N e s t a Edição -...

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HAGIOGRAFIA Clara de Assis - Da Redação 08 BIOGRAFIA Roberto Pasqual Carrara 12 CULTURA ESPÍRITA A Necessidade do Conhecimento - Caroline Brandão 14 ANÁLISE Entrar na vida sem as mãos - Armando dos Santos RECORDANDO CHICO O “Pinga Fogo” - TV Tupi - final 28 30 VINHA DE LUZ Com Amor - Emmanuel / Chico Xavier 34 27 CURIOSIDADES BÍBLICAS Você Sabia... - Julieta Closer INFORMAÇÃO O Editor Recomenda - O Editor 35 ACONTECEU COMIGO Fui preparado por meu filho... - Milton dos Santos 16 Edição FidelidadESPÍRITA - JUNHO DE 2003 Nesta Nesta CAPA Um ensaio sobre a Consciência Prof. Dr. Nubor Orlando Facure 18 REVUE SPIRITE Exame das Comunicações Mediúnicas que nos enviam - Allan Kardec 04 EDITORIAL Os Médiuns - Joana D’Arc 03 RELATOS A Hemorragia - Jerônimo Mendonça 07 Reprodução Reprodução Reprodução Reprodução Reprodução Reprodução Reprodução Reprodução

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HAGIOGRAFIAClara de Assis - Da Redação08

BIOGRAFIARoberto Pasqual Carrara 12

CULTURA ESPÍRITAA Necessidade do Conhecimento - Caroline Brandão14

ANÁLISEEntrar na vida sem as mãos - Armando dos Santos

RECORDANDO CHICOO “Pinga Fogo” - TV Tupi - final

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VINHA DE LUZCom Amor - Emmanuel / Chico Xavier 34

27 CURIOSIDADES BÍBLICASVocê Sabia... - Julieta Closer

INFORMAÇÃOO Editor Recomenda - O Editor 35

ACONTECEU COMIGOFui preparado por meu filho... - Milton dos Santos16

Ed i çãoFidelidadESPÍRITA - JUNHO DE 2003

Nes ta Nes ta

CAPA Um ensaio sobre a Consciência Prof. Dr. Nubor Orlando Facure

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REVUE SPIRITEExame das Comunicações Mediúnicas que nos enviam - Allan Kardec

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EDITORIALOs Médiuns - Joana D’Arc03

RELATOSA Hemorragia - Jerônimo Mendonça07

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Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”Departamento Editorial

EDITORIAL

Os médiuns

stou satisfeita em vos ver todos pontuais ao encontro que vos dei. A bondade de Deus estender-se-á sobre vós e todos Eos vossos anjos guardiães ajudar-vos-ão com seus conselhos

e vos preservarão da influência dos maus Espíritos, se souberdes escutar sua voz e fechar vossos corações ao orgulho, à vaidade e ao ciúme.

Deus encarregou-me de uma missão para cumprir junto aos crentes que ele favorece com o mediunato. Quanto mais recebem graças do mais alto, mais correm perigos; e esses perigos são tanto maiores quanto nascem dos próprios favores que Deus lhes conce-de.

As faculdades de que os médiuns gozam lhes atraem os elogios dos homens: as felicitações, as adulações, eis seu escolho. Os pró-prios médiuns que deveriam ter presente na memória sua incapaci-dade primitiva, esquecem-no; fazem mais: o que eles não devem senão a Deus, atribuem ao seu próprio mérito. Que acontece então? Os bons Espíritos os abandonam; não tendo mais bússola para guiá-los, tornam-se joguetes de Espíritos enganadores. Quanto mais são capazes, mais são levados a se fazerem um mérito de sua faculdade, até que Deus, enfim, para puni-los, retira-lhes um dom que não pode mais que lhes ser fatal.

Eu não saberia muito vos lembrar de vos recomendar ao vosso anjo guardião, a fim de que vos ajude a manter-vos em guarda contra vosso mais cruel inimigo, que é o orgulho. Lembrai-vos de que sem o apoio do vosso divino mestre, vós, que tendes a felicida-de de ser os intermediários entre os Espíritos e os homens, sereis punidos tanto mais severamente quanto fordes mais favorecidos, se não aproveitastes da luz.

Alegro-me em ter esta comunicação, da qual darás conheci-mento à tua sociedade, levará seus frutos, e que todos os médiuns que ali se encontrem reunidos, se mantenham em guarda contra o escolho onde viriam quebrar-se; este escolho, eu vo-lo disse a to-dos, é o orgulho.

Joana D´Arc

Revista Espírita de 1860 pág. 160

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por toda a parte, porque em to- da a parte há os mesmos vícios a reformar e as mesmas virtudes a pregar. Eis um dos caracteres distintivos do Espiritismo; ge-ralmente a diferença está apenas na maior ou menor correção e elegância de estilo. Para apreciar as comunicações, relativamente à publicidade, não podem ser vistas de seu ponto de vista, mas do do público. Compreendemos a satisfação que se experimenta ao obter algo de bom, sobretudo quando se começa; mas além de que certas pessoas podem ter ilu-sões relativamente ao mérito in-trínseco, não se pensa que há centenas de outros lugares onde se obtêm coisas semelhantes; e o que é de poderoso interesse indi-vidual pode ser banalidade para a massa.

Além disso, é preciso consi-derar que, de algum tempo para cá, as comunicações adquiriram, sob todos os respeitos, propor-ções e qualidades que deixam muito para trás as que eram obti-

Revue Spirite

uitas comunicações nos foram enviadas por di-Mferentes grupos, pedin-

do conselho e julgamento de suas tendências, já, como umas pou-cas, na esperança de publicação na Revista Espírita. Todas nos fo-ram mandadas com a faculdade de dispor das mesmas como me-lhor entendêssemos para o bem da causa. Fizemos o seu exame e classificação, e não fiquem admi-rados da impossibilidade de pu-blicá-las todas, quando souberem que além das já publicadas, há mais de 3.600 que, por si sós, teri-am absorvido 5 anos completos da Revista, sem contar um certo número de manuscritos mais ou menos volumosos dos quais fala-remos adiante. A súmula deste exame nos fornecerá tema para algumas reflexões, que cada um poderá aproveitar.

Em grande número encontra-mo-las notoriamente más, no

Junho 200304 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

fundo e na forma, evidente pro-duto de Espíritos ignorantes, ob-sessores ou mistificadores e que juram pelos nomes mais ou me-nos pomposos que as assinam. Publicá-las teria sido dar armas à crítica. Circunstância digna de nota é que a quase totalidade das comunicações dessa categoria emana de indivíduos isolados e não de grupos. Só a fascinação poderia levá-los a ser tomados a sério, e impedir se visse o lado ri-dículo. Como se sabe, o isola-mento favorece a fascinação, ao passo que as reuniões encontram controle na pluralidade de opi-niões.

Reconhecemos, contudo, com prazer, que as comunicações des-sa natureza formam, na massa, uma pequena minoria. A maioria das outras encerra bons pensa-mentos e excelentes conselhos, mas não se negue que todas se-jam boas para publicação, pelos motivos que vamos expor.

Os bons Espíritos ensinam mais ou menos a mesma coisa

Allan Kardec

Em tais casos, mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa.

Separando o Joio do TrigoSeparando o Joio do Trigo

Exame das Comunicações Mediúnicasque nos enviam

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vivido com a condição de acom-panhar o progresso da ciência e, se reaparecesse agora nas mes-mas condições, não teria 50 assi-nantes. Os Espíritas são imensa-mente mais numerosos do que então, é verdade; mas são mais esclarecidos e querem ensina-mentos mais substanciais.

Se as comunicações emanas-sem de um Centro único, sem dú-vida os leitores multiplicar-se-iam em razão do número de adep-tos. Mas não se deve perder de vista que os focos que as produ-zem se contam por milhares e que por toda a parte onde são obtidas coisas superiores não pode haver interesse pelo que é fraco e me-díocre.

O que dizemos não é para desencorajar de fazer publica-ções. Longe disso. Mas para mos-trar a necessidade de escolha ri-gorosa, condição sine qua non do sucesso. Elevando os seus ensina-mentos, os Espíritos nos torna-ram mais difíceis e mesmo exi-gentes. As publicações locais po-dem ter uma imensa utilidade, sob um duplo aspecto, o de espa-lhar nas massas o ensino dado na

Desde que por toda a parte, são recebidas

instruções mais ou menos idênticas, sua publicação poderá interessar apenas

sob a condição de apresentar qualidades

destacadas como forma e como alcance instrutivo.

intimidade, depois o de mostrar a concordância que existe nesse ensino sobre diversos pontos. Aplaudiremos isto sempre e os encorajaremos sempre que forem feitas em boas condições.

Para começar convém delas afastar tudo quanto, sendo de in-teresse privado, só interessa àquele que lhe concerne. Depois, tudo quanto é vulgar no estilo e nas idéias, ou pueril pelo assunto. Uma coisa pode ser excelente em si mesma, muito boa para servir de instrução pessoal; mas o que deve ser entregue ao público exi-ge condições especiais. Infeliz-mente o homem é inclinado a su-por que tudo o que lhe agrada de-ve agradar aos outros. O mais há-bil pode enganar-se; tudo está em enganar-se o menos possível. Há Espíritos que se comprazem em

das há alguns anos. Aquilo que então era admirado, parece páli-do e mesquinho junto ao que se obtém hoje. Na maioria dos Cen-tros realmente sérios, o ensino dos Espíritos cresceu com a com-preensão do Espiritismo. Desde que por toda a parte, são recebi-das instruções mais ou menos idênticas, sua publicação poderá interessar apenas sob a condição de apresentar qualidades desta-cadas como forma e como alcan-ce instrutivo. Seria, pois, ilusão crer que toda mensagem deve encontrar leitores numerosos e entusiastas. Outrora, a menor conversa espírita era novidade e atraía a atenção; hoje, que os Es-píritos e os médiuns não se con-tam mais, o que era uma raridade é um fato quase banal e habitual, e que foi distanciado pela ampli-dão e pelo alcance das comunica-ções atuais, assim como os deve-res escolares o são pelo trabalho do adulto.

Temos à vista a coleção de um jornal publicado no princípio das manifestações, sob o título de la Table parlante, característico da época. Diz-se que o jornal tinha de 1.500 a 1.800 assinantes, cifra enorme para o tempo. Continha uma porção de pequenas conver-sas familiares e fatos mediúnicos que, então, tinham o enorme atrativo da curiosidade. Aí procu-ramos inutilmente algo para re-produzirmos em nossa Revista. Tudo quanto tivéssemos escolhi-do hoje seria pueril, sem interes-se. Se o jornal não tivesse desa-parecido, por circunstâncias que não vêm ao caso, só poderia ter

Ecletismo nas AnálisesEcletismo nas Análises

Junho 2003 05FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

Reprodução

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Espíritos nas comunicações é - fato conhecido - o maior escolho do Espiritismo. Todas as precau-ções são poucas para evitar as publicações lamentáveis. Em tais casos, mais vale pecar por exces-so de prudência, no interesse da causa.

Em resumo, publicando co-municações dignas de interesse, faz-se uma coisa útil. Publicando as que são fracas, insignificantes ou más, faz-se mais mal do que bem. Uma consideração não me-nos importante é a da oportuni-dade. Umas há cuja publicação é intempestiva e, por isso, prejudi-cial. Cada coisa deve vir a seu tempo. Várias delas que nos são dirigidas estão neste caso e, posto que muito boas, devem ser adia-das. Quanto às outras, acharão seu lugar conforme as circuns-tâncias e o seu objetivo.

alimentar essa ilusão em certos médiuns. Por isso nunca seria de-mais recomendar a estes não con-fiar em seu próprio julgamento. É nisto que os grupos são úteis: pe-la multiplicidade de opiniões que podem ser colhidas. Aquele que, neste caso, recusasse a opinião da maioria, julgando-se mais escla-recido que todos, provaria supe-rabundantemente a má influên-cia sob a qual se acha.

Aplicando estes princípios de ecletismo às comunicações que nos enviaram, diremos que em 3.600 há mais de 3.000 que são de uma moralidade irreprochável, e excelentes como fundo; mas que desse número não há 300 pa-ra publicidade, e apenas 100 de um mérito inconteste. Essas co-municações vieram de muitos pontos diferentes. Inferimos que a proporção deve ser mais ou me-nos geral. Por aí pode julgar-se da necessidade de não publicar inconsideradamente tudo quanto vem dos Espíritos, se se quiser atingir o objetivo a que nos pro-pomos, tanto do ponto de vista material quanto do efeito moral e da opinião que os indiferentes possam fazer do Espiritismo.

Resta-nos dizer algumas pala-vras sobre manuscritos ou traba-lhos de fôlego que nos manda-ram, entre os quais, sobre 30, en-contramos 5 ou 6 de real valor. No mundo invisível como na Ter-ra, não faltam escritores, mas os bons são raros. Tal Espírito é apto a ditar uma boa comunicação iso-lada, a dar excelente conselho particular, mas incapaz de um trabalho de conjunto completo, que suporte um exame, sejam quais forem suas pretensões e o nome com que se proteja como garantia. Quanto mais alto o no-me, mais obriga. Ora, é mais fácil tomar um nome que justificá-lo. Eis por que, ao lado de alguns bons pensamentos, encontram-se, por vezes, idéias excêntricas e os traços menos equívocos da mais profunda ignorância. É nes-tas espécies de trabalhos mediú-nicos que temos notado mais si-nais de obsessão, dos quais um dos mais freqüentes é a injunção da parte dos Espíritos de os fazer imprimir. E alguns pensam erra-damente que tal recomendação basta para encontrar um editor interessado no negócio.

