Navegação em um infográfico multimídia na Web (Hipertexto 2009)
-
Upload
rafael-tourinho-raymundo -
Category
Documents
-
view
217 -
download
0
Transcript of Navegação em um infográfico multimídia na Web (Hipertexto 2009)
-
8/7/2019 Navegao em um infogrfico multimdia na Web (Hipertexto 2009)
1/11
III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO
Belo Horizonte, MG 29 a 31 de outubro de 2009
1
NAVEGAO EM UM INFOGRFICO MULTIMDIA NA WEB: aspectos deproduo e recepo1
Rafael Tourinho RAYMUNDO (Universidade do Vale do Rio dos Sinos)2
ResumoO artigo parte da anlise de um infogrfico multimdia feito para a Web, objetivando identificar oselementos hipertextuais e audiovisuais presentes no produto, bem como de que maneira as partes searticulam entre si. Dada a linguagem fragmentada e no-sequencial do infogrfico, percebe-se apossibilidade de mltiplas maneiras de navegao. Problematizam-se, ento, possveis dimenses quepossam configurar o trajeto do leitor-navegador, considerando-se no s a construo do produto, mastambm o contexto scio-cultural em que o usurio est inserido. Tais indagaes ganham novosmatizes aps a observao das navegaes de dois estudantes universitrios pelo infogrfico analisado.As diferenas entre as trilhas percorridas pelos dois jovens so significativas, o que acentua o embateentre construo de produtos multimdia atrativos versus interesses e personalidade de cada leitor-navegador.
Palavras-chave: Multimdia; Leitor-navegador; Recepo; Infografia multimdia.
Introduo
Este artigo deriva de minha atual pesquisa para o mestrado em Cincias da
Comunicao, em que pretendo verificar a recepo de um produto hipertextual. No
momento, concebo os infogrficos multimdia como um corpus interessante para a
investigao, haja vista a linguagem fragmentada, o uso de hiperlinks e a presena de outras
caractersticas hipertextuais em certos produtos do gnero. A anlise do infogrfico e a
observao da navegao de dois indivduos pelo mesmo, descritos aqui, foram exerccios
para uma disciplina do curso, que objetivava problematizar e testar metodologias de pesquisa
em comunicao. Considero os resultados obtidos como um movimento inicial de pesquisa
exploratria, ainda que no tenha definido, at agora, o produto e o pblico a serem
abrangidos na investigao final.
1 Trabalho apresentado ao Grupo de Discusso Linguagens e Interfaces Hipermiditicas, no III EncontroNacional sobre Hipertexto, Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.2
Mestrando em Cincias da Comunicao pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS. Membrodo grupo de pesquisa Processos Comunicacionais: epistemologia, midiatizao, mediaes e recepo PROCESSOCOM. Bolsista CNPq. E-mail: [email protected].
-
8/7/2019 Navegao em um infogrfico multimdia na Web (Hipertexto 2009)
2/11
III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO
Belo Horizonte, MG 29 a 31 de outubro de 2009
2
Hipertexto X infogrficos multimdia: ideais tericos (in)atingveis
Os tericos costumam ser, de uma maneira geral, otimistas em relao ao uso do
hipertexto3 para a elaborao de produtos miditicos. Costuma-se pensar em construes no-
sequenciais, em que diferentes fragmentos independentes de textos so interligados de
maneira rizomtica, sem um ponto inicial ou trilhas especficas a serem percorridas
(WANDELLI, 2003). No caso dos infogrficos multimdia, ao passo que cada elemento
vdeos, fotos, udios, animaes, desenhos, cones, textos escritos, etc. deve ser
compreensvel de maneira isolada, todos tm de manter coerncia entre si e contribuir para
uma unidade comunicativa (SALAVERRA, 2001). Ou seja, o infogrfico deve contar uma
nica histria, mas por meio de diferentes cdigos, numa trama no-hierarquizada, que
possibilite mltiplos percursos e leituras, explorando, assim, todas as potencialidades da
linguagem hipertextual.
Pode-se imaginar, porm, dois possveis problemas. O primeiro a falta de preparo
dos profissionais para utilizar a linguagem. O segundo, ao qual me atenho aqui, a
inadequao dos recursos s histrias contadas pelos veculos. Como lembra Marcuschi
(1999), a questo se h alguma rea em que o hipertexto seria mais adequado que o texto
linear e que forma ele deveria ento assumir (p. 11). Caso contrrio, corre-se o risco daquilo
que o autor chama stress cognitivo: sem uma ordenao especfica de informaes, demanda-
se do leitor-navegador uma carga muito maior de conhecimentos prvios, para que as escolhas
de navegao no sejam inconsequentes.
Na prtica, percebe-se que grandes portais de notcias, ao utilizarem infogrficos,
costumam valer-se de poucos ou nenhum recurso hipertextual/multimdia. Quando os
utilizam, com parcimnia e para fins bem especficos (TEIXEIRA e RINALDI, 2008). J
infogrficos multimdia mais elaborados, como o que ser descrito a seguir, costumam
direcionar as informaes numa ordem lgica e/ou hierrquica, ao contrrio do que defendemos estudiosos apresentados no incio deste artigo. Seguem, assim, a natureza da infografia
impressa, que, como em toda construo jornalstica informativa, contextualiza um
acontecimento e responde s perguntas bsicaso que, quem, quando, como, onde e por que
(FERRERES, 1995).
3
Entendo hipertexto como uma rede em que diferentes elementos textuais, visuais e sonoros podem serinterligados numa trama no-sequencial. A ideia vai ao encontro da concepo de Pierre Lvy (1993) sobre oconceito.
-
8/7/2019 Navegao em um infogrfico multimdia na Web (Hipertexto 2009)
3/11
III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO
Belo Horizonte, MG 29 a 31 de outubro de 2009
3
Anlise de um infogrfico multimdia
O infogrfico multimdia Mallu Magalhes4, publicado no site da revista Bravo!,
complementar a uma reportagem de outubro de 20085, mas tambm funciona de maneira
isolada. O motivo da escolha desse produto para anlise ficar mais claro aps a descrio.
Pretendo, neste momento, destacar os elementos multimdia presentes no produto, bem como
a correlao entre eles, ou seja, a maneira como diferentes partes colaboram para, juntas,
contar uma mesma histria.
A reportagem publicada na revista (e disponvel, tambm, on-line) reconstri a
trajetria de Mallu Magalhes, garota que, em pouco mais de um ano, despontou como
revelao da msica brasileira. Numa linguagem literria, em que as falas das fontes se
confundem com o discurso do jornalista, a matria traa uma linha do tempo e explica todos
os passos que levaram Mallu at o estrelato: de incio, a menina, que compunha por diverso,
faz 15 anos e ganha dinheiro para gravar suas canes num estdio; mais tarde, por indicao
de um amigo, ela disponibiliza as faixas numa pgina de rede social MySpace; logo, Mallu
comea a ganhar a ateno da mdia, surgem contratos publicitrios, shows, indicao para
prmios e a gravao de um CD.
Na verso on-line, a reportagem da Bravo! foi acrescida do infogrfico multimdia.
s informaes contidas no texto original foram somados outros elementos, como vdeos e
entrevistas em udio. No final, ento, tem-se, na reportagem infogrfica, uma histria to
detalhada quanto a do texto escrito.
No infogrfico, a histria de Mallu Magalhes contada a partir do desenho de um
tabuleiro, tal qual os de jogos infantis (figura 01). Cada ms, de maro de 2007 a outubro de
2008, representado por uma casa do jogo. Algumas dessas casas so links que acionam toda
uma rede de informaes. Ao se clicar num cone, surgem, sempre, um texto curto, uma
fotografia com legenda e um vdeo. Em alguns momentos, tambm h arquivos em udio.O contedo dos textos curtos , basicamente, um resumo da reportagem escrita. O
texto deRevolucionria...que, na verso on-line, possui oito pginas fluido e contnuo.
No infogrfico multimdia, transforma-se em pargrafos nicos e fragmentados de acordo
com a disposio no tabuleiro. So verdadeiros blocos de informaes curtas. Cada bloco
apresenta um momento especfico da carreira de Mallu.
4
Disponvel em . ltimo acesso em: 16 set. 2009.5 Revolucionria aos 16 anos, de Armando Antenore. Verso on-line disponvel em . ltimo acesso em: 16 set. 2009.
-
8/7/2019 Navegao em um infogrfico multimdia na Web (Hipertexto 2009)
4/11
III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO
Belo Horizonte, MG 29 a 31 de outubro de 2009
4
Figura 01: InfogrficoMallu Magalhes(fonte: http://bravonline.abril.com.br/flash/mallu/)
Como complemento aos fragmentos textuais, aparecem fotografias com legendas. Ao
passo que as imagens ilustram e contextualizam a reportagem infografada, as legendas trazem
informaes novas, no contidas nos pargrafos de texto. Um exemplo o quadro que
corresponde a maro de 2008: o bloco textual descreve o momento em que Mallu ganha a
grande mdia e, por consequncia, vira alvo de piadas na Internet. Enquanto isso, uma
fotografia ao lado mostra uma garota ruiva com um chapu de palha. A legenda da foto
explica: a imagem da menina caipira fora divulgada num blog para ilustrar as influnciasfolk
da cantora.
