Na Alheta de Vultos Imortais

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    NA ALHETA DE VULTOS IMORTAIS

    Discurso de Posse do Cn. Jos Geraldo Vidigal de Carvalho

    na Academia Mineira de Letras dia 31 de maio de 2007.

    INTRODUO

    Pela honrosa eleio dos ilustres membros da Academia Mineira de Letras, toma possenesta noite o sucessor do notvel literato Olavo Drummond.

    Para atender a um convite do Arcebispo D. Luciano Mendes de Almeida este novoacadmico assumiu tambm, desde 1989, as aulas de Histria da Filosofia Antiga no Instituto deFilosofia do Seminrio de Mariana, Instituto agora integrado Faculdade Arquidiocesana deMariana.

    Um dos pensadores mais influentes estudados nesta Disciplina exatamente Plato.Ora, a origem do nome Academia remonta escola fundada pelo clebre filsofo grego nos

    jardins que um dia teriam pertencido ao heri Akademus.

    Enquanto, na Escola de Iscrates, o conhecimento se reduzia no mero repassar do saber,

    numa repetio rida de informaes, ali se buscava, pela dialtica socrtica, o saber peloquestionamento, pela autntica erstica numa fecunda troca de idias.

    Foi com este conceito de debates que diversas instituies literrias surgiram na Frana,entre as dcadas de 1620 e 1630, consolidando-se, no bero de todas as agremiaes literrias, a

    Acadmie de France.

    Mesmo antes desta, outras instituies existiram, com objetivos anlogos, mas foidepois da fundao daAcadmie de France, em 1635, que vrias outras surgiram por toda parte.

    No Brasil, aps a fundao da Academia Brasileira de Letras em 1897, nos estados

    foram sendo constitudas as academias regionais.Revelaram-se sempre ativas e se tornaram importantes espaos para a divulgao da

    literatura em geral e, sobretudo, dos valores estaduais.

    Entre elas se destaca, sem dvida, a Academia Mineira de Letras, relacionada nasmelhores enciclopdias como uma das mais importantes deste pas.

    Para conhecimento de diversos amigos que vieram prestigiar esta cerimnia de posse,em rpidas pinceladas, o histrico deste sodalcio.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Is%C3%B3crateshttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%B3crateshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Academia_Brasileira_de_Letrashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Academia_Brasileira_de_Letrashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ahttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%B3crateshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Is%C3%B3crates
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    A Academia Mineira de Letras

    Feliz dia 25 de dezembro de 1909 no qual outro nascimento se deu na j ento famosaManchester Mineira.

    Em Belm veio ao mundo, na plenitude dos tempos (Gl 4,4) Aquele que a luz queilumina a todo homem que vem a este mundo (Jo 1,90).

    Em Juiz de Fora, nascia, no alvorecer do sculo XX, aquela que agremiaria inmeraspersonalidades, as quais seriam tambm luzes a alumiar as rotas de tantos concidados atravsdas veredas da Literatura.

    Doze apstolos da cultura, intelectuais iluminados, tendo frente Antnio Vieira deArajo Machado Sobrinho.

    Como bonum est diffusivum sui o bem de si difusivo, posteriormente foramagregados outros 18 literatos de diversas regies do Estado para integrar esta novel Academia,destacando-se entre eles, alm de outras presenas marcantes, Nelson de Senna, Alphonsus deGuimaraens e Carlos Ges.

    A exemplo da Academia Brasileira de Letras, depois, este Sodalcio passou a contarcom 40 membros.

    Num momento de pulcra inspirao, em 1915, a Academia Mineira de Letras mudou-separa a capital de Minas Gerais, Belo Horizonte, exatamente pela amplitude estadual que possuadesde seus primrdios.

    Sendo um verdadeiro Pao da Arte Literria, em 1987, transferiu-se a AcademiaMineira de Letras, definitivamente, para o Palacete Borges da Costa.

    desnecessrio enfatizar a imensa honra que penetrar os umbrais deste renomadoCenculo de Letrados, caminhando na alheta de vultos imortais, ocupando a Cadeira nmero 12.

    Ressalte-se, desde logo, o srio comprometimento que se h de ter para no a deslustrar,inspirando-se no lema que acalenta, atravs dos tempos, este sodalcio: Scribendi Nullus Finis1.

    , pois, com suma reverncia que este neo-acadmico entra nesta Casa, a qual tem sidohonrada por to ilustres personagens de nossa Histria.

    Trata-se, inclusive, de uma misso realmente grandiosa suceder ao acadmico OlavoDrummond cuja atuao brilhantemente se fixou na gloriosa trajetria desta Academia.

    Esta dilatou sua irradiao cultural com a presena deste renomado escritor, umas dasfiguras marcantes da Histria de Minas e do Brasil no final do sculo XX e incio do sculoXXI

    OLAVO DRUMMOND

    Homenagens a Olavo Drummond, filho de Salomo Drummond e de HermantinaDrummond, cidado ilustre de Arax, onde nasceu a 31de agosto de 1925.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Academia_Brasileira_de_Letrashttp://pt.wikipedia.org/wiki/1915http://pt.wikipedia.org/wiki/Minas_Geraishttp://pt.wikipedia.org/wiki/Belo_Horizontehttp://pt.wikipedia.org/wiki/1987http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Palacete_Borges_da_Costa&action=edithttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Palacete_Borges_da_Costa&action=edithttp://pt.wikipedia.org/wiki/1987http://pt.wikipedia.org/wiki/Belo_Horizontehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Minas_Geraishttp://pt.wikipedia.org/wiki/1915http://pt.wikipedia.org/wiki/Academia_Brasileira_de_Letras
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    nclito advogado, formado pela Faculdade Federal de Direito da Universidade de MinasGerais, foi admirvel Jornalista e um Poltico sempre dedicado ao bem comum.

    Exerceu, entre outros cargos, o de Prefeito de Arax (1997-2000), Deputado Estadual e

    Deputado Federal por Minas.

    Sobre sua atuao poltica o Dr. Murilo Badar deixou um testemunho lapidar emformoso artigo no jornal Estado de Minas: O mais fascinante captulo de sua intensa vidapblica aconteceu no final. Concordou em ver seu nome posto ao exame do eleitorado de Arax,para dela ser prefeito. Sua eleio foi um fato natural e, como administrador da bela estnciahidromineral, realizou magnfico trabalho, resultado de sua vasta rede de relaes no governo eno mundo empresarial.

    Olavo Drummond foi tambm Delegado do Brasil nos Estados Unidos e, ao retornar aopas, notabilizou-se como Procurador da Fazenda Nacional e Procurador da Repblica junto ao

    Supremo Tribunal Federal.

    Na mais Alta Corte do Brasil, atuou durante doze anos, tendo emitido perto de dez milpareceres.

    Foi ainda Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de So Paulo e Ministro doTribunal de Contas da Unio.

    Na capital federal, fundou o Memorial JK, do qual foi Curador e Vice-Presidente, razode haver sido citado na biografia e na mini-srie sobre a vida de Juscelino Kubitschek deOliveira, do qual foi amigo, confidente e a ltima pessoa grada que esteve com aquele grande

    estadista da Repblica dias antes do trgico acidente na via Dutra, que ceifou a vida doFundador de Braslia.

    O falecimento de Olavo Drummond na cidade de So Paulo, dia 8 de maio de 2006, emconseqncia de um acidente vascular cerebral, foi pranteado em todo o Brasil. H um fatomarcante na existncia de Olavo Drummond que precisa ser sempre fixado: Ele construiu emArax o Santurio Nossa Senhora de Ftima projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake com umaimagem trazida de Portugal. Foi neste templo que seu corpo foi velado, isto cinco dias antes desua festa, em 13 de maio. Impressionante foi que, sem saber ainda deste episdio, este que osucede na Academia Mineira de Letras, tendo outra vez visitado, em 2006, Nossa Senhora deFtima em Portugal, consagrara a ela sua trajetria neste Cenculo de Letras to ilustrado por

    Olavo Drummond, devoto da Me de Deus sob esta gloriosa invocao. Por certo umainspirao vinda daquele que tanto a honrara nesta terra.

    Vulto de escol, por ocasio de seu falecimento, a Imprensa falada e escrita rememorouseus feitos adamantinos e registrou os mais justos encmios a sua insigne pessoa.

    Olavo Drummond foi Chanceler da Universidade So Marcos, de So Paulo, a qual temcomo lema: Conhecimento, tica e Cidadania.

    Recebeu dezenas de condecoraes, destacando-se as Medalhas Santos Dumont, Ordemdo Mrito Militar, Ordem do Mrito Aeronutico, Pioneiro de Braslia, Mrito Legislativo,

    Mrito da Justia, e vrias outras honrarias por servios prestados Repblica.

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    Jorge Meduar arrolou Olavo Drummond entre os mais famosos escritores mineiros,assim como Guimaraens Rosa, Afonso Arinos, Ciro dos Anjos, Fernando Sabino, Otto LaraRezende, Carlos Drummond de Andrade. Alphonsus de Guimaraens, Murilo Rubio, luzeirosque enriqueceram o patrimnio literrio nacional.

    Seus livros de Contos receberam os encmios de personalidades notabilssimas.

    Um estudo acurado da obra esttica deste artista da palavra mostra como honrou combrilhantismo a Lngua de Cames.

    Em sua trajetria como contista, publicou trs livros: Ordens do Cardeal e outrashistrias, O Amor deu uma Festa e, por ltimo, O Vendedor de Estrelas.

