Narra

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1. ELEMENTOS PARA A ANÁLISE DA NARRATIVA Maria Eneida Matos da Rosa 2. 1. O ESPAÇO Osman Lins (1924-1978), em um trecho teórico de seu livro Lima Barreto e o espaço romanesco distingue duas noções: espaço e ambientação. Para Lins, o espaço é denotado (cenário); a ambientação é conotada. Osman Lins reconhece ainda três tipos de ambientação: franca, reflexa e dissimulada. 3. 1. O ESPAÇO Por ambientação franca, Lins entende aquela que se distingue pela introdução pura e simples do narrador – DESCRITIVISMO; A ambientação reflexiva É aquela em que “as coisas, sem engano possível, são percebidas através da personagem (p. 82)”. A ambientação dissimulada oblíqua se verifica nos “atos da personagem (...) vão fazendo surgir o que a cerca, como se o espaço nascesse dos seus próprios gestos (p. 83-84) – é a mais difícil de ser observada. 4. Foco narrativo Autor onisciente intruso – esse tipo de narrador tem a liberdade de narrar à vontade, de colocar-se acima, ou, segundo Jean Pouillon, por trás, adotando um PONTO DE VISTA divino. Seu traço característico é a intrusão 5. FOCO NARRATIVO Narrador onisciente neutro – o narrador onisciente, ou narrador onisciente neutro fala em terceira pessoa. A caracterização dos personagens é feita pelo narrador que as descreve e explica para o leitor. “O rosto de Spade estava calmo. Quando seu olhar encontrou o dela, seus olhos, amarelo-pardos, brilhavam por um instante com malícia, e depois tornaram-se de novo inexpressivos – Foi você que fez isso – perguntou Dundy à moça, mostrando a com a cabeça a testa ferida de Cairo” (DashielHammet). 6. Foco narrativo Eu como testemunha – “ele narra em primeira pessoa, mas é um “eu” já interno à narrativa, que vive os acontecimentos aí descritos, como personagem secundária que pode observar, desde dentro”(p. 37) 7. Foco narrativo No caso do “eu” como testemunha, o ângulo de visão é mais limitado. Como personagem secundário, ele narra da periferia dos acontecimentos 8. Foco narrativo Narrador-protagonista – o narrador, personagem central, não tem acesso ao estado mental das demais personagens. Narra de um centro fixo, limitado quase que exclusivamente às suas percepções, pensamentos e sentimentos. 9. FOCO NARRATIVO Onisciência seletiva múltipla – o quinto tipo, chamado por Friedman de

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1. ELEMENTOS PARA A ANLISE DA NARRATIVAMaria Eneida Matos da Rosa 2. 1. O ESPAOOsman Lins (1924-1978), em um trecho terico de seu livro Lima Barreto e o espao romanesco distingue duas noes: espao e ambientao. Para Lins, o espao denotado (cenrio); a ambientao conotada.Osman Lins reconhece ainda trs tipos de ambientao: franca, reflexa e dissimulada. 3. 1. O ESPAOPor ambientao franca, Lins entende aquela que se distingue pela introduo pura e simples do narrador DESCRITIVISMO;A ambientao reflexiva aquela em que as coisas, sem engano possvel, so percebidas atravs da personagem (p. 82).A ambientao dissimulada oblqua se verifica nos atos da personagem (...) vo fazendo surgir o que a cerca, como se o espao nascesse dos seus prprios gestos (p. 83-84) a mais difcil de ser observada. 4. Foco narrativoAutor onisciente intruso esse tipo de narrador tem a liberdade de narrar vontade, de colocar-se acima, ou, segundo Jean Pouillon, por trs, adotando um PONTO DE VISTA divino.Seu trao caracterstico a intruso 5. FOCO NARRATIVONarrador onisciente neutro o narrador onisciente, ou narrador onisciente neutro fala em terceira pessoa. A caracterizao dos personagens feita pelo narrador que as descreve e explica para o leitor.O rosto de Spade estava calmo. Quando seu olhar encontrou o dela, seus olhos, amarelo-pardos, brilhavam por um instante com malcia, e depois tornaram-se de novo inexpressivos Foi voc que fez isso perguntou Dundy moa, mostrando a com a cabea a testa ferida de Cairo (DashielHammet). 