Natal missionário e solidário · de ser sapiens , dotado de «bom senso, ... Lavre no Dia de...

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Publicação BIMESTRAL N.º 256 novembro-dezembro 2018 ISSN 0871-5688 O PREÇO - 0,10 (IVA incluído) P. e Dário Balula Chaves [email protected] Natal missionário e solidário Q uando cheguei a África pela primei- ra vez, tive a impressão de ter ater- rado noutro planeta e fiquei chocado com o que vi. Interroguei-me muitas ve- zes e ainda hoje me interrogo: «Porquê tanta pobreza e tanta fome, enquanto noutros lados há tanta riqueza e tanto desperdício? Porquê tanta desigualdade e injustiça no mundo em que vivemos?» A culpa não é de Deus. Ele criou um mundo maravilhoso para que todos se- jamos felizes. É a ganância das pessoas que estraga este mundo maravilhoso que Deus criou. Adaptei-me facilmente ao contexto social que me rodeava, e o que antes me parecia estranho depressa se tornou normal e familiar: novas pessoas, nova língua, nova cultura, e muitos desafios pela frente. Tudo era novo para mim, mas as pessoas da Zâmbia acolheram- -me com muita amizade e depressa me senti em casa. A missão foi para mim como nascer de novo. Nesse aspeto, tive mais sorte do que Jesus quando nasceu em Belém. Diz o Evangelho que Maria «envolveu o menino em panos e recostou-o numa manjedoira por não haver lugar para eles na hospedaria» (Lc 2, 7). Para Jesus não havia lugar, mas eu fui acolhido na missão como irmão e amigo! Entre tantas recordações da missão Uma experiência que ficou gravada no meu coração foi a alegria e a sim- plicidade da celebração do Natal. Não há prendas, nem luzes, nem banquetes. A grande prenda que todos recebem, entre cânticos cheios de ritmo, é o nas- cimento de Jesus, o nosso melhor amigo, que nos vem salvar. A celebração é uma verdadeira explosão de alegria! Na noite de Natal, em todas as pa- róquias da diocese de Lusaca, a capital da Zâmbia, celebra-se o batismo dos jovens. Também na paróquia de Lilan- da, um bairro pobre na periferia, onde eu trabalhei como missionário, todos os anos, mais de cem jovens dos 15 aos 19 anos recebem o batismo, após quatro anos de catequese. É a festa de Jesus que nasce no coração daqueles jovens e transforma as suas vidas. Europa sem Natal cristão? Em contraposição, faz-me impres- são ver a maneira superficial como se celebra o Natal na Europa. Trata-se de uma mera festa exterior e de convívio entre amigos da qual Jesus não faz parte. Aquilo que S. João escreveu no evangelho continua a ser uma realidade atual: «Veio ao que era seu e os seus não o receberam» (Jo 1, 11). Então, que fazer? Vamos pôr Jesus ao centro do nosso Natal. Abramos as por- tas do nosso coração a Jesus para que Ele nos toque e nos transforme. Maria, mãe de Jesus e nossa mãe, a primeira missio- nária que trouxe Jesus ao mundo, nos inspire a seguir o seu exemplo. Neste ano missionário da Igreja em Portugal, vamos ser, como Maria, missionários de amor e de fraternidade. P. e Dário Balula Chaves na Zâmbia A Família Comboniana deseja a todos os amigos um Santo Natal e um Feliz Ano Novo

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Publicação BIMESTRAL

N.º 256 novembro-dezembro 2018

ISSN 0871-5688 PREÇO - 0,10 (IVA incluído)

P.e Dário Balula [email protected]

Natal missionário e solidário

Quando cheguei a África pela primei-ra vez, tive a impressão de ter ater-

rado noutro planeta e $quei chocado com o que vi. Interroguei-me muitas ve-zes e ainda hoje me interrogo: «Porquê tanta pobreza e tanta fome, enquanto noutros lados há tanta riqueza e tanto desperdício? Porquê tanta desigualdade e injustiça no mundo em que vivemos?»

A culpa não é de Deus. Ele criou um mundo maravilhoso para que todos se-jamos felizes. É a ganância das pessoas que estraga este mundo maravilhoso que Deus criou.

