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John MacArthur, Jr.

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Cuia ge estudo iraciMítio

Ele fortalecerá a sua fé no fogo da fornalha

Onde está Deus?É O que perguntam-OS

que passam por grandes provações. John MacArthur encontrou uma impressionante resposta.

Neste livro, ele analisa a realidade do sofrimento e as provações da vida cristã. E oferece, como pastor e conselheiro, uma explicação plausível e bíblica para o problema do sofrimento que você, às vezes, enfrenta sem saber por quê.

Este livro ajudará você a enxergar o lado positivo do sofrimento, preparando-o a confortar e a encorajar a outros.

AutorDr. John MacArthur, Jr. é pastor da

Grace Community Church em Sun Valley, Califórnia, e presidente do The Master's College and seminary. Entre seus muitos livros, incluem-se The MacArthur New Testament Commentary, Our Sufficiency in Christ, Different By Design e Anxiety Attaclcea.

ISBN 85-263-0069-5

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John MacArthur, Jr.

Ele fortalecerá a sua fé no fogo da fornalha

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Todos os D ireitos R eservados. Copyright © 1996 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das A ssem bléias de D eus.

Título do original em inglês: The P o w er o f Su ffering V ictor B ooks '1825 C ollege A venue, W heaton, Illinois 60187 Primeira edição em inglês: 1995 Tradução: Luís Aron de M acedo Capa: Hudson Silva

240 - T eologia D evocionalMacArthur, Jr., John

M A C o O Poder do Sofrim ento.../ John MacArthur, Jr.1 ed. - R io de Janeiro; Casa Publicadora das A ssem ­bléias de D eus, 1996.p .l7 6 . cm. 14x21.

ISB N 85-263-0069-5

1. T eologia D evocional

CDD240 - T eologia D evocional

Casa Publicadora das Assembléias de DeusCaixa Postal 33120001-970, R io de Janeiro, RJ, .Brasil

1“ ed ição /1996

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r

I ndice

I n t r o d u ç ã o ................................................................................................7

1. O S ofrim ento n o P la n o d e D e u s ..................................... 15

2. E xem plos de F é em T em pos d e P r o v a ç ã o ..................... 37

3. O P erfil d e P au lo no S o f r im e n t o ................................... 55

4 . O S ilêncio d o C o rdeiro d e D e u s ....................................... 7 7

5. C om o se P reparar para o S o f r im e n t o ........................... 87

6 . C om o L idar com o S o f r im e n t o ....................................101

7 . L ições do S o f r im e n t o .......................................................... 115

R oteiro para E studo In d iv id u a l e em G r u p o ..............131

Ín d ice de A s s u n t o s ...................................................................... 165

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I ntrodução

MAZ][>ÍHO RODR][GU[]ES!

.*.,|pobre, mais enrlcipurecendo ai miu[i.co§; naida tend o, mais possuindo

tiu[doo |2 C o r iL n t 'L o s 6 í]Lo |-.

A atmosfera que envolve a igreja evangélica, hoje, com sua ênfase na crença fácil e num cristianismo que apregoa “sinta-se bem com você mesmo”, acabou por criar uma

atitude não-bíblica entre os crentes com relação aos sofrimentos e perseguições. Além da aversão natural à dor e à dificuldade, muitos cristãos acham que as adversidades não deveriam nem ao menos cruzar o seu caminho. Quando as dificuldades surgem, crêem que elas não são de Deus. Mas esta não era a mentalidade dos seguidores de Cristo nos primeiros dias da Igreja.

Um grande exemplo do modo como os cristãos lidavam com a perseguição noutras épocas é o caso de Martinho Lutero, o gi aiulc h"der da Reforma do século XVI. Antes mesmo que os dcbalcs r controvérsias sobre a Reforma Protestante viessem à tona, Lutcio já era conhecido por sua fidelidade à verdade cristã: “A firmeza com que Lutero se apoiava nas Sagradas Escrituras, conferia-lhe grande autoridade aos ensinos. Mas havia outras particularidades que reforçavam ainda mais o seu modo de ser. Cada uma de suas ações correspondia ao que ele realmente dizia. Sabia-se que seus sermões não procediam meramente de seus lábios: vinham do coração, e eram praticados plenamente em seu dia-a-dia” .'

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A mais conhecida defesa da verdade feita por Martinho Lutero aconteceu na primavera de 1521. Por esse tempo, ele já havia sido excomungado da Igreja Romana, e era conhecido em quase toda a Europa como o principal crítico da igreja católica. De maneira fervorosa e persistente, Lutero ensinou a justificação somente pela fé e a supremacia da autoridade da Bíblia. A igreja opôs-se a Lutero nestes e noutros pontos, e tentou silenciá-lo a todo custo. Foi-lhe ordenado que comparecesse diante duma assembléia de líderes seculares e eclesiásticos (a Dieta de Worms), na Alema­nha, para explicar seus ensinos. A assembléia esperava que Lutero, estando sob intensa pressão e intimidação ao ser “chamado para ser repreendido”, retratar-se-ia de seus pontos de vista, e deixaria a igreja e o império em paz.

Mas Lutero permaneceu firme em suas convicções. Quando os Kderes da assembléia, em Worms, insistiram para que ele se retratasse de todas as suas declarações anteriores, Lutero foi categórico:

Portanto, a menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras, ou pela mais óbvia argumentação; a menos que eu seja persuadido por meio das referências bíblicas que citei; e, assim sendo, a menos que eles façam com que minha consciên­cia fique presa pela Palavra de Deus, não posso retratar-me; não me retratarei. Pois não é seguro para um cristão falar contra sua própria consciência. [...] Aqui estou, nada mais posso fazer. Que Deus me ajude! AmémP

O modo como Lutero tratou desta crise e interpelação pessoal, serviu de testemunho da grandeza e suficiência de Deus. Nesta conjuntura, plena de tensão, e sendo de vital importância para a vida do reformador, suas reações devem ter agradado ao Senhor. Lutero não reagiu com ódio, ou atribuiu a Deus segundas inten­ções pelas dificuldades que passava. Nem covardemente tentou fugir, apavorado. Em vez disso, Lutero vivenciou as promessas de Jesus em Mateus 10.18-20: “E sereis até conduzidos à presen­ça dos governadores e dos reis por causa de mim, para lhes servir de testemunho a eles e aos gentios. Mas, quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de fahir, porque

8 O Poder do Sofrimento

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naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós”.

É improvável que os cristãos deste século enfrentem o mesmo tipo de oposição que Martinho Lutero enfrentou durante a primei­ra parte do século XVL Também é inverossímil que a maioria dos cristãos encare iminente ameaça de martírio. Entretanto, creio que hoje é mais difícil fazer tais asseverações com a convicção de há trinta ou quarenta anos. As condições da cultura pós-cristã e de uma igreja evangélica cada vez mais instável estão mudando e declinando tão rapidamente que os crentes já precisam se prepa­rar para não serem pegos desprevenidos ao se defrontarem com perseguições e adversidades. Jó 5.7 fala da condição geral da humanidade e o que devemos esperar desta vida: “Mas o hoincm nasce para o trabalho [problemas], como as faíscas das brasas se levantam para voar”. Com respeito à possibilidade de o crente ser perseguido, o apóstolo Paulo é ainda mais incisivo: “E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2 Tm 3.12).

Falar mal dos crentes está ficando cada vez mais popular. É o passatempo favorito dos jornalistas da mídia liberal, bem como dos liberais na educação, ciências humanas e política. A intole­rância religiosa está de novo em moda; sua forma, tida como politicamente correta, é atacar os cristãos. Freqüentemente os que pregam “tolerância”, “não julgamentalismo” e “intelectualismo” são os que se arvoram como os mais intolerantes.

Em recente artigo, o National and Internacional Reli}>ion Rcport' relatou que, desde setembro de 1994, dezessete cristãos encontram- se presos no Nepal, a maioria por evangelizar. Onze serão julgados c, se condenados, poderão pegar três anos de prisão.

De acordo com David Barrett, editor do World Christian Encyclopedia, 300.000 cristãos são martirizados todos os anos - 833 por dia. Barrett conclui que a probabilidade mundial de alguém ser martirizado por ser crente é de 1 para 200. Se for missionário, de 1 para 50. Se for evangelista em sua própria pátria, de 1 para 20.'^

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Sem dúvida alguma, com o crescimento do secularismo ateu, e à medida que nos aproximamos da volta de Jesus, esse gênero de hostilidade e perseguição há de aumentar.

Como parte de suas muitas tentações. Satanás usa constante­mente 0 sistema mundial para seduzir e vencer pela persistência os verdadeiros cristãos em todos os lugares do mundo. O desafio das atrações mundanas é, segundo minha opinião, ainda mais difícil para os crentes americanos. As sutis perseguições de nossa cultura levam, muitas vezes, o crente, ou até mesmo toda uma congregação, a fazer concessões mais que perigosas. Em pouco tempo, tais crentes tornam-se apáticos e medrosos para proclamar o Evangelho. Num ambiente desses, fica cada vez mais difícil manter um testemunho cristão incontaminado. Por outro lado, nas sociedades totalitárias, onde um alto custo está associado ao Cris­tianismo, é muito mais fácil manter um testemunho consistente.

Por exemplo, lembro-me de haver perguntado a um pastor russo se é difícil pastorear em seu país, uma vez que a sociedade e o governo são hostis ao Evangelho. Ele respondeu: “E fácil. Você sempre sabe qual a real opinião de cada um. O que não compreendo é como alguém pode pastorear uma igreja nos Esta­dos Unidos, onde a falta de um verdadeiro compromisso com Deus é tão comum e sutil”.

Se há opiniões confusas e falsas expectativas entre os crentes no que diz respeito às perseguições, também há muitos mal­entendidos com referência ao papel que os sofrimentos desempe­nham na vida do cristão. Temos a tendência de esquecer até mesmo as verdades básicas, como o fato de que todas as pessoas vivem num mundo caído - somos criaturas pecaminosas vivendo numa sociedade corrupta e amaldiçoada pelo pecado. Os crentes não deveriam ficar surpresos, perplexos ou ressentidos, quando se deparam com dificuldades.

Jó 14.1 diz: “O homem, nascido da mulher, é de bem poucos dias e cheio de inquietação”. No Salmo 22.11, Davi implora ao Senhor: “Não te alongues de mim, pois a angústia está perto, e não há quem ajude”. O pregador, no Eclesiastes, sumariou muito bem a dificuldade desta vida: “Pelo que aborreci esta vida, porque

10 o Poder do Sofrimento

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Introdução 1 1

a obra que se faz debaixo do sol me era penosa; sim, tudo é vaidade e aflição de espírito” (Ec 2.17).

Jesus nos alerta que devemos esperar por problemas: “No mundo tereis aflições” (Jo 16.33). Ele mesmo não se absteve de sofrer e experimentar sentimentos angustiantes: “Jesus, pois, quan­do a viu chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, moveu-se muito em espírito, e perturbou-se” (Jo 11.33; vide também Mc 14.33).

Em 2 Coríntios 4.8,9, o apóstolo Paulo, baseado nas próprias experiências, oferece-nos uma lista parcial de seus problemas: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; aba tidos, mas não destruídos”. Até mesmo os maiores evangclislas c missionários da história não estavam imunes aos sofrimcnios, provações e perseguições.

Portanto, observamos que, sob a perspectiva da soberania divina, todos os tipos de dificuldades e adversidades são reais, e devem ser esperados na vida do crente genuíno. Uma razão pri­mária por que muitos cristãos, hoje, passam por tempos difíceis, é que eles não quererem aceitar o papel que o sofrimento desempe­nha em suas vidas, ou nas vidas de seus amigos e entes queridos. Por isso, não conseguem entender e aceitar a realidade da sobera­nia de Deus. Muitos também não conseguem ver a adversidade segundo a perspectiva divina. Não conseguem ver os efeitos positivos, fortalecedores e perfeitos, provenientes das provações. Estas, aliás, foram designadas a produzir fé na vida do crente. No capítulo 1, examinaremos com maiores detalhes as razões que justificam a existência dos sofrimentos, e investigaremos alguns dos propósitos de Deus que se acham por detrás dos sofrimentos e perseguições.

Do capítulo 2 ao 4, daremos uma olhada na vida de algumas pessoas da Bíblia que lidaram com o sofrimento, e o suportaram de maneira extraordinariamente piedosa. Começaremos no capí­tulo 2, estudando três casos: Estêvão, o pritneiro mártir da Igreja; os três amigos de Daniel na fornalha de fogo ardente; e Daniel na cova dos leões.

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No capítulo 3, continuaremos estudando os personagens bíbli­cos. Desta feita, tendo em vista o ministério caracterizado por perseguições do apóstolo Paulo. Desde o início de seu serviço a Cristo, Paulo encarava o sofrimento pela perspectiva correta, sendo um modelo a ser seguido pelos crentes (Fp 3.7-11).

Nosso estudo sobre exemplos a serem seguidos, atingirá seu ponto culminante no capítulo 4, ao comentarmos sobre a maneira como o nosso maior exemplo, o Senhor Jesus Cristo, lidou com o sofrimento. À medida que percorrermos este capítulo, tomar-se-á cada vez mais claro que a chave para agirmos como Cristo, em meio aos sofrimentos e perseguições, é sermos como Ele em todos os outros momentos de nossa vida. Os três capítulos finais constituem a parte essencial do livro.

E meu sincero desejo que, nestes capítulos, possamos juntar nossa análise sobre o poder do sofrimento com algumas aplica­ções e exortações práticas. A verdadeira chave para aceitarmos e suportarmos determinada provação, ou para perseverarmos vito­riosamente durante o período de sofrimento, é o discipulado. Nos capítulos 5 e 6, você verá que os crentes não precisam viver com medo do sofrimento, ou ser surpreendidos pela chegada de algu­ma tribulação. Uma expectativa realista unida a um sólido prepa­ro espiritual, tendo sempre como alicerce a verdade da Palavra de Deus, é-nos mais que suficiente para enfrentarmos qualquer crise.

Qualquer estudo bíblico que trate dos sofrimentos do crente trará esta conclusão: é possível, e até mesmo é o desejo de Deus, que façamos mais do que meramente sobreviver, ou tolerar, um período de provação. O Senhor quer que essa experiência (embo­ra se mostre dolorosa) tenha um propósito positivo - fortalecer e purificar nossa fé (Jó 23.10). No capítulo 7 enfocaremos esta realidade.

Desejo, do fundo do meu coração, que você obtenha, na medida em que lê este livro, novos e adicionais discernimentos sobre o papel que o sofrimento desempenha na vida do crente. Oro para que qualquer compreensão errônea, ou dúvida, que você possa ter quanto ao lugar do sofrimento no plano de Deus, seja dirimida. Que você, pela graça de Deus, seja cada vez mais

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Introdução 13

conformado à imagem de Cristo, à medida que alcança uma melhor compreensão do poder que a aflição e a adversidade exercem na vida do crente.

NOTAS' J. H. Merle D ’Aubigne, The Life and Times o f Martin Luther {Vida e Época de

Martinho Lutero). (Chicago: Moody, 1978), p. 67.

Ibidem, p. 433. De 6 de fevereiro de 1995, p. 5.

“ Nova lorque: Oxford University Press, 1982.

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0 S ofrim ento NO P lano d e D eus

0 cidadão comum, que acompanha os noticiários, acha-se inteirado da constante avalanche de histórias negativas, reportagens de morte, desastres e violência, e uma com­

pleta variedade de informações simplesmente enigmáticas que, em diferentes graus, desafiam uma explicação lógica. Durante o ano de 1994, por exemplo, aconteceram diversos acidentes gra­ves, incluindo entre eles a queda de um avião de passageiros perto de Pittsburgh, Estados Unidos, e o emborque de uma barca no mar Báltico. As pessoas sentem-se guase que compelidas a buscar explicações para tais incidentes. É natural querer saber as causas terrenas e os motivos que ocasionam esses fatos tristes, angustiantes ou trágicos. Por outro lado, a grande maioria das pessoas deixa, assustada, de buscar respostas no t|ue c terreno para procurá-las no que é espiritual, visando dar sentido a esses acontecimentos.

Entretanto, cristãos biblicamente instruídos hão de perceber que a soberania de Deus desempenha um papel fundamental em todos estes acontecimentos - do mais agradável e fácil de aceitar ao mais traumático e difícil de entender. Mas até mesmo o crente mais maduro pode, às vezes, relutar em aceitar ou mesmo perce-

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ber os propósitos de Deus para a adversidade. Aqueles que não reconhecem o papel soberano do Senhor, têm a tendência de questionar a razão de lhes estar advindo tantos problemas.

Na maioria das vezes, os autores dos hinos mais antigos tinham uma correta perspectiva sobre a adversidade. Considere­mos, por exemplo, as maravilhosas palavras de Samuel Rodigast na primeira estrofe de um hino do século XVII: “Tudo quanto meu Deus ordenar farei”.

Tudo quanto meu Deus ordenar farei: seja feita Sua vontade santa;Ficarei tranqüilo em tudo quanto Ele fizer, e o seguirei por onde Ele me guiar:Ele é o meu Deus; embora não haja luz em meu caminho, Ele me sustém para que eu não caia:Portanto, por Ele abandono tudo.

Podemos descansar na certeza de que mesmo que não veja­mos, ou não entendamos, a razão de estarmos sofrendo. Deus vê e entende; mesmo que sejamos pegos de surpresa pela adversidade, nada pode surpreender a Deus. Jesus, como Filho de Deus, sabia que, indubitavelmente, viriam provações e per­seguições na vida de todos os verdadeiros crentes através dos séculos.

J esus P rediz a H ostilidade do M undo

No meio do seu sermão no Cenáculo, Jesus advertiu os discí­pulos: “Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim. Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece” (Jo 15.18,19). Esta declaração reforça o que Ele já havia dito em seu ministério durante o Sermão da Montanha:

Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disse­rem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-

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o Sofrimento no Plano de Deus 17

VOS, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assimperseguiram os profetas que foram antes de vós. (Mt 5.10-12.)

Estas e outras advertências (vide Mc 13.9-13) deixam claro que Jesus previra de fato que os crentes seriam hostilizados pelo mundo. A dor e o sofrimento, pois, seriam resultantes dessa hostilidade; seriam algo normal; alguma coisa que os crentes devem esperar acontecer em suas vidas.

P or que o M undo nos O deia?

Ocorridos no curto espaço de quarenta e oito horas, dois violentos acontecimentos atordoaram a nação americana dîn ante o último fim de semana de fevereiro de 1993. No primeii'o, seis pessoas foram mortas e mil outras ficaram feridas ein Nova Iorque, quando poderosa bomba explodiu no subsolo das torres gêmeas do World Trade Center. (No princípio de maio, sete homens ligados a grupos terroristas islâmicos do Oriente Médio foram presos por estarem envolvidos no atentado.) Dois dias depois, quatro agentes federais foram mortos durante uma mal sucedida ação no acampamento de uma comunidade de fanáticos do Ramo Davidiano, perto de Waco, Texas. Isto levou a um impasse de cinqüenta e um dias entre o governo e comunidade religiosa, terminando de maneira trágica. As instalações dos davidianos foram completamente queimados, matando pelo me­nos setenta e cinco pessoas.

O fanatismo e a detestável intolerância desempenharam seu pa­pel nestes episódios - que são apenas dois dentre os muitos ocorridos em anos recentes. Até mesmo um observador casual depara-se com incidentes provocados pelo fanatismo étnico, e com crimes ocasiona­dos pelo ódio racial em qualquer grande cidade americana. Há também muita hostilidade e confrontos entre os diversos grupos políticos e sociais. Mas nenhum desses conflitos é tão significativo quanto ao que existe entre os crentes e o mundo.

Porque nos opomos ao mundoEm primeiro lugar, o mundo odeia os cristãos basicamente

porque estes não são do mundo. Culturalmente falando, não faze­

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mos parte do “grupo”. Somos contra o fluxo secular de idéias e costumes, e nos opomos aos erros e injustiças. Até mesmo insis­timos, com avidez, para que todas as pessoas se arrependam de seus pecados e se voltem para Jesus. Esta última característica leva o mundo a fazer-nos a mais veemente oposição e a odiar-nos intensamente.

O vocábulo “mundo”, como usado em João 15 e em outras partes da Bíblia, é a tradução da palavra grega kosmos. Neste contexto, refere-se ao sistema nocivo do pecado no mundo, tendo Satanás como autor, e representado pela humanidade. Deixando a diplomacia de lado, poderíamos dizer que é a sociedade deprava­da de seres humanos perversos, que se predispõe contra Jesus, seu Reino e seu povo. Não é de admirar, pois, que (Jo 12.31; 14.30) os crentes hajam de enfrentar a odiosa oposição dessa sociedade quando confrontada!

Disfarçado como “anjo de luz” (2 Co 11.14), Satanás apresen­ta seu sistema mundano como se fosse a verdadeira religião. Tal religião é mostrada aos crentes sob o sutil disfarce da religiosida­de que aceita a Deus e ao seu Filho Jesus, mas que, na realidade, se opõe à verdade e, se necessário, persegue abertamente os crentes. Tal engano faz os cristãos pensarem que não há perigo em se aderir ao sistema mundial, ou os leva a se assustarem diante das perseguições.

Foi um sistema religioso que, em seu desmedido ódio a Jesus, acabou por matar o Filho de Deus. Os falsos religiosos da Pales­tina detestavam-no, porque Ele lhes violara o sistema e, com a sua justiça, lhes havia censurado a hipocrisia. De modo semelhante, Abel, em Gênesis 4, foi morto pela falsa religião personificada em seu irmão Caim. Primeira João 3.12 fomece-nos um comentá­rio sobre a ação de Caim: “Não como Caim, que era do maligno, e matou a seu irmão. E por que o matou? Porque as suas obras eram más e as de seu irmão, justas” .

Devido à natureza do sistema implantado por Satanás, com sua perversa e implacável oposição ao Reino de Deus, é impres­cindível que os cristãos se conscientizem de que não fazem parte cio mundo. Deus nos chamou para representarmos a Jesus Cristo

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no meio de uma sociedade pecadora. O sistema é, ao mesmo tempo, o inimigo e o campo missionário. Paulo exortou os filipenses a viverem de modo justo, “para que sejais irrepreensí­veis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo” (Fp 2.15). Esta admoestação se correlaciona muito bem com o que Jesus já havia dito no Sermão da Montanha: “Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte” (Mt 5.13,14).

Tais exortações exigem que os cristãos conscientizem-sc quaiilo à existência desta geração pecadora e perversa. Se formos obedi­entes, e levarmos a sério tais injunções bíblicas, não ficaremos assustados com a hostilidade e a perseguição que nos move o mundo. O próprio Jesus enfrentou dura oposição de seus contem­porâneos, até mesmo quando os repreendia de maneira indireta (Lc 4.25-30).

Porque o mundo odeia Jesus

Se os líderes religiosos tinham tanto ódio de Jesus, será que os crentes de hoje podem esperar que as coisas sejam diferentes? Jesus responde essa pergunta em João 15.20: “Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu Senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa”. Se, como crentes, estamos em Cristo, e Cristo está em nós (G1 2.20; Cl 2.10-12), o mundo nos odiará na mesma proporção que odiou a Cristo.

Este segundo aspecto sobre a razão de o mundo nos odiar, deve na verdade fazer-nos feliz. Se o mundo faz-nos sofrer e nos persegue pelo fato de representarmos a Jesus, então experimenta­remos a comunhão de suas aflições. Em Atos 5.41, os discípulos, depois de haverem sido açoitados pelas autoridades religiosas por continuarem a ensinar no nome de Jesus, manifestaram esta atitu­de de alegria: “Retiraram-se pois da presença do conselho, rego­

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zijando-se de terem sidos julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus”.

Paulo falou da comunhão dos sofrimentos de Jesus em Filipenses 3.10; ele bem sabia o que isto significava (vide 2 Co4.7-18). As Escrituras atestam o fato de que Paulo vivenciara o que ensinou e escreveu. (Mais tarde, trataremos minuciosamente do maravilhoso exemplo de Paulo ao enfrentar o sofrimento.)

Porque o mundo não conhece a Deus

A terceira razão de o mundo odiar os cristãos é que o mundo não conhece a Deus. Em João 15, Jesus diz: “Mas tudo isso vos farão por causa do meu nome; porque não conhecem aquele que me enviou” (v. 21, ênfase minha). Tal ignorância muito tem contribuído para uma horrível degradação espiritual e moral, inconsciência da verdade e hostilidade ao que é justo. De muitas maneiras, a sociedade atual reflete as condições vigentes na era em que Paulo ministrava. Ao pregar em Atenas, o apóstolo viu quão deslocada estava a religião daquele povo: “E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Varões atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; porque, passando eu, e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse pois que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio” (At 17.22,23).

Paulo descobriu que o povo é indiferente e ignorante em relação ao verdadeiro Deus, e supersticioso no que se refere aos falsos deuses. Sem o comentário de Paulo, poderíamos facilmente inferir que a grande maioria dos não-crentes são pessoas de moral e religiosidade sinceras, não estando demasiadamente afetadas pelo pecado. Mas tal percepção pode levar-nos a subestimar a oposição do mundo ou a não sermos bastante agressivos em nosso evangelismo. Freqüentemente não levamos a sério Roma­nos 1.18 a 2.2, que nos apresenta um retrato da pecaminosidade natural do mundo e da rejeição intencional do Deus da revelação. O sistema mundial ainda não conhece a Deus, não importando o quão tolerante ou receptivo possa parecer ao atuar através da falsa religião. Esse sistema ainda odeia os crentes, ainda se opõe a nós

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e, portanto, não devemos ficar surpresos ao sermos perseguidos por ele.

Muitos crentes agem como se tivessem resolvido o problema do ódio que o mundo nos tem, pensando serem amigos do mundo. Mas esquecem da advertência de João: “Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 Jo 2.15), ou a forte declaração de Tiago: “Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4). Sutilmente Sata­nás nos seduz para que nos sintamos confortáveis no mundo, bem à vontade dentro do sistema, e para que façamos com que o mundo à nossa volta fique sossegado. Procuramos não ofender a ninguém, mas não era isso o que Jesus tinha em mente; nem era esse o tipo de abordagem de Paulo:

Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucifi­cado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens (1 Co 1.21-25).

P o r que o S ofrim ento F az P arte do P lano de D eus?

Até aqui, temos visto que o sofrimento - principalmente como resultado da perseguição - é algo pelo qual os verdadeiros crentes devem esperar. Jesus predisse que haveria problemas nesta vida (Jo 16.33) e os apóstolos seguiram seu ensinamento (2 Tm 3.12; 1 Pe 4.12). Mesmo que estas declarações sejam obedientemente seguidas e fielmente aceitas como verdade - afinal de contas, elas estão na Bíblia -, ainda assim levantam-se perguntas nas mentes dos crentes: Por quê? Como? e Com base em quê?

Estas questões básicas, que todos os crentes honestos e perscrutadores fazem - num grau ou noulro, dependendo do nível

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de maturidade de cada um podem ser respondidas segundo uma realidade totalmente abrangente. Essa realidade é a soberania de Deus que, quando corretamente compreendida e adequadamente aceita, serve como a lente indispensável através da qual os cris­tãos podem ver mais claramente todas as verdades bíblicas. Reco­nhecer a soberania de Deus, em todas as coisas, não quer dizer que venhamos a ter completo entendimento de tudo. Mas isto nos dará uma correta esperança em meio aos aspectos mais difíceis e menos claros da obra divina em nossas vidas (Gn 18.25; Is 55.9).

Um estudo completo sobre a soberania de Deus está além do escopo deste livro, mas um curto exame nos ajudará a colocar, no seu devido contexto, a origem e a causa do sofrimento. A. W. Pink fez este conciso comentário: “Dizer que Deus é soberano é declarar que Deus é Deus”.’ Depois ele entra em detalhes, apre­sentando o modo como a soberania de Deus atua.

A soberania do Deus das Escrituras é absoluta, irresistível, infinita. Quando dizemos que Deus é soberano, afirmamos seu direito em governar o Universo, que Ele fez para sua própria glória, exatamente como quis. Afirmamos que seu direito é o direito do Oleiro sobre o barro, isto é, que Ele pode moldar esse barro na forma que Ele bem quiser, modelando da mesma massa informe um vaso para honra e outro para desonra. Afirmamos que Ele não está sob nenhuma norma ou lei fora de sua própria vontade e natureza, que Deus é uma lei em si mesmo, e que Ele não está obrigado a dar satisfações a nin­guém sobre seus atos.A soberania caracteriza Deus em sua inteireza. Ele é soberano em todos os seus atributos. Ele é soberano no uso do seu poder.Ele usa seu poder como quer, quando quer, onde quer. Este fato está evidenciado em cada página da Bíblia. Por um longo período, esse poder pareceu estar dormente, mas depois surgiu com irresistível força. Faraó ousou impedir que Israel saísse a adorar a Jeová no deserto. O que aconteceu ? Deus exerceu seu poder: seu povo foi libertado, e os cruéis exatores, mortos. Todavia, um pouco mais tarde, os amalequitas ousaram atacar estes mesmos israelitas no deserto. E o que aconteceu? Deus iililizou seu poder nesta ocasião, e mostrou sua força como fizera no mar Vermelho? Estes inimigos do povo de Deus

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foram prontamente dominados e destruídos? Não, muito pelo contrário: O Senhor jurou que haveria “guerra do Senhor contra Amaleque de geração em geração” (Êx 17.16). Outros- sim, quando Israel entrou na terra de Canaã, o poder de Deus foi manifestado de maneira notável. A cidade de Jericó tentou obstruir o progresso do povo de Deus. O que aconteceu? Sem ter de entesar um arco sequer, Israel não lutou: o Senhor estendeu sua mão, e os muros desmoronaram completamente. Mas o milagre nunca mais se repetiu! Nenhuma outra cidade caiu desta maneira. Todas as demais cidades tiveram de ser capturadas pela espada!^

Com esta análise, podemos inferir que a soberania de Deus é extremamente poderosa, mas nem sempre previsível tio poii to de vista humano. Deus é livre para fazer ou não fazer o c|iie quiser numa determinada situação, e não está, de forma algu­ma, obrigado a repetir a mesma seqüência de ações em relação a qualquer situação subseqüente e similar. E assim que, como parte de seu plano, Deus soberanamente decide permitir que vários cristãos sofram, sob diferentes circunstâncias, com re­sultados diversos. Deus diz, em Isaías 45.7: “Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas” . Por causa de seu poder soberano, “sabe­mos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto” (Rm 8.28). De novo podemos ver que a esfera da operação de Deus é de longo alcance. Portanto, os sofrimen­tos, as tribulações, as perseguições e todos os tipos de adversi­dade, que os crentes podem ter de enfrentar, estão com toda certeza sob o soberano controle de Deus, e podem se originar como parte de seu plano soberano.

L ições do Sofrim ento

Já é um alívio sabermos que qualquer sofrimento que os crentes experimentam faz parte do soberano e global plano de Deus. Entretanto, exatamente como qualquer outro aspecto da verdade na vida do cristão, conhecimento intelectual não é igual a conhecimento experimental. Até que saibamos como reagimos na

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prática de uma certa verdade, o assentimento intelectual não vale nada (Tg 1.25-27; 2.14-17). Testar a validade do que os crentes professam é uma das razões para Deus permitir o sofrimento (Jó 23.10).

Uma maneira segura de se testar a autenticidade de um dia­mante é por meio do que os joalheiros chamam teste da água. A imitação nunca cintila tão brilhantemente quanto a pedra verda­deira, mas isto nem sempre é fácil de ser detectado pela simples observação. Os joalheiros sabem que, colocando-se na água, lado a lado, o diamante genuíno e a imitação, as diferenças aparecem. A pedra verdadeira continua a brilhar sob a água, enquanto que a falsa praticamente perde todo o brilho.

Como analogia a essa ilustração, muitas pessoas,, confiantes na veracidade de sua fé, acabam descobrindo que a fé lhes falta quando estão sob as águas da aflição. O suposto resplendor diamantino de sua fé mostra-se como se fora mera imitação. Entretanto, coloque o verdadeiro filho de Deus sob as águas da provação, e ele brilhará como nunca. G. K. Chesterton também usou a metáfora da água para dizer a mesma coisa; “Creio no entrar em águas quentes [dificuldades]. Isto faz com que nos mantenhamos limpos”.

