Mystérique Sign (Sinal Enigmático): Sem nenhuma surpresa, Haruhi havia se recuperado do seu estado de melancolia

durante os exames semestrais, e novamente agia da maneira que lhe conviesse. No meu caso, parecia que essa infelicidade forçada passou para as minhas mãos como um bastão em uma corrida de revezamento, e agora era eu que estava no auge da miséria. Cada prova que chegava as minhas mãos me fazia se sentir cada vez pior. Minha melancolia provavelmente era compartilhada por Taniguchi. Nesses tempos de provação, éramos como companheiros que voavam sobre a beira de um abismo sem fundo, mesmo que a marca vermelha do fracasso estivesse estampada firmemente em nosso radar. Uma pessoa não é nada mais que um animal que quer ter alguém pelo menos um pouco mais estúpido que ela por perto. Nesse caso, me sinto um pouco mais confortável com eles ao meu lado. Por outro lado, isso não é a mesma coisa se você vê alguém mais relaxando perto de você.

Fazendo suas provas atrás de mim estava Haruhi, alguém que com certeza tinha

tempo de sobra para gastar. Não era raro encontrá-la dormindo em cima da mesa uma meia hora antes do tempo da prova acabar.

Que saco. Todas as atividades dos clubes foram suspensas durante os exames, mas como a

Brigada SOS, por algum motivo, é uma entidade aberta o ano inteiro, é completamente normal funcionarmos em um dia como esses. Mesmo que ninguém tenha vindo reclamar a respeito, nem hoje, ontem, ou nos dias anteriores, isso só reforça a idéia do que a política repressora da escola não se aplica as atividades da Brigada. Isso é natural, visto que toda essa coisa do clube tenha sido uma grande confusão desde o começo. A pergunta se a brigada é não um clube ainda paira no ar, mas na verdade nada disso importa. Afinal, estamos tratando da política de Haruhi.

Como todos os dias. Mesmo que eu tenha me obrigado a estudar até o limite das

forças, no horário usual, Haruhi me arrastou pela manga da camisa até a sala do seu clube. "Dá uma olhada nisso." Haruhi falou, apontando animada para a tela do computador que pilhara de outro

clube algum tempo atrás. Não tinha como evitar essa situação, então olhei sem titubear. O software de edição

de imagens agora mostrava algum tipo incompreensível de rabisco. Era como uma lombriga se contorcendo em meio a um circulo; não tinha idéia do que esse desenho deveria significar. E nem o que pensar a respeito, além de que aquilo era algo desenhado por uma criança do primário.

"O que é isso?" Falei com franqueza. Imediatamente, Haruhi respondeu com seus lábios contorcidos como um bico de

pato. "Você não consegue perceber?” "Não consigo. Nem um pouco, para falar a verdade. A prova de língua japonesa

moderna de hoje estava mais fácil de entender do que essa coisa." "Do que você está falando? Aquela prova estava tão fácil que até a sua irmãzinha

poderia tirar a nota máxima." As palavras dela estavam começando a me irritar.

"Esse é o emblema da Brigada SOS!" Ela respondeu, com seu rosto brilhando de orgulho, como se tivesse alcançado um

feito incrível. "Emblema?" - perguntei. "Sim. Um emblema." - disse Haruhi. "Essa coisa? Ninguém além de um trabalhador pirado que passou dois meses sem

dormir, buscando uma promoção, pode sequer supor o que é isso." "Olhe com atenção. Veja, tem um 'Brigada SOS' escrito no meio, não é?" Agora que você mencionou, não parece com isso, mas também não parece que não

é, é como se você hesitasse em dizer que não está vendo isso, quando pode ou não estar

vendo algo parecido. Pensando bem, quantas negações eu coloquei nessa frase anterior? Não tenho vontade de contar, então se alguém está livre, faça isso para mim.

"Você está sem o que fazer o tempo todo! E tenho certeza que não vai passar as

noites madrugando para estudar." Estava transbordando de entusiasmo até agora pouco. Mas pensando bem, acho que

você está absolutamente certa. "Estou pensando em colocar isso na página inicial da Brigada SOS." Falando nisso, acho que temos uma coisa assim. Mas é só um site miserável que tem

apenas a página inicial. "Não estamos tendo mais visitas. Que desgraça! E para piorar ainda não recebemos

nenhum e-mail misterioso. Tudo isso é culpa sua! Se você não tivesse entrado em meu caminho, e me deixasse colocar as fotos eróticas da Mikuru-chan na página, aposto que atrairíamos mais clientes."

As apaixonantes fotos da Asahina-san vestida de maid são todas minhas, e não

pretendo dividir com mais ninguém. Essa é uma daquelas coisas no mundo que não tem preço em dinheiro.

"Você pode ter feito o site, mas ele é reeeeealmente chato, não acha? Não tem

absolutamente nada digno de nota nele. Então eu pensei: 'Que tal colocar algo como o logotipo da Brigada SOS nele?'"

Se apresse então e tire esse negócio da internet. Me sinto mal pelas pessoas que

visitam esse site imbecil por engano. Afinal não tem conteúdo nenhum, nem nada para se atualizar. Apenas uma imagem dizendo "Bem vindo à página da Brigada SOS!" um endereço de e-mail, e um contador de visitas. Que por sinal já chegou aos três dígitos, possivelmente noventa por cento dessa receita vem de Haruhi.

Enquanto via esse site caseiro aparecer no navegador que Haruhi havia aberto,

perguntei; "Por que você não escreve um diário? Não é o trabalho do chefe escrever um

relatório das atividades? Até o capitão de uma nave espacial tem o seu diário de bordo." "Sem chances, isso é um saco!" Seria um saco para mim também. Descrevendo um dia aqui, as únicas coisas sobre

qual você poderia escrever são coisas como o livro que está lendo, como Koizumi me venceu no Gomoku Narabe [1], como Asahina-san está linda hoje, e como Haruhi está quieta e de boca fechada. Havendo escrito sobre essas coisas tão tediosas, não acho que a pessoa que as leria se divertiria muito mais. Além do mais, não vou fazer nada só para manter alguém entretido.

1-[Nota do tradutor: consiste em um jogo de go (peças brancas) em um tabuleiro, porém também pode ser jogado com papel e caneta].

"Ok, Kyon. Faça que esse símbolo apareça no topo da página." "Faça isso sozinha." "Não sei como!" "Então descubra. Você nunca vai aprender nada se continuar dependendo dos

outros."

"Eu sou a chefe! O meu trabalho é decidir as coisas. Além disso, se eu fizer tudo, vocês não terão trabalho algum para fazer, não é? Acho que você deveria usar mais a cabeça. Você também não vai se tornar uma pessoa melhor se só fizer o que estão te mandando."

Você está me falando para fazer ou para não fazer? Mais que diabos? Fale com

clareza. "Apenas faça, e rápido! Você não pode me enganar com esse jogo de retórica. Acho

que o senhor deveria ficar agradecido por ter tanto tempo livre quanto os gregos antes da Era Comum [2]. Vai logo!" 2-[Nota do tradutor: também chamada de Era Cristã, ou Depois de Cristo].

Quanto mais eu ouvia a voz dela, que já me soava como um corvo gritando

irritantemente no fim da tarde, mais os meus ouvidos doíam. Então, relutantemente, abri o editor de HTML, peguei a incrível ilustração da grande artista que era Haruhi, que mais parecia ter sido desenhada por uma criança entediada, reduzi para um tamanho apropriado, e colei no arquivo, sem fazer mais nenhuma alteração.

Atualizei a página para checar a mudança. Aparentemente o desnecessário emblema

da Brigada SOS deixou sua marca na internet de maneira apropriada. Dei uma olhada no contador de acessos, e como esperado, ele não havia se movido em um milímetro. Tudo ficaria bem se ninguém além de nós visse a página. Não queria que descobrissem que fui eu quem fez esse negócio tão terrível.

Com o fim do dia, o primeiro semestre de certa forma chegava ao final, então esses

dias que me arrastaram para a melancolia entrariam em recesso a partir de amanhã. Esse descanso se chamava semana de provas. O período que culminaria com o início das férias de verão, e em que os professores provavelmente estarão marcando os erros que cometi nos exames.