Adaptei-me facilmente ao contexto social que me rodeava, e o que antes me parecia estranho depressa se tornou normal e familiar: novas pessoas, nova língua, nova cultura, e muitos desa$os pela frente. Tudo era novo para mim, mas as pessoas da Zâmbia acolheram--me com muita amizade e depressa me senti em casa.

A missão foi para mim como nascer de novo. Nesse aspeto, tive mais sorte do que Jesus quando nasceu em Belém. Diz o Evangelho que Maria «envolveu o menino em panos e recostou-o numa manjedoira por não haver lugar para eles na hospedaria» (Lc 2, 7). Para Jesus não havia lugar, mas eu fui acolhido na missão como irmão e amigo!

Entre tantas recordações da missãoUma experiência que $cou gravada

no meu coração foi a alegria e a sim-plicidade da celebração do Natal. Não há prendas, nem luzes, nem banquetes. A grande prenda que todos recebem, entre cânticos cheios de ritmo, é o nas-cimento de Jesus, o nosso melhor amigo, que nos vem salvar. A celebração é uma verdadeira explosão de alegria!

Na noite de Natal, em todas as pa-róquias da diocese de Lusaca, a capital da Zâmbia, celebra-se o batismo dos jovens. Também na paróquia de Lilan-da, um bairro pobre na periferia, onde eu trabalhei como missionário, todos os anos, mais de cem jovens dos 15 aos 19 anos recebem o batismo, após quatro anos de catequese. É a festa de Jesus que nasce no coração daqueles jovens e transforma as suas vidas.

Europa sem Natal cristão?Em contraposição, faz-me impres-

são ver a maneira super$cial como se celebra o Natal na Europa. Trata-se de uma mera festa exterior e de convívio

entre amigos da qual Jesus não faz parte. Aquilo que S. João escreveu no evangelho continua a ser uma realidade atual: «Veio ao que era seu e os seus não o receberam» (Jo 1, 11).

Então, que fazer? Vamos pôr Jesus ao centro do nosso Natal. Abramos as por-tas do nosso coração a Jesus para que Ele nos toque e nos transforme. Maria, mãe de Jesus e nossa mãe, a primeira missio-nária que trouxe Jesus ao mundo, nos inspire a seguir o seu exemplo. Neste ano missionário da Igreja em Portugal, vamos ser, como Maria, missionários de amor e de fraternidade.

P.e Dário Balula Chaves na Zâmbia

A Família Comboniana deseja a todos os amigos um Santo Natal e um

Feliz Ano Novo

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JUSTIÇA E PAZ

A justiça na economia global

Ir. Bernardino Frutuoso

No documento final do en-contro de economistas e teólogos, intitulado Por uma

economia global justa. Cons-

truir sociedades sustentáveis e inclu-

sivas, salienta-se que os mercados económicos e #nanceiros ganharam extraordinária importância e que «afe-tam a vida da maioria dos humanos que habitam o planeta e também o meio ambiente». Identi#cam-se alguns «sinais dos tempos», desa#os no âm-bito da vida económica em mudança. A pobreza mantém-se elevada, a igual-dade aumenta de maneira contínua, os povos indígenas e as minorias étnicas marginalizadas sofrem discriminação, as mulheres são mais proclives que os homens à pobreza e à desigualdade de oportunidades económicas, a natureza do trabalho está a mudar rapidamente. Além disso, os mercados #nanceiros expandem-se espectacularmente, o sector privado tornou-se mais impor-tante, a violência tem com frequência raízes económicas e os meios de comu-nicação social – tanto os tradicionais como as redes sociais – têm um papel cada vez mais importante.

Neste contexto, o relatório recorda que o Papa Francisco, desde o início do seu ponti#cado, tem persistente-mente «exortado tanto a Igreja como a sociedade em geral a prestar atenção aos problemas da justiça inerentes à economia global do nosso tempo». Em muitos dos seus discursos e homilias, especialmente na exortação apostólica A Alegria do Evangelho e na encíclica Laudato Si’, o Santo Padre convida os cristãos e todas as pessoas de boa

vontade a prestar atenção a alguns dos maiores desa#os da justiça que hoje estão presentes na vida social e eco-nómica. Entre esses reptos indicam--se: aliviar o sofrimento dos pobres, reduzir a desigualdade entre ricos e pobres, superar os padrões de exclusão que tanto con0ito e tanta violência cau-sam na atualidade. Exige, igualmente, o desenvolvimento sustentável em formas ecologicamente responsáveis, uma questão para a qual o papa dedica uma encíclica. «Não há duas crises se-paradas, uma ambiental e outra social, mas uma crise socioambiental única e complexa» (LS, n.º 139).