A Lição da Fé

Parece claro que a principal razão para que Deus nos prove através dos sofrimentos é para que demonstremos a força de nossa fé . Um dos clássicos estudos bíblicos que ilustra esta verda­de é a narrativa da prova de Abraão, em Gênesis 22. É, segundo minha opinião, a mais severa provação que qualquer ser humano jamais enfrentou.

Gênesis 22.1,2, diz: “E aconteceu depois destas coisas, que tentou Deus a Abraão, e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui. E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocaus­to sobre uma das montanhas, que eu te direi”.

Esta ordem não se encaixava, de forma alguma, na teologia de Ahraão. Tenho certeza de que isto suscitou uma série de

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questionamentos, como por exemplo: “Por que tu pedirias um sacrifício humano, quando nunca requereste nenhuma coisa pagã antes? (Era a antítese de tudo quanto Abraão sabia ser a verdade sobre Deus.) Por que deixarias passar tanto tempo para permitires que um marido e sua mulher, ambos beirando os 100 anos de idade, sem nunca terem filhos em toda a vida de casados, geras­sem um filho para depois pedires que esse filho fosse morto? Por que me prometerias que eu seria pai de muitas nações, com descendentes tão numerosos como a areia da praia e as estrelas do céu, para depois me pedires que o filho da promessa fosse mor­to?”

A idéia toda era absolutamente inconcebível. Era uma prova­ção que não fazia sentido - não em função da natureza de Deus, de seu plano de redenção, de sua Palavra, ou de seu amor por Abraão e por Isaque. Além desses fatores, esta talvez era a provação mais severa jamais feita a um ser humano. Pois Deus mandou que o próprio Abraão matasse a Isaque. Uma coisa é ver um ente querido morrer, outra é receber ordens específicas para matar essa pessoa.

Uma leitura completa de Gênesis 22.3-8 mostra-nos como Abraão reagiu nessa crise:

Então se levantou Abraão pela manhã de madrugada, e albardou o seu jumento, e tomou consigo dois de seus moços e Isaque, seu filho; e fendeu lenha para o holocausto, e levantou-se, efoi ao lugar que Deus lhe dissera. Ao terceiro dia levantou Abraão os seus olhos, e viu o lugar de longe. E disse Abraão a seus moços: Ficai-vos aqui com o jumento, e eue o moço iremos até ali; e havendo adorado, tornaremos a vós. E tomou Abraão a lenha do holocausto, e pô-la sobre Isaque, seu filho; e ele tomou o fogo e o cutelo na sua mão, e foram ambos juntos. Então falou Isaque a Abraão seu pai e disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui meu filho! E ele disse: Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto? E disse Abraão: Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho. E assim caminharam ambos juntos.

Abraão manifestou ter espantosa fé nesta situação. Ele obede­ceu a Deus imediatamente, sem questionar ou argumentar (v. 3).

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Nos versículos 5 e 8, demonstrou possuir a tranqüila certeza, primeiramente, de que ele e Isaque retomariam e, em segundo lugar, de que Deus proveria um cordeiro para o holocausto. Estes fatos sugerem que, bem no fundo de seu ser, Abraão sabia que a ação de Deus seria coerente com seu caráter e sua aliança. Pode ser que Abraão não soubesse especificamente o que isso signifi­cava, mas a passagem indica que ele tinha uma boa idéia a respeito.

Gênesis 22.9-12 é o clímax da grande prova de Abraão;

E vieram ao lugar que Deus lhes dissera, e edificou Abraão ali um altar, e pôs em ordem a lenha, e amarrou a Isaque seu filho, e deitou-o sobre o altar em cima da lenha. E estendeu Abraão a sua mão, e tomou o cutelo para imolar o seu filho; mas o anjo do Senhor lhe bradou desde os céus, e disse: Abraão, Abraão!E ele disse: Eis-me aqui. Então disse: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único.

A breve análise deste episódio tão crucial na vida de Abraão, mostra-nos em que sentido Paulo pôde dizer; “Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Sabei pois que os que são da fé são filhos de Abraão” (G1 3.6,7). Abraão estava pronto a desferir o cutelo sobre o peito de seu próprio filho. Ele era submisso, obediente; achava-se disposto a adorar a Deus a qualquer preço. E Deus aceitou a espontaneidade de Abraão como prova de sua fé, e o cobriu de justiça.

O escritor aos Hebreus oferece-nos um comentário sobre esta provação; “Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado, sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito. Sendo-lhe dito; Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dos mortos o ressusci­tar. E daí também em figura ele o recobrou” (Hb 11.17-19). Abraão estava disposto a matar o próprio filho, pois acreditava que Deus manteria sua promessa quanto a uma descendência através de Isaque, mesmo que o Senhor tivesse de ressuscitá-lo, embora, ao que saibamos, Abraão jamais tivesse ouvido falar de ressurreição.

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Esta extraordinária obediência em face da mais severa das provações, mostra-nos que um crente, nos dias atuais, pode su­portar a mais difícil e inimaginável provação, se de todo o cora­ção confiar em Deus. A prova de Abraão também nos mostra que as provações de Deus podem envolver pessoas muito próximas a nós, as quais muito amamos, tais como filhos, filhas, maridos, esposas ou amigos. Talvez tenhamos de sacrificar nosso próprio Isaque - entregar aqueles que amamos acima de Deus. Talvez necessitemos deixá-los viver a vida que Deus tem preparado para eles, em vez de forçá-los a viver a vida à nossa maneira.

Com isso, podemos concluir que quanto mais difícil for obe­decer, tanto mais excelente será a obediência. Abraão obcdeccii a Deus no extremo de sua provação, e em conseqüência tlisso tornou-se um exemplo de fé. Por conseguinte, todo ac|uele que tem fé em Deus, estando desse modo justificado, é um filho na linha espiritual de Abraão. Se confiarmos em Deus como Abraão o fez, podemos permanecer firmes em qualquer tipo de provação.

O episódio da grande prova de Abraão em Moriá é, talvez, o principal exemplo de uma fé revelada na provação. Mas com certeza esta não é a única ilustração que encontramos no Antigo Testamento. O Segundo Livro das Crônicas 32.31 resume as provações de Ezequias, ao declarar que o propósito de Deus era “para saber tudo o que havia no seu coração”. Sem dúvida algu­ma, Deus não tem de provar nenhum de nós para descobrir o que há em nossos corações, pois Ele já o sabe. Antes, Deus nos prova para que nós saibamos o que há em nossos corações. Deste modo, Ele nos ajuda a fazer um inventário espiritual e um exame de consciência. Sempre que Deus nos faz passar por severas tribula­ções, é para mostrar-nos ou a força ou a fraqueza de nossa fé, bem como a sua fidelidade. Se pela graça demonstramos possuir uma fé forte, ela nos anima e fica cada vez mais forte à medida que continuamos a ver o Senhor nas tribulações {vide Jó 42.1-6).

A lição da humildade

O maravilhoso testemunho do apóstolo Paulo em 2 Coríntios 12, fomece-nos uma das melhores ilustrações da Bíblia sobre este

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princípio: “Foi-me dado um espinho na came, a saber, um mensa­geiro de Satanás para me esbofetear, a fim de me não exaltar” (2 Co 12.7). Paulo estava ciente das revelações sobrenaturais que ele havia tido o privilégio de ver, ouvir e experimentar como parte de seu ministério. Ele já tinha visto o Cristo exaltado em diversas ocasiões depois de sua ressurreição e até já tinha ido ao terceiro céu. Por conseguinte, o apóstolo facilmente poderia ter pensado mais de si mesmo do que seria sensato ou aceitável a Deus.

Para mantê-lo humilde. Deus o atingiu literalmente com um problema mui doloroso e crônico: “um mensageiro de Satanás”. Isto nos indica que o “espinho na carne” era uma pessoa. “Mensa­geiro” é angelos em grego e, às vezes, é traduzido por “anjo”. A palavra é usada 188 vezes no Novo Testamento e sempre com referência a uma pessoa. Em 2 Coríntios 12 refere-se provavel­mente a um homem possesso por um demônio, que era induzido a atacar Paulo em Corinto.

A natureza exata do problema de Paulo não é tão importante quanto o que Deus queria ensinar a ele - e a nós também. Quando somos abençoados em determinadas circunstâncias do serviço espiritual. Deus às vezes julga necessário permitir que mensagei­ros de Satanás nos esbofeteiem para nos conservar humildes. Tais problemas nos lembram de que não temos força em nós mesmos, e que Ele é o Único que nos capacita a ministrar. Poder divino é liberado em tal situação de fraqueza. Quando estamos sem forças, temos de descansar nEle. Foi o que Paulo disse: “E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fra­queza. De boa vontade pois me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte” (2 Co 12.9,10).

A lição da rejeição ao materialismo

A despeito das várias flutuações econômicas, avaliações de­preciativas e das expectativas negativas que têm havido nos últi­mos anos, ainda vivemos numa sociedade muito materialista. Em

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comparação com o resto do mundo, os crentes dos Estados Uni­dos e de outras sociedades industrializadas têm altíssimos pa­drões de vida. Os confortos materiais, sem mencionar os novos produtos e serviços, embalam-nos numa sensação de bem-estar e convencem-nos de que não podemos viver sem eles. Nossa vida diária gira mui rapidamente em torno de bens materiais - carros, computadores, móveis, aparelhos em geral e investimentos finan­ceiros. Todos somos tentados a cair na armadilha da qual Jesus nos preveniu em Mateus 6.24: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom [riquezas]” . As riquezas materiais impediram que o jovem rico entrasse no Reino de Deus (Mc 10.17-22).

Devido ao perigo de o materialismo tornar-se nessa pedra de tropeço para os crentes, uma séria reflexão sobre o assunto con­duz-nos à terceira razão pela qual o Senhor nos faz passar por tribulações: afastar-nos das coisas mundanas. Tenho observado que, à medida que os anos passam, a maioria dos crentes maduros na fé dá cada vez menos importância aos bens materiais que porventura hajam acumulado. Antigamente, tais coisas eram as mais desejáveis em suas vidas. Mas, com o passar dos tempos, conscientizam-se de que tais coisas não resolvem grandes proble­mas ou aliviam ansiedades maiores.

Deus nos envia certas provações para fazer-nos entender que os bens materiais não são capazes de satisfazer-nos as mais pro­fundas necessidades, nem proporcionar-nos qualquer tipo de aju­da nos períodos de aflição. Através deste processo, o Senhor revela também a necessidade de sermos afastados dos bens e riquezas materiais. Ou, ainda, Ele prova-nos o que muitos de nós já constatamos: os bens materiais e as experiências deste mundo tomam-se cada vez menos importantes à medida que nos aproxi­mamos dEle.

Moisés é um maravilhoso exemplo de alguém que aceitou a necessidade de ser afastado da dependência das propriedades terrenas. Hebreus 11.24-26 contém um conciso comentário sobre o que lhe aconteceu: “Pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltra­

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tado com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompen­sa”.

Moisés fora criado na casa de Faraó, e educado como príncipe do Egito até a idade de quarenta anos. Tinha chegado ao topo social da principal superpotência de seus dias. Todavia, desvian­do-se os olhos daquela posição terrena, envolveu-se com os sofri­mentos de seus compatriotas, os israelitas, que estavam sendo oprimidos como escravos. O Senhor, na verdade, fez da tribula­ção de Israel a tribulação de Moisés, e assim o afastou das coisas materiais.

A lição da esperança eterna

O quarto propósito para que Deus nos prove é conclamar-nos a uma maior percepção de nossa esperança etema. Para ser mais simples, as provações fazem-nos anelar pelo céu. Considere a morte de um ente querido que era crente. Se essa pessoa muito querida (esposo, esposa, filho, algum outro parente ou amigo mais chegado) é chamada ao céu, e você está suscetível a aceitar a soberania de Deus, sua mente e seu coração invariavelmente se focalizarão nas coisas eternas. Rapidamente você desenvolverá um relacionamento desinteressado e sem compromisso com as coisas deste mundo transitório. Romanos 8.18-24 apoia de forma maravilhosa este pensamento;

Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo. Porque em esperança somos salvos.

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O apóstolo Paulo dá mais apoio a esta premissa em 2 Corínti- os 4.16-18, onde, com base em suas próprias experiências, faz um resumo dos resultados de suas provações:

Por isso não desfalecemos: mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia, porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; não atentando nós nas coisas que se vêem mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.

Em 2 Coríntios 5.1-8, Paulo acrescenta:

Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste taberná­culo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu; se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus. Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos car­regados: não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito. Pelo que estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor. (Porque andamos por fé, e não por vista.) Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor.

Até mesmo fora do contexto dos sofrimentos, Paulo exorta- nos a pensar “nas coisas que são de cima” (Cl 3.1,2).

A lição do primeiro amorDeus também usa os sofrimentos com o imprescindível pro­

pósito de nos mostrar o que realmente amamos. Isto fazia parte da prova que o Senhor fez com Abraão no monte Moriá. Esta foi a grande pergunta que Abraão teve de responder: Você ama seu filho Isaque mais que a Deus ou você ama a Deus mais que Isaque? Nesta situação, sua resposta era crucial, porque Deus estava disposto a tirar Isaque de Abraão, se isto colocasse Deus em primeiro lugar na vida de Abraão.

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O Senhor também nos prova para mostrar qual o objeto de nosso primeiro amor (Dt 13.3, vide também Dt 6.5; Mt 22.36,37). Jesus enfoca nitidamente este assunto em Lucas 14.26: “Se al­guém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo”.

Esta é uma declaração extremamente dura, se considerada superficialmente. Jesus não está dizendo que você deve odiar a todos, inclusive a você mesmo. Ele está dizendo que os crentes devem amar a Deus e a Jesus Cristo a tal ponto que pareça estarem eles odiando a si mesmos e a seus familiares. Se os cristãos não estiverem dispostos a colocar até mesmo seus mais secretos interesses bem abaixo dos de Cristo, é porque há falta de amor supremo a Deus - além de não serem dignos de ser chama­dos discípulos de Cristo.

Portanto, se você deseja ser completamente obediente a Cris­to, haverá ocasiões em que precisará deixar de lado alguns ou todos os interesses dos membros de sua família, para que você possa dar a Ele a prioridade número um. Deus pode exigir que você faça a mais difícil das escolhas para que a sua lealdade seja comprovada. Ele quer que você passe no teste, exatamente como Abraão passou, e dessa maneira, prove que Deus é o seu primeiro amor.

A lição das bênçãos de Deus

Há outro propósito de grande valor para os sofrimentos: ensi­nar-nos a valorizar as bênçãos de Deus. As lutas ensinam os cristãos que a obediência a qualquer preço - até mesmo no meio da mais severa tribulação - leva-nos às bênçãos de Deus. A razão diz: “Agarre o que puder deste mundo e vá em frente”. O senti­mento e as emoções recomendam: “Procure prazer custe o que custar”. Mas a fé reivindica: “Obedeça a Palavra de Deus e seja abençoado”.

Jesus exemplifica perfeitamente este propósito em Hebreus5.7-9:

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O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia. Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu. E, sendo ele consumado, veio a ser a causa de eterna salvação para todos os que lhe obedecem.

Filipenses 2.8,9 afirma esta verdade sobre Jesus de outra forma: “E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome”.

Durante seu ministério terreno, Jesus, sendo plenamente lio- mem e plenamente Deus, não se achava isento do solVimento físico e da adversidade. Ele foi chamado para ser o Servo So(Ve­dor (Is 53). Jesus aprendeu o completo significado da obediência por aquilo que padeceu, incluindo a morte na cruz {vide de novo Hb 5.8). E devido a essa obediência foi exaltado por Deus. O caminho à bênção passa freqüentemente pelo sofrimento, mas sempre através da obediência.

A lição da empatia

Algo que todos apreciamos é a capacidade que o ser humano tem de se identificar e entender determinadas circunstâncias, problemas, acontecimentos inesperados ou sofrimentos da vida. Quer você seja hospitalizado por algum tempo, tendo médicos e enfermeiras que compreendem a dor que sente; quer tenha de lidar com a morte, ou um desastre na família, tendo um amigo sensível que sabe exatamente o que você está passando enquanto luta em meio a toda essa aflição; é sempre animador poder contar com a empatia humana. E este é outro valioso propósito para o sofrimento: capacitar-nos a ajudar os outros em seu sofrimento.

Nos versículos de abertura de sua Segunda Carta aos Corínti­os, Paulo escreve que Deus “nos consola em toda a nossa tribula­ção, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus” (2 Co 1.4). Às vezes, esta é a razão

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por que Deus permite que soframos; ensinar-nos a servir melhor os que se acham em meio à dor e ao sofrimento.

Novamente o escritor aos Hebreus mostra-nos a maneira como Jesus exemplifica um dos propósitos do sofrimento. Através de seus próprios sofrimentos como o Homem Perfeito, Jesus, sendo nosso Sumo Sacerdote, é capaz de simpatizar com nossas fraque­zas e sofrimentos (Hb 2.18; 4.15). Ele revelou sua empatia por Pedro durante a Última Ceia; “Disse também o Senhor; Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos” (Lc 22.31,32).

A lição da capacidade de resistência

E finalmente, creio que Deus permite os sofrimentos para fortalecer nossa resistência para maiores provações a fim de sermos mais úteis no serviço do Senhor. O puritano Thomas Manton observou; “Enquanto tudo está calmo e tranqüilo, vive­mos pelo que sentimos e não pela fé. Pois o valor de um soldado nunca é conhecido em tempos de paz”. A verdade desta declara­ção tem sido corroborada freqüentemente durante a história do conflito militar, incluindo a experiência americana com equipa­mento de alta tecnologia durante a Guerra do Golfo Pérsico.

Enquanto os Estados Unidos reuniam suas forças na região do golfo, no final de 1990, para enfrentar a provocadora invasão iraquiana do Kuwait, diversas questões se levantavam como, por exemplo; De que maneira os versáteis e sofisticados mísseis se comportariam numa situação real de combate? O armamento tinha sido testado experimentalmente apenas durante a década anterior, pois fazia quase vinte anos que os Estados Unidos não se envolviam numa guerra dessa importância (Vietnã). Entretanto, para grande alívio e satisfação dos líderes militares e civis, os mísseis patriots e cruise fizeram um brilhante trabalho durante os dois meses de conflito no golfo. Os armamentos não puderam ser testados sob condições de treinamento até o seu potencial máxi­mo. A pressão das reais condições de um campo de batalha e a genuína oposição inimiga foram os fatores que comprovaram a confiabilidade e a eficiência dos mísseis.

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Outrossim, situações de guerra intensa e real também revelam defeitos no equipamento, ou deficiências no modo como as forças militares atuam. Baseado nessas observações, podem-se fazer melhorias. Do mesmo modo, a vida do cristão está em constante guerra (Jo 17.9-19; Ef 6.10-18). Deus nos coloca em situações difíceis na vida para aperfeiçoar-nos e ajudar-nos a crescer {vide Jo 15.1,2). À medida que passamos de uma provação para outra, nossos músculos espirituais são exercitados, fortalecidos e tomam-se cada vez mais úteis. Todo este processo desenvolve nossa resistência espiritual, o que nos toma totalmente mais eficientes em futuros ministérios. Lembre-se do que o apóstolo Tiago nos ensina:

Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações; sabendo que a prova da vossa fé obra a paciência. Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma {1.2-4).

O Senhor prova o crente por várias razões e propósitos. Tudo pode estar envolvido - o fortalecimento de nossa fé, o reavivamento de nossa esperança celestial, o aperfeiçoamento de nossa paciência através de provações ainda maiores para que sejamos mais úteis à Seara do Senhor. E Deus, às vezes, utiliza mais de um desses propósitos ao mesmo tempo. Como já observamos no início deste capítulo. Deus é soberano, e Ele usa todos estes valorosos propósitos dentro do escopo de seu plano maior para nós.

É um alívio saber das maravilhosas verdades deste capítulo no tocante ao modo de Deus usar as provações, sofrimentos e perse­guições. Contudo, este é apenas um aspecto de nosso estudo. Há ainda o outro lado da moeda: o difícil e perturbador aspecto da aplicabilidade. A questão prática que persiste é esta: Sei que devo triunfar através do reconhecimento dos soberanos propósitos de Deus para esta provação, mas qual o caminho para a vitória? Estou disposto a tentar seja o que for, mas como? E podemos perguntar mais: Que qualidades da mente e emoções são úteis e necessárias ao enfrentarmos situações difíceis? No restante deste livro, procuraremos fornecer respostas bíblicas a estas questões. Começaremos examinando alguns grandes exemplos bíblicos, e a maneira como eles piamente suportaram o sofrimento.

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NOTAS' A. W. Pink, The Sovereignty o f God (A Soberania de Deus). Edição revista. (Edim­

burgo; Banner o f Truth, 1961), p. 20. Ibidem, pp. 22-23, ênfases do autor.

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E xemplos d e F é EM Tempos d e P rovação

F ivemos numa época em que é comum, especialmente entre jovens e crianças, a procura por heróis e ídolos. A popular e audiovisual cultura da mídia, que cresce cada vez mais

nos noticiários e programas de entretenimento, coloca e tira cons­tantemente as pessoas sob a luz da celebridade. Alguns ficam lá por longo tempo, enquanto outros vão e vêem juntamente com os modismos e as tendências do momento. Muitas das personalida­des no campo dos esportes e entretenimento são veneradas como ídolos, ou adoradas como heróis, tudo com base nesse tipo de reconhecimento que a mídia faz.

Tanto os cristãos quanto os não-cristãos admiram tais personali­dades por causa de seu sucesso, riqueza, inteligência, poder, influên­cia, carisma, ou qualquer combinação destas características. Este tipo de admiração ignora as perguntas de Paulo feitas em 1 Coríntios 1.20: “Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tomou Deus louca a sabedoria deste mundo?” Qualidades que são impressionantes para a maioria de nós, raramente são vistas por Deus como algo importante.

Os crentes, hoje em dia, facilmente se esquecem de procurar na Bíblia por modelos a serem seguidos, e fazem vista grossa, ou

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evitam examinar o modo como os personagens bíblicos lidavam, positiva ou negativamente, com os sofrimentos, provações e per­seguições.

A V antagem dos E xem plos B íblicos

A medida que lutamos para viver uma vida piedosa no meio de um mundo hostil, e a despeito da variedade dos reveses que nos possam desencorajar, precisamos lembrar-nos de que os cren­tes, através dos séculos, sempre olharam para os grandes persona­gens da Bíblia como os maiores exemplos de vida a serem imita­dos. O historiador John Woodbridge escreveu;

Para quem podemos nos voltar na busca dos melhores exem­plos a serem seguidos, se estamos desapontados com os valo­res disseminados livremente em nossa cultura? Obviamente, o maior modelo para o cristão é o próprio Senhor Jesus Cristo.O autor da Epístola aos Hebreus dá-nos o bom conselho para que mantenhamos os olhos fixos em Jesus: “...deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta; olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual pelo gozo que lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a afronta e as­sentou-se à destra do trono de Deus" (Hb 12.1,2). O mesmo autor também fornece-nos uma série de exemplos para medi­tarmos em sua lista de homens e mulheres de fé: Abel, Noé, Abraão, Moisés, Raabe, Davi e outros. Estes personagens, a despeito de suas muitas fraquezas, venceram, pela fé, enormes adversidades (Hb 11).^

É fácil e natural querermos aprender as boas características e as realizações de sucesso dos heróis da fé. A mentalidade que só pensa no sucesso a todo custo é tão predominante em nossa cultura, que já chegou a atingir a igreja evangéhca. Este é apenas um entre os diversos fatores que fazem com que os crentes percam o completo conselho de Deus em vários pontos funda­mentais da vida cristã.

Se estudarmos apenas os aspectos positivos das vidas dos heróis bíblicos, não veremos como o poder do sofrimento mol-

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dou-lhes o caráter. Minha oração é que você ache um ponto de equilíbrio, e receba algumas revelações valiosíssimas à medida que, nos próximos capítulos, estivermos examinando alguns dos grandes exemplos bíblicos quanto ao modo de se lidar com o sofrimento, provação e perseguição.

E stêvão, o P rim eiro M ártir C ristão

Se examinarmos a vida de Estêvão do ponto de vista do seu lugar estratégico no plano de Deus, verificaremos que sua importância não foi menor que a de Moisés. Estêvão desempenhou um papel decisivo durante um importante período de transição para a Igreja na terra. Foi sua morte que levou os crentes em Jerusalém a se espalharem como testemunhas para as outras partes do mundo (At 8.1). Mas o ministé­rio de Estêvão em Atos 6-7, anterior ao seu martírio, também lói crucial. Devido ao fato de haver pregado aos judeus de fala grega em Jerusalém, tornou-se ele a ponte de ligação da Igreja Primitiva - de Pedro, o apóstolo dos judeus, a Paulo, o apóstolo dos gentios. Estê­vão, na verdade, foi o elo de transição entre a evangelização de Jerusalém e a evangelização do mundo.

Estêvão não foi apenas um poderoso evangelista - foi também um dos mais eloqüentes defensores da fé cristã que já serviu a Igreja em todos os tempos. É assim que Lucas descreve o minis­tério de Estêvão:

E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo. E levantaram-se alguns que eram da sina­goga chamada dos libertinos, e dos cireneus e dos alexandrinos; e dos que eram da Cilicia e da Ásia, e disputavam com Estêvão.E não podiam resistir à sabedoria, e ao espírito com que falava (At 6.8-10). '

Aqueles judeus de fala grega estavam transtornados com Es­têvão, porque de forma tão convincente e inflexível, ele apresen­tava a Jesus e a Nova Aliança como o substituto do sistema religioso da Antiga Aliança dos judeus.^ A oposição dos judeus rapidamente atingiu o nível da fúria cega, que somente poderia ser satisfeita com sangue - o sangue de Estêvão como o primeiro crente a morrer martirizado (At 7.57-60).

Exemplos de Fé em Tempos de Provação 3 ‘)

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O relativamente curto ministério de Estêvão é, por si só, uma inspiração para os crentes dos dias de hoje. Todavia, sua excelên­cia como exemplo é demonstrada principalmente através de sua morte. Muito podemos aprender de seu caráter ao examinarmos a maneira como ele reagiu quando confrontado pela perseguição e morte violenta.Altruísta e corajosamente Estêvão fez a coisa cer­ta, proclamando a verdade, a despeito das conseqüências.

Graça no sofrimento

Ao descrever a escolha dos primeiros diáconos. Atos 6.5 qualifica Estêvão como “homem cheio de fé e do Espírito Santo”. Implícito no termo “fé” está a idéia de graça ou favor de Deus. De fato. Atos 6.8 desenvolve mais esta frase, e diz que Estêvão estava “cheio de graça e de poder”. Os que têm fé e o Espírito Santo - ou seja, todos os crentes - também contam com uma completa medida de graça e poder. Estêvão certa­mente estava cheio de toda a graça necessária para enfrentar qualquer tipo de situação (vide 2 Co 12.9; Tg 4.6; 1 Pe 2.20; 3.14; 4.14).

O tipo de graça de que estamos falando é a da bondade amorosa dirigida às pessoas. E, Estêvão, pela fé, definitivamente a possuía. Esta pode ser parte da razão de a igreja em Jerusalém tê-lo escolhido como um dos primeiros diáconos, com a respon­sabilidade inicial de ajudar as desprezadas viúvas no ministério quotidiano.

Estêvão demonstrou ter esta graça em relação às outras pesso­as duma forma muitíssimo clara justamente no momento da mor­te. Em Atos 7.60, enquanto os judeus atiravam-lhes pedras, ele ajoelhou-se, olhou para o céu, e exclamou: “Senhor, não lhes imputes este pecado”. Tal benevolência somente pode vir da parte do Senhor. Como poderia um ser humano proferir tais palavras àqueles que lhe estavam tirando a vida? Este tipo de reação, cheio de confiança e de graça, era o resultado de sua fé no sentido de que Deus estava, soberanamente, no controle de sua vida e morte. E por isso que Estêvão não se preocupou em se proteger. Ele morreu alegre e pacificamente na vontade de Deus. Tudo o que

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Exemplos de Fé em Tempos de Provação 4 I

fez foi confiar no plano global de Deus para sua vida, sem lutar para se salvar (compare Gn 50.20; Jr 29.11).

Tranqüilidade no sofrimentoPróximo do início de sua perseguição fatal nas mãos dos

judeus incrédulos, Estêvão demonstrou outra evidência clara e extraordinária de que o episódio não era corriqueiro. Atos 6.15 diz: “Então todos os que estavam assentados no conselho, fixando os olhos nele, viram o seu rosto como o rosto de um anjo”. Sua expressão facial deve ter se constituído numa das mais incompre­ensíveis e maravilhosas repreensões jamais vista numa intimida­ção e perseguição tão perversas. Certamente os oponcnles de Estêvão ficaram atônitos e confundidos diante de uma reação lão atípica. A mera reação, que muitos crentes poderiam haver de­monstrado numa situação como esta, incluiria com certeza ansie­dade, estresse e talvez raiva.

A extraordinária e piedosa reação de Estêvão a essa injusti­ça (“e, investindo com ele, o arrebataram”, At 6.12) e as distorcidas e falsas acusações armadas contra ele (At 6.11), oferecem-nos o melhor exemplo de como devemos portar-nos em meio a mais difícil das circunstâncias. A expressão de serenidade e tranqüilidade na face de Estêvão dá-nos mais uma prova de que ele estava cheio do Espírito Santo, e tinha um íntimo relacionamento com Deus.

Não sabemos exatamente qual seria a aparência do rosto de Estêvão, mas creio que manifestava uma tranqüilidade e um gozo sobrenaturais, por encontrar-se ele impregnado da glória e da presença divinas. O apóstolo Pedro afiançou: “Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus” (1 Pe 4.14). Do rosto de Estêvão irradiava a glória divina, constituindo-se esta numa incrí­vel reprimenda àqueles incrédulos que reivindicavam conhecer a Deus.

Outro homem que teve o rosto irradiado pela glória de Deus foi Moisés (Êx 33.7-11,17-23; 34.29-35). Para os inimigos de Estêvão, a ironia disso tudo era que assim como falsamente o

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haviam acusado de blasfemar contra Moisés, Deus imediatamen­te passou a refletir sua glória no rosto de Estêvão (At 6.11-15). Isto efetivamente colocou-o em termos de igualdade com Moisés (já fizemos alusão a isso neste capítulo) e revelou que Deus aprovava Estêvão como mensageiro da Nova Aliança. No tempo certo. Deus aprovara Moisés como o representante da Antiga Aliança, mas agora era a vez de Estêvão ser o representante de Cristo {vide 2 Co 3.7-11).

Santidade no sofrimento

Uma relevante característica mostrada de forma explícita e implícita, neste nosso pequeno estudo sobre o primeiro mártir, é o alto nível de santidade de Estêvão. Já vimos em Atos 6.5 que ele estava cheio do Espírito Santo. O mesmo se diz em Atos 7.55, depois de ele haver proferido o seu sermão, e justamente antes de os judeus, no extremo de sua incredulidade, estarem prestes a se aiTcmeterem contra ele. A realidade de estar cheio do Espírito Santo tem grande aplicabilidade a nós à medida que considera­mos os sofrimentos e as perseguições como fatos incontestáveis.

Atos 7.55 narra: “Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus”. A tradução de João Ferreira de Almeida, versão Revista e Corrigida, diz aqui “estando cheio”, proveniente de uma forma verbal da palavra grega pleroõ, fornecendo-nos boa pista sobre o que significa estar cheio do Espírito Santo. Literalmente, Estêvão estava sendo continua­mente cheio do (ou com o) Espírito Santo. Ele estava cheio do Espírito Santo em Atos 6, e é por isso que a Igreja o escolheu para diácono. Ele estava sendo cheio constantemente com o Espírito Santo enquanto ministrava. E ele ainda estava cheio do Espírito Santo ao final de Atos 7. Esta compreensão do enchimento do Espírito ser uma ação contínua concorda com a ordem de Paulo na segunda parte de Efésios 5.18: “Mas enchei- vos do Espírito” . Aqui a palavra grega pleroõ deveria ser traduzida literalmente por “continuai enchendo-vos” . Todos os crentes devem estar sendo cheios continuamente do Espíri­to Santo, para assim serem controlados por Ele.