É em semelhante caso que um exame escrupuloso se torna ne-cessário, se não nos quisermos expor a aprender às nossas cus-tas. É ainda, o melhor meio de afastar os Espíritos presunçosos e pseudo-sábios, que se retiram for-çados quando não encontram instrumentos dóceis a quem fa-çam aceitar suas palavras como artigos de fé. A imisção desses

Adaptado do Artigo:1) Exame das Comunicações Mediúnicas que nos enviam. Kardec, Allan. Revista Espí-rita. Maio de 1863. Páginas 153 à 156. Tra-dução de Júlio Abreu Filho. Ed. Edicel.

Uma coisa pode ser excelente em si mesma, muito boa para servir de instrução pessoal; mas o que deve ser entregue ao público

exige condições especiais.

Junho 200306 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

Os Espíritas são imensamente mais

numerosos; mas são mais esclarecidos e querem

ensinamentos mais substanciais.

Obras MediúnicasObras Mediúnicas

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Relatos

Houve uma época, em mea-dos de 1960, quando ele ainda enxergava, que qua-

se desencarnou.Uma hemorragia acentuada,

das vias urinárias, o acometeu. Na-da a cessava. Estava internado num hospital de Ituiutaba quando o mé-dico, amigo, chamou seus compa-nheiros espíritas que ali estavam e lhes disse que o caso não tinha so-lução. A hemorragia não cedia, ele ia desencarnar.

- Doutor, será que podemos pe-lo menos levá-lo até Uberaba, para despedir-se de Chico Xavier? Eles são muito amigos.

- Só se for de avião. De carro ele morre no caminho.

Um de seus amigos tinha um avião. Levaram-no para Uberaba.

O lençol que o cobria era bran-co. Quando chegaram a Uberaba, estava vermelho, tinto de sangue.

Chegaram à Comunhão Espíri-ta, onde o Chico trabalhava, então. Naquela hora ele não estava, parti-cipava do trabalho de peregrina-ção, visita fraterna, levando o pão e o Evangelho aos pobres e doentes.

Naquela época, o Waldo Vieira era espírita. Ele chegou na frente, com o recado do Chico de que es-tava muito feliz com a sua vinda.

Na hora, o Jerônimo se esque-ceu da mediunidade do Chico e pensou: “Como é que ele sabe?" Aí, lembrou. Os Espíritos foram avisar.

Ao chegar, vendo o amigo ver-melho de sangue, disse o Chico:

- Olha só quem está nos vi-sitando! O Jerônimo! Está parecen-do uma rosa vermelha! Vamos to-dos nós dar um beijo nesta rosa, mas com muito cuidado, para ela não “despetalar".

Um a um os companheiros pas-savam e lhe davam um suave beijo no rosto. Ele sentia a vibração da energia fluídica que recebia em ca-da beijo. Finalmente, o Chico. Deu-lhe um beijo, colocando-lhe a mão no abdome, permanecendo assim por alguns minutos. Era a sensação de um choque de alta voltagem sa-indo da mão do Chico, o que o Jerô-nimo percebeu. A hemorragia pa-rou.

Ele que, fraco, havia ido ali se despedir, para desencarnar, acabou fazendo a explanação evangélica, a pedido do Chico, em seguida veio a explicação:

- Você sabe o porquê dessa he-morragia Jerônimo?

- Não, Chico.- Foi porque você aceitou o

“Coitadinho". Coitadinho do Jerô-

Fonte:1) O Gigante Deitado. Página 105.

A H E M O R R A G I AA H E M O R R A G I AJerônimo Mendonça

Junho 2003 07FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

nimo, coitadinho. Você desenvol-veu a autopiedade. Começou a ter dó de você mesmo. Isso gerou um processo destrutivo. O seu pensa-mento negativo fluidicamente in-terferiu no seu corpo físico, geran-do a lesão. Doravante, Jerônimo, vença o coitadinho. Tenha bom ânimo, alegre-se, cante, brinque, para que os outros não sintam pie-dade de você.

Ele seguiu o conselho. A partir de então, após as palestras, ele can-tava e contava histórias hilariantes sobre as suas dificuldades. A maio-ria das pessoas esquecia, nesses momentos, que ele era cego e para-lítico. Tornava-se igual aos sadios.

Sobreviveu quase trinta anos, após a hemorragia “fatal". Venceu o coitadinho.

Que essa história nos seja um exem-

plo, para que nos momentos difíceis

tenhamos bom ânimo, vencendo a nossa

tendência natural de autopiedade e

esmorecimento.

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- Clara, continuou o poverello, a fome e o frio te virão buscar, pois que será necessário abraçares a dona pobreza.

- Estás com a razão, Francisco, se a Santa Pobreza te faz feliz aju-da-me a viver como tu.

Seus familiares não aceitaram aquele lindo ideal, e, por isso, combinou com Francisco sua fu-ga. Contudo, desejou fugir pas-sando pela “porta dos mortos", “porta essa que só se abria para fa-zer passar o ataúde de quem saía da casa para nunca mais voltar". Também simbolizava que para aquela vida de luxo e riquezas ela

Hagiografia

oi em 16 de julho de 1193 que ela nasceu. Sua mãe, FHortolana Fiumi, passou

por interessante experiência que haveria de encher-lhe de esperan-ças em relação à filha. Antes do parto ouviu uma voz que lhe dis-se: “Não temas, tu parturirás uma luz que, claramente, iluminará o mundo".

Ficou tão impressionada com aquele fenômeno de audição me-diúnica que quando a menina nas-ceu, a mãe colocou-lhe o nome de Clara. A menina recebeu educação esmerada, tanto civil como religi-osa.

Quando moça, na idade de se casar, já que nesse período as me-ninas casavam-se muito cedo,

Junho 200308 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

Clara fugiu à regra, pois que, não se interessava por rapaz algum, mesmo com os incentivos das amigas e da própria mãe. O tio Monaldo, que se tornou seu tutor após a morte de seu pai, Favarone de Offreduccio, provavelmente em 1211, parecia por vezes resmun-gar acerca da indecisão de Clara.

Um dia, por volta do ano de 1212, Clara foi orar na igreja de São Rufino e lá ouviu um discurso que lhe tocou profundamente a al-ma. O pregador era Francisco de Assis, que falou do Evangelho com tanta verdade e fervor que despertou em Clara o desejo de vi-ver completamente para Jesus.

- Francisco, disse ela emocio-nada, quero seguir o Cristo!

- Clara, para servir ao Senhor é preciso saber morrer para o mundo!

- Eu morrerei! Desejo encon-trar o Cristo trilhando os mesmos caminhos que segues, Francisco.

O Nascimento

Clara de

Assis

O Encontro com Francisco de Assis

A fuga pela “porta dos mortos”

1

2

ROSSI, Pietro, ofm. Clara de Assis. Ed. Vozes. Petrópolis, 1996. Pág. 10.

ROSSI, Pietro, ofm. Clara de Assis. Ed. Vozes. Petrópolis, 1996. Pág. 20.

Reprodução

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Junho 2003 09FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

abaixo mas, de repente, algo inu-sitado aconteceu. A irmã de Clara que era frágil e dócil inesperada-mente tornou-se pesada como uma enorme pedra. O tio Monaldo enfurecido e repleto de ódio avan-çou sobre a menina, ergueu o pu-nho para espancá-la; mas, sob os cuidados dos emissários do Se-nhor seu braço ficou paralisado no ar. Logo, todos os outros a-gressores ficaram apavorados e fugiram, abandonando Inês sozi-nha e de corpo dolorido.

Preocupado, Francisco solici-tou ao Bispo Guido que lhe conce-desse a igreja de São Damião. Com a concessão, o poverello de Assis entregou a igrejinha à Clara e sua irmã Inês, logo vieram ou-tras mulheres desejosas em seguir o ideal da filha de Hortolana Fiu-mi. Pacífica de Guelfuccio, Ben-vinda de Perusa, Balvinda de

estava morta. Retirou, então, as toras de lenhas e as ferramentas que lhe obstruíam a passagem e com muito esforço conseguiu abri-la e fugir.

A amiga Pacífica de Guelfuc-cio a esperava e a passos largos foram ao encontro de Francisco que lhe cortou os cabelos doura-dos, colocou-lhe um hábito e a conduziu para o mosteiro Benedi-tino de São Paulo, onde as Irmãs beneditinas, avisadas com antece-dência, aguardavam-na com ansi-edade. Logo lhe confiaram suas primeiras tarefas: ajudar na cozi-nha e nos serviços domésticos.

Pela manhã, seus familiares descobriram a fuga e decididos lo-go chegaram ao mosteiro para le-var Clara de volta viva ou morta. Depois das ameaças, que não con-venceram Clara, tentaram as boas maneiras, apelando para seu lado sentimental, falando-lhe da mãe sofredora, das irmãs que a ama-vam, mas, tudo foi inútil.

Quando notou que eles usari-am da violência, ela correu para a igreja, agarrou-se com uma das mãos à toalha do altar e com a ou-tra retirou do rosto o véu da cabe-ça deixando à mostra os cabelos que haviam sido tosados. Com is-so, mostrava que já estava consa-grada a Deus. Tomados de espan-to, seus parentes retiraram-se do mosteiro convencidos e perple-xos.

“Naquele tempo, as igrejas e os mosteiros gozavam realmente do direito de asilo. Dali, ninguém,

nem mesmo o imperador, sob pe-na de excomunhão, podia retirar um homem ou uma mulher. Na-quele período de violência, os pe-didos de asilo da parte dos fugiti-vos e dos perseguidores eram fre-qüentes. Quando os fugitivos te-miam a violência dos perseguido-res, para se salvarem, agarravam-se ao altar e apegavam-se à toa-lha. Como um menino se sente se-guro quando aperta a mão da mãe, assim o fugitivo se sentia se-guro quando conseguia segurar-se à orla da toalha do altar...”

Talvez pela confusão, as irmãs beneditinas não desejaram mais ficar com Clara e ela, sob os cui-dados de Francisco, foi transferida para o mosteiro de Santo Ângelo, onde quase que diariamente rece-bia a visita de sua irmã consan-güínea, Inês. Clara lhe falou das belezas do Evangelho e Inês sen-tiu-se arrebatada e da mesma for-ma desejou fugir de casa.

Tocada pelo exemplo de amor e renúncia cristãs da irmã, Inês fu-giu de casa e buscou refúgio no mosteiro que acolhia Clara. A rea-ção dos parentes foi imediata e avançaram para dentro do con-vento. De nada adiantou as pala-vras das religiosas e a interferên-cia de Clara foi inútil.

Os homens avançaram sobre Inês constrangendo-a a voltar pa-ra casa por meio de pontapés e bo-fetadas, arrastaram-na encosta

A reação dos parentes

O encontro com sua irmã Inês

A Fuga e o suplício de InêsOrigem da ordem das clarissas

3 ROSSI, Pietro, ofm. Clara de Assis. Ed. Vozes. Petrópolis, 1996. Pág. 27.

Reprodução

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Junho 200310 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

tomaram, em linguagem moder-na, proporções cinematográficas e Clara pôde ouvir os cantos e ver toda a festividade, por fim, entrou em êxtase. Quando as irmãs subi-ram para encontrá-la em seu quarto ela contou-lhes o aconte-cido. E em 14 de fevereiro de 1958, o Para Pio XII, por esse ex-traordinário fenômeno anímico, fez de Clara (segundo a tradição da Igreja Romana) a padroeira da televisão.

Durante anos, Clara pleiteou do Papa Gregório IX um docu-mento que assegurasse à sua or-dem o direito de não receber bem algum de quem quer que fosse, mas, o Papa permanecia irredutí-vel, julgava muito austera aquela ordem. E um dia, quando o pró-prio Papa foi visitá-la, na hora da refeição, ele solicitou que ela fi-zesse com as mãos o sinal da cruz para abençoar o alimento. Ela de-clinou do convite, dizendo que não merecia tamanha honra e di-ante da ordem imperiosa do Papa se viu constrangida a fazer; de-pois do gesto singelo impulsiona-do por um poderoso sentimento de submissão a Deus e de absoluto amor por aquela hora, os pães, so-bre a mesa, em sua dura crosta fo-ram marcados pelos Espíritos do Senhor com o sinal da cruz. Um lindo fenômeno de efeitos físicos. Mesmo assim, o Papa não conce-deu a autorização que Clara tanto desejava.

Somente na manhã de 10 de agosto de 1253, o Cardeal Reinal-

Offreducio, Cecília de Gualtiero, Angelúcia de Angeleio, Filipa de Ghisleiro, Francisca de Messer Capitâneo, Amata de Martino e muitas outras, entre elas a sua própria mãe Hortolana, completa-ram o grupo.

Nascia, assim, em São Damião, a segunda Ordem franciscana, ao qual Francisco adorava chamar de a ordem das “Senhoras Pobres".

Se Francisco casou-se com a senhora Pobreza, Clara desejava ser a própria penúria e, por isso, se impôs uma vida de grande auste-ridade.

Em pouco tempo, São Damia-no tornou-se um paraíso, as se-nhoras quanto mais pobres mais felizes, andavam de pés descalços em todas as estações do ano, ves-tiam-se com austeridade, tecidos rústicos e uma corda à cintura,

além, da cabeça raspada protegida com um tecido branco e preto.

Francisco julgou que deveria dar à irmandade das senhoras po-bres uma organização. Afinal, três anos já se haviam passado e o mosteiro precisava de uma aba-dessa. Ninguém melhor que Clara. Todavia ela recusou o convite, não queria ser governante e sim governada, não desejava mandar almejava servir sempre e argu-mentava:

- Não, não eu, Francisco! Fugi de todas as honras e da vaidade do mundo, não posso me colocar no comando das minhas irmãs. Quero apenas servir e obedecer!

- Bem! - disse Francisco em resposta - se tu queres obedecer, então eu te peço que o faças por obediência!

Por obediência Clara aceitou a função, mas jamais se utilizou do título para si, preferia se chamar de serva, escrava do Senhor.