Os cristãos e todos os cidadãos responsáveis e comprometidos esta-mos chamados à ação e a construir sociedades inclusivas e sustentáveis. Para ser e#caz, qualquer resposta aos desa#os da pobreza, da desigualdade,

do financiamento não regulado, do conflito social e da degradação do meio ambiente terá de estar con#gu-rada por uma visão do bem comum, seja da comunidade humana, seja da comunidade ecológica. Como refere o Papa Francisco, «não se pode reduzir a uma série de respostas urgentes e parciais para os problemas que vão surgindo à volta da degradação am-biental, do esgotamento das reservas naturais e da poluição». Necessitamos «um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham resistência ao avanço do paradigma tecnocrático» (LS, n.º 111).

Documento completo (espanhol) em: https://www.comboni.org/app--data/#les/allegati/1974.pdf

Um grupo de economistas e teólogos reuniram-se para refletir sobre

as atuais economias e como estas incidem na inclusão e na sustentabilidade.

E, também, indicar possíveis vias para que a economia possa responder melhor

às necessidades dos pobres e do meio ambiente.

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para a missão em portugal e na europa

O Brasil elegeu Bolsonaro, o «canalha em estado puro», «alguém que contraria qual-quer tipo de critério moral e

se coloca num plano comportamental pré ou anticivilizacional», escreveu Francisco Assis, Público, 11.10.2018, pág. 44. Dá medo ver como esse «rol de gente» aumenta e age. «Essa estirpe» não só se desumaniza, mas tudo faz para destruir referências e valores de humanidade no Outro.

Entretanto, para Henrique Mon-teiro (Expresso, 20.10.2018, pág. 39), é urgente que «comentadores, políticos, editorialistas e o que mais seja» não corram a louvar «um político por ser hábil». É que não basta ser habilis. «Tem de ser muito mais que isso»: tem de ser sapiens, dotado de «bom senso, sabedoria... capacidades próprias do ser humano».

Para nosso mal, o Homo habilis tem muito da «estirpe» dos «canalhas». Os habilis são idólatras do «temos tecnolo-gias, dinheiro e poder: podemos fazer tudo». Corruptores e corruptos estru-turam uma «economia da exclusão e da desigualdade social», que «mata», nega «a primazia do ser humano» e univer-saliza a indiferença e o cinismo (cfr. Papa Francisco, Alegria do Evangelho, 53-55) e exaspera «as causas estruturais da desigualdade social... raiz de todos os males» (AE 202).

Partidos habilis aprovam, em par-lamentos considerados democráticos, leis que desumanizam: eliminam a razão, desprezando a ciência rica de consciência, assim como os princípios éticos próprios do Homo sapiens eticus.

À semelhança dos «canalhas», o habilis, ao elaborar os currículos, eli-mina ou torna irrelevantes os estudos #losó#cos e clássicos próprios do sa-

piens, estiolando o pensar. Dessa fonte, vêm leis que banalizam o aborto, com desprezo dos dados da Ciência e agra-vando o inverno demográ#co; algumas (des)orientações antropológicas da ideologia da igualdade de género; leis sobre «casamento» entre pessoas do mesmo sexo e sua adopção de crianças; leis, políticas e práticas económicas e #nanceiras que dão cabo de países, povos e recursos da Casa Comum...

Rodeados por um tal tsunami de “habilidosos” destituídos de sabedo-ria e de esperança por terem excluído Deus da Vida-Amor manifestado em Jesus, os cristãos têm uma missão ár-dua. Para a nota pastoral sobre o Ano

Missionário, é preciso forte união com Cristo, muito estudo (Ensino Social da

A missão face aos «canalhas» e aos «hábeis»O lema de S. Daniel Comboni «missionários santos e capazes» tem de inspirar os

membros da Família Comboniana nas crises da sociedade atual.

Igreja) e intensa formação em todos os âmbitos, sob pena de o sal se corrom-per e a luz se apagar. Urge testemunhar, anunciar e organizar uma nova frater-nidade centrada em Jesus, inclusiva dos últimos e excluídos, «viver a fundo a realidade humana e inserir-se no co-ração dos desa#os como fermento de testemunho, em qualquer cultura, em qualquer cidade» (AE 75).

