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  • 1227Educ. Soc., Campinas, vol. 25, n. 89, p. 1227-1249, Set./Dez. 2004Disponvel em

    Naura Syria Carapeto Ferreira

    REPENSANDO E RESSIGNIFICANDO AGESTO DEMOCRTICA DA EDUCAO

    NA CULTURA GLOBALIZADA

    NAURA SYRIA CARAPETO FERREIRA*

    RESUMO: Tanto em extensividade como em intensividade, as trans-formaes cientfico-tecnolgicas, econmico-sociais, tico-polticas eculturais na contemporaneidade, mais profundas do que a maior par-te das mudanas caractersticas de todos os perodos histricos at en-to vividos, tm impactado mentes e coraes de toda a humanida-de, exigindo pensar e ressignificar a formao de profissionais daeducao e a gesto da educao. Este texto aponta para a necessida-de de humanizar a formao e as condies de existncia dos profis-sionais da educao e da gesto da educao ressignificando-as comoutra base tica, que permita fazer frente aos desafios violentos dacultura globalizada na sociedade transbordante, insatisfeita eexcludente, constituda de ressentimentos e de exacerbao doindividualismo rumo formao da cidadania plena.

    Palavras-chave: Gesto democrtica da educao. Cultura globalizada.Formao. Cidadania. Humanizao das relaes.

    RETHINKING AND RESIGNIFYING THE DEMOCRATIC MANAGEMENTOF EDUCATION IN THE GLOBALIZED CULTURE

    ABSTRACT: Both in their extensiveness and intensiveness, the scien-tific-technological, economic-social, political-ethical and culturalchanges in contemporary life have been much deeper than mostchanges that happened throughout history. They impacted on theminds and hearts of the whole humanity, requiring that we contem-plate and resignify the education of education professionals and themanagement of education. This text points out a need for humaniz-ing the education and living conditions of professionals in educationand education management. They should be redefined based on a

    * Professora titular da Faculdade de Cincias Humanas, Letras e Artes da UniversidadeTuiuti (PR) e professora (aposentada) da Universidade Federal do Paran (UFPR). E-mail:[email protected]/[email protected]

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    new ethics that allows to face the violent challenges of the global-ized culture in the overflowing society, that is dissatisfied andexclusory, built on resentments and the exacerbation of individu-alism, and to move toward the formation of a whole citizenship.

    Key words: Democratic management of education. Globalized cul-ture. Professional education. Citizenship. Humanizationof relationships.

    Introduo

    inconteste que a histria humana marcada por certas desconti-nuidades, no se desenvolvendo de maneira uniforme. Essas des-continuidades tm sido relatadas por meio das anlises crticas dos

    intelectuais de cada tempo, os quais tentam interpretar a realidade paranela intervir e/ou transform-la. Todavia, as transformaes hodiernas e osmodos de vida que a contemporaneidade fez surgir nos afastam de todosos tipos tradicionais de ordem social, de uma forma sem precedentes emtoda a histria da humanidade. Tanto em extensividade como emintensividade, as transformaes cientfico-tecnolgicas, econmico-sociais,tico-polticas e culturais no mundo globalizado so mais profundas que amaior parte das mudanas caractersticas de todos os perodos histricosat ento vividos, decidindo, influenciando e afetando pedagogigamen-te todos os seres humanos. No plano da extensividade, serviram para es-tabelecer formas de interligao social escala do globo; em termos deintensividade, vieram alterar algumas das caractersticas mais ntimas e pes-soais da nossa existncia cotidiana. Extensividade e intensividade, no en-tanto, no se excluem. Ambas, coetaneamente, impactam e desafiam to-dos os povos e seres humanos que os compem, porque se completam nosentido de que uma gera e nutre a outra.

    A globalizao econmica significa unificao econmica, mastambm significa uma crescente fragmentao econmica, social e po-ltica que se reflete, tanto uma quanto a outra, em toda a populaoterrestre, afetando as mentes e os coraes dos seres humanos, desde osque tm acesso aos bens culturais como os que deles so privados tor-nando-se cada vez mais excludos. Por um lado, uma tendncia desrealizao toma todas as pessoas que se apegam demasiadamente perfeio limpa das matemticas ou ao rigor ldico da informtica e,por outro, a desrealizao configura-se de forma cada vez mais amplia-

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    da na miserabilidade humana, que se faz cada vez maior no mundo. Atecnologia da simulao virtual no pode seno reforar esse risco dedesrealizao, ao dar carter pseudoconcreto e pseudopalpvel s enti-dades imaginrias que ocupam hoje o universo humano. E o que re-sultou disso?

    Resultou um mundo sedutor, fascinante e, contraditoriamen-te, atemorizador, excludente, cruel. Resultou, de forma extensiva e in-tensiva, na agudizao da riqueza e da pobreza humanas e em todas assuas nefastas conseqncias: o vazio, a insegurana, o medo, a angstia,o terror, a desrealizao, a perda do sentido da vida, a excluso. Para mui-tos trata-se de uma crise do processo civilizatrio, uma inverso das con-dies que, na perspectiva de Norbert Elias (1973, 1994), teriam defi-nido o curso do processo civilizatrio.1 A crena na formao de umasociedade mundial pacfica e humana abalada pela proliferao dasguerras entre naes, pelo acirramento da diviso entre um mundohegemnico constitudo de uma minoria de poderosos e o resto domundo tratado como resto, como descartvel, como sobra humanacoisificada.

    Como um fetiche, a globalizao falada, usada com freqnciasem ser entendida concretamente, significando muitas vezes o oposto, mastendo algo em comum: constitui-se como um poder oculto que agita omundo, que determina as vidas humanas, dominando-as cada vez mais.Todos os problemas sociais, todas as crises e catstrofes, na atualidade, sorelacionados com a globalizao, assim como se fala de um mundo maisseguro e at de um possvel governo democrtico mundial.