Cara, que coisa mais incômoda. Me sentindo tão deprimido quanto incomodado, me arrastei até a sala do clube de

literatura, que se tornara a base da Brigada SOS. Pelo menos eu poderia ficar observando Asahina-san, e com isso talvez conseguir um pouco de paz nesse meu espírito atormentado.

Nagato lendo silenciosamente um livro, Koizumi sorrindo enquanto resolvia um

problema de Shogi [3] sozinho, e Asahina-san nos esperando, vestida na sua fantasia de maid como sempre. Haruhi gritando, esbravejando e falando coisas incompreensíveis, e para piorar, me obrigando a ouvir essas palavras tediosas; essa composição tem sido meu padrão de vida nesses últimos dias. 3-[Nota do tradutor: jogo de xadrez japonês, é uma das variações do xadrez no Japão. É jogado por duas pessoas.].

E nada tem acontecido recentemente, mas eu sinto isso desde o começo. Com esses sentimentos de desespero crescente, bati na porta. Esperando ouvir um

"Sim~ ?", vindo da voz suave de Asahina-san, mas o que saiu da sala foi apenas um; "Pode entrar!" Era a voz rude de Haruhi, então eu entrei, e como esperado, ela era a única lá dentro.

Com seus cotovelos apoiados sobre a mesa, ela estava fazendo algo no computador que adquirira à força do clube de informática.

"Ah, só você está aqui então?" "A Yuki também está, você sabe." Certamente, Nagato estava no canto da sala com um livro aberto, parecendo se

tornar uma boneca de porcelana, como sempre fazia. Ela era como um ornamento para a sala, então não era realmente necessário a incluir na conta. Afinal, nem estava na Brigada SOS, e ainda era oficialmente um membro do clube de literatura. Mas acho que para todos os efeitos eu devo me corrigir.

"Oh, então estão só vocês duas?" "Sim, algum problema? Se você tem um, eu gostaria de ouvir, sou a chefe por aqui

afinal." Se fosse listar todas as minhas reclamações ao seu respeito, com certeza encheria

uma folha de papel de ambos os lados. "Sou eu quem deveria ficar desapontada. Com você batendo na porta desse jeito,

pensei que teríamos algum cliente. Não me confunda agindo dessa maneira." Eu só estou tomando cuidado para não invadir acidentalmente a sala e encontrar

Asahina-san se trocando ao vivo. Ela é descuidada demais para lembrar-se de trancar a porta.

E o que é esse negócio de clientes? Diga-me que tipos de fregueses entrariam nessa

sala. Após falar isso, Haruhi me olhou com desdém. "Você não se lembra?" Um pensamento começou a me incomodar. Será que ela podia estar falando do que

aconteceu há três anos atrás no Tanabata [4]?

4-[Nota do tradutor: vide capítulo anterior, "Bamboo Leaf Rhapsody"]. "Foi você que fez isso! E ainda sem a minha permissão." Do que ela poderia estar falando...? "Você que colocou aquele pôster do clube na quadro de avisos do prédio." Oh, era isso... deixei um suspiro de alívio escapar. Para que o conselho estudantil aprovasse a Brigada SOS, fiz alguns planos de

atividade fictícios. Depois de concluir que uma brigada que caça mistérios não seria nem discutida pelo conselho, percebi que poderíamos fazer que a Brigada SOS continuasse a agindo sob o pretexto de um escritório para resolver problemas diversos. Se tivesse dito qual motivo estúpido levou a criação desse clube, poderíamos ser fechados em um piscar de olhos.

De todo modo, já tinha feito demais em fazer aquele pôster manualmente. Não me

lembro exatamente o que escrevi, mas era algo como "Aceitamos consultas." E como já havia me dado o trabalho de fazê-lo, resolvi o prender no quadro de avisos que coincidentemente estava por perto. Mesmo que as pessoas o vissem, penso que ninguém seria louco o suficiente para procurar a Brigada SOS atrás de conselhos. Essa parecia ser a verdade, afinal, atualmente não temos nenhum cliente, o que na minha opinião, já é algo muito bom.

Mesmo assim, Haruhi se lembrava disso, mas será que ela realmente estava esperando alguém aparecer? Já era hora de ir embora, mas talvez devesse ficar um pouco mais de tempo aqui. Se aparecesse realmente um estudante com problemas estranhos pedindo ajuda, as coisas poderiam se complicar.

Em um cantinho da minha mente, eu me debatia com essas questões, enquanto

Haruhi girava e girava o mouse sobre a mesa, falando; "Enfim, olhe isso. Tem alguma coisa estranha. Acho que o PC está quebrado..." Olhei sobre os ombros de Haruhi. A tela mostrava indolentemente a página da

Brigada SOS. Porém, estava um pouco diferente da que eu fiz. O símbolo que foi desastradamente feito por Haruhi estava terrivelmente distorcido, além disso o título e o contador de acessos tinham desaparecido. Tentei atualizar a página, mas as coisas não mudaram. Era como se dados anormais tivessem invadido a página, tornando-a um grande mosaico.

"Não é culpa do computador. Parece que o arquivo no servidor se corrompeu." Não entendo muito de internet, mas acho que sei o suficiente. Se tivesse pensado em

manter uma cópia de segurança da página no computador, poderíamos conseguir que ela fosse mostrada corretamente.

"Desde quando ela está assim?" "Quem sabe? Só estava checando o e-mail nesses últimos dias, então nem olhei o

site. Já estava assim quando eu olhei hoje. Onde eu deveria entrar com uma reclamação?" Não tem porque fazer uma coisa dessas. É muito fácil de se consertar. Roubei o

mouse da mão de Haruhi, e enviei o backup das páginas para o servidor, salvando sobre o arquivo de mesmo nome. Tentei então atualizar.

"Hmmm?" A página continuava errada. Repeti o processo várias vezes, mas os resultados eram

os mesmos, era como se o computador estivesse infectado com uma desordem que não permitisse que este fosse controlado.

"Isso não é estranho? Talvez sejam essas coisas de hackers [5] e crackers [6] que as

pessoas comentam por ai."

5-[Nota do tradutor: originalmente, e para certos programadores, são hackers (singular: hacker) indivíduos que elaboram e modificam software e hardware de computadores, seja desenvolvendo funcionalidades novas, seja adaptando as antigas].

6-[Nota do tradutor: cracker é o termo usado para designar quem pratica a quebra (ou cracking) de um sistema de segurança, de forma ilegal ou sem ética. Este termo foi criado em 1985 por hackers em defesa contra o uso jornalístico do termo hacker. O uso deste termo reflete a forte revolta destes contra o roubo e vandalismo praticado pelo cracking].

"Não pode ser." - neguei. É difícil pensar que existem pessoas com tempo livre o

suficiente para crackear um site que não tem links em lugar nenhum, e o qual ninguém olha. Provavelmente foi algum tipo de erro.

"Que irritante! Talvez tenha alguém cometendo cyber-terrorismo contra a Brigada

SOS! Quem poderia ser? Se eu encontrar essa pessoa, a sentenciarei a trinta dias de trabalho comunitário, sem direito a julgamento!“

Tirando meus olhos da irritada Haruhi, me virei para Nagato, que estava tão opaca

que parecia estar usando algum tipo ultra-avançado de camuflagem óptica. Será que ela

poderia ter feito uma coisa dessas? Pensei... dentro de mim arbitrariamente já havia formado a imagem de que Nagato tinha um conhecimento detalhado de computadores, mesmo não tendo a visto fazer nada no PC. Para ser preciso, já é difícil ver outra coisa alem dela lendo um livro.

De repente, um som de batidas se ouve na porta. "Pode entrar!" A porta se abriu durante a resposta de Haruhi; era o Koizumi. Com seu sorriso

afetado de sempre. "Que incomum. A Asahina-san ainda não chegou?" "O segundo ano tem provas a mais, não tem?" Era o último dia do semestre para nós do primeiro ano, e só tínhamos tido três aulas.