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Pelo fato de haver muita confusão, mal-entendidos e falsos ensinamentos hoje em dia com relação à plenitude do Espírito Santo na vida do crente, precisamos nos estender um pouco mais acerca da função do Espírito Santo. Um ditado relaciona­do à informática diz: “Entra lixo, sai lixo” .'‘De modo seme­lhante, somos controlados pelo que enche nossa mente. Se deixarmos o Espírito Santo controlar nossas mentes, seremos controlados e renovados por Ele e santificados em nossa ma­neira de viver. A ordem de Efésios 5.18 não significa que tenhamos de ter algum tipo de experiência mística. Significa simplesmente que os crentes devem deixar que suas vidas sejam controladas pelo Espírito Santo. Pleroõ é muitas ve/.es usada nos Evangelhos para significar estar cheio de uma cerla atitude, como raiva ou amargura. De maneira gera), somos capazes de manter um equilíbrio entre o ódio e a felicidade. Mas se ficamos cheios de ódio, perdemos o equilíbrio e somos dominados pela raiva. Da mesma forma, se somos cristãos devemos ser controlados pelo Espírito.

Estêvão, em harmonia com sua condição de grande exemplo a ser seguido, ajusta-se ao ideal de alguém total e continuamente cheio e controlado pelo Espírito Santo. Quando viu que ia morrer, não precisou fazer qualquer ajuste de última hora ou passar al­guns momentos fazendo um inventário espiritual. Aparentemen­te, tinha ele vivido uma vida consistente e cheia do Espírito Santo desde que se tornara crente. Por isso, era natural que Estêvão reagisse como um santo e mostrasse confiança em face da perse­guição e morte. E hoje devíamos ser capazes de lidar com o sofrimento - que geralmente é muito menos intenso ~ da mesma maneira, porque o mesmo Espírito Santo está em nós como estava em Estêvão.

Nosso problema pode estar no fato de não acreditarmos que venhamos a ter de lidar com uma situação crítica como a de Estêvão. Mas tal dúvida é injustificada. Leia de novo 1 Pedro 4.14, onde, em resposta à perseguição, Pedro escreve: “Bem- aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus”. Disto podemos inferir que Deus nos prepara de maneira especial, quando somos severamente provados. E como se o

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Espírito de Deus fosse derramado em porção dobrada em tempos de crise. Sem dúvida, foi isto o que aconteceu com Estêvão em Atos 7, com incontáveis de milhares de outros mártires ao longo da história da Igreja, e com você e eu, quando enfrentamos dificuldades. Deus é mais do que competente para satisfazer nossas necessidades em tempos de crise (Fp 4.13). É por isso que não temos nenhuma razão lógica para temer ou recuar diante da perspectiva de um sofrimento por amor de Cristo.

Há ainda mais uma prova irrefutável que demonstra a santida­de de Estêvão na perseguição; sua dupla reação em Atos 7.55,56. Ele olha para Jesus e, com confiança, testifica que o vê em pé à mão direita de Deus. Ele olhou muito além de suas duras circuns­tâncias, e fixou os olhos em Jesus. Isto foi uma pré-estréia da exortação de Paulo: “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra” (Cl 3.1,2).

A visão espiritual de Estêvão era incrível por estar ele, sem dúvida, “cheio de fé e do Espírito Santo”. Esta visão o capacitou a ter uma revelação do Salvador ressurreto e a saber com certeza que seria recebido no céu no momento de sua morte. Não teremos tal revelação, ou visão, de Jesus nesta vida, mas pelos olhos da fé sempre podemos vê-lo, e saber que Ele está conosco até nos períodos de provação mais difíceis (Jo 14.26,27; At 2.24,25; Hb 13.5,6).

Estêvão, a despeito de seu ministério extremamente curto, está na galeria dos heróis da fé. Talvez apenas o Senhor Jesus, o exemplo perfeito, e Paulo (2 Co 11.23-31) poderiam superar Estêvão como modelo a ser imitado no modo de se lidar com o sofrimento. Definitivamente, Estêvão aderiu as seguintes pala­vras de Davi, escritas séculos antes:

Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim: por isso que ele está à minha mão direita, nunca vacilarei. Portanto está alegre o meu coração e se regozija a minha glória: tam­bém a minha carne repousará segura. Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja

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corrupção. Far-me-ás ver a vereda da vida; na tua presença há abundância de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetu­amente (Sl 16.8-11).

D aniel e seus T rês A migos

O livro de Daniel é um dos mais difíceis do Antigo Testa­mento, já que se ocupa com muitas visões e profecias do final dos tempos. Mas também contém muito material histórico valioso, com aplicação direta para as nossas vidas. A narrativa histórica focaliza quatro jovens judeus, que estavam entre os exilados na Babilônia: Daniel (o autor e principal personagem do livro) e seus três amigos Hananias, Misael e Azarias (mais conhecidos por seus nomes caldeus Sadraque, Mesaque e Abednego). Estes lio- mens foram os principais protagonistas de uma das histórias bíblicas mais conhecidas, e que nos fornece importantes critérios ao nosso estudo sobre modelos a serem imitados em tempos de sofrimento.

Num de seus livros didáticos, um eminente naturalista descre­ve uma planta marinha que nasce a uma profundidade de 45 a 60 metros, e fica flutuando nas ondas de rebentação. O caule desta planta tem menos de 2,5 centímetros de diâmetro, mas mesmo assim se desenvolve e mantém-se firme contra a fúria das ondas do mar. Qual o segredo da maravilhosa resistência desta planta aparentemente frágil e sua firmeza contra a pressão das ondas? De acordo com o naturalista, essa delgada planta sobrevive tão bem contra os elementos da natureza, porque acha-se ancorada firmemente nas rochas do fundo do mar.

É surpreendente como os crentes podem suportar as esmaga­doras calamidades dos vagalhões da vida, se também tiverem uma âncora na qual possam se firmar. Não importa quão fraca nossa fé possa parecer; se estiver ancorada nas infalíveis promes­sas da Palavra de Deus, podemos resistir a prova mais dura e o sofrimento mais difícil. No caso de Daniel e de seus amigos, notamos que, embora seus pés estivessem em Babilônia, suas cabeças estavam no céu. Suas mentes e corações encontravam-se firmemente comprometidos com os absolutos de Deus e, por

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conseguinte, prontos a enfrentar com habilidade e resistência as pressões de uma sociedade pagã.

A fornalha de fogo ardente

Na luta que é a vida do cristão, precisamos decidir, baseado na Palavra de Deus, o que é importante e o que é dispensável. Precisamos viver uma situação na qual possamos fixar o limite de nossa convicção e resolver não ultrapassá-lo. Desta forma, em tempos de crise e problemas, podemos agir de acordo com a força do princípio pessoal, e não conforme a intimidação da pressão externa.

Já no início do exílio na Babilônia, Daniel e seus amigos fixaram o limite de suas convicções (Dn 1.8). Determinaram não vacilar quando chegassem os absolutos da Lei e da Palavra de Deus, e essa decisão os ancorou em Deus, a Rocha da Fé, e permitiu que eles suportassem todas as tormentas do cativeiro caldeu-babilônico.

O exílio dos judeus começou em cerca de 606 a.C. Daniel e seus amigos estavam no primeiro grupo de judeus deportados para Babilônia quando da invasão inicial de Judá por Nabucodo- nosor. Eles foram levados como reféns juntamente com muitos dos mais seletos jovens de Judá, para serem treinados na cultura caldaica, a fim de atuarem como líderes dos cativos. Essa lideran­ça evitaria que os judeus se insurgissem contra a conquista babilônica. Os jovens eram escolhidos com base no porte físico, habilidade intelectual e boas maneiras. Os babilônios queriam prepará-los para o serviço no palácio do rei. Na verdade, era mais uma questão de reeducação, redefinição de identidade e reorientação de estilo de vida - em essência, era uma lavagem cerebral.

Os jovens não faziam resistência ao processo educacional ou à mudança de nome, mas se opunham ferrenhamente à tentativa de reorientá-los segundo o estilo de vida pagão. A razão para isso é óbvia. Não havia nenhum estatuto bíblico contra o recebimento de uma nova educação ou a mudança de nome, mas havia um claríssimo mandamento que os impedia de abraçar o estilo de

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vida babilónico. Não poderiam, por exemplo, comer algumas das comidas de Babilônia, por que isso violaria certas declarações absolutas da Lei de Deus sobre regime alimentar e comida ofere­cida a ídolos. Assim Daniel e seus três amigos traçaram o limite exatamente onde Deus já havia traçado. Eles conheciam precisa­mente qual era esse limite, além do qual não poderiam e nem pretendiam ir.

Daniel e seus amigos, por causa de seu comportamento digno e totalmente de acordo com suas convicções pessoais, obtiveram grandes favores e consideração por parte do rei Nabucodonosor. Certamente eles tinham em mente as palavras de Provérbios 22.11: “O que ama a pureza de coração, e tem a graça nos seus lábios, terá por seu amigo o rei”. Entretanto, tal amizade pi'ovou ser de curta duração.

Certos eventos descritos em Daniel 3 deparam os três ami­gos do profeta com um dilema mui torturante - uma crise de caráter muito mais difícil do que as restrições dietéticas (Dn1.8-16). Aqui a questão envolve idolatria e adoração a Deus em primeiro lugar. Os três jovens sabiam que a Lei de Deus é definitivamente clara: considerar qualquer objeto de adoração maior do que Deus é abominável aos olhos do Senhor (Êx 2.2­6; Dt 4.15-19).

Em Daniel 2.31-35, Nabucodonosor sonhou com uma estátua grande e magnífica, cuja cabeça era de ouro puro e o corpo de prata, bronze, ferro e barro. O rei ficou tão fascinado com aquela cabeça de ouro, que representava ele mesmo (Dn 2.38), que mandou fazer sua própria estátua de ouro maciço (Dn 3.1). O projeto inteiro era direcionado ao culto do próprio Nabucodono­sor: a imagem gigante representava a ele e a sua monarquia. Fazia o que todo homem que não conhece a Deus tem a tendência de fazer, isto é, adorar a si mesmo como deus. E neste caso, Nabuco­donosor mandou que todos os seus súditos se prostrassem diante dele - e assim o fizeram, exceto aqueles três jovens. Eles perma­neceram resolutamente firmes, segundo seus princípios, tendo como base a Palavra de Deus, mesmo que isto lhes significasse a morte: “E qualquer que se não prostrar c não a adorar, será na mesma hora lançado dentro do forno de fogo ardente” (Dn 3.6).

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Esta demonstração de firmeza expôs os três jovens à oposição e perseguição furiosas dos caldeus. Eles já estavam ressentidos com Daniel e seus três amigos por haverem sido colocados em cargos oficiais acima dos caldeus (Dn 2.48,49). Daniel 3.12 resu­me as acusações dos caldeus contra os companheiros de Daniel: “Há uns homens judeus, que tu constituíste sobre os negócios da província de Babilônia: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego; estes homens, ó rei, não fizeram caso de ti; a teus deuses não servem, nem a estátua de ouro, que levantaste, adoraram”.

Ao ouvir esta acusação, o rei Nabucodonosor ficou furioso e ordenou fossem os três jovens trazidos à sua presença. Como se aqueles homens já não tivessem sofrido pressão suficiente, esta­vam agora sujeitos a uma desesperada e orgulhosa tentativa de forçá-los a aceitar a ordem do rei.

Na verdade, eles nem precisavam responder as ameaças e intimidações de Nabucodonosor, e em grande parte não o fize­ram. A calma e a força silenciosa de seu caráter já eram uma resposta em si mesma. O silêncio não era arrogância, mas uma admissão tácita de que a acusação de não haverem adorado a imagem de ouro era verdadeira. Perceberam que não havia neces­sidade de perder tempo em racionalizar seu comportamento ou elaborar uma minuciosa defesa. Em vez disso, fizeram uma das mais concisas e sublimes declarações de fé de toda a Bíblia:

Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar; ele nos livrará do forno de fogo ardente, e da tua mão, ó rei. E, se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste (Dn 3.17,18).

Mais uma vez, vemos o conceito do princípio pessoal em ação nestes três jovens. Primeiramente, eles colocaram o princípio num ponto tão elevado, que foram capazes de permanecer em pé enquanto todos, na vasta multidão, se prostravam e adoravam a imagem de ouro. Isto permitiu que eles resistissem à pressão externa, que diz: “Vá em frente! Afinal, quem sabe o que é importante ou não? Já que todo mundo está fazendo...” Em se­gundo lugar, eles firmaram seu princípio pessoal em Deus, e em

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sua Palavra (Sl 119.11). Sabiam que o ponto em questão não era o que poderia acontecer com seus corpos, mas que suas almas tinham de estar cravadas na verdade de Deus. Como Jó, eles disseram; “Ainda que ele me mate, nele esperarei” (Jó 13.15).

A corajosa tomada de posição de Sadraque, Mesaque e Abede- Nego foi logo posta à mais rigorosa prova; a fornalha de fogo ardente. Da obstinada resistência de Nabucodonosor até a solene declaração dos jovens, rapidamente ficou evidente que Deus não estava inclinado a livrá-los da fornalha. Agora tinham de esperar que sua libertação, se fosse da vontade de Deus, viesse na própria fornalha de fogo. Talvez estivessem se lembrando das palavras do Senhor em Isaías 43.2; “Quando passares pelo fogo não te quei­marás, nem a chama arderá em ti”.

Os altos princípios dos três audaciosos jovens levaram Deus a intervir miraculosamente na situação. Daniel 3.24,25 conta-nos que Nabucodonosor viu um quarto homem nas chamas. Ele pode ter visto uma aparição pré-encamada de Cristo (ç/'. Gn 18.1-3) ou um anjo. Desta passagem, podemos inferir que o quarto homem era um mensageiro de Deus enviado a proteger aqueles jovens no meio das chamas de fogo.

Os três colegas de Daniel são uma extraordinária demonstra­ção de como o princípio pessoal e a convicção, fundamentados na Palavra de Deus, podem preparar os crentes e sustentá-los através das mais intensas perseguições e provações. Estes três jovens receberam uma bênção adicional - não sofreram quaisquer danos físicos apesar das expectivas dos circunstantes.

O testemunho destes jovens foi tão incomum e convincente que o pagão Nabucodonosor viu-se constrangido a dar glória a Deus; “Falou Nabucodonosor, e disse; Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que enviou o seu anjo, e livrou os seus servos, que confiaram nele, pois não quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo entregar os seus corpos, para que não servissem nem adorassem algum outro deus, senão o seu Deus” (Dn 3.28). Observem a expressão “entregar os seus cor­pos”. Este é um espantoso prenúncio, dito pela boca dum incrédu­lo, das palavras de Paulo em Romanos 12.1,2;

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5 0 o Poder do Sofrimento

Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendi­mento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

Sadraque, Mesaque e Abede-Nego foram os precursores de todos os crentes que, desde o Novo Testamento até os dias de hoje, procuraram talhar suas vidas de maneira coerente com o padrão de Romanos 12. Eles também são excelentes modelos a imitarmos à medida que as dificuldades deste mundo vão nos cercando.

Daniel na cova dos leõesDaniel tinha servido como uma espécie de mentor para seus

três amigos. Essa função poderia implicar em superioridade de posição social e isenção do tipo de adversidade e aflição que seus amigos suportaram. De fato, Daniel não é mencionado na narrati­va da fornalha de fogo ardente. Todavia, anos mais tarde, dentro do plano soberano de Deus, o próprio Daniel ver-se-ia em perigo por causa de suas convicções. Ele também tomou-se alvo dos maquinadores e invejosos que odeiam a justiça.

Daniel 6 indica que ele continuou trilhando a estrada da exce­lência em termos de caráter e serviço governamental: “Então o mesmo Daniel se distinguiu destes príncipes e presidentes, por­que nele havia um espírito excelente; e o rei pensava constituí-lo sobre todo o reino” (Dn 6.3). O “espírito excelente” refere-se à capacidade de Daniel em interpretar sonhos e visões, mas tam­bém serve para fazer-nos lembrar de seus consistentes e altos padrões de conduta espiritual.

Há geralmente um preço a pagar quando se começa numa posição de vantagem e proeminência no ministério. O apóstolo Paulo foi continuamente perseguido por falsos mestres, que que­riam desfazer seu trabalho nas igrejas (cf. At 20.29-32), e pelos invejosos (Fp 1.12-20). Enquanto Paulo estava na prisão, alguns de seus inimigos, querendo piorar-lhe a situação, falavam coisas más sobre o seu ministério. Certas pessoas iam tão longe quanto

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pregar a Cristo por contenda, num esforço de abalar o apóstolo. É surpreendente e perturbador saber que há pessoas que possuem tanto ódio, ciúme e amargura contra líderes que não fizeram nada para ofendê-las ou prejudicá-las. Como seria possível odiar a Daniel? Certamente os contemporâneos do profeta não acharam qualquer motivo de censura seu caráter.

Quando os adversários de Daniel puseram-se a conspirar con­tra ele, tiveram de procurar alguma coisa em áreas que iam além das relações terrenas e dos serviços prestados no governo: “Então estes homens disseram: Nunca acharemos ocasião alguma contra este Daniel, se não a procurarmos contra ele na lei do seu Deus” (Dn 6.5). Para acusá-lo, os inimigos de Daniel tiveram de perse­gui-lo no seu amor pela justiça. Que elogio para Daniel o fato de seus inimigos não poderem descobrir qualquer defeito para criticá- lo, exceto em seu total compromisso com Deus.

A conspiração contra Daniel atingiu seu ponto culminante quando seus adversários maquinaram aprovar uma lei, tratando da lealdade do povo para com o rei e suas divindades. Eles até persuadiram ao rei Dario, que havia tomado o trono a Nabucodo­nosor, a fazer uma prescrição irrevogável de acordo com a famo­sa lei dos medos e dos persas. Esta lei tornaria o monarca um ser supremo, quase um deus. Doravante, qualquer petição deveria ser endereçada somente ao rei. A desobediência implicaria na pena de morte. É claro que todo este engendramento estava dirigido especialmente contra Daniel, mas isto não o demoveu de sua obediência a Deus.

O texto nos diz que Daniel perseverou em fazer a coisa certa: “Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa (ora havia em seu quarto janelas abertas da banda de Jerusalém), e três vezes no dia se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus, como também antes costumava fazer” (Dn 6.10). Daniel perseverou sem levar em consideração as conseqüências da nova lei. Esta atitude iguala-se à de Pedro e João, quando se recusaram a deixar de proclamar as Boas Novas de Cristo (At 4.17-21).

Daniel poderia ter evitado problemas se fosse mais discreto em sua disciplina espiritual diária. Ele poderia inclusive haver

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chegado a um meio-termo em seu relacionamento com Deus, deixando de fazer suas orações quotidianas pelos próximos trinta dias. Mas não foi assim que agiu. Qualquer concessão poderia ser vista como sinal de egoísmo, e isto decididamente não fazia parte do caráter de Daniel. Sua fiel resolução faz-me lembrar da histó­ria de Policarpo, um dos grandes pais da Igreja Primitiva, martiri­zado em 155 d.C. Enquanto seus inimigos faziam os preparativos para queimá-lo na fogueira em Esmirna, deram-lhe uma última chance para negar o Senhor Jesus, e, assim, salvar a sua vida. Policarpo respondeu com serena convicção e voz firme: “Oitenta e seis anos tenho servido a Jesus, e Ele nunca me causou nenhum mal; por que deveria renunciá-lo?” Com estas palavras, aceitou as chamas como a vontade de Deus, e morreu louvando ao Senhor Jesus.

Daniel não se afastou de seu padrão de oração e devoção pessoal. Finalmente, seus inimigos conseguiram apanhá-lo, e o denunciaram ao rei. Seguindo-se à descoberta da desobediência de Daniel ao novo decreto, é interessante observar que as Escritu­ras não registram nada do que ele teria dito ou feito em sua defesa. Presumivelmente, não havia nada a dizer ou a fazer - ele tinha confiado tanto em Deus no decorrer dos anos, que simples­mente entregou-se a Ele.

De modo surpreendente, esta passagem descreve o rei Dario como tendo a mais ativa preocupação com o destino de Daniel. Apesar de sua relutância - e somente depois de tentar achar alguma brecha na nova lei (sem sucesso) -, Dario teve de se curvar à pressão dos inimigos de Daniel, e lançá-lo à cova dos leões, que era o meio de se executar a pena de morte. Contudo, enquanto o rei cumpria sua penosa obrigação, ele disse a Daniel: “O teu Deus, a quem tu continuamente serves, ele te livrará” (Dn 6.16). Isto sugere que Dario tinha sido influenciado de modo significativo pela vida e ministério de Daniel, e estava propenso a dar crédito ao Deus verdadeiro - o que era tudo o que Daniel poderia ter desejado. O testemunho anterior de Daniel manifesta­do em várias situações - relativas às exigências alimentares, à interpretação de diversos sonhos - estava rendendo altos dividen­dos, permitindo-lhe ficar em silêncio diante do rei.

52 O Poder do Sofrimento

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Daniel não falou até que Deus tivesse a oportunidade de, mais uma vez, mostrar o seu poder e livrá-lo dos leões. De certo modo, Daniel permitiu que o curso soberano dos eventos vindicasse primeiro a Deus e depois ele mesmo (Dn 6.17-22). As palavras do versículo 23, de Daniel 6, sumariam o resultado deste conhecido episódio: “Então o rei muito se alegrou em si mesmo, e mandou tirar a Daniel da cova: assim foi tirado Daniel da cova, e nenhum dano se achou nele, porque crera no seu Deus”.

Começamos este capítulo falando sobre a importância dos exemplos bíblicos como padrão de santidade ao nosso comporta­mento, tanto nos bons quanto nos maus momentos. Nesta era da história da Igreja, com sua ênfase na auto-imagem positiva, na vida cristã bem-sucedida e sentindo-se bem com qualquer coisa que dê certo para fazê-la crescer, os crentes tendem a olhar para si mesmos ou para os exemplos contemporâneos, em busca de força e inspiração. Embora haja exemplos cristãos contemporâneos, ninguém pode tomar o lugar dos personagens bíblicos, que tão nobre e corajosamente lidaram com a adversidade.

Há semelhanças e diferenças entre os três casos estudados neste capítulo: Estes homens enfrentaram vários níveis de intensa oposição de seus inimigos descrentes, mas somente Estêvão pas­sou por sofrimento físico e morte, como resultado de sua prova­ção. Todavia, destaca-se um tema nos três estudos: Todos de­monstraram ter uma fé inabalável e firmeza de propósito. É claro que o objetivo da fé de cada um deles era Deus. Essa fé inabalá­vel, que não foi desenvolvida por mera casualidade, produziu outra característica comum: uma calma e plena confiança no Deus soberano, para sustentá-los em tempos de aflição. Estas características se repetiram nos testemunhos de Daniel e de seus amigos, à medida que seguiam seus princípios pessoais. Estêvão e os homens de Deus no Livro de Daniel foram preparados para as provações que eventualmente os confrontariam.

Logo que tenhamos vencido nossa tendência de evitar, ou negar, a existência dos sofrimentos na vida do crente, passaremos a entender que nós também estamos capacitados a lidar com qualquer tipo de sofrimento. Servimos ao mesmo Deus, como

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Estêvão, Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Estes são exemplos excepcionais de crentes que cultivaram um estilo de vida santo e, com resolução, colocaram a Deus em primeiro lugar em suas vidas, sem olharem para a direita ou para a esquerda. Estas características os prepairaram muito bem para os sofrimen­tos que tiveram de suportar. Tudo isto adequa-se perfeitamente ao padrão de Hebreus 12.1,2:

Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta; olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual pelo gozo que lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a afronta e assentou-se à destra do trono de Deus.

Os exemplos da história bíblica deveriam nos encorajar. E esta motivação é nossa pela fé em Jesus Cristo, e não por alguma metodologia complicada e misteriosa, que estivesse disponível apenas aos crentes do porte de Estêvão ou Daniel. Nós também podemos experimentar os benefícios do poder do sofrimento em nossas vidas, sem ansiedade ou temor. Esta confiança cresce à medida que, dia a dia, percebemos que somos crentes “cheios de fé e do Espírito Santo”.

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NOTAS‘ More Than Conquerors {Mais do que Vencedores). (Chicago: Moody, 1992), pp. 9­

10. Para uma análise mais completa sobre os ensinamentos de Estêvão em Atos 6-7 , consulte meus comentários sobre Atos 1-12, em M acArthur New Testament Commentary {Comentário M acArthur do Novo Testamento). (Chicago: Moody, 1994), caps. 15-16.

João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Atualizada.“ Expressão que significa que a precisão e a qualidade da informação de saída

dependem da qualidade da entrada. (N. do T.)

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0 Perfil DE Paulo no Sofrimento

Muitos estudiosos acreditam que o apóstolo Paulo é o tipo de pessoa que teria ganho uma significativa e boa colo­cação na história secular, mesmo se não tivesse se con­

vertido a Jesus. Como proeminente fariseu, ele tinha potencial suficiente para deixar uma marca indelével no mundo mediterrâ­neo do século I. Seu intelecto, brilhante; suas características de liderança, fortes. Sob qualquer ótica, Paulo foi a pessoa de maior influência espiritual de todos os tempos. Com certeza, os crentes que amam a Palavra de Deus sabem que ele está imediatamente abaixo da pessoa de Jesus Cristo como figura dominante no Novo Testamento. Vinte dos vinte e oito capítulos de Atos historiam a vida do apóstolo, incluindo sua conversão, a chamada para o ministério e as viagens missionárias. O Espírito Santo o usou mais do que a qualquer outro apóstolo, como autor de treze dos 27 livros do Novo Testamento. A vida e a obra de Jesus são minucio­samente interpretadas em suas cartas, e todos os crentes, através dos séculos, encontram em suas epístolas a verdade que transforma.

É precisamente por estas razões que agora vamos olhar para Paulo como outro exemplo de como se deve encarar o sofrimento. Ele chegou a apresentar-se a si mesmo como exemplo para as

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igrejas; inspirado pelo Espírito Santo, exorta confiadamente os coríntios: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cris­to” (1 Co 11.1; vide também 1 Co 4.16; Fp 3.17).

Sem dúvida, o apóstolo foi um exemplo digno do discipu­lado cristão em todas as suas facetas (At 20.18-35; Fp 3.1-16;1 Ts 2.1-12). Entretanto, a carreira de Paulo como apóstolo e fundador de igrejas nem sempre foi assinalada pelo progresso fácil. Mais que qualquer outro apóstolo, ele sabia o que era sofrer, e conhecia o significado da adversidade. Herbert Lockyer assim escreveu:

A medida que você segue a Paulo de um país para outro (Rm 15.19), observa o quanto ele sofreu por amor a Cristo em seu trabalho missionário. Eis uma lista para você meditar com a Bíblia aberta:Suportou toda espécie de adversidade, deparou-se com todo tipo de perigo extremo (2 Co 11.23-27). Foi agredido pelo populacho, punido por magistrados (At 16.19-24; 21.27).Foi açoitado, surrado com varas, apedrejado, dado como morto (At 14.19,20). Esperava, aonde quer que fosse, uma repetição dos mesmos maus-tratos e perigos (At 20.23). Se expulso de uma cidade, pregava na outra (At 13.50,51; 14.5-7,19-21). Gastou todo o seu tempo no trabalho missio­nário, sacrificando para isso seus desejos, seu conforto, sua segurança (At 20.24; Rm 1.14,15; Fp 1.20; 3.8). Persistiu neste sistema de vida até a idade avançada, sem alterações no que se refere à obstinação (At 28.17), ingratidão (Gl 1.6; 4.14-20), discriminação (2 Co 12.15) e deserção (2 Tm 4.10,16). Não foi subjugado pela ansiedade, necessidade, trabalho duro ou perseguição; não se cansou dos longos períodos de aprisionamento; e nem ficou desalentado pela perspectiva da morte (At 21.13; 2 Co 12.10; Fp 2.17; 4.18;2 Tm 4.17).Em sua conversão, Paulo fora avisado de que teria de sofrer muitas coisas por amor a Cristo (At 9.16). Quando os sofri­mentos chegaram, ele nunca se lamentou ou murmurou, mas sempre glorificou a Deus em meio às tribulações, e tinha mais orgulho de suas cicatrizes adquiridas no campo de batalha do que um soldado de suas medalhas e condecorações (Gl 6.17).

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o Perfil de Paulo no Sofrimento 5 7

Que missionário-guerreiro era! O mundo nunca mais viu al­guém como o apóstolo PauloJ

A legria NO S ofrim ento

A alegria é um dos aspectos do fruto da vida controlada pelo Espírito Santo de acordo com Gálatas 5.22: “Mas o fruto do Espírito é: caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bon­dade, fé, mansidão, temperança”. Somos exortados a regozijar- nos em qualquer tipo de situação e em todas as coisas: “Regozijai- vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vo.s” (Fp 4.4); “Regozijai-vos sempre” (1 Ts 5.16). Na realidade, há apenas uma razão para os crentes deixarem de se alegrar: quando pecam. Considere o que disse Davi em conseqüência de seu pecado: “Toma a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário” (Sl 51.12).

Jamais deveríamos trocar a alegria pela casmurrice, amargura ou negativismo, simplesmente porque as coisas não estão como gostaríamos que estivessem. Todavia, é característico dos crentes deixarem que as circunstâncias, dificuldades, confusões, tribula­ções, problemas econômicos, agressões, desavenças, expectati­vas ou ambições não cumpridas, relacionamentos tensos, e assim por diante, desequihbrem-nos e lhes roubem a alegria.

No capítulo 1, vimos uma exposição de motivos pelos quais os crentes passam por provações, e concluímos que eles, de fato, devem esperar por tais dificuldades, e acreditar que o Senhor tem um bom e glorioso propósito para isso. Em meio a qualquer circunstância difícil, trava-se a luta pela manutenção da alegria. O apóstolo Paulo é um grande exemplo de sucesso nessa luta. O Novo Testamento não registra que Paulo houvesse permitido que qualquer circunstância lhe roubasse a alegria no Senhor. Pelo contrário; quanto maior a adversidade, mais persistente mostrava- se ele em exprimir sua alegria.

Paulo alegrava-se apesar das dificuldades, porque seu princi­pal propósito e meta era ver a causa de Cristo anunciada. Três aspectos, tirados de sua Carta aos Filipenses, mostram como ele continuava alegre em meio aos sofrimentos.

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Alegria apesar dos problemas

Paulo escreveu a Carta aos Filipenses quando se encontrava encarcerado em Roma, durante seu segundo aprisionamento (ele já tinha definhado por dois anos numa prisão em Cesaréia, antes de embarcar para Roma). Romanos 1.10 menciona o desejo inici­al de Paulo no tocante ao seu ardente desejo de ir a Roma: “Pedindo sempre em minhas orações que nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de ir ter convosco”. Entretanto, as coisas não saíram como ele havia imaginado. De qualquer maneira, era da vontade de Deus que ele chegasse a Roma, mesmo que fosse como prisioneiro.

Paulo teve uma audiência preliminar (referida indiretamente em Fp 1.7) após chegar a Roma. Depois, ficou aguardando uma decisão do imperador Nero - se seria executado ou solto. Durante esse período, Paulo gozava de alguns privilégios incomuns ao seu aprisionamento. Ele não foi alojado com outros prisioneiros, mas foi-lhe permitido morar por conta própria, acorrentado ao soldado que o guardava. Atos 28.30,31 diz mais: “E Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habitação que alugara, e recebia todos quantos vinham vê-lo. Pregando o reino de Deus, e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento algum”. Ainda que tivesse certa liber­dade para falar do Evangelho e ver diversas pessoas, basicamente ainda era um prisioneiro com todas as restrições que caracterizam tal conjuntura.

Como já não tivessem notícias de Paulo há quatro anos, os filipenses descobriram que ele estava preso em Roma. E, devi­do ao estreito relacionamento entre o apóstolo e esses irmãos, eles logicamente quiseram saber o que lhe estava acontecendo. Para isso, mandaram Epafrodito ver como Paulo se encontra­va; queriam saber também do progresso do Evangelho. A resposta a estas perguntas constituem o âmago da Carta aos Filipenses.