6. Foco narrativoEu como testemunha ele narra em primeira pessoa, mas um eu j interno narrativa, que vive os acontecimentos a descritos, como personagem secundria que pode observar, desde dentro(p. 37) 7. Foco narrativoNo caso do eu como testemunha, o ngulo de viso mais limitado. Como personagem secundrio, ele narra da periferia dos acontecimentos 8. Foco narrativoNarrador-protagonista o narrador, personagem central, no tem acesso ao estado mental das demais personagens. Narra de um centro fixo, limitado quase que exclusivamente s suas percepes, pensamentos e sentimentos. 9. FOCO NARRATIVOOniscincia seletiva mltipla o quinto tipo, chamado por Friedman de ONISCINCIA SELETIVA MLTIPLA, ou MULTISSELETIVA, o prximo passo, nessa progresso rumo maior objetivao do material da HISTRIA. 10. FOCO NARRATIVOCmera a ltima categoria de Friedman significa o mximo em matria de excluso do autor. Esta categoria serve quelas narrativas que tentam transmitir flashes da realidade como se apanhados por uma cmera, arbitrria e mecanicamente. Todavia, a cmera no nos parece neutra, uma vez que existe algum por trs dela que seleciona e combina, pela montagem de imagens a mostrar. E, tambm, atravs da cmera cinematogrfica, podemos ter um PONTO DE VISTA onisciente, dominando tudo, ou o PONTO DE VISTA centrado numa ou vrias personagens 11. O TEMPO G. genetteEntre o tempo da histria e o tempo da narrao instauram-se relaes, determinando uma velocidade da narrao. As anisocronias, que dividem as formas da velocidade narrativa em sumrio, pausa, elipse e cena so: sumrio, pausa, elipse e cena.SUMRIO a narrao em alguns pargrafos, de vrios dias, meses ou anos de existncia, sem pormenores de ao ou palavras. Trata-se, portanto, de uma narrao breve de um tempo mais longa da histria.PAUSA o momento de distenso da narrativa, alongada pelas descries. Trata-se, portanto, de pausas descritivas que retardam a narrao. 12. O TEMPOELIPSES so as lacunas da narrao, os vazios narrativos, explicitados (Aqui, pedimos permisso para passar, sem uma palavra, sobre um espao de trs anos... Stendhal) ou no. As elipses implcitas so aquelas cuja presena no est declarada no texto, e que o leitor pode inferir apenas de alguma lacuna cronolgica ou de solues de continuidade de narrativa.CENA define-se como uma representao dramtica, em que a ao se apaga em proveito da caracterizao psicolgica e social. Na maioria das vezes dialogada, a cena corresponde a um tempo forte da ao. 13. O Tempo da aventuraA primeira dimenso temporal percebida pelo leitor a da histria. Em que poca se situa a aventura contada? Nos primeiros tempos da humanidade, no presente (o romance em primeira pessoa) ou no futuro (fico cientfica)? A obra abrange quase um sculo de histria de uma famlia, atravs de vrias geraes (O tempo e o Vento, de rico Verssimo), desenrola-se em apenas um ano (Vidas secas, de Graciliano Ramos), no decorrer de uma breve conversa entre pai e filho (Teoria do Medalho, de Machado de Assis)? 14. Tal durao, mais ou menos considervel, pode ser puramente exterior, cronolgica: Eram cinco horas da manh e o cortio acordava (O cortio, de Aluzio de Azevedo); Era nos tempos do reino do Sr. D. Pedro II (A escrava Isaura, de Bernardo Guimares); No dia 25 de abril de 1859 morreu o Conselheiro Vale (Helena, de Machado de Assis). 15. Pode revelar tambm uma durao psicolgica, no mensurvel pelo relgio ou pelo calendrio: ora, comecemos a evocao por uma clebre tarde de novembro que nunca me esqueceu. Tive outras muitas, melhores, e piores, mas aquela nunca se me apagou do esprito. o que vais entender, lendo. Este final do captulo II de Dom Casmurro, de Machado de Assis, anuncia todo um livro em tempo psicolgico. 16. Tempo daescritaSe tomarmos como exemplos as inmeras formas de coloquialismo que o narrador machadiano estabelece com o leitor, veremos o seu cuidado em marcar o momento da escrita com preciso, para situar face a outros acontecimentos do passado e assim dar ao romance uma atualidade e uma dimenso histrica indissocivel. O momento da escrita importante neste sentido de que o autor representa menos o tempo da aventura que o de sua poca. Vejamos: