncia de visitas aos museus (Bourdieu e Darbel, 2003).(12)AgrandemolduradoMAOaPraadaEstao,homenageadanestaprimeiraexposio temporria. A sua completa recuperao parte do projeto e sinaliza para a requalificao de todo o centro histrico da cidade, j defnido como polo cultural, capaz de incrementar o turismo e outras atvidades. O MAO quer ser a mola propulsora dessas transformaes. E quer ser mais: um motvo de orgulho para todos os que amam Belo Horizonte (MAO, 2002).(13)Percebe-sequenasreasadjacentesaoMuseu,principalmentenochamadoconjunto ArquitetnicodaPraadaEstao,foramconsolidadasouinstaladasinstituiesligadas principalmente divulgao, consumo e produo cultural e a preservao do patrimnio. Tal conjunto inclusive abordado pelas aes educatvas do Museu, como pode ser conferido em um mapa disponibilizado pelo setor educatvo, no qual se destacam as insttuies do conjunto da Praa da Estao apresentado no material como um dos maiores tesouros da cidade.Felipe Eleutrio HomanCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014560(14) Conforme lista de Relao de Bens Protegidos em Minas Gerais, disponibilizada pelo IEPHA/MG. Disponvel em: www.mp.mg.gov.br/portal/public/interno/arquivo/id/3156 Acesso em: 15 jun 2012.(15)ComonosapontaCorraemseustrabalhosdeinvestigao:(...)pde-seperceberquea primeira fase da Praa da Estao se faz presente ainda hoje na relao entre os moradores de BH e o MAO. Pois, alguns deles chegaram cidade por trem e, portanto, os edifcios da Estao CentraledaEstaoOestedeMinasfazempartedesuaprpriahistria,comolugaresde embarque e desembarque de passageiros (2010, p. 57).(16) Na conceituao de Abreu, os museus-espetculo so edifcados em escala global. Espaos enormes,edificaesassinadasporrenomadosarquitetoscontemporneos,dealtssima tecnologiacomrealidadeaumentada,HQcode,vdeosem3D,holografias,experincias miditcas inovadoras conjugadas com propostas arrojadas de gesto criatva e uma boa dose de empreendedorismo. Muitos destes museus so hoje efetvamente mais modernos que grande parte das empresas de ponta em diversos setores. No h limite de criao para esses templos da cultura e do entretenimento (2012, p. 14).(17) Segundo os Anais dos Seminrios de Capacitao Museolgica: A transformao de tal acervo em patrimnio pblico foi vista pelo ICFG e pelo Ministrio da Cultura (MinC), por intermdio de sua secretaria de Patrimnio Museus e Artes Plstcas, como circunstncia muito favorvel reunio de profssionais que atuam em insttuies museolgicas de todo o pas em torno de um programa de capacitao nas reas de museologia, restauro, artes, histria, pesquisa, educao patrimonial, em razo de dois objetvos principais: garantr que o processo de insttucionalizao do acervo que se tornar museu seja transparente, aberto, partcipatvo, aglutnando diversos atores sociais que uma ao desse tpo envolve, e contribuir para a atualizao das formas de administrar espaos museolgicos no Brasil (ICFG, 2004, p. 14).(18) Nosso objetvo era ter um pblico bem popular, uma vez que amos trabalhar num terreno para difundir um conhecimento popular, e era preciso resttuir uma identdade, um interesse ao trabalho manual e ao trabalho tcnico. Alis, era preciso se situar num lugar onde o pblico j estvesse antes. Foi por isso que pensamos na possibilidade de fazer esse museu numa estao de metr. Agora, se vamos falar em percentagem, no serei capaz de dar percentagens, mas, digamos, podemos pensar em um milho de usurios do metr. evidente que aqueles que queremos atngir o pblico da periferia urbana, que no tem, forosamente, muitos espaos culturais disposio. So pessoas que, ns sabemos, esto cansadas noite, quando voltam do trabalho. Se queremos que elas venham ao museu por um tempo, preciso atra-las, mas no com grandes teorias. Em compensao, sabemos que um espao facilmente acessvel para elas, porque h o metr. Por outro lado, nossa atvidade com o pblico bem objetva, e com certeza h atvidades que sero feitas na estao, e at mesmo dentro do metr. (...) Portanto, j temos a oportunidade de fazer contatos e propostas, pois esse um museu por si mesmo aberto aos outros. E este era, sobretudo, o objetvo (Catel, 2005, p. 326).(19) O programa Valor Social realizado pelo Museu desde 2008, no qual o MAO oferece a jovens moradoresdezonaseconomicamentemenosfavorecidasemBeloHorizonteeNovaLima, estudantes da rede pblica de ensino, a oportunidade de se capacitarem para uma atuao como conservadores, assistentes de restauradores, no mundo do trabalho. Para mais informaes ver: MUSEU DE ARTES E OFCIOS. Programa Valor Social ICFG. Disponvel em: htp://www.mao.org.br/port/vs_default.asp Acesso em: 18 jun 2012. Museus e revitalizao urbanaCad. Metrop., So Paulo, v. 16, n. 32, pp. 537-563, nov 2014561(20)TrilhosdaMemria(2002),ExposiodeGrafitedoProgramaFicaVivo!(2006),Revelados (2008), Visita da Famlia Real Belga ao Brasil (2011), Atlas Ambulante: Artesanias em trnsito (2011), A casa sua (2011). Para mais informaes a respeito dessas exposies ver: MUSEU DE ARTES E OFCIOS. Exposies Temporrias. Disponvel em: htp://www.mao.org.br/port/exposicoes.asp Acesso em: 18 jun 2012. 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