Nada está perdido

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Durante o processo de colheita do café, alguns frutos parecem se inspirar em filmes de aventura ou ficção e conseguem escapar das mãos ou das colheitadeiras. O que eles não imaginam, no en- tanto, é que não há escapatória para aqueles que se camuflam no chão. Afinal, é de praxe aproveitar ao máximo toda a safra. Para a alegria do cafeicul- tor, nada está perdido na cafeicultura nacional. Conhecidos também como café de varrição, os grão recolhidos têm valor comercial. Con- forme o pesquisador Gerson Silva Giomo, do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas (SP), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, suas características, contudo, não se enquadram no tipo exporta- ção, pois podem apresentar grande quantidade de defeitos e qualidade inferior. Por isso, os cafés de chão são geralmente dire- cionadas ao mercado doméstico . “Para eliminar alguns defeitos, como o gosto de terra, muitas vezes os estes grãos são misturados com outros tipos de cafés, nos chamados blends , os em me- lhores condições de consumo”, explica Giomo. De acordo com Giomo, o recolhimento do café de chão deve ser realizado imediatamente após a colheita dos frutos das plantas. Isso é ne- cessário, pois, dependendo do tempo de perma- nência no solo, os grãos podem ser colonizados por microorganismos que produzem toxinas. Se assim for, não trazem segurança alimentar, ou seja, não são recomendados para o consumo. NADA ESTÁ perdido Sílvio Ávila 100

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Durante o processo de colheita do café, alguns frutos parecem se inspirar em filmes de aventura ou ficção e conseguem escapar das mãos ou das colheitadeiras. O que eles não imaginam, no en-tanto, é que não há escapatória para aqueles que se camuflam no chão. Afinal, é de praxe aproveitar ao máximo toda a safra. Para a alegria do cafeicul-tor, nada está perdido na cafeicultura nacional.

Conhecidos também como café de varrição, os grão recolhidos têm valor comercial. Con-forme o pesquisador Gerson Silva Giomo, do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas (SP), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, suas características, contudo, não se enquadram no tipo exporta-ção, pois podem apresentar grande quantidade de defeitos e qualidade inferior.

Por isso, os cafés de chão são geralmente dire-cionadas ao mercado doméstico . “Para eliminar alguns defeitos, como o gosto de terra, muitas vezes os estes grãos são misturados com outros tipos de cafés, nos chamados blends, os em me-lhores condições de consumo”, explica Giomo.

De acordo com Giomo, o recolhimento do café de chão deve ser realizado imediatamente após a colheita dos frutos das plantas. Isso é ne-cessário, pois, dependendo do tempo de perma-nência no solo, os grãos podem ser colonizados por microorganismos que produzem toxinas. Se assim for, não trazem segurança alimentar, ou seja, não são recomendados para o consumo.

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Apesar de ter mercado garantido, o produtor deve evitar, ao máximo, a necessidade de recolher o café do chão. “Quanto mais frutos maduros colhidos direto da planta, melhor para o cafeicultor”, afirma o pesquisa-dor Gerson Giomo, do IAC.

É essencial, portanto, programar e planejar a colheita nos cafezais, le-vando em conta uma série de fatores, como o período de maturação, que varia de região para região. “Para evi-tar a queda de grande parte dos fru-tos, é preciso colher no tempo certo”, afirma Giomo. Ele ressalta ainda que o café, ao cair no solo, pode estar maduro demais, seco ou até mesmo contaminado por microorganismos.

O recolhimento dos grãos dos ca-fezais, além de melhorar a renda do produtor, também desempenha pa-pel importante no manejo fitossani-tário da lavoura. Giomo ressalta que, se permanecer no solo, o grão pode favorecer a reprodução da broca-do--café. Hoje, o inseto é a principal pra-ga dos cafezais brasileiros.

Realizando o manejo da lavoura de forma adequada e planejando a colheita corretamente, o êxito do produtor é maior na safra. “Conhecer o tamanho da área de plantio e rea-lizar a previsão de tempo de colheita possibilita fazê-lo no tempo ideal. É necessário identificar as lavouras que ficarão maduras primeiro e contratar o número suficiente de trabalhadores para a colheita, caso seja realizada de forma manual”, pontua Giomo.

A retirada dos frutos do chão também pode ser realizada de for-ma mecânica. Nesta modalidade, há diversas ferramentas, máquinas e equipamentos para o recolhimen-to. Ao se utilizar delas, o produtor minimiza os custos operacionais de colheita, otimiza o tempo e possibili-ta maior qualidade ao produto.

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Although relying on loyal markets, coffee growers should take maximum care in avoiding the need to pick up coffee beans from the ground.

“The bigger the number of cherries picked directly from the tree, the better for the farmers”, says IAC researcher Gerson Giomo.

To this end, there is need for programming and planning the coffee harvesting operations, taking into consideration a series of fac-

tors, like the period of maturation, which normally varies from one region to the other. “If the fall of large amounts of cherries is to be

avoided, the coffee has to be harvested at the right time”, Giomo states. He points out that, if the coffee beans fall from the trees, they

might be overripe, dry or even contaminated by some microorganisms.

The coffee harvesting operation, besides being a part of the farmers’ income, also plays an important role in the phytosanitary

management of the fields. Giomo maintains that, if left rotting on the ground, the beans might favor the propagation of the coffee borer

beetle. Currently, this insect is a major scourge in the Brazilian coffee plantations.

If the coffee fields are managed appropriately and the harvest correctly planned, farmers get a more successful crop. “If the farmers are

clearly aware of the size of the field, and schedule their harvest period in the best manner possible, the crop will certainly be picked at the ideal

time. There is need to identify the fields that mature first, find enough workers for the harvest, if it is conducted manually”, Giomo insists.

The beans lying on the ground can also be picked up mechanically. For this modality, there are different types of tools, machines and

picking equipment. The use of these tools will certainly reduce the operational costs, maximize the time and result into better product quality.

Nothing IS LOST

During the coffee harvesting operation, some cherries seem to get inspiration from

adventure or fiction films and manage to slip through the hands or through the me-

chanic harvesters. What they do not imagine, nevertheless, is that there is no escape for

those cherries that seem to seek a hiding place on the ground. After all, the rule is to

take full advantage of the entire crop. What makes growers happy is that nothing is lost

in our national coffee farming operations.

Known as hand-picked coffee, the beans picked from the ground also have com-

mercial value. According to researcher Gerson Silva Giomo, of the Agronomic Institute

(IAC), of Campinas (SP), a division of the São Paulo State Secretariat of Agriculture and

Supply, its characteristics, however, do not fit into export style coffees, as they might be

laden with defects and be deficient in quality.

Therefore, the beans picked from the ground are usually destined for the domestic

market. “To eliminate some flaws, like the taste of earth, frequently these beans are

mixed with other types of coffee, known as blends, leaving them in better consuming

conditions”, Giomo explains.

According to him, coffee beans lying on the ground should be picked up immedi-

ately after harvesting the fruits from the trees. This is necessary, because, depending

on the length of time they are left on the ground, the beans might suffer attacks from

microorganisms laden with toxins. If this happens, there is no food safety, that is to say,

they are no longer appropriate for consumption.

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