MUSEUS SEM FIM_hal Foster

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7/23/2019 MUSEUS SEM FIM_hal Foster http://slidepdf.com/reader/full/museus-sem-fimhal-foster 1/2 Problemas que o museu enfreta hoje: -> variedade de escalas e diferentes espaços.O cenário inicial para a exposição da pint ra e da escultura modernas - produzidas, como eram, tipicamente para o mercado - fo i o espaço interior do século XIX, em geral a residencia burguesa, e os primeiros museus dedi cados a essa arte constituíram-se, muitas vezes, de salões de características semelhantes, remodelados para tal fim. Esse modelo foi pouco a pouco substituído por outro. À med ida que a arte moderna foi se tornando mais abstrata e autonoma, ela passou a demand ar um espaço que espelhasse essa sua condição destituída de um lar, um espaço que ficou conhecido co o "cubo branco". Esse modelo por sua vez, viu-se pressionado pela obra de arte mai s ambiciosa, que, depois da Segunda Guerra Mundial, começou a expandir sua dimensões - das vastas  telas de Jackson Pollock, Barnett Newman e outros, passando pelo objetos seriados de m inimalistas como Carl Andre, Donald Judd e Dan Flavin, até instalações vinculadas a espaços específ s, de uma gama de artistas posteriores que vai de James Turrell a Olafur Eliasson. O problema se itensifica quando a nova arte passa a reivindicar outro tipo de espaço: uma área fechada e obsurecida para a projeção de imagens, o que veio a ser conhecido como "caixa pret a". Para completar, em decorrencia do interesse atual em também apresentar performance s e danças nos museus, grandes intituições preveem a necessidade de ainda outros espaços - a proposta inicial para a expansão do MoMA os chama de "caixa cinza" e art bay. -> museus como ícones. Líderes de cidades decadentes ou de uma região urbana negligenc iada, desejosos de reaparelhá-las para uma nova economia do turismo cultural, creem que um simbolo arquitetonico que sirva também como emblema midiático poderá ajudá-los nesse seu intent . Para que a edificação alcance um caráter iconico, o arquiteti escolhido é autorizado, e mesmo incentivado, a modelar formas singulares em escala urbana, em geral nas proximid ades de bairros pobres, que sofrem, assim, considerável perturbação, quando não são removidos completamente. Alguns museus são tão esculturais que a arte que apresentam é secundária  figurando em segundo plano. (...) Museus que demandam tanto o nosso interesse vi sual que acabam por ser, eles próprios, a obra dominante em exposição, ofuscando a arte que  foram concebidos para exibir. Embora seja ainda muito cedo para dizê-lo, é possível qu e essa venha a ser a impressão deixada também pela Tate Modern II. Alguns museus se to rnam teatrais que os artistas sentem-se obrigados a responder, antes de mais nada, à ar quitetura. É claro que os arquitetos também operam no âmbito visual, e não se há de levar a mal que o façam, mas por vezes a ênfase no design poderoso negligencia questôes fundamenta is

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Problemas que o museu enfreta hoje:

-> variedade de escalas e diferentes espaços.O cenário inicial para a exposição da pintrae da escultura modernas - produzidas, como eram, tipicamente para o mercado - foi o espaçointerior do século XIX, em geral a residencia burguesa, e os primeiros museus dedicados aessa arte constituíram-se, muitas vezes, de salões de características semelhantes,remodelados para tal fim. Esse modelo foi pouco a pouco substituído por outro. À medidaque a arte moderna foi se tornando mais abstrata e autonoma, ela passou a demandar um espaçoque espelhasse essa sua condição destituída de um lar, um espaço que ficou conhecido coo"cubo branco". Esse modelo por sua vez, viu-se pressionado pela obra de arte mais ambiciosa,que, depois da Segunda Guerra Mundial, começou a expandir sua dimensões - das vastas telasde Jackson Pollock, Barnett Newman e outros, passando pelo objetos seriados de minimalistascomo Carl Andre, Donald Judd e Dan Flavin, até instalações vinculadas a espaços específs,de uma gama de artistas posteriores que vai de James Turrell a Olafur Eliasson.

O problemase itensifica quando a nova arte passa a reivindicar outro tipo de espaço: uma áreafechadae obsurecida para a projeção de imagens, o que veio a ser conhecido como "caixa preta".Para completar, em decorrencia do interesse atual em também apresentar performances edanças nos museus, grandes intituições preveem a necessidade de ainda outros espaços -a proposta inicial para a expansão do MoMA os chama de "caixa cinza" e art bay.

-> museus como ícones. Líderes de cidades decadentes ou de uma região urbana negligenciada,desejosos de reaparelhá-las para uma nova economia do turismo cultural, creem que

um simboloarquitetonico que sirva também como emblema midiático poderá ajudá-los nesse seu intent.Para que a edificação alcance um caráter iconico, o arquiteti escolhido é autorizado, emesmoincentivado, a modelar formas singulares em escala urbana, em geral nas proximidades debairros pobres, que sofrem, assim, considerável perturbação, quando não são removidoscompletamente. Alguns museus são tão esculturais que a arte que apresentam é secundária figurando em segundo plano. (...) Museus que demandam tanto o nosso interesse visualque acabam por ser, eles próprios, a obra dominante em exposição, ofuscando a arte que

 foram concebidos para exibir. Embora seja ainda muito cedo para dizê-lo, é possível queessa venha a ser a impressão deixada também pela Tate Modern II. Alguns museus se tornamteatrais que os artistas sentem-se obrigados a responder, antes de mais nada, à arquitetura.É claro que os arquitetos também operam no âmbito visual, e não se há de levar a malque o façam, mas por vezes a ênfase no design poderoso negligencia questôes fundamentais

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ligadas à função.

-> incerteza sobre o que é a arte contemporanea. Como fazer uso de um espaço que para algoque não se sabe o que é e tampouco pode se prever como virá a ser? O resultado dessa incertezase manifesta no surgimento de "galpões culturais" quase desprovidos de um propósitoaparente.Uma estrutura desse tipo - O Culture Shed desenhada por Diller Scofidio + Renfro. A lógica édesenhar um container e os artistas tem a tarefa de lidar com ele.

<<Será que os espaços de arte devem se sujeitar a obras de grandes dimensões?>>

Os museus servem ao propósito de entreter, visto que ainda vivemos numa sociedadedo espetaculo, e os museus fazem parte do show, a serviço do capitalismo.Museus devem, então, ter espaços reservados para restaurante e lojas...

<<"no fim das contas, se os museus não são locais em que se cristalizam diversas constelaçõesde passado e presente, para que precisamos deles?">>