    Ratificamos in totum as palavras do j citado crtico paulista Francisco Lus de AlmeidaSales, o qual asseverou ser Olavo Drummond um contista claro, realista, gracioso, to mineiro

    em sua viso das criaturas como a prpria humanidade que ele trata em suas alegrias e tristezas.Estamos tambm de acordo com o romancista Gerardo Mello Mouro, o qual afirmou

    que os contos de Olavo Drummond lembram um dos melhores momentos da arte de narrar denossos dias; parecem aqueles fascinantes episdios de Truffaut, que sabia compor uma obrainteira, acaba e perfeita, com o material de um simples sopro, de um quase nada da vidaquotidiana.2

    A importncia do conto

    O conto um dos gneros literrios mais apreciados.

    atravs da publicao de contos que tm surgido timos escritores como o foi OlavoDrummond, que sabia transformar o cotidiano e o trivial em acontecimento intenso e inesperadocomo s o grande artista capaz de revelar.

    Por serem sinpticos e interessantes, os livros de contos tm um pblico cada vezmaior.

    que o conto prtico e unidimensional, tocando a imaginao do leitor e oconduzindo a cenas facilmente imaginveis e a um desfecho, nem sempre, pressentido.

    histria breve, instantnea, bem de acordo com o contexto atual das vibrantescomunicaes num mundo trepidante.

    Por girar apenas em torno de um centro, com apenas um tema dramtico e de ao, obom contista vai at a culminncia de uma situao existencial, deixando uma lio dodesenrolar dos fatos narrados.

    Muitos erroneamente julgam o conto um mero entretenimento ou, at, um mar deiluses.

    No entanto, vem a ser um gnero literrio de suma importncia, diferente do romance e

    da novela, mas descrevendo costumes e modo de vida de pessoas numa determinada

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    comunidade em certa situao temporal, pretende dar ao leitor um ensinamento utilitrio. eminentemente pragmtico.

    Pelo fato de exercitar a imaginao do leitor, este acaba, muitas vezes, se identificando

    com os personagens ou as situaes descritas.

    O conto uma forma literria que agrada por no conter divagaes inteis, oufiligranas que obscurecem a mente de quem o l.

    A narrativa pouco extensa, concisa, e que contm unidade dramtica, concentrando-se aao num nico ponto de interesse, fascina por levar o leitor a eventos concretos, embora frutosda imaginao do autor que sabe bem lidar com o modo de ser de entes racionais dentro de seusperfis caracterolgicos.

    Trata-se de um gnero literrio dos mais atraentes, embora o mais sujeito a aventuras

    mal sucedidas.Isto, porm, no se deu com Olavo Drummond, que foi um ficcionista inigualvel, um

    criador de imagens vivas nunca repetidas, oferecendo momentos de rara emoo.

    Carlos Heitor Cony, com rara felicidade, assim se expressou: Olavo Drummond serevela tanto na prosa como na poesia, um freqentador do territrio mgico onde tudo podeacontecer. E realmente acontece no assombroso faz-de-conta que constitui a essncia mesma daliteratura em sua maior expresso.

    Ele pertenceu a uma cadeira cujo Patrono foi o Conjurado Jos Incio de AlvarengaPeixoto.

    OUTROS LUMINARES DA CADEIRA No 12

    Alvarenga Peixoto

    Nesta oportunidade cumpre tambm lembrar o Patrono desta Cadeira que o ConjuradoIgncio Jos de Alvarenga Peixoto (1744-1793).

    Este carioca, mas de alma mineira, filho de Simo de Alvarenga Braga e ngela

    Micaela da Cunha, fez os estudos preparatrios no Colgio dos Jesutas, no Rio de Janeiro, ondefoi condiscpulo de Baslio da Gama, tendo se formado em Leis pela Universidade de Coimbra.

    Bem merece ser Patrono numa Academia de Letras, uma vez que, alm disto, conviveucom outros ilustres literatos, dado que foi amigo fraterno de Toms Antnio Gonzaga, de quemera parente, e de Cludio Manoel da Costa.

    Notvel a intuio criadora de Alvarenga Peixoto que o fez um luminar da poesiacolonial.

    Morou em So Joo del Rei, mas vinha sempre a Vila Rica para manter com estes

    conjurados tertlias literrias e cvicas.Foi lamentvel que grande parte das suas obras tenha se perdido.

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    Honra e glria a Norberto de Sousa que legou a coleo mais completa de suascomposies, inclusive vinte sonetos.

    Entre eles se sobressai o enviado a sua esposa Brbara Heliodora, remetido do crcere

    da Ilha das Cobras, o qual o imortalizou.

    que a arte e a poesia no podem passar uma sem a outra. A atividade criadora doesprito humano sempre admirvel e o poeta tem este dom da intercomunicao entre o serinterior das coisas e o ser interior do Eu Humano. Por isto mesmo, a poesia a vida secreta decada uma e de todas as artes.

    Esplndida a energia espiritual que se capta nas composies poticas de AlvarengaPeixoto. Ele mostrou como a poesia a potncia criada da alma. Ele sentia profundamente osfatos que o faziam sofrer longe de sua amada Brbara Helidodora e belamente expressou seuestado de esprito.

    Possua o talism do verdadeiro vate, o timbre imortal do autntico poeta, gracioso,exornado, opulento, solene.

    O referido soneto foi fraguado nas entranhas de um amoroso corao, Por isto escandiua sua alma em versos imorredouros.

    No ser racional o talento muito, mas a bondade do corao tudo.

    Alvarenga Peixoto possua um e outro em grau altssimo e da o vigor de suascomposies e os nobres sentimentos que suscitam.

    Em 1786 o soneto a Maria Ifignia, sua amada filha que completava sete anos, de umabeleza nica. Nele um conselho luminoso: Despreza ofertas de uma v beleza / E sacrifica ashonras e a riqueza/ s santas leis do Filho de Maria / Estampa na tu`alma a Caridade/ Queamar a Deus. amar aos semelhantes / So eternos preceitos da verdade/ Tudo mais so idiasdelirantes / Procura ser feliz na Eternidade,/ Que o mundo so brevssimos instantes.3

    Rodrigues Lapa asseverou que Alvarenga Peixoto nos deixou uma obra pequena, masde sumo significado. Acrescentou:O sentimento nativista irrompe dela com uma sinceridade euma veemncia que talvez se no encontre em nenhum outro escritor do tempo; mas aquilo emque por certo se avantaja a todos os outros a nota de comovida simpatia pelos humildes que

    trabalhavam a terra, os pobres escravos que fizeram a grandeza do Brasil e que ele querialibertar em 1789. Esta simpatia humana junto a uma arte em que se nota a insistente procura daexpresso e imagem nova so particularidades que militam a seu favor (...).4

    Carlindo Lellis (1879-1945)

    Foi o fundador desta Cadeira. Poeta parnasiano de grandes mritos. Wilson Martins, novolume VI de sua Histria da Inteligncia Brasileira, o relaciona como uma das figurasexpoentes deste movimento literrio e se refere obra Hlikn impressa no Porto.

    Quando veio a falecer em 1945 no Rio de Janeiro, ento capital do pas, prestava seus

    servios no Ministrio da Fazenda. Este mineiro de Santana de Ferros, formado em Farmciapela renomada Escola de Ouro Preto. Pode afirmar: Dessa cidade nunca me aproximei sem a

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    mais funda emoo. A fama de sua grandeza, suas tradies, sua histria, seu prestgio literrioengrandeceram-na desde cedo na minha imaginao.

    Exmio latinista e cultor da literatura grega, foi um abalizado professor de humanidades,

    dotado de vasta cultura clssica e cientfica.

    Publicou Brumas e Sol, Nmeros de Intemezzo que uma traduo de poemas deHenry Heine, poeta e prosador alemo e a clebre biografia Augusto de Lima sua Vida eObra. Este livro, de apenas sessenta e oito pginas, mas bem diz o provrbio que No frasco

    pequeno est o melhor perfume.

    Dentro do esprito parnasiano, os escritos de Carlindo Lessa revelam uma prosacomedida, objetiva, fugindo a manifestaes meramente sentimentais.

    Isto o fez um bigrafo primoroso.

    Como bom observador, relatou como se fixou em seu esprito a figura hiertica do Juizde Direito, Augusto de Lima, quando o encontrou pela primeira vez: um fraque preto, umcavanhaque e duas lunetas luzindo e faiscando.

    Assim descreveu o poeta Raimundo Correa, que ele tambm conheceu: Pouca estatura,perfil fino, barba preta e aparada quase Cristo, crnio alongado, muito pl ido

    Muito se fala dos desafios de uma boa biografia, gnero literrio por vezes consideradocompsito, hbrido, controverso, problemtico.

    Nem sempre o ser bigrafo d status a um escritor, mesmo porque os problemas de

    hermenutica de uma vida so enormes. O bigrafo deve respeitar a metodologia histrica, frearsua imaginao e tornar agradvel a leitura do que focaliza sobre personagem que viveu numdeterminado contexto, influenciando seus coevos.

    Sua relao se torna ento intensa com a sociedade em que viveu o biografado e osvalores que este possa ter cultivado.

    No fcil explicar fenmenos coletivos pelo comportamento e estratgia individuais.

    certo ser impossvel a qualquer bigrafo atingir o absoluto do eu e, por outra,sabendo que deve fugir da exposio de uma evoluo linear do bero ao tmulo com um

    encadeamento enfadonho de causas e efeitos.

    O ideal , de fato, examinar momentos importantes do percurso de uma existncia, osporqus e os como das decises tomadas, tendo como eixo o passado, o presente e o futuro.

    A micro-histria escrita por Carlindo Lellis foi, de incio, uma conferncia pronunciadana Federao das Academias de Letras no Rio de Janeiro, mas posteriormente revista para apublicao em livro. Este veio a lume no centenrio de nascimento do biografado, ocorrente a 5de abril de 1959.