    Na mesma escala em que ocorre a globalizao do capitalismo, con-siderada um processo civilizatrio (Ianni, 1999), verifica-se a globalizaodo mundo do trabalho. No mbito da fbrica global, criada com a novadiviso internacional do trabalho, e da produo e dinamizao do mer-cado mundial, amplamente favorecidas pelas tecnologias eletrnicas, co-locam-se novas formas e novos significados para o trabalho, gerando o no-trabalho, fato este que vai exigir novas compreenses e responsabilidadessobre o uso e o rumo decisivo de todos os avanos da cincia e da tecno-logia na formao de profissionais em geral, de profissionais da educaoe na formao para o exerccio da cidadania. Portanto, novas prioridadesimpem-se para novas polticas e, em especial, para a gesto democrticada educao comprometida com a qualidade da formao humana.

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    A economia globalizada no a economia mundial que, alis, um fenmeno existente, pelo menos, desde o sculo XVI, mas uma eco-nomia cujas atividades estratgicas, fundamentais, como a inovao, ocapital e a gesto da empresa, funcionam em escala planetria em temporeal e ao vivo2 (Carnoy & Castells, 1993; Castells, 1996; Tolda, 2001;Sousa Santos, 2001) por meio dos recursos tecnolgicos proporcionadospor telecomunicaes, sistemas informticos, microeletrnica e redesinformatizadas. Tudo se globalizou e continua a se globalizar: capital,tecnologia, gesto, informao, mercados internos, terrorismo, racismo eviolncia, crueldade, competio, coisificao, banalizao, ocasionando,em extensividade e em intensividade, uma revoluo no mundo do tra-balho e na sua organizao, na produo de bens e servios, nas relaesinternacionais e nas culturas locais, transformando o prprio princpiodas relaes humanas e da vida social.

    No plano socioeconmico o capital, centrado no monoplio cres-cente das novas tecnologias microeletrnicas associadas informtica,rompe com as fronteiras nacionais e globaliza-se de forma violenta eexcludente, sobretudo o capital financeiro-especulativo que dilapida osfundos pblicos nacionais. No plano tico-poltico tem-se a reafirmaodo iderio neoliberal: a nova era do mercado apresenta-se como a ni-ca via possvel da sociabilidade humana que, logicamente, torna-se cadavez mais individualista e utilitarista.

    O desemprego estrutural demarca no apenas o aumento do exr-cito de reserva, mas especialmente o excedente de trabalhadores. Sob avigncia de relaes de propriedade privada, aumentam a misria, a fomee a barbrie social. A crise do trabalho assalariado constitui-se num dosproblemas polticos e psicossociais mais agudos da histria humana, evi-denciando uma das contradies mais profundas dos tempos atuais: Aclasse trabalhadora que sempre lutou pela reduo da jornada de traba-lho e liberao do tempo livre empenha-se, hoje, desesperadamente paramanter-se empregada mesmo custa da perda de direitos duramenteconquistados (Frigotto, 1998, p. 140). Os profissionais da educao,professores que tambm sempre, organizadamente, lutaram por melho-res condies de trabalho na escolas e nas universidades, sujeitam-se atrabalhar exaustivamente, sem as condies necessrias qualidade doensino e da administrao, com salrios aviltantes.

    So transformaes to rpidas que afetam profundamente todosos seres humanos, o meio ambiente, as instituies sociais, as relaes de

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    trabalho e as relaes sociais, ocasionando tremendo impacto pela apli-cao das novas tecnologias que alteram hbitos, valores e tradies quepareciam imutveis (Ferreira, 1999, p. 27). Nesse contexto, a educaoe a formao de profissionais, que so constitudas e constituintes das re-laes sociais, reduzem-se ao economicismo do emprego e da emprega-bilidade, da eficincia e da eficcia, da competitividade, da produtivida-de e conseqente entropia da formao humana e da cidadania.

    As polticas pblicas, emanadas do Estado, anunciam-se nesseparadigma e, mediatizadas por lutas, presses e conflitos, abrem-se apossibilidades para implementar sua face social. Nesse contexto detal gravidade, a gesto da educao, como tomada de decises, utilizaoracional de recursos para a realizao de determinados fins (Paro, 2000;Ferreira, 1999, 2004), necessita ser repensada e ressignificada ante a cul-tura globalizada,3 a partir dessas determinaes e luz dos compromis-sos com a fraternidade, a solidariedade, a justia social e a construohumana do mundo.

    Mais do que nunca se faz necessrio humanizar a formao e ascondies de trabalho e de existncia dos profissionais da educao. Maisdo que nunca se faz necessrio ressignificar a gesto da educao a partirde outra base tica, que permita fazer frente aos desafios constantes dacultura globalizada na sociedade transbordante (Jeudy, 1995) insa-tisfeita (Heller & Fehr, 1998) constituda de ressentimentos (Arendt,1994) e de exacerbao do individualismo.

    1. A banalizao da realidade virtual e da realidade concreta

    Atender, viver e produzir a existncia, por meio do trabalho, nomundo que se impe com todas as suas transformaes e, concomi-tantemente com toda a violncia, por meio da mdia em suas diversi-ficadas, evoludas e aceleradas formas, constitui-se uma exigncia que aeducao e sua gesto necessitam assumir construindo e reconstruindocoletivamente uma poltica educacional viva que priorize o humano emtodas as pessoas do mundo e no conjunto da humanidade. Essa exi-gncia se torna cada vez maior ante os ditames da cultura globalizadaque, na atual etapa de desenvolvimento, apresenta caractersticas e de-mandas muito peculiares, contraditrias, complexas, em intensa quan-tidade e extensividade. Os dias atuais apresentam uma ordem emque as mdias podem agora, em lugar de se precipitar sobre os acon-

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    tecimentos, em lugar de cri-los, de empol-los, imprimir-lhes sua in-crvel dinmica e sua capacidade de distribuir alucinantes massas de in-formao. A contemporaneidade fruto principalmente de uma ordemeconmica capitalista mundial que envolve a formao de um tipo espe-cial de Estado e, de modo geral, de tipos de organizao, os quais de-pendem fundamentalmente da estruturao da informao.