Depois que Francisco desen-carnou, Clara ficaria enferma du-rante, aproximadamente, 30 anos. Um dia no natal, sua enfermidade agravou-se e ela não pôde compa-recer à igreja para participar das comemorações do nascimento de Jesus. Orou com fervor desejosa de acompanhar os acontecimento, quando, repentinamente, no seu quarto gélido e escuro, as paredes

Abadessa por constrangimento

Um fenômeno de clarividência e clariaudiência faz de Clara

a Padroeira da Televisão

Sua morte Física

Reprodução

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errataNo artigo Francisco de Assis -

Uma Vida de Amor (edição nº 08, ma-io/2003), na página 06:

Clara não estava ao lado de Fran-cisco, por ocasião de sua morte, veio depois, para render-lhe homenagens.

Junho 2003 11FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

Os fenômenos anímicos (ani-ma = alma) são aqueles produzi-dos pelo próprio ser encarnado sem o concurso de um Espírito de-sencarnado. A própria pessoa com suas faculdades espirituais é ca-paz de produzi-los.

Foi dessa maneira que Clara conseguiu ver e ouvir as ativida-des religiosas do natal. Todavia, o clarividente e o clariaudiente, vê e ouve à distância e, apenas, no am-biente físico.

Clara foi a maior representan-te feminina do ideal de Francisco de Assis, sua vida mediúnica e de amor ao próximo demonstra o va-lor de seu Espírito, bem como o amparo espiritual granjeado por aqueles que permanecem na pala-vra do Senhor e a certeza da pre-sença e atuação dos Espíritos na vida humana.

do veio a São Damião trazendo a tão esperada bula. Cheia de ale-gria pediu para que lessem, após a leitura, tomou para si o pergami-nho, abraçou-o e pareceu entrar em êxtase. Já estava bastante do-ente.

Inês, sua irmã, que tornara-se abadessa do mosteiro de Monti-celli na Toscana, veio para assisti-la em seus últimos dias.

- Clara, não vás!- Não chores Inês, é o Senhor

que quer que eu vá, tu, porém, vi-rás logo comigo.

Nos últimos momentos de vida física Clara teve uma linda vidên-cia, uma milícia de virgens se lhe apresentou e uma delas que se destacou como “sendo a maior", colocou-lhe um véu sobre o rosto.

Depois, Clara perguntou às ir-mãs:

- Vedes o Rei da Glória como eu vejo?

- É o Senhor quem vês? Per-guntou a confreira que a auxilia-va.

- Sim, vejo-O.Depois, reclinou a cabeça, ex-

pirou e libertou-se do corpo em 11 de agosto de 1253, no crepúsculo da tarde.

Para Clara e Francisco a po-breza foi um dos modos que en-contraram para viverem o Cristia-nismo em toda a sua pureza. Li-vres da fortuna poderiam entre-gar-se inteiramente a Deus, ocu-pando-se da execução da palavra do Senhor na Terra.

A riqueza em si não é um mal e pode ser colocada ao alcance da Humanidade. O problema é o que os homens fazem da riqueza. Os abusos, intolerâncias e muitos ou-tros problemas que a autoridade e o poder podem gerar.

À Luz do Espiritismo, riqueza e pobreza constituem-se provas para o ser em evolução. Contudo, a renúncia de Clara e Francisco à riqueza paterna demonstra o des-pojamento e o desprendimento de seus espíritos que almejavam ser-vir com pureza de propósitos.

Êxtase, vidência, efeitos físi-cos, todos estes fenômenos, ocor-ridos com Clara, já foram analisa-dos por esta revista em edições an-teriores.

4 Três meses depois, em 15 de novembro do mesmo ano, Inês desencarnava.

Para saber mais, consulte:

1) KARDEC, Allan. O Evagelho Segundo o Espiritismo. Cap. 16. Ed. FEB;2) MILLER, René Fülöp. Os Santos que Aba-laram o Mundo. Ed. José Olympio/RJ. 2001;3) ROSSI, Pietro ofm. Clara de Assis. Ed. Vo-zes, Petrópolis/RJ. 1996.

Explicação Espírita

Os fenômenos mediúnicos

Os fenômenos anímicos

Reprodução

4

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do grupo fundador.Foi aluno da Evange-

lização Infantil e Moci-dade da referida insti-tuição. Dirigiu os De-partamentos de Dou-trina, Livraria e Biblio-teca. Orientou as ativi-dades da Mocidade Espírita, tendo articu-lado vários eventos com a mocidade, da qual também foi seu Presidente e secretário, quando na idade juve-nil.

Estudioso dedicado da Doutrina Espírita, pesquisador persisten-te da Revista Espírita, de Allan Kardec, ardo-roso leitor da literatura espírita, vivia a ler e a estudar.

Antigo assinante da revista Reformador e do jornal O Clarim, esteve sempre envolvido com a divulgação do livro espírita, dentre os quais admirava muito os ditados por Victor Hugo e André Luiz, tendo presenteado

oberto Pasqual Carrara nas-Rceu num lar

espírita, aos 27 de março de 1932, filho de João Carrara e Ma-ria Angelina Carrara.

De origem humil-de, sempre trabalhou muito, tendo exerci-do a profissão de al-faiate (ocupação prin-cipal desde a mocida-de) e músico, ativida-de que exerceu até 1970. A partir de 1975, instalou uma oficina na cidade de Jaú/SP, onde perma-neceu até a desencar-nação.

Aos 25 de abril de 1957 contraiu núp-cias com Genoefa Altemari Carrara, com quem teve 3 filhos: Orson Peter Carra-ra, Hervê Jáder Carrara e Cibele Alcione Carrara.

Espírita desde o nascimento, Roberto dedicou sua vida, com ativa participação, às atividades

Biografia

Junho 200312 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

e aos Departamentos do Centro Espírita “Francisco Xavier dos Santos", instituição fundada em 22 de março de 1923 por Marce-lino Martinez, na cidade paulista de Mineiros do Tietê, e da qual seu pai, João Carrara, fez parte

Uma vida dedicada à causa espírita

Roberto Pasqual Carrara

Reprodução

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tica essa de sua própria persona-lidade.

Homem calmo e ponderado, Roberto nunca perdia a paciên-cia, nunca gritava nem se de-sesperava, sempre demonstran-do imensa confiança em Deus e nos Seus desígnios.

Pessoa alegre e otimista, ti-nha sempre uma palavra de estí-mulo para os que compartilha-vam de sua companhia, onde quer que se encontrasse. Nunca reclamava. Entendia as criaturas e as aceitava como eram. Em si-tuações difíceis, era a tranqüili-dade em pessoa.

Em 2000, foi eleito para a gestão 2001/2003. Seria o seu 4º mandato como Presidente do Centro Espírita “Francisco Xavier dos Santos", mas Deus lhe reservava outros caminhos. Roberto Pasqual Carrara retor-nou à pátria espiritual em 1º de abril de 2002, aos 70 anos, víti-ma de enfarto, deixando a to-dos nós seu exemplo de vida, trabalho e dedicação ao Espiri-tismo.

cada filho com a coleção de li-vros do espírito de André Luiz.

Como orador comentava com entusiasmo os ensinos de Jesus em suas preleções doutrinárias, percorrendo as cidades da re-gião, onde era muito conhecido, especialmente em Jaú/SP, onde trabalhava.

Na década de 80, durante dez anos, dirigiu reuniões públicas de explanações doutrinárias aos sábados, no Centro Espírita “Francisco Xavier dos Santos". Nos últimos 5, anos dirigiu reu-niões de estudos doutrinários na mesma instituição.

Integrou a direção do Lar Espírita “José Gonçalves" (inter-nato para idosos), departamento do Centro, onde dedicou-se com grande empenho na arrecadação de alimentos, na construção do novo prédio, em 1969, e na sua reforma, em 2001.

Roberto Pasqual Carrara in-

fluenciou de maneira decisiva na formação espírita de seus fi-lhos, especialmente pelo exem-plo no estudo, pela sua dedica-ção e perseverança nas ativida-des espíritas, das quais partici-pava pessoalmente, levando consigo os filhos e permanecen-do junto a eles, estimulando com isso sua integração ao movi-mento espírita.

Foi tesoureiro do Centro Espírita “Francisco Xavier dos Santos", durante 4 décadas; vi-ce-presidente, durante várias gestões e presidente, por 3 vezes. Entre as realizações de suas gestões como presidente desta-cam-se: aquisição de 2 terrenos para expansão da área física da instituição, a organização do Departamento de Doutrina e a reforma no estatuto, tudo reali-zado dentro de um ambiente de muita calma e harmonia nas ati-vidades da entidade, caracterís-

Fachada doCentro Espírita“Francisco Xavierdos Santos”

Reprodução

Junho 2003 13FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

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bermos quem foram os persona-gens citados. De que valeria o exemplo de Florence Nightinga-le se não soubéssemos quem foi e o que fez essa nobre criatura?

Apenas terá uma boa com-preensão da mensagem, o leitor que, a partir das informações do autor, conseguir localizar e aces-sar, em seu próprio repertório cultural, informações específi-cas, adquiridas com estudos fei-tos anteriormente. Esta capaci-dade de um texto referir-se a ou-tros, denomina-se intertextuali-dade, que tem a função de mer-gulhar o leitor em uma malha de textos e conhecimentos, armaze-nados em sua mente. O leitor na-vega entre o texto e seu cabedal intelectual.

A Doutrina Espírita concla-ma seus adeptos ao esclareci-mento, ao conhecimento, que só pode ser adquirido através do es-tudo, compreendendo como uma de suas maiores ferramentas a leitura.

Conhecermos bem o signifi-cado de cada palavra (consultar-mos dicionários); estudarmos as

intertextuali-dade

Cultura Espírita

mens, dedicando-se aos feridos e aos doentes, sem quaisquer in-tenções subalternas.

(...)Meditas em Gandhi, o missi-

onário da não-violência, que re-nunciou a todos os privilégios, a fim de ajudar a libertação do po-vo. (negritos nossos).

(...)E conclui o benfeitor:(...)É indispensável que o Espíri-

to aprenda a ser grande nas tare-fas humildes, para que saiba ser humilde nas grandes tarefas.

Apesar da beleza e conteúdo da mensagem, é notório, e por nós foi destacado (em negritos), o nome de algumas personalida-des (Vicente de Paulo, Florence Nightingale e Gandhi), bem co-mo algumas expressões (paladi-no e olvidando), que são desco-nhecidas daqueles que não culti-vam o hábito do estudo.

Não há como sorver toda a amplitude do texto se não co-nhecermos o vocabulário adota-do por Emmanuel, ou, ainda, sa-

Gandhi

uitas vezes um texto faz menção, cita ou Mtranscreve outros tex-

tos em seu próprio bojo. Isso ocorre, por exemplo, na mensa-gem do Espírito Emmanuel, constante do livro Justiça Divi-na de nome: Tarefas Humildes, que abaixo transcrevemos para, posteriormente, tecermos algu-mas considerações. Vejamos:

Anseias, em verdade, pela grande sublimação.

Anotaste a biografia dos pa-ladinos da solidariedade e ambi-cionas comungar-lhes a expe-riência.

Choraste, sob forte emoção, ao conhecer-lhes a vida, nos lan-ces mais duros, e quiseras igual-mente desprender o coração de todos os laços inferiores.

Recordas Vicente de Paulo, o herói da beneficência, olvidando possibilidades de dominação po-lítica, a fim de proteger os neces-sitados.

Pensas em Florence Nightin-gale, a mulher admirável que es-teve quase um século entre os ho-

pa-ladinos

Vicente de Pauloolvidando

Florence Nightin-gale

Junho 200314 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

do ConhecimentoCaroline Brandão - São Paulo/SP

A Necessidade

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Fonte:1) As 100 Maiores Personalidades da Histó-ria - Michael H. Hart, p. 573 - Ed. Difel;

2) Vidas de Mulheres Célebres - Henry Tho-mas, p. 109/120 - Ed. Globo;3) Vidas de Grandes Capitães da Fé - Henry Thomas, p. 187/195 - Ed. Globo;4) Titãs da Religião - Col. Os Titãs. Lázaro Li-acho, p. 463. vol. VI - Ed. Livraria “El Ate-neo” do Brasil;5) São Vicente de Paulo - Thomas de Saint-Laurente - Ed. Civilização;6) Justiça Divina - Emmanuel / Francisco C. Xavier, p. 109 - Ed. FEB.

biografias das grandes persona-lidades da Humanidade; pers-crutarmos os períodos históri-cos; e, entendermos as teorias e formas de pensar daqueles que corroboraram com nossa forma-ção intelectual é vital para a boa compreensão de certos textos.

A mensagem por nós anali-sada é apenas uma amostragem do que contém a literatura espí-rita que, sendo uma Doutrina in-centivadora da cultura, possui li-vros que exigem certa bagagem cultural. Haja vista os livros da série psicológica de Joanna de Ângelis e a própria Codificação, quando, por exemplo, em A Gê-nese, Allan Kardec vai abordar disciplinas como a química, a as-tronomia, a arqueologia etc. Co-mo vimos, o conhecimento é ne-cessário, e mais, é essencial.

Vejamos como a mensagem se torna ainda mais bela, se sou-bermos quem foram os persona-gens e o significado das palavras destacadas:

Paladino, homem de grande bravura; defensor estrênuo (co-rajoso).