    Pode-se dizer que ele percorreu com perspiccia as provncias deste gnero literrio,

    pois foi uma biografia modal, visando ilustrar formas de comportamento a partir da vida deAugusto de Lima, e uma biografia hermenutica, pinando o que foi significativo neste vulto

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    singular e o significado de suas aes. Tanto isto verdade que afirmou: O artista sempreuma figura que se destaca no seu meio. Tem ele por certo uma funo social que lhe traou odestino. Traz consigo o fascino de sua arte e o que sonoro e rtilo nele tem eco e vai sendo acada dia recolhido para a tradio. Cercam-no o respeito e a estima. J e de todos, j lhe querem

    todo como seu e, como o tempo patrimnio de toda a gente e seu nome se incorpora s coisasque se ho de repetir e recordar. Assim era Augusto de Lima, em Ouro Preto, concluimagistralmente.

    Trata-se de uma biografia no meramente factual, dado que analisa os livros e ascomposies poticas de Augusto de Lima com suma argcia e assevera ento: A arte supremaconsiste na correspondncia, na equivalncia perfeita, entre a forma e o pensamento, o queverificara nos escritos de seu biografado. Analisou uma opera lrica em quatro atos e afirma queAugusto de lima era wagneriano em todos os seus nervos e em toda a potencialidade de seucrebro. de se notar como Carlindo Lellis situava bem o contexto histrico em que viveu

    Augusto de Lima, focalizando no tempo e no espao as figuras famosas da poca que exerceramtanta influncia cultural em Minas e em todo o pas e, portanto, em seu biografado.

    Tendo-o conhecido pessoalmente, mostrou qual o sentido das atividades destepersonagem, sem querer fazer dele uma revelao da essncia mesma de um ser humanoperfeito, mas ao qual se ligava por uma inquebrantvel estima espiritual cada vez mais forte,mesmo depois do seu desaparecimento de entre os vivos.

    Carlindo Lellis publicou tambm interessante estudo na Revista do Arquivo PblicoMineirosob a epgrafe Um artistadesconhecido: D. Vicente de Micolta.

    Trata-se de uma bem fundamentada apreciao sobre este pintor e escultor religiosopouco conhecido de origem espanhola que faleceu em 1900.

    Nos escritos de Carlindo Lellis se percebe um fundo slido, forma lcida, percepoestremada, objetivo claro daquilo que tinha em mira. Nada de perodos penteados e fraseselegantes apenas para compor uma situao.

    Foi, realmente, um brilhante poeta, escritor e historiador.

    A ele sucedeu Joo Dornas dos Santos Filho.

    Joo Dornas dos Santos Filho (1902-1962)

    Itana se gloria de ser o bero deste notabilssimo escritor que mostrou ao Brasil osvalores desta nobre urbe.

    Filho do fazendeiro Joo Dornas dos Santos, um republicano, co-fundador do ClubeRepublicano 21 de abril em 1889, e de D. Maria Eugnia Vianna Dornas.

    Seus pais tiveram, alm de Joo, 11 outros filhos aos quais exemplarmente se dedicaram

    Dornas Filho foi, toda a vida, um cultor da Literatura e da Histria.

    Aps os primeiros estudos, em sua terra natal, veio para Belo Horizonte, nos anos 20, ea esteve sempre no convvio das mais clebres personalidades do mundo intelectual e artstico.

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    Teve ativa participao no Modernismo mineiro, ao ser um dos editores da notvelpublicao de renovao esttica denominada o Leite Criolo.

    O pintor Di Cavalcante, um de seus grandes amigos, desenhou em pastel a caricatura

    deste que viria a ser um dos grandes membros da Academia Mineira de Letras.

    Revelou-se Dornas Filho um escritor incansvel.

    Seu primeiro livro, escrito em 1936, Itana Contribuio para a Histria doMunicpio, publicado pela Grfica Queiroz Breiner de Belo Horizonte, patenteou o quantoamava sua terra natal, analisando fatos e pessoas.

    Nos anos seguintes, escreveu mais vrios outros livros5 com uma mdia de lanamentode um livro a cada dois anos, publicando-os at 1951.

    Sua vocao de historiador o levou a elaborar trabalhos com louvvel metodologiacientfica, os quais foram publicados em revistas especializadas de Histria.

    Ele cultivou sabiamente a cincia dos atos humanos do passado e dos fatores que nelesinfluenciaram vistos na sua sucesso temporal. Fazer histria refazer a vida e ele fez isto compropriedade. Eis sua mxima grandeza.

    custa de suas prprias idias, levantou monumentalmente sua obra: deu-lhe corpo econsistncia.

    Investigou com perspiccia fatos, sobretudo de sua Itana querida, e abordou compropriedade os feitos de outros vultos notveis.

    Em suas pesquisas revelou-se um prodgio de talento e um prodgio de vontade nasrduas pesquisas que empreendeu.

    Da Histria deve estar ausente a paixo, porque quem a escreve no deve distorcer osacontecimentos, e Histria deve conviver com a Filosofia por ser uma cincia. Assim procurouser Dornas Filho na maioria de suas obras.

    Opulentou-se com o manto da Filosofia da Histria. Dotou sua gente, dignificou suacidade cuja Histria no ser nunca escrita sem consultas obra de 1936.

    Em 1945 foi eleito, unanimemente, para a Academia Mineira de Letras.Seus escritos continuam sendo lidos, debatidos, comentados por historiadores de vrios

    pases e cultores da Lngua Ptria.

    Segundo minuciosa pesquisa feita recentemente na internet por Pepe Chaves,multiplicaram-se, acentuadamente, as citaes a Joo Dornas Filho. E o que se torna maisinteressante o fato de que o nome do itaunense citado por diversos portais, de algumas dasmais conceituadas instituies, alm das principais universidade brasileiras6

    Foi, sem sombra de dvidas, um dos expoentes da cultura brasileira, figurando com

    destaque em enciclopdias de vulto como a Delta Larousse

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    e Bibliografias especializadas.Nelson Werneck Sodr relaciona vrias de suas obras no livro O que se deve ler para

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    conhecer o Brasil. Sobre Aspectos da economia colonialassim se expressou: No Trabalho deJoo Dornas Filho h captulos que tratam de matria fora da poca colonial. Mas aqueles emque abrangem a mencionada poca contm elementos de grande interesse. O livro consta decinco estudos sobre o tropeiro, o cometa e o mascate; sobre o aparelhamento mec nico da

    agricultura colonial; sobre a sava; sobre o tabaco e sua influncia na sociabilidade brasileira esobre as queimadas e as secas (p 112).

    Uma das conferncias mais aplaudidas deste Acadmico foi proferida em Curitiba nasfestas da instalao do Centro Mineiro daquela Capital em 1952, quando abordou o tema OsMineiros na Histria do Paran. Esta palestra foi publicada inclusive no Jornal do Comrciodo Rio de Janeiro, dia 26 de outubro de 1952.

    Acrescente-se que quem quer penetrar fundo no estudo da contribuio mineira para aformao econmica do Brasil h de estudar a obra pioneira deste Acadmico O ouro dasGerais e a civilizao da Capitania. Ele, como acentuam os editores desta obra, reivindica

    para os mineiros no s uma influncia fundamental na transformao brasileira neste cicloeconmico, mas ainda em importantes fases que se seguiram, como a conquista e povoamentodo vale do Paraba e do norte e oeste de So Paulo, criando o quarto ciclo da riqueza do Brasil o caf.

    Louvores, portanto, a este escritor, historiador e notvel conferencista, sucedido porAlberto Deodato Maia Barreto.

    Alberto Deodato Maia Barreto (1896-1978)

    Foi um apreciado romancista, admirado contista, abalizado jurisconsulto. Advogouintensamente, sobretudo advocacia criminal, no foro belo-horizontino.

    Poltico clarividente, se viu eleito vereador em Belo Horizonte (1935-1937), deputadoestadual em Minas Gerais (1948-1950), lder do proto-governo Milton Campos, deputadofederal (1950-1954), tendo sido um dos 92 signatrios do Manifesto dos Mineiros de 1943 e umdos fundadores da UDN.

    Exerceu com proficincia o magistrio na Faculdade de Direito da Universidade Federalde Minas Gerais, na qual foi exmio Catedrtico de Cincias de Finanas Pblicas e de FinanasComparadas e aplaudido Diretor. Lecionou tambm nas Universidades da Guanabara e na Gama

    Filho. Livre docente, por concurso, de Direito Internacional Pblico, lecionou esta disciplinapor dois decnios, tendo publicado a obra Doutrina de Monroe.

    Distinguiu-se, outrossim, como jornalista, tendo dirigido com brilho o Correio Mineiroe a Folha da Noite, revelando-se tambm apreciado radialista, cronista.

    Sua atividade literria foi realmente extraordinria. Publicou apreciados livros de contose crnicas, salientam-se entre elas Polticos e Outros Bichos Domsticos, no qual se percebemlaivos de aguda ironia atinente aos maus homens pblicos, Nos tempos do Joo Goulart, comlampejos histricos interessantssimos, Viagens incuas, o qual uma impagvel premunioaos governantes andejos, perigosamente andejos, levados pelo fascnio das cmodas vias

    percorridas pelas aeronaves, e no se fixam em lugar algum. Neste ponto ele deu razo aBernanos que afirmou que preciso criar razes nos lugares visitados.

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    Em todos se pinam, numa linguagem graciosa, clara e leve, o tempero de ticosescritos com o sabor da sutileza mineira.

