Musgos e líquenes: uma vida às escondidas

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Musgos e Líquenes uma vida às escondidas Ambiente saxícola Por Cristiana Vieira, Helena Hespanhol e Joana Marques Ambiente turfoso Musgo - Bryum alpinum Musgo - Sphagnum auriculatum Musgo - Polytrichum commune Ambiente fluvial Musgo - Fontinalis squamosa Antócero - Phaeoceros laevis Hepática - Riccardia multifida Ao nível dos nossos pés ou do nosso nariz, os musgos e os líquenes acompanharam sempre a epopeia da espécie humana, partilhando discretamente todos os nossos nichos de vida. Na literatura são os tapetes mágicos de duendes e fadas, nas muitas guerras do passado serviram de compressas no tratamento de feridos e foram no dia-a-dia usados no fabrico de produtos de higiene como fraldas de bebés, supositórios, sabões ou mesmo perfumes. São até usados como sensores da poluição e da mudança do clima. Ainda assim, hoje são ilustres desconhecidos. Aqui, as Autoras, biólogas e fotógrafas, convidam-no a espreitar os detalhes mais escondidos destes organismos e ensinam-nos a tratar por tu diversas espécies, quando em plena Década da Biodiversidade muitas delas correm o risco de desaparecer. Líquen - Lecanora muralis Musgo - Grimmia montana Ambiente saxícola

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Exposição de Fotografia da natureza "Musgos e líquenes: uma vida às escondidas" trabalhos de Cristiana Vieira, Helena Hespanhol e Joana Marques Até 26 de maio no Parque Biológico de Gaia Ao nível dos nossos pés ou do nosso nariz, os musgos e os líquenes acompanharam sempre a epopeia da espécie humana, partilhando discretamente todos os nossos nichos de vida. Na literatura são os tapetes mágicos de duendes e fadas, nas muitas guerras do passado serviram de compressas no tratamento de feridos e foram no dia-a-dia usados no fabrico de produtos de higiene como fraldas de bebés, supositórios, sabões ou mesmo perfumes. São até usados como sensores da poluição e da mudança do clima. Ainda assim, hoje são ilustres desconhecidos. Nesta exposição, as Autoras, biólogas e fotógrafas, convidam-no espreitar os detalhes mais escondidos destes organismos e ensinam-nos a tratar por tu diversas espécies, quando em plena Década da Biodiversidade muitas delas correm o risco de desaparecer.

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Page 1: Musgos e líquenes: uma vida às escondidas

Musgose

Líquenes —

uma vida às escondidas

Ambiente saxícola

Por Cristiana Vieira, Helena Hespanhol e Joana Marques

Ambiente turfoso

Musgo - Bryum alpinum

Musgo - Sphagnum auriculatum Musgo - Polytrichum commune

Ambiente fluvial

Musgo - Fontinalis squamosa

Antócero - Phaeoceros laevisHepática - Riccardia multifida

Ao nível dos nossos pés ou do nosso nariz, os musgos e os

líquenes acompanharam sempre a epopeia da espécie

humana, partilhando discretamente todos os nossos nichos

de vida.

Na literatura são os tapetes mágicos de duendes e fadas,

nas muitas guerras do passado serviram de compressas no

tratamento de feridos e foram no dia-a-dia usados no fabrico

de produtos de higiene como fraldas de bebés, supositórios,

sabões ou mesmo perfumes. São até usados como sensores

da poluição e da mudança do clima.

Ainda assim, hoje são ilustres desconhecidos.

Aqui, as Autoras, biólogas e fotógrafas, convidam-no a

espreitar os detalhes mais escondidos destes organismos e

ensinam-nos a tratar por tu diversas espécies, quando em

plena Década da Biodiversidade muitas delas correm o risco

de desaparecer.

Líquen - Lecanora muralis

Musgo - Grimmia montana

Ambiente saxícola

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O que é um líquen?

Um líquen é o resultado de uma parceria entre um fungo e uma alga da qual

resultam benefícios para ambos. O fungo forma grande parte do corpo do líquen,

envolvendo e protegendo a alga do excesso de radiação solar e desidratação,

mas depende do fornecimento de nutrientes produzidos pela alga no processo

de fotossíntese.

O que é um musgo?