Não teria sido bom se simplesmente tivéssemos ido logo para casa, ao invés de se encontrar em um lugar como esse? Será que eu tenho tão poucos amigos? E Haruhi, por que você não bateu no Koizumi como aqueles sujeitos dos números de comédia?

Koizumi deixou a sua mala sobre a mesa, pegando um jogo de tabuleiro de dentro do

armário, se virando para mim com olhos convidativos. Balancei a minha cabeça em negação; Ele então deu de ombros, e começou a jogar sozinho. Acho que não consigo esperar pelo chá da Asahina-san.

Toc, toc, toc... Novamente o som de batidas. Dessa vez, estava sentado na frente da mesa da

chefe, brigando com o programa de FTP. Atrás de mim estava Haruhi, me jogando ordens sem razão ou coerência, e para minha infelicidade, me fazendo responder essas demandas sem sentido.

Então esse som de batidas era a minha salvação. "Pode entrar!" Haruhi disse novamente em uma voz cheia, e então a porta se abriu. Julgando pela

seqüência dos fatos, provavelmente era Asahina-san chegando. "Ahn, desculpe pelo atraso!" Se desculpando humildemente assim que entrou no nosso campo de visão, aquele

anjo sem asas não poderia ser ninguém menos que Asahina-san. "Tive provas até o fim do quarto horário..." Enquanto ela se desculpava por algo completamente desnecessário, encobria a porta

com hesitação. Não conseguindo se mover por algum motivo, ela prosseguiu com timidez. "Bem, assim... como você vê..." Nossos olhos estavam focados em Asahina-san. Quando ela percebeu que Nagato a

encarava, recuou com relutância, então, com resignação em seus olhos, começou a falar. "Uh, uhm... eu trouxe uma cliente."

Seu nome era Kimidori Emiri-san, uma estudante do segundo ano que dava a

impressão de ser uma pessoa tímida e calma. Nesse momento, seus olhos estavam fixos no copo de chá que Asahina-san tinha a

entregue, ela estava sentada sem levantar o rosto. Ao seu lado estava Asahina-san, em uma cadeira adjacente, como uma acompanhante. Asahina-san não havia colocado a roupa de maid, o que foi um pouco decepcionante.

"E então..." - disse Haruhi, como uma entrevistadora, enquanto segurava uma caneta

esferográfica nas mãos. Ocupando o espaço em frente as estudantes do segundo ano, ela continuou a falar, em um tom arrogante.

"Você está dizendo que quer que a Brigada SOS procure o seu namorado

desaparecido?" Colocando a caneta sobre os lábios, Haruhi cruzou os braços. Mesmo que para

alguns ela parecesse estar pensando seriamente em algo, ela não conseguia me enganar, sabia que ela estava se segurando para não explodir em risos a qualquer momento.

Como podia ser? Mesmo estando tão otimista que ninguém apareceria, nossa

primeira aconselhada havia chego. Seria típico para Haruhi pular de alegria perante essa situação.

"Sim." - disse Kimidori-san, falando em direção a xícara de chá. Nagato, Koizumi, e eu estávamos assistindo a situação à distância. Em frente à dupla

do segundo ano, Haruhi então prosseguiu, "Hmm." Ela murmurou artificialmente e olhou para mim. Estava ficando altamente ressentido comigo mesmo. Nunca devia ter feito tal pôster!

O que mais eu podia ter escrito, aceitamos consultas sobre os problemas que você não quer contar para os outros... o que é isso? Mesmo assim, nunca pensei que teria alguém que poderia levar tal mensagem a sério; Não era uma linha de raciocínio normal?

Ela tendo levado isso a sério ou não, Kimidori-san viu o pôster com os objetivos da

Brigada SOS, e deve ter achado que era um lugar para aconselhamento geral de problemas, ou um escritório para a realização de trabalhos escusos. Certamente, era um caso de interpretação literal demais. Ah, finalmente me lembrei; o conteúdo das minhas atividades fabricadas eram "discussão dos problemas escolares dos estudantes, trabalhos de consulta, e participação progressiva em atividades de serviços comunitários." Atualmente, acho que nada disso pode ser relacionado com a Brigada SOS. Além de perturbar um campeonato de baseball, não fizemos nada digo de nota.

De todo modo, por acaso ela viu o pôster que escrevi, o que levou a Kimidori-san a

descobrir a nossa existência, chamou então Asahina-san, que era do mesmo ano, e ela, depois de se preocupar com o caso, veio junto com Kimidori-san até a Brigada, então parece estar tudo certo.

Então o que está a preocupando? "Ele não vem à escola faz vários dias." Kimidori-san não olhava para ninguém, apenas encarava languidamente a xícara de

chá enquanto falava.

"Ele raramente falta, e ainda por cima, não veio em uma prova, o que é muito

estranho." "Você tentou ligar para ele?" - perguntou Haruhi. Sua boca parou de ameaçar uma

crise de risos, enquanto ela começava a morder a ponta da caneta.

"Sim. Mas ele não atende nem o celular, nem o telefone de casa. Tentei ir até lá, mas estava trancado, e ninguém abriu a porta."

"Hu-hu-hummm." Uma pessoa que se delicia com a desgraça alheia não serve para nada, mas Haruhi

estava tão radiante que ameaçava sair cantarolando a qualquer momento. Para resumir, essa pessoa era pior do que qualquer mendigo. E fim de discussão.

"E a família do seu namorado?" Kimidori-san continuava a falar com o chá. Parecia ser de sua natureza não conseguir

conversar olhando os outros nos olhos. "Ouvi dizer que os seus pais estão em outro país. Mas não sei o endereço para

contato." "Ehhh? Esse país por acaso era o Canadá?" - Haruhi perguntou. "Não, se não me engano, acho que era Honduras." "Ho-ho~. Honduras, entendo..." O que você entende? Para falar a verdade, até duvido que você saiba onde esse

maldito país fica. Uhm... será que era em algum lugar embaixo do México [7]?

7-[Nota do tradutor: Honduras fica, realmente, embaixo do México, porém alguns outros países separam os dois].

"Não tem nem sinal que ele esteja no seu quarto. Eu o visitei `s noite, e estava tudo

completamente escuro. Estou preocupada." Kimidori-san disse com indiferença, como se estivesse lendo um roteiro, então cobriu

o rosto com as mãos. Haruhi mordeu os lábios e disse; "Mm. Não posso dizer que não sei como você está se sentindo." Mentirosa. Você não poderia compreender nem remotamente os sentimentos de uma

garota apaixonada. "Em todo caso, é incrível que você tenha vindo até as dependências da Brigada SOS.

Primeiro, me diga os seus motivos." "Sim. É que ele sempre mencionava vocês. Então eu acabei me lembrando." "Eh? Quem é o seu namorado?" Após a indagação de Haruhi, Kimidori-san murmurou o nome do jovem estudante,

acho que já o ouvi antes, mas não sei se ele chega a ser um conhecido meu. Haruhi também franziu as sobrancelhas em dúvida.

"E quem é esse?" Em uma voz gentil como a brisa, Kimidori-san respondeu; "Ele dizia que era vizinho da Brigada SOS..." "Um vizinho?"

Haruhi olhou fixamente para o teto. Kimidori-san se virou para Asahina-san e para mim, que estávamos com a cabeça pendendo para o lado devido à dúvida, então para Koizumi e Nagato, mas seus olhos não se encontraram com os de ninguém, voltou então a olhar para o copo de chá, foi ai que...

"Ele era o Presidente do Clube de Informática." Foi isso que ela disse. Tinha esquecido completamente. Aquele presidente digno de pena? O que tirei fotos

do assédio sexual (contra a sua vontade), sobre Asahina-san, e que Haruhi, usando isso como pretexto, conseguiu um computador de último modelo (a força, que isso fique bem claro), o maltratando até fazê-lo chorar? Nosso infeliz veterano Presidente do Clube de Informática? Não, não temos porque ter pena dele, não é? Se ele tem uma namorada assim, é mais do que o suficiente. Pensando bem, onde é que eu coloquei aquela câmera descartável?

"Ok, entendi!" - disse Haruhi, aceitando a missão com facilidade - "Cuidaremos disso

Kimidori-san, você está com sorte! Como nossa cliente número um, seu caso será resolvido inteiramente de graça!"