Vicente de Paulo, nascido em 24 de abril de 1576, na cidade Pouy, França. Filho de campo-neses de humilde condição, pos-suía traços de bondade desde seus primeiros anos de vida. Aos 21 anos se formou com destaque em gramática, retórica e filoso-fia. Foi ordenado padre. Teve uma vida belíssima, toda voltada à prática da caridade, sendo con-

Paladino

Vicente de Paulo

devemos conhecer com profun-didade o objeto de trabalho. Pa-ra amarmos, devemos compre-ender o que é o amor. Não há co-mo ser bom, sem saber o que é bondade. Para seguirmos o Cris-to, é nosso dever vasculhar to-dos os seus ensinamentos, que serão melhor compreendidos ao conhecermos o momento histó-rico que vivia, o efetivo signifi-cado de cada palavra grafada nos Evangelhos. Da mesma for-ma que, para sermos bons espíri-tas, é forçoso conhecer a Doutri-na Espírita e não há outro meio de conhecê-la, se não for por in-termédio do estudo. A mensa-gem por nós analisada, é um exemplo claro da necessidade do conhecimento e o seu emprego na divulgação e entendimento do Espiritismo.

Junho 2003 15FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

A aludida série é composta de 12 volumes, dos quais destacamos alguns: O Homem Integral; Amor, Imbatível Amor; Vida: Desafios & Solu-ções; O Ser Consciente.

Para maiores detalhes sobre a vida de São Vi-cente de Paulo, ver matéria publicada nesta Revis-ta, na edição n.º 4, p. 06/08 (janeiro/2003).

1

2

siderado, em tempos hodiernos, o Santo da Caridade.

Olvidar, perder de memória, não se lembrar de; esquecer.

Florence Nightingale, nasci-da em Florença, Itália; recebeu o nome dessa cidade, em inglês Florence. Estudou enfermagem em Paris. Fundou em Londres um “Hospital para Senhoras”. Organizou um grupo de enfer-meiras preparadas para servirem na Guerra da Criméia. Fundou a “Nightingale Home” para formar enfermeiras. Recebeu a ordem do mérito (aos 87 anos). Faleceu em Londres. Filha de família rica que não aceitava sua vontade de ser enfermeira. Fora poliglota (inglês, alemão, italiano e fran-cês).

Gandhi, conhecido mundial-mente como Mahatma (alma grande) Gandhi. Seu nome de batismo era Mohandas Karam-chand Gandhi. Tornou-se noivo aos 8 anos e casou-se aos 12. Aos 19 anos foi para a Inglaterra cursar a faculdade de direito na Universidade de Londres. Advo-gou na Índia, até decidir devotar sua vida a uma causa moral e não mais legal. Ficou conhecido pela libertação da Índia do jugo Inglês, através do movimento de não-violência. Foi assassinado.

Como percebemos, a necessi-dade do estudo é premente. O co-nhecimento é imprescindível. Para sermos bons profissionais,

Olvidar

Florence Nightingale

Gandhi,

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2

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Que eu abordasse mais o tema Morte nas reuniões públi-cas do Centro Espírita “Irmão Agostinho", em Brotas-SP;

Que eu procurasse tomar pleno conhecimento da agenda das instituições quanto a com-promissos doutrinários, pales-tras programadas para o even-to, etc;

Que no caso da ocorrên-cia de sua desencarnação, por qualquer motivo, que eu man-tivesse postura serena, fizesse a prece no velório (que deveria ser no Centro Espírita e com muita simplicidade) e erguesse a cabeça, sem entregar-me ao desânimo, para continuar vi-vendo com alegria e valorizan-do a divulgação espírita.

Naquela semana, estávamos todos muito alegres. Ocorreu, porém, a desencarnação de um filho de pessoa muito ligada à minha família. Procurei trans-mitir ao amigo que confiasse

A) em Deus. O amigo, transtorna-do pela desencarnação prema-tura do filho, disse-me que eu dizia aquilo porque “não era meu filho...". Compreendi os momentos de dificuldades e si-lenciei.

No sábado do evento em São Carlos, Miltinho e a noiva Antônia, mais os amigos Mar-quinhos e João Carlos estavam radiantes. Organizaram tudo com muito carinho. Estavam felizes pela realização, já há uma semana e com grande êxi-

oto, do 1 Encontro da Criança Espírita e ainda continuavam o planejamento para os 25 anos do EMJER.

À tarde, saíram de viagem, viagem curta. Acidente fatal vitimou Miltinho e João Carlos. Comoção geral na cidade. Co-mo pais, eu e Julinha, sofremos muito, mas recordamos as pa-lavras de Miltinho, proferidas nos últimos dias. Erguemos a cabeça, mantivemos a confian-ça em Deus (postura que cau-sou grande impacto no amigo

eu querido filho, Miltinho, dinâmico e Matuante jovem espíri-

ta da região de Jaú/SP, univer-sitário e de comportamento ca-rinhoso, entusiasmava-se com a divulgação espírita. Nas últi-mas semanas de sua existência física, suas preocupações esta-vam voltadas para a organiza-

oção do 1 Encontro da Criança Espírita e para o especial even-to que comemoraria os 25 anos do EMJER - Encontro de Moci-dades Espíritas da Região de Jaú. Chegou, através de conta-to com a conhecida editora IDE (Instituto de Difusão Espírita, de Araras), a editar exemplares de O Evangelho Segundo o Es-piritismo com página inicial comemorativa à importante conquista dos 25 anos de reali-zação do citado encontro de jo-vens.

Na semana que antecedeu importante evento espírita que reuniu jovens na cidade de São Carlos, fez-me importantes re-comendações:

Junho 200316 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

Fui preparado por meu filho...Milton dos Santos - Brotas/SP

ComigoACONTECEU

B)

C)

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A desencarnação ocorreu no dia 7 de outubro de 1989 e em novembro ocorreu o evento comemorativo dos 25 anos do EMJER, organizado totalmente por Miltinho e João Carlos, am-bos desencarnados na mesma data e mesmo acidente.

que também tivera seu filho vítima de acidente automobi-lístico, há quinze dias). Proferi-mos a prece no velório (simples como ele pediu), e neste mo-mento o conhecimento espírita foi de fundamental importân-cia para a manutenção da sere-nidade e do equilíbrio.

No momento do sepulta-mento, à saída do Centro, o companheiro José Antônio Castilho proferiu bela aborda-gem sobre a imortalidade, à luz da Doutrina Espírita. Apesar do sofrimento causado pelo im-pacto, mantivemos a serenida-de e a confiança em Deus, co-mo recomenda a Doutrina Espí-rita.

Na verdade, percebemos de-pois que ele, Miltinho, meu fi-

lho, nos preparou para a sua própria desencarnação.

O acidente, com dupla desencarnação, trouxe incon-tável multidão ao pequeno Centro Espírita e a postura fir-me e serena de Milton e Julinha (pais de Miltinho) impressiona-ram a cidade. Inúmeras pessoas tornaram-se espíritas por este único fato. Verdadeiramente portaram-se como autênticos espíritas e divulgaram, pelo exemplo de resignação e confi-ança em Deus, os ensinos do Espiritismo;

Encaminhe para a redação fatos espí-ritas como esse, absolutamente verídi-cos. Envie nome, telefone e endereço completos, estando disponível para eventual encontro com a redação. Após análise, publicaremos seu caso na colu-na “Aconteceu Comigo”. Ressaltamos, ainda, que as histórias serão, após doa-ção autoral, de propriedade exclusiva dessa revista.

Nosso endereço: Rua Luiz Silvério, 120, Vila Marieta, Campinas/SP, CEP 13043-330.

Nota da redação:O Editor garante a veracidade dessa história.

A essa querida família que nos deu a honra da convivência fraterna por várias vezes, nosso abraço de gratidão por tão lindo teste-munho espírita.

Nota do amigoOrson Peter Carrara - Matão/SP

1)

2)

Da esquerda para a direita:

Miltinho (Milton Ary dos Santos),

sua irmã Sueli dos Santos,

seu pai Milton dos Santos e

sua mãe Julia Ap. O. Dos Santos

Junho 2003 17FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

Reprodução

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atestam nossa racionalidade. Toda “hierarquia" pressupõe níveis de maior ou menor organização e possibilita a divisão em categorias que variam na sua complexidade. Convém reconhecer as “idéias" como produtos de desejos e inten-ções construídas por pensamen-tos. A complexidade, maior ou menor que se revela nas idéias, é que nos permite ver nelas uma manifesta hierarquia.

Nossa sugestão é propor uma leitura por extenso do percurso que o “princípio inteligente" (co-mo precursor do Espírito) fez, ani-mando todos os seres vivos, desde suas expressões mais primitivas até seu mais alto nível na espécie humana. Poderíamos ver aqui, mesmo que numa identificação

Capa

Junho 200318 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

que ocorreu na diferenciação ana-tômica, fisiológica e comporta-mental das espécies.

Quando o famoso psicólogo suíço, Jean Piaget, estudou a inte-ligência, ele nos revelou as fases que acompanham seu desenvolvi-mento na criança. Sabe-se que um chimpanzé adulto não ultrapassa a etapa sensório-motora que cor-responde a uma criança de três anos, mesmo assim, temos que re-conhecer que o seu repertório comportamental é muito vasto, nos permitindo conjeturar que eles tenham “idéias" com uma gama muito variada de pensamentos.

Podemos reconhecer, facil-mente, as fases e os diferentes “ní-veis hierárquicos" na construção das idéias que nos dias de hoje

Prof. Dr. Nubor Orlando Facure - Campinas/SPExclusivo para FidelidadESPÍRITA

teoria da “evolução das espécies" de Charles Dar-Awin (1805-1882) provo-

cou um dos maiores choques cul-turais da Humanidade e suas con-seqüências ainda estão longe de se esgotarem. Além dos aspectos biológicos com que foi inicial-mente exposta pelo seu criador podemos percebê-la em diversos outros campos onde se manifesta a vida. Não seria exagero questio-narmos se a evolução poderia ser reconhecida, também, na “gênese das idéias", capacidade que dá ao homem de hoje a sua supremacia na natureza. Nesse caso, podería-mos questionar se a “evolução das idéias" ocorreu dentro de determi-nados princípios e se teria sofrido uma seleção adaptativa como a

CONCONUm ensaiosobre a

Um ensaiosobre a

A mente humana é herdeira privilegiada de todas as formas de conhecimento de cada célula, de cada organismo de todas as espécies que a evolução nos

permitiu transitar, conduzindo o princípio inteligente

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arbritária, as diversas fases que percorreram os seres vivos para compor todo o seu patrimônio ideatório. A idéia de sobrevivên-cia, por exemplo, deve ter percor-rido toda esta trajetória, e quase tudo que existe no nosso corpo, nos dias de hoje, pode ser visto como recursos que desenvolve-mos para garantir esta sobrevi-vência. O altruísmo, que apareceu mais tarde, pode ser visto como estratégia para garantir a sobrevi-vência. O que antes era de interes-se individual, passou, depois, a ser de interesse grupal. Convém res-saltar que os comportamentos ti-dos como altruístas são observa-dos em uma ampla gama de ani-mais, incluindo insetos, aracní-deos e vários vertebrados. O mais importante, a ressaltar, é que sob o panorama atual da teoria evolu-cionista, a seleção natural age so-mente no nível do indivíduo e não do grupo. Isso nos leva a uma re-interpretação do “altruísmo", que é visto hoje como um comporta-mento que oferece vantagens a parentes, pois esses contêm genes em comum. Em última instância,

é possível perceber que o altruís-mo, pelo resultado que pretende, pode ser visto como uma forma de nepotismo genético.

Pode parecer um contra-senso falarmos de “idéias", assim como causaria desconfiança apontar-mos qualquer expressão de ativi-dade psíquica nas formas mais “primitivas" (no sentido de mais antigas) de vida. Não podemos ne-gar, porém, que a ligação biológi-ca entre esses seres e nós exige, de alguma forma, que tudo que se de-nomina para os humanos de “psi-quismo" (como sinônimo de ativi-dade mental) tem um vínculo, uma procedência, uma preexis-tência, uma relação direta com o comportamento desses seres. É a identificação desse percurso con-tínuo da atividade “mental" que queremos acompanhar. É claro que pode nos faltar terminologia e conhecimento para explicitarmos com mais propriedade o que “pen-sam" estes seres “primitivos", mas não nos é permitido deixar de identificar naquilo que eles reve-lam em termos de “respostas quí-micas", de “reações reflexas" e de

“comportamentos instintivos", uma semelhança com tudo o que nós produzimos no conjunto de atitudes complexas que chama-mos de humanas.

É bom lembrarmos que, em termos fisiológicos, a ação que produz um determinado compor-tamento é resultante de um pen-samento que dirige essa ação. Isto é visível quando corro para me proteger da chuva. O mesmo fenô-meno é notado no chimpanzé que corre de medo de uma cobra. Em ambos os casos ocorrem compor-tamentos de fuga com um conteú-do mental. No caso do chimpanzé, costuma-se rotulá-lo de “compor-tamento instintivo" , como se isso fosse possível de acontecer sem a construção de um repertório men-tal, constituído de pensamentos de medo, diante de um perigo emi-nente. Sua distinção em relação ao pensamento humano pode re-velar quantidades e qualidades di-ferentes, mas não podemos ex-cluir que existam pensamentos e suas idéias correspondentes, tanto para o homem como para o chim-panzé.

Junho 2003 19FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

SCIÊNCIASCIÊNCIA

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nária que permite aos materialis-tas pensarem que é ali que nascem todas as nossas idéias. O perfume de uma flor que afeta a química das nossas células olfativas é ca-paz de nos provocar lembranças há muito tempo sepultadas nas nossas memórias da adolescência. A atuação de cocaína nos neurô-nios é tremendamente devastado-ra para a personalidade do indiví-duo viciado nesta droga. Um pen-samento de cólera pode desenca-dear a produção de substâncias pelas nossas glândulas, com efeito devastador para nosso organismo.

A hipófise tem mais ou menos o tamanho de uma ervilha e, mes-mo assim é capaz de orquestrar uma dezena de hormônios que re-gulam glândulas esparramadas pelo nosso organismo.

