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Musgos e líquenes: uma vida às escondidas
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Musgose
Líquenes —
uma vida às escondidas
Ambiente saxícola
Por Cristiana Vieira, Helena Hespanhol e Joana Marques
Ambiente turfoso
Musgo - Bryum alpinum
Musgo - Sphagnum auriculatum Musgo - Polytrichum commune
Ambiente fluvial
Musgo - Fontinalis squamosa
Antócero - Phaeoceros laevisHepática - Riccardia multifida
Ao nível dos nossos pés ou do nosso nariz, os musgos e os
líquenes acompanharam sempre a epopeia da espécie
humana, partilhando discretamente todos os nossos nichos
de vida.
Na literatura são os tapetes mágicos de duendes e fadas,
nas muitas guerras do passado serviram de compressas no
tratamento de feridos e foram no dia-a-dia usados no fabrico
de produtos de higiene como fraldas de bebés, supositórios,
sabões ou mesmo perfumes. São até usados como sensores
da poluição e da mudança do clima.
Ainda assim, hoje são ilustres desconhecidos.
Aqui, as Autoras, biólogas e fotógrafas, convidam-no a
espreitar os detalhes mais escondidos destes organismos e
ensinam-nos a tratar por tu diversas espécies, quando em
plena Década da Biodiversidade muitas delas correm o risco
de desaparecer.
Líquen - Lecanora muralis
Musgo - Grimmia montana
Ambiente saxícola
O que é um líquen?
Um líquen é o resultado de uma parceria entre um fungo e uma alga da qual
resultam benefícios para ambos. O fungo forma grande parte do corpo do líquen,
envolvendo e protegendo a alga do excesso de radiação solar e desidratação,
mas depende do fornecimento de nutrientes produzidos pela alga no processo
de fotossíntese.
O que é um musgo?
Musgo é o nome pelo qual são conhecidas vulgarmente as briófitas, plantas
essencialmente terrestres que se distinguem das restantes plantas por não
possuírem tecidos condutores de seiva. A dimensão das briófitas varia entre o
milímetro e o metro e a cor, embora geralmente verde, pode ser esbranquiçada,
vermelha, vermelha-acastanhada ou quase preta, consoante a espécie.
Ambiente florestal
O que são?
Onde se encontram?
Pioneiros na colonização de solos, rochas nuas e troncos de árvores, as briófitas
e os líquenes estão presentes em todos os ambientes exceto o marinho, sejam
estes naturais ou humanizados, e chegam até aos lugares mais hostis do planeta,
onde fixam partículas e estabilizam o solo ou protegem contra a ação do vento
e chuvas intensas.
Algumas espécies acumulam matéria orgânica e facilitam a recuperação de
habitats degradados.
Líquen - Degellia plumbea Líquen - Lobaria pulmonaria
Líquen - Pannaria rubiginosa Musgo - Ulota crispa
Líquen - Teloschistes chrysophthalmus
Ambiente costeiro
Que papel desempenham no nosso dia-a-dia?
As briófitas e os líquenes são utilizados desde a Antiguidade como fonte de
medicamentos, alimento, tintas e perfumes. No Período Romano foram empre-
gues em cestaria e nas Idades do Bronze e do Ferro como isolantes de embarca-
ções. Há registo do uso destes organismos como forro de calçado (até ao século
XVI), colchões e almofadas, ou como preenchimento de paredes e chaminés
pensando-se que preveniam a proliferação de incêndios. Graças à sua elevada
capacidade absorvente e propriedades antissépticas, algumas espécies de
briófitas foram também usadas para manufaturar as primeiras fraldas no Norte
da América e Pólo Norte e emplastros para curar os ferimentos dos soldados
durante a I Guerra Mundial.
A turfa, formada pela compactação de musgos mortos, é uma importante fonte
de combustível explorada em países do Norte da América e da Europa e contribui
para o famoso aroma do uísque escocês.
Atualmente, briófitas e líquenes são objeto de investigação na área das ciências
da saúde com vista à obtenção de substâncias antitumorais, antibióticas e anti-
fúngicas. A aplicação destes organismos como indicadores ecológicos e de altera-
ções ambientais é, no entanto, a mais corrente e à qual continua a ser dedicado
maior esforço de investigação.
Líquen - Rocella physopsis Musgo - Campylopus introflexus
O que as ameaça?
A destruição dos habitats naturais por desflorestação, uso de herbicidas, fogo
e poluição, atmosférica e aquática têm conduzido ao desaparecimento de um
elevado número de espécies de briófitas e líquenes. A colheita intensiva de
algumas espécies para uso em floricultura e com fins ornamentais é igualmente
preocupante já que as populações colhidas, muitas vezes em estado fértil, podem
demorar décadas a retomar o tamanho inicial.
A presença de briófitas e líquenes está muitas vezes associada a sensações de
serenidade e qualidade ambiental. A beleza de rochas “vestidas de líquen” e
florestas com “musgo macio onde apetece cair e rolar” tem sido exultada por
poetas e escritores. No Oriente, são bastante populares os “jardins de musgo”,
como espaços de refúgio e lazer, incluindo a prática de artes marciais.
É necessário tomar consciência do valor deste micromundo e alertar para os
riscos a que muitas espécies de briófitas e líquenes estão votados em Portugal.
Defenda-os e divulgue: que a vida de musgos e líquenes deixe de ser às
escondidas!...
Como se reproduzem?
Por reprodução sexual e assexual (vegetativa). Entre estes organismos, o pro-
cesso de reprodução sexual tem como resultado final o desenvolvimento de
esporos que se dispersam pelo vento ou pela água.
Os esporos são capazes de permanecer em estado de dormência durante épo-
cas desfavoráveis e germinar apenas quando se reúnem condições ambientais
propícias ao crescimento.
A reprodução assexual é feita através de pequenas partes do corpo que se
rompem e libertam ou gemas especificamente formadas para o efeito.
Ambiente humanizado
Musgo - Homalothecium sericeum Hepática - Marchantia polymorpha
Musgos em muro Musgos em pavimento
Musgos em bota
Líquen -Xanthoria parietina
Líquenes em sinal trânsito
De um modo geral, as briófitas incluem os musgos, as hepáticas e os antóceros.