Se você estivesse querendo tirar dinheiro disso, não seria um serviço escolar. De

todo modo, esse realmente é um caso a se relevar? O presidente pode ter simplesmente se tornado um hikkikomori [8], não é? Não sei quais são os motivos para que ele reclame da vida, tendo uma garota gentil como Kimidori-san ao seu lado, mas eu acho que é melhor deixá-lo se recuperar sozinho.

8-[Nota do tradutor: termo utilizado no Japão para indivíduos que se excluem socialmente].

Claro que eu não disse isso; Kimidori-san deixou o endereço do namorado em um

pedaço de papel, e saiu do clube no ritmo de uma aparição que acabara de se desmaterializar.

Depois de esperar Asahina-san voltar do corredor, dei a minha opinião. "Ei, será que está realmente certo aceitar isso tão facilmente? O que você pretende

fazer se não acharmos a solução para isso?" Mas Haruhi só girou a caneta em suas mãos com um bom humor assustador. "Nós podemos. O presidente só deve estar com uma 'doença de maio [9]' dois meses

atrasada. Marcharemos até ele, bateremos nele duas ou três vezes, e o arrastaremos para fora de casa. Completamente simples!" - ela realmente parecia pensar seriamente nisso. Bem, não é como se eu tivesse outra opinião, afinal.

9-[Nota do tradutor: Abril é, para os japoneses, um mês muito agitado, tanto no trabalho, volta às aulas, feriados, etc; porém, Maio, o mês seguinte, torna-se mais calmo, e é ai que muitos japoneses se sentem desmotivados, cansados e desanimados, dando origem a essa 'doença'].

Fiz uma pergunta para Asahina-san que estava nos servindo chá fresco. "Você é uma amiga da Kimidori-san?" "Não realmente, só falei uma vez com ela. Como ela estava na sala ao lado, só a via

durante as aulas conjuntas."

Então não seria melhor falar com os professores ou com a polícia ao invés de nos procurar? Ou será que ela já havia os procurado, e como fora ignorada, teve de recorrer a Asahina-san? Acho que deve ser algo do gênero.

Não havia nenhum senso de urgência enquanto tomávamos indolentemente nosso

chá. Haruhi estava em chamas, pensando em aceitar casos cada vez maiores, para então os resolver. Pensando como estávamos próximos ao fim do semestre, vejo o quanto essas circunstâncias conjuntas geravam a grande probabilidade de um 'segundo round' de distribuição de panfletos. Ah, esqueça...

Nagato fechou seu livro com um baque suave, e então como Haruhi havia dito,

prosseguimos com a investigação. O Presidente do Clube de Informática morava sozinho em um bloco de apartamentos

próximo. Devido a sua localização, achei que os principais moradores eram estudantes. Era um prédio de três andares, que não parecia ser bom nem ruim, com uma cor que não deixava saber se ele era velho ou novo. Tinha uma aparência excepcionalmente normal. Completamente ordinário.

Com o bilhete com o endereço em mãos. Haruhi correu pelas escadas. Enquanto os

outros três e eu, seguíamos seu uniforme de verão em silêncio. "É aqui, certo?" Em frente a porta de metal, Haruhi confirmou o nome na placa da frente. O nome do

namorado de Kimidori-san estava dentro do suporte de plástico. "Imagino como abriremos isso." Depois de forçar a maçaneta algumas vezes para checar se estava trancado, Haruhi

apertou o botão do interfone, esperando alguma resposta. Deve ter outro jeito de entrar! "Que tal irmos pela varanda lá de cima? Se quebrarmos o vidro, conseguiremos

entrar, certo?" Só podia rezar para que ela estivesse brincando. Estamos no terceiro andar, e não

somos um grupo de delinqüentes juvenis. E por enquanto, não tenho a mínima vontade de começar uma ficha criminal.

"Acho que sim. Vamos até o sindico do prédio e pedir a chave emprestada. Se

dissermos que somos amigos preocupados, talvez ele nos empreste." Fingir-se de amiga de alguém é a sua especialidade, não é? Mas o presidente, que

morava sozinho, nunca sequer deu uma chave extra para a sua namorada. É como colher o caule de uma berinjela, e jogar a fruta fora, não faz sentido algum.

Ka-chick Virei-me ao ouvir aquele estalido frio, e lá estava Nagato agarrada à maçaneta em

silêncio. " ... " Nagato me olhava com aqueles olhos vazios de hélio liquefeito. Lentamente, ela

forçou o puxador, e de um instante para o outro, a porta se encontrava surpreendentemente aberta. O ar lá de dentro estava estagnado, mas por algum motivo havia uma brisa gelada o acompanhando e colidindo contra nossos pés - bem, pelo menos era o que eu sentia.

"Oh." Os olhos de Haruhi se arregalaram, enquanto seus lábios se abriram em um

semicírculo. "Estava aberto? Eu nem percebi. Está bem, vamos entrar. Tenho certeza que ele está

se escondendo embaixo da cama, então pessoal, é só arrastá-lo de lá e o capturar. Na pior das hipóteses ele vai reagir com violência, e se fizer isso, podem acabar com a vida dele. Nesse caso cobrimos a cabeça dele com cera e entregamos para a cliente."

Aparentemente, ela não sentia um átomo de culpa por roubar o seu computador. E

diferentemente de Salomé, Haruhi nem se incomodava em arranjar um receptáculo para a cabeça [10]. Naquele humor animado, ela nos empurrou para dentro do quarto, então vimos que ele estava completamente inabitado. Nem uma mísera barata. Haruhi olhou dentro do banheiro, e embaixo da cama. Não havia nada que lembrasse um ser humano em lugar nenhum. E aquele lugar não era nem um quarto avos do tamanho do apartamento de Nagato, e olhe que só vi a sala de estar, mas se compararmos aquela sala macabra e vazia, esse lugar tinha um nível de vida umas quatro vezes melhor. Uma estante de livros, um armário, uma escrivaninha que parecia ser usada como mesa de jantar, e um computador estavam deixados ali em uma ordem precisa. Confirmamos depois que detrás da janela aberta, só havia uma máquina de lavar deixada no meio da varanda.

10-[Nota do tradutor: referência a passagem da Bíblia em que Salomé pede a cabeça de João Batista, primo de Jesus Cristo, à Herodes Antipas].

"Que estranho." Enquanto pulava na cama, Haruhi chacoalhava a cabeça em descrença. "Tinha certeza de que ele estaria deitado em posição fetal em algum canto da casa.

Será que ele foi em alguma loja de conveniência? Kyon, você sabe de mais algum lugar onde um hikikomori poderia ir?"

Então fora decidido que o Presidente de Clube de Informática era mesmo um

hikikomori? Será que ele não podia estar viajando pela América Central em algum passeio? Ou no final das contas ele estava realmente escondendo os seus planos? Devíamos ter perguntado para o seu professor responsável ou para a sala do presidente antes de aparecer por aqui.

Estava olhando para a prateleira de livros de informática na estante, quando de

repente alguém puxou o meu colarinho. “ ... “ Nagato me olhava sem expressão alguma, mexendo o queixo suavemente para os

lados. "Devemos ir embora." Parecendo tão pequena, ela sussurrou para mim. No dia de hoje, era a primeira vez

que ouvia a voz de Nagato. Haruhi e Asahina-san não perceberam, mas Koizumi prontamente colocou o seu rosto perto do meu ouvido.

"Eu sinto a mesma coisa." Não falem com tanta seriedade, vocês estão me assustando. Mas Koizumi, com

aquele sorriso forçado, e olhos de quem não está brincando, prosseguiu. "Sinto um sério desconforto dentro desse lugar. É uma sensação familiar, mas não

igual a o que eu já senti, apenas similar, com algumas diferenças fundamentais..."

Haruhi tomou a liberdade de abrir a geladeira, - ”Achei Waraibi-mochi [11]! A data de

vencimento foi ontem, então seria um desperdício deixar ele ai. Vamos comer!" - ela disse, enquanto abria a sacola. Aproveitando a confusão que tomava os olhos de Asahina-san, Haruhi a fez provar o vencido pacote da loja de conveniência, para checar se ainda estava comestível.