Na correspondência aos Filipenses, Paulo informa aos seus leitores que, apesar das circunstâncias, ele se regozijava. Embora suas condições fossem difíceis e ameaçadoras, e sem dúvida

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nenhuma frustrantes para aqueles crentes, o Evangelho ainda estava sendo proclamado, até mesmo entre os pretores. O segredo que permitia a Paulo alegrar-se era sua capacidade em olhar para além de si mesmo e das aflições, restrições e inconveniências das circunstâncias. Sua maior prioridade era o progresso do Evange­lho de Cristo, e não a preocupação com o próprio conforto (vide At 20.24; Rm 1.15; 1 Co 9.16).

Devido ao fato de ele se ver a si mesmo como prisioneiro por amor a Cristo, Paulo não se afundava em autopiedade. Em vez disso, ele se considerava servo ou soldado em serviço pela causa maior de propagar as Boas Novas de Jesus Cristo. Paulo mencio­na muitas vezes o seu aprisionamento em suas cartas (Ef 3.1; Cl 4.10,18; Fm 1,9), e sempre de forma positiva, porque ele o asso­ciava com a causa de Cristo.

Talvez a ilustração mais dramática da capacidade de Paulo em se alegrar, a despeito de sofrer e estar preso, aconteceu algum tempo antes numa prisão em Filipos:

E a multidão se levantou unida contra eles, e os magistrados, rasgando-lhes os vestidos, mandaram açoitá-los com varas. E, havendo-lhes dado muitos açoites, os lançaram na prisão, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança. O qual, tendo recebido tal ordem, os lançou no cárcere interior, e lhes segurou os pés no tronco. E, perto da meia noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam. E de repente sobreveio um tão grande terremoto, que os alicerces do cárcere se moveram, e logo se abriram todas as portas, e foram soltas as prisões de todos. E, acordan­do o carcereiro, e vendo abertas as portas da prisão, tirou a espada, e quis matar-se, cuidando que os presos já tinham fugido. Mas Paulo clamou com grande voz, dizendo: Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos. E, pedindo luz, saltou dentro, e, todo trêmulo, se prostrou ante Paulo e Silas.E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregavam a palavra do Senhor, e a todos os que estavam em sua casa. E, tomando- os ele consigo naquela mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões; e logo foi batizado, ele e todos os seus (At 16.22-33).

o Perfil de Paulo no Sofrimento 5 9

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Dada a situação, esta foi uma incrível demonstração de alegria em face da adversidade. As prisões antigas, como as de Filipos, eram escuras e liígubres, imundas e anti-higiênicas. Além disso, Paulo e Silas tinham os braços e pernas completamente estirados e presos ao tronco. Além disso, eram obrigados a suportar a dor dos ferimentos causados pelos açoites. Não obstante, Paulo des­creve-se a si mesmo como se regozijando em meio a essa tortura.

Neste episódio, Paulo exemphfica a maneira como muitíssimas vezes tirava proveito das oportunidades em tempos de adversidade para anunciar o Evangelho. Seu trabalho evangelístico, pois, poderia ser facilmente visto como um transbordamento de sua atitude sempre jubilosa. E, agora, mais uma vez, ele aproveita a ocasião para falar de Jesus; desta feita, entre os guardas, durante seu aprisionamento em Roma: “De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares” (Fp 1.13). Evidentemente, seus esforços foram frutíferos: “Todos os santos vos saúdam, mas principalmente os que são da casa de César [os guardas]” (Fp 4.22).

Baseado nesse contexto, podemos dizer que não foi apenas a habilidade de Paulo em anunciar o Evangelho, ou sua cortês e misericordiosa maneira de ser, que mais chamou a atenção dos guardas. Em última análise, Paulo causou grande impacto, porque a verdade de que falava, e o caráter santo que demonstrava, estavam entranhados num homem que passava por intensas afli­ções. Que tremenda lição para nós! (vide 1 Pe 3.15). Se você está tendo dificuldades em testemunhar, seja em casa, seja no traba­lho, mude essa situação, demonstrando traços de santidade e caráter cristão através da adversidade. Sua atitude estará em níti­do contraste com aquilo que os outros, naturalmente, esperam de si, criando oportunidades para que você testemunhe da glória e da graça de Deus.

Alegria apesar dos difamadores

Através da história da Igreja, vemos que a oposição mais ferrenha vem de dentro, ou daqueles que professam ser crentes. Esta espécie de perseguição não é tão penosa quanto a decepção

6 0 O Poder do Sofrimento

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ao recebermos inesperadas críticas e ataques daqueles que pensa­mos serem nossos defensores. Paulo, entretanto, elevou-se acima de tais desilusões e desencorajamentos ao disputar com difama- dores de todas as classes durante sua estada na prisão. Ele se alegrava a despeito das aparentes dificuldades, pois sabia que o Evangelho estava avançando.

O dicionário define a difamação como “a divulgação de dados (acusações falsas ou caluniosas) que visam desacreditar publica­mente a reputação de outrem”. O difamador é alguém que quer rebaixar e arrasar o caráter ou a reputação de seu próximo. E havia muitas dessas pessoas que atacavam a Paulo. Visto de nossa benéfica posição, é difícil acreditar que um homem como Paulo, tão santo, fiel e dedicado à causa de Cristo, tivesse de enlVenlai' tão perigosos difamadores provenientes da própria Igreja. Contu­do, esse tipo de oposição tem sido uma característica geral dos líderes proeminentes ao longo da história. Até mesmo Abraham Lincoln, considerado universalmente um dos maiores presidentes americanos, foi severamente criticado e maldosamente atacado por adversários políticos e por editores e jornalistas insensíveis durante o auge da Guerra Civil Americana.

Filipenses 1.15 identifica os principais difamadores de Paulo: “Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia”. Estes homens eram colegas de ministério de Paulo, e proclamavam o mesmo evangelho que ele. Diferenças doutrinári­as não eram a causa de sua oposição ao apóstolo, mas sim diferen­ças pessoais - particularmente o civíme e a discórdia relativos à sua pregação. Falando mais claramente, eles tinham ciúme dos dons e das bênçãos que Paulo recebera de Deus, bem como do grande número de seguidores que Deus lhe dera e das igrejas que ele fundara e ministrara.

Em sua carta, Paulo se refere a esses difamadores não para atrair mais simpatia para si mesmo, mas para informar os filipenses acerca desse período crucial de seu ministério. Ele não estava revidando as críticas - isso não seria coerente com sua maneira de reagir diante das dificuldades. Um dos aspectos dessa reação seria aceitar a oposição com paciência, e transformá-la numa experiên­cia positiva.

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Sem dúvida alguma, Paulo aprendera a ter paciência através de sua maneira de lidar com as desilusões e humilhações causa­das por supostos defensores {vide 2 Tm 1.15; 4.16). Ter de rivali­zar com este último grupo de difamadores era apenas mais uma provação em sua longa lista. Em Filipenses 1.17, Paulo fala um pouco mais sobre os métodos utilizados por seus difamadores: “Mas outros, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões”. A palavra “aflição” é a tradução da palavra grega thlípsís que, basicamente, significa “atrito” . Os inimigos de Paulo tentaram infligir-lhe uma irritação suplementar, enquanto ele estava na prisão. O alvo deles era desacreditar a Paulo aos olhos de seus seguidores de modo que ele perdesse toda a credibilidade.

Muito embora os invejosos difamadores de Paulo possam ter tido êxito em abater a confiança e a fé de alguns crentes, não conseguiram abalar o apóstolo. Ele resistiu a toda lama que lhe foi lançada, e pôde concluir: “Mas que importa? contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda” (Fp 1.18). A despeito disso tudo, não puderam lhe roubar a alegria, porque ele sabia que a causa de Cristo estava sendo anunciada.

A lição que nos é proveniente do exemplo de Paulo é muito clara: não devemos permitir que qualquer tipo de tratamento injusto ou falso nos roube a alegria que temos em Cristo Jesus e no Evangelho. O que devemos imitar, pelo poder de Deus, é a intensa e transbordante devoção de Paulo à causa do Senhor Jesus Cristo (cf. Rm 8.28-39; Fp 3.7-14).

Alegria apesar da morteUma verdade inexorável que espera a todos nós é a certeza da

morte, venha esta inesperada, ou vagarosamente, dando tempo para que suas vítimas se prepararem para o inevitável. Nem todas as pessoas, é claro, aceitam o imprevisto prognóstico da morte com igual serenidade, paz de espírito e até mesmo alegria.

Uma pungente mas enternecedora ilustração do modo como alguém pode encarar uma doença terminal, segundo os ditames

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bíblicos, chamou-me a atenção certa vez em meu ministério no rádio. Uma moça do Meio-Oeste dos Estados Unidos, cursando o secundário, enviou-me um pedido de oração. Neste, contava que há apenas algumas semanas, foi-lhe diagnosticada estar com esclerose amiotrófica lateral (o mal de Lou Gehrig). Deram-lhe de seis meses a dois anos de vida. E esta jovem cristã aceitou a realidade de seu precário estado de saúde com graça e otimismo, como o demonstra nesta anotação: “Amo muitíssimo o Senhor Jesus, e sinto que Ele está usando minha condição física para agir nas vidas de muitas pessoas. Por favor, orem por mim, para que Jesus continue a me usar não importando o que aconteça”.

Em Filipenses 1.19-21, Paulo manifesta um altíssimo nível de confiança e alegria no que concerne à sua morte:

Porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo. Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confun­dido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho.

Paulo foi o exemplo vivo do discípulo que está disposto a tomar a sua cruz por amor a Cristo (Mt 16.24,25). Ele demonstrou possuir alto nível de compromisso espiritual - o que já não é mais visto com freqüência na Igreja desta era materialista, egoísta e auto-suficiente. Paulo tinha confiança em quatro coisas que o ajudaram a encarar a morte sem medo. Uma breve análise de cada uma delas poderá ajudar-nos em nossos esforços à medida que buscamos estar melhor preparados para arrostar possíveis sofri­mentos.

Confiança na Palavra de Deus - A declaração de Paulo “Por­que sei que disto me resultará salvação” é uma citação textual de Jó 13.16 no Antigo Testamento grego. A palavra “sei” vem da palavra grega oida, que significa “saber com certeza”. Paulo está exprimindo uma firme confiança no que está para acontecer.

Paulo tinha certeza de que seria liberto, porque sua confiança estava nas promessas de Deus. Em Romanos 8.28, escreveu: “E

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sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto”. Paulo citou o Livro de Jó na Carta aos Filipenses, porque sabia que essa declaração também era uma promessa divina. Outrossim, Paulo identificava-se com as lutas e sofrimen­tos que Jó suportou.

Paulo acreditava, como Jó, que suas provações e adversidades eram meramente temporárias. Quer o sofrimento durasse um curto, ou um longo período de tempo, Paulo sabia que Deus o libertaria, porque Ele é justo - um princípio que Deus estabeleceu no Antigo Testamento (SI 34.17,19; 37.39,40; 91.3; 97.10). Além disso, ele estava bem inteirado do modo como Deus hvrara e restabelecera Jó após um árduo período de sofrimento.

Nós também podemos ter a mesma confiança em face da morte como Paulo e Jó tiveram, e muito mais: possuímos a Bíblia escrita em sua inteireza. Portanto, continuemos a alegrar-nos mesmo que Deus nos chame a sofrer ou morrer por amor a Ele (1 Pe 4.13).

Confiança nas Orações dos Santos - Paulo acreditava nos eternos propósitos de Deus, estabelecidos antes mesmo da exis­tência do tempo. Todavia, também sabia que Deus trabalha e realiza seus propósitos em associação com as orações dos crentes.

Paulo, entretanto, não permitiu que sua confiança na oração se tomasse presunçosa. Pois pedia que as igrejas orassem por ele: “E rogo-vos irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que combatais comigo nas vossas orações por mim a Deus” (Rm 15.30; vide também Ef 6.19). Assim que tomava conhecimento de que outras pessoas estavam orando por ele, mais confiança ganhava, porque Paulo conhecia a verdade de Tiago 5.16: “A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” .

Confiança na Provisão do Espírito - Paulo estava certo de que o Espírito Santo lhe concederia o que precisasse para sustentá- lo em qualquer situação. A palavra grega traduzida por “socorro” em Filipenses 1.19, significa “abundante suprimento” ou “recur­sos inesgotáveis”. Paulo compreendia que ele poderia contar com os suprimentos completos do Espírito Santo, com base no que Jesus prometera (Lc 11.13; João 14-16; At 1.8).

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Esta verdade é um manancial de confiança - não apenas para Paulo, mas para nós também. Todo cristão genuíno possui o Espírito Santo e, portanto, tem total acesso às suas riquezas. Romanos 8.26 diz: “E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas: porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” . E desta maneira que as coisas contribu­em para o nosso bem (Rm 8.28). Nossas provações, tribulações e sofrimentos não se solucionara por si mesmos, sem nenhuma razão aparente. Contudo, estamos capacitados a resisti-los pela provisão do Espírito de Deus - uma provisão que podemos ter crendo e obedecendo.

Confiança nas Promessas de Jesus - E por último, Paulo sc apoiava nas promessas que Jesus lhe fizera por ocasião dc sua conversão: “Porque te apareci por isto, para te pôr por ministro e testemunha” (At 26.16). Paulo tinha certeza absoluta de que Deus o chamara para um ministério específico, e enquanto ele se man­tivesse fiel nunca seria envergonhado (Mc 8.38).

Paulo também mostrou possuir autêntica fé nas palavras de Jesus, o Bom Pastor: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo 10.27,28). Além disso, Paulo bem que poderia conhecer as pala­vras de Moisés em Deuteronômio 31.6: “Esforçai-vos, e animai- vos; não temais, nem vos espanteis diante deles; porque o Senhor teu Deus é o que vai contigo; não te deixará nem te desamparará”. O Senhor nunca abandona os que lhe pertencem, não importa quão desanim adoras sejam nossas perspectivas, ou quão decepcionantes e terríveis sejam as circunstâncias.

Ao resumir sua postura em relação à vida e à morte, Paulo faz questão de professar: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fp 1.21). Para o apóstolo, Jesus era a razão de sua existência. É por isso que sua única e real preocupação na vida era servir a Cristo e proclamar o Evangelho. Enquanto esti­vesse atingindo esse objetivo, Paulo não faria caso nem da morte nem da vida. Na verdade, se lhe fosse dado escolher, preferiria morrer, pois a morte é o maior lucro para o crente. A morte livra-

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nos dos fardos desta vida e permite-nos glorificar a Jesus na eternidade.

Paulo era um homem que se despojava de tudo em sua vida, exceto Jesus. Desde que o Senhor fosse a sua prioridade niimero um, nenhuma das dificuldades por que passava - prisão, difama­ções, ameaças de morte - poderia detê-lo ou abalar-lhe a fé.

Assim como Paulo tirou proveitosas conclusões das palavras e preceitos de Deus, nós também podemos fazê-lo. Podemos pedir aos irmãos que orem por nós para que possamos atravessar os períodos de grande aflição. Com toda certeza, teremos o mes­mo socorro do Espírito Santo como Paulo o tinha, se formos verdadeiros crentes (Rm 8.15-17). E por último, podemos contar com as mesmas promessas feitas por Jesus, encontradas nos Evan­gelhos, que estavam disponíveis a Paulo. Jesus não mudou nem mudará (Hb 13.8).

Os P a ra d o x o s d o S o f r im e n to

Além da oposição enfrentada em Roma, Paulo também sofreu pesadas críticas dos difamadores da igreja em Corinto. Eram falsos mestres empenhados em substituir os ensinamentos de Paulo por suas próprias mentiras. Com o propósito de obter vantagens, esses críticos procuravam denegrir a pessoa e o caráter de Paulo sob todos os ângulos possíveis. Acusavam-no de ser desajeitado, feio, desproporcionado, sem imaginação, péssimo orador e sem presença. Tais ataques coagiram Paulo a entrar na melindrosa situação de ter de se defender por amor da verdade de Deus, sem cair na tentação de orgulhar-se ou autopromover-se.

Paulo resolveu esse dilema de forma extraordinária e piedosa, quando concordou com seus difamadores. Ele se comparou a um receptáculo de barro cozido (um vaso ou um pote, que freqüente­mente era usado cómo recipiente para lixo) - uma metáfora para todas as fraquezas e empecilhos de que seus críticos o acusavam. Mas ao mesmo tempo, ele observou que tal recipiente tinha dentro de si o tesouro da verdade divina. Tomando esta linha de defesa, o apóstolo revelou sua verdadeira humildade em face da adversidade. Ele tirou o holofote de si mesmo e o colocou em

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Jesus (2 Co 4.5), ao contrastar sua própria fraqueza com o poder da verdade de Deus: “Para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós” (2 Co 4.7).

Entretanto, ao se comparar a um pote de barro, Paulo não quis ser subestimado ou mal-entendido. Imediatamente, faz uma bre­ve lista de paradoxos para mostrar que sua humildade e fraqueza não o deixavam frustrado em meio ao sofrimento: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” (2 Co 4.8,9). Paulo continua a demonstrar que é um homem de contrastes - humilde mas invencível, cônscio de suas fraquezas, mas tirando forças delas.

Cada um desses paradoxos implica entrar em conflito com o adversário. “Atribulados” significa “pressionados”, ou seja, a constante pressão enfrentada por Paulo sobre a possibilidade de ser morto por seus inimigos. Era muito mais do que a pressão e estresse diários que todos enfrentamos no trabalho, em casa ou na igreja. Certa vez, Paulo foi apedrejado e deixado coiuo morto do lado de fora da cidade de Listra (At 14.19,20). Esteve próximo da morte, aparentemente sem escape ou possibilidade de vilória.

O segundo paradoxo, ou contraste em Paulo, é que ele es(ava perplexo, mas não desanimado (2 Co 4.8). De vez em quando, perguntava-se porque era constantemente confrontado com difi­culdades, mas nunca deixou de confiar em Deus na busca de uma solução, nem jamais desistiu. Além de ser um modelo no modo de se lidar com o sofrimento, Paulo também foi um notável exemplo de perseverança na fé (Hb 12.1,2).

Em terceiro lugar, Paulo diz que foi perseguido, mas não desamparado (2 Co 4.9). A palavra grega dioko, traduzida no texto por “perseguidos”, tem o significado mais preciso de “ir ao encalço de” ou “rastejar”, como quando se caça um animal. A compreensão do uso desta palavra deveria afastar qualquer noção que pudéssemos ter de que Paulo sofrera somente perseguições corriqueiras e leves. Na verdade, ele sofreu oposição muito mais freqüente e intensa do que a maioria de nós poderia jamais imagi­nar. As tribulações de Paulo não eram do tipo que poderia ser vencida pelo próprio esforço e força de vontade. A vitória veio

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somente pelo poder de Deus (2 Co 4.7). E tal poder também é-nos mais do que suficiente para vencermos as dificuldades que en­frentamos dia a dia {vide Hb 12.3).

E por último, Paulo diz que fora abatido, mas não destruído (2 Co 4.9). A palavra grega traduzida no texto por “abatidos” signi­fica literalmente “ser atingido por uma arma”, seja por espada, lança ou soco do inimigo. A palavra também era usada em rela­ção ao boxe clássico e à luta romana. Paulo sabia o que era ser subitamente nocauteado. Ao mesmo tempo, ele podia afirmar que nenhuma adversidade era suficientemente intensa para destruí-lo ou fazê-lo desistir.

Os quatro paradoxos de Paulo em face do sofrimento dão-nos mais motivos para nos maravilharmos com seu testemunho. Eles também nos ensinam que não recebemos poder ao evitar o sofri­mento, mas, sim, ao suportá-lo. Paulo estava empenhado em perseverar tenazmente diante de qualquer dificuldade. Certamen­te, ele conhecia a verdade e a realidade das palavras do profeta Isaías, concernentes ao cuidado de Deus pelos seus:

Mas agora, assim diz o Senhor que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu. Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo não te queimarás,nem a chama arderá em ti. Porque eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador (Is 43.1-3).

S uportando os Sofrimentos

Este nosso estudo do apóstolo Paulo tem mostrado que ele é um grande exemplo de alguém que, vitoriosamente, suportou sofrimentos, provações e perseguições. Ele agiu assim, não ape­nas porque tinha de vencer os vários obstáculos para realizar a obra de Deus, mas porque havia uma razão maior e sublime. Falando de si mesmo, Paulo escreve: “Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não des­falecemos” (2 Co 4.1).

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“Este ministério” refere-se ao privilégio que Paulo teve de ministrar as verdades do Novo Concerto. Depois de relatar as gloriosas características do Novo Testamento em 2 Coríntios 3 - o Espírito Santo, a vida eterna, a ressurreição, a liberdade no Evan­gelho de Cristo -, Paulo não poderia nem ousaria “desfalecer” diante de todas as duras adversidades que enfrentou. Nenhum tipo de problema poderia fazer Paulo negligenciar seu dever como ministro do Novo Testamento, como constatamos no registro de sua vida.

O apóstolo diz outra vez “não desfalecemos” em 2 Coríntios 4.16-18, onde nos apresenta três razões pelas quais suportava o sofrimento:

Por isso não desfalecemos: mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia, porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente. Não atentando nós nas coisas que se vêem mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.

Nossa cultura dificulta-nos fazer uma avaliação adequada do conceito de resistência. Os avanços na ciência e na tecnologia levam-nos a esperar por atalhos e soluções rápidas para as dores e aborrecimentos. Um exemplo disso é a abundância dos calmantes vendidos indiscriminadamente. Os anunciantes afirmam que bas­ta tomar um ou dois comprimidos para se obter alívio imediato de dores de cabeça, sinusite e uma variedade de outros incômodos. É raro haver quem, espontaneamente, diminua o ritmo ahiciiiado da vida para aprender a suportar as dificuldades com paciência, num mundo que oferece alívio instantâneo para dores e promove a aquisição de bens materiais para realçar o bem-estar físico.

A perspectiva eterna de Paulo está evidenciada nos versículos 16 a 18, de 2 Coríntios 4. Cada uma de suas três razões que o ajudaram a suportar o sofrimento, enfatiza o valor do que é eterno sobre o efêmero. Sua aplicabilidade é-nos mostrada sempre que nos debatemos com uma provação, e ficamos indefesos pela proximidade da aflição ou de uma situação financeira ruim.

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As coisas espirituais estão acima das materiais

Paulo era capaz de suportar qualquer tipo de sofrimento físico porque, antes de mais nada, estava mais preocupado com o que acontecia no reino espiritual do que no material. Paulo aceitou o fato de que vivemos em corpos físicos. O uso que faz do termo “vasos de barro” já indica isso. Mas ele também sabia que nossos corpos estão se corrompendo e, portanto, não são permanentes. Estão sendo .submetidos a um processo natural de envelhecimento.

Talvez o apóstolo Paulo estivesse mais consciente desse pro­cesso de envelhecimento do que a maioria das pessoas. Devido ao rigor ministerial e as constantes viagens, o apóstolo envelheceu mui rapidamente. Ele estava se desgastando na obra de Deus, tanto quanto Henry Martyn, na índia, ou David Brainerd, entre os índios americanos na Nova Inglaterra. Estes servos de Cristo morreram antes dos trinta e cinco anos de idade. Paulo viveu mais que eles (talvez até a idade dos sessenta anos), mas envelheceu prematuramente. Ele deixou-se gastar no ministério.

Paulo também envelheceu mais rápido do que o normal, por causa dos implacáveis maus-tratos - físicos e emocionais - que ele sofria nas mãos de seus inimigos. Ainda que no fim tenha vencido todas as perseguições, teve de pagar o elevado preço em seu próprio corpo.

Não obstante, Paulo pôde dizer com confiança que seu ho­mem interior estava renovando-se dia a dia (2 Co 4.16). Em analogia direta à corrupção de seu homem exterior (o corpo físico) estava o crescimento e o amadurecimento de seu homem interior, nosso lado imaterial e eterno, feito numa nova criatura - o que Efésios 4.24 e Colossenses 3.10 chamam “novo homem”. Paulo estava muito mais preocupado com sua renovação do que com qualquer declínio em seu lado físico {vide também Ef 3.16).

Mais uma vez, devemos ser ousados e seguir o esplêndido exemplo de resistência de Paulo em meio aos mais variados sofrimentos. Não é fácil imitar Paulo e tirar os olhos de nós mesmos e das circunstâncias materiais que nos rodeiam. Contu­do, temos de fazê-lo exatamente como ele nos exortou: “Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra” (Cl 3.2).

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Deus permite que soframos para que nos voltemos a Ele, e também para obrigar-nos a olhar além de nós mesmos. Todos já vimos Deus fazer isso, se não em nossas próprias vidas, nas vidas de outras pessoas que têm suportado grandes provações ou sofri­mentos físicos. E, por causa disso, cresceram na fé. O consistente exemplo de Paulo é a prova de que o sofrimento está diretamente relacionado ao crescimento espiritual. Se a vida de Paulo não serve como prova suficiente para o que acabamos de dizer, temos várias outras promessas semelhantes espalhadas na Bíblia. Pedro escreveu: “Depois de haverdes padecido um pouco, Ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá” (1 Pe 5.10). Isaías 40.28-31, diz:

Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da terra, nem se cansa nem se fatiga? não há esquadrinhação do seu entendimento. Dá esforço ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os mancebos certamente cairão. Mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças, subirão com asas como águias: correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão.

Esta importantíssima passagem promete-nos que o Senhor nos dará a capacidade e a resistência de que precisamos à medida que olharmos para além do que é material, e em direção ao que é espiritual.

Valorize o futuro mais do que o presente

O segundo segredo de Paulo, que o capacitava a suporlar os sofrimentos, é que ele dava mais valor ao futuro do que ao presente. Para ele, era uma questão de se olhar para além da tribulação presente, para se compreender que ela “produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” (2 Co 4.17). As aflições que ele suportava na terra eram irrelevantes, comparadas àquela grande realidade futura (Rm 8.18).

A perspectiva celestial demonstrada por Paulo é verdadeira­mente estarrecedora. Ele caracteriza seus problemas como “leve e

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momentânea tribulação”, sendo que suas aflições eram tiranas e constantes. Mas esta é a nossa perspectiva terrena. Paulo conside­rava suas dificuldades tão transitórias quanto o vapor da vida {vide Tg 4.14) e tão leves quanto uma pena. A palavra grega elaphros, traduzida por “leve” em 2 Coríntios 4.17, tecnicamente significa “ninharia sem importância”, e é exatamente isso que as aflições de Paulo eram quando consideradas do ponto de vista celestial.

Nos dois primeiros capítulos deste livro, afirmamos que a perseguição é inevitável e que o sofrimento é real. Mas quando comparados ao que nos espera no futuro, eles são, na pior das hipóteses, leves e triviais. O verdadeiro significado do sofri­mento só se revela quando este coopera para a nossa glória eterna. O apóstolo Pedro mais uma vez reforça a perspectiva de Paulo; “Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo” (1 Pe 1.6,7).

Todos os nossos problemas e sofrimentos têm um efeito causal em nossa glória futura. Este efeito não e meritório, mas produtivo - produz um peso eterno de glória. A palavra grega barus, traduzida por “peso”, significa mais precisamente “pe­sado”. E como se os sofrimentos de Paulo estivessem forman­do um pesado volume num dos lados de uma balança de dois pratos. O volume representa o peso eterno de glória, que está inclinando a balança em favor do futuro acima do presente. Em essência, Paulo podia tolerar as constantes aflições em apreço, contanto que elas tivessem um impacto positivo em sua glória futura.

De acordo com as Escrituras, sempre há uma relação entre o sofrimento presente e a glória futura. Até Jesus, como veremos com maiores detalhes no próximo capítulo, é um exemplo deste princípio. Está escrito em Filipenses 2.8,9; “E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte.

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e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome”. Quanto maior o sofrimento maior a recompensa eterna. Com a mesma intensidade que hoje os crentes sofremos, iremos alegrar-nos quando chegar­mos ao céu, porque ali veremos a recompensa de nosso sofrimen­to (IP e 4.13).Eessa recompensa nada tem a ver com bonificações diáfanas e visíveis (coroas mais ornamentadas, moradas celestiais maiores), mas relaciona-se com um aumento em nossa capacida­de de louvar, servir, exultar e glorificar a Deus. Este era o perma­nente desejo de Paulo, e também deveria ser o nosso.

Valorize o eterno mais do que o temporário

A terceira razão que fazia com que o apóstolo Paulo resis­tisse as muitas adversidades e sofrimentos, era que ele dava mais valor às coisas eternas do que às transitórias: “Não aten­tando nós nas coisas que se vêem mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” (2 Co 4.18).

A ótica de Paulo sobre a resistência em meio ao sofrimento - colocando as coisas espirituais e futuras acima das materiais e presentes - não era automática. Isto está evidente na frase “não atentando nós”. A ênfase do condicional indica que, enquanto mantivermos nosso olhar fixo (pela fé) na direção certa - olhando as coisas que não se vêem -, daremos prioridade às realidades futuras, espirituais e, portanto, suportaremos com paciência e graça os sofrimentos desta vida.

Menciono o item f é entre parênteses, porque está mais implícito do que explícito na declaração de Paulo. Mas isto não diminui a importância da fé, já que se relaciona com as coisas que não se vêem. O autor aos Hebreus escreve: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Pela fé entendemos que os mun­dos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente. Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” (Hb 11.1,3,6). A fé é um dos componentes

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básicos da vida cristã, e até mesmo em sua própria definição observamos que Deus dá maior prioridade ao invisível do que ao visível.

Desde que Paulo reconheceu esta prioridade, nós também deveríamos reconhecê-la - seja desfrutando tempos de bênçãos e conforto, seja passando por dificuldades e sofrimentos. Durante seu ministério, Paulo estava absorto com o mundo eterno e invisí­vel; um reino no qual suas maiores preocupações eram adorar e glorificar a Deus, servir a Jesus e salvar as almas dos homens e mulheres perdidos. Quando focalizamos nossa atenção nas coisas de real valor - as coisas eternas - as aflições e dificuldades temporais, até mesmo as mais severas, tornam-se muito mais suportáveis. Mas a chave para isso é a nossa perspectiva e priori­dade eternas, como o Senhor Jesus nos instrui no Sermão da Montanha;

Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Por­que onde estiver o vosso tesouro, a í estará também o vosso coração (Mt 6.19-21).

Paulo continua sendo um extraordinário modelo de como se deve lidar com o sofrimento. Ele não confiava em sua própria força ou em alguma fórmula secreta para uma vida bem-sucedida. Em vez disso, sua chave para o sucesso era manter o foco de sua atenção no reino de Cristo e na glória de Deus. Para cumprir sua visão, Paulo dependia inteiramente do suprimento das riquezas espirituais de Deus; Sua Palavra, Seu Espírito, Seu Filho e as orações dos crentes. Paulo podia se alegrar continuamente com estas grandes provisões da graça - e nós também. Mas isto nem sempre é fácil. Todavia, a verdadeira alegria procede da perseve­rança que vem do Espírito Santo para vivermos a vida cristã. Paulo, mais uma vez, nos fornece o padrão; “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma

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coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível” (1 Co 9.24,25). Se já estivermos correndo para ganhar o prêmio, não há sofrimen­to, provação ou perseguição que possa nos desencorajar ou nos vencer.

o Perfil de Paulo no Sofrimento 1 5

NOTASALL the Apostles o f the Bible (Todos os Apóstolos da Bíblia). (Grand Rapids: Zondervan, 1972), pp. 219-20.

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0 Silêncio do Cordeiro de D

e fosse feita uma pesq'^^)abí:ajéáso entre várias pessoas da sociedade ocidental, corn^mente às suas idéias e imagens mentais de Jesusí^íe^lar-se-ia uma variedade de opiniões

sobre a pessoa dd^S/áí^aOK Muitos teriam uma visão natalina de Jesus, a de numa manjedoura. Outros pensariamnEle c o m ^ tM ^ c m n ça inteligente que trabalhou com seu pai numa em Nazaré e, em certa ocasião, confundiu oslMer^$'TCHgÍ€Íso em Jerusalém. Alguns dos entrevistados veriam

»fo um mestre gentil e amável, que se identificava com as ís comuns do povo. Outros o veriam como alguém compas-

I mas poderoso, que curava todas as moléstias físicas c emoci­onais e até podia ressuscitar os mortos. E ainda haveria outras respostas, fornecendo alguma peça legítima do quadro de quem e Jesus, ainda que incompleto.