    Os meios de comunicao de massa, a indstria cultural, ascorporaes da mdia so poderosos agentes culturais que influenciamdecisivamente a educao, a socializao dos indivduos e das coletivida-des, influenciando no modo pelo qual uns e outros se inserem na socie-dade, na cultura, no mercado, na poltica etc. Em diferentes gradaes,a mdia difunde, reitera ou altera quadros mentais de referncia de indi-vduos e coletividades em todo o mundo, tanto abrindo como delimi-tando horizontes, tanto fertilizando inquietaes como influenciandosuas expresses, podendo ser elemento ativo das diversidades e mudan-as em todos os nveis da sociedade.

    Instituies como as universidades esto, nesse contexto, desafi-adas a acompanhar e adaptar-se s alteraes ambientais provocadaspela aplicao de novas tecnologias, geralmente implementadas pelainiciativa privada, e desafiadas a produzir tecnologias e formao tecno-lgica que assegurem a seus egressos a capacidade de um excelente de-sempenho profissional para garantir o enfrentamento competitivo do mer-cado de trabalho.

    Assim, a nova realidade exige qualificaes cada vez mais elevadaspara qualquer rea profissional ou qualquer posto de servio, tornando asnecessidades educacionais das populaes cada vez maiores, reduzindoessa formao a capacitaes sem a base tica necessria formao hu-mana de todo cidado para a verdadeira vida em sociedade. Quem noacompanha as mudanas cientficas e tecnolgicas prematuramente esta-r inabilitado para o trabalho e para a vida em sociedade que, contradi-toriamente, produziu tambm o no-trabalho. A formao humana in-tegral que se alicera na tica humana foi secundarizada pelos ditamesda produtividade e da competitividade que o neoliberalismo impe. Oindividualismo, como nunca, desenvolve-se em escala sem precedentes,quer pela ausncia da formao humana, quer pela necessidade de cor-rer atrs de trabalho para sobreviver.

    Nesse curso do mundo do mercado coloca-se a violncia comocategoria determinante da vida diuturna. Pela rapidez que as TIC4 pro-

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    porcionaram a toda a humanidade, o quadro de referncia de todos mu-dou. Todo vivem, sentem, pensam e agem aceleradamente, violentamen-te, desrespeitando todas as formas humanas de trabalho e de convivnciasocial. Como j afirmei em outro lugar:

    Vive-se a violncia causada pela transnacionalidade dos modos de pen-sar, sentir e agir de todas as culturas, abalando valores locais e cultu-ras, transmutando formas tradicionais de produo da existncia e deorganizao social. Vive-se o tempo em que tudo vale e tudo pode eporque tudo pode nada mais vale. Pode-se tudo! E, nesta amoralidade,a violncia toma lugar nas suas mais aviltantes formas, afetando indi-vduos, famlias, instituies sociais e naes. (Ferreira, 1998; 2001, p.367)

    Constata-se, entretanto, que a grande ausente justamente a in-formao nova e relevante. As TIC avanaram mais rapidamente que aprpria informao. Neste sentido, necessrio estar atento para evitarum certo deslumbramento que tem levado a um uso indiscriminadoda tecnologia em suas potencialidades tcnicas, em detrimento de suasvirtudes cientficas, culturais e pedaggicas.

    Mais do que nunca a histria, como defende Jeudy (1995), ofe-rece a aparncia de estar em vias de se escrever, e a variao das posi-es ticas d a impresso de uma riqueza de interpretaes. A diversi-dade de ticas, concepes, crenas e valores possibilita uma riquezade interpretaes ao mesmo tempo em que impossibilita essas inter-pretaes pelo bombardeio que efetivam nas mentes e nos coraesde todos os seres humanos. A conquista da democracia, dos seus valo-res, o triunfo dos direitos e das liberdades so postos em cena ao vivo,em direto (Jeudy, 1995, p. 113), assim como todos os avanos cien-tficos, tecnolgicos, culturais e, tambm, todas as formas de violnciaproduzidas no mundo, em conseqncia do rumo vertiginoso do de-senvolvimento que se operou e se opera em todas as dimenses. Osacontecimentos surgem na mquina de distribuir informao e nin-gum dispe verdadeiramente de tempo necessrio para representar oque acontece. A prpria idia de representar, interpretar, compreenderos acontecimentos questionada quanto a ter algum sentido. A abun-dncia de sentidos e significados, que transpassam o espao medi-tico, nublou mentes e coraes sobre o que verdadeiramente tem sen-tido e significado. Prioridades so questionadas e, por isso, necessitamser repensadas e ressignificadas. Quais as reais prioridades, que se fa-

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    zem necessrias, para a formao humana e profissional dos cidadosque a gesto democrtica da educao tem de garantir?

    Esses novos sentidos se situam no comando externo das verda-deiras necessidades humanas, como querendo anular a fora motriz decada ser que sonha e que tenta buscar sua realizao. Esses novos senti-dos que povoam a galxia contempornea acirraram um neo-individua-lismo que se apresenta com suas trs grandes apoteoses consumista,hedonista, narcisista (Sousa Santos, 1991, p. 87). A rapidez da infor-mao e a quantidade de informaes apenas parecem autorizar inter-pretaes previamente feitas, isto , significaes possveis,5 que estoao dispor e, por isso, so incorporadas tumultuadamente, sem sentido,de forma naturalizada e mecnica no ntimo de mentes e coraes, emtodo o mundo, que tm acesso a essas informaes. neste processo debanalizao6 e de insignificncia da realidade que se funda o excesso ou amais-valia de sentido dos discursos e das imagens que circulam o espaopblico. A alucinao substitui a cena e o lugar da representao. Asmdias conseguiram operar uma gesto competente dos efeitos de fasci-nao. O acontecimento pode ser integralmente produzido e a transmis-so das imagens televisivas alimenta-se do poder exercido pelo em dire-to. A imagem e o real podem coincidir! (Jeudy, 1995) Seria isso umabanalizao da fascinao? Sim, a banalizao no s da fascinao, masda vida e da morte humanas.