11-[Nota do tradutor: mochi consiste é um bolinho feito de arroz glutinoso moído em pasta e depois moldado. Waraibi-Mochi não seria propianente um Mochi, mas sim um bolinho gelatinoso feito a partir de plantas e amido, cobertos com kinako, que é um doce feito a partir da farinha de soja torrada. Waraibi-Mochi é, para o Japão, similar ao que o sorvete é para nós].

Também falei em uma voz sussurrada, naturalmente. "Similar a quê?" "Ao espaço restrito. Essa sala tem um cheiro parecido. Não, cheiro é só uma

expressão metafórica. Poderia dizer sensação, é uma boa figura de linguagem, visto que esse sentimento excede os cinco sentidos."

“Você é um esper?!” - era um tsukkomi [12] recorrente que me segurei em não soltar.

Para dizer a verdade, esse cara era realmente um esper.

12-[Nota do tradutor: o Manzai é um teatro realizado no Japão com dois personagens: um homem justo (tsukkomi) e outro brincalhão (boke)].

Nagato cochichou em uma voz que mal pode agitar o ar. "Uma falha dimensional está acontecendo. Uma transformação de fase está sendo

executada." Ah, como se eu realmente conseguisse entender. Isso era o que eu queria dizer, afinal. Mas se Nagato levasse a mal e ficasse

surpreendentemente triste com isso, provavelmente ficaria paralisado de medo bem onde estou, então, apesar de tudo era do meu interesse me manter calado. Ah, enfim.

De todo modo, era melhor recuarmos logo. Após fazer um sinal para Koizumi e

Nagato, me virei para a translúcida devoradora de mochis que era Haruhi. Quando todos já haviam saído do prédio. Haruhi anunciou a nossa liberação pelo dia

de hoje, possivelmente por razões de fome, e assim voltou para casa sozinha. O caso, trazido até nós por Kimidori-san, tinha sido colocado em suspenso por hora. - “Eventualmente, as coisas vão se resolver!” - ela disse com irresponsabilidade, e começou a pensar dessa maneira; sendo assim, todos os assuntos do dia se dissolveram no ar.

Acho que ela já perdeu o interesse. Haruhi não era a única que não havia comido, mas eu apenas fingi estar indo para

casa assim que todos partiram, e após esperar impacientemente por dez minutos, voltei para frente do condomínio onde morava o presidente.

Os outros membros da brigada estavam ali, me esperando. Tanto o dicionário

alienígena do espaço, quanto o bastardo questionador esper pareciam saber o que estava acontecendo por ali, mas o mesmo não poderia ser dito de Asahina-san.

"Uhm... o que está havendo? Vocês disseram que deveríamos nos encontrar sem que Suzumiya-san percebesse..."

Ela me olhava com uma expressão confusa. Enquanto meus olhos inspecionavam

Koizumi e Nagato, minha ansiedade aumentou. A pessoa que mais me esperava era Asahina-san, e ela merecia a minha consideração a respeito.

"Esses dois aqui estão preocupados com o quarto onde estávamos." - respondi. "Isso é verdade?" A pessoa sorridente e a pessoa sem expressão alguma assentiram ao mesmo tempo. "Acredito que eles vão entender assim que voltarmos lá para cima. Não é, Nagato-

san?" Sem dizer mais nada, Nagato começou a andar, então a seguimos obedientemente.

Passando pelas escadas, sem fazer nenhum barulho, ela silenciosamente abriu a porta do apartamento do presidente, tirou seus sapatos e avançou para o centro da sala.

O local não era espaçoso de maneira alguma, e já estava cheio com quatro pessoas

em fila. "Dentro desta sala." Nagato iníciou seu discurso. " Está localizado um amalgama não corrosivo de espaço assincrônico, independente

da ocorrência de um modo restrito de condicionamento." ... Nós esperamos um pouco, mas essa pareceu ser a única explicação que iríamos

ouvir. Mesmo assim ela dava a impressão de estar falando com palavras que pareciam ter sido arrancadas de um dicionário e postas em uma frase, só porque elas chamaram a sua atenção, possivelmente por serem um bocado complicadas. Eu, não tendo dicionário algum em mãos, estava completamente perdido.

"Sinto uma sensação parecida com a de um espaço restrito. A fonte de origem disso

ainda é Suzumiya-san, mas o odor é um pouco diferente." Koizumi disse algo que devia ser uma continuação da frase de Nagato. Vocês dois

fazem uma boa dupla, acho que devem andar mais tempo juntos. Quem sabe você ensina outros hobbies para Nagato além de ler.

"Farei minhas considerações sobre isto no futuro. Porém, agora, temos uma tarefa a

cumprir. Nagato-san, esse espaço anormal causou o desaparecimento do presidente?" "Sim." Nagato levantou sua mão, e fez um gesto como de quem pincelava gentilmente o

espaço a sua frente. Uma premonição desagradável subiu pela minha espinha e estimulou meu cérebro.

Talvez eu devesse ter dito "Espera ai!", mas antes que pudesse pronunciar qualquer palavra, Nagato sussurrou uma frase que parecia ter sido dita em uma fita acelerada vinte vezes, e em um instante, aquele lugar mudou completamente entre uma piscada e outra.

"Hahi-!?"

Asahina-san saltou e segurou meu braço esquerdo com ambas as mãos, me apertando forte. Mas infelizmente, não tinha tempo de aproveitar essa sensação esperada há tanto tempo pois, afinal, eu mesmo estava em desespero tentando descobrir a minha localização.

Vejamos... estávamos no minúsculo apartamento do Presidente do Clube de

Informática. Definitivamente não era um lugar tão assustador como este. Uma ampla planície flutuando no ar, onde sequer conseguia enxergar o horizonte.

"Códigos de intrusão analisados. Este lugar está se sobrepondo a realidade normal, a

fase simplesmente nos escapou." Nagato nos explicou. Bem, ela não era a única pessoa que podia fazer esse tipo de

coisa? Koizumi, o único que poderia confrontar Nagato em uma discussão, se intrometeu. "Não parece o espaço restrito criado por Suzumiya-san." "É similar a ponto de nos enganar. De todo modo, uma fração dos dados deste

espaço estão interagindo com informações residuais produzidas por Suzumiya Haruhi." "As coisas chegaram a esse nível?" "Na verdade ela foi apenas o gatilho, o nível natural é irrelevante." "Entendo. Então é assim que as coisas são." Asahina-san e eu estávamos felizes em não sermos incluídos na conversa. Afinal,

aquilo não me preocupava nem um pouco, deveria estar agradecido por ser ignorado. Mas sabe o que me deixaria ainda mais grato? Poder voltar para o mundo real.

Asahina-san se agarrava nervosamente em mim, enquanto observava com atenção

as redondezas. Parecia que esse lugar era algo jamais visto por ela. Não é como se fosse diferente para mim, meus olhos também voavam em todas as direções, olhando ao meu redor. Estava pensando se poderia respirar, com segurança, o ar estava coberto de uma névoa amarelada, e o chão, cuja temperatura agradavelmente passava pelas minhas meias, agora parecia perfurar diretamente a sola dos meus pés. Fosse o piso ou aquele chão, o plano ocre continuava indefinidamente. Como acreditar que uma sala de uns seis tatamis poderia conter esse lugar, afinal esse era o tal de espaço trans-dimensional? Bem, como já imaginava que algo desse tipo aconteceria, estava relativamente calmo, se é que eu posso dizer algo assim.

"O Presidente do Clube de Informática está aqui?" "Aparentemente sim. Esse espaço diferencial apareceu em seu quarto, e de alguma

maneira acabou o aprisionando." "E onde ele está? Não estou vendo-o." Koizumi simplesmente se virou para Nagato com um sorriso. Como se aquilo fosse

um sinal, ela levantou uma de suas mãos. "Espera ai!" Dessa vez, tive tempo de protestar. Com toda seriedade, perguntei para Nagato, que

estava ali congelada. "Você pode me dizer o que diabos está fazendo? Pelo menos gostaria de me

preparar psicologicamente." "Nada. "

Nagato respondeu como uma estatua de vidro; com seus dedos retesados, ela

levantou sua mão uns setenta e cinco graus para cima, e estendeu seu indicados para o ar. Então, disse uma única frase.