    Cumpre se exaltem, de fato, sua veia irnica, sua imaginao poderosa e o pleno

    controle que manifesta do picaresco, abarcando os mais diversos temas, levando por vezes oleitor hilaridade, outras s lgrimas pelo notvel lirismo

    Seu Manual de Cincias das Finanas, em 1984, atingiu a 20 edio, tendo sidoatualizada a legislao pelos Professores Jos de Mesquita Lara e Alberto Deodato Filho, ambosda UFMG. Cumpre se ressalte a viso pedaggica deste Mestre inigualvel que foi AlbertoDeodato, o qual, bem dentro da filosofia da educao de Edouard Claparde 8 , dizia, em 1977,que no pretendia que quem estudasse neste Manual soubesse Finanas Pblicas, mas que seaprendesse, neste livro, a estudar Finanas Pblicas. Seu objetivo, portanto, era passar umametodologia que permitisse a seus discpulos uma reciclagem contnua. Oferecia uminstrumental terico que possibilitaria a seus epgonos navegarem com segurana pelos mares

    da cincia e a profisso do manejo do dinheiro, particularmente do dinheiro do Estado.

    Dignos de encmios, aplaudidssimos foram seus opsculos Contra o Divrcio (1951)e O Milagre Brasileiro (1972).

    Como membro da Comisso de Economia na Cmara Federal digno de registro foi seuparecer sobre O depsito em banco estrangeiro.

    Ento diretor do jornal O Arquidiocesano, rgo oficial da Arquidiocese de Mariana,este novo ocupante de sua Cadeira 12 teve oportunidade de estampar vrios de seus artigos,abordando os acontecimentos marcantes na dcada de 1960.

    O Acadmico Danilo Gomes retratou admiravelmente a personalidade de AlbertoDeodato ao declarar que ele foi o sergipano mais mineiro do Brasil, o mais comentado cronistade Minas e dos mais destacados do Pas.

    Era natural de Maruim, que foi um importante centro comercial, industrial e cultural doEstado no final do sculo XIX. Pode-se dizer que Sergipe nasceu em Maruim

    Bem se diz que Sergipe exporta talento. A safra sergipana de todo cultural.Conterrneos de Alberto Deodato foram, por exemplo, Jackson de Figueiredo, Joo Ribeiro,Slvio Romero, Tobias Barreto, Laudelino Freire.

    Seja registrado que o livro de contos sob a epgrafe Sensala, escrito em 1919 mereceude Humberto de Campos este comentrio: O livro de Alberto Deodato escrito em linguagemfluida e desataviada, o que concorre para emprestar mais releve ao seu modo cintilante e suavivacidade em exprimir-se.

    Estas qualidades preciosas de escritor, a saber, a fluidez e a simplicidade envolvente, eleas conservou por toda a vida.

    Em 1920, recebeu o Primeiro Prmio da Academia Brasileira de Letras com o livro decontos Canaviais e, em 1928, Meno Honrosa do mesmo sodalcio com o romance A Doce

    Filha do Juiz.

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    Talento verstil, levou cena no Rio de Janeiro Vaudevilles e uma opereta FlorTapuaia.

    Alberto Deodato foi, sem sombra de dvidas, uma renomada personalidade literria, um

    poltico sem jaa, que dignificou os cargos e as ctedras que conquistou.

    Outro grande poltico o sucedeu: Tancredo de Almeida Neves.

    Tancredo de Almeida Neves (1910-1985)

    A figura de Tancredo de Almeida Neves uma daquelas que excedem qualqueralocuo e rompe a moldura de todo quadro no qual se queira sintetizar sua trajetriaprodigiosa.

    ele de uma estatura moral desmesurada, colossal, ampla demais para um discurso.

    Durante quase cinco lustros sua presena na vida poltica do Brasil foi decisiva e ele senotabilizou como um grande conciliador, dado que tinha o dom de irradiar a paz e a harmoniaonde quer que atuasse.

    uma das glrias de So Joo del Rei (4/03/1910).

    Bacharel em Cincias Jurdicas e Sociais pele Faculdade de Direito da Universidade deMinas Gerais em 1932, fez Ps-Graduao em Finanas e Economia. Cursou a Escola Superiorde Guerra.

    Advogou em diversas comarcas, revelando extraordinria cultura e se firmando comoum dos maiores juristas do pas.

    Na vida poltica, se destacou como vereador e presidente da Cmara em So Joo delRei, deputado estadual de 1946 a 1951, relator da Constituio Mineira de 1947. Deputadofederal de 1951 a 1955. Foi ministro da justia no Governo de Getlio Vargas, estando a seulado no trgico 24 de agosto de 1954. Voltou Cmara dos Deputados de 1963 a 1979.Governou Minas Gerais de 15 de maro de 1983 a 14 de agosto de 1984, tendo sido eleito dia15 de janeiro de 1985, pelo Colgio Eleitoral, para Presidente da Repblica, mas a morte oimpediu de assumir o mais alto cargo do pas.

    Seu estilo era de um vigor marcante e eminentemente literrio, sendo antolgicos seusdiscursos e artigos.

    Inmeras as condecoraes que recebeu das instituies mais representativas do Brasil eseu nome fulgura em vrias Academias de Letras e Institutos Histricos e Geogrficos mas,sobretudo, cintila na AML, que ele tambm tanto prestigiou.

    Seu falecimento, num dos momentos mais cruciais da Histria da Repblica, foi umbrusco sobressalto, mas se constituiu numa revelao intensssima.

    Apoteticas as homenagens que recebeu por todo o pas e ele entrou no panteo dos

    mais famosos personagens do Brasil.

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    Os brasileiros experimentaram e observaram ento, como nunca, o quanto erainconfundvel e insubstituvel este gigante da democracia, cujo nome centralizava uma bandeira,abroquelava um ideal e entusiasmava uma ptria.

    O mundo vira Cambises II marchando poderoso para conquistar o Egito; contemplaraXerxes I atravessando, com seu temvel exrcito, o Helesponto; Anbal transpondo os Alpes ederrotando os romanos; Alexandre Magno, chegando triunfante at o Indo; Csar, conquistandoa Glia. Nas pginas da Histria ficariam registradas outros prstitos vitoriosos como os deCarlos Magno cruzando os caminhos da Europa Medieval; Napoleo Bonaparte impondo apassagem de seus exrcitos nos territrios europeus; Faruque a percorrer todo o Egito; LeopoldoIII aclamado nos territrios belgas; Carol II glorificado na Romnia; Afonso XII, aclamado naEspanha; Pedro I aguardado com honrarias mpares no Rio de Janeiro aps o episdio doIpiranga; Pilsudski, entrando aclamado em Varsvia aps a vitoriosa campanha na Ucrnia.Entretanto, poucas vezes a Histria registra o fato de um morto receber apoteticas aclamaes!

    Ao ensejo de seu fretro, em Belo Horizonte, ali estava era um personagem que se j se foradeste mundo, mas que recebia aplausos conquistados unicamente pelo bem que fizera em vida,pela verdade que pregara, pelas esperanas que infundira, pela espontaneidade dosmanifestantes, pela grandeza do espetculo que ento se via. Triunfo pacfico como convinha aum grande patriota!

    Como mostrou a televiso, pelas ruas da Capital Mineira o entusiasmo popular adejouao paroxismo. Os aplausos estrugiram partindo de pessoas de todas as classes sociais e dos maisdiversos partidos polticos.

    Quando todo um povo que ama as grandezas de seu pas pranteou, sentiu

    profundamente, com tanta comoo, a morte de um cidado como Tancredo Neves, lavrou-sesolenemente a sentena que qualificou sua importncia e canonizou seus cvicos merecimentos.

    Aconteceu com Tancredo Neves o que soe ocorrer com os geniais, os teis, os famosossemeadores da idia, aos ldimos patriotas, ou seja, obreiros do presente se tornam na belaexpresso da baronesa de Stal, contemporneos do futuro.

    Tancredo Neves no engolfou nas sombras da sepultura, mas se pompeou nasincrustaes da memria nacional, fecundando as pginas aurferas da Repblica brasileira emalastramentos de luz.

    Grande a misso cvica que recebeu de Deus, ele a cumpriu com raro descortino. Eleostentou sempre o verdadeiro esprito do poltico mineiro, ou seja, nimo de ferro para dobrarresistncias e um olho que era de lince para observar as circunstncias, ostentando sempre bomtino e bom senso abissais.

    Foi um ideal feito homem e um homem feito personalidade marcante, nunca descurandoos interesses da Ptria.

    Trplice sua imortalidade: nesta Academia Mineira de Letras, aquela que lhe outorgou avoz do povo que jamais o esquecer e a melhor de todas as recompensas, perene nos palcioseternos de Jesus Cristo do qual foi insigne epgono.

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    Na fronte serena do inigualvel estadista, a aurola de um literato primoroso que era umcristo admirvel e admirado, compendiando aos olhos maravilhados de seus concidados todosos primores da honradez, da firmeza, da lealdade, da prudncia.

    Tancredo Neves, como poucos, captava a trepidao do corpo social, o borbulhar dasaspiraes populares a desejar melhores tempos e a cata de maiores bens. Isto ele transfundiaem suas inflamadas peas oratrias e escritos eivados de um civismo inigualvel

    Com razo Carlos Figueiredo entres os cem discursos histricos mais relevantes naHistria Universal publicou o que Tancredo Neves pronunciou dia 15 de janeiro de 1985,quando foi eleito Presidente da Repblica, no bojo de uma campanha que encerrou o perodomilitar. Nesta orao antolgica, conceituou o que a ptria, a democracia e qual era seu planode governo e conclamava: No vamos nos dispersar. Continuemos reunidos, como nas praas

    pblicas, com a mesma emoo, a mesma dignidade e a mesma deciso. Se todos quisermos,dizia-nos h quase 200 anos Tiradentes, aquele heri enlouquecido de esperana poderemos

    fazer deste pas uma grande Nao. Vamos fazer!