    A violncia banalizada tornou-se o contedo da vida cotidiana dequem tem acesso aos meios de comunicao, infelizmente! Todavia, per-gunta-se, e para aqueles que no tm acesso a estes bens culturais, o querestou? Sobraram os rescaldos dessa violncia, a alienao, a fome, o de-semprego, as carncias de todas as formas de vida humana digna, quevm a se constituir na reproduo da violncia. Sobraram as brutalida-des cometidas contra etnias indgenas, as matanas de delinqentes oumenores infratores, a epidemia de assaltos, seqestros e roubos (Ferreira,2002, p. 534), a subnutrio, o analfabetismo, a misria, o sofrimento,a morte. Para todo o planeta sobraram o terrorismo, a produo da infe-rioridade,

    a guerra, a escravatura, o genocdio, o racismo, a desqualificao do ou-tro em objeto ou recurso natural e uma vasta sucesso de mecanismos deimposio econmica (tributao, colonialismo, neocolonialismo e, porltimo, globalizao neoliberal), de imposio poltica (imprio, Estado

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    colonial, ditadura e, por ltimo, democracia) e de imposio cultural(epistemicdio, missionao, assimilacionismo e, por ltimo, indstriasculturais e cultura de massas). (Sousa Santos, 2002, p. 24)

    O que restou para a grande parcela do mundo globalizado quesequer tem o que comer ou vestir, muito menos receber, ver ou apreciarpor meio dos poderosos meios de comunicao, as informaes bombs-ticas, ainda que banalizadas e a produo fantasiosa dos pacotes cine-matogrficos recheados de tiros e mortes? Restou apenas a violncia dasfaltas de que causam a violncia da indignidade, do dio, da misria,que perpassa o espao societrio mundial. Restou a violncia da discri-minao que conduz incivilidade, ao desespero e desesperana, pois evidente que a iniqidade da distribuio da riqueza mundial, que seagravou nas duas ltimas dcadas de forma avassaladora,7 agudizou a ri-queza e a misria humanas.

    Nesse contexto, o matar e o morrer, a mentira, a trapaa, a trai-o, a ignomnia, assim como todas as formas de violncia humana vei-culadas por meio da mdia, de forma naturalizada, so, j, conceitos in-corporados, por todas as pessoas que tm acesso a esse meios. Mas,principalmente e infelizmente, so assimilados e incorporados pelas cri-anas e pelos adolescentes, inertes, diante da televiso desde a mais tenraidade, sem mesmo ainda ter conseguido pronunciar corretamente estestermos. Esta incorporao dos conceitos banalizados se d, por meio dalinguagem meditica, formando socialmente as mentes e os coraesde todos e, em especial, das crianas, permeando a educao infantil decontedos no selecionados como prioritrios ao seu desenvolvimento,mas como contedos priorizados pelo capital que, na nsia de vender evender cada vez mais, cultiva o consumismo de mercadorias, todas ba-nalizadas, completamente sem sentido, conferindo-lhes um outro senti-do: o desejo de possuir e de consumir a qualquer preo.

    E, nesse quadro, o que restou? O vazio! A insegurana! Omedo! A angstia! O terror! A perda do sentido da vida! A solido! Res-tou a produo, em massa, de mercadorias que coisificam as pessoas epersonalizam as coisas, travestindo com outros significados a produ-o destinada ao consumismo, que tambm precisa, nesta tica, ser cul-tivado. Restou o desenvolvimento de inmeras patologias que so pro-duzidas pela neurose que as determinaes do capitalismo globalizadogeraram, acentuando antagonismos insuperveis como riqueza e mis-

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    ria e produzindo a doena que ganhou o trono das patologias no mun-do: a depresso.8 Restou o prazer virtual para os que a ele tm acesso, que substitui o real pelo virtual, as relaes humanas reais pelas rela-es virtuais abstratas e fantasiosas. Restou o prazer virtual que capazde substituir o prazer real pelo prazer da imaginao, conduzindo ho-mens e mulheres, j desde a infncia e a adolescncia, a se relacionaremcom o computador como se se relacionassem com um ser humano, sim-plesmente porque por trs de outra mquina existe outro ser humanoque tambm se relaciona da mesma forma. A mquina facilita e con-traditoriamente substitui o verdadeiro dilogo humano de pessoas, oreal encontro de mentes e coraes. A iluso da transformao espacio-temporal to poderosa que o prprio virtual se apresenta como real,constituindo-se numa perversidade cada vez mais atual.

    Esta banalizao da vida e da morte, do amor e do dio, domagnfico e do abominvel, da riqueza e da pobreza, nas suas mais di-versas e diferenciadas formas de expresso, cruas ou travestidas e sobefeitos especiais de som, luzes e cores, confirma o pensamento deAdorno segundo o qual a consolidao do processo de semiformao,em que o conceito foi apreendido de forma medocre, no significa ocumprimento de um primeiro estgio que dever ser ultrapassado. Naverdade, a absoro do banalizado inimiga mortal da formao (Ador-no, 1986), pois distorce a apreenso da realidade delocando-a do real-concreto e distituindo-a de seu verdadeiro sentido e significado, geran-do sentimentos induzidos no seio das apreenses. Aprender de formamedocre mediocrizar quem aprende, pela absolutizao do conte-do da informao. desumanizar o ser humano na aquisio da suasegunda natureza9 mediocrizada. uma semiformao que gera umoutro tipo de formao que bem poderia ser chamada de deforma-o, pois produz a esquizofrenia pessoal e social. Tal processo gera, re-almente, uma dissociao e assintonia das funes psquicas, disto de-correndo fragmentao da personalidade e perda de contato com arealidade.

    O perigo mais aparente o de acreditar tanto nos simulacros quese acaba por tom-los como reais. Formas diversas de esquizofrenia ou desolipsismo10 poderiam sancionar gosto demasiado pelas criaturas virtuaiscom as quais cada vez mais devem conviver. A fuga do verdadeiro real e orefgio num real de sntese vo, sem dvida, permitir s novas socieda-des invadidas por desemprego estrutural fornecer, a milhes de ociosos

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    Naura Syria Carapeto Ferreira

    forados, alucinaes virtuais, drogas visuais, capazes de ocupar corpos eespritos, mentes e coraes ao mesmo tempo em que se desenvolveronovos mercados e, tambm, novas formas de controle social.

    Todas estas condies sociais que fundamentam os prejuzos daformao, cada vez mais desumana, vm constituir a essncia do con-ceito de indstria cultural que atualmente se reafirma na consolida-o da chamada realidade virtual. o virtual que se torna realsubstituindo a realidade que se converte em virtual, desertandoidias, sentimentos e valores dos sujeitos em suas relaes com o mun-do objetivo seus familiares, amigos, colegas de trabalho, vizinhos, co-nhecidos, companheiros de ideais, companheiros de lazer , desagre-gando seu eu interior.

    Constatar e pensar a conjuntura atual como deserto e desertifi-cao tambm pensar a produo de um tipo de sujeito humanoque somente monologa num universo mudo e destitudo de sentido,vivendo um solilquio que passa a se desenvolver, a partir da infn-cia, atingindo a idade adulta e a permanecendo de forma brutal, iso-lando as mentes e os coraes nos seus mundos vividos, que cada vezse tornam mais carentes, e, conseqentemente, cada vez mais insatis-feitos, com um maior nmero de necessidades11 produzidas.

    a insatisfao produzida socialmente e manifestada de formaviolenta contra as pessoas, a natureza, as coisas, o mundo, contra tudoe todos que no podem ser manipulados ou apropriados. Agnes Hellere Ferenc Fehr, analisando a condio ps-moderna, cunharam omundo hodierno com a expresso sociedade insatisfeita, uma socie-dade em que as ordens sociais e as pessoas se tornam contingentes.Numa sociedade insatisfeita, afirmam,

    (...) todas as ordens sociais e polticas podem com igual facilidade exis-tir como no existir, podem ser de uma forma ou de outra. Do mesmomodo, a pessoa individual pode existir como tambm no existir nela, enela desempenhar tanto um papel quanto outro. Contudo, embora to-das as ordens sociais possam ser diferentes do que so, as ordens sociaisdecisivas podem permanecer inalteradas (embora no por alguma necessi-dade) durante os anos de formao do indivduo ou pelo menos sofrerapenas lentas mudanas. Embora todas as pessoas sejam portadoras des-sas possibilidades ilimitadas, tendo escolhido um caminho na vida, a pes-soa individual comea a ver-se diante de possibilidades reduzidas e opor-tunidades sempre menores de novo comeo. Alm disso, o contexto pode

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    virar um estorvo para as pessoas que escolhem um caminho de sua pre-ferncia, e algumas possibilidades jamais ocorrerem para aquelas que es-colheram um determinado caminho na vida. Como disse o filsofo ale-mo Koselleck, h um enorme abismo entre esperanas e experincia. Asesperanas esto impregnadas de contingncia, mas o que experimenta-mos so os difceis fatos da vida, a limitao factual de nossas possibili-dades. A discrepncia entre esperana e experincia motivo de constan-te insatisfao e descontentamento. (Heller & Fehr, 1998, p. 35-36)

    Esta sociedade insatisfeita, repleta de ressentimentos, denomi-nada de sociedade transbordante, por Henri-Pierre Jeudy (1995). To-davia no se trata de uma sociedade transbordante de sentido porque dem espetculo a realidade, mas porque se situa alm da espectalurizao,neutralizando a oposio entre a realidade e os seus simulacros medi-ticos, banalizando tudo e todos. Compreende-se, ento, que a crtica dasociedade do espetculo, a partir da defasagem com relao a uma su-posta realidade exterior que lhe servisse de referente, tornou-se obsoleta,visto ter se integrado ao prprio sistema meditico, servindo de alimen-to ao prprio funcionamento das redes de informao.

    A natureza dissuasiva desta realidade e o devir virulento do senti-do coincidem com o espectro das angstias e dos medos difusos de ca-tstrofes. esse o espectro que as sociedades atuais procuram de todasas formas exorcizar por meio do recente retorno aos valores morais e daimplantao dos dispositivos de segurana. Esse retorno, dos valores mo-rais, apresenta-se, assim, como uma espcie de tbua de salvao desti-nada a criar a imagem da segurana perante a ocorrncia dos perigos queespreitam os seres humanos, perigos que a fluidez das imagens e a dosdiscursos no cessam de ingurgitar o nosso cotidiano.

    Diante dos elementos examinados acima, caractersticos da socie-dade insatisfeita e transbordante, urge repensar como humanizar aformao dos seres humanos que habitam o nosso planeta! Que decises,quanto a finalidades e contedos, devem ser tomadas para a huma-nizao da formao que a escola e a famlia, enfim, todos os aparelhoshegemnicos do Estado, necessitam propiciar como mxima prioridade?Que contedos da aprendizagem, a serem ensinados como contedosde vida e que devem abranger os conceitos cientficos da cultura eruditae os contedos ticos de convivncia social (Ferreira, 2003a, p. 113),devem ser priorizados e trabalhados? Eis o compromisso do coletivo dosprofissionais da educao, dos polticos e dirigentes do pas e da

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    hegemonia mundial: a humanizao da formao para a cidadania pormeio de contedos que possam desenvolver seres humanos fortes inte-lectualmente, ajustados emocionalmente, capazes tecnicamente e ricos decarter (idem, ibid.).

    Cidadania como conceito que melhor expressa a reabsoro dosbens sociais pelo conjunto dos cidados e entendida como capacidadeconquistada por alguns indivduos, ou (no caso de uma democracia efe-tiva) por todos os indivduos, de se apropriarem dos bens socialmentecriados, de atualizarem todas as potencialidades de realizao humanaabertas pela vida social em cada contexto historicamente determinado(Coutinho, 2000, p. 50).

    A cidadania, no entanto, compreendida como soberania, impli-ca autoconscincia. Sob as condies constitudas, com a formao dasociedade global, as possibilidades da autoconscincia, por mais que setenham ampliado estes horizontes de possibilidades, ainda so limi-tadas. Poucos so os que dispem de condies para se informarem,para compreenderem o bombardeio de informaes que recebem naavalanche de velocidade violenta com que ocorrem. Poucos so os quetm condies de se posicionarem diante dos acontecimentos mundi-ais, tendo em conta suas implicaes locais, regionais, nacionais, con-tinentais. Somente quando se criam as condies mais plenas para aelaborao da autoconscincia, no sentido de conscincia para si, entoa cidadania realiza-se propriamente como soberania. Isso significa criarcondies plenas para todos os seres humanos no planeta, num pro-cesso de autoconscincia que s se dar pelo conhecimento, pelas con-dies dignas de vida e pela participao na vida societria mundial, oque vai exigir uma outra qualidade e quantidade de conhecimento aser adquirido.

    Se est em curso a formao de um novo cidado do mundo,faz-se necessrio entender esta contradio, pois a formao para a ci-dadania necessita apoiar-se na formao desse novo cidado sem se des-cuidar da cidadania que lhe pertence como direito, pelo nascimento,em seu pas. O estatuto e o valor da formao para a cidadania, hoje,necessitam se constituir de todos os elementos e recursos que permi-tam ao novo cidado ter possibilidade de trnsito entre as culturas dosdiferentes povos. E transitar com uma compreenso democrtica de res-peito a todas as diferenas e com a permanente possibilidade de acessoaos recursos necessrios a essa formao, e que esta se assente em uma

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    nova tica humana alicerada na solidariedade e na justia social, norespeito s diferenas e aos direitos de todos.

    Tais compreenses e contedos so prioritrios na formao para acidadania, responsabilidade do profissional da educao para o qual de-vem ser fornecidas a formao e as condies dignas para que este compro-misso profissional se efetive. Isso implica slida formao e salrios dignosque lhe permitam no s adquirir os bens culturais necessrios sua pro-fisso como as condies de contnua qualificao. No entanto, percebe-se, no conjunto das reformas, o descomprometimento com a formao ini-cial, a supervalorizao de uma poltica de formao em servio que ocorre,de um modo geral, de forma aligeirada e a inexistncia de polticas de va-lorizao desses profissionais. Na verdade, a poltica de formao continu-ada de professores tem se tornado uma poltica de descontinuidade, poiscaracteriza-se pelo eterno recomear em que a histria negada, os sabe-res so desqualificados, o sujeito assujeitado, porque se concebe a vidacomo um tempo zero. O trabalho no ensina, o sujeito no flui, porqueantropomorfiza-se o conhecimento e objetiva-se o sujeito (Collares et al.,1999, p. 212). Neste sentido possvel questionar sobre o papel e as fina-lidades da formao dos profissionais da educao, por parte do Estado bra-sileiro, quando no contexto da reforma educacional se desrespeita essa for-mao pela desprofissionalizao docente.

    O que se verifica atualmente que, tanto as pessoas que vivem,padecem ou desfrutam das mais diversas situaes, como as que se em-penham em compreender e explicar o que vai pelo mundo, todos estoempenhados em refletir sobre a formao, a conformao e a transforma-o dos indivduos na contemporaneidade. Mesmo sem se ter tornadocidado, pela ausncia dos elementos constitutivos desta condio, hojeo ser humano est atento e perdido, deriva do que fazer e de comose realizar.

    2. Gesto da educao na cultura globalizada: ressignificar preciso!

    A compreenso do significado da gesto da educao, nos temposhodiernos, necessita, a partir do seu sentido etimolgico, ser vinculadas exigncias do mundo globalizado com toda a sua complexa rede dedeterminaes, tendo como referncia fundamental a formao para a ci-dadania na cultura globalizada.

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    Gesto significa tomada de decises, organizao, direo. Relaci-ona-se com a atividade de impulsionar uma organizao a atingir seusobjetivos, cumprir suas responsabilidades. Gesto da educao significaser responsvel por garantir a qualidade de uma mediao no seio daprtica social global (Saviani, 1980, p. 120), que se constitui no nicomecanismo de hominizao do ser humano, que a educao, a forma-o humana de cidados. Seus princpios so os princpios da educaoque a gesto assegura serem cumpridos uma educao comprometidacom a sabedoria de viver junto respeitando as diferenas, comprometi-da com a construo de um mundo mais humano e justo para todos osque nele habitam, independentemente de raa, cor, credo ou opo devida (Ferreira, 2004, p. 306-307).

    Significa tomar decises, organizar e dirigir as polticas educacionaisque se desenvolvem na escola comprometidas com a formao da cidada-nia, no contexto da complexa cultura globalizada. Isso significa aprendercom cada mundo diferenciado que se coloca, suas razes e lgica, seuscostumes e valores que devem ser respeitados, por se constiturem valores,suas contribuies que so produo humana. Estas compreenses tmcomo objetivo, se possvel, iluminar um campo profissional minado detodas essas incertezas e inseguranas, tornando-o conseqente com o pr-prio conceito e nome, a fim de tomar decises sobre como formar e comogarantir a qualidade da educao a partir de princpios e finalidades defi-nidos coletivamente, comprometidos com o bem comum de toda a hu-manidade.

    No tarefa fcil, mas necessria! um compromisso de quemtoma decises a gesto , de quem tem conscincia do coletivo de-mocrtica , de quem tem a responsabilidade de formar seres humanospor meio da educao. Assim se configura a gesto democrtica da edu-cao que necessita ser pensada e ressignificada na cultura globalizada,imprimindo-lhe um outro sentido.

    A cultura globalizada12 significa uma poderosa imagem culturalque exige um novo nvel de conceptualizao de todas as inmeras eincontveis culturas locais, regionais, estatais, ocidentais e orientais, doNorte e do Sul que esto postas a nu, divulgadas ao mundo que assisteencantado e perplexo a este multiculturalismo, o qual necessita ser aca-tado e respeitado. Cultura globalizada a expresso que contm a di-versidade de tudo e de todos na unidade dos limites do mundo. Con-

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    traditrio conceito que necessita ser investigado e compreendido parase poder empreender a gesto democrtica da educao.

    O novo sentido da gesto democrtica da educao o dehumanizar a formao nesta cultura globalizada dirigida, virtualmen-te, pelo capitalismo. Este novo sentido exige que os educadores profes-sores, pais, gestores, polticos e todos que tomam decises sobre os des-tinos da humanidade comecem a inquietar-se com as conseqnciaspsicolgicas e sociais que os excessivos uso e consumo de universos virtu-ais criam. Uma realidade irreal que passa a constituir-se em um virtu-al real.

    compreenso de gesto como tomada de decises vale acrescer acontribuio de Cury (2002), quando salienta que este termo tambmprovm do verbo latino gero, gessi, gestum, gerere, que significa: levar so-bre si, chamar a si, exercer, gerar. Assim como em um dos substantivosderivados deste verbo, gestatio, ou seja, gestao, percebe-se o ato peloqual se traz em si e dentro de si algo novo, diferente: um novo ente. Damesma raiz provm os termos genitora, genitor, germen. A gesto, nestesentido, , por analogia, uma gerao similar quela pela qual a mulherse faz me ao dar a luz a uma pessoa humana (Cury, 2002, p. 164).

    Pode-se vislumbrar aqui a postura metodolgica da maiutica socrtica.A gesto implica um ou mais interlocutores com os quais se dialoga pelaarte de interrogar e pela pacincia em buscar respostas que possam au-xiliar no governo da educao segundo a justia. Nessa perspectiva, agesto implica o dilogo como forma superior de encontro das pessoas esoluo de conflitos. (Cury, 2002, p. 165)

    Respeito, pacincia e dilogo como encontro de idias e de vidasnica forma superior de encontro dos seres humanos, os nicos seresvivos que possuem esta condio e possibilidade e que no a utilizam.Dilogo, como o fundamental caminho em todas as suas possveis for-mas, entendido como o reconhecimento da infinita diversidade do realque se desdobra numa disposio generosa de cada pessoa para tentarincorporar ao movimento do pensamento algo da inesgotvel experin-cia da conscincia dos outros (Ferreira, 2000, p. 172). Dilogo comouma generosa disposio de abrir-se ao outro que ir somar compre-enses convergentes ou divergentes no sentido da construo dahumanizao das relaes. Dilogo como confraternizao de idias e deculturas que se respeitam porque constituem diferentes produes hu-

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    manas. Dilogo como a verdadeira forma de comunicao humana, natentativa de superar as estruturas de poder autoritrio que permeiam asrelaes sociais e as prticas educativas a fim de se construir, coletivamen-te na escola, na sociedade e em todos os espaos do mundo, uma novatica humana e solidria. Uma nova tica que seja o princpio e o fim dagesto democrtica da educao comprometida com a verdadeira forma-o da cidadania.

    Fraternidade, solidariedade, justia social, respeito, bondade eemancipao humana, mais do que nunca, precisam ser assimilados e in-corporados como conscincia e compromisso da gesto democrtica daeducao princpios que necessitam nortear as decises a serem toma-das no sentido da humanizao e da formao de todas as pessoas quevivem neste planeta.

    Recebido e aprovado em outubro de 2004.

    Notas

    1. Para Norbert Elias so trs as condies que teriam definido o curso do processocivilizatrio: a primeira a centralizao do poder por meio da constituio do Estado mo-derno; da emergncia portanto de um espao, configurado como ordem legal e, at certoponto, legtima, e onde a garantia da ordem deriva de um monoplio. A segunda condi-o que define o curso do processo civilizatrio a codificao dos comportamentos, suanormatizao. preciso que as pessoas civilizadas compartilhem regras comuns a respeitode como se comportar em sociedade. Elias mostra a lenta emergncia desse processo decodificao que marca o advento da Era Moderna e que se constri originalmente sob a for-ma de um processo de educao das elites. A ltima condio a do interesse estratgicoque podem ter ou no indivduos confrontados com o monoplio da fora exercidopelo Estado e conscientes das regras de comportamento do mundo civilizado, em abrirmo da fora nas suas relaes recprocas, em favor de procedimentos definidos pela capa-cidade de influncia e de persuaso. A incidncia dessas trs condies histricas, e por-tanto do processo civilizatrio, sobre a agressividade individual analisada por Elias, mos-trando que a civilizao supe a passagem de uma situao globalmente definida em ter-mos de heteroviolncia a uma situao definida em termos de autoviolncia. Para que o in-divduo prefira a influncia e a persuaso ao uso da fora, preciso que ele exera sobre simesmo um autocontrole, que ele seja capaz de controlar sua prpria agressividade. Nestesentido a generalizao de situaes em que o uso da fora passa a ser preferido, em detri-mento das categorias de relacionamento prprias do mundo civilizado, estaria a indicaruma reverso do processo civilizatrio (Elias, 1973; 1975).

    2. Na linguagem do espetculo, isso significa que a difuso das informaes simultnea sua produo, isto , ao vivo.

    3. A expresso cultura globalizada, aqui utilizada, significa o rico, complexo e imenso con-junto de culturas que se entrecruzam no planeta impondo suas peculiaridades e diferen-

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    as e exigindo respeito aos seus modus vivendi, formatos e desenvolvimentos. So inme-ras e incontveis culturas que, concomitantemente, desenvolvem-se, expem-se e defendemseus princpios, valores e costumes intercambiando diferenas e antagonismos (Ferreira,2003b, p. 31).