"Está vindo." Virei meus olhos para onde Nagato apontava. "Uhn." Grunhi inconscientemente. A névoa ocre estava lentamente rodopiando em um vórtice. Como se as partículas da

névoa formassem um redemoinho, se unindo em um único ponto, grão por grão. Sentia-me como se fosse um elemento estranho dentro de um corpo. E de algum modo, uma imagem saltou de dentro daquele vórtice amarelado, como se estivesse para realizar o seu trabalho como célula branca, ou seja, nos eliminar. Meu único alento era a mão quente de Asahina-san.

"Estou sentindo uma certa hostilidade." A voz irritante de Koizumi com certeza não me deixava mais relaxado, e não tive

reação nenhuma quando Nagato estava ali parada como um andróide no meio de um curto circuito, com a mão ainda levantada. Era difícil não ficar tenso. Essas pessoas tinham como se defender, mas eu não, e parece-me que Asahina-san também não podia, por isso continuava se escondendo detrás de mim. Essa era a hora perfeita de trazer algum artefato futurista. Você não tem nenhuma arma de raios ai ou coisa parecida?

"Carregar armas é proibido, e é perigoso." Asahina-san respondeu com uma voz melosa. Eu posso entender, mesmo que [esta]

Asahina-san tivesse uma arma, não seria de muita ajuda, afinal, era capaz que ela a esquecesse dentro do trem ou algo assim. Você poderia esperar que ela melhorasse um bocado quando ficasse mais velha, mas pensando bem [aquela] Asahina-san também era uma pessoa bastante descuidada, ela deve ser uma cabeça de vento por natureza.

Enquanto pensava nisso, a figura na névoa começou a gradualmente tomar uma

forma sólida. Provavelmente havia uma razão para isso também, mas eu não queria saber qual era. A única coisa que eu sabia é que, de certa forma, eu conhecia o tipo de forma que aquela massa ocre estava tomando.

"... hieee!" Asahina-san era a única a se assustar. Certamente não era uma coisa bonita de se

ver, e algo que não se via com tanta freqüência dentro da cidade. Mesmo assim, eu que só havia visto aquilo há vários anos, embaixo do assoalho da casa da minha avó, no interior, estava em silêncio.

Você conhece um inseto chamado kamadouma[13]?

13-[Nota do tradutor: pode-se dizer que é um tipo de grilo].

Se não, gostaria de mostrar o espetáculo que acontecia em minha frente, se você

conhece-o bem, vamos deixar os detalhes de lado. Pois esse kamadouma tinha uns três metros de comprimento. "O que é essa coisa?" - perguntei.

"É um kamadouma, não é?" - respondeu Koizumi. "Eu sei disso. No jardim de infância, eu era um famoso expert em insetos. Mesmo não

tendo os visto de verdade, sabia diferenciar um uma-oi [14] de um kutsuwamushi [15]. Mas deixando de lado, o que é isso?"

14-[Nota do tradutor: um tipo de gafanhoto]. 15-[Nota do tradutor: um gafanhoto gigante].

Nagato respondeu de maneira lenta e fragmentada. "O criador deste espaço." "Essa coisa?"

"Sim." "Isto também é culpa da Haruhi?" "A origem é diferente. Mas quem deu início com isso foi ela." Eu novamente iria perguntar o que aquilo era, mas percebi que Nagato ainda seguia

ingenuamente a minha ordem. "... pode se mexer agora." "Entendo." Abaixando as suas mãos, Nagato olhou intensamente para o inseto gigantesco. O

benjo ko-orogi [16] marrom escuro estava pousando em um local a poucos metros de nós.

16-[Nota do tradutor: grilo de quarto, outro termo usado para kamadouma].

"Bem, mesmo que de modo imperfeito, parece-me que posso usar os meus poderes aqui."

Koizumi estava segurando um globo de luz vermelha do tamanho de uma bola de

vôlei em suas mãos. Depois das circunstâncias da última vez, nunca achei que veria este “rubi” novamente, porém, aparentemente ele havia surgido espontaneamente das suas mãos.

"Minha força aqui é um décimo do que seria em um espaço restrito. E para piorar,

aparentemente não consigo me transformar." Por algum motivo, Koizumi se virou para Nagato com aquele sorriso arejado que

estávamos cansados de ver, e perguntou; "Acha que só isso já será o suficiente?" " ... " Nagato não esboçou nenhuma reação, então foi a minha vez de perguntar a ela. "Enfim, Nagato, qual é a verdadeira identidade deste inseto? E onde diabos está o

presidente?" "Essa é uma subespécie de forma de vida baseada em dados. Ela se usou do tecido

cerebral daquele jovem estudante para aumentar a probabilidade de sua existência."

Koizumi colocou o dedo na testa, como se estivesse considerando alguma coisa, e se

concentrando profundamente naqueles seus pensamentos. Levantando o seu rosto, ele perguntou;

"Então, por acaso o presidente está dentro desse inseto gigante?" "Correto."

"Esse kamadokuma... entendo, essa é a materialização do objeto de medo do

presidente, não é? Se o derrotarmos, esse espaço diferencial vai sumir. Por acaso estou errado?"

"Você não está enganado." "É fácil entender quando é uma metáfora simples. Nesse caso, vai ser fácil." Mas não será tão simples se não for fácil de entender. Por que, digamos que eu e

Asahina-san ainda não conseguimos compreender. "Essa não parece ser a melhor hora para explicações, não é?" Sem levantar a voz, ele colocou o globo vermelho de lado com um sorriso suave,

então, Asahina-san que de alguma forma estava agarrada a minha cintura. E posso dizer que como as coisas estão indo, ‘de alguma forma‘, é como as coisas sempre serão...

"Hyoeee~" Ela não estava só tremendo, e sim tirando toda a minha mobilidade. Sob essas

circunstâncias, como eu poderia escapar? "Isso não vai ser necessário, espero. Vou acabar com isso em um instante. Tenho a

confiança, por algum motivo, que isso será mais fácil do que caçar aqueles ‘celestiais’." O gafanhoto que acabara de se materializar não parecia que iria sair voando por ai,

eu acho. Penso quantos metros ele conseguiria saltar, até poderia fazer uma estimativa... mas acho melhor não.

Disse abruptamente. "Acabem logo com isso." "Entendido." Koizumi jogou a esfera para cima e a atingiu como se estivesse sacando uma bola de

vôlei. A bola vermelha voou precisamente, atingindo em cheio a cabeça do monstruoso inseto, fazendo um som como de um balão ao explodir. Foi um ataque estúpido, digno de um oponente igualmente estúpido. Mesmo estando preparado para algum tipo de contra-ataque, o kamadouma não escapou, saltou, ou rugiu com um som misterioso, só ficou ali parado pacificamente.

"Acabou?" Nagato assentiu a ouvir a pergunta de Koizumi. Realmente aquilo acabou rápido, o

Kamadokuma colossal voltou a sua forma original, difusa e enevoava, se tornando cada vez menos sólido. A névoa amarelada brilhou e começou a se dissipar em todas as direções, desaparecendo, assim como a sensação congelante em meus pés.

Como a nossa suposta compensação, um garoto em um uniforme familiar apareceu.

Aquele que caiu de costas, olhando para cima, era o Presidente do Clube de Informática. Estávamos frente a estante do computador, os olhos dele estavam fechados, dando a

impressão de quem caíra da cadeira, mas pelo menos ele parecia estar vivo. Koizumi colocou a mão sobre o seu pescoço e me deu um menear com a cabeça.

Nagato, que estava em pé em frente a estante de livros, olhava para Asahina-san,

que ao lado da cama, olhava para mim com confusão nos olhos.

Voltamos aquele quarto apertado do condomínio. Me pergunto onde aquele espaço tão vasto se meteu.