Após a fase química e no mo-mento em que uma célula reco-nhece a presença de outras células vizinhas, construiu-se uma orga-nização que passou a distribuir ta-refas. Foi criado pela “idéia" do

A estrutura anátomo-fisioló-gica do cérebro humano cami-nhou por todo um processo evolu-tivo a que se submeteram organis-mos de inumeráveis espécies que a natureza produziu. Não é de es-tranhar que possamos surpreender no passado desses organismos, as origens da complexidade da men-te humana e as idéias que a per-mite se expressar [7].

Por simplificação arbitrária, podemos fazer uma leitura didáti-ca das idéias considerando os ní-veis de suas complexidades. Seria uma proposta de se ver uma “hie-rarquia" na construção e evolução das idéias, como se estivéssemos identificando os programas mais simples que serviram de base para construir os programas mais so-fisticados que organizam as nos-sas mentes.

Sugerimos seis fases:

Os primeiros organismos vivos iniciaram a troca de informações químicas com o meio exterior. Nessa fase se aprimora o “conta-to", que propicia a aproximação ou a fuga mediadas exclusiva-mente por reações químicas. Um animal constituído de uma única célula tem capacidade de detectar nas suas vizinhanças a presença de substâncias nutritivas e de rea-lizar movimentos em direção a es-sas substâncias que ele incorpora em sua estrutura. Uma ameba, constituída por uma única célula,

pode reagir, fugindo de uma pica-da com uma agulha ou absorver um fragmento químico que a ali-menta. Essa mesma atitude conti-nua a existir numa célula do nos-so estômago ou de uma colônia de fungos.

No corpo humano, existem cerca de 250 tipos diferentes de células e é através da linguagem química que cada uma delas se co-munica, entre si e com o meio ex-terior. Nossa atividade mental é indispensável para essa orques-tração, embora nossa consciência participe muito pouco dessa ativi-dade, vindo a se dar conta dela, nas ocasiões em que as doenças rompem a homeostase e a harmo-nia dos órgãos.

É extraordinário como o ová-rio da mulher é capaz de liberar mensalmente uma célula reprodu-tora, escolhida entre inúmeras ou-tras. Não se sabe por qual meca-nismo é feita essa escolha, e por mais simples que possa parecer, em cada mês é um ovário diferen-te que fornece o óvulo.

No quadro das redes neurais a complexidade da comunicação química e elétrica é tão extraordi-

1 - Fase química ou celular: Bactérias.

Junho 200320 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

Geneticistas da Wayne State University, Detroit/EUA,

concluíram: chimpanzés e humanos compartilham até

99,4% do seu código genético, e querem incluí-

los no gênero homo, ao qual pertence a espécie

humana.Reprodução

2 - Fase reflexa: animais inver-tebrados.

A hierarquia das idéias

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de “linguagem interna".

Têm início os hábitos instinti-vos e automatismos motores. De-senvolve-se a organização de soci-edades, formação de agrupamen-tos e construção de abrigos. Um animal nessa fase já tem “cons-ciência" da existência do outro. Na constituição das famílias co-meçam a aparecer “idéias" de pro-teção dos descendentes e acúmulo de alimentos para garantir a es-cassez. Os pais têm compromissos na alimentação das suas crias. As relações com o meio exterior fi-cam mais complexas. Aparecem as noções de esquema corporal vi-tal para o animal aprender a asso-ciar as suas dimensões em relação ao ambiente, ao tamanho dos seus rivais e o quanto pode estender suas patas para alcançar as suas presas. Desenvolvem-se a orien-tação no tempo e no espaço indis-pensáveis aos ritmos biológicos circadianos. Aves e peixes fazem jornadas quilométricas mapeando e depois memorizando as sinaliza-ções que encontram na trajetória

grupo celular, um sistema de estí-mulo-resposta caracterizado, tipi-camente, pela expressão de um determinado comportamento rea-tivo. Essa reação pode ser tão sim-ples como um movimento corporal ou uma divisão celular. Outras ve-zes são complexas expressando fuga ou aproximação.

Nesse nível não há condições suficientes para produzir um aprendizado, mas a programação genética herdada, permite às espé-cies reproduzirem respostas repe-tidas e organizarem os instintos. Uma “lebre do mar" (aplísia) não é capaz de aprender a sair de um la-birinto, mas reage diante de uma ameaça, expulsando um jato de tinta que confunde o predador.

A falta de “flexibilidade" das idéias nesta fase pode ser danosa e comprometer a sobrevivência do animal. Uma mariposa confunde a luz dos postes com a claridade da lua e morre queimada pelo calor da lâmpada. É curioso notar o quanto essa falta de flexibilidade tem perturbado a vida de todas as criaturas. As tartarugas recém nascidas, por exemplo, confun-dem as luzes da cidade com as es-trelas vespertinas, e morrem es-magadas no asfalto. É notória a competência das mulheres em li-darem com a flexibilidade das idéias a seu favor, superando com isso, o mito da inteligência mas-culina.

O processo fundamental nesta fase incipiente do “princípio inte-ligente" é sua interação com o meio. Sua fisiologia está baseada na lei de “ação e reação" em que para um determinado efeito existe

uma única causa que a observa-ção ou a experimentação pode re-velar. Em termos neurológicos es-ta fase caminha para o desenvol-vimento do “arco reflexo" e dos “mecanismos automáticos" liga-dos aos núcleos da base. Essas es-truturas estão intimamente liga-das à sobrevivência. Organizam-se colônias multicelulares e a re-produção é por divisão celular sem qualquer divisão sexual. A partir daqui serão desenvolvidos objetivos mais sofisticados para aproveitar melhor os mecanismos de aproximação ou fuga. Uma li-bélula é capaz de responder a estí-mulos químicos de uma parceira sexual situada há quilômetros de distância.

Diversos órgãos do nosso cor-po estão em constante atividade dirigida por um sistema nervoso totalmente autônomo. Este siste-ma funciona sob controle de ati-vidade química de neurotransmis-sores que os reflexos nervosos ao nível dessas vísceras liberam. A “hidra dos aquários" é um dos ani-mais que possui o sistema nervoso mais simples que conhecemos e convém destacar que com a cria-ção das primeiras redes neurais, teve início o que podemos chamar

Os primeiros

organismos vivos,

unicelulares,

iniciaram a troca

de informações

químicas com o

meio exterior

Junho 2003 21FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

3 - Nível das proto-idéias: Os primeiros vertebrados: peixes, répteis, anfíbios e aves.

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todos os processos de linguagem que a evolução do nosso organis-mo nos possibilitou acumular [8]. Nossas “idéias" passaram a dar um significado a cada objeto. Esse significado passou a ser reconhe-cido por símbolos. O pensamento começou a se expressar simboli-camente por palavras construindo uma linguagem. A partir daqui o pensamento se confundiu com a própria palavra e a Humanidade construiu sua cultura.

A aquisição da linguagem fa-lada foi um processo que hoje está tão arraigado em nossa mente, que nos parece ser impossível mentalizar qualquer idéia sem o uso de palavras [8]. Cada um de nós, porém, se comunica, tanto in-terna como externamente, usando diversas outras formas de lingua-gem. Nossos medos e nossas cren-ças, comumente, não encontram palavras para se manifestarem em nós. As expressões corporais são umas das mais eficientes formas de comunicação e que também não se serve de palavras. Qualquer artista de teatro sabe que nosso corpo fala pelos gestos. A lingua-gem corporal é tremendamente ri-ca e mais eficiente que a lingua-gem verbal. As palavras nunca conseguem expressar toda força de uma grande emoção enunciada pelos gestos.

A consciência dos nossos atos corre em paralelo com uma série de gestos que podemos realizar in-conscientemente. Já discorri [5] sobre o que chamei de “inconsci-ente neurológico" dando exem-plos que ilustram esta atividade. Diversas funções cerebrais estão

percorrida durante as migrações. Aparece um verdadeiro aprendi-zado no qual o conhecimento ad-quirido é transmitido de uma ge-ração para outra. Isso pode ser visto na construção de tocas, de ninhos ou mesmo nos gestos que as aves usam para voar. Na verda-de todas essas atividades não são exclusividade dos vertebrados, varias espécies de insetos já fazem exatamente a mesma coisa mi-lhões de anos antes.

Nessa fase, a aquisição de co-nhecimento se completa com a possibilidade desse conhecimento ser transmitido às gerações futu-ras. Várias funções psíquicas são agregadas para a sua estrutura-ção. Compõe-se, por exemplo, da fixação da atenção, das respostas emocionais e da expansão da me-mória. Elas se identificam pela maior interação com o ambiente e pela formação do conhecimento.

O animal consegue desenvol-ver um comportamento compro-vadamente inteligente. O macaco utiliza-se de instrumentos que lhe

facilitam o acesso a uma fruta que os braços se mostram curtos para alcançar. Comportamentos altru-ísticos facilitam a sobrevivência de membros do grupo.

Quando falamos de consciên-cia do Eu, temos a impressão de que esse Eu parece ser alguém que está sempre conosco, exatamente onde estamos e dentro de nós. A minha sombra não é o meu Eu, nem o é as imagens que vejo nas minhas memórias. Ali estão ape-nas as minhas lembranças.

É extensa a literatura que des-creve as características que dife-renciam o comportamento do ho-mem em relação aos outros ani-mais. Diz-se que o homem é o úni-co animal que perdoa. Só ele é ca-paz de sorrir e de dar a vida para salvar seu filho, com a ressalva de que existem pesquisas constatan-do que insetos, aracnídeos e ou-tros vertebrados também podem exibir esse comportamento. O ho-mem é o único animal cujos me-dos são capazes de criar supersti-ções.

A mente humana incorporou

Com a criação das primeiras redes neuronais,teve início o que podemos chamar de

“linguagem interna”

Junho 200322 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

4 - Nível integrativo ou associa-tivo: mamíferos "inferiores" e primatas.

5 - Nível de aquisição da cons-ciência do Eu: humanos

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É preciso ver nelas o subentendi-do que o aparente não revela. Expressam conceitos como: Deus, a criação, a eternidade e o infini-to. Caracterizam-se por serem ad-quiridas como uma “revelação". Podem ser interpretadas como sendo uma “vivência psíquica". Uma das suas características é a sua generalidade. Grandes místi-cos do passado conseguiram ex-pressá-las nos textos dos seus pensamentos memoráveis. Ao re-cordar algumas destas “idéias" po-demos perceber a harmonia com que combinam simplicidade com complexidade: “o tudo está em tu-do", “tudo é movimento", “o cos-mo está no homem", “o não visto é o visível próximo". Aqui se des-cobre a complexidade do mundo, a extensão das experiências que nossas mentes já acumulam. E, tanto efeito como causa, devem ser vistos no plural.

As idéias têm a propriedade de revelar a atividade mental que es-tamos desenvolvendo. Isso não significa que elas sejam sempre expressas na linguagem falada que estamos habituados a expres-sar. Um gesto ou a expressão de um olhar nos mostra que o corpo fala, e muitas vezes, fala mais que as palavras.

Seguramente, o conteúdo da nossa mente não é preenchido apenas por idéias, o que torna muito mais complexas as possibi-lidades de nos expressarmos [10]. Todos nós sabemos que o conteú-do do inconsciente é muito rico de

intimamente ligadas à consciên-cia. É fácil percebermos que o nos-so nível de consciência está ligado ao esforço que imprimimos à aten-ção e à qualidade da consciência depende do material contido nas nossas memórias. De uma forma simplificada, a consciência pode ser vista como fruto da “imagina-ção, da memória e da capacidade de decidir" [6].

Na fase atual em que vivemos, nossa consciência está limitada pelos recursos que o cérebro pode lhe oferecer [6], mas, em situações especiais, pode ocorrer o “desdo-bramento" da consciência e to-marmos “contato direto" com in-formações procedentes de “outras dimensões" fixando-as nos circui-tos da memória física. Essa ocor-rência, que é corriqueira no pro-cesso do sono, pode ser demons-trada no sonambulismo provoca-do [6] e nos quadros de patologia do sono como a narcolepsia.

No conjunto das aptidões hu-manas que estamos anotando, é preciso incluir a espiritualidade como um atributo de nossa perso-nalidade. Ela se desenvolveu no curso da evolução a partir de te-mores diante das forças da Natu-reza que pareciam nos ameaçar.

Começamos, aos poucos, estabele-cendo trocas com a “divindade" buscando a proteção que objetos externos ou atitudes internas po-deriam nos garantir.

Compreende o período da ex-pansão da consciência. O neurolo-gista está habituado a analisar os níveis de consciência no seu sen-tido de maior ou menor profundi-dade [2]. Esses níveis variam des-de o estado de alerta, de sonolên-cia, de torpor e de coma, quando então a consciência está abolida em graus de maior ou menor pro-fundidade. A visão neuropsicoló-gica moderna nos permite, entre-tanto, identificar as alterações da consciência em expressões de maior ou menor amplitude. A ex-pansão da consciência nos permi-te acessar, voluntária ou involun-tariamente, os chamados “estados alterados da consciência", com a possibilidade de transitar por in-formações de outras dimensões.

No nosso atual estágio evolu-tivo, o que compreendemos destes “outros planos da vida", ainda são “idéias" elaboradas por constru-ções fragmentárias. Quase sempre sem tradução completa nas ex-pressões comuns da linguagem humana. Elas podem ser aceitas, transmitidas, mas não são com-preendidas em toda sua extensão.

Junho 2003 23FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

As conseqüências da teoria da evolução das espécies, de Charles Darwin, estão longe de se esgotarem

6 - Nível transcendente ou de espiritualização: "místicos" e missionários.