    4. Tecnologias da Informao e Comunicao

    5. Para Henry-Pierre Jeudi, a realidade banalizada tornou-se insignificante. As sociedadesatuais so transbordantes. Mas que tero elas hoje em excesso que as faa transbordar? Pes-soas? Objetos? Acontecimentos? Se o autor entendesse que o mundo atual tem objetos emexcesso, incorreria nas crticas dos que fazem notar que cerca de dois teros da humanida-de vivem ainda hoje na penria, na carncia dos mais elementares meios de subsistncia.Se entendesse que h hoje um excesso de pessoas, atrairia as crticas dos que assinalam abaixa da natalidade dos pases industrializados e o conseqente processo de envelhecimentoda populao, que ocorre nesses pases. Se entendesse que de um excesso dos aconteci-mentos que transborda a sociedade atual, seria criticado pelos que vem o mundo contem-porneo como um processo de rarefao e de consumao da Histria. Portanto no soobjetos, pessoas ou acontecimentos que esto hoje em excesso nas sociedades de senti-do que as sociedades transbordam. Para este socilogo francs, a avalanche dos discursose das imagens que circulam no espao meditico que torna as coisas, os objetos, os aconte-cimentos e as pessoas insignificantes e precisamente sobre essa insignificncia da reali-dade, sobre este processo de banalizao, que se funda o excesso ou a mais-valia dos dis-cursos e das imagens que circulam no espao pblico. A prpria realidade assim substi-tuda e dissuadida pela proliferao do sentido, acedendo desse modo a um estatuto depretexto de uma nova realidade, de uma realidade de natureza discursiva e imagtica(Jeudi, 1995).

    6. Banalizao significa supresso de marcas distintivas; ao de tornar banal, tornar comum,de entrar nos hbitos (Oliveira, 2000, p. 48), tornar vulgar (Ferreira, 2001, p. 262). uma categoria que ascende vertiginosamente com o processo de agudizao do capitalismoglobalizado sob a gide do Estado mnimo e do desenvolvimento da tecnologia e dos mei-os de comunicao.

    7. De acordo com Sousa Santos, 54 dos 84 pases menos desenvolvidos viram seu PNB percapita decrescer nos anos de 1980; em 14 deles a diminuio rondou os 35%. Segundoo Relatrio do Programa para o Desenvolvimento das Naes Unidas de 2001 (PNUD,2001), mais de 1,2 bilho de pessoas (pouco menos de da populao mundial) vivemem pobreza absoluta, ou seja, com um rendimento inferior a um dlar por dia e outros2,8 bilhes vivem apenas com o dobro desse rendimento (PNUD, 2001, p. 9). Segundoesse mesmo relatrio, 46% da populao mundial que vive em pobreza absoluta est nafrica subsaariana, 40% no sul da sia e 15% no Estremo Oriente, no Pacfico e na Am-rica Latina. Conforme o Relatrio do Desenvolvimento do Banco mundial, de 1995, oconjunto dos pases pobres, onde vive 85,2% da populao mundial, detm apenas21,5% do rendimento mundial, ao passo que o conjunto dos pases ricos, com 14,8% dapopulao mundial, detm 78,5% do rendimento mundial.

    8. Antnimo de nimo (do latim animus), que significa coragem, fora, vida; a depresso desnimo e significa enfraquecimento, debilidade, morte na vida.

    9. Saviani ensina que s se aprende, de fato, quando se adquire um habitus, isto , uma dis-posio permanente, ou, dito de outra forma, quando o objeto de aprendizagem se con-verte numa espcie de segunda natureza (Saviani, 2003, p. 20). Para aprofundamento doconceito, consultar o texto Sobre a natureza e especificidade da educao, em Saviani,2003.

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    10. Solipsismo a doutrina segundo a qual a nica realidade no mundo o eu. Atitude queconsiste em sustentar que o eu individual de que se tem conscincia, com suas modifica-es subjetivas, que forma toda a realidade. Pode ser tambm interpretado como vidaou costume de quem vive na solido (Ferreira, 1999, p. 1.879).

    11. As necessidades podem ser descritas como sentimentos conscientes de que falta algumacoisa, uma falta de.... Em conseqncia o termo necessidade no indica um determi-nado sentimento concreto, mas muitos sentimentos distintos na condio de assinalar umafalta. Nem todos os sentimentos, porm, podem assinalar uma falta, mas muitos, e todiferentes quanto a fome, a curiosidade, a ansiedade, o amor e inmeros outros, certamenteo fazem.

    12. Esta expresso , aqui, utilizada com a intencionalidade de chamar a ateno para a com-plexa teia de relaes que se estabeleceu e se estabelece, a todo momento, numa rede deinformaes e inter-relaes que bombardeiam mentes e coraes com novos/velhos va-lores, idias, costumes, descobertas, invenes, nomenclaturas diferenciadas, contraditri-as e dspares, povoando conjuntamente todos os espaos. Essa intencionalidade se insereno que Ianni revela: Quando muitos imaginavam que a mquina do mundo j havia rea-lizado suas principais potencialidades, ela surpreende praticamente a todos e faz ruir es-quemas, estratgias, interpretaes, arranjos polticos, alianas econmicas e geopolticas,convenincias e cumplicidades (1995, p. 22), recobrindo o mundo de novos significa-dos que passam a compor uma nova cultura, agora entendida como uma cultura globalque induz, suscita, fascina, amedronta, encanta, aterroriza e obriga a criar, por meio dainterpretao e do sonho, novas realidades culturais, novas formas de viver, de produzir aexistncia, novas formas de gesto comprometidas com o bem comum de toda a humani-dade (Ferreira, 2003a).

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