De toda forma, isso era uma coisa boa. Sendo cinza ou amarelado, eu já cansei de

ficar preso nessas dimensões alternativas e espaçosas. "Aproximadamente a duzentos e oitenta milhões de anos atrás." Assim começou a explicação de Nagato, um mistério cósmico de ondas

eletromagnéticas, que eu fosse resumir, seria algo mais ou menos assim; Era o permiano do período jurássico quando aquela coisa chegou a Terra, como não

havia nenhum hospedeiro propício que pudesse garantir a sua vida, ela entrou em hibernação para sua auto-preservação, pelo menos até o surgimento de um corpo de dados grande o suficiente na Terra, onde pudesse continuar a sua existência.

"Como não havia meios dele existir na Terra, congelou todas as suas ações e entrou

em um estado estático." Muito tempo depois, os humanos surgiram neste mundo, e deram origem as redes de

informática. Mesmo imperfeito, usando essa infantil (pelo menos de acordo com Nagato) rede digital de informações como uma incubadora apropriada. Mesmo que de maneira insuficiente, essa coisa permaneceu em um estado semi-consciente. Porém, um incidente acabou causando o seu despertar. Ao invés de um despertador flutuando no espaço, havia um único detonador, que carregava informações que não podiam ser medidas em valores numéricos comuns. Dados que não existiam nesse planeta, informações completamente alienígenas. Para essa coisa, era um meio físico de se manifestar que tanto procurava...

Nagato terminou seu discurso sem floreios. A alienígena inexpressiva, que estava fazendo algo suspeito com o computador do

presidente, mostrou a página da Brigada SOS, assim como o logotipo danificado no monitor enquanto falava.

"Esse símbolo de invocação desenhado por Suzumiya-san foi o catalisador, se

transformando em um portal." "... está dizendo que o emblema da Brigada SOS de antes, essa coisa, é um circulo

mágico de invocação ou algo assim?" "Sim." - Nagato meneou afirmativamente - "Convertendo o símbolo da Brigada SOS

em medidas terrestres, ele conteria aproximadamente quatrocentos e trinta e seis petabytes [17] de informação." 17-[Nota do tradutor: um petabyte são mil e vinte e quatro terabytes, sendo esse mil e vinte e quatro gigabytes. Sendo assim, um petabyte tem 1.073.741.824 megabytes. O valor acima, corresponde a aproximadamente 468.151.435.264 megabytes de informação].

Não pode ser, essa imagem não pesava nem dez kilobytes [18]. Mas Nagato disse

calmamente.

18-[Nota do tradutor: mil e vinte e quatro bytes, sendo esse byte composto de oito dígitos "I-O", ligado/desligado, representados por 0 e 1].

"Isso não corresponde a nenhuma unidade terrestre."

"As probabilidades são incríveis, não é? Afinal, mesmo que este seja um símbolo que ela desenhou ao acaso, ela acertou completamente. Ela é realmente a Suzumiya-san. Acredito que para ela criar estas figuras astronômicas não seja nada."

Aparentemente Koizumi estava seriamente impressionado. Enfim, apesar de tudo,

uma coisa ainda me preocupava, e o que seria? A maioria das coisas que Haruhi fazia vinham de meras idéias. Formar a Brigada

SOS, e juntar os seus membros foi assim. Asahina-san, que se adequava perfeitamente no estilo de mascote da brigada, Koizumi, que se transferiu de escola, e Nagato, que esteve aqui desde o começo. E antes que se pudesse perceber, Asahina-san era uma viajante do tempo, Koizumi era um esper, e Nagato era uma pseudo-alien. E ela havia reunido essas figuras sem ao menos perceber. Na verdade, Koizumi diria que não foi uma mera coincidência, e declamaria algumas bobagens como; Tudo aconteceu assim porque Haruhi assim desejava. Apesar de estar começando acreditar um pouco nisso, ainda não vou aceitar isso como verdade. Pois eu, um simples humano comum, sozinho já serviria de contra prova para essa tese. Se a teoria de Koizumi estivesse certa, seria estranho se eu não tivesse um padrão de ondas eletromagnéticas anormais me cercando. Acho que as coisas devem ser assim...

Se houvesse um outro lado das ações de Haruhi, e elas fossem pensadas, eu

geralmente as consideraria sem sentido algum. Afinal, ela sozinha não conhece conseqüências para os seus atos. Como os símbolos que ela inventou em sua cabeça, que acabaram se tornando um tipo de mensagem alienígena. Era como um gato golpeando um teclado e gerando, surpreendentemente, seqüências lógicas. Quais eram as chances disso afinal?

Essa garota problemática chamada Suzumiya Haruhi, que facilmente despedaça

todas as paredes das probabilidades e estatísticas, e inconscientemente chega às respostas certas; seria melhor acreditar então que ela me fez se juntar a Brigada SOS por me considerar um tipo de garoto de tarefas. Sim, é isso... melhor do que acreditar que eu tenha um tipo idiota e misterioso de alter-ego. Ou teria? Talvez o meu papel aqui seja ter um tipo de habilidade imprevisível e incomum que nem eu mesmo sei qual é.

Será que foi por isso que eu fui escolhido? Um segredo sobre mim, que eu mesmo

não sei, francamente, não existe. O que me assusta mesmo é a próxima questão. Então, quem sou eu? Dei de ombros, uma perfeita imitação de Koizumi. Bem, como ele diria, eu sou a

pessoa que mais entenderia a minha própria parte, do início ao fim, eu sou a única consciência da Brigada SOS. E não há duvidas disso. Minha natureza difere destes três, então acabo sendo o único membro que tenta persuadir Haruhi a viver uma vida escolar normal. Além impedir as atividades ilegais do clube, é meu dever fazer com que ela acabe com a Brigada por livre e espontânea vontade. Se pensarmos bem, esse é o caminho mais rápido para chegarmos a um mundo pacifico. Não, na verdade é o único caminho.

Não necessariamente tenho a pretensão de mudar o que Haruhi pensa do mundo, mas mudar o seu mundo interior é uma tarefa muito mais simples, e melhor, não incomodaria ninguém.

Novamente, se eu não a tivesse dado essa estranha inspiração, a Brigada SOS talvez

nem existisse. Então vejamos, hummm, é uma situação que temos de analisar caso a caso. Acho que algum dia eu conseguirei meus objetivos, huh. Mas não sei quando será esse dia, e como farei uma coisa assim.

Mas vamos colocar isso de lado por enquanto.

"No fim, o que era aquele kamadouma mesmo?" Se eu não perguntasse isso agora, essa história nunca teria um final satisfatório. Em

um tom que dava a impressão de que ela realmente exalava dióxido de carbono, Nagato me respondeu.

"Uma forma de vida baseada em informações." "Parentes dos seus chefes?" "Eles se separaram em um passado distante. Mesmo que a sua origem seja igual,

eles evoluíram de maneira diferente, e acabaram extintos." Era o que se pensava, mas havia um sobrevivente. Ele não tinha que hibernar na

Terra, de todos os lugares do universo. Eu queria mesmo que ele fosse para cama em algum lugar lá perto de Netuno, ele podia aproveitar e ter congelado enquanto dormia.

Nem dava para pensar que o desenvolvimento da internet acabaria sendo uma

incubadora de pseudo-demônios. Eu acabei pensando em algo de repente. Ali perto da cama, eu perguntei a minha pequena veterana.

"Asahina-san, a que ponto os computadores do futuro evoluíram?" "Eh..." Asahina-san abriu seus lábios e congelou. De todo modo provavelmente era uma

"informação confidencial", então não estava esperando nada, mas de alguma forma outra pessoa respondeu.

"Essas redes primitivas de informação não estarão mais em uso." Nagato falou, sem perceber a atmosfera que havia se instaurado. Apontando para o

PC, ela disse; "Para formas de vida orgânica no nível dos terráqueos, criar um sistema que não

depende de mídias para o armazenamento de dados é algo simples." O olhar de Nagato se moveu horizontalmente. Quando chegou a ela, Asahina-san

empalideceu. Então é assim? "É que... uhm..." Asahina-san parecia deprimida e insegura. "Eu não posso dizer..." Em uma voz fraca e sussurrada ela falou; "Não posso afirmar e nem negar; não tenho essa autoridade. Me desculpe." Não, tudo bem. Não há motivos para se desculpar, sério. Não é como se eu

particularmente quisesse saber ――― Ei... Koizumi, por que você está com essa cara desapontada, tem alguma coisa de que você não goste?

Para salvar Asahina-san, decidi mudar de assunto. Hmm, o que poderia ser, ah, sim. "Tem alguma coisa estranha."

Após me certificar que tinha a atenção de todos, continuei. "Eu estava presente quando Haruhi desenhou aquele símbolo estúpido, mas nada

aconteceu. Porque aquela coisa não apareceu quando Haruhi terminou a imagem?" Quem respondeu essa pergunta foi Koizumi. "Foi influência da sala, no fim ela acabou se transformando em um espaço diferencial

por algum tempo. Vários tipos de elementos e campos de força estão continuamente batalhando um contra o outro e se negando, em contraste, a sala acaba se tornando algo normal. Pode-se dizer que ela atingiu o ponto de saturação. Como várias coisas aconteceram aqui, e vários elementos destoantes do ambiente se encontram, não acho que haja mais espaço para absorção."

Que teoria. Então você está dizendo que sem que eu percebesse, a sala do Clube de

Literatura acabou se tornando um ninho do mais puro mal? "Você diz isso, mas as pessoas comuns não têm esse tipo de sensor embutido. Pode

ser que você esteja certo, mas eu mesmo acho que é completamente inofensivo. Provavelmente."

Bem, de todo modo, é bom que essas temperaturas tão extremas se anulem e

acabem esfriando. Eu não gostaria de começar a agir estranho, ou ter de procurar uma corda para me enforcar antes que eu percebesse.

"Você não precisa se preocupar tanto, vai dar tudo certo. Pois Nagato-san, Asahina-

san e eu estamos sempre trabalhando duro para que nada aconteça." Tem certeza que isso não está acontecendo justamente porque vocês três estão

trabalhando duro demais? Sorrindo, Koizumi falou; "Ah, bem..." - então inclinou a cabeça enquanto levantava as

palmas das mãos. Virei meus olhos de volta ao computador. Assim que olhei para o símbolo distorcido

da Brigada SOS, senti um grande desconforto sem motivo aparente. Manipulando o mouse para mover o cursor, desci até o rodapé da página.

"Eh?! " O contador de acessos foi mostrado, e por algum motivo havia voltado ao normal,

exibindo o número de visitas. A última vez que eu o vi, número não passava de três dígitos. Agora, o nosso site da Brigada SOS mostrava... uma, dez, cem, mil... quase três mil visitas... como isso era possível? Quando tivemos tanta exposição?

"Aquilo colou hiperlinks em diversos locais." Nagato disse discretamente. "Essa forma de vida baseada em informações faz isso com a intenção de se

multiplicar. Excessivamente primitivo, esse método consiste em se auto-replicar, se instalando nos cérebros daqueles que viram o símbolo, criando um espaço restrito. Para isso é necessário o maior número de humanos possível."

"Então, se são as pessoas que o viram... quer dizer que quase três mil delas

acabarão como o presidente?" "Negativo. Os dados do símbolo de invocação foram danificados. O número de

pessoas que viram a fonte correta de informação não é muito grande."

Eu estava pensando que o servidor está errático, no fim, isso acabou nos ajudando. "Quantas pessoas? Esses idiotas que clicaram em um link suspeito e acabaram

vendo aquela marca completa." "Oito pessoas, sendo que cinco são estudantes do colégio do norte." Se esse é o caso, mais sete pessoas estavam presas nesses espaços ocres?

Lugares governados não só por kamadoumas, mas por toda a espécie de metáforas? Para ajudá-los – bem, provavelmente precisaríamos aparecer. Koizumi perguntou para Nagato os endereços destas pessoas (não me surpreendeu que Nagato soubesse de alguma forma essas coisas), e pelo jeito Asahina-san também pretendia seguir o par. Se for assim, não acho que possa simplesmente não aparecer por lá; Apesar de Haruhi ter feito o pior, a culpa por ter colocado aquele circulo mágico e misterioso na internet foi minha, então é melhor ajudar a limpar a minha própria sujeira.

E também para me livrar desse sentimento de culpa. Para piorar, além das vitimas do nosso colégio, acho que temos que pegar um trem

até Shinkansen para resgatar as outras três vitimas que de alguma forma viram aquele símbolo misterioso.

Então. Era o início do período de provas. E o próximo ato da Brigada SOS era esperar pelas

férias de verão em nossa sala. Haruhi acabou me informando que o Presidente do Clube de Informática voltara a

escola. "Hmmm, sério?" Isso é tudo que ela disse antes de voar para fora da sala, provavelmente indo comer

o seu almoço na cantina. Koizumi e Asahina-san ainda não haviam chego. Falando nisso, sobre o símbolo distorcido que Haruhi fez para a Brigada SOS, eu o

consertei colando a sua versão revisada pela Nagato. E dessa vez fui completamente capaz de fazer o seu upload no servidor, bem, e qual era a diferença nele afinal? Além de ele estar certo para quem for o ver de agora em diante, seu modelo original quase não difere daqueles rabiscos que Haruhi fez, mas se você olhar bem, poderá ver que está escrito “Brigada ZOZ”. Sendo essa a sua única diferença, não creio que mais coisas estranhas aparecerão.

Um epigrama para esse momento; Eu quero clicar impulsivamente para um endereço

desconhecido, mas porquê? Pensando nessas coisas, olhei distraidamente para Nagato, que lia um livro técnico

repleto de números no canto da mesa. Olhando para o seu rosto, me lembrei de uma coisa. Mesmo não sabendo quando essa pessoa percebeu o símbolo de invocação criado

por Haruhi, será que pode ter sido ela que destruiu os dados nocivos? E mais uma coisa; foi Kimidori Emiri-san quem nos trouxe esse caso. Porém, quando

fui até a sala do Clube de Informática há algum tempo atrás, ouvi dizer que o presidente não tinha namorada alguma. E ele disse isso por si só, aparentemente saudável, embora confuso por não ter as memórias dos últimos dias. Não é como se ele parecesse estar mentindo, mas com certeza estava surpreso quando mencionei o nome de Kimidori-san. Acredito que o presidente não é um artista nato que posso nos proporcionar uma performance tão real.

Eu achei isso muito suspeito. Teria Kimidori-san vindo até a Brigada SOS sob os pedidos de alguém? Se você

pensar, o momento não poderia ser melhor. Haruhi havia feito seus rabiscos e colocado no site. Então algumas pessoas que os viram foram possuídas pela forma de vida composta de informação e mandadas diretamente para outra dimensão. Após ouvirmos a história de

Kimidori-san, fomos diretamente para a casa do presidente, onde fomos obrigados a fazer uma dedetização.

Era um cenário completamente calculado. E no centro de todos estes fatos, estava

sempre Nagato. Mesmo achando que a nossa alienígena multiuso fez algo com Kimidori-san, para que ela trouxesse esse caso até nós, tenho certeza que foi um método elaborado, e se fosse realmente isso, eu não estaria nem um pouco surpreso.

Talvez ela houvesse pensado em trazer uma falsa cliente apenas para tirar Haruhi um

pouco de seu tédio. Se fosse apenas um incidente deste nível, tenho certeza que Nagato poderia resolver isso sozinha, sem envolver nenhum de nós. Afinal, não foi sempre assim? Sem dizer nada para ninguém, e sempre mantendo silêncio detrás das cortinas, ela poderia ter evitado essas coisas estranhas antes mesmo que elas acontecessem?

Uma brisa fria soprou pelas janelas, abanando os cabelos de Nagato e as páginas de

seu livro. Seus dedos alvos apertando a margem com suavidade, seu rosto branco cabisbaixo; completamente imóvel, com exceção dos olhos, que caçavam com avidez as letras da obra.

Ou... será que Nagato realmente desejava nos envolver? Vivendo em um quarto vazio

por anos, uma alienígena andróide orgânica, que apenas aparentava não ter emoções, será que ela também os tinha?

Estes sentimentos de solidão de quem está realmente isolado...