O grande objetivo é ser Homo

contemplativus, com visão sapiencial. «O amor realizado torna o homem contemplativo, porque chegou ao olhar sapiencial e sabe que, muitas vezes, atrás de um cenário frágil, ferido, humilhado e falimentar, se esconde o amor mais puro e amadurecido» da pessoa «realizada e independente de qualquer tipo de escravidão» (Marko Ivan Rupnik e AE 57).

Agênci

a E

ccle

sia

Urge testemunhar, anunciar e organizar uma nova fraternidade centrada em Jesus

P.e Claudino Gomes [email protected]

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linha direta

Carta comboniana de apoio ao Papa FranciscoOs Missionários Combonianos,

presentes na província de Itália, decla-ram o seu apoio total ao Papa Francis-co, numa carta.

«Caro Papa Francisco, queremos dizer-te que estamos contigo e quere-mos expressar este sentimento ainda mais abertamente na hora em que uma campanha concertada de difamação e crítica maliciosa está a tentar minar a tua credibilidade pessoal e questionar o teu generoso esforço para renovar a Igreja, para torná-la mais conforme à vontade de Jesus. Nestas últimas sema-nas, então, a campanha de acusações chegou ao cume quando expoentes eclesiais te atacaram abertamente, che-gando mesmo a pedir a tua renúncia,

Exposição missionária itinerante

questionando a sinceridade e a corre-ção do teu compromisso para acabar com o 0agelo da pedo#lia e dos abusos sexuais na Igreja.

Estamos convencidos de que ata-ques como estes, dentro e fora da Igre-ja, vindos de ambientes conservadores e reacionários, escondem a intenção não confessada de querer pôr-te de lado. Porque esses ambientes conser-vadores são fortemente opostos ao teu ensino social. Em várias ocasiões e de modo claro, através da palavra e do texto, Francisco, continuas a expres-sar a tua oposição ao atual sistema económico global, intrinsecamente perverso porque é principalmente orientado para o lucro, em detrimento

Um altar budista do Tibete; uma barquinha de chifres, de Angola; um calendário azteca, do México; cinco cruci-#xos do Sudão do Sul, Eritreia, Índia, Portugal e Etiópia; uma cuia (taça para beber) da Amazónia brasileira; uma sagrada família, de Moçambique, e muitos outros objetos da missão fazem parte da exposição missionária preparada para o Ano Missionário.

A exposição é itinerante. Começou por estar exposta em Guimarães. Já passou por Cabeceiras de Basto e Barcelos. E vai circular por outras localidades de Portugal: Porto, Paredes, São João da Madeira, Bragança, Aveiro, Lamego e Guarda. Entre julho e setembro, a exposição estará em Fátima, passando depois a Lisboa, onde encerrará a sua digressão, coincidindo com o #nal do Ano Missionário e o Dia Mundial das Missões de 2019.

da dignidade das pessoas e causa da destruição da mãe Terra. Tudo isso é hostil a quem quer perpetuar o statu

quo e não quer perder os privilégios que derivam dele.

Caro Papa Francisco, estamos-te imensamente gratos pelo teu testemu-nho, feito de palavras e gestos concre-tos, que nos provocam e nos ensinam que ser cristão é viver como Jesus, no seu amor ao próximo, especialmente aos pobres.

Agradecemos a Deus pelo dom que nos faz através da tua presença à frente da Igreja e também queremos dizer-te que nos sentimos apoiados no nosso caminho de fé pelo teu constante compromisso pela paz, pelo desarma-mento e contra o comércio de armas, pelo acolhimento aos imigrantes e pela proteção da Criação.

Sentimos o dever de o dizer como missionários que vivem em contac-to com o povo dos países do Sul do mundo. E esta experiência tornou-nos ainda mais conscientes da necessidade de uma Igreja profética diante da ini-quidade de um sistema económico--#nanceiro predador que enriquece uma minoria e faz crescer a multidão dos deserdados no mundo.»

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O P.e José Carlos Mendes da Costa nasce, numa família de cinco irmãos e três irmãs, em janeiro de 1947, na aldeia de Nogueira do Cravo, concelho de Oliveira do Hospital, diocese de Coimbra. Completa os estudos liceais em Coimbra e depois ruma a Lisboa. Empenha-se no caminho de fé na pa-róquia de Arroios, onde #xa residência e é ali que o Senhor Jesus lhe deita a rede e lhe abre um horizonte novo e inesperado. O momento de graça é um encontro missionário na paróquia que o entusiasma e o orienta para a vida missionária. É o ano de 1968. A surpre-sa dos seus irmãos e amigos é grande: o José Carlos é uma pessoa extrovertida, alegre, intensa, que gostava de viver.

Ordenado padre em 1975, o seu primeiro trabalho missionário é em Portugal, na Editorial Além-Mar. Em 1990, é destinado ao Quénia, onde põe à prova o seu sonho missionário, a sua capacidade de se relacionar, de fazer amizade: ele é destinado à missão mais isolada, na altura, Moyale, na fronteira do Quénia com a Etiópia. Nesses anos, a fronteira estava fechada e não era possível o contacto com os combonia-nos mais vizinhos, os que trabalhavam em Awassa, no sul da Etiópia. A viagem de Nairobi a Moyale, feita com meios próprios, tinha custos notáveis: não se conseguia fazer num dia e o estado da estrada nas zonas semidesérticas do nordeste do Quénia era calamitoso.

O P.e José Carlos sente-se mais chamado à ação, à organização, à ini-ciativa, quando solicitada pela situação concreta das pessoas, pelas carestias. Naqueles anos, o P.e José Carlos cresce apaixonado com a vida missionária; por carácter, está mais interessado na ação do que na re0exão; gosta mais de uma re0exão partilhada, em conversa por vezes apaixonada, do que de uma reflexão pastoral teórica; sente-se vibrar na ação e nas respostas que é

«Pus-me nas mãos de Deus»

capaz de dar a pessoas e situações com os meios limitados que tem; prefere a amizade ao proselitismo e à intolerân-cia; supera as di#culdades na aprendi-zagem das línguas com a linguagem do afeto e do coração.

De 1990 a 1997, é chamado a Por-tugal e à administração da Editorial Além-Mar. Mais uma vez, revela-se generoso, apaixonado pelo que faz, próximo de todos e cada um dos ami-gos e benfeitores combonianos.

Em 1997, é destinado a Moçam-bique. Em Mueria, onde é colocado, ele volta a conjugar a sua capacidade de ação e organização com a atenção mais missionária ao caminho de fé das comunidades. A língua e o sentido de proximidade ao povo moçambicano ajudam-no neste crescimento, prodi-gando-se no acompanhamento das co-munidades cristãs de Mueria e Nacala, e, depois, de Nampula. Cresce também na sua identidade comboniana.

No ano de 2007, é destinado de novo a Portugal e à administração da Edito-rial Além-Mar. Numa viagem de Lis-

boa para Coimbra, sente os primeiros sintomas de uma crise cardíaca que lhe vai deixar marcas. É cuidadosamente assistido pela sobrinha médica, mas tem de dizer adeus à administração e ir para a comunidade de Vila Nova de Famalicão. Aqui, com os limites do coração e da diabetes, dedica-se ao acompanhamento das pessoas e no atendimento das con#ssões.

O Senhor Jesus prepara-o, assim, para uma nova etapa da sua missão, marcada pelo sofrimento causado pela descoberta do tumor que mina abruptamente a sua saúde. A Páscoa anuncia-se no horizonte da sua vida, sempre luminosa, pois ele continua a sentir a alegria de viver, a sentir-se perto do Deus da Vida. A um colega con#dencia: «Já me pus nas mãos de Deus. Seja feita a sua vontade!»

O P.e José Carlos faleceu na tarde do dia 4 de setembro de 2018, numa Pás-coa anunciada com tanto sofrimento e marcada pela saudade deixada nos familiares, nos colegas missionários, em quantos o conheceram.

P.e José Carlos, um missionário alegre, generoso e com o dom da partilha

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Jovens em missão (JIM)

FAMÍLIA COMBONIANAPropriedade: Missionários Combonianos do Coração de Jesus Pessoa colectiva n.º 500139989Diretor: Bernardino Frutuoso (CP 6411 A)Redação: Fernando Félix (CP 1902 A)/Carlos Reis (CP 2790 A)Gra%smo: Luís Ferreira Arquivo: Amélia NevesRevisão: Helder Guégués

Sede do Editor, Administração e Redação: Calç. Eng. Miguel Pais, 91249-120 LISBOARedação: Tel. 213 955 286 E-mail: [email protected]: Manuel Ferreira HortaAdministração: Fax: 213 900 246E-mail: [email protected]

Registo na ERC com o n.o 104210Depósito legal: 7937/85Estatuto editorial: http://www.combonianos.pt/Impressão: Jorge Fernandes, Lda.Rua Quinta do Conde Mascarenhas, 92825-259 CHARNECA DA CAPARICATiragem: 21 500 exemplares

O JIM – Jovens em missão tem um anjo no Céu: Joana Leandro, 22 anos, da paróquia de Lavre, diocese de Évora, e membro do JIM e do Fé e Missão Sul.

Na atividade Natal+ 2017 sobres-saiu pela alegria, generosidade no serviço e capacidade de fazer amigos. Quando lhe foi pedido para dar o seu testemunho de missionária na Euca-ristia conclusiva, #cou admirada, mas aceitou e fê-lo com coragem, convic-ção e um sorriso. Toda a assembleia a aplaudiu!

A vida da Joana foi um desafio para todos. Era estudante na Escola Superior de Educação, em Santarém, e «a vida da paróquia» de Lavre, como disse o pároco. Vinculada ao JIM, esta foi a última mensagem que enviou ao P.e Carlos Nunes: «Tenho livros e rou-pas boas que podíamos mandar para Moçambique. Pode vir buscá-las?» O seu coração estava sempre em missão.

O nosso anjo partiu para o Céu no mês missionário de outubro, no dia 15, vítima de um acidente de viação.

No seu funeral e no regresso a Lavre no Dia de Todos os Santos, 1 de novembro, celebrámos a sua vida e missão, e pedimos as bênçãos de Deus, por intercessão dela.

«A Joana era a menina mais bonita cá da terra, uma rapariguinha muito boa», disse um senhora de idade no caminho para o cemitério. «Vieram tantos padres por causa disso, não

foi?», disse. Era grande a multidão, de jovens a velhos, que se reuniu para o último adeus à Joana.

A Joana, além de ser jovem, era a vida da terra para muita gente, era um coração alegre e missionário que a todos deixou alguma coisa. Pais, familiares e amigos estavam unidos neste sentimento de ação de graças apesar da tristeza do sofrimento e luto.

Esta missionária vai fazer muita falta na sua terra e no mundo. Mas a fé leva-nos a a#rmar que já tinha feito tudo o que tinha a fazer aqui nesta

terra. Ela foi missão na terra. E tinha-o escrito, recentemente, ao seu amigo Ronaldo: «Se deixares a tua marca neste mundo, viverás para sempre!»

No cemitério, enquanto a urna des-cia à terra, embalada pela tuna da sua escola e os balões brancos subiam aos céus, em noite enevoada que trouxe chuva, o Sol pôs-se rasgando as nuvens e formando uma clareira de luz para a Vida, lá longe e tão perto. Foi o sinal de Deus que vimos.

A missão da Joana e a nossa

A Joana cumpriu a sua missão aos 22 anos; Jesus aos 33; Daniel Comboni aos 50… Nenhum de nós sabe em que idade terá a sua missão cumprida. Sa-bemos, como disse o Papa Francisco, que «cada um de nós é uma missão nesta terra».

A Joana cumpriu a sua e brilha agora para nós iluminando o nosso caminho de missão. Veem-se já frutos de fé e vida nas centenas de pessoas que vivem e sentem tanto a sua falta física, como sentem a sua presença em espírito.

«A fé e con#ança em Deus com a coragem e força humana tudo pode… e temos de olhar em frente pois a vida continua», foi dito na nossa festa missio-nária, em Lisboa, no dia 28 de outubro.

Cada um de nos é uma missão nesta terra, e vamos realizá-la até «onde a vida nos levar», como cantava a Joana. Neste Natal 2018, o JIM parte de novo em missão, para o NATAL+. A Joana partiu para o Céu, não estará presente #sicamente, mas estará connosco!

P.e Carlos Alberto Nunes, [email protected]

Joana Leandro, um anjo no céu…