    Em sntese: Orador, sua palavra foi soberana; Estadista, sua influncia foi inegvel;Cidado sua vida foi modelar e na palavra, na influio e na existncia foi um patriota imortal,um acadmico luminar.

    Foi a ele quem sucedeu Olavo Drummond.

    Dever do novo Acadmico

    Assim, procurar no deslustrar a tradio literria da Cadeira nmero 12, ocupada porto eminentes vares, h de constituir a preocupao central deste novo acadmico.

    Misso do Literato

    Vivemos uma fase de transio histrica. Este incio de milnio exige muita reflexo ecivismo, sobretudo daqueles que fazem parte de Cenculos Literrios como este.

    Reflexo sobre o fenmeno da acelerao da histria, com todas as conseqncias boase funestas que o progresso cientfico e tecnolgico tem trazido para os novos tempos.

    Uma cosmoviso correta leva a uma mundividncia perfeita que exige muitodiscernimento daqueles que so referncia por lidarem no mundo literrio.

    Neste, com efeito, a troca de idias se d de uma maneira profunda e tais idias sotransmitidas para a sociedade por tantos veculos de que se servem os cultores dos vrios ramosda Literatura.

    O escritor, o poeta, o orador ultrapassam sua subjetividade e plasmam a mentalidade deseus leitores e ouvintes com as mensagens que fluem l do escrnio de sua interioridade,fulgindo em livros, revistas, jornais, palestras, entrevistas.

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    a magia da comunicao. Esta, porm, quando revestida dos adereos da LnguaPtria bem cultivada, por meio de sinais, signos ou smbolos, se torna, de fato, a modeladora dasconscincias de uma maneira ainda mais eficiente e intensa.

    Com efeito, de acordo com seu perfil caracterolgico, nas vrias provncias daLiteratura, com o uso esttico da linguagem um acadmico fascina e arrasta, muitoinfluenciando.

    A vida do ser racional recebe luzes especiais vindas dos poetas e dos escritores que setornam fontes de otimismo, esperana, abrindo risonhos horizontes e levando tantos aospalcios do belo ou s plancies verdejantes das certezas por entre o fluir inexorvel do tempo.

    O bom literato responde aos anseios humanos de uma sinergia de conhecimentosrepassados maviosamente aos arpejos das harmonias artsticas.

    Este o condo dos que lidam com a Literatura: sabem simplificar as questescomplicadas, ultrapassando a epiderme do trivial e, assim, enlevando os espritos e iluminandoas veredas do cotidiano.

    Hoje, mais que nunca, num mundo plural, os literatos tm um campo imenso pelafrente, dada a maleabilidade com que tratam os assuntos mais complexos.

    Esta , realmente, a hora do pluralismo das idias e, portanto, de uma atividade profcuados que militam numa Academia de Letras.

    H um significado profundamente sugestivo e de uma extraordinria intensidade naao de quem escreve e fala com preciso.

    Quantos seres racionais, infelizmente, esto fechados em si mesmos, insulados em seupequeno mundo, encastelado em seu pequeno Eu e, por isto mesmo, longe de usufrurem dasmaravilhas espargidas pelo Criador mundo todo.

    Cabe ao Literato convocar a todos para uma atitude de confiana em si mesmo e deamor universal, fora da vazia manso do egosmo.

    A Literatura abre para homens e mulheres o conhecimento do Universo e de si mesmo,ostentando as portas da Verdade.

    A atividade literria, na sociedade, um obsquio eficaz, vindo de encontro aspiraohumana a qual se acha no interior das conscincias, qual o anseio pela descoberta plena daVerdade.

    Em nossos dias, sobretudo, preciso anunciar, defender e difundir a confiana nasincomensurveis possibilidades do ser racional, para que todos tenham uma filosofia de vidacoerente, dando rumos acertados ao mundo e a toda a histria dos homens.

    Muitos perderam o sentido ltimo da vida e a razo de ser no itinerrio que deveconduzir cada um at o seu Princpio Supremo.

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    Agostinho, o Mestre do Ocidente, assim se expressou num momento de sublimeinspirao: Vs nos fizeste para Vs, Senhor, e o nosso corao no est em paz, Senhor,enquanto no repousa em Vs (Confisses 1,1).

    Eis a uma tarefa qual no pode se furtar um Acadmico: viver e testemunhar demaneira sbia, competente e eficaz a relao entre o contingente e o Necessrio, entre o finito eo Infinito, entre o tempo e a Eternidade.

    O lugar em que cada literato vive um espao privilegiado para difundir o valo r davida, colocando no altar da conscincia do prximo aquela atitude em face dos problemashumanos ou sociais que consiste em consider-los passveis de uma soluo global positiva, doque pode resultar uma maneira de ser ativa e confiante que vivifica e redime.

    Num contexto de tantas controvrsias e deturpaes isto se faz ainda mais urgente.

    A cultura hodierna tende a reduzir o horizonte do conhecimento ao material e afasta oser racional da realidade ltima.

    Da o cuidado intelectual e espiritual para com o outro e uma ao eficaz de animaofiducial que se torna uma iluminao para as almas decepcionadas pela materialidade reinante.

    A prova de tudo isto a comemorao que houve na Frana do quarto centenrio dePierre Corneille (1606-1684) o grande literato que, em 1647, foi recebido na AcademiaFrancesa.

    Por suas obras maravilhosas poticas e religiosas, por seu teatro e suas tragdias ele setornou um dos grandes gnios literrios de todos os tempos, um dos smbolos da culturafrancesa a honrar o ser racional de todas as pocas!

    o influxo extraordinrio da Literatura!

    Num contexto no qual se multiplicaram os meios de comunicao, mas no qual falta acomunicao autntica, ou seja, aquela que no resvala para o vazio sonoro, o espao precisa serocupado, no h dvida, pelos bons escritores e oradores que podero impedir estes absurdosmetafsicos que so homens e mulheres sem esperana e imersos em frustraes por queperderam o sentido da existncia.

    dever dos membros de uma Academia como esta empunhar, de fato, a chave aurferaque abre os pramos de uma autntica concepo da importncia do ser pensante dentro de umprojeto existencial de dar sentido ao viver. mister assim tornar os outros cientes e conscientesde suas possibilidades de auto-realizao.

    Tal , alis, o papel da Literatura, que lana o ser racional nas paragens da beleza que seu fim transcendente supremo.

    No se entra, ento, apenas numa relao de identificao intencional ou espiritual como mundo exterior, com as maravilhas da natureza.

    Como todas as artes, a Literatura implica, por si mesma, uma espcie de sortilgio, puro

    e esttico, que lana o ser pensante nos planuras de realidades luminosas.

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    O Literato um iluminado que aponta a outros caminhos lucferos, plenos de paz,serenidade, imperturbabilidade.

    Faz vislumbrar os horizontes luminosos da fraternidade e do amor que vivificam, unem

    e afastam todo tipo de violncia.

    Os objetos do prazer estticos enlevam, dignificam, desmaterializam.

    O poeta ou o prosador tm olhos de lince para contemplar melhor o esplendor de umaflor, a luminosidade crepuscular do Sol ou para captar o cntico dos pssaros, enfim, paraperceber todas as maravilhas que o Criador espalhou por toda parte.

    Os grandes e magnficos espetculos oferecidos pela natureza, que provocam a emoodo sublime, so retratados de uma maneira imponente pelos vates e escritores nos mais diversosramos da atividade literria.

    O Literato, neste sentido, uma ponte que liga o Mundo e o Eu, dado que sabe capturaro belo para o transmitir a outrem. Esta inteno prtica de comunicao marca do bom literato.O resultado a ser produzido no esprito do leitor inteiramente invisvel, mas dotado derealidade, desabrochando-se em novos caudais de idias.

    Ao lado disto, a empatia que o autntico literato tem com os seres humanos o leva aapreender detalhes de situaes que passariam at despercebidas aos cientistas sociais. Estapercepo do microcosmo que o homem, inserido no universo, com todas as reaespsicossomticas que o caracterizam, que movem inclusive a imaginao do artista das Letras.Deste modo, surgem os contos, os romances, as novelas e tantas outras composies que

    atraem, fascinam e se tornam best-sellers, fluindo de uma fecunda subjetividade criadora.

    que, quanto mais a percepo artstica, que anima o literato, apreende e manifesta aface interna das coisas, tanto mais comporta, simultaneamente, uma revelao e umamanifestao do Eu humano, donde a sintonia com o leitor.

    o grandioso mistrio da epifania da razo humana por meio da linguagem,caracterstica fulgente do ser inteligente.

    A harmonia dinmica e a coerncia intelectual so apangio do verdadeiro Literato, oqual no apenas toca os sentidos, mas deixa sempre uma mensagem a apontar as veredas da

    eutimia. Tudo isto efeito da concentrao e do repouso rtmicos que trazem consigo as jiasliterrias. Estas fazem, de fato, a natureza resplandecer em sinais e em significaes e as aeshumanas ganham um sentido realmente arrebatador.

    O Literato faz transcender a pura subjetividade e atrai os espritos para umconhecimento mais profundo de tudo que rodeia o ser racional at mesmo quando induz o leitora sonhos surpreendentes. Adite-se, porm, que o literato tanto mais sublime quanto mais suaarte profundamente arte, ou seja, fruto de sua capacidade criadora de expressar ou transmitirsensaes ou sentimentos: mas dotada de virtude simblica vigorosa e plena de luz.

    Vale, realmente, a produo literria de acordo com seu poder sugestivo.

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    O homem deste incio de milnio tem seu espao muitas vezes preenchido porsignificados prontos que no satisfazem suas mais recrescentes aspiraes. Disto resulta umvcuo que fonte de angstia existencial.

    tarefa do Literato preencher o vazio ocasionado pelas solues acabadas atravs dovigor de sua linguagem repleta de mensagens que enlevam e magnetizam, mas que respondems mais profundas indagaes do ser pensante.

    Papel poltico do literato

    Por tudo isto, muito se tem focalizado o papel poltico do literato. Com efeito, a polisdepende do valor de seus cidados e enorme, como foi mostrado, a influncia da Literatura naformao das pessoas.

    Atravs dos tempos, muitos homens de letras, como Lamartine e Vitor Hugo na Frana,exerceram um papel poltico importante no contexto histrico em que viviam.

    O romantismo salientou esta concepo da misso do poeta. A primeira expresso econfirmao desta tese est no Moiss, de Vigny. Vemos, com efeito, nesta composio poticaum personagem religioso, o profeta que tocado por Deus se torna guia dos Hebreus.

    Vitor Hugo acentuou mais ainda a tarefa poltica do literato No prefcio de Voixintrieures, ele j havia destacado a tarefa sria do poeta, de sua misso civilizadora. No poemaFuno do poeta, da coleo Les Rayons et les Ombres, de 1840 escreveu : Deus o quer: quenos tempos difceis cada um trabalhe e cada um sirva. Infeliz daquele que diz a seus irmos: Euretorno para o deserto! Desditoso o que mete suas sandlias, quando as iras e os escndalostormentam o povo agitado! Desonra ao pensador que se mutila e se manda, cantor intil, pelaporta da cidade! [...] O poeta nos dias de desgraa vem preparar dias melhores [...] Por que a

    poesia a estrela que conduz a Deus reis e pastores!

    O mesmo se pode dizer de todo e qualquer prosador. Profeta, anunciador do futuro, oescritor em geral no pode nunca se subtrair a sua funo de espalhar a esperana, o otimismo,enlevando e maravilhando os coraes com tudo que advm l de seu ntimo.

    de se notar que obras que abordam a arte da poltica no exercem a mesma influnciaque os textos literrios. que aquelas so muitas vezes frias, tericas, convencionais, ao passo

    que os ltimos lanam mensagens por entre o burburinho das experincias humanas, fluindo dorio da vida.

    To acentuada a atuao do escritor que, muitas vezes, considerado subversivo e,sobretudo em tempos de ditadura, jornais e livros so censurados.

    O literato, com sua sensibilidade flor da pele, tem uma acuidade poltica muitos maisprofunda que os demais contemporneos. Muitas vezes, ironicamente, sub-repticiamente,denuncia erros e chantagens, desmascarando as atitudes dos sofistas.

    Clebres o Jaccuse de Zola, Les Chtiments e Les Misrables de Vitor Hugo, almdas obras dos filsofos das Luzes.

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    O que ocorreu no Brasil no perodo de 1964 a 1968 outra prova do influxo poltico doliterato que causa temor e terror nos regimes de exceo.

    Assim que o Ministrio da Educao fez um expurgo nas bibliotecas e queimou livros

    de Ea de Queiroz, Graciliano Ramos, Guerra Junqueiro, Jorge Amado, Paulo Freire, DarcyRibeiro e outros.

    O verdadeiro literato tem, de fato, o condo de pensar a vida da cidade e descobrirverdades teis humanidade.

    ugure e mago, ele decifra o futuro e pode ler as foras do progresso que vo civilizar omundo.

    Como poucos, desperta o sentimento nacional e de liberdade. Que se lembrem osescritos antiescravistas produzidos no Brasil Imprio como as poesias de Castro Alves e os

    inflamados discursos de Jos Bonifcio de Andrada e Silva.O autntico literato capaz de, no apenas fomentar o esprito cvico, como tambm faz

    com que cada um sinta como bom viver e como as circunstncias da existncia tm tantosignificado. Sua inspirao transmite el vital.

    Ele sabe dar forma s preocupaes, aos cuidados, s esperanas de seuscontemporneos.

    Quando o contexto histrico se torna trgico, na hora das convulses polticas, osescritores tm colocado sua arte a servio da Verdade e da Liberdade sob mil formas.

    Seus tormentos ntimos se sintonizam com os de seus coevos e da o fascnio da obraliterria sobretudo nestes instantes cruciais. Livros e artigos se tornam incandescentes!

    Esta vivacidade d, inclusive, perenidade s obras literrias e levam os historiadores aencontrarem nelas pistas preciosas para anlises profundas.

    Quando se torna um militante, o bom literato repleta os anais dos parlamentos quepassam a guardar, como prolas preciosas, discursos que honram e glorificam as Letras Ptrias ea cultura de uma nao, despertando o civismo e apontando solues oportunas . Parlamentaresdo naipe de um Rui Barbosa, Duque de Caxias, Juscelino Kubitschek, Afonso Arinos, PedroMaciel Vidigal.

    o civismo sublimado pela arte influenciando o destino de uma nao e at do mundotodo.

    Alis, seja dito que foi um papa polons que se distinguira tambm nas Letras quecontribuiu com seus maravilhosos escritos para a queda do muro de Berlim e transformou ahistria do final do sculo XX e incio do novo milnio.

    Atravs da palavra bem trabalhada, possvel dar uma explicao ltima do mundo semobscuridade, sem fugas, com fidelidade s exigncias humanas.

    Por tudo isto que so to numerosos os polticos nas academias.

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    Aqui mesmo, o presidente da AML um dos expoentes da vida pblica deste pas,poltico estreme, inteirio e de bronze, de autoridade indiscutvel e competncia sem rival, tendo

    j exercido importantes cargos pblicos, como Secretrio de Estado e Ministro da Indstria eComrcio. Alm de vrios mandatos de deputado estadual e federal, senador da Repblica e

    prefeito da cidade de Minas Novas9.

    Este acadmico est sucedendo ao ilustre Prefeito de Arax, que sucedeu a um dosbaluartes da democracia nesta nao, o qual aqui entrou depois do fundador da UDN.

    Embora no militando na poltica partidria, toda ao de um sacerdote eminentemente poltica e quem vai ocupara a Cadeira 12 j publicou centenas de artigos deorientao cvica, sobretudo em poca das eleies quer, antes, no Estado de Minas, quer agorano jornal O Tempo e em diversos outros peridicos e livros e na internet.

    Nada, portanto, mais justo do que proclamar altissonantemente o lema desta Academia:

    Scribendi Nullus Finis,a bem da ptria e de seus cidados, nunca falta o que escrever.

    Concluso

    Cumpre finalizar exaltando a fecunda gesto do Dr. Murilo Badar, que ampliousignificativamente a presena da Academia Mineira de Letras em todo o pas e no exterior,merc da implantao de projetos inovadores e programaes culturais do mais alto nvel,continuando a obra imortal do saudoso, jamais esquecido, Dr. Vivaldi Moreira.

    Novas conquistas rumo a um porvir sempre fulgurante.

    a este destino ao qual cumpre a todos os acadmicos ser fiel, na alheta deantepassados que sempre procuraram evitar princpios estreis, mas tiveram sempre vistas largasque levam a realizaes perenes.

    A cultura brasileira, graas ao atual e dinmico Presidente, h de se enriquecer cada vezmais e a AML deixar sempre sua marca, seu peso institucional, abrindo-se crescentemente aum louvvel dilogo com as demais entidades culturais, em benefcio de Minas e do Brasil, semnunca deixar de ter em mira a humanizao da sociedade em geral.

    Agradecimentos renovados a todos os Acadmicos.

    Renovados agradecimentos a todos os senhores Acadmicos, s Autoridadeseclesisticas, civis e militares aqui presentes, aos parentes e amigos. Hino gratulatrio especial aRamom Carlos Fernandes, Representante do Senhor Prefeito Municipal de Viosa, RaimundoNonato Cardoso, e aos representantes da venervel e veneranda Cmara Municipal de Viosa,Vera Lcia Saraiva, Cristina Fontes e Valter Batalha. Viosa, cidade querida e bem-amada, queviu nascer o pendor literrio deste novo Acadmico na escola primria da notvel professoraviosense, Argina Silvino Ferreira, a qual, desde os primeiros anos inoculava no esprito de seusalunos que amar a lngua ptria um ato de civismo. Nem poderia deixar de mencionar oviosense Dr. Danilo de Castro, Representante do Senhor Governador do Estado de MinasGerais, Dr. Acio Neves e o Proco de Santa Rita de Cssia, de Viosa, Pe. Paulo DionQuinto, bem como o Pe. Marcelo Moreira Santiago, Administrador Diocesano e o SenhorBispo Emrito de Oliveira D. Francisco Barroso.

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    Sado, outrossim, ao Pe. Dr. Joo Batista Megale que receber este seu confrade nestaAcademia.

    A todosab imo corde penhorados agradecimentos.

    1 Epgrafe do Eplogo do Livro IV de Fbulas de FedroNunca falta o que escrever.

    2 Franois TRUFFAUT (Paris, 6 de Fevereiro de 1932 Neuilly-sur-Seine, 21 de outubro de 1984) foi um

    cineasta francs. Ele foi um dos fundadores do movimento nouvelle vague e um dos maiores cones da

    histria do cinema do sculo XX. Em quase 25 anos de carreira como diretor, Truffaut dirigiu 26 filmes.