Uma visão psicológica

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cies que a evolução nos permitiu transitar, conduzindo, o “princí-pio inteligente". É perfeitamente possível identificarmos, em ex-pressões do comportamento hu-mano, toda essa riqueza de idéias, que a vida, expressa numa extra-ordinária diversidade biológica, conseguiu fixar em nossa mente: A atividade celular em qualquer parte do nosso corpo ainda obede-ce à mesma química das células dos primeiros animais que nos an-tecederam. Os reflexos primitivos permanecem em total indepen-dência na sinfonia dos nossos ór-gãos internos. Os instintos e auto-matismos de uma abelha que constrói seus favos ou de uma li-bélula que localiza sua fêmea per-manecem vivos no homem e na mulher que constrõem seus so-nhos. Quase todos nós já vivemos a experiência de usar um reflexo de fuga para dar um salto antes que alguém nos atropele. O instin-to de sobrevivência nos faz agasa-

“imagens" que se mantêm por muito tempo desordenadas. Co-nhecemos a dificuldade de tradu-zirmos este texto escondido nos recônditos do inconsciente. É por isso que diversas doenças, para não dizer todas, servem de lingua-gem traumática para expressar o que temos ali dentro.

À medida que o homem foi acumulando idéias organizadas e bem definidas, gradativamente foi construindo a sua cultura. Outras idéias foram aceitas de modo dog-mático estabelecendo as crenças e criando os mitos. As crenças podi-am ser adquiridas a partir de expe-riências subjetivas, difíceis de se-rem transmitidas de uns para os outros.

No diálogo interior que faze-mos com a nossa própria cons-ciência, estamos habituados a construir desejos e intenções, que podem se revelar no ambiente que nos cerca, através de palavras ou de gestos. Entendo a consciência como essa “propriedade" que nos permite perceber a realidade in-terna e externa.

No que se refere ao mundo ex-terior, é sempre mais fácil cons-truirmos idéias que descrevam o que percebemos a respeito dele. É uma tarefa mais leve identificar-mos e descrevermos os objetos si-tuados fora de nós. Quanto ao nosso “mundo interior", as idéias são insuficientes para descrevê-lo. Nossas impressões e reflexões são sempre mais fortes do que os pen-samentos que elaboramos sobre elas. Estamos habituados a tradu-zir nossos pensamentos em pala-vras, e as emoções que nos afetam

podem ser de tal magnitude que nos faltem justamente as pa-lavras para descrevê-las. Outras vezes, somos vítimas de surpresa tão grande que nos faltam até mesmo idéias para interpretar os fatos que nos abalam.

Sabemos que nossa consciên-cia é preenchida de pensamentos e idéias incessantes, parecendo-nos a todos que é impossível pararmos de pensar. Os místicos, habituados a se concentrarem em meditações profundas, descrevem a consciên-cia como um “fluxo incessante de energia" e não necessariamente de idéias. Nesse estágio, a consciên-cia se apropria da “essência das coisas" e atinge outras realidades.

No processo de aquisição das idéias e da experiência que a evo-lução sedimentou, podemos per-ceber que a mente humana é her-deira privilegiada de todas as for-mas de conhecimento de cada cé-lula, cada agrupamento celular e cada organismo de todas as espé-

Junho 200324 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

A genealogia dos primatas

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Diversos fatores contribuíram para que o estudo da consciência voltasse a despertar o interesse da Ciência [4], [10]. Esse estímulo te-ve início com a “Década do Cére-bro" e o estudo das funções cere-brais através das imagens com a Tomografia de Pósitrons e a Res-sonância Funcional.

O neurologista Antônio Damá-sio [2], [3] e o físico Francis Crick [1], [12] são dois exemplos atuais de estudiosos que se propuseram a esclarecer o “enigma da consciên-cia". Em ambos persiste a visão materialista que reconhece no cé-rebro e no arranjo dos seus neurô-nios a capacidade de produzir a mente e estabelecer as condições que constrõem a consciência. Os elementos envolvidos são outros, mas permanece o mesmo conceito de que se serviu Thomas Hobbes (1588-1679) [9], [11], quando pu-blicou o Leviatã em 1651, afir-mando que a realidade interna se resume em movimento e que nos-sos pensamentos e nossas paixões são efeitos do “movimento da ma-téria".

No modelo materialista, utili-

lharmos para não sermos surpre-endidos pelo frio. Muitas vezes ca-minhamos automaticamente por ruas que já conhecemos sem nos darmos conta dos obstáculos que elas contêm. É instintiva a neces-sidade de correr quando um ani-mal nos ameaça ou quando o cheiro de fumaça é alertado pelo grito de que há fogo por perto. Com esses exemplos estamos res-saltando que a química celular, os reflexos, os automatismos, os comportamentos instintivos ad-quiridos nos cenários da vida, per-manecem convivendo conosco em parceria com a consciência, per-mitindo que através dela, toda a nossa atividade seja comprometi-da com nossa responsabilidade.

A doença mental tem sido fo-calizada no decorrer dos tempos a partir de variadas interpretações. Não pretendemos nos deter neste histórico deixando apenas regis-trado que, na atualidade, ainda prevalece uma visão organicista e outra psicodinâmica nos funda-mentos da psicopatologia. Qual-quer que seja nossa abordagem, permanecerá, no palco das mani-festações dos distúrbios mentais, uma “perturbação no contexto das idéias" que cada indivíduo revela nos seus desvios.

Como nos parece que as idéias foram construídas a partir de um processo evolutivo, acrescentando níveis de aquisições hierarquiza-das, creio que poderíamos dar uma olhada no discurso das doen-ças mentais a partir das idéias que

revelam o quadro clínico dessas manifestações. Nossa proposta é apenas um ensaio despretensioso.

No caso do autista, podemos enxergá-lo fixado em um nível de reação extremamente limitado que não lhe permite interagir ade-quadamente com o meio exterior. Sua capacidade de gerar respostas aos estímulos exteriores está for-temente comprometida. Sua vida se limita a reflexos simples sem os componentes de associação entre os diversos módulos de atividade cerebral.

No transtorno obsessivo com-pulsivo as atitudes estão fixadas em automatismos primários cuja repetição é impositiva para o paci-ente.

Na esquizofrenia ocorre uma regressão violenta na capacidade de construir idéias coerentes com a realidade tanto do meio externo quanto interno. O paciente tem uma aparência de constante sen-sação de hostilidade. Suas capaci-dades parecem se limitar a reações de fuga, tal qual um animal onde as “idéias" se limitam à atividade celular. Os estímulos exteriores não têm competência para gerar um padrão de resposta integrada.

Dentro desse contexto, o adoe-cer é visto, por nós, como uma fi-xação ou regressão no processo ideatório.

Junho 2003 25FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SPJunho 2003 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

O psicólogo suíço

Jean Piaget, estudou

o desenvolvimento

da inteligência nas

crianças

Reprodução

A Hierarquia das idéias na Formação da Consciência

Uma olhada na psicopatologia

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Para saber mais, consulte:1) Crick, F.; Koch, C. The problem of consciousness. Scientific American (special edition). 10-17. Vol. 12,1-2002;2) Damásio, A. O Mistério da Consciência: do cor-po e das emoções ao conhecimento de si. São Pau-lo. Companhia das Letras. 2000;3) Damásio, A. How the brain creates the mind. Scientific American (special edition). 4-9. Vol. 12,1. 2002;4) Del Nero, H.S. O Sítio da Mente. São Paulo. Col-legium Cognitio. 1997;5) Facure, N.O. O cérebro e a Mente - Uma conexão espiritual. São Paulo. FE Editora. 2001;6) Luiz, A; Xavier, F.C. & Vieira, W. Mecanismos da Mediunidade. FEB- 7ª ed. Rio de Janeiro. 1959;7) Luiz, A; Xavier, F.C. & Vieira, W. Evolução em Dois Mundos. Brasília. FEB. 10ª ed. 1987;8) Pinker, S. Como a Mente Funciona. São Paulo. Companhia da Letras. 1998;9) Russel, B. História do Pensamento Ocidental. Rio de Janeiro. Ediouro. 2001;10) Searle, J.R. A Redescoberta da Mente. São Pau-lo. Martins Fontes. 1997;11) Seymour-Smith, M. Os 100 livros que mais in-fluenciaram a humanidade. Rio de Janeiro. DIFEL 2002;12) Simmons, J. Os 100 maiores cientistas da his-tória. Rio de Janeiro. DIFEL .

idéias que a evolução estimulou nos desafios da vida.

A importância das idéias se re-vela na percepção que temos da realidade, bem como, nas ações que executamos, acreditando se-rem procedentes de nossa vonta-de. Ambas, nada mais são que im-pressões do imaginário que a evo-lução nos permitiu construir na consciência.

zado pelas escolas neurológicas da atualidade, temos de lidar com redes de neurônios e tentar co-nhecer o “mínimo de estrutura ce-rebral que é exigida para permitir a determinado animal permanecer consciente". Esta resposta não é difícil quando estivermos procu-rando apenas o que a consciência representa em termos de estarmos alerta, em contato com o meio ex-terior. Teremos muito mais difi-culdade quando discutirmos a ex-tensão total da consciência, o sig-nificado do Eu, o grau de apreen-são que podemos fazer de uma de-terminada situação ou mesmo do ambiente que afeta a nossa cons-ciência. Num sistema organizado e de alta complexidade como o cé-rebro, será perfeitamente possível identificarmos os fundamentos neurofisiológicos para a expres-são da consciência humana, mas, nosso próprio cérebro será o fator limitante desse entendimento.

Para os que aceitam o para-digma espiritualista, sabemos que nossa alma, devido às suas múlti-plas existências, tem um conteúdo de conhecimento muito maior do que o cérebro físico possa revelar [6], [7]. É exatamente esta limita-ção apresentada pelo cérebro que nos impede de identificar uma lei abrangente, capaz de apreender

toda a fenomenologia da cons-ciência.

Ao invés de se tentar equacio-nar o “enigma da consciência" pe-la estrutura das redes neurais e seus sistemas de organização, es-tamos apresentando aqui, uma via de acesso à consciência pela cons-trução e hierarquização das idéias. Ao estabelecermos um fundamen-to hierárquico para suas expres-sões, podemos questionar quais conteúdos e significados das idéi-as que seriam compatíveis com o aparecimento da consciência. Des-sa forma, quando aumentarmos nosso conhecimento sobre os di-versos aspectos da consciência, os fundamentos serão sempre os mesmos, irão variar apenas o sig-nificado das idéias necessárias pa-ra explicar determinada apresen-tação da consciência. Para estar-mos alertas e perceptivos em rela-ção ao ambiente, precisamos de um determinado padrão ideatório e para estarmos consciente do Eu, nos é exigido um outro determi-nado padrão de idéias. Para a ex-pansão da consciência a outros planos da vida, são exigidos os padrões transcendentes de idéias. Os ganhos anatômicos do cérebro foram adquiridos, presumivel-mente, pelo desenvolvimento de uma crescente constelação de

Junho 200326 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

A qualidade da consciência depende do

material contido nas nossas memórias.

O articulista é médico, formado pela Facul-dade de Medicina do Triângulo Mineiro, em Ube-raba. Fez especialização em Neurologia e Neuro-cirurgia no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Lecionou na Faculdade de Medicina de Campinas UNICAMP - durante 30 anos, onde fez doutorado, livre-docência e tornou-se profes-sor titular. Fundador do Instituto do Cérebro em Campinas, em 1987, tendo ultrapassado a marca de 100.000 pacientes neurológicos registrados em sua clínica particular. Além disso, é espírita sobe-jamente conhecido, respeitado e querido dentro e fora do nosso movimento. Seus artigos guardam,

sempre, absoluta FidelidadESPÍRITA.

Rep

roduçã

o

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Curiosidades Bíblicas

Julieta Closer - Campinas/SP

V o c ê S a b i a . . .V o c ê S a b i a . . .

O nosso mês de junho, no calendário judaico tinha o nome de Sivã (Éster 8,9) e neste mês acontecia a Festa de Pentecoste ou Festa das Semanas ou da Sega ou Dia das Primícias. Os pães como primícias das segas eram apresentados. Êxodo 23, 16; 34, 22; Levítico 23,17; Números 28,26; Deutoronômio 16,9-10.

O nosso mês de junho, no calendário judaico tinha o nome de Sivã (Éster 8,9) e neste mês acontecia a Festa de Pentecoste ou Festa das Semanas ou da Sega ou Dia das Primícias. Os pães como primícias das segas eram apresentados. Êxodo 23, 16; 34, 22; Levítico 23,17; Números 28,26; Deutoronômio 16,9-10.

3) Sinete anéis gravados para imprimir em lacre, em cera, o nome ou o selo do possuidor. Era usado na mão direita (Jeremias 22, 24). A marca de uma pessoa impressa num documento, servia como a assinatu-ra do seu nome. O Faraó do Egito entregou a José o seu anel de sinete, assim autorizando-o a agir em seu lu-gar (Gênesis 41, 41-43). O rei Assuero deu o seu anel de sinete a Amã e depois a Mordecai (Éster 3,10 e 8,2).

4) Antigo Testamento conjunto de livros bíblicos anteriores aos Evangelhos. Tertuliano e Orígenes, no século II, deram esse título (baseado e, II Coríntios 3,14). A primeira e maior das duas grandes di-visões da Bíblia. É a Antiga Aliança, ou pacto entre Deus e os homens antes da vinda do Cristo.

5) O apóstolo Paulo tinha como profis-são, o fazer tendas e assim trabalhava junto ao casal Áquila e Priscila (Atos 18, 2-3).

2) André o primeiro apóstolo chamado por Jesus (João 1). Irmão de Simão Pedro a quem levou para Jesus (João 1, 41 e 42). Conforme a tradição André foi crucificado por ordem do proconnsul Eges, cuja esposa se convertera ao ouvir sua pregação. Seu martírio deu-se em Patras, na Acácia (Grécia) em uma “crux decussata" (em X), depois conhecida como a cruz de Santo André. Diz-se que foi atado e não cravado, à cruz para assim prolongar seus sofrimentos.

1) Amém advérbio hebraico, formado de uma raiz, que significa “assegurar, firmar", isto é, “assim seja". Interjeição usada para confirmar a mensagem, a oração ou ação de graças. Amém também quer dizer “verdade". Jesus empregava o termo “em verdade, em verdade", literalmente, “amém", “amém" (João 1:51) para chamar atenção para assuntos de especial solenidade.