Musgo é o nome pelo qual são conhecidas vulgarmente as briófitas, plantas

essencialmente terrestres que se distinguem das restantes plantas por não

possuírem tecidos condutores de seiva. A dimensão das briófitas varia entre o

milímetro e o metro e a cor, embora geralmente verde, pode ser esbranquiçada,

vermelha, vermelha-acastanhada ou quase preta, consoante a espécie.

Ambiente florestal

O que são?

Onde se encontram?

Pioneiros na colonização de solos, rochas nuas e troncos de árvores, as briófitas

e os líquenes estão presentes em todos os ambientes exceto o marinho, sejam

estes naturais ou humanizados, e chegam até aos lugares mais hostis do planeta,

onde fixam partículas e estabilizam o solo ou protegem contra a ação do vento

e chuvas intensas.

Algumas espécies acumulam matéria orgânica e facilitam a recuperação de

habitats degradados.

Líquen - Degellia plumbea Líquen - Lobaria pulmonaria

Líquen - Pannaria rubiginosa Musgo - Ulota crispa

Líquen - Teloschistes chrysophthalmus

Ambiente costeiro

Que papel desempenham no nosso dia-a-dia?

As briófitas e os líquenes são utilizados desde a Antiguidade como fonte de

medicamentos, alimento, tintas e perfumes. No Período Romano foram empre-

gues em cestaria e nas Idades do Bronze e do Ferro como isolantes de embarca-

ções. Há registo do uso destes organismos como forro de calçado (até ao século

XVI), colchões e almofadas, ou como preenchimento de paredes e chaminés

pensando-se que preveniam a proliferação de incêndios. Graças à sua elevada

capacidade absorvente e propriedades antissépticas, algumas espécies de

briófitas foram também usadas para manufaturar as primeiras fraldas no Norte

da América e Pólo Norte e emplastros para curar os ferimentos dos soldados

durante a I Guerra Mundial.

A turfa, formada pela compactação de musgos mortos, é uma importante fonte

de combustível explorada em países do Norte da América e da Europa e contribui

para o famoso aroma do uísque escocês.

Atualmente, briófitas e líquenes são objeto de investigação na área das ciências

da saúde com vista à obtenção de substâncias antitumorais, antibióticas e anti-

fúngicas. A aplicação destes organismos como indicadores ecológicos e de altera-

ções ambientais é, no entanto, a mais corrente e à qual continua a ser dedicado

maior esforço de investigação.

Líquen - Rocella physopsis Musgo - Campylopus introflexus

O que as ameaça?

A destruição dos habitats naturais por desflorestação, uso de herbicidas, fogo

e poluição, atmosférica e aquática têm conduzido ao desaparecimento de um

elevado número de espécies de briófitas e líquenes. A colheita intensiva de

algumas espécies para uso em floricultura e com fins ornamentais é igualmente

preocupante já que as populações colhidas, muitas vezes em estado fértil, podem

demorar décadas a retomar o tamanho inicial.

A presença de briófitas e líquenes está muitas vezes associada a sensações de

serenidade e qualidade ambiental. A beleza de rochas “vestidas de líquen” e

florestas com “musgo macio onde apetece cair e rolar” tem sido exultada por

poetas e escritores. No Oriente, são bastante populares os “jardins de musgo”,

como espaços de refúgio e lazer, incluindo a prática de artes marciais.

É necessário tomar consciência do valor deste micromundo e alertar para os

riscos a que muitas espécies de briófitas e líquenes estão votados em Portugal.

Defenda-os e divulgue: que a vida de musgos e líquenes deixe de ser às

escondidas!...

Como se reproduzem?

Por reprodução sexual e assexual (vegetativa). Entre estes organismos, o pro-

cesso de reprodução sexual tem como resultado final o desenvolvimento de

esporos que se dispersam pelo vento ou pela água.

Os esporos são capazes de permanecer em estado de dormência durante épo-

cas desfavoráveis e germinar apenas quando se reúnem condições ambientais

propícias ao crescimento.

A reprodução assexual é feita através de pequenas partes do corpo que se

rompem e libertam ou gemas especificamente formadas para o efeito.

Ambiente humanizado

Musgo - Homalothecium sericeum Hepática - Marchantia polymorpha

Musgos em muro Musgos em pavimento

Musgos em bota

Líquen -Xanthoria parietina

Líquenes em sinal trânsito

De um modo geral, as briófitas incluem os musgos, as hepáticas e os antóceros.