Mas há uma imagem mental de Jesus que é a mais verdadeira e necessária percepção dEle: a imagem que o apresenta como o Jesus Sofredor, o Crucificado. O apóstolo Paulo sumaria muito bem a relação do crente no tocante a essa imagem; “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucifica­do” (1 Co 2.2). Não podemos deixar de concluir nosso estudo

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sobre modelos a serem seguidos em tempos de sofrimento, sem que neste capítulo discorrêssemos sobre Jesus como o supremo exemplo.

O apóstolo Pedro apresenta-nos os pontos principais para nosso estudo:

Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis, mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois tam­bém Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entrega­va-se àquele que julga justamente (1 Pe 2.20-23).

De acordo com Pedro, os crentes estão em permanente desa­vença com o mundo pelo simples fato de haverem sido chamados por Cristo. Ao nos colocarmos ao lado de Jesus, mais cedo ou mais tarde, sofreremos alguma forma de rejeição, punição, crítica ou perseguição injustas. Ofendemos o mundo quando tomamos uma posição pela justiça ou manifestamos um estilo de vida que reflita a Jesus. É por isso que devemos esperar pelo sofrimento. Jesus mesmo assegurou aos crentes que a união com Ele incitaria a hostilidade do mundo:

Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim. Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece. Lembrai-vos da palavra que vo5 disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isso vos farão por causa do meu nome; porque não conhecem aquele que me enviou (João 15.18-21).

Mas fique tranqüilo, pois Deus não nos deixou completamen­te entregues à nossa própria sorte. Pedro nos diz em sua primeira epístola 2 .21, que temos um exemplo a seguir no sofrimento: o próprio Senhor Jesus Cristo. Ele estabelece o padrão, qual seja, o

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caminho para a glória é o caminho do sofrimento (Hb 2.10; 5.8,9). E se em Jesus temos tal precursor, não deveria ser difícil entender a verdade de suas palavras registradas em Mateus 10.21-25:

E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai o filho; e os filhos se levantarão contra os pais, e os matarão. E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo. Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades d ’Israel sem que venha o Filho do homem. Não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor. Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos?

J esus, o Sofredor I nocente

Ao passar por alguma tribulação ou por um período de sofri­mento, a maioria dos crentes faz estas perguntas a Deus: “Por que isto aconteceu?” ou “Onde foi que errei para merecer isto?” Geralmente, tais perguntas são feitas no início de uma provação, sem que haja qualquer solução à vista. Tanto os que sofrem como os que procuram aconselhar os que sofrem, todos são rápidos demais em nomear o pecado como a causa padrão para as desgra­ças. Isto me faz lembrar da concepção errônea que os discípulos de Jesus tinham em relação ao homem que nascera cego: “Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” Jesus imediatamente os corrigiu: “Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9.2,3). Da mesma forma, Elifaz, Bildade e Sofar estavam equivo­cados em sua presunçosa e errônea avaliação da situação difícil de seu amigo Jó (vide Jó 3-31). Jó não estava sofrendo por haver pecado (Jó 1.1-2.11).

Nosso Senhor Jesus Cristo, em seu próprio sofrimento e mor­te, é ura inigualável exemplo da realidade de' que alguém pode estar corapletamente dentro da vontade de Deus, ser extremamen­te talentoso e usado por Deus no ministério, além de ser totalmen­

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te justo e obediente a Deus, mas ainda assim ser submetido a terríveis sofrimentos. Jesus foi julgado e condenado como crimi­noso, embora nada tivesse feito de errado. Ele era a última pessoa a merecer sofrimento e punição injustos, e, desta forma, dá-nos o exemplo de como devemos nos comportar ao sermos injustamen­te perseguidos.

A própria natureza e circunstâncias dos sofrimentos de Jesus demonstram ser absolutamente falsa a noção vigente em nossos dias de que os cristãos que sofrem, pecaram ou estão fora da vontade de Deus. Se Jesus, que era o perfeito e inocen­te Filho de Deus, sofreu tanto, como podem, então, os crentes que são tão imperfeitos esperar escapar dos vários tipos de sofrimento? A resposta é que não o podemos, como nos mostra1 Pedro 2.20-23.

A teologia do não-sofrimento, se for levada ao seu extremo lógico, deve declarar que Jesus estava fora da vontade de Deus quando morreu na cruz. Esse tipo de pensamento é mais que uma lógica incorreta: é uma consumada heresia.

Examinemos mais de perto 1 Pedro 2.21, no que diz respeito ao significado de duas palavras gregas e no modo como, ao entendê-las, seremos ajudados em nossa relação a Jesus e ao sofrimento. A segunda parte do versículo diz: “Deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas''.

O vocábulo “exemplo” é a tradução da palavra grega hupogrammos que, literalmente, significa “escrever debaixo de”. Traz a idéia de uma criança que aprende a escrever o alfabeto colocando um modelo sob uma folha de papel, e tracejando o contorno das letras do modelo. Do mesmo modo, Jesus é o nosso modelo a seguirmos tanto no que concerne ao sofrimento quanto à maneira de se lidar com este.

A palavra “pisadas” em grego é ichnos, e significa “contorno das pegadas” ou “rastros”. Devemos seguir os rastros de Jesus, porque o caminho para a glória trilhado por Ele é o caminho da justiça, e o caminho da justiça num mundo injusto é também um caminho de sofrimento. Se queremos andar no caminho certo, devemos seguir as pisadas de Jesus.

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Esta idéia é paralela à admoestação de Paulo: “E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2 Tm 3.12). Nem todos os crentes sofrerão da mesma maneira ou na mesma intensidade, mas os que procuram andar no caminho da justiça que leva à glória, encontrarão tribu­lações, adversidades e sofrimentos.

J esus, o Sofredor H umilde

Através da visão do profeta Isaías, 1 Pedro 2.22,23 proporcio­na-nos um exame mais minucioso da maneira como Jesus sofreu. O apóstolo Pedro cita parcialmente Isaías 53.9 na Septuaginta (o Antigo Testamento em grego) para descrever com maiores deta­lhes a reação geral de Jesus ao tratamento injusto. A primeira parte da citação de Pedro é, na verdade, uma paráfrase que junta a palavra de Isaías “injustiça” com a da Septuaginta “ilegalidade” para simplesmente dizer “pecado”. O apóstolo, sob a inspiração do Espírito Santo, está apenas afirmando que ele sabia o que os tradutores e Isaías queriam dizer, isto é, que Jesus nunca pecou contra Deus ou violou os seus mandamentos: Ele “não cometeu pecado” (1 Pe 2.22). Jesus reagiu às mais difíceis e injustas perseguições com perfeita dignidade e humilde compostura.

Para frisar sua afirmação sobre a impecabilidade de Jesus, Pedro citou a última frase de Isaías 53.9: “Nem na sua boca se achou engano” (1 Pe 2.22). O primeiro e mais freqüente lugar onde o pecado se manifesta é na boca. O próprio Jesus já havia ensinado que o coração fala pela boca: “Mas o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem. Porque do cora­ção procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostitui­ção, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mt 15.18,19, vide também Mt 12.34-37).

Em 1 Pedro 2.23, o apóstolo continua suas reflexões. Desta feita, baseia-se em Isaías 53.7 que, na verdade, diz: “Ele foi oprimido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e, como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca”. Assim, sem deixar de haver uma certa ironia, tanto Pedro quanto Isaías comparam o Cristo Sofredor, o

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Bom Pastor, a uma ovelha. É comumente sabido que as ovelhas não estão entre as criaturas mais inteligentes ou auto-suficientes. Um dicionário, numa definição secundária, refere-se a uma pes­soa chamada de ovelha como “aquela que é uma criatura indefesa e inocente, ou que estivesse pronta para ser pega para servir de alimento ou ser tosquiada”.

Essa figura enfatiza o modelo que nosso Senhor desempenhou ao resistir o sofrimento. Ele revela sua humildade ao colocar-se à mercê de seus inimigos. Eles o injuriaram, provocaram-no, mal­trataram-no, repetidamente, indo até o limite máximo de sua resistência, mas não conseguiram fazer com que Ele falasse de maneira pecaminosa. A afirmação de Pedro “Quando o injuria­vam” (1 Pedro 2.23) refere-se à natureza repetitiva dos maus­tratos sofridos por Jesus. O fato de o verbo no original estar no particípio, indicando ação repetitiva, serve para fortalecer nosso comentário anterior. Todos os relatos nos Evangelhos sobre os sofrimentos de Jesus frisam a silenciosa humildade com a qual Ele recebia tantos maus-tratos verbais e físicos (vide Mt 26.57­63; Mc 15.3-5; Lc 23.9; Jo 19.9). A grande maioria de nós pode se identificar muito mais facilmente com o apóstolo Paulo. Note como ele reagiu quando Ananias, o sumo sacerdote, mandou que um soldado o esbofeteasse.

Então Paulo lhe disse: Deus te ferirá, parede branqueada; tu estás aqui assentado para julgar-me conforme a lei, e contra a lei me mandas ferir? E os que ali estavam disseram: Injurias o sumo sacerdote de Deus? E Paulo disse: Não sabia, irmãos, que era o sumo sacerdote; porque está escrito: Não dirás mal do príncipe do teu povo (At 23.3-5). '

Contrário à nossa imagem de Paulo apresentada no capítulo 3, como um exemplo a ser seguido em tempos de aflição, eis aqui um episódio no qual Paulo falhou. Nesta ocasião em particular, a carne pecaminosa do apóstolo levou a melhor, mas isto nunca ocorrera com Jesus. Ele é o nosso modelo perfeito no modo como devemos controlar a língua em meio às perseguições ou aos sofrimentos injustos e de como suportá-los com paciência por causa da alegria que está para vir (Hb 12.2).

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A humildade silenciosa de Jesus está revelada em outra cita­ção que Pedro faz de Isaías 53: “Não injuriava, e quando padecia não ameaçava” (1 Pe 2.23). Em face de uma quantidade inacreditável de intensa crueldade física e verbal, e o assassínio da própria virtude, tudo isso injustificado, Jesus não revidou. Já que Ele é Deus, podia manter pleno controle sobre seus sentimen­tos e poderes. O Senhor poderia ter destruído todos os seus atormentadores e, instantaneamente, mandá-los para o inferno. Porém, uma vez mais, vemos Jesus dando-nos o exemplo perfeito de como devemos nos comportar em tempos de crise e tribulação injustas.

O exemplo de Jesus - de não dizer nada e de não responder na mesma moeda quando submetido a maus-tratos - parece ser im­possível de seguir. Mas Pedro mostra-nos como Jesus foi capaz de atingir tão alto padrão: Ele “entregava-se àquEle que julga justamente” (1 Pe 2.23). Foi assim que Jesus encontrou forças para resistir aos sofrimentos, e é assim que nós também devemos agir.

“Entregar” vem da palavra grega paradidom i que significa “transmitir a posse de algo para alguém guardar”. Literalmente, Jesus entregava-se constantemente a si mesmo e as circunstâncias de todos os seus sofrimentos injustos a Deus. Este padrão atingiu seu ápice quando Ele estava na cruz: “E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou” (Lc 23.46).

Jesus entregou-se a si mesmo a Deus, até mesmo na morte, porque sabia que o Pai faria uma avaliação justa de todo o seu sofrimento injusto (Gn 18.25). Por conseguinte, quando somos perseguidos injustamente em nossos empregos, famíhas ou con­tatos sociais, devemos seguir o exemplo de Jesus e aceitar a perseguição sem retaliar. É crucial que, pela graça e poder de Deus, resistamos ao ímpeto de revidar ou de buscar vingança em meio a uma perseguição injusta (Rm 12.17-21). Tudo que deve­mos fazer é, pela fé, entregar nossas almas continuamente aos cuidados daquEle que pronunciará um veredicto justo, e que nos levará à glória etema (Jo 15.5; 1 Pe 5.6-10).

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Em 1555, 0 bispo inglês Hugh Latimer, partidário da Reforma e mártir, foi sentenciado a morrer na fogueira devido às suas posições pró-Reforma. Antes de sua morte, as provas de sua culpabilidade foram expostas numa carta aberta a todos os genuí­nos crentes em Jesus Cristo. Eis um trecho do que Latimer escre­veu: “Todos temos de morrer algum dia; como e onde, não o sabemos. [...] Aqui não é o nosso lar; portanto, vamos considerar as coisas desta maneira, sempre tendo diante dos olhos a Jerusa­lém Celestial, e sabendo que o caminho para se chegar até lá é pela perseguição”.’

Latimer foi executado naquele mesmo ano juntamente com seu querido amigo e colega Nicholas Ridley. No momento em que as chamas estavam sendo acesas, um Latimer surpreendente­mente calmo encorajava seu companheiro mártir com estas pala­vras: “Console-se, mestre Ridley, e seja homem. Hoje, pela graça de Deus, acenderemos tamanho fogo na Inglaterra, que, creio, nunca será apagado” . É óbvio que Hugh Latimer sabia muita coisa a respeito do poder do sofrimento - muito mais do que a maioria dos crentes de hoje em dia - e ele conhecia Jesus e o padrão que Ele estabeleceu de como se deve encarar a persegui­ção e morte injustas.

Concluindo, é claro que Jesus não é apenas o supremo e inigualável modelo a imitarmos em tempos de sofrimento. Jesus é o exemplo em tudo. Como nosso Senhor e Salvador, Ele é superior aos profetas do Antigo Testamento, o que o escritor da Carta aos Hebreus confirma já no início de suas palavras: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo” (Hb 1.1,2). Estêvão e Paulo foram grandes exemplos no modo como os crentes po­dem se sair vitoriosos através dos mais variados tipos de sofri­mento e perseguição - até mesmo no mais extremo deles: a morte. Mas estes homens estavam apenas “olhando para Jesus, autor e consumador da fé” (Hb 12.2), o que é exatamente o que devemos fazer.

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Jesus foi O Único sofredor que jamais pecou, reagindo com perfeição em tudo o que padeceu, qualificando-se assim como o único modelo que precisamos imitar quando estivermos passando por tribulações, perseguições, sofrimentos e tentações. Os exem­plos dos outros modelos bíblicos podem instruir-nos e inspirar, mas só Jesus está sentado à mão direita do Pai como seu Filho e nosso intercessor (Hb 4.14-16).

Paulo aconselhou e encorajou a Timóteo sobre muitas coisas, mas talvez tudo possa ser resumido em 2 Timóteo 2.8: “Lembra- te de que Jesus Cristo, que é da descendência de Davi, ressuscitou dos mortos”. Ele está exortando Timóteo a lembrar-se de que Jesus, em sua humanidade, já tinha andado pelo caminho que ele agora estava andando. Todas as vezes que as coisas ficarem difíceis, sempre poderemos ir a Ele em oração, confiantes de que Ele sentirá total empatia por nós em tudo o que estivermos pade­cendo. É verdadeiramente reconfortante poder falar com aquEle que já passou por tudo nesta vida e sempre saiu-se vencedor. As outras pessoas podem tentar simpatizar com nossos sofrimentos, mas jamais poderão nos compreender como Jesus nos compreen­de.

Jesus Cristo pode simpatizar-se conosco, seus filhos, no to­cante aos problemas, aflições e lutas normais que encontramos em nossa vida diária. Mas sua simpatia certamente inclui aqueles significativos períodos em nossa vida, nos quais nossa aflição e sofrimento parecem insuportáveis. Se Jesus revela possuir uma profunda e amorosa preocupação até mesmo pelo menor de nos­sos problemas, sem dúvida nenhuma, cumprindo seu papel como o Sofredor perfeito, cuidará também de nossos traumas maiores.

o Silêncio do Cordeiro de Deus 85

NOTA' Citado em Harold S. Darby, Hugh Latimer. (Londres: Epworth Press, 1953), p. 237. 2 Ibidem, p. 247.

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C omo se P reparar PARA 0 S ofrimento

As catástrofes naturais são mais freqüentes do que nunca - ou pelo menos é o que parece. Mesmo que não tenhamos sido diretamente atingidos por tais acontecimentos, mui­

tos de nós têm vividas lembranças de desastres ocorridos não faz muito tempo. Uma avalanche de tragédias sem precedentes ocor­reu entre fins de 1989 e começo de 1994: os furacões Hugo e Andrew no sudeste dos Estados Unidos; dois grandes terremotos na Califórnia; a nevasca do século ao longo da Costa Leste, em março de 1993; a extensa inundação do Meio-Oeste americano, no verão de 1993; e os danosos incêndios nas florestas do Sul da Califórnia, no outono de 1993. Depois de tudo isso, o mundo foi surpreendido pelo terrível terremoto no Japão, em janeiro de 1995.

Todas as catástrofes naturais estão além do poder dos homens em predizê-las ou controlá-las com precisão. Certamente, ações específicas podem diminuir o impacto inicial de uma calamidade (sacos de areia para o controle de inundações, valetas durante tempestades de neve etc), e existem algumas medidas de prognós­tico geral, de modo que alguns acontecimentos podem ser anteci­pados. (Observações e previsões nos alertam da proximidade de

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furacões, tornados e tempestades de neve.) Mas, geralmente, admite-se até mesmo entre cientistas e comentaristas leigos, que os desastres da natureza são inesperados “atos de Deus”. A exten­são e a severidade do sofrimento, resultantes da maioria das calamidades, também são bastante difíceis de prever. Por exem­plo, o choque, o estresse e a penúria sofridos pelas vítimas das catástrofes havidas entre 1989 e 1994 extrapolaram a capacidade das agências de ajuda, indo além dos fundos normais necessários para atender os pedidos de socorro às vítimas.

Portanto, a maioria das sublevações da natureza, por se acha­rem sob o comando exclusivo de Deus, está além de nosso con­trole. Entretanto, podemos prever e preparar-nos para a vinda de certos incidentes. (A cidade de St. Louis escapou de sofrer maio­res danos por ocasião das enchentes do Meio-Oeste americano, em 1993, porque tinha construído um bom sistema de muros de contenção, com base em exemplos de inundações anteriores.) Da mesma maneira, na vida cristã haverá inesperadas tempestades, bem como adversidades, para as quais os crentes podem estar preparados. Numa de suas parábolas, no final do Sermão da Montanha, Jesus fez uma comparação usando como tema os desastres da natureza:

Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras, e as não cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda (Mt 7.24-27).

A chave para estarmos preparados para os sofrimentos na vida cristã é a verdade fundamental sobre a qual construímos nossas vidas - noutras palavras, discipulado. Se somos desobedientes e nos recusamos a trilhar com fidelidade o estreito caminho do discipulado, com certeza os sofrimentos e aflições nos surpreen­derão e nos derrotarão. Assim sendo, é crucial que desempenhe­

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Como se Preparar para o Sofrimento 89

mos o papel de discípulos. Desta forma, podemos garantir a posse de nossa força, perseverança e alegria no sofrimento.

O Sofrim ento V em J unto com o D iscipulado

Já vimos que Jesus é o perfeito exemplo de como se deve enfrentar o sofrimento. Visto que Ele também estabelece o padrão para o discipulado, precisamos traçar algumas considerações so­bre nosso relacionamento com o Salvador.

0 setyo não está acima de seu Senhor

Jesus disse em Mateus 10.24: “Não é o discípulo mais do t|iie o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor”. Esta dupla declaração é axiomática; não precisa ser posta ã prova. Na pri­meira frase, presume-se que o discípulo escolhe seu mestre; e na segunda, supõe-se que o senhor compra o escravo ou servo. O que Jesus está dizendo é que o primeiro princípio do discipulado é a nossa submissão a Ele. Nossa vontade está em proeminência na relação discípulo/mestre - escolhemos aprender sob a direção do mestre. A soberania de Jesus está em evidência no paradigma servo/senhor - Ele nos escolhe para sermos seus servos. Esta é a dualidade básica inerente na doutrina da salvação. Em qualquer uma das duas situações, é óbvio que temos de ser submissos.

A relação do discípulo com o mestre pode ser expressa positi­vamente de diversas maneiras à medida que buscamos ser seme­lhantes a Cristo {vide Lc 6.40; Cl 3.16; 1 Jo 2.6). Entretanto, no grande contexto de Mateus 10, Jesus relata as verdades do disci­pulado de um ponto de vista negativo. O servo não está livre da perseguição e da oposição tanto quanto Jesus não o estava. Este fato evidencia-se à medida que Jesus prepara os Doze para o ministério alhures, e os avisa da vinda inexorável da hostilidade.

Esta mesma expectativa aplica-se a nós também. Quanto mais semelhantes a Jesus nos tomamos, mais o mundo nos tratará como o tratou. Se não estivermos sofrendo muito por amor a Ele, então talvez seja hora de examinarmos a nós mesmos (2 Co 13.5).

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Se quisermos ser seguidores de Jesus, sob todos os aspectos, devemos estar prontos a pagar o preço. De fato, Mateus 10.25, diz: “Basta ao discípulo ser como seu mestre”. Isto significa que devemos perseguir constantemente o alvo de ser como Jesus (cf. Fp 3.14-17). Não nos excedamos no afã de termos maiores privi­légios do que tinha Jesus, nem procuremos meios de fugir às necessidades e adversidades que Ele enfrentou. Quando nossa semelhança com Ele for como deve ser, tomar-se-á possível triunfar no sofrimento.

0 servo não tem medo do mundo

Como verdadeiros seguidores do Senhor Jesus Cristo, não há razão para temer nada. Muito tempo antes de Jesus vir ao mundo, os crentes em Deus já eram encorajados a não ter medo: “O receio do homem armará laços, mas o que confia no Senhor será posto em alto retiro” (Pv 29.25). O apóstolo Paulo exortou Timóteo nesse mesmo sentido: “Porque Deus não nos deu o espírito de temor [medo], mas de fortaleza, e de amor, e de moderação. Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus” (2 Tm 1.7,8).

O medo é uma poderosa emoção que nos pode enfraquecer e desencorajar, quando enfrentamos os mais diversos desafios da vida. E, sem dúvida nenhuma, está presente nas competições esportivas. A comovente e inspiradora história do patinador sobre o gelo, Dan Jansen, durante as três últimas Olimpíadas de Inver­no, é uma boa ilustração de como o medo pode inibir o desempe­nho numa corrida. A odisséia deste americano começou nos Jo­gos de Inverno de 1988, em Calgary, Canadá. Ali, como campeão mundial de corrida de velocidade, era o favorito para ganhar uma medalha na corrida de 500 metros, ou na de 1.000 metros, se não em ambas. Em vez disso, ele amargou o dissabor de cair nas duas corridas, não podendo terminar nenhuma delas. Devido ao fato de as corridas terem sido realizadas imediatamente após a morte de sua irmã, os decepcionantes fracassos de Jansen foram atribuídos a essa compreensível carga emocional a que todos estamos sujeitos.

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A experiência frustrante de Dan Jansen se repetiu nas Olimpí­adas de Inverno seguintes, em Albertville, França, em 1992. Esperava-se que ele ganhasse ao menos uma medalha na patina­ção sobre o gelo, mas fracassou novamente, tanto na corrida de 500 como na de 1.000 metros. Não caiu em nenhuma das duas competições, mas observe seu comentário sobre a corrida de 500 metros; “Nesta corrida patinei como se estivesse apenas tentando correr. Eu parecia bem. Não escorreguei. Contudo, havia algo que me impedia de dar o máximo de mim mesmo”.' Implícito na declaração de Dan está o elemento medo, proveniente talvez de seus fracassos anteriores, o que o impediu de dar tudo de si em suas competições. (Esta história teve um final feliz nas Olimpía­das de Inverno de 1994, em Lillehammer, Noruega, quando ele ganhou a medalha de ouro, estabelecendo um novo recorde nos 1.000 metros.)

A vida do cristão se equipara à luta de Dan Jansen com o medo. Freqüentemente o crente reage com medo diante do sofri­mento. E porque a maioria dos crentes não espera que venham tribulações. E, ao lidar com o desconhecido, o medo toma-se mais penoso e intenso. Mas em seu discurso no cenáculo, Jesus encorajou e exortou os discípulos a não ter medo: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vô-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (Jo 14.27). Esta promessa também é uma persuasiva reafirmação de que o Espíri­to Santo está sempre conosco, significando que não precisamos viver sob a nuvem de medo.

Em Mateus 10, Jesus dá-nos outro poderoso antídoto contra o medo do sofrimento. Jesus revela o tremendo valor que Deus dá à vida de cada crente: “Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais pois: mais vaieis vós do que muitos passarinhos” (Mt 10.29-31).

Jesus, de acordo com seu habitual costume, lançou mão de uma ilustração terrena para chegar onde queria. Aqui Ele usou passarinhos (pardais), que eram freqüentemente comidos como

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hors-d’oeuvres} Ao afirmar que Deus sabe quando os passari­nhos caem em terra, Jesus deixou subentendido o meticuloso conhecimento e cuidado de Deus em relação às suas pequeninas criaturas. Em alguns textos gregos, a palavra “cair” é traduzida por “pular” (de pés juntos, como fazem os pardais). Deus não apenas sabe quando os passarinhos morrem, mas também sabe quando eles andam aos pulos - algo que fazem a toda hora.

Jesus vai mais além em sua ilustração, ao dizer que Deus conta cada um dos cabelos de nossa cabeça (Mt 10.30). Visto que, segundo se estima, a cabeça humana tem em média 140.000 fios de cabelo, Deus certamente conhece cada pessoa no íntimo.

O que Jesus quer dizer com esta ilustração é simplesmente isto: Se Deus cuida dos passarinhos e até determina o número de cabelos da cabeça de todas as pessoas, com toda certeza Ele se interessa pelo que acontece com nosso espírito, corpo e alma. Ele se preocupa com nossa felicidade e bem-estar maior. Não há situação - não importa quão péssima ou prolongada ela possa nos parecer -, que esteja além da capacidade de Deus em nos susten­tar. Assim sendo, não há lugar para o medo que tanto nos debilita (Mt 10.31; vide também Mt 6.30-34).

0 servo está preparado para o pior

A prontidão é sempre a melhor política, quer no trabalho, quer nas ações governamentais, quer na vida pessoal. Mas, às vezes, as pessoas não estão suficientemente preparadas para as inesperadas reviravoltas da vida. Foi exatamente isto o que aconteceu ao Condado de Orange, Califórnia, em dezembro de 1994. E uma história que ainda está nos jornais locais enquanto escrevo este livro.

O Condado de Orange, localizado imediatamente ao sul do Condado de Los Angeles, era uma das regiões mais prósperas dos Estados Unidos, famosa por seus políticos conservadores e res­peitadas comunidades da classe meia alta. Hoje sua reputação sofreu grande revés devido à irresponsabilidade fiscal de alguns de seus administradores. O Condado foi obrigado a se inscrever no auxílio à falência, e teve seus ativos congelados para evitar

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maiores perdas de investimentos (estimados em 2 bilhões de dólares). Repentinamente, o Condado encontrou-se na posição nada invejável de ser a maior municipalidade na história dos Estados Unidos a ter a falência decretada.

Apesar dos avisos por detrás dos bastidores da parte de espe­cialistas em investimentos de que a situação financeira no Conda­do de Orange era precária, pouco havia a ser feito que pudesse preparar o cidadão comum para tão repentino choque. Alguns deles foram atingidos em cheio pelo acontecido. Professores, trabalhadores e micro empresários, que tinham contrato com o Condado, ficaram na iminência de não receberem seus pagamen­tos. Por essa época, ainda não se sabia que maléficos efeitos a longo prazo as dificuldades do Condado poderiam causar nas pessoas ou em outros condados e municipalidades em todos os Estados Unidos.

A história do Condado de Orange fomece-nos esta lição espi­ritual: Nunca deixe de considerar o inesperado ou o acontecimen­to negativo. Nunca diga nunca à possibilidade de uma aflição ou de um doloroso período de sofrimento causado por uma perda ou incapacidade física. Enfrentar tais experiências faz parte do pro­cesso global, pelo qual aprendemos a seguir mais de perto o exemplo do Senhor Jesus em cada área de nossa vida (Js 24.15; Mt 7.24-27; Rm 12.1,2). Aquele que já é discípulo de Jesus também pode ser consolado pelas palavras do profeta Isaías: “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti. Confiai no Senhor perpetuamente; porque o Senhor Deus é uma rocha eterna” (Is 26.3,4).

Os dedicados e convictos seguidores de Cristo não serão surpreendidos ainda que pela pior das adversidades, ou pela opo­sição da própria família:

Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e afilha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e assim os inimigos do homem serão os seus familiares. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou afilha mais do que a mim não é digno de mim (Mt 10.34-37).

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Para os que são os únicos crentes em suas famílias, a persegui­ção pode ser real e as lutas, grandes. Em tais casos, aqueles a quem mais amamos, e com quem deveríamos ter as mais estreitas relações, parecem ser, na maioria das vezes, os piores inimigos. Ainda que o ódio possa não resultar em morte, freqüentemente acaba em alienação.

Além disso, Jesus nos lança um desafio ainda maior: “E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á” (Mt 10.38,39). Aqui, Jesus dá ênfase à necessidade de uma total autonegação por parte de seus discípu­los, mesmo que isso signifique morrer.

Meu propósito, ao recordar as palavras de Jesus sobre o disci­pulado radical, é deixar claro que, se desejamos seguir o Senhor Jesus de todo o coração, então precisamos ser lembrados de tudo que possa estar envolvido em tal situação. Se diariamente estiver­mos andando o caminho do discipulado com fidelidade, estare­mos cientes de todas as possíveis conseqüências da obediência.

Quando isto acontecer, nenhuma situação que cause sofri­mento nos pegará completamente desprevenidos. Se formos cha­mados a padecer um longo sofrimento físico, que venha a incluir até mesmo a morte, a princípio podemos ficar surpresos. Mas se somos discípulos de Jesus, não permaneceremos por muito tempo em estado de choque. Se Deus chamou os apóstolos e muitos outros irmãos do passado para serem martirizados, seguramente Ele tem o mesmo direito de enviar o sofrimento para alguns de nós - ainda que Ele possa nos prover de todos os recursos neces­sários para tudo suportarmos (2 Co 12.7-10; Fp 4.11-13; 1 Pe 5.6,7).

O D iscipulado D eflexiona o Sofrim ento

O conceito da medicina preventiva tem feito regulares avan­ços nestes últimos anos. Para algumas pessoas, o melhor remé­dio é não tomar remédio - apenas se esforçam por manter uma boa forma física a fim de evitar enfermidades e moléstias. A mania da aptidão física e o aum ento que se segue na

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conscientização de bons hábitos alimentares são manifesta­ções bastantes típicas.

A idéia de se prevenir já apareceu há muito tempo no campo de manutenção de automóveis. Muitos proprietários trocam o óleo do motor de seus carros rigorosamente a cada 3.000 quilô­metros, e constantemente checam o nível dos outros fluídos e dos componentes básicos do carro. Estas pessoas preferem pagar pequenas quantias a intervalos regulares para manter seus carros em bom funcionamento do que correr o risco de uma inconveni­ente avaria ou de, mais tarde, ter de pagar um conserto caríssimo.

Esta mesma analogia sobre a prevenção pode ser aplicada à vida cristã e, particularmente, às nossas experiências com o sofri­mento. A manutenção espiritual preventiva acha-se implícita no estar preparado para o inesperado e no ter uma mentalidade c|uc aceita os fundamentos do discipulado antes que venham os sofri­mentos. Este tipo de disciplina espiritual permite-nos reagir bibli­camente diante das provações e apreciar seus efeitos depuradores.

Os discípulos reagem com ação de graças

Em Filipenses 4.6, o apóstolo Paulo exorta-nos: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e siíplicas, com ação de graças”. Esta atitude do cristão amadurecido e estável - agra­decimento em face de qualquer tipo de problema - é um forte antídoto contra a preocupação e a ansiedade. Embora se admita que clamemos a Deus por socorro quando surgem os problemas, Paulo não espera que duvidemos, culpemos ou questionemos a Deus. Esse tipo de atitude esconde uma insatisfação e desconten­tamento que possamos ter em relação ao plano de Deus para nossas vidas.

O verdadeiro discípulo reage ao sofrimento com uma postura de agradecimento porque, conforme já vimos, conhece as pro­messas de Deus, e sabe que Ele se compromete em não deixar acontecer nada que o crente não possa suportar. O alvo final de Deus é a nossa perfeição (1 Pe 5.10). Podemos ser agradecidos, porque Deus tem um propósito para a nossa vida, e Ele nos supre

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com seu poder de modo que podemos lidar triunfantemente com o sofrimento.

Observe o que diz Filipenses 4.7 a respeito das conseqüên­cias de um coração grato a Deus: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus” . Todos os crentes gostariam de ter paz, tranqüilidade, calma interior e contentamento em meio ao mais árduo sofrimento. E o versículo 7 nos promete exata­mente isto.

Uma devota atitude de agradecimento, não importando qual seja a situação, resulta em recebermos a incomparável paz de Deus. Além disso, examinando mais de perto Filipenses 4.6,7, descobrimos que o que está em jogo quando oramos não é a resposta específica de Deus, mas a paz que Ele nos dá. Portanto, sempre que estivermos atravessando por períodos de sofrimento, precisamos nos convencer de que Deus está mais interessado na atitude do nosso coração do que em nos fornecer respostas ou alívios instantâneos aos nossos caprichos e desejos. Esta verdade não é originária do apóstolo Paulo, mas remonta aos princípios do Antigo Testamento. O Livro de Jó é um bom exemplo disso, especialmente próximo do fim do livro, onde Deus faz uma longa sucessão de perguntas a Jó a respeito de sua Pessoa (Jó 38-41). Deus não responde às perguntas porque não era essa sua intenção. Ele apenas queria que Jó reconhecesse e se submetesse à sua soberania.

A paz, quando compreendida de acordo com as Escrituras, é um maravilhoso conceito. Eis o que o erudito da Bíblia e meu ex­professor, Dr. C. L. Feinberg, escreveu:

A idéia original e básica da palavra bíblica “paz ” (no Antigo Testamento shalom; no Novo Testamento eirene) é totalidade, integridade, inteireza. [...] As inumeráveis bênçãos do crente giram em torno do conceito de paz. O Evangelho é o Evange­lho da paz (Ef6.15). Cristo é nossa paz (Ef2.14,15); Deus, Pai, é o Deus da paz (1 Ts 5.23). O inalienável privilégio de todos os cristãos é a paz de Deus (Fp 4.9), por causa do legado de paz deixado por Jesus ao morrer (Jo 14.27; 16.33). Estas

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bênçãos não são privilégios guardados para serem usufruídos apenas na glória, mas são uma possessão para os dias de hoje (Rm 8.6; Cl 3.15). Assim, a paz é uma “concepção distintamen­te peculiar ao Cristianismo, o tranqüilo estado de uma alma convicta de sua salvação por Cristo Jesus e, por isso, não tendo medo de nada que venha da parte de Deus e estando satisfeito com sua sina neste mundo, qualquer que seja ela” (Thayer).^

Não importa quão árduo seja seu sofrimento, se você for capaz de compreender Filipenses 4.7, Deus lhe dará paz.

Os discípulos confiam na Providência Divina

No capítulo 1, afirmamos a necessidade de termos uma com­preensão básica da soberania de Deus, no que diz respeito aos sofrimentos e tribulações. Com relação à preparação para a ad­versidade, precisamos, sem dúvida alguma, examinar uma faceta da soberania de Deus conhecida como providência.

Providência não é um termo usado na Bíblia, mas designa indiscutivelmente uma verdade bíblica e doutrinária. (Este fenô­meno, evidentemente, não é único. A maioria de nós está ciente de que a palavra trindade não ocorre na Bíblia. Todavia, sabemos que a verdade deste conceito está implícita nas Escrituras, sendo uma doutrina cristã fundamental.) A providência está relacionada com a idéia de que Deus provê e coordena todas as coisas, usando meios comuns e processos naturais para cumprir Seus propósitos.

A providência é o modo mais freqüente de Deus agir no mundo, e controlar o curso diário dos acontecimentos para reali­zar Seus intentos. O outro modo de Deus atuar na sociedade humana é através dos milagres, numerosas vezes operados por Ele durante os diversos períodos da história bíblica. Enquanto que Deus age de modo providencial no fluxo da história, ao reunir e coordenar todos os inumeráveis fatores do mundo dos seres vivos e de seus acontecimentos para atingir Seus propósitos, os milagres interrompem o fluxo da história e suspendem uma ou outra lei natural, de modo que Sua vontade possa ser cumprida sobrenaturalmente. Parece-me que acreditar na providência de

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Deus requer um maior exercício de fé do que crer em milagres comparativamente descomplicados.

De muitas formas, a realização diária da providência, na qual Deus constantemente tem de orquestrar milhões de detalhes e circunstâncias, é um milagre muito maior do que comumente consideramos ser milagre. Portanto, a fé na providência de Deus muito contribui para o nosso contentamento diante de Deus.

Paulo tinha uma fé genuína na providência de Deus, quer as coisas estivessem indo bem, quer não: “Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho” (Fp 4.11). O patriarca José, através de suas experiências no Egito, também alcançou uma confiança similar à de Paulo. Observe como ele habilmente resume a seus irmãos sua fé na providência divina:

E José lhes disse: Não temais, porque porventura estou eu em lugar de Deus? Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida a um povo grande; agora pois não temais; eu vos sustentarei a vós e a vossos meninos. Assim os consolou, e falou segundo o coração deles (Gn 50.19-21).

Você nunca conhecerá todos os benefícios do poder do sofri­mento até que se dê conta de que há um Deus soberano ordenando providencialmente todas as coisas para o seu bem, querido leitor, e glória dEle. Logo que você reconheça que Deus está no controle de tudo, tanto melhor preparado você estará para lidar com qual­quer tipo de adversidade: “E sabemos que todas as coisas contri­buem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daque­les que são chamados por seu decreto” (Rm 8.28).

Os discípulos estão preparados para os ataques de Satanás

Ao considerarmos o fato de estarmos sempre preparados para enfrentar um possível sofrimento, não podemos nos esquecer do equilíbrio constante e necessário. Isto é especialmente importante ao examinarmos, ainda que brevemente, o papel de Satanás no sofrimento do crente. Primeira Pedro 5.8,9, diz: “Sede sóbrios;

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vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar. Ao qual resisti firmes na fé: sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo”. Estes versículos sugerem uma abordagem bem direta ao tratarmos com Satanás - em contraste com os dois extremos: os que negam a existência de um ser maligno e dos demônios (representado pelos ateístas e secularistas) e os que responsabilizam o diabo diretamente por cada pequenino problema que o cristão enfrenta (representado pelos evangélicos de diversas denominações, que encorajam a esotérica e contínua guerra espiritual).

Em primeiro lugar, a abordagem direta de Pedro nos manda ficar de prontidão. Devemos vigiar o que acontece à nossa volta, bem como nossos relacionamentos, e ficar atentos a possíveis tentações. Ao fazermos isso, devemos também nos dar conta de que Satanás já foi vencido por Cristo e que nós, como crentes, podemos derrotá-lo da mesma forma (1 Jo 4.4).

Em segundo lugar, Pedro diz que devemos resistir ao diabo, firmes na fé (1 Pe 5.9). Esta admoestação é muito parecida com a de Tiago: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4.7). “Resis­tir” significa simplesmente “fazer face a” . Agimos assim quando permanecemos firmes no verdadeiro objetivo de nossa fé e em nossa confiança em Deus. Satanás é mentiroso e enganador, e combater diretamente seus ataques com a verdade revelada de Deus é a mais formidável e eficaz maneira de contragolpeá-lo.

Esta estratégia está a grande distância do que os extremistas da guerra espiritual crêem. Eles pregam que precisamos ainarrar Satanás, mas não está perfeitamente claro o que isso significa. A Bíblia nada diz a respeito desta visão contemporânea de que os crentes devem confrontar e “amarrar” Satanás e seus demônios. Se isto fosse verdade, Pedro, Paulo ou qualquer um dos outros escritores do Novo Testamento teriam confirmado tal ministério e nos fornecido algumas instruções relacionadas a esse assunto."*

As Escrituras realmente confirmam que Satanás pode ter um papel nos nossos sofrimentos (Jó 1.1-2.8; Mt 4.1-11; Mc 1.21-27; 5.1-20). Mas em todos estes relatos. Deus está no controle. Se

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Satanás deve ser amarrado, Jesus enviará um anjo para fazê-lo {vide Ap 20.1-3). Portanto, nosso dever agora é observar as ins­truções de Pedro e Tiago, e ter em mente que nossa vigilância contra Satanás não é feita pelas nossas próprias forças ou por engenhosas estratégias mentais e verbais. O apóstolo Paulo disse:

Porque, andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus, para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conheci­mento de Deus e levando cativo todo o entendimento à obedi­ência de Cristo (2 Co 10.3-5).

A chave para estarmos efetivamente preparados e de sobrea­viso contra Satanás em suas atribuições no sofrimento do crente, é fixar nossas mentes e corações na obediência a Cristo e à verdade. Somente assim estaremos melhor preparados para ser­mos beneficiados com o poder do sofrimento, quando Deus nos enviar tribulações, perseguições e aflições. Venha o que vier, um discípulo fiel do Senhor Jesus Cristo deve estar preparado para tudo.

NOTAS‘ Dan Jansen com Jack McCallun, Full Circle: An Olympic Champion Shares His

Breakthrough Story {De Volta ao Panto de Partida: Um Campeão Olímpico Com­partilha sua Volta por Cima). (Nova Iorque: Villard Books, 1994.) Condensado em R eader’s D igest (Seleções), de novembro de 1994 (edição americana), p. 228.

‘ Pequeno prato frio que se serve no início da refeição, antes das entradas ou do prato principal. Por exemplo: anchovas, queijos, azeitonas etc. No francês, no original. (N. do T.)

’ "Peace” (“Paz”), no Evangelical Dictionary o f Theology {Dicionário Evangélico de Teologia), editado por Walter A. Elwell. (Grand Rapids: Baker, 1984), p. 833.

' Para um comentário mais detalhado sobre guerra espiritual, examine meu livro How to M eet the Enemy {Como Enfrentar o Inimigo). (Wheaton, Illinois: Victor, 1992), especialmente os caps. 2-3. .

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C omo L idar COM 0 S ofrimento

P reste atenção a este comentário de abertura de um dos capítulos finais de um livro contemporâneo que discorre sobre o modo como devemos estudar a Bíblia:

Muitos cristãos são como fotografias de péssima qualidade - sobrepostas e parcialmente reveladas. Estão empanzinados de informações acerca da Palavra de Deus. Mas que diferença isso tem feito em suas vidas? O crescimento espiritual é um permanente estado de mudança. E contudo, não há nada que o coração humano resista tão fortemente quanto as mudanças. Fazemos qualquer coisa para evitá-las.’

Estas observações foram feitas com referência à aplicabilidade das verdades bíblicas. Pôr em prática a Palavra de Deus é o passo lógico e final no processo de estudo bíblico que, às vezes, c tratado de modo errôneo, ou completamente omitido. A medida que nos aproximamos do fim de nosso estudo sobre o sofrimento, espero que você não negligencie ou evite praticar o que aprendeu. Com um tópico tão difícil como este, é especialmente importante que reflitamos sobre os assuntos que causam impacto em sua vida. A principal pergunta que você deve se fazer, ao ponderar sobre a possibilidade de enfrentar aflições e perseguições, é “Qual

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será minha reação?” Ou você reagirá com uma atitude positiva, como os homens que estudamos nos capítulos 2 a 4, e gozará seus efeitos positivos, ou reagirá negativamente e arranjará mais pro­blemas.

A verigúe seu C omportamento

Hoje em dia, muito ouvimos falar na gíria da cultura popular sobre “atitudes” ou “comportamentos”, e grande parte do que ouvimos é negativo. O mero uso da palavra atitude, como na frase “Que atitude é essa?”, informa a qualquer um que conheça a linguagem dos dias de hoje, que a pessoa que estamos descreven­do tem um comportamento mau ou esquisito. Da mesma forma, se alguém precisa “averiguar seu comportamento”, é sinal de que precisa deixar de lado seu comportamento negativo e tomar uma atitude positiva em meio a uma situação desafiadora.

O tema da Primeira Epístola de Pedro gira em torno do sofri­mento, apresentando-nos dois dos quatro elementos que constitu­em uma atitude apropriada ao reagirmos diante dos sofrimentos:

Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo; para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis. Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus (1 Pe 4.12-14).

102 O Poder do Sofrimento

Não E s t r a n h e o S o f r im e n to

O primeiro fator que nos ajudará a atravessar as mais difíceis provações é esperar por elas. E visto termos nascido para a aflição, pois somos pecadores caídos num mundo de pecadores caídos, é razoável não estranhar quando surgem os problemas. No contexto desta epístola, embora Pedro esteja se referindo mais precisamente à perseguição e à sua inevitabilidade, o assunto ainda é pertinente - espere pelas tribulações.

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Pedro está repetindo as instruções concernentes aos sofrimen­tos advindos da perseguição que encontramos em outras passa­gens do Novo Testamento (Jo 15-16; 2 Tm 3.12; 1 Jo 3.13). As palavras e ações dos crentes testemunham contra um mundo ímpio. Deveria ser esperado que esse testemunho fizesse com que os ingratos e ofendidos incrédulos contra-atacassem, perseguindo os crentes embora nem sempre isto acontece. Mas tal reação faz parte do custo do discipulado, como já vimos anteriormente.

Embora Pedro esteja focalizando a perseguição como conse­qüência de nossa fé e identificação com Jesus Cristo, a expressão “ardente prova”, em 1 Pedro 4.12, pode referir-se a qualquer tipo de problema. Tanto no Novo quanto no Antigo Testamento em grego, a palavra traduzida por “ardente” é usada juntamente com o iQxmo fornalha. No Antigo Testamento, este vocábulo se aplica a um forno para fundição de minérios, no qual o metal era derre­tido para ser purgado dos elementos estranhos. O Salmo 66.10 diz: “Pois tu, ó Deus, nos provaste; tu nos afinaste como se afina a prata” . Entretanto, em 1 Pedro a ardente prova é símbolo da aflição destinada por Deus “para vos tentar” - para vos purificar.

Primeira Pedro 4.12 conclui com a indicação de que as afli­ções e perseguições não são alguma “coisa estranha”, ou seja, fora do comum. Paulo afirma que todas as provações são comuns aos homens (1 Co 10.13). Em essência, Pedro nos está recomen­dando que não devemos estranhar as tribulações, como se estas estivessem acontecendo conosco por acaso. A perseguição, a aflição e os sofrimentos fazem parte da vida e não interferem com o plano de Deus. Tais problemas são comuns a todos - especial­mente aos crentes obedientes e fiéis.

A leg re-se no Sofrim ento

O segundo elemento positivo que Pedro quer que demonstre­mos em nossa atitude em relação aos sofrimentos é que nos alegremos neles. Isto me faz lembrar das palavras do Senhor Jesus nas Bem-Aventuranças: “Bem-aventurados sois vós, quan­do vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é

Como Lidar com o Sofrimento 103

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grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós” (Mt 5.11,12). Esta é uma das exortações mais desafiadoras da Bíblia. E Pedro afirma que suas palavras estão certas, quando em 1 Pedro 4.13 ordena que nos alegremos continuamente.^ Já vimos no capítulo 3, que o apóstolo Paulo demonstrava alegria em face do sofrimento. Definitiva­mente, esta atitude está presente em toda a Bíblia, sendo difícil evitá-la se desejarmos ser solícitos em tudo o que diz o Espírito Santo. E é razoável que estejamos alegres por causa da graciosa e soberana providência e propósito de Deus para o nosso sofrimen­to. Até mesmo o mais árduo sofrimento contribui para o nosso bem (Rm 8.28).

O dotado expositor Dr. Martyn Lloyd-Jones ajuda-nos a fazer uma meticulosa distinção do que se quer dizer com o conceito da alegria no sofrimento:

Por que o crente tem de se alegrar desta maneira [ao enfrentar uma perseguição]? E como é possível que ele assim o faça? Aqui vamos nós ao âmago da questão. Obviamente, o cristão não deve se alegrar na perseguição em si. Isto é algo que sempre deve ser lamentado. Todavia, à medida que você lê a biografia de alguns cristãos, descobre que, indiscutivelmente, certos santos enfrentaram esse tipo de tentação. Eles se regozi­jaram erroneamente em suas perseguições, apenas pelo motivo de estarem sendo perseguidos. Ora, isto sem dúvida nenhuma é puro farisaísmo, sendo algo que nunca devemos fazer. Se nos alegrarmos na perseguição propriamente dita - se dissermos:“Ah, bem... Eu me alegro e estou extremamente contente por ser muitíssimo melhor do que as outras pessoas, sendo esta a razão de estarem me perseguindo” -, imediatamente nos tor­namos fariseus. A perseguição é algo que o crente sempre deve deplorar; deve ser para ele uma fonte de grande pesar que homens e mulheres, por causa do pecado e por estarem sob o ferrenho domínio de Satanás, tenham de se comportar de ma­neira tão desumana e perversa. Em certo sentido, o cristão é aquele que deve sentir compaixão pelas pessoas, ao ver as conseqüências do pecado em suas vidas, pois esta é a razão de elas agirem como agem. Deste modo, o crente nunca se alegra pelo fato da perseguição em si.

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Portanto, que fique bem claro que o texto de 1 Pedro não está dizendo (nem as outras passagens) que os crentes devam ter uma atitude elitista ou masoquista em relação ao sofrimento.

Nossa alegria não está ligada à dor ou à dificuldade em si mesma, mas às suas ramificações. Pedro se refere a algumas delas em 1 Pedro 4.13.

A frase “no fato de serdes participantes das aflições de Cristo” significa que somos privilegiados ao sermos perseguidos por causa da justiça por usufruirmos dos sofrimentos de nosso Senhor Jesus. Isto não significa que tomamos parte nos sofrimentos expiatórios de Jesus. Mais exatamente, Pedro está dizendo que os crentes participam do mesmo tipo de sofrimento que Jesus pade­ceu e, por amor dEle, sofrem ao proclamar seu Evangelho salva­dor. Paulo foi um exemplo de alguém que sofreu assim, e dislo testificou diversas vezes em suas cartas (Gl 6.17; Fp 1.29,30; Cl 1.24). Os outros apóstolos logo aprenderam a se alegrar nos sofrimentos por amor de Jesus. Para eles, tais sofrimentos eram um tremendo privilégio (At 5.40,41), que também pode ser nosso, se fizermos uma abordagem correta dos sofrimentos e os receber­mos com a atitude certa.

Em 1 Pedro 4.13, Pedro continua a incentivar-nos a que nos alegremos quando o sofrimento vier: “Para que também na reve­lação da sua glória vos regozijeis e alegreis”. “A revelação da sua glória” é simplesmente outra maneira de nos referirmos à Segun­da Vinda de Jesus {vide Mt 25.31; Lc 17.30). E a expressão “vos regozijeis e alegreis” dá mais intensidade ao uso do tema alegria feito anteriormente por Pedro. Se os crentes forem fiéis em acei­tar o sofrimento e a perseguição como Jesus aceitou, então quan­do Ele voltar eles se alegrarão com uma intensidade que sobrepu­ja a todas as outras alegrias {vide também Lc 6.22,23).

Há ainda mais uma razão para reagirmos com uma atitude de alegria em face da perseguição: O Espírito Santo repousa sobre nós (1 Pe 4.14). À primeira vista, parece uma outra simples declaração da verdade. Mas as palavras de Pedro, inspiradas pelo mesmo Espírito de quem ele está falando, são verdadeiramente impressionantes e profundas. Em primeiro lugar, a presença do

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Espírito Santo não está relacionada a um vago e subjetivo desejo de bênção, tipificado por exclamações tais como “Que bênção maravilhosa!” ou “Que Deus te abençoe!” Em vez disso, sua presença é objetiva; podemos ter certeza absoluta de que Ele está presente quando estamos sofrendo ou sendo perseguidos.

O povo de Deus, ao longo da história, tem estado plenamente consciente desta realidade. Pedro chama o Espírito Santo de “o Espírito da Glória” , enfatizando que Deus, a Terceira Pessoa da Trindade, tem a glória como um atributo essencial, assim como foi revelado na luz do shequiná que apareceu no Antigo Testa­mento. A glória significava a presença de Deus ilustrada na sarça ardente, na intensa luminescência do monte Sinai, na coluna de fogo que guiou os israelitas no deserto e na nuvem que encheu o tabernáculo e o templo.

Embora o Espírito Santo não se apresente mais desta maneira hoje em dia, sua gloriosa presença continua a ser real para o crente que está sofrendo. Isto significa que o crente é a habitação do Espírito Santo (Rm 8.9). Este repousar do Espírito Santo é uma graça especial. Como estudamos no capítulo 2, é indiscutível que 0 Espírito da Glória haja repousado sobre Estêvão quando este estava sendo apedrejado. O Espírito Santo o revigorou ao tomar conta da situação, e tomou-se o poder predominante que colocou o piedoso diácono acima da extrema agonia (leia outra vez At 6-7).

As prestimosas verdades de 1 Pedro 4.13,14 fomecem-nos razões fundamentais para que nos empenhemos em ter atitudes de alegria quando estivermos sofrendo. Através dos séculos, muitos perseguidos e martirizados viveram a realidade das palavras do apóstolo Pedro. Thomas Cranmer (primeiro arcebispo protestante de Canterbury e autor do Primeiro e do Segundo Livro de Oração e de Os Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra) seguiu o exemplo de Estêvão, e experimentou a triunfante graça e força que o Espírito Santo dá em momentos de grande aflição. Em 1553, ele foi preso pela rainha católica romana Mary, e queimado na fogueira por não haver renunciado suas crenças. Eis como ele lidou com seus últimos sofrimentos;

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Trouxeram, sem demora, uma corrente e, com esta, amarra­ram Cranmer à estaca. Depois, quando os feixes de madeira já estavam arrumados, o xerife ordenou que trouxessem fogo. E quando o fogo começou a arder, todos os que lá estavam viram quando Crammer estendeu a mão direita... e a manteve nas chamas. Ficou com a mão nessa posição por tanto tempo, que todo o povo viu quando ela se queimou, antes mesmo que o seu corpo fosse atingido pelo fogo. Tão calmo e inabalável estava ele no meio desse terrível sofrimento, que não emitiu nenhum grito de dor. Parecia estar tão imóvel quanto a estaca à qual estava preso. Com os olhos fixos no céu, dizia, repetida­mente, enquanto tinha forças para falar: “Foi esta a mão que o escreveu [um repúdio ao Protestantismo, algo de que ele já tinha voltado atrás], esta indigna mão direita’’; e ficou repe­tindo as palavras do mártir Estêvão: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito! ”, até que a fúria das chamas o silenciaram. E ele entregou o espírito.

A única explicação que podemos dar a esta surpreendente compostura e resistência é que o Espírito da Glória repousou sobre Crammer, e espiritualmente o elevou acima da dor física e do medo. O mesmo Espírito está abundantemente derramado em nossos corações, permitindo-nos conhecer o poder do sofrimento em meio a qualquer perseguição, tribulação ou aflição que tenha­mos de passar. Somente Ele pode dar-nos a graça que é suficiente para atender as exigências de nosso sofrimento.

C om o A valiar o S ofrim ento

Os dois outros elementos necessários para termos uma atitude correta quando estivermos sofrendo encontram-se em ! Pedro 4.15-19. Assim escreveu Pedro:

Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se intromete em negócios alheios; mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifi­que a Deus nesta parte. Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho

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de Deus? E, se o justo apenas se salva, onde aparecerá o ímpio e o pecador? Portanto também os que padecem segundo a vontade de Deus encomendem-lhe as suas almas, como ao fiel Criador, fazendo o bem.

A terceira caraterística necessária para formarmos nossa rea­ção quanto ao sofrimento é avaliá-lo. Pedir a Deus discernimento para entendermos o propósito de estarmos sofrendo, e como o sofrimento está contribuindo para nos colocar no centro de sua vontade, é algo que não devemos menosprezar.

Só para se ter certeza de que ninguém está confuso, pensando que todo tipo de sofrimento é da vontade de Deus, 1 Pedro 4.15 menciona quatro males pelos quais nunca devemos sofrer. Os primeiros três - homicida, ladrão, malfeitor - são bastante óbvios.0 quarto - “o que se intromete em negócios alheios” -, embora à primeira vista possa parecer um tanto quanto óbvio, requer um exame mais minucioso para que entendamos plenamente em que se relaciona ao nosso tema.

Um intrometido e criador de caso é alguém que está sempre interessado nos negócios alheios, mas nunca nos seus próprios. Paulo se refere a esse tipo de atividade diversas vezes em suas cartas, e diz que devemos evitar tal comportamento (1 Ts 4.11; 2 Ts 3.11; 1 Tm 5.13). Nestes versículos, fica bem claro que a intromissão é um mal comportamento. Mas também podemos olhar para o termo de outro ângulo e esclarecer alguns equívocos no tocante a uma ação social adequada para os cristãos.

Alguns intérpretes acreditam, e eu concordo, que 1 Pedro 4.15 esteja se referindo à agitação política - atividade revolucionária que busca conturbar e opor-se à funcionalidade e gerência do governo em vigor. Se tal interpretação estiver certa, então Pedro está exigindo que os crentes vivam como bons cidadãos em culturas não-cristãs. Isto é compatível com o que ele escreveu em1 Pedro 2.11-19 e com o que Paulo requereu em Romanos 13.1-7 e em Tito 3.1-4. Os crentes devem ter seus próprios trabalhos, viver suas vidas sossegadas, falar do Evangelho e exaltar a Cristo. Pedro não dá chance para o crente tornar-se revolucionário, ten­tando derrubar o governo ou impor padrões cristãos na cultura ou

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no local de trabalho. Ser perseguido (ou processado) pelo gover­no por causa de alguma agitação, ou ser corrigido pelo patrão por causa de atividades destrutivas, não é estar sofrendo pela razão certa. Não é louvável para o crente estar em tal situação - é vergonhoso.

Um pertinente e atual exemplo deste tipo de atividade, aliás, punível, embora seja vista por alguns cristãos professos como um ministério legítimo, é o método de fazer protestos veementes, como fazem alguns grupos antiabortos.''^ Refiro-me a atos de desobediência civil (bloquear a entrada das clínicas onde se fa­zem abortos, recusar cum prir as ordens da polícia), ao bombardeamento das clínicas e aos assassinatos de seus médicos e funcionários. Os homicídios e as tentativas de homicídios da equipe de funcionários dessas clínicas são os mais hediondos exemplos desse ativismo. Desde o início de 1993, pelo menos três casos têm ganho as manchetes nos noticiários. Num deles, em 1994, resultou na condenação de um ex-ministro presbiteriano. Diante dos repórteres, ele disse abertamente que tinha absoluta certeza de que, se fosse sentenciado à morte, iria diretamente para o céu.

Para evitar mal-entendidos, quero assegurar que sou implaca­velmente contra a matança de crianças que ainda não nasceram. Em muitas referências, a Bíblia é bem clara: Deus se interessa pela inviolabilidade da vida humana em todas as suas fases (Gn 1.27; Êx 21.22-25; Dt 30.19; Jó 10.8-12; 31.15; SI 100.3; 139.13­16; Mt 18.6,14; Gl 1.15). Também estou inteiramente ciente de que muitos dedicados e devotados cristãos estão envolvidos cm movimentos pró-vida e que, nestes últimos vinte anos, têm reali­zado um bom trabalho, no sentido de conscientizar as pessoas sobre a importância dessa causa. Esse pessoal tem dado benéficos conselhos e assistência material, através de uma multiplicidade de agências de atendimento à gestação em crise.

Portanto, não estou criticando os legítimos, válidos e pacífi­cos esforços do movimento antiaborto e pró-vida. Estou simples­mente salientando que ações extremistas, reahzadas sob o pretex­to do Cristianismo, estão erradas. Até mesmo o apoio implícito

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feito por crentes “desde os bastidores” para atender tais ativida­des é contra a Palavra de Deus. Qualquer cristão que esteja envolvido em atividade destinada a promover o que é direito e a corrigir as injustiças, deve usar de discernimento espiritual para decidir quais estratégias deve apoiar. Agir de outro modo é tor­nar-se um “intrometido criador de caso”, alguém que não está sofrendo por amor da justiça.

O apóstolo Pedro apresenta mais uma razão para os crentes avaliarem o sofrimento; “Porque já é tempo que comece o julga­mento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?” (1 Pe 4.17). Devemos estar preparados para o sofrimento, porque Deus está disciplinando, provando e purificando-nos como mem­bros de sua Igreja neste final dos tempos. No versículo 7, do mesmo capítulo 4, Pedro indica que estamos vivendo o fim dos tempos; “E já está próximo o fim de todas as coisas” . No princí­pio desta última era, Jesus veio para sofrer, morrer e julgar nossos pecados na cruz. Nossos sofrimentos começam na cruz, e fazem parte do plano revelado de Deus, que culminará com o Julgamen­to do Grande Trono Branco. (A palavra “tempo”, em 1 Pedro 4.17, mais precisamente significa “estação”. Refere-se ao mo­mento crucial na história da revelação de Deus, quando o julga­mento começa.)

A “casa de Deus” (a Igreja) sempre está no processo de purificação. Isto tem acontecido ao longo da história da Igreja - dos primeiros dias da Igreja (Ananias e Safira, At 5), passando pela época dos escritos de Pedro (sob Nero e outros imperadores romanos) e pelos tempos da Reforma, até ao século XX (na Europa Oriental e China). O processo não parou. Por conse­guinte, devemos avaliar nossas próprias perseguições dentro do grande contexto da obra de purificação e aperfeiçoamento que Deus faz em sua Igreja. Poderá haver ocasiões em que Deus precise nos disciplinar para que o sirvamos com mais eficiência (Hb 12.5-13).

Pedro conhecia a seqüência do julgamento de Deus para esta época, que começa conosco e subseqüentemente atingirá os in­

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crédulos numa fúria total e final (muitíssimo diferente da discipli­na e depuração por que passamos). Pedro usou este contraste para dar-nos a correta perspectiva do processo global (1 Pe 4.17,18; vide também 2 Ts 1.4-7). É muito melhor suportar alguns sofri­mentos, hoje, como correção por causa do pecado, enquanto o Senhor purifica a Igreja, do que suportar, no futuro, os eternos sofrimentos do não-salvo.

C om o C onfiar em D eus no S ofrim ento

O quarto e último elemento que o sofredor crente deve adotar em sua atitude diante do sofrimento, é encomendar-se a Deus. Pedro escreveu: “Portanto também os que padecem segundo a vontade de Deus encomendem-lhe as suas almas, como ao fiel Criador, fazendo o bem” (1 Pe 4.19).

A palavra “encomendar” é um termo bancário que significa “depositar em confiança”. Pedro está exortando a todos os crentes que sofrem a entregar suas almas (vidas) aos cuidados de Deus. Aqui Pedro descreve Deus como o “fiel Criador”, para fazer-nos lembrar que Ele nos criou, sendo perfeitamente capaz e digno de confiança para tomar conta de todas as nossas necessidades.

Pedro presumiu que seus leitores, havendo acabado de 1er os versículos precedentes (e muitos já tendo passado por persegui­ções), já tivessem uma noção básica do que significa sofrer. Desta forma, apresenta Deus não apenas como aquEle que é fiel, mas também como aquEle que é soberano. Deus permitiu o sofrimen­to na vida daqueles crentes de acordo com seu plano e propósito globais. Portanto, nada mais lógico e sensato que os leitores de Pedro sejam exortados a confiar em Deus em meio às lutas e sofrimentos. Nada mais razoável também que nós tenhamos uma atitude de fé ao sermos provados. Isto é bem parecido, em princí­pio, com a conhecida exortação de Paulo em Romanos 12.1: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”. As palavras de Paulo lembram-nos novamente da estreita relação entre discipulado e sofrimento. É muitíssimo mais fácil lidar com o sofrimento se em nossos cora­

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ções já tivermos a intenção de entregar tudo a Deus. Se tivermos uma atitude de submissão, obediência e serviço sacrificial, não ficaremos preocupados com as aflições e perseguições que Ele possa permitir em nossas vidas.

Jerry Bridges oferece-nos mais esta introvisão acerca do desafio de confiarmos em Deus em meio ao sofrimento:

Confiar em Deus em tempos de adversidade é, admito, algo difícil de se fazer. [...] Confiar em Deus é uma questão de fé, e fé é o fruto do Espírito (Gl 5.22). Somente o Espírito Santo pode tornar viva sua Palavra em nossos corações e gerar fé; portanto, ou podemos decidir crer que Ele assim o faça, ou podemos escolher ser controlados por nossos próprios senti­mentos de ansiedade, ou de ressentimento, ou de tristeza.

John Newton, autor do hino “Maravilhosa Graça”, viu o cân­cer matar vagarosa e dolorosamente sua mulher durante um perí­odo de muitos meses. Quando relatou o que sucedeu naqueles dias, John Newton disse:

Creio que foi uns dois ou três meses antes de ela morrer, quando eu andava de um lado para outro no quarto, oferecen­do desconexas orações de um coração dilacerado pela dor, que, subitamente e com uma força fora do comum, ocorreu-me este pensamento: “As promessas de Deus têm de ser verdadei­ras; com toda a certeza o Senhor me ajudará, se de fato eu desejar ser ajudado! ” Ocorreu-me que, muitas vezes, deixamo- nos levar... [por um indevido respeito aos nossos sentimentos], apenas para satisfazer essa dor inútil, que tanto nosso dever quanto nossa paz exigem que resistamos até o limite extremo de nossas forças. No mesmo instante, eu disse, em voz alta: “Senhor, eu, e mais ninguém, é que realmente preciso de ajuda, mas espero, sem reservas, estar disposto a receber a tua ajuda”.

Geoffrey Buli é um exemplo atual de alguém que, durante um terrível período de sofrimento, encomendou sua alma a Deus. Buli permaneceu na prisão por mais de três anos na China comu­nista, sujeito à solitária, à inanição, à intimidação e à lavagem cerebral. No meio de sua provação, escreveu um poema, no qual

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pedia que o Senhor não permitisse que a memória que tinha da Palavra de Deus fosse turvada e nem deixasse que ele sucumbisse diante da dúvida, da solidão ou do medo. E pediu mais: que Deus lhe concedesse reter sua paz e lhe desse vitória sobre a fatiga.

As duas linhas finais do poema exprimem a fé que Buli tinha no cumprimento final do plano e propósito de Deus:

E teu Reino, gracioso Deus,Nunca passará.'’

Como Lidar com o Sofrimento 113

NOTAS‘ Howard G. Hendricks e William D. Hendricks, Living by the Book {Vivendo pelo

Livro). (Chicago: Moody, 1991), p. 292. Na Bíblia em inglês, versão NASB {New American Standard Bible), usada aqui pelo autor, diz que devemos nos regozijar continuam ente no Senhor. (N. do T.)

Martyn Lloyd-Jones, Studies in the Sermon on the M ount {Estudos sabre o Sermão da Mantanha). Vol. 1, de 2 Volumes. (Grand Rapids: Eerdmans, 1959), pp. 142­143.

‘‘ O autor se refere aos Estados Unidos. (N. do T.)’ Trusting God {Como Confiar em Deus). (Colorado Springs, Navpress, 1988), pp.

195-196. A citação de Newton veio do livro do próprio John Newton, The Works a f John Newton {A Obra de John Newton). (Readição; Edimburgo; Banner of Truth, 1985), 5“ edição; pp. 621-622; ênfase no original.Citado por Paul S. Reese, em Triumphant in Trouble {Triunfante nos Problemas). (Westwood, Nova Jérsei: Revell, 1962), pp. 199-220.

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L ições do S ofrimento

■y T m letreiro na parede de uma sala de aula de primeiro grau Ê j dizia: “A vida é a professora mais implacável. Primeiro

dá a prova e depois a lição”. Provavelmente, este truísmo foi esquecido pela maioria dos alunos que estudaram naquela sala de aula. Da mesma forma, muitos cristãos não se dão conta, ou se esquecem, de que as experiências da vida cristã, sejam elas árduas ou não, tendem a ser seguidas por um entendimento das lições que a experiência quer nos ensinar. Neste último capítulo, exami­naremos os princípios gerais que poderão ser aplicados em situa­ções específicas de sua vida a fim de que você comece a entender as lições do sofrimento.

Deus não apenas quer que compreendamos perfeitamente as verdades e os resultados que sobrevêem após os períodos de provação, Ele também quer que aceitemos as lições como evidên­cias inegáveis do princípio prevalecente de Romanos 8.28. Horatius Bonar, pastor escocês e autor de hinos do século XIX, demons­trou conhecer muito bem este princípio, quando escreveu:

Aquele que está na administração de tudo não é Alguém quepossa ser confundido e forçado a desistir de seus planos.Deus é perfeitamente capaz de cumprir seus desígnios nas

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circunstâncias mais inverossímeis e contra a mais resoluta resistência. Todas as coisas recuam diante dEle. Devo con­fessar que, para mim, este é um dos mais reconfortantes pensamentos relacionados à disciplina. Se houvesse a me­nor possibilidade de fracassar! Se Deus pudesse ser frustra­do em seus planos depois de termos sofrido tanto, seria terrível! [Mas] o tratamento de Deus tem de prosperar. Não pode gorar ou ser frustrado mesmo em suas obras de grandíssima envergadura, mesmo com referência a seus ob­jetivos mais diminutos. E o grandioso poder de Deus que está agindo em nós e sobre nós, e esta é a nossa consolação.[...] Tudo é amor, tudo é sabedoria e tudo é fidelidade, não obstante tudo também é poder.'

Quando estamos sofrendo, Deus parece estar distante ou desinteressado por nossa situação difícil. Isto acontece, porque as emoções humanas podem anular a fé que temos na fidelida­de de Deus, e podemos vir a crer que nenhum resultado positi­vo pode advir de nossa situação presente. Por outro lado, Jó nos mostra o tipo de resistência e paciência que anseia por confiar em Deus e aprender quaisquer lições que seu soberano propósito deseja ensinar-nos. Foi precisamente esta confiança que o motivou a glorificar a Deus no final de seu período de sofrimento:

Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido. Quem é aquele, dizes tu, que sem conheci­mento encobre o conselho? Por isso falei do que não entendia; coisas que para mim eram maravilhosíssimas, e que eu não compreendia. Escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu ensina-me. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza (Jó 42.2-6).

Como resultado da firme e paciente fé demonstrada durante seu longo período de provação, Jó alcançou uma nova compreen­são do seu Deus soberano e uma maior reafirmação da alegria de ser tratado como um de seus filhos. É a respeito desta alegria que, primeiramente, quero enfocar em nosso estudo sobre as lições do sofrimento.

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Lições do Sofrimento 1 17

Já vimos como é possível, pela graça, alegrarmo-nos em meio aos sofrimentos. Também é verdade que a alegria que experimen­tamos por causa de nossas provações pode ser uma das maiores que já sentimos. Já que uma das principais razões de Deus enviar sofrimentos à vida do crente é para provar a autenticidade de nossa fé (Gn 22), haveria ocasião mais oportuna para nos alegrar­mos? A experiência do sofrimento comprova a realidade de nossa salvação. O fortalecimento da certeza de nossa salvação e a confiança de que Deus cuida de nós provam que o sofrimento não pode nem diminuir-nos a fé nem nos separar do amor de Deus. Não há maior felicidade que esta!

Em sua primeira carta, escrita aos crentes que estavam pade­cendo perseguições, o apóstolo Pedro confirma claramente a es­treita ligação que há entre o sofrimento e a certeza da salvação:

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo, dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós, que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes a se revelar no último tempo, em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo (1 Pe 1.3-7).

A verdadeira alegria não vem facilmente nem é uma emoção fugaz e superficial. A autêntica alegria é produzida por fatores muito mais profundos do que as circunstâncias que originam a mera felicidade. Os cristãos que lutam em meio às circunstâncias negativas da vida, debatendo-se em dúvida e desalento, esque­cem-se de que a genuína alegria que os aguarda provém da confiança de que suas vidas estão escondidas com Cristo em Deus. Na providência divina, essa alegria e certeza podem ser mais fortes em tempos de sofrimento.

O S o fr im e n to P r o d u z N ova A le g r ia

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Pedro oferece diversas perspectivas que nos ajudarão a fazer uma nova avaliação da alegria de nossa salvação.

Herança guardada nos céusUma realidade apresentada por Pedro como incentivo à nossa

alegria - não importando que tipo de situação possamos estar vivendo é a confiança de que nossa herança está guardada nos céus. Em 1 Pedro 1.4, ele descreve esta herança como “incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar, guar­dada nos céus”. E esta poderosa confiança é algo de que podemos nos alegrar grandemente (1 Pe 1.6). Esta expressão-chave - “gran­demente vos alegrais” - é muito significativa no original e muito mais forte do que a palavra traduzida habitualmente por “alegrar- se” . Significa estar superabundantemente alegre em sua acepção mais plena.^ A palavra sempre é usada no Novo Testamento com referência à alegria espiritual que vem de um relacionamento com Deus, e nunca proveniente de uma alegria secular (ou felicidade circunstancial) resultante de outros tipos de relacionamentos.

Pedro assegura-nos que o sofrimento é realmente positivo, porque está integralmente vinculado à certeza de salvação. Os discípulos de Jesus tinham dificuldade em aceitar esta verda­de, como ficou claro quando Ele os ensinava no cenáculo. Em resposta à confusão e apreensão dos discípulos quanto à sua iminente morte, sepultamento e ressurreição, Jesus lhes disse: “Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes; mas a vossa tristeza se converterá em alegria. A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já se não lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará” (Jo 16.20-22). Ele garantiu aos discípu­los que havia motivo para se alegrarem, por causa do que Ele lhes prometera para o futuro, quando o sofrimento tivesse acabado. Aquele período de pesar, quando Jesus morreu, trans­

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formou-se numa extraordinária alegria, quando eles o viram novamente, e passaram a lutar para entender o significado de sua ressurreição.

Somos encorajados pelas palavras de Paulo, em Efésios 1.11­13: “[...] Fomos feitos herança, [...] com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que primeiro esperamos em Cristo; [...] tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa”. O Espírito de Deus que habita em nós é a garantia de nossa herança guardada nos céus.

Sempre que passamos por períodos de sofrimento, temos a tendência de anelar pela herança eterna. Nem sempre nossa ale­gria será automática, e não podemos negar que são verdadeiras a dor e a tristeza que acompanham o sofrimento. Mas, no final das contas, tudo é uma questão de que lado estamos olhando. A reação do crente às provações pode ser comparada a um viagem de trem. Imagine que você esteja num vagão de passageiros, com amplas janelas para apreciação da paisagem, de um trem que esteja atravessando as montanhas. A esquerda, o trem passa mui­to perto de uma alta montanha e tudo o que você vê é uma profunda escuridão. À direita, o trem apresenta uma magnífica vista de vales, campinas, ribeirões e lagos, indo até onde a vista alcança. Algumas pessoas nesse trem, exatamente como acontece na vida real, ficarão olhando apenas para o lado esquerdo, para a montanha escura. Outras, porém, resolverão olhar para a direita e ficarão se deliciando com o esplendor e a emoção que o panorama proporciona.

Com muita freqüência, os crentes escolhem ficar olhando o lado negativo de suas circunstâncias e os tenebrosos momen­tos de seus períodos de provação. Primeiro, concentram-se no lado negativo enquanto o trem está no túnel da dificuldade. Mas como parte desse processo de formação do seu tormento, continuam a olhar na escuridão da montanha de suas prova­ções mesmo depois de o trem já ter saído do túnel. Ao agirem assim, tais crentes são privados da alegria que lhes pertence. Além do mais, é meramente uma questão de escolher pensar no futuro. Nada nesta vida pode arrebatar nossa herança eterna

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na glória celestial. Como Pedro escreveu, está “guardada” nos céus para nós. A reserva foi feita por Deus, comprada por Jesus Cristo e agora é garantida pelo Espírito Santo (como sugerido na abertura deste capítulo).

Fé provada

Talvez o maior resultado positivo que provenha do sofrimento seja a consciência da jubilosa confiança de que a nossa fé é, de fato, genuína. Esta é a segunda perspectiva de Pedro: os sofrimen­tos provam nossa fé . Quando somos bem-sucedidos em perseve­rar durante as provações. Deus confirma a força de nossa fé salvadora.

Em 1 Pedro 1.7, Pedro utiliza uma ilustração terrena para mostrar quão valiosa é, como fonte de alegria, a fé que já foi devidamente provada. Ele diz que é “muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo”. Nos tempos bíblicos, o ouro era moldado numa variedade de objetos práticos além de decorativos. Era o metal mais altamente valorizado, servindo também de padrão para todas as transações financeiras. (Até mesmo nos tempos modernos, até a década de 1930, os Estados Unidos e outras nações industrializadas usavam o padrão-ouro. Nesse sistema, a moeda de um país tem o valor medido em ouro, podendo ser trocada por ouro.) Desta forma, Pedro escolheu um artigo que seus leitores reconheceriam imediatamente como o mais valioso metal, e afirma que mesmo que o ouro fosse traba­lhado pelo fogo até atingir o mais alto grau de pureza, ainda assim não seria tão precioso quanto uma fé provada. O ouro, mesmo o mais puro, simplesmente não passa na prova da eternidade. Mas a nossa fé passa.

O Sofrimento I ntensifica a G lória F utura

Deus traz sofrimentos, tribulações, perseguições e outros tipos de adversidade, como acontecimentos vitais dentro do processo de nosso crescimento espiritual. Os conhecidos versículos de Tiago 1.2-4 confirmam esta verdade de modo

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sucinto: “Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações; sabendo que a prova da vossa fé obra a paciência. Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma”. Estes versículos referem-se, primariamente, à peregrinação do crente na terra. Mas Pedro liga o sofrimento presente com a glória futura, ao dizer que Deus, que nos chamou para a glória, nos “aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá” (1 Pe5.10).

Enquanto estivermos neste mundo, somos chamados a supor­tar com paciência os sofrimentos e a entender o papel que estes desempenham no elevado propósito de Deus. Somente então passamos a perceber que o sofrimento é benéfico - faz parte de nossa perfeição e glorificação finais. Neste e nos capítulos anterio­res deste livro, já dissemos alguma coisa sobre o relacionamento entre o sofrimento presente e a glória futura. Agora examinemos mais de perto este relacionamento, pois afeta profundamente o modo de encararmos os resultados de qualquer tipo de sofri­mento.

O sofrimento ensina-nos a ter mais paciência, mas isto não é tudo. À luz da eternidade, a paciência não é a primeira coisa que precisamos aprender, porque no céu não haverá necessidade de sermos pacientes. Deus está muito mais interessado em que apren­damos este princípio: o que sofremos agora está diretamente relacionado com a nossa capacidade de glorificá-lo na eternidade. Afinal de contas, louvar, honrar, adorar e glorificar a Deus será nossa etema função (Ap 4-5), de modo que devemos estar mais preocupados com os efeitos que os acontecimentos atuais em nossa vida possam ter nessa realidade futura.

O apóstolo Paulo esclarece ainda mais o assunto: “Se sofrer­mos, também com ele reinaremos” (2 Tm 2.12). O que quer dizer que quanto mais resistência desenvolvermos através do sofrimen­to nesta vida, maior será o galardão eterno que receberemos no mundo vindouro. Acredito firmemente que este galardão seja nossa capacidade em glorificar a Deus por toda a eternidade. Portanto, quanto mais sofrermos hoje, tanto mais hábeis seremos em glorificá-lo mais tarde.

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Jesus fez uso deste princípio ao ensinar Tiago e João sobre os cargos no Reino de Deus (Mt 20.20-23). Ambos os discípulos aproximaram-se de Jesus através da mãe deles, querendo que Ele indicasse um para assentar-se à sua direita e o outro à sua esquer­da no Reino. Noutras palavras, estavam pedindo as posições de maior proeminência e privilégio - os mais altos cargos que qual­quer um de seus irmãos poderia ocupar no Reino de Cristo. Obviamente, reconheciam o conceito de categorias e galardões no Reino, e Jesus não discordou desta interpretação, pois estava correta (1 Co 3.9-15; 2 Co 5.10; 2 Jo 8). Entretanto, Ele precisou corrigi-los no tocante ao modo como o conceito funciona dentro do plano de Deus: “Jesus, porém, respondendo, disse: Não sabeis o que pedis; podeis vós beber o cálice que eu hei de beber, e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado? Dizem-lhe eles: Podemos. E diz-lhes ele: Na verdade bebereis o meu cálice, mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence dá-lo, mas é para aqueles a quem meu Pai o tem prepara­do” (Mt 20.22,23).

O cálice a que Jesus se refere é o seu sofrimento e morte. Ele está perguntando, retoricamente, se ambos os irmãos seriam ca­pazes de beber esse cálice já que estavam decididos a se assenta­rem à sua direita e à sua esquerda. O que se deduz aqui é que o sofrimento e a subida de posição no Reino estão diretamente correlacionados. (Jesus foi o que mais sofreu quando morreu na cruz, e por isso foi elevado à mais alta posição, à direita do Pai.) Se os discípulos tinham seus olhos fixos em grande proeminência e altos privilégios na eternidade, deviam saber que o caminho para atingir esse alvo é marcado por grande sofrimento e paciên­cia.

A lição a aprendermos é que, quando sofremos e com paciên­cia e fidelidade saímos vencedores, Deus se agrada de nós, por­que estamos crescendo em nossa capacidade de glorificá-lo. Tam­bém devemos ficar satisfeitos e alegres com os resultados obtidos nos períodos de sofrimento, porque estamos aumentando nosso galardão celestial e tendo um maior entendimento sobre o poder do sofrimento (vide Ap 2.10).

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Há vários anos, tive o prazer de visitar a Irlanda - conhecida como a “Ilha da Esmeralda”. Foi apelidada assim por uma boa razão; talvez tenha a zona rural mais verde do mundo. A terra verdejante é o resultado da densa névoa que, às vezes, obscurece sua paisagem geralmente suave e quase plana. Este fenômeno tem paralelo na vida cristã. Muitas vezes,quando a vida do crente está coberta de sofrimentos e pesares, há embaixo uma nova beleza de alma. Como já vimos com o exemplo do apóstolo Paulo, corações compassivos e bondosos são gerados em meio a grande sofrimen­to. Deus permite as lutas e sofrimentos a fim de que Ele possa nos consolar, e nós, por nossa vez, possamos consolar nossos seme­lhantes.

Somente o Senhor Deus pode dar-nos esse tipo de consolo supremo. Segunda Coríntios 1.3,4, diz: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus”.

Paulo, com base em suas próprias experiências, tem algo simples, mas ao mesmo tempo profundo, a dizer (2 Co 1.3-8) sobre a forma como o consolo se relaciona com o sofrimento. Em primeiro lugar, reafirma a promessa básica de que Deus nos consola (2 Co 1.3,4; vide também Sl 23.4; Is 40.1; 49.13; 51.3; 61.2; Mt 5.4; At 9.31). Em Romanos 8.32, escreve: “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como não nos dará com ele todas as coisas?” A aplica­ção aqui é óbvia: se Deus, o Pai, já nos deu seu maior bem, seu Filho Jesus Cristo, então não há impedimento algum para que Ele não nos dê comparativamente pequenas amostras de seu consolo.

Não recebemos o consolo de Deus como um fim em si mesmo ou simplesmente para nosso próprio benefício. Segunda Coríntios 1.4 indica um propósito bem definido: “Para que também possa­mos consolar os que estiverem em alguma tribulação”. Portanto, o consolo é algo que Deus entrega aos nossos cuidados, a fim de

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O S o fr im e n to T r a z R ea l C o n so lo

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que possamos compartilhá-lo com os outros. E nos é confiado na proporção direta à quantidade e intensidade de sofrimento que suportamos, o que significa que quanto mais sofremos, mais consolados seremos; e quanto mais consolados somos, mais po­deremos consolar. O apóstolo Paulo, sem dúvida nenhuma, foi uma prova viva deste princípio: ele sofreu tanto quanto qualquer pessoa (2 Co 11.23-27), mas mesmo assim ministrava na afeição de Jesus Cristo (Fp 1.8) e com a brandura de uma ama (1 Ts 2.7).

O consolo de Deus, embora grandioso, tem alguns limites. Exatamente como Pedro correlaciona os privilégios e recompen­sas celestiais com o tipo certo de sofrimento, outras passagens bíblicas indicam claramente que podemos e devemos esperar pelo consolo divino somente se estivermos sofrendo pela justiça (2 Co 1.5). Logicamente, conclui-se que não podemos ser verdadeiros consoladores, se nós mesmos não sofrermos e não formos conso­lados de acordo com o padrão de Deus, ou seja, como cristãos por amor de Cristo. Paulo, mais uma vez, é o nosso exemplo (2 Co 4 .11-L5).

E finalmente, um dos subprodutos mais apreciados que o verdadeiro consolo nos dá é a certeza da comunhão nos sofri­mentos. Como membros do Corpo de Cristo, não estamos sozinhos, curtindo em vão um sofrimento. A comunhão nos sofrimentos é vital. Se o consolo nos permite ser consoladores, então obviamente as outras pessoas estão sendo influenciadas pelos resultados de nossas experiências no sofrimento. O con­ceito da comunhão complementa a função que podemos ter como consoladores. É isto o que Paulo queria dizer, quando escreveu:

Mas, se somos atribulados, é para vossa consolação e salva­ção; ou, se somos consolados, para vossa consolação é, a qual se opera suportando com paciência as mesmas aflições que nós também padecemos; e a nossa esperança acerca de vós é firme, sabendo que, como sois participantes das afiições, assim o sereis também da consolação (2 Co 1.6,7).

Esta é uma descrição de reciprocidade, união e solidariedade, entre um grupo de crentes (Paulo e os coríntios), que conheciam e

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iriam conhecer a realidade do sofrimento. Isto também nos serve de encorajamento, conforme formos saindo de um período de sofrimento. O consolo que recebemos do Senhor Deus ajuda-nos a olhar para além de nós mesmos, e faz-nos lembrar de que as pessoas à nossa volta podem ser beneficiadas pelo nosso consolo. Esses outros crentes, por sua vez, poderão consolar-nos mais tarde à medida que estiverem atravessando suas próprias dificul­dades. Portanto, todos os nossos sofrimentos capacitam-nos a ministrar uns aos outros à maneira de uma genuína vida em comunidade. (Este princípio da comunhão nos sofrimentos é uma utilização extensiva do capítulo 12 de 1 Coríntios, especialmente o versículo 26.)

O Sofrimento P roduz M aior Sabedoria

A sabedoria sempre tem sido um dos mais valiosos traços de personalidade que um crente poderia desejar. O exemplo de Salomão vem bem a calhar. Primeiro, há o bem conhecido episó­dio de seu pedido de sabedoria a Deus (1 Rs 3.5-13). Depois, temos o fato de ele ser autor dos livros da sabedoria (Eclesiastes e porções de Provérbios). Outra importante figura do Antigo Testa­mento que, em meio a terríveis sofrimentos, aprendeu a estimar a sabedoria, foi Jó.

Ele aprendeu a reconhecer a falência de sua razão e até mes­mo a inadequabilidade dos conselhos humanos, vindo a perceber que a sabedoria de Deus é a fonte para entendermos tudo o que se relaciona com a vida e seus problemas. Eis o que Jó declarou a respeito do incomparável valor da sabedoria divina:

Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência? O homem não lhe conhece o valor; não se acha na terra dos viventes. O abismo diz: Não está em mim; e o mar diz: Ela não está comigo. Não se dará por ela ouro fino, nem se pesará prata em câmbio dela. Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira. Com ela não se pode comparar o ouro ou o cristal; nem se trocará por jóia de ouro fino. Ela faz esquecer o coral e as pérolas; porque a aquisição da sabedoria é melhor do que a dos rubis. Não se

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lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode comprar por ouro puro. Donde pois vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência? Deus entende o seu caminho, e ele sabe o seu lugar. Porque ele vê as extremidades da terra; e vê tudo o que há debaixo dos céus. Mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência (Jó 28.12-20,23,24,28).

A sabedoria que vem de Deus coopera juntamente com todas as coisas durante os sofrimentos, ajudando-nos a suportá- los e dando-nos a correta perspectiva de tudo. Mas a sabedoria não é algo que devamos supor presunçosamente que será nos­sa, ou que possamos alcançá-la por nossos próprios esforços. Tiago informa-nos do método para obtermos sabedoria: “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada” (Tg 1.5).

E claro que o tipo de sabedoria a que Tiago se refere, não é uma destacada erudição acadêmica ou algum estudo filosófico. Trata-se do que os livros sapienciais nos ensinam: Sabedoria é o conhecimento prático de como viver a vida em obediência à vontade e à Palavra de Deus e para sua glória (Pv 3.5-7; 4.11; 8.12; 10.8; 14.8).

No contexto do sofrimento, precisamos pedir a Deus por sabedoria para que perseveremos conforme os ditames bíblicos. E que Deus nos ajude a ver a soberania e a providência em ação nas várias circunstâncias de nossa vida, para que venhamos a agir com alegria e a reagir com obediência. A necessidade de sermos ajudados harmoniza-se perfeitamente com os propósitos globais que Deus tem ao permitir que soframos - tornar-nos mais depen­dentes dEle. Tal dependência é sinônimo de oração, o que está implícito na expressão: “Peça-a a Deus” (Tg 1.5). O Senhor está pronto a dar a sabedoria de que precisamos. Tiago diz que Ele “a todos dá liberalmente [incondicionalmente]”, juntamente com todas as suas riquezas, pois Ele deseja derramar abundante­mente em nós tudo o que nos seja benéfico (Pv 2.2-7; Jr 29.11­13; Mt 7.7-11).

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O Sofrimento O rigina A V erdadeira H umildade

Uma das verdades mais simples, e ao mesmo tempo menos considerada, é que o sofrimento não faz acepção de pessoas. Este princípio é válido em todo o mundo natural. Desastres naturais, acidentes, crimes, doenças, recessões econômicas e guerras afe­tam as pessoas de todas as camadas sociais. Nos recentes terre­motos verificados em Kobe, no Japão, e no Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, milhares de casas e estabelecimentos comerciais foram danificados ou destruídos em todas as áreas. Ricos e pobres foram igualmente atingidos. Mansões e casas humildes foram avariadas indistinta e significativamente.

A percepção de que as dificuldades não discriminam ninguém tende a acalmar e a humilhar os crentes também. O apóstolo Tiago fala igualmente aos crentes ricos e pobres sobre o fato de todos, indistintamente, serem atingidos pela natureza humilhante das provações e sofrimentos, tratando primeiro da atitude do menos favorecido: “Mas glorie-se o irmão abatido na sua exaltação” (Tg 1.9). Para os crentes pobres, a pobreza em si pode ser um sofrimento contínuo. Para os tais, não há desafio em compreender a humildade do sofrimento, mas sim em se lembrar de que podem se alegrar em sua exaltada posição espiritual como cristãos (1 Pe 1.3-6). A privação econômica não deprecia a gloriosa herança a ser recebida no mundo vindouro (Ef 1.11-14).

Por outro lado, o crente mais rico vê-se desafiado a aceitar a humilhação resultante das provações e dos sofrimentos: “E o rico em seu abatimento; porque ele passará como a flor da erva” (Tg1.10). Os que estão em melhor situação financeira precisam rece­ber as dificuldades com alegria, porque elas nos fazem lembrar que nossa real dependência está em Deus e em sua graça - e não em nossa privilegiada situação econômica. A humilhação das provações também chama nossa atenção para o fato de que as riquezas terrenas são temporárias; fenecem como a relva.

Portanto, há um grande fator nivelador em ação na questão dos sofrimentos. A verdadeira humildade ensina a todos os cren­tes - não importa de que nível social sejam - a confessarem com

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sinceridade: “Meus recursos estão em Deus”. R. C. H. Lenski, o comentarista luterano conservador, resume assim este princípio igualitário:

A fé em Cristo eleva o irmão humilde para além de suas tribulações, à grande altura, a uma posição no Reino de Cris­to, onde, como filho de Deus, é rico e pode se alegrar e se orgulhar. A fé em Cristo igualmente abençoa o crente rico: enche-o com o Espírito de Cristo, com o espírito de humildade e da genuína humildade cristã. [...] Assim como o irmão pobre esquece de toda a sua pobreza terrena, assim o irmão rico esquece de todas as suas riquezas terrenas. Os dois são iguala­dos pela fé em Cristo.^

É sempre um desafio para o crente passar por períodos de sofrimento e, ainda assim, manter a mente e o coração adequa­damente concentrados na direção certa. Até mesmo com a promessa das lições aprendidas e dos galardões ganhos, a infabilidade destes benefícios pode parecer mais teórica que real. Mas poderemos ter uma maior confiança na realidade de todas estas coisas, se nos lembrarmos destas palavras: “Porque andamos por fé, e não por vista” (2 Co 5.7). Os propósitos de Deus nem sempre são notórios no início de uma provação, mas isto não nos impede de manter nossos olhos em Jesus. Os que se acham relacionados na Galeria dos Heróis da Fé, puderam tirar os olhos dos obstáculos imediatos, e olhar em direção ao prêmio final (vide especialmente os versículos 13 a 16, do capítulo 11 de Hebreus).

Os crentes, hoje, também compreendem como é absoluta­mente indispensável confiar na soberania de Deus em meio a toda e qualquer circunstância. William Cowper, poeta inglês e autor de hinos do século XVIII, era de índole naturalmente melancólica. A despeito de suas lutas e sofrimentos, Cowper ministrou como assistente leigo do grande John Newton, e escreveu sessenta e oito hinos. Um deles chamado “Deus Age de Maneira M isteriosa”, expressa muito bem o tipo de menta­lidade que todos os crentes deveriam ter em relação à vida e suas dificuldades.

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Deus age de maneira misteriosa para realizar suas maravi­lhas;Ele caminha sobre o mar e cavalga sobre a tormenta.Em minas secretas e insondáveis, com infalível perícia,Ele entesoura seus brilhantes planos, e cumpre sua vontade soberana.

Não temais, vós, seus santos, tomai de renovada coragem; as nuvens de dificuldades que vós tanto temeis são grandes em misericórdia, e se abrirão em bênçãos sobre as vossas cabeças.

Não julgueis o Senhor segundo a vossa débil razão, mas confiai nEle pela sua graça; por detrás de uma sombria providência Ele esconde um sorriso na face.

Seus propósitos depressa se cumprirão.Manifestam-se a cada minuto; o broto pode ter um gosto amargo, mas doce será a flor.

Descrença cega é erro na certa, e perscrutar sua obra em vão;Deus mesmo se explica a si mesmo, e Ele ainda tudo elucidará.

NOTAS' When G od’s Children Suffer {Quando os Filhos de Deus Sofrem). (New Canaan,

Connecticut: Keats Publishing, 1981), pp. 30-31. Citado em Jerry Bridges, Trusting God {Como Confiar em Deus). (Colorado Springs: NavPress, 1988), p. 176.

A tradução King James da Bíblia em inglês traduz este verbo cm Mt 5.12 assim: “ficai excessivamente alegres”. (N. do A.)

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’ R. C.H. Lenski, The Interpretation o f the Epistle to the Hebrews and the Epistle o f James {A Interpretação da Epístola aos Hebreus e da Epístola de Tiago). (Mineápolis: Augsburg, 1966), pp. 534-535.

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R oteiro para E studo Individual e em

Grupo

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R oteiro para E studo I ndividual e em Grupo

P ara E studo Individual

Acomode-se em sua poltrona favorita com sua BiW^Alírpis ou caneta na mão, e este livro. Leia um capftulc^nwqu^^tpefc t|ue lhe pareçam significativos. Escreva n ^ m á w e i ^ X onde você concorda, discorda ou questiona notas derodapé e referências bíblicas im p o rtan tó l^ p o is vá às perguntas contidas neste Roteiro de EstudoL(^jvocê quiser registrar seu progresso, use um caderno p à S im ta r suas respostas, pensamen­tos, impressões e mais pergunt^. Consulte o texto e a Bíblia à medida que as p e m u n t^ ^ æ re m você ter um maior julgamento sobre o assunto emmie^tãíx E ore. Peça a Deus que lhe dê uma mente pers0 *tó^ò^^4 a verdade, uma real preocupação pelos outros e ujm ^i^W am or por Ele.

DO EM G rupo

teiro planeje - Antes da reunião com seu grupo de estudo, e marque o capítulo como se você estivesse fazendo um

esmao maiviauai. u e uma oinaueia nas perguntas, e raça anoia- ções mentais do modo como você poderá contribuir para haver um bom debate sobre o assunto com o grupo. Leve a Bíblia e o livro para a reunião.