Junho 2003 27FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

Fonte:1) Bíblia de Jerusalém - Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus, 1985.

2) Bíblia Sagrada - Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.

3) Pequena Enciclopédia Bíblica - Orlando Boyer, 7ª edição, 1978.

4) Dicionário Bíblico Universal - Buckland, Ed. Vida, 3ª edição, 1982.

5) Bíblia Vida Nova - Sociedade Religiosa, Ed. Vida Nova, 1989.

6) A Bíblia Sagrada - Imprensa Bíblica Bra-sileira, 4ª edição, 1988.

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direita amputada, até a sua subsistência física estará com-prometida, faltar-lhe-á condi-ções de emprego, sem contar-mos o sustento de sua família etc. Não podemos imaginar o Mestre nos ordenando algo desse gênero. Tal interpretação mais se aproxima do entendi-mento das pessoas fanáticas e fascinadas, não daquelas que cultivam a fé raciocinada, que tão bem apregoou Allan Kar-dec.

Ao nosso ver, nessa passa-gem bíblica, Jesus ratificava a reencarnação, trata-se de mais uma passagem onde a reencar-nação fica patente nos ensina-mentos do Cristo, vejamos: “E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entra-res na vida aleijado”. A qual vi-da o Messias se referia? Será que seria melhor irmos para o plano espiritual aleijados? Ora,

“E,

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e

se a tua mão te escandalizar, corta-a melhor é para ti entra-res na vida aleijado . A qual vi-da o Messias se referia? Seráque seria melhor irmos para o plano espiritual al ijados? Ora,

Análise

o Evangelho de Mar-cos, capítulo 9, versí-Nculos 42/50, identifica-

mos uma passagem muito co-mentada, porém pouco com-preendida à luz da Doutrina Espírita. Vejamos: “E qualquer que escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma mó de atafona, e que fosse lança-do ao mar. E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleija-do, do que, tendo duas mãos ires para o inferno (...) E, se o teu pé te escandalizar, corta-o; melhor é para ti entrares coxo na vida, do que, tendo dois pés, seres lançado no inferno (...) E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora (...)” (destaques nossos).

Inicialmente,vamos identi-ficar o significado de mó e ata-

“E qualquer que escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma

e

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h

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móde atafona e que foss lança-do ao mar. E, se a tua mão te escandalizar, corta-a melhor é para ti entrares na vida aleija-do do que, tendo duas mãos ires para o inferno ( ..) E, se o teu pé te escandalizar, corta-o; mel or é para ti entrares coxo na vida, do que, tendo dois pés, seres lançado no inferno (...) E, se o eu olho te escandalizar, lança-o fora (...)”

mó e ata-

Junho 200328 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

fona (destacadas acima). Mó = pedra de moinho. Atafona = moinho manual. Adentrando o contexto exposto, seria colocar no pescoço uma pedra de moi-nho.

Jesus, na passagem em co-mento, pregava dizendo que, na hipótese de algum órgão ou membro de nosso corpo causar efeitos negativos em nosso pró-ximo, melhor seria que não o possuíssemos. A afirmação é curiosa e vem sendo entendida de diversas formas.

Alguns, mais apegados ao texto frio das Escrituras, coa-dunam com a informação de que deveríamos, por exemplo, amputar nossa mão se essa fos-se objeto de algum ato que in-fluenciasse negativamente nos-so próximo. Tal entendimento é inadmissível à luz da lógica e da razão. Imaginemos uma pes-soa destra, que tenha sua mão

fona Mó = pedra de moi ho. Atafona = moinho manual. Adentrando o context exposto, seria colocar no pescoço uma pedra de m i-nho.

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Armando dos Santos - Valinhos/SP

Entrar na vida sem as mãos...

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Junho 2003 29FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

Para saber mais, consulte:1) O Evangelho Segundo o Espiritismo - KARDEC, Allan, cap. VIII;2) Sabedoria do Evangelho - PASTORINO, Torres, volume 6, p. 46/53. 1967. Ed. Sabe-doria.

lá não estaremos sujeitos às vicissitudes da matéria densa. A ação é pensamento a pensa-mento. Nosso corpo será es-piritual (perispírito) e não car-nal. Por isso, Jesus se referia aos reencarnantes, aos que co-meçavam uma nova existência de provas ou expiações. Aí sim, se a pessoa é portadora de dificuldades, neste ou na-quele campo, poderá desejar reencarnar, por exemplo, sem as benesses da visão, coxo, de-formado, para que não venha novamente a falhar, ou possa corrigir atos danosos que tenha cometido. O “entrar na vida”, portanto, só pode ser a vida fí-sica.

Sabemos que somos res-ponsáveis por todos os nossos atos, bem como pelas conse-qüências que do mesmo ad-vêm. Se praticamos algo que apenas a nós atinge, o resulta-do será um, todavia, se nossos atos afetarem negativamente a conduta de nosso próximo, os danos serão maiores, como maior será a nossa responsabi-lidade. Como bem acentua a frase do benfeitor espiritual narrada por André Luiz (Espíri-to): “Nossos pensamentos ge-ram nossos atos e nossos atos geram pensamentos nos ou-tros”. Vivemos em sociedade, donde resulta que, uma pala-vra, uma postura, um ato, pode e definitivamente interfere na vida alheia. Daí nossa respon-

lá não estaremos sujeitos às vicissi udes da matéria densa. A ação é pensamento a pensmento. Nosso corpo será es-piritual (perispírito) e não car-nal. Por isso, Jesus se referia aos reen arnantes, aos que co-meçavam uma nova existência d provas ou expiações. Aí sim, se a pessoa é porta ora de dificuldades, neste ou na-quele campo, pod rá desejar reencarnar, por exemplo, sem as beness s da visão, coxo, de-formado, para que não venha no amente a falhar, ou possa corrigir atos danosos q e tenha cometido. O “entrar na vida”, portanto, s pode ser a vida fí-sica.

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sabilidade de vigiarmos nossos passos.

Sob essa ótica, o ensino fica claro, coerente e lógico, como todos os ensinamentos de Je-sus, se bem interpretados.

Isto posto, estamos em face de uma das mais insofismáveis provas de que Jesus, pelos pró-prios textos evangélicos, acei-tava e pregava a doutrina da reencarnação. Essas palavras explicam de maneira incontes-te a questão dos nascimentos diferenciados: a razão das cri-anças que nascem aleijadas, ce-gas, surdas, mudas, amputadas, ou com qualquer outra defi-ciência física, enquanto outras surgem no planeta, perfeitas e saudáveis.

De bom alvitre, ainda, res-saltar que nem todas as más formações congênitas são fru-tos de débitos pretéritos, po-dem existir almas que, apenas por experiência, optam por es-sas condições, o que caracteri-zaria uma prova e não uma ex-piação.

assinaturas

R: Dr. Luiz Silverio, 120

Vila Marieta - CEP 13043-630

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devem trazer o nome e ende-reço do autor.

A redação poderá, em

razão do espaço e clareza, pu-blicar apenas uma síntese das cartas.

redação

1

Nos Domínios da Mediunidade. André Luiz. Psicografia de Francisco C. Xavier. Cap. 13, pg 122. 26ª edição. Editora FEB.

1

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O senhor acha que os Espíritos que se manifestam nos terreiros de Umbanda, dizendo-se guias de cu-ra, pretos velhos, índios, caboclos, são Espíritos evoluídos? Como ex-plica as curas conseguidas por muita gente conhecida em terrei-ros? Será que o mal pode apresen-tar-se através do bem, ou então to-mando a sua forma?

Nós respeitamos a religião de Umbanda como devemos respei-tar todas as religiões. Vamos re-correr aos casos das leis cármicas. Nos séculos passados, nos três, quatro séculos passados, nós va-mos dizer coletivamente não es-tamos falando do ponto de vista individual, mas na condição de brasileiros, buscamos no berço onde nasceram, milhões de irmãos nossos reencarnados nas plagas africanas, para que eles servissem

Recordando Chico

hico Xavier, embora o se-nhor possa considerar eluci-Cdada a questão que vou pro-

por, ao responder ao entrevistador Herculano Pires, eu vou fazer a pergunta: O que o sr. tem escrito de Augusto dos Anjos, por exem-plo, não seria apenas reminiscên-cia de leitura?

Em 1931, quando eu ia fazer 21 anos, o espírito de Augusto dos Anjos sentia muita dificuldade em escrever por meu intermédio. Nes-se tempo, eu trabalhava num ar-mazém e esse armazém me dava também serviços para cuidar de uma horta muito grande com plan-tações de alho, porque o alho na região em que eu nasci é um fator econômico de muita importância. Então, depois das 6 da tarde, para mim, era um prazer regar os can-teiros de alho e os Espíritos come-çavam a conversar comigo. Eu

Junho 200330 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

achava muito prazer naquelas ho-ras, porque eu me isolava de todo o serviço do armazém para ficar plenamente à disposição dos Espí-ritos amigos. Então, ele começou a ditar uma poesia que está no Par-naso do Além Túmulo, o primeiro livro da nossa mediunidade. A poesia chama-se Vozes de uma Sombra. E ele começou a falar com aquelas palavras maravilhosas, muito técnicas, e eu com o regador na mão, custava a compreender. E ele falava que gostava de escrever no campo e que aquela era uma hora em que ele queria ditar, para que eu ouvisse para compreender na hora de escrever, porque muitas vezes escrevo também como médi-um ouvinte. Então, eu sentia aque-la dificuldade, então, ele falou as-sim comigo: “Olha, você quer sa-ber de uma coisa? Eu vou escrever o que puder, pois a sua cabeça não agüenta mesmo". E a poesia está no livro, mas só o que ele pode, mas era muito mais, era uma bele-za. Ele falava de fótons, cores, de mundos, galáxias. Quem era eu pa-ra entender aquilo, eu que estava regando canteiros de alho?

O “Pinga Fogo” TV Tupi 28 de julho de 1971 - Final

...ele falava de fótons, cores, de mundos, galáxias. Quem era eu para entender aquilo,

eu que estava regando canteiros de alho?

O caso Augusto dos Anjos

João Scantimburgo:

Chico Xavier:

Reale Jr.:

Umbanda e o tráfico negreiro

Chico Xavier:

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de fato, existe essa limitação nas reencarnações a determinados grupos e, também, outra coisa: se homem sempre nasce homem, mulher, mulher, porque é injusto, né? A gente precisa ter mais chan-ce de experiência. Mas sempre se ouve falar homem nascer sempre homem.

Isso não é propriamente uma limitação, porque pode acontecer fora dos grupos afins. A nossa reencarnação pode ocorrer à dis-tância do nosso grupo eleito, mas em geral, atendendo-se às liga-ções do amor que nos prende uns aos outros, renascemos naqueles grupos de ordem familiar a que nos vinculamos para continuar com o trabalho de assistência mútua. Muitas vezes, nós quere-mos determinada conquista na Terra, seja nos domínios da ativi-dade ou nos domínios culturais, e, às vezes, nós vamos encontrar pro-teção para isso junto de uma cria-tura que nos foi muito amada em outra existência, junto de um co-ração materno, de um pai amigo, capazes de compreender-nos e auxiliar-nos nessas empresas, então, isso é muito comum que voltemos, que voltemos no mes-mo grupo de ordem, de ordem sentimental, dentro da mesma faixa de atividade. Agora, quanto ao fato da transposição de sexo, O Livro dos Espíritos nos ensina que isso pode acontecer muitas vezes. Muitas vezes, nós renasce-mos com problemas de inversão por efeito de provação educativa depois de determinados excessos praticados em outras vidas, seja

nas nossas casas, nas nossas fa-mílias, instituições e organiza-ções, na condição de alimárias. Eles se incorporaram, depois de desencarnados, às nossas famílias. Eles renasceram do nosso próprio sangue, nas condições de nossos irmãos, para receberem, de nossa parte, uma compensação chama-da do amor, para que eles sejam devidamente educados, encami-nhados, tanto quanto nós preten-demos educar-nos e encaminhar-nos para o progresso. Então, temos a religião de Umbanda que vem como uma organização dos Espí-ritos, recentemente, porque qua-tro séculos significam um tempo curto nos caminhos da eternida-de. Recentemente trazidos para o Brasil, eles se organizaram agora, seja numa condição ou noutra. Nós, no Brasil, não conseguimos pensar em termos de cor. Nós to-dos somos irmãos. De modo que eles organizaram uma religião sumamente respeitada também. Eles também veneram a Deus, com outros nomes. Veneram os emissá-rios de Deus com outros nomes. Respeitamos todos e acreditamos que em toda parte onde o nome de Deus é pronunciado, o bem pode se fazer. Agora, encontramos na Doutrina Espírita, individualmente e coletivamente, a faixa que nos compete no campo de nossa evo-lução, para estudos do nosso des-tino, para estudos da imortalida-de. Quanto a problemas de cura permitimo-nos lembrar uma coisa: às vezes nós pedimos socorro a de-terminadas organizações para a cura imediata de determinados im-pedimentos físicos. Essa cura, pa-rece, talvez, forçada por nossas exigências, porque muitas vezes

FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

os nossos irmãos, trazidos das pla-gas africanas, se habituaram, de certo modo, a obedecer-nos quase que cegamente. Eles se afeiçoam a nós com uma afeição terrível, do ponto de vista de egoísmo de que nós todos, por enquanto, princi-palmente se referindo a mim, so-mos portadores. Então, exigimos uma cura que se faz de imediato no campo físico, mas nos esque-cemos de que, às vezes, a cura fí-sica é um caminho para encon-trarmos, mais adiante, desastres morais de conseqüências imprevi-síveis. Então, se as curas demoram no ambiente Kardequiano, ou se demoram no campo da medicina, vamos respeitar o problema dessa demora, porque aquilo se verifica em nosso próprio benefício. Por-que muitas vezes uma doença fí-sica, ou determinada provação em nossa vida doméstica, nos poupa de acidentes afetivos ou acidentes materiais, ou de fenômenos extre-mamente desagradáveis em nossa vida.