    Conseguiu conciliar um grande sucesso de pblico e de crtica na maior parte deles. Os temas principais

    de sua obra foram as mulheres, a paixo e a infncia. Alm da direo cinematogrfica, Truffaut foi

    tambm roteirista, produtor e ator.

    3Obras Poticas de Incio Jose de Alvarenga Peixoto, Rio de Janeiro, B.L.Garnier, 1865.

    4 LAPA, M. Rodrigues [1960]. Vida e obra de Alvarenga Peixoto. p. ivi.

    5Eis algumas obras publicadas: Silva Jardim (Cia. Editora Nacional Brasiliana - So Paulo, 1936); Os

    Andradas na Histria do Brasil (Grfica Queiroz Breiner Belo Horizonte, 1937); A Escravido no

    Brasil (Civilizao Brasileira S/A, - Rio de Janeiro, 1939); Bagana Apagada contos (Editora Guara,

    Curitiba, 1940); A InflunciaSocial do Negro Brasileiro (Caderno Azul n 13 Editora Guara, Curitiba,

    1943); Ea e Camilo (Caderno Azul n 21, Editora Guara, 1945); Jlio Ribeiro (Cadernos da Provncia

    n 2 Livraria Cultura Brasileira Ltda Belo Horizonte, 1945); Antnio Torres (Caderno Azul n. 31

    Editora Guara Curitiba, 1948); Os Ciganos em Minas Gerais (Movimento Editorial Panorama

    Edies Joo Calazans Belo Horizonte, 1949) e Efemrides Itaunenses (Coleo Vila Rica EdiesJoo Calazans Belo Horizonte, 1.951). cf. CHAVES, Pepe . PAGINA OFICIAL DE JOO DORNAS FILHO,

    mantida por Via Fanzine,www.viafanzine.jor.br, Itana - Minas Brasil.

    6Pgina oficial deJoo Dornas Filho.

    7 Editora Delta S.A. Rio de Janeiro, vl 5 p.2268.

    8 Edouard CLAPARDE. A escola sob medida. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura S.A. p.200.

    9 Mandatos j exercidos pelo Dr. Murilo Badar: Deputado Estadual de 1959 a 1963: Deputado Estadual

    de1963 a 1967; Deputado Federal de 1967 a 1971, de 1971 a 1975, de 1975 a 1979; Senador da

    Repblica de 1979 a 1987, Prefeito de Minas Novas de 2005 a 2006.

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    OBRAS CONSULTADAS

    Livros

    BERNANOS, G.La Culture franaise et les enfants brsiliens . Bul. de la Soc. des Amis de G.B..,

    aot,1953. In: Starling e Macial, Cours de Franais. Belo Horizonte: Viglia, 1972.

    BIBLIOGRAFIA DE HISTRIA do Brasil: 10 e 20. Semestres de 1952. Rio de Janeiro.Departamento de Imprensa Nacional.

    DEODATO, Alberto. Nos tempos do Joo Goulart. Belo Horizonte: Itatiaia, 1965.

    DORNAS Filho, Joo. Itana Contribuio para a Histria do Municpio. Belo Horizonte:Grfica Queiroz Breiner, 1936.

    DORNAS Filho, Joo. O Ouro das Gerais e a civilizao da Capitania. So Paulo: Cia. Editora

    Nacional, 1957.DORNAS Filho, Joo. Manual de Cincia das Finanas. So Paulo: Saraiva, 1984.

    DRUMMOND, Olavo. Noite do Tempo. So Paulo: EDART, 1976.

    DRUMMOND, Olavo. Ordens do Cardeal e outras histrias. Rio de Janeiro: SalamandraEditora, 1984.

    DRUMMOND, Olavo. Ensaio Geral: Poemas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

    DRUMMOND, Olavo. O vendedor de estrelas: Contos. So Paulo: Arx, 2003.

    FERRAROTTI, Franco. Histoire et histoires de vie -La mthode biographique dans lessciences sociales. Paris: Mridiens Kliencksieck, 1990.

    FIGUEIREDO, Carlos. 100 Discursos histricos. Belo Horizonte: Editora Leitura,2002.

    HOLANDA, Srgio Buarque de. Antologia dos Poetas Brasileiros da fase colonial. Volume II.Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1952.

    JOS, Oiliam. Historiografia Mineira. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1987.

    LAPA, M. Rodrigues. Vida e obra de Alvarenga Peixoto. Rio de Janeiro: INL, 1960.

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    LVILLAIN, Phillipe . Les protagonistes: de la biographie in Pour une histoire Politique.Paris: Seuil, 1988.

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    LORIGA, Sabine. La biographie comme problme in REVEL, Jacques [dir.] Jeux dchelles: dela micro-annalyse lexprience. Paris: Seuil/Gallimard, 1996.

    LYRA, Pedro. Utiludismo: a socialidade da arte. 2a edio, revista. Fortaleza: Edies UFC,1982.

    NEVES, Tancredo Almeida. Discurso in: FIGUEIREDO, Carlos. 100 Discursos histricos. BeloHorizonte, Editora Leitura, 2002.

    MARTINS, Wilson. Histria da Inteligncia Brasileira. So Paulo: Cultrix.

    MORAES, Rubens Borba de. Bibliografia brasileira do Perodo Colonial: catlogo comentadodas obras dos autores nascidos no Brasil e publicadas antes de 1808. So Paulo: IEB, 1969.

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    RODRIGUES, Jos Honrio. Teoria da Histria do Brasil. So Paulo: Cia. Editora Nacional,1969

    RIPERT, Pierre. Dictionnaire anthologique de la Posie Franaise. Paris: Maxi-Livres, 2002.

    SALLES, Fritz Teixeira de Salles. Associaes Religiosas no Ciclo do Ouro. Belo Horizonte:UFMG, 1963.

    SODR, Nlson Werneck. O que se deve ler para conhecer o Brasil. Rio de Janeiro:Mec/INEP, 1960.

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    SOUZA, Miguel Augusto Gonalves de. Histria de Itana. Belo Horizonte, 1986.STEPHANOU, A. A.. Censura no Regime Militar e militarizao das artes. 1. ed. PortoAlegre: EDIPUCRS, 2001. v. 1000.

    Jornais

    OARQUDIOCESANO, rgo oficial da Arquidiocese de Mariana. Mariana: Editora Dom Vioso,1959 a 1964.

    ESTADO DE MINAS, Belo Horizonte, 16.05. 2006. p. 11.

    Revistas

    REVISTA DA ACADEMIA Mineira de Letras. Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 2004, 2005 e2006.

    REVISTA DO INSTITUTO Histrico e Geogrfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: ImprensaOficial, Volume VI, 959.

    REVISTA DO ARQUIVO Pblico Mineiro, Belo Horizonte: Imprensa Oficial, Ano XXIX,Abril/1978.

    Sites

    CHAVES, Pepe . Pgina Oficial De Joo Dornas Filho, mantida por Via Fanzine, Acesso a, Itana - MinasBrasil.

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    APNDICE

    ALVARENGA PEIXOTO

    A D. BRBARA HELIODORA SUA ESPOSA

    (remetida do crcere da ilha das cobras)

    Brbara bela,Do Norte estrela,Que o meu destinoSabes guiar,De ti ausenteTriste somenteAs horas passoA suspirar.

    Por entre as penhasDe incultas brenhasCansa-me a vistaDe te buscar;Porm no vejoMais que o desejo,Sem esperanaDe te encontrar.

    Eu bem queriaA noite e o diaSempre contigoPoder passar;Mas orgulhosaSorte invejosa,Desta fortunaMe quer privar

    Tu, entre os braos,Ternos abraosDa filha amadaPodes gozar;Priva-me a estrelaDe ti e dela,Busca dous modosDe me matar.

    Apud HOLLANDA, Srgio Buarque de. Antologia dos Poetas Brasileiros da fase colonial .Volume II. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1952. p. 41.

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    CARLINDO LELLIS

    EVOCAO DE OURO PRETO

    Dessa cidade nunca me aproximei sem a mais funda emoo. A fama de sua grandeza, suastradies, sua histria, seu prestgio literrio engrandeceram-na desde cedo na minhaimaginao.

    Ao avist-la, do alto das serranias, outrora, nos meus primeiros anos, nela entrando pelasmontanhas do norte, depois de jornadear lguas sem conta pelos chapades sonoros, ao tropeardas montanhas, por frguas e carrascais, vales de gua escachoante, catas abandonados, barrocase lavras decadentes, rinces que uma natureza atormentada marcou com selo bizarro, terrasrequeimadas e corrodas de remotas eroses geolgicas, em que tudo fala ao esprito e encanta avista, a cidade surgia de sbito, quase a meus ps como a surpresa de uma cenografia risonha

    em que, pelos pendores dos montes, de encostas em campos pardacentos e mosquiados, casasbrancas pintalgam a paisagem, velhos monumentos lembram barbacans, ameias e adarvas decastelos mortos, e as flechas das igrejas recordam catedrais, e baslicas que a poesia do tempoempana e sombreia,como um vu sobre gravura antiga que revive distantes,esmaecidas notempo. [...]

    Ruas tortuosas acompanham as ravinas das encostas, e, nos seus pavimentos, os pedregaisressoam sob os passos que vo acordando, na modorra decrpita do casario triste, os sonsadormecidos, os ecos do antigo alarido, quando os alvies e os almocrafes orquestravam osalalis do trabalho e o metal luzia no mundo das bateias, como a areia fulva de um penhasco deouro esmigalhado.

    Sob as arcadas das pontes de velha cantaria corre a gua clara e viva, e cada vale uma gloga

    virgiliana, sem pastor e avena, velada pela sombra de Dirceu.LELLIS, Carlindo in Augusto de Lima: sua vida e sua obra. Belo Horizonte: Velloso S.A,1959. p.7-8.

    JOO DORNAS FILHO

    O MINEIRO E A AGRICULTURA

    Exauridas as riquezas aluvinicas que fizeram da Capitania das Minas, durante um sculo, orecanto mais rico de Portugal e suas conquistas, foi para a agricultura que se voltaram, assim, osremanescentes da minerao, retornando ao seu verdadeiro clima social o homem que nasceuem terras amplas e frteis.

    O mineiro visceralmente um homem rural.

    Afonso Arinos virava e mexia pelos centros civilizados do Velho Mundo e voltavaperiodicamente a rever a selva e os campos natais, como se movido por uma necessidadefisiolgica. E comum s pessoas que residem nas grandes cidades fugir semanas e meses dobulcio do asfalto para a tranqilidade virgiliana das fazendas mineiras.

    uma fatalidade psicolgica movida pela condio geogrfica de Minas. Por isto, o seu amorpela agricultura o segredo de, mesmo contra o desejo do governo portugus, sermos um povode capacidade invejvel para as fainas rurais.

    Ainda nas cidades a preocupao do mineiro, mesmo de profisso diferente, a agricultura.Antnio Felcio dos Santos, mdico e jornalista do Rio, inventava em fins do sculo passado

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    uma aparelho para dissecao do caf, obedecendo ao princpio das torres de dessecao dolpulo na Blgica e na Alemanha. E o conde de Iguassu, irmo do marqus de Barbacena,escrevia ao Jornal do Comrcio em 5 de Maro de 1842 um a carta, na qual comunicava asoluo de um problema agrcola de indisfarvel importncia, que a cultura da alfafa ou

    luzerna do Chile.DORNAS Filho, Joo. O Ouro das Gerais e a civilizao da Capitania. So Paulo: Cia. EditoraNacional, 1957. p.90-92

    ALBERTO DEODAT0

    A CARIDADE

    Quando era meu aluno de Direito Internacional Pblico, e dos mais brilhantes que passaram

    pela Faculdade, Edgar Mata Machado me presenteou com um livro. De quando em quando oreleio. O autor Gaston Fessard. O livro se chama Pax Nostra. a mais bonita dissertaosobre a Caridade. um mundo de pensamento cristo sobre essa grande virtude.

    A caridade individual. A caridade nacional. E a caridade entre as Naes. A caridade com osemelhante prximo e o remoto. Basta dizer que ele assenta os postulados de DireitoInternacional nessa grande virtude. No a esmola. Essa virtude rudimentar. Mas a caridadetem maior amplitude. A compreenso. A tolerncia. O amor. A ordem. O trabalho. Opensamento contnuo e intransigente de que o homem no vive s. Nem vive por si nem para si.Existe porque social. No menor ato, no menor gesto, ele precisa do seu semelhante. Dotrabalho de outrem. Da colaborao. Do entendimento. Da convico de que so humanos todosos erros. Todas as quedas. Todas as horas de deciso entre a sua conduta e o abismo, que

    aparece sob todas as formas. A lembrana desse livro admirvel me veio agora diante de doisconvites. Um, inaugurao da sede da Fundao Dom Bosco. Outro, sobre o Servio de ObrasSociais, com a sigla S. O. S.

    No sei de organizaes que meream maior solidariedade humana. A primeira se refere aosexcepcionais, de 4 a 14 anos de idade. Para divulgar as vantagens da educao especializada.Manter as oportunidades educativas e assistenciais, firmando convnios com as instituiesoficiais e particulares. O segundo, o S. O. S. com programa notvel de assistncia permanenteaos necessitados. No dando a esmola deprimente. Mas assistncia, preservando a dignidade davida. Recuperando as famlias desajustadas. Educando a criana travs do prprio pai.Recuperando todos os elementos e entrosando-os na normalidade social. Servio de recambiosistemtico de indigentes provindos de outros lugares e impedindo a permanncia de elementosindesejveis de outros municpios, aps srias pesquisas.

    Ambas as instituies tm o mais profundo significado humanitrio. Exercem a caridade nosentido verdadeiramente cristo da virtude, que , a meu ver, a maior virtude do homem.

    Estado de Minas, 23-4-966. Transcrito em O Arquidiocesano, Mariana, Editora Dom Vioso,17-07-1966, n. 357, Ano VII, p.3.

    TANCREDO DE ALMEIDA NEVES

    A PTRIA, O ESTADO E A LEI

    No h Ptria onde falta democracia. A Ptria no a mera organizao dos homens emEstados, mas sentimento e conscincia, em cada um deles, de que pertencem ao corpo e ao

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    esprito da Nao. Sentimento e conscincia da intransfervel responsabilidade por sua coeso eseu destino.

    A Ptria escolha, feita na razo e na liberdade. No basta a circunstncia do nascimento paracriar esta profunda ligao entre o indivduo e sua comunidade. No teremos a Ptria que Deus

    nos destinou enquanto no formos capazes de fazer de cada brasileiro um cidado, com plenaconscincia dessa dignidade.

    Assim sendo, a Ptria no o passado, mas o futuro que construmos com o presente; no aaposentadoria dos heris, mas tarefa a cumprir; a promoo da justia, e a justia se promovecom liberdade.

    Na vida das naes, todos os dias so dias de histria, e todos os dias so difceis. A paz sempre esquiva conquista da razo poltica. para mant-la, em sua perene precariedade, que ohomem criou as instituies de Estado, e luta constantemente para aprimor-las.

    No h desnimo nessa condio essencial do homem. Por mais pesadas que sejam as sombrastotalitrias, ou mais desatadas das paixes anrquicas, o instinto da liberdade e o apego ordem

    justa trabalham para estabelecer o equilbrio social.No conceito que fazemos do Estado democrtico h saudvel contradio:quanto maisdemocrtica for uma sociedade, mas frgil ser o Estado. Seu poder de coao s se estende nocumprimento da lei. Quanto mais fraterna for a sociedade, menor ser a presena do Estado.

    A primeira tarefa de meu governo a de promover a organizao institucional do Estado. Se,para isso, devemos recorrer experincia histrica, cabe-nos tambm compreender que vamoscriar um Estado moderno, apto a administrar a Nao no futuro dinmico que est sendoconstrudo.

    Apud FIGUEIREDO, Carlos. 100 Discursos histricos. Belo Horizonte, Editora Leitura, 2002p.383.

    OLAVO DRUMMOND

    SONHAR PRECISO

    Se aos teus sonhos outros sonhos tu somaresSob a espera da presena do irreal, porque ests alm dos patamaresDos arautos da frieza universal

    Continua o teu sonho e no te ponhas

    Na linhagem dos ptreos, sem sorriso,Pois os anjos te assistem enquanto sonhasE na terra te preparam um paraso...

    Benditos sejam os sempre sonhadores,Fiis aos passes de mgicos atores,Que transformam o devaneio em realidade

    Quem no sonha do seu cho no tem cimes, incapaz de lutar contra os costumesQue corrompem os ideais de liberdade...

    Apud MORTARI, Ana Maria Lisboa, in: . A despedida do poeta de

    Higienpolis: Olavo Drummond, Crnica datada de 25/5/2006.

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    A NOSSA SENHORA MINHA

    s a Nossa SenhoraDe minhas tristes ausncias,

    Dos meus tdios de agora,De minhas loucas carncias

    Se fazes milagres, no juro,Nem afirmo sem saber,Mas tens a chama divinaDe fulminar o sofrer

    Morreram contigo e por tiOs meus amargos silnciosE na glria de um instanteAt meu tdio morreu

    Criaste em mim a alegria,Plantaste um roseiral de sorrisos

    No deserto do meu eu

    Obrigado, Senhora Minha,A quem no se ama a esmoQuero-te, assim, como s,Redentora de mim mesmo

    Olavo Drummond. Ensaio Geral: Poemas. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, p.174-175, 1984.

    ____________________

    O texto deste discurso de posse foi revisado por Pblio Athayde, Revisor Acadmico eLiterrio, ex-aluno do autor, Cn. Jos Geraldo Vidigal de Carvalho, no Instituto deCincias Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto.

    PBLIO ATHAYDE, Historiador, Cientista Poltico, Educador e Artista Plstico. Graduou-seem Histria (Licenciatura) no ano de 1987, pela Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP,tendo sido aproveitado, logo em seguida, como professor substituto daquela universidade.Ainda em Ouro Preto, onde nasceu, participou de diversos Festivais de Inverno, cursos eeventos nas reas de Museologia, Arquivstica, Histria de Minas Gerais e da Arte - conhecendobastante de perto os acervos documentais histricos da regio de Ouro Preto e Mariana.Lecionou ainda na Universidade Federal do Esprito Santo, na Unio de Negcios eAdministrao (UNA), na Faculdade de Educao da Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG), na Faculdade de Par de Minas (FAPAM). A principal atividade exercida atualmente

    a de Revisor Acadmico e Literrio. Tem formao em Cincia Poltica pela UFMG evivncia de dirigente em educao extra-escolar, programas de meninos de rua, vida ao ar livre,educao alternativa e desenvolvimento e integrao social oriundas de quinze anos deatividades no escotismo. Autodidata em Filologia Romnica, conhece arcasmos das lnguasneolatinas e variantes do Latim. Dedica-se atualmente atividade literria e orientao dediversos projetos acadmicos. Autor de diversos trabalhos de poesia disponveis em diferentesformatos de e-book pelo eBookCult, e-BooksBrasil, Terra Quadrada e outros. Atua comorevisor acadmico na Editora Keimelion. Fonte: Wikipedia. ([email protected]).