Natal Galponeiro

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Natal Galponeiro A cuia do chimarrão É o cálice do ritual E o Galpão é a Catedral maior Da terra pampeana Para esperar o Natal. A Cuia aquece na palma da mão Da indiada Campeira Dentro da sua maneira, Rezando e chairando a alma Pra recuperar a calma Que fugiu do mundo inteiro Enquanto o Estrelão viajeiro Já vem rasgando o caminho Para anunciar o Piazinho À Virgem e ao Carpinteiro. Em nome do Pai, Do Filho e do Espírito Santo É o chimarrão que levanto, E o vento faz estribilho A Prece do andarilho, Ao Piazito Salvador Filho de Nosso Senhor, Do Espírito e do Pai De volta à terra Aonde vai falar de novo em amor. Tem sido assim, dois mil anos Ninguém sabe, mais ou menos Vem conviver com os pequenos, De todos os meridianos A repetir aos humanos, As preces do bem querer. Quem sabe, até pode ser, Que um dia seja atendido E o mundo velho perdido, Encontre Paz pra viver. Ele sabe da apertura em que vive o pobrerio. 1

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Page 1: Natal Galponeiro

Natal Galponeiro

A cuia do chimarrãoÉ o cálice do ritual

E o Galpão é a Catedral maiorDa terra pampeana

Para esperar o Natal.A Cuia aquece na palma da mão

Da indiada CampeiraDentro da sua maneira,

Rezando e chairando a almaPra recuperar a calma

Que fugiu do mundo inteiroEnquanto o Estrelão viajeiroJá vem rasgando o caminho

Para anunciar o PiazinhoÀ Virgem e ao Carpinteiro.

Em nome do Pai,Do Filho e do Espírito SantoÉ o chimarrão que levanto,

E o vento faz estribilhoA Prece do andarilho,Ao Piazito Salvador

Filho de Nosso Senhor,Do Espírito e do Pai

De volta à terraAonde vai falar de novo em amor.

Tem sido assim, dois mil anosNinguém sabe, mais ou menos

Vem conviver com os pequenos,De todos os meridianosA repetir aos humanos,

As preces do bem querer.Quem sabe, até pode ser,Que um dia seja atendidoE o mundo velho perdido,

Encontre Paz pra viver.Ele sabe da apertura em que vive o pobrerio.

A fome, a miséria,O frio por que passa a criaturaMas que ainda restam ternura,

Amizade e esperança.E que pode a cada andança,

Mesmo nos ranchos sem pão,

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Aliviar o coraçãoNum sorriso de criança.

Pra mim que ouvi nas missõesCausos de campo e rodeio

Do Negro do PastoreioCruzando pelos rincões

Das lendas e assombraçõesE cobras queimando luz,

Foste, Menino Jesus,O meu sinuelo de fé

Juntando ao ìndio SepéO Nazareno da Cruz.

E a Santa Virgem MariaMadrinha dos que não temFez parte sempre também

Da minha filosofiaEu que fiz de Sacristia

Os ranchos de chão batidoE que hoje encanecido

Sou sempre o mesmo guriA bem dizer por ai

O pago onde fui parido.E o Nazareno que vemDas bandas de NazaréChasque Divino de Fé

Rastreando a luz de BelémEle vai morrer também

Para cumprir as profecias.É Natal.

Nasce o MessiasSalve o Menino Jesus

Mas os que fogem da LuzO matam todos os dias.Presentes, Papais Noéis

Um ano esperando um diaQuando a grande maioria

Sofre destinos cruéis.O amor pesado a mil réis

E mortos-vivos que andamInstituições que desandamPorque esqueceram Jesus.O que precisa é mais Luz

No coração dos que mandam.Que os Anjos digam Amém.

Para completar a prece

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Do gaúcho que conheceAs manhas que o tigre temNão jogo nenhum vintémMesmo sendo carpeteiro

Mas rezo um tedéu campeiroNesta catedral selvagemPra que faça boa viagem

O Enteado do Carpinteiro. 

NATAL GALPONEIROJayme Caetano Braun e Lucio Yanel

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