É muito comum a gente ouvir os Espíritas falarem que em outra encarnação tal pessoa, quer dizer, no mesmo grupo de familiares, ou de convivência, fulana foi mãe de cicrano na outra encar-nação ou beltrano foi irmão de não sei quem. Então, tem-se a im-pressão de que as reencarnações se fazem no mesmo grupo fami-liar. Como a gente se aprimora na medida que tem experiências mais variadas, eu queria saber se,

Hele Alves:

Homem, mulher ereencarnação

Chico Xavier:

Junho 2003 31

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problemas da vida material, con-quanto reconheça que todos deve-mos trabalhar. O Espiritismo nos ensina que se existe fome não é por culpa da Terra, assim como o rio não tem culpa quando passa-mos por cima dele numa ponte co-metendo um delito contra a higie-ne. As Leis são magnânimas, mas a vacina contra a ignorância é a ins-trução e a vacina contra a penúria é o trabalho. Ao invés de pedir me-lhoria de rendas vamos pensar as-sim conquanto precisemos de di-nheiro, todos necessitamos do di-nheiro como sangue de nossas rea-lizações materiais e seiva da nossa civilização. Nós todos precisamos do dinheiro, seja ele apresentado de que forma for, em qualquer re-gime, porque o dinheiro é um do-cumento daqueles que nos gover-nam e que nos credenciam para o serviço aquisitivo onde estejamos.

Conquanto precisemos todos do dinheiro, vamos pensar, por exemplo, em trabalhar todos e em organizar, vamos dizer, a questão do trabalho com o aproveitamento das nossas energias integrais.

Então, cremos que o problema seria quase que imediatamente re-solvido. Vamos dizer que na atua-lidade déssemos ou venhamos a dar a liderança das empresas, a chefia das equipes às inteligências juvenis, como vem acontecendo em quase todos os países de van-guarda. Mas, sem valorizarmos a madureza que começa de 40 a 45, 50 anos, colocando a madureza com seu discernimento a serviço da coletividade, proporcionando aos homens e às mulheres que já amadureceram na experiência fí-sica trabalho e mais trabalho desde que eles tenham condições orgâni-

na condição de homem, seja na condição de mulher. E, às vezes, nascemos também na condição inversiva para encontrarmos no corpo uma célula de trabalho que nos afaste de determinados riscos para a execução de tarefas especí-ficas, muitas vezes um grande ho-mem terá de cumprir determinada tarefa, vamos dizer, no ensino, isso é, às vezes, comum. Não vamos co-gitar do problema da inversão na faixa da prova, na faixa do sofri-mento reparador que ocorre mui-tas vezes. Mas vamos pensar na in-versão do seu ponto de vista mais elevado, mais alto, um grande ho-mem que se tenha apaixonado pe-los problemas da educação na Ter-ra, às vezes, desejando voltar a es-te mundo para uma obra educacio-nal muito séria, muito extensa em benefício da coletividade que ele ama. Ele pode pedir aos seus ins-trutores para voltar num corpo de mulher e será, então, uma grande professora. Ela terá conflitos ínti-mos muito grandes, mas ela terá compensações muito maiores na missão que ela cumpre. O mesmo pode acontecer com a mulher que evoluiu muito e, às vezes, do ponto de vista da inteligência e que dese-jando voltar à Terra para determi-nada tarefa do coração, junto da comunidade, é possível que esse Espírito, que esteve longamente na fieira das reencarnações femini-nas e por isso mesmo obtém, e fi-xando em si mesmo as qualidades femininas com muita intensidade, é possível que esse Espírito afei-çoado às questões femininas ve-nha no corpo de um homem para isolar de compromissos que colo-cariam em risco o seu trabalho junto da comunidade.

A Igreja Católica cada dia tem aumentado mais sua atuação no sentido de que haja mais justiça social no mundo, melhor distri-buição de renda. Aqui mesmo no Brasil, a participação da Igreja, na área social, tem sido muito grande, o que aliás, me tem causado até alguns problemas. O que o Espiri-tismo, no Brasil, tem feito nesse sentido; ou por acaso prega o con-formismo na vida material?

O Espiritismo não prega o con-formismo do ponto de vista em que o conformismo é apresentado. O Espiritismo nos pede paciência para esperar os processos da evo-lução e as realizações dos homens dignos que presidem os governos, cooperando de nossa parte, tanto quanto possível, para que as leis desses mesmos governos sejam executadas. De modo que estamos subordinados ao critério de Nosso Senhor Jesus Cristo que estabelece aquele princípio “dê a Deus o que é de Deus e a César o que é de Cesar", isto é, aquilo que pertence ao mundo superior da nossa men-te, as realizações com Deus, que constituem o progresso e o apri-moramento de nossa alma e aquilo que nós devemos aos poderes constituídos do mundo que nos orientam e que administram os nossos interesses, então o Espiri-tismo evangélico não se sente ab-solutamente inclinado a qualquer participação no partidarismo de ordem política para solucionar os

Reale Jr.:

O trabalho de cada um

Chico Xavier:

Junho 200332 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

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levisão, na madrugada paulista, os corações que a morte parecia ha-ver separado para sempre. Cyro Costa, o poeta altissonante de “Terra Prometida”, disse presente! à sua querida São Paulo, como se o tempo não existisse.

O verbo estadear, tão bem apli-cado pelo poeta, revelou-se geral-mente desconhecido. Por toda par-te, foi publicado de maneira erra-da, até mesmo nos órgãos oficiais dos legislativos do país. O soneto impecável foi publicado com erros que o poeta não cometera. Damo-lo acima na sua forma certa, na primorosa forma dos alexandrinos de Cyro Costa.

cas compatíveis com essa necessi-dade, mas prestigiando a persona-lidade humana em sua condição de pessoa amadurecida no trabalho remunerado ou tão altamente re-munerado quanto possível, nós re-solveríamos o problema, sem en-trarmos em atrito com a autorida-de legal.

Chico, segundo os dados esta-tísticos referentes à sua obra, num exame total de sua obra, você teria recebido até agora comunicações, poesias principalmente, em núme-ro muito grande e inclusive ro-mances de mais de 400 autores. Eu perguntaria a você se leu todos esses autores, se você tem conhe-cimento das obras de todos eles, e se você conseguiu armazenar no seu inconsciente toda essa fabulo-sa bagagem de mais de 400 auto-res brasileiros, portugueses e al-guns até de outras línguas.

As estatísticas são autênticas. Devo declarar de público que isso para mim seria impossível e peço permissão para dizer que eu tive na vida três empregos: a primeira vez me empreguei aos 8 anos nu-ma fábrica de tecidos. Trabalhei até os 12 freqüentando também a escola primária. Dos 12 anos aos 20, trabalhei num bar, e depois num armazém, isto é, no comércio. E de 1931 a 1961 eu trabalhei du-rante 30 anos no Ministério da Agricultura, documentadamente. De modo que não seria possível pa-

ra mim me inteirar do estilo de todos esses poetas, escritores, cro-nistas, jornalistas, amigos desen-carnados. Absolutamente não.

Almir Guimarães pediu a Chico Xavier, em seu nome e em nome do auditório e dos telespectadores, após 2 horas e 45 minutos de pro-grama, que tentasse psicografar “uma mensagem dos seus Guias”.

Chico Xavier respondeu: “Va-mos tentar”. Almir pediu silêncio, no auditório repleto o silêncio foi absoluto. Chico pediu: “Um pou-quinho de música para ajudar”. Ouviu-se uma suave melodia e o médium se pôs a psicografar com extrema rapidez.

Terminada a recepção, Almir anunciou que Chico Xavier ia ler. Nem ele mesmo parecia ter perce-bido o que psicografara. Leu em tom de prosa, com certa dificulda-de. E era um soneto, um primoroso alexandrino de Cyro Costa, no esti-lo e no espírito do saudoso poeta de “Pai João” e “Mãe Preta”.

Surpresa geral. A maioria dos presentes não conhecia o poeta. Ninguém pensara nesse nome. E o soneto era um improviso inegável, porque verdadeira síntese poética dos assuntos ali tratados. E a sur-presa maior foi na casa dos famili-ares do poeta, que ouviam o pro-grama pela televisão. As filhas de Cyro Costa receberam com lágri-mas de emoção, na distância, lon-ge do auditório emocionado, o so-neto do pai, que assim lhes de-monstrava estar participando com elas da noite inesquecível.

O milagre da mediunidade es-treitava, através do milagre da te-

Para saber mais, consulte:Chico Xavier no Pinga Fogo. Pg. 43, 44, 47 à 51, 53, 59 à 61, 67 à 69. Ed. Edicel.

Herculano Pires:

Seus 400 autores

FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

Chico Xavier:

A síntese poética

Uma nota curiosa

Segundo MilênioSegundo MilênioApaga-se o milênio. A sombra deblatera.Vejo a noite avançar, do anseio em que me agito.Guerra e sonho de paz estadeiam conflito.De polo a polo a dor reclama em longa espera.

Explode a transição no ápice irrestrito.A cultura perquire; a crença se oblitera.A forma antiga, em luta, aguarda a nova era.Roga-se tempo novo ao tempo amargo e aflito.

A civilização atônita, insegura,Lembra um tesouro ao mar que a treva desfiguraVagando aos turbilhões de maré desvairada.

Entretanto, no mundo, a nau que estala e treme,A luz prossegue e brilha. O Cristo está no lemePreparando na Terra a nova madrugada.

Apaga-se o milênio. A sombra deblatera.Vejo a noite avançar, do anseio em que me agito.Guerra e sonho de paz estadeiam conflito.De polo a polo a dor reclama em longa espera.

Explode a transição no ápice irrestrito.A cultura perquire; a crença se oblitera.A forma antiga, em luta, aguarda a nova era.Roga-se tempo novo ao tempo amargo e aflito.

A civilização atônita, insegura,Lembra um tesouro ao mar que a treva desfiguraVagando aos turbilhões de maré desvairada.

Entretanto, no mundo, a nau que estala e treme,A luz prossegue e brilha. O Cristo está no lemePreparando na Terra a nova madrugada.

Junho 2003 33

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Vinha de Luz

Todo discípulo do Evangelho precisará coragem para atacar os serviços da redenção de si mesmo.

Nenhum dispensará as armaduras da fé, a fim de marchar com desassombro sob tempestades.

O caminho de resgate e elevação permanece cheio de espinhos.

O trabalho constituir-se-á de lutas, de sofrimentos, de sacrifícios, de suor, de testemunhos.

Toda a preparação é necessária, no capítulo da resistência; entretanto, sobre tudo isto é indispensável revestir-se nossa alma de caridade, que é amor sublime.

A nobreza de caráter, a confiança, a benevolência, a fé, a ciência, a penetração, os dons e as possibilidades são fios preciosos, mas o amor é o tear divino que os entrelaçará, tecendo a túnica da perfeição espiritual.

A disciplina e a educação, a escola e a cultura, o esforço e a obra, são flores e frutos na árvore da vida, todavia, o amor é a raiz eterna.

Mas, como amaremos no serviço diário?Renovemo-nos no espírito do Senhor e

compreendamos os nossos semelhantes.Auxiliemos em silêncio, entendendo a situação de

cada um, temperando a bondade com a energia, e a fraternidade com a justiça.

Ouçamos a sugestão do amor, a cada passo, na senda evolutiva.

Quem ama, compreende; e quem compreende, trabalha pelo mundo melhor.

Junho 200334 FidelidadESPÍRITA uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP

Vinha de Luz. Emmanuel, psic. Francisco C. Xavier. Cap. 5. Ed. FEB.

Com Amor“E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição.” Paulo. (Colossenses, 3:14.)

Emmanuelpsic. Chico Xavier

Emmanuelpsic. Chico Xavier

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Autor: Arthur Conan DoyleEditora: Pensamento

O conhecido escritor, autor do personagem Sherlock Holmes, apli-ca nesta obra A História do Espiritismo, sua capacidade de raciocínio e ta-lento literário no relato de médiuns e fenômenos mediúnicos que culmina-ram na Codificação Espírita. Obra de estudo e de agradável e importante leitura.

Autor: Prf. Dr. Nubor Orlando FacureEditora: FE Editora Jornalística LTDAPedidos: (11) 5585-1977

O que é a mente e qual a sua fisiologia, estão se tornando assuntos de última moda nos textos científicos. A tendência atual ainda é a de materiali-zar todas as nossas funções psíquicas na química cerebral e nas conexões en-tre os neurônios. Com base na Doutrina Espírita, o autor em O Cérebro e a Mente apresenta um outro paradigma, considerando a mente como uma en-tidade espiritual que dirigiu e determinou a evolução do cérebro físico.

A História do Espiritismo

O Cérebro e a Mente

O EDITOR RECOMENDARECOMENDA

ARTHUR CONAN DOYLE

HIST RIAD OO

ESPIRITISMOEDITORA PENSAMENTO

Rep

roduçã

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Rep

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CURSO DE INICIAÇÃO AO ESPIRITISMOESPIRITISMO

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Estude conosco a Filosofia, a Ciência e a Religião Espíritas.

Curso GratuitoDias e Horários:

Segunda feira das 20h00 às 21h30 Segunda feira das 15h00 às 16h00

Alguns Temas:Alguns Temas:

· Deus · A Criação · Os Espíritos

· Sono e sonhos · Mediunidade

- Aulas Apostiladas e dinâmicas;

- Auditório com carteiras estofadas;

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Curso ministrado pelo

Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” que oferece:

Estes e outros assuntos interessantíssimos abordados com clareza e objetividade.