Prepare um ambiente que promova o debate - Cadeiras confor­táveis dispostas em círculo de maneira informal convidam as pessoas a falar umas com as outras. Em seguida, diga: “Estamos aqui reunidos para ouvir o que cada um de nós (em a dizer e para

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responder as perguntas uns dos outros, a fim de que juntos apren­damos mais sobre a Palavra de Deus”. Se você for o líder, certifi­que-se de estar num lugar onde possa manter contato visual com todos.

A pontualidade conta - Para algumas pessoas, o tempo é tão valioso quanto o dinheiro. Se a reunião se estender até tarde (por haver começado tarde), essas pessoas se sentirão como se alguém lhes tivesse batido a carteira. Portanto, a menos que haja mútuo acordo, comece e termine na hora estipulada.

Envolva a todos - O aprendizado em grupo produz mais efeito se todos tiverem uma participação mais ou menos igual na reunião. Se por natureza você for uma pessoa falante, faça uma pausa antes de entrar na conversa. Em seguida, pergunte a alguém que esteja calado, o que ele ou ela pensa sobre o ponto em discussão. Se, por outro lado, você for um ouvinte inato, não hesite em se lançar no debate. As outras pessoas poderão tirar proveito daquilo que você pensa - mas só se você falar! Se você for o líder, cuidado para não dominar a sessão. É claro que você terá de estudar cada capítulo antes das reuniões, mas não presuma que as pessoas presentes estão ali só para ouvi-lo - por mais lisonjeiro que isso possa parecer! Em vez disso, ajude cada participante do grupo a fazer suas próprias descobertas. Faça as perguntas, mas insira suas próprias opiniões somente para preencher os espaços vazios duma eventual resposta.

Regule o andamento do estudo - As perguntas para cada sessão foram planejadas para durar cerca de uma hora. As perguntas iniciais formam uma estrutura básica para um debate posterior, por isso não vá rápido demais de maneira a deixar passar algum ponto importante. Por outro lado, as perguntas finais tratam fre­qüentemente do aqui e agora. Por isso, não demore demais no início de maneira a não haver tempo para que todos fiquem mais “à vontade” uns com os outros. Embora o líder deva assumir a responsabilidade pelo tempo de fluxo das perguntas, é trabalho de todos os integrantes do grupo ajudar a manter o estudo num andamento uniforme.

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Ore uns pelos outros: juntos ou sozinho - E depois veja a mão de Deus em ação na vida de todos os participantes do grupo.

Note que cada sessão é formada pela seguinte estrutura:

Tema da Sessão - Breve declaração que resume a sessão.

Formador de Opiniões - Atividade para que todos fiquem fami­liarizados com o Tema da Sessão e/ou uns com os outros.

Perguntas - Lista de perguntas designada a fazer com que cada membro do grupo descubra e aplique em sua vida as verdades aprendidas.

Motivos de Oração - Sugestões para aprimorar o aprendizado na oração.

Atividades Opcionais - Idéias suplementares que darão mais realce ao estudo.

Dever de Casa - Atividades ou preparativos para serem feitos antes da sessão seguinte.

Roteiro para Estudo Individual e em Grupo 135

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10 S ofrimento

NO P iano d e D eus

T ema da Sessão

No plano soberano de Deus, os crentes sempre passam por algum tipo de sofrimento.

F o rm a d o r de Opiniões (Escolha um dos dois itens)

Qual a notícia mais recente, nos jornais, que deixou você real­mente preocupado? Por que você ficou tão abalado?

Dentre suas próprias experiências com o sofrimento, qual a que exigiu o máximo de você? Por que foi tão difícil?

P erguntas para D ebate em G rupo

1. Qual a predição de Jesus em Mateus 5.10-12?

2. Como usado em João 15 e em outras passagens do Novo Testamento, a que se refere a palavra mundol

3. Que verdade sobre a cultura dos dias atuais se reflete no que Paulo observou em Atos 17?

4. Qual verdade bíblica é a chave para termos uma perspectiva mais nítida no que concerne ao sofrimento?

5. O que ilustra Gênesis 22 com relação às razões para haverem lutas e sofrimentos?

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138 O Poder do Sofrimento

6. Como devemos avaliar a reação de Paulo à sua não identificada enfermidade em 2 Coríntios 12.7-10?

7. Contra que Jesus nos previne em Mateus 6.24? Como isto se aplica especialmente em nossa sociedade contemporânea?

8. O que Hebreus 11.24-26 diz sobre o exemplo de Moisés?

9. Que tipo de incentivo Romanos 8.18-25 deve nos dar ao lidarmos com o sofrimento?

10. Qual o significado de Lucas 14.26,27 no que diz respeito ao propósito do sofrimento?

11. Leia novamente Hebreus 5.7-10 e Filipenses 2.8,9. O que estas duas referências bíblicas dizem sobre o que Jesus apren­deu com o sofrimento?

M otivos de O ração

• Peça ao Altíssimo que o ajude a dirimir qualquer dúvida que você possa ter com relação à realidade da soberania de Deus sobre todas as coisas.

• Agradeça ao Senhor pelos planos que Ele tem para o seu bem- estar futuro (Rm 8.18-25).

• Ore para que os outros integrantes do grupo sejam fortalecidos no Senhor quando tiverem de enfrentar algum tipo de sofrimen­to.

A tividades O pcionais

1. Leia Tiago 4.13-16, e faça um comentário sobre a presunção e os planos pessoais. Quais dos seus planos seriam afetados por uma inesperada dificuldade? Dê uma olhada em sua agenda para a próxima semana, e entregue cada item aos cuidados de Deus.

2. E fácil ficar transido de medo diante da probabilidade de uma perseguição. Mas 1 João 4.4 diz-nos que temos recursos ade­

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quados para enfrentar o pecaminoso sistema mundano. Você já foi perseguido por causa de sua fé? Em caso afirmativo, como foi que você reagiu? Como você poderia ter-se prepara­do melhor para essa crise?

D ever de C asa

1. Memorize 1 Pedro 4.19.

2. Leia o capítulo 2 de O Poder do Sofrimento.

Roteiro para Estudo Individual e em Grupo 139

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E xemplos d e F é EM Tempos d e P rovação

T ema da Sessão

Através dos grandes exemplos bíblicos, podemos aprender mui­tas coisas sobre a melhor maneira de lidarmos com o sofrimento.

F o rm a d o r de Opiniões (Escolha um dos dois itens)

Quem foi o seu primeiro ídolo? Essa pessoa tomou-se o seu exemplo preferido quanto ao modo de viver?

Veja se você pode fazer uma lista de pelo menos cinco pessoas proerninentes da sociedade atual, a quem você consideraria como exemplos a serem seguidos.

P erguntas para Debate em G rupo

1. Quais as duas principais características do ministério de Estê­vão anteriores à sua morte?

2. Atos 6.15 diz que o rosto de Estêvão era “como o rosto de um anjo”. De que outras maneiras poderíamos descrever e com­parar sua expressão facial?

3. O que significa ser cheio do Espírito Santo? (Ef 5.18)

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142 o Poder do Sofrimento

4. Como Daniel e seus três amigos se adaptaram às circunstânci­as existentes em Babilônia?

5. De que forma Sadraque, Mesaque e Abede Nego manifesta­ram suas convicções pessoais diante da intensa pressão de Nabucodonosor? (vide Jó 13.15; Sl 119.11)

6. O que Daniel 6.4-9 revela sobre o comportamento dos inimi­gos de Daniel?

7. O que Daniel 6.16 sugere sobre o relacionamento de Daniel com o rei Dario?

8. Se você soubesse que está a ponto de entrar num período de provação, como se prepararia?

M otivos de O ração

• Reserve um tempo para orar pelos crentes de outras partes do mundo que enfrentam oposição por causa da fé em Jesus Cristo.

• Medite novamente sobre a vida de Estêvão. Agradeça a Deus pelos efeitos que o testemunho da vida e ministério de Estêvão causaram à Igreja.

• Ore a Deus para que você tenha a disciplina de ser cada vez mais como Daniel e seus amigos em sua maneira de viver a vida cristã.

A tividades O pcionais

1. Leia 1 Timóteo 3, e faça uma lista das qualificações, mencio­nadas nesse capítulo, dos candidatos à liderança eclesiástica. Em quais qualidades você se destaca? Em quais você precisa melhorar?

2. Pense nas muitas desculpas que nossa sociedade dá para não colocar Deus em primeiro lugar. Quais você acha que são de maior influência? Durante o próximo mês, registre por escrito

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as vezes em que você é tentado a não colocar Deus em primeiro lugar numa determinada situação. Leia Lucas 14.16­24 e medite na possível aplicação desta parábola em sua vida.

Dever de C asa

1. Compare alguns aspectos da vida de José (Gn 37-50) com os traços de personalidade dos homens estudados no capítulo 2 . Escreva o que descobrir.

2. Leia o capítulo 3 de O Poder do Sofrimento.

Roteiro para Estudo Individual e em Grupo 143

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0 P er fil d e Paulo no S ofrimento

T ópico da Sessão

1. Devido às suas próprias experiências, o apóstolo Paulo é um grande exemplo de alguém que piamente perseverou em meio a todo tipo de adversidade.

F o rm a d o r de O piniões (Escolha um dos dois itens)

1. Você é uma pessoa que tem garra? Você se desencoraja facil­mente quando a vida fica difícil? Ou é mais provável que olhe para o lado bom da situação e continue indo em frente? Quando é que você mais tem vontade de desistir?

2. Você acha fácil ou difícil falar sobre a morte com alguém da família? Explique sua resposta.

P erguntas para D ebate em G rupo

1.Que característica comurn encontramos em Gálatas 5.22, Filipenses 4.4 e 1 Tessalonicenses 5.16?

2. Qual a situação de Paulo quando escreveu a Epístola aos Filipenses? (Fp 1.7; cf. At 28.30,31)

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3. De que forma Atos 16.22-33 ilustra e representa o tema do capítulo 3?

4. O que é um difamador? De que modo eles afetaram o ministé­rio de Paulo?

s. .

5. A que possibilidade Paulo alüde em Filipenses 1.19-21?

6. O quanto Paulo confiava na Palavra de Deus? Por quê?

7 .0 que Filipenses 1.19 quer dizer quando utiliza a palavra “socorro”? Como isto se aplicou à vida de Paulo e como se aplica à nossa?

8. Em quais promessas de Jesus, Paulo confiava?

9. Qual a estratégia de Paulo ao se comparar a um pote de barro?

10. Em 2 Coríntios 4.8,9, quais os quatro paradoxos do sofrimen­to relacionados por Paulo?

11. Quais as três razões pelas quais Paulo era capaz de suportar o sofrimento?

M otivos de O ração

• Você está lidando atualmente com alguma dificuldade em parti­cular, a qual está esgotando sua capacidade de resistência? Ou talvez você saiba de alguém que esteja passando por alguma tribulação Ou sofrimento. Em todos os dias desta semana, passe algum tempo em oração, pedindo a Deus que fortaleça você ou a outra pessoa durante esse período de dificuldade (Gl 6.9).

• Ore pelo pastor de sua igreja, para que ele tenha vigor espiritual para cumprir seu ministério.

• Ore para que na próxima semana você tenha uma atitude de alegria, não importando que tipo de situação tenha de enfrentar.

146 O Poder do Sofrimento

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Roteiro para Estudo Individual e em Grupo 147

A tividades O pcionais

1. Leia um livro que narre o testemunho de algum cristão con­temporâneo que tenha sido martirizado, ou que esteja passan­do por grande sofrimento, servindo desse modo como exem­plo a ser seguido.

2. Memorize 2 Timóteo 3.16,17 como um lembrete da fé que você pode ter na Palavra de Deus em meio à qualquer situa­ção.

D ever de C asa

1. Leia João 15-16. Faça uma lista de todas as promessas que Jesus fez aos seus discípulos nestes dois capítulos. Depois faça outra lista de promessas que se aplicam mais especifica­mente às provações e sofrimentos.

2. Leia o capítulo 4 de O Poder do Sofrimento.

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0 S ilêncio do C ordeiro d e D eus

T ema da Sessão

1. Jesus Cristo é o único modelo que o crente realmente precisa para saber como lidar com o sofrimento.

F o rm a d o r de O piniões (Escolha um dos dois itens)

1. Lembre-se daquela vez em que você falou alto, manifestando seu pensamento (talvez defensivamente), quando deveria ter permanecido quieto? Como foi que você se sentiu depois? Será que é sempre melhor ficar calado quando se é criticado?

2. Dentre as diversas imagens mentais que os não-cristãos têm sobre a Pessoa de Jesus, qual lhe parece a mais comum? Como você reage quando isso é mencionado na sua presença?

P erguntas para Debate em G rupo

1. Qual o nosso consolo quando enfrentamos a hostilidade do mundo? Leia João 15.18-21 e Mateus 10.21-25 outra vez. Quais as poucas diferenças, em detalhes, que você encontra entre essas duas passagens?

2. Que grande conceito errôneo os discípulos de Jesus revelaram ter em relação às causas do sofrimento (Jo 9)? A despeito

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disso, você acha que eles teriam sido melhores consoladores para Jó do que os amigos deste o foram? Por quê?

3. A palavra “exemplo” em 1 Pedro 2.21 sugere a idéia de um modelo a ser seguido. Com que rigor você precisa seguir um molde ou diagrama quando está fazendo algo? O que acontece se você faz pouco caso do modelo?

4. Você concorda com a declaração “o primeiro e mais freqüente lugar onde o pecado se manifesta é na boca”? Explique sua resposta.

5. Qual o principal traço de personalidade que Isaías 53 revela sobre o Servo Sofredor? Que outras verdades podem ser delineadas desse capítulo?

6. Qual a sentença de que você mais gosta neste capítulo? Por quê?

7. O que Atos 23.3-5 nos mostra sobre Paulo? Você reagiria da mesma forma numa situação semelhante?

8. Pense nas diversas vezes no dia a dia em que entregamos nosso bem-estar e segurança pessoal a outrem. A maioria de nós também confia muito nos colegas de trabalho. De que modo 1 Pedro 2.23 pode nos motivar a nos entregarmos mais inteiramente a Deus?

9. Tendo o exemplo de Hugh Latimer como inspiração, você se lembra de alguma ocasião em que animou um crente que estava atravessando por alguma situação desesperadora? O que aconteceu?

M otivos de O ração

• Dê graças pela espontaneidade de Jesus ao sofrer e morrer por nossa causa.

• Peça a Deus que você tenha uma atitude mais semelhante ã de Jesus, nas ocasiões em que você for injustamente criticado ou sofrer iníqua oposição.

150 O Poder do Sofrimento

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• Ore, pedindo ao Senhor através do seu Santo Espírito, que revele a você áreas de soberba em sua vida, que possam estar dificultando seu testemunho em meio a uma provação que você esteja passando.

A tividades O pcionais

1. Leia um dos quatro relatos dos Evangelhos sobre os sofrimen­tos e morte de Jesus. Anote num papel as várias maneiras em que Ele foi o exemplo ideal no modo como devemos reagir diante do sofrimento.

2. Estude Jó 1.1-2.11. Faça um breve resumo com suas próprias palavras, de modo a provar que esta passagem nega a idéia de que todos os sofrimentos são causados pelo pecado.

D ever de C asa

1. Memorize Isaías 53.7.

2. Leia o capítulo 5 de O Poder do Sofrimento.

Roteiro para Estudo Individual e em Grupo i 5 I

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C omo se P reparar PARA 0 S ofrimento

T ema da Sessão

O discipulado é o elemento decisivo para o crente estar sempre deprontidão para enfrentar qualquer tipo de sofrimento.

F o rm a d o r de Opiniões (Escolha um dos dois itens)

1. Como você se prepara para encarar uma típica semana de trabalho ou de estudo? Qual a medida prática que você regu­larmente toma para assegurar seu sucesso?

2. Numa escala de um a dez (um significa quase inexistente e dez tão bom quanto humanamente possível), avalie seu próprio preparo espiritual. Como esta avaliação se correlaciona com o atual estado de seu discipulado?

P erguntas para D ebate em G rupo

1. Você já passou por um grande desastre natural? Como foi? O que você faria de diferente para, da próxima vez, estar melhor preparado?

2. Pense em alguém, do passado ou do presente, a quem você realmente tenha queritlo como professor, treinador, patrão etc.

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3. Como você aplicaria os princípios de Mateus 10.24 a esse tipo de relação?

4. Você está perseguindo o alvo de se tornar cada vez mais como Jesus? Leia e reflita em Filipenses 3.14-17.

5. Que linha de pensamento comum passa por Provérbios 29.25; João 14.27 e 2 Timóteo 1.7,8?

6. Que tipo de consolo nos dá Isaías 26.3,4?

7. De que Jesus nos adverte em Mateus 10.34-37? Vai acontecer a todos?

8. Que resultado positivo procede da oração de agradecimento? (Fp 4.6,7)

9. Como você definiria a providência de Deus? Estabeleça a principal diferença entre providência e milagre.

iO. Quais os dois elementos básicos necessários para o crente estar preparado para os ataques de Satanás? (1 Pe 5.8-9)

M otivos de O ração

• Passe algum tempo em oração pedindo que o Espírito de Deus lhe mostre alguma área em sua vida, na qual você sinta que não está devidamente preparado. Peça ao Espírito que lhe dê forças para melhorar.

• Ore por seu grupo para que cada um de seus participantes, neste próximo mês, tenha um andar mais destemido com Deus.

• Se algum membro de sua família estiver lhe fazendo oposição por causa de sua fé em Cristo, peça a Deus que lhe dê sabedoria e força para saber como lidar com essa situação. Se este não foro seu caso, ore por alguém que esteja enfrentando esse tipo de dificuldade.

154 O Poder do Sofrimento

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A tividades O pcionais

1. Recapitule este livro.

2. Assista ou ouça diversos programas evangélicos durante a próxima semana. Preste atenção e tome nota cada vez que alguém falar da realidade da guerra espiritual. O comentário foi ponderado e de acordo com a Palavra de Deus?

D ever de C asa

1. Leia Efésios 6.10-18. Medite em cada dia desta próxima se­mana numa peça diferente da armadura de Deus. Escreva suas principais reflexões e a forma como Deus quer que você as aplique em sua vida.

2. Leia o capítulo 6 de O Poder do Sofrimento.

Roteiro para Estudo Individual e em Grupo 155

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6C omo L idar

COM 0 S ofrimento

T ema da Sessão

Precisamos ter a atitude correta ao lidarmos com o sofrimento.

F o rm a d o r de Opiniões (Escolha um dos dois itens)

1. Descreva uma determinada situação em casa, ou no serviço, a qual lhe dá o maior trabalho para você manter uma boa atitu­de. Quando e como foi que se apresentou um desafio desses?

2. Como é que você lida com os imprevistos? Qual a primeira coisa que lhe ocprre quando você depara uma inesperada

, mudança de horário?

P erguntas para Debate em G rupo

1. Em geral, o quanto você acha que o crente se esforça para pôr em prática o que aprende da Bíblia?

2. O que simboliza a “ardente prova” em 1 Pedro 4.12?

3. De que modo o fato de nos alegrarmos no sofrimento pode nos levar a agir como fariseus? Qual a perspectiva adequada que devemos ter diante dos sofrimentos a fim de evitarmos tal atitude?

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4. Explique o que Pedro queria dizer quando escreveu sobre a participação nas aflições de Cristo, (pág. 124)

5. Como pode o fato de sabermos lidar com o sofrimento ser um incentivo para que demos as boas-vindas à volta de Jesus? (1 Pe4.13)

6. Cite ao menos três ilustrações do Antigo Testamento de quan­do o Espírito de Deus se manifestou ao seu povo. De que modo o Espírito Santo evidencia sua presença nos dias de hoje?

7. Releia o trecho que fala sobre a morte de Thomas Cranmer. O que deixa você mais impressionado em relação ao modo de ele lidar com a morte?

8. A quem primeiramente se refere a expressão “o que se intro­mete em negócios alheios” em 1 Pedro 4.15? O que mais pode significar?

9. De acordo com 1 Pedro 4.7,17, como devemos entender o tempo em que vivemos?

10. Considere o significado original do verbo “encomendar” em 1 Pedro 4.19. Que certeza tal significado nos dá sobre a fideli­dade de Deus, especialmente quando estamos sofrendo?

M otivos de O ração

• Ore para que Deus o ajude a ter sempre uma atitude adequada e bíblica em relação a tudo.

• Passe algum tempo louvando e agradecendo a Deus por todos os recursos que Ele tem para nos ajudar a lidar com as inespera­das adversidades.

• Ore a Deus para que você tenha mais discernimento ao enfren­tar os diversos tipos de sofrimento, não apenas para o seu próprio bem mas também para saber aconselhar os outros.

158 O Poder do Sofrimento

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Roteiro para Estudo Individual e em Grupo 159

A tividades O pcionais

1. Faça um breve estudo dos movimentos pró-vida. Procure em revistas cristãs, notícias ou artigos sobre as várias estratégias usadas pelos diferentes ramos do movimento. Que estratégias parecem estar mais de acordo com a Bíblia? Apoie suas res­postas com versículos bíblicos.

2. Envie uma nota de encorajamento a alguém de seu conheci­mento que esteja passando por alguma tribulação. Se você não sabe de ninguém que esteja numa situação difícil, então com­partilhe com algum amigo crente algo que você tenha aprendi­do neste capítulo.

D ever de C asa

1. Leia Mateus 5.1-17. Medite em todas as maneiras em que esta passagem possa nos servir de encorajamento ao enfrentarmos a hostilidade do mundo. Memorize dois ou três dos versículos mais significativos.

2. Leia o capítulo 7 de O Poder do Sofrimento.

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L ições do S ofrimento

T ema da Sessão

Devemos não apenas estar certos da realidade do sofrimento, mas também ansiosos para pôr em prática as lições que Deus quer nos ensinar.

F o rm a d o r de O piniões (Escolha um dos dois itens)

1. Relembre uma experiência decepcionante, na qual você teve de aprender de novo, talvez pelo modo mais difícil, uma lição que já deveria ter aprendido de uma provação anterior. Qual a sua lembrança mais forte dessa segunda experiência?

2. Você acha que é mais difícil para um ci'ente rico enfrentar o sofrimento? Que obstáculos extras ele pode ter de encarar?

P erguntas para D ebate em G rupo

1.Que verdade a citação de Horatius Bonar reenfatiza no capítulo 7?

2. A certeza de sua salvação vem aumentado nestes últimos dias?

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3. Como você definiria a expressão “grandemente vos alegrais” em 1 Pedro 1.6? Utilize suas próprias palavras para esclarecer a idéia.

4. Quem é que garante nossa herança espiritual? (Ef 1.11-14)

5. Que exemplo é usado em 1 Pedro 1.7 para ilustrar o quão valiosa é a fé provada?

6. Por que a paciência não é a lição mais importante a ser aprendida através do sofrimento? Qual o princípio de maior alcance que precisamos entender?

7. O quanto Tiago e João entendiam das coisas concernentes ao futuro Reino de Deus? (Mt 20.20-23) Que verdade Jesus precisou explicar-lhes?

8 . Você se lembra de alguma ocasião em que o consolo de Deus foi especialmente significativo para você? E mais tarde, você pôde consolar alguém que estava numa situação parecida com a sua?

9. Que valor o mundo dá para a sabedoria? Compare a utilidade da sabedoria versus conhecimento.

10. Você pode se identificar com William Cowper? Por quê?

M otivos de O ração

• Agradeça a Deus por Ele ter um propósito e um plano para qualquer sofrimento que você tenha de passar.

• Peça ao Senhor por uma oportunidade dentro do próximo mês para levar uma palavra de consolo a alguém que esteja passan­do, ou que recentemente tenha passado, por algum tipo de sofrimento.

• Ore para que você e todos os integrantes do grupo procurem ser sábios e humildes, à medida que todos suportam vários tipos de provação.

162 o Poder do Sofrimento

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Atividades O pcionais

1. O hino de William Cowper “Deus Age de Maneira Misterio­sa” não está em muitos dos hinários modernos. Escreva cada verso num cartão e memorize um verso por semana pelas próximas cinco semanas.

2. Leia e estude Provérbios 1-3. Baseado nestes capítulos, com­ponha uma breve definição da sabedoria, faça um registro por escrito de suas descobertas no que diz respeito às vantagens da sabedoria, e escreva algumas das principais características de uma pessoa sábia.

Dever de C asa

1. Memorize Romanos 8.35-39 ou Tiago 1.2-6.

2. Pode ser que você não tenha tido tempo de fazer uma das Atividades Opcionais dos estudos anteriores. Se este for o caso, complete-a agora.

Roteiro para Estudo Individual e em Grupo 163

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Índice DE A ssuntos

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Indice DE A ssuntos

AAbel 18 Abraão

prova da fé (Gn 22) 24, 26, 27prova do primeiro amor (Gn 22) 31, 32Alegriacomo lição do sofrimento 117 fruto do Espírito 57 na ressurreição 118 verdadeira natureza da 117

Aplicabilidade da Bíblia 101 Apóstolo Paulo 19, 20, 39

alegria apesar dos problemas 58aviso de perseguição 8certeza de ser um exemplo a ser seguido 82com relação a Abraão 25com relação à morte 63com relação à plenitude do Espírito Santo 40com relação ao auto-sacrifício 50com relação ao consolar as outras pessoas 34com relação às “coisas de cima” 44comprometimento com o Evangelho 58, 62confiança na oração 64confiança na Palavra de Deus 62

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confiança nas promessas de Jesus 65 confiança no Espírito Santo 65 conselho a Timóteo 85 esperança eterna 30, 31 ilustração do vaso de barro 66, 67 “mensageiro de Satanás” 28 ministério entre os guardas romanos 60 ocasião em que deu mal exemplo 82 paradoxos do sofrimento 66 pregando em Atenas 20 prisioneiro em Filipos 59 prisioneiro em Roma 58 revelações extras 28 sabedoria do mundo 21 seus difamadores 50, 61seus sofrimentos 11sobre a guerra espiritual 99,100 sobre o consolo 123 sobre o medo 90 sobre os galardões 121 sua formação 55

Apóstolo Pedro 39, 41, 44, 51 citações da Septuaginta 81 com relação ao Espírito Santo 105 perspectivas sobre a salvação 118sobre a alegria no sofrimento 103sobre a perseguição 102, 103sobre o encomendar as almas 111sobre o julgamento dos crentes 110 sobre o sofrimento 78, 79sobre “quem se intromete em negócios alheios” 108 sobre Satanás 99

168 O Poder do Sofrimento

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índice de Assuntos 1 69

Atitudecom relação ao sofrimento (1 Pe 4.12-14) 102com relação ao sofrimento (1 Pe 4.15-19) 107uso da palavra (gíria) 102

Atletas (profissionais) 27

BBabilônia 45Bênçãos de Deus, lição das 32 Bomba no World Trade Center 17 Bonar, Horatius 115 Buli, Geoffrey 112

CCaim 18Caldéia, Caldeus. Vide Babilônia Capacidade de resistência, lição da 34 Certeza de salvação 117, 118 Chesterton, G. K. 24 Condado de Orange, Califórnia (falência) 92 Consolo, como lição do sofrimento 123 Cowper, William 128, 129 Cranmer, Arcebispo Thomas (mártir) 106 Crentes filipenses 57, 58, 61

DDaniel 11,45

adversários de 52 como mentor 50 convicções de 45-47, 51, 52deportação de 46

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na cova dos leões 50 Daniel, amigos de 11, 45

como exilados 47convicções dos 47, 49e a fornalha de fogo ardente 46

Daniel, Livro de 45 Dario 51Desastres da natureza 127

além do controle humano 87 na parábola de Jesus 88

Dieta de Worms 8 Difamadores

de dentro da igreja 60 de Paulo. Vide também Apóstolo Paulo 61, 66 definição 60 em Corinto 66

Discipulado 12com relação ao sofrimento 89 e a reação ao inesperado 92-96 Jesus estabelece o padrão 90

EEmpatia, lição da 33Esclerose Amiotrófica Lateral (Mal de Lou Gehrig) 28, 62 Esperança eterna 22, 30, 35 Espírito Santo

Estêvão cheio do 42 glória do 106 plenitude do (definição) 42 repousando sobre os crentes 105

170 O Poder do Sofrimento

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índice de Assuntos 171

Estêvão 11cheio do Espírito 42 comparado a Moisés 42 graça no sofrimento 40 olhou para Jesus 44 seu lugar estratégico 39 seu ministério em Atos 39, 40sua confiança em Deus 41, 42sua morte 42-45 tranqüilidade no sofrimento 41

Exemplos. Vide também Apóstolo Paulo; Jesus Cristo 11 celebridades como 37 na Bíbha 38

F“Falar mal dos crentes” 9 Fé

autenticidade da 120 essência da 73

Feinberg, C. L. 96 Filipenses, Carta aos 58, 59

GGlória futura 74,122

definição 70, 71 em 2 Coríntios 4.16-18 69em 1 Pedro 1.6,7 72

Graça no sofrimento (definição) 40 Guerra do Golfo Pérsico 34, 35 Guerra espiritual 99

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HHerança eterna (guardada nos céus) 117 Hino “Deus Age de Maneira Misteriosa” 129 Hino “Tudo Quanto Meu Deus Ordenar Farei” 16 Humildade 27

como uma lição do sofrimento 127 e Paulo 28

IIsaque 24-27,31

JJansen, Dan 91 Jesus Cristo

advertência contra o materialismo 29aparição em Daniel 49com relação à perseguição 9, 10com relação à perseguição (Sermão da Montanha) 16, 17com relação à verdadeira alegria 118como Servo Sofredor 33, 81-83como sofredor inocente 67como Sumo Sacerdote 34comparado à ovelha (silêncio) 82e 1 Pedro 2.21 80encomendou-Se a Deus 83exemplo de obediência 32, 33imagens mentais mais comuns sobre 77maior exemplo 84odiado pelo sistema religioso 18, 19

172 o Poder do Sofrimento

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índice de Assuntos 173

prediz a hostilidade (Cenáculo) 16 prediz a hostilidade do mundo 78 pregado por Estêvão 39, 40 seguidores serão odiados 19, 20 sobre o colocá-lo em primeiro lugar 32sobre o Reino de Deus 122 visto por Estêvão 44

Jóe a sabedoria 125e o propósito de Deus 96lições de seu sofrimento 116

LLatimer, Bispo Hugh (mártir) 84 Lenski, R. C. H. 128 Lincoln, Abraham 61 Lloyd-Jones, Dr. Martyn 104 Lockyer, Herbert 56 Lutero, Martinho

fidelidade à verdade 7 na Dieta de Worms 8 sua reação à crise 8

MManutenção espiritual preventiva 94 Martírio

ameaça de 9 estatísticas recentes 9

Materialismocomo lição do sofrimento 28

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como parte da sociedade 29 exemplo de Moisés em relação ao 30

Medo 90Modelos. Vide ExemplosMoisés, comparado com Estêvão 39Movimentos antiaborto (pró-vida) 109

NNabucodonosor 47 glorifica a Deus 49sonho da estátua 47

OOração e gratidão 95 Ouro, comparado à fé 120

PPaz (de Deus), definição 96, 97 Pecado

como causa de sofrimento 79 e a boca 81

Perseguição. Vide também Apóstolo Paulo; Apóstolo Pedro; Jesus Cristo

a ser esperada 10, 89 de uma família incrédula 94

Pink, A. W. 22 Policarpo (mártir) 51, 52 Primeiro amor 31 Providência (de Deus)

definição de 97, 98 e José 98em comparação aos milagres 98

174 O Poder do Sofrimento

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índice de Assuntos 175

R

Ramo Davidiano, incidente na comunidade do 17 Reforma (Protestante) 7

SSabedoria

definição de 126 e Jó 125 e Salomão 125 e Tiago 126

Satanásamarrando 99, 100 autor do sistema mundial 18, 21 como “anjo de luz” 18 e o mundo 9, 10 e Paulo 27, 28e Pedro 34“mensageiro de” 28 seu papel no sofrimento 99, 100

Servo (como discípulo) 89 está preparado 92 livre do medo 90 não está isento da perseguição 89

Soberania de Deus 11, 22 consolo da 23 definição da 22, 23 e a adversidade 23 sua função na adversidade 15, 16

Suportar (o sofrimento) 68aversão da cultura moderna ao 69importância das coisas eternas 73

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por causa da proeminência das coisas espirituais 70 porque o futuro tem prioridade 71 razões para 69

TTiago e João (cargos no Reino) 122

WWoodbridge, John 38

176 O Poder do Sofrimento