Outro elemento que agrega novas informaes ao infogrfico so os udios de
entrevistas. No h qualquer aparente edio em formato de reportagem ou podcast; trata-se
de depoimentos de pessoas que serviram como fonte para a reportagem escrita. Os trechos em
udio detalham momentos que so apenas brevemente narrados, tanto nos blocos de texto do
infogrfico multimdia, quanto no texto da revista. O depoimento de Jos Flvio Jr., por
exemplo, descreve curiosidades sobre a gravao do CD de Mallu Magalhes, assim como
peculiaridades da personalidade da cantora. Uma informao, em especfico, a de que,
poca, Mallu estaria namorando o vocalista da banda Vanguart. Tal informao apenas um
detalhe no texto de Armando Antenoreele sequer cita a origem do dado.
O infogrfico apresenta, ainda, vdeos complementares ao assunto de cada bloco
textual. No trecho em que se aborda a indicao de Mallu ao Video Music Brasil, prmio da
-
8/7/2019 Navegao em um infogrfico multimdia na Web (Hipertexto 2009)
5/11
III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO
Belo Horizonte, MG 29 a 31 de outubro de 2009
5
MTV para artistas brasileiros, a tela de vdeo mostra uma reportagem da emissora musical
feita com a cantora. Quando o assunto o contrato de Mallu Magalhes com uma operadora
de telefonia celular, o vdeo traz o comercial que utilizou uma msica dela como trilha.
Em outros momentos, porm, os vdeos no so estritamente complementares ao
contedo da reportagem. No quadro correspondente a agosto de 2007, narra-se como Mallu
descobriu o estdio no qual gravaria suas msicas, chamado Lcia no Cu. O estdio de
gravao tem esse nome em aluso a uma msica dos Beatles, Lucy in the Sky with Diamonds.
O vdeo exibido , justamente, o clipe da cano. Apesar de relacionado ao contexto, o
videoclipe no agrega valor informativo reportagem, pois no traz depoimentos de fontes,
nem registros de momentos da cantora.
Ao trmino da navegao, tem-se uma experincia de hipertextualidade visivelmente
aprofundada. O dilogo entre texto, imagem, udio e vdeo uma construo singular. Cada
elemento traz informaes nicas, que, juntas, constituem uma reportagem profunda. Ao
contrrio da verso publicada na revista, autoral e literria, a reportagem multimdia constitui
uma experincia quase ldica de descoberta das informaes a partir do depoimento das
fontes. Mais ainda, o infogrfico agrega elementos impossveis de se utilizar em mdia
impressa. O audiovisual proporciona uma experincia esttica mais viva, mais prxima da
musicalidade da personagem em questo.
Por outro lado, preciso fazer algumas ressalvas. Apesar das informaes
fragmentadas e de se poder selecionar as casas fora de ordem, o infogrfico no funciona to
bem de maneira no-sequencial. preciso seguir a ordem cronolgica para que as
informaes tenham maior sentido no panorama geral da histria. Cabe lembrar, igualmente,
que os blocos de texto funcionam sem a necessidade do vdeo e do udio. Embora as
informaes desses elementos sejam complementares, o texto no perde o sentido se visto
isoladamente o mesmo vale para os depoimentos em udio, que acabam por detalhar boa
parte do contedo da reportagem. Em outras palavras, no h uma unidade comunicativamarcante, pois, apesar de os elementos serem afins, no so completamente interdependentes.
Navegao em um infogrfico multimdia: vrias trilhas possveis
A anlise do infogrfico acentua indagaes recorrentes a minha pesquisa de
mestrado. A apresentao no-sequencial e multimiditica das informaes levar,
certamente, a maneiras distintas de se navegar pelo produto hipertextual. No entanto, no soapenas as caractersticas do infogrfico que levam a essas diferentes trilhas possveis; h
-
8/7/2019 Navegao em um infogrfico multimdia na Web (Hipertexto 2009)
6/11
III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO
Belo Horizonte, MG 29 a 31 de outubro de 2009
6
outras mediaes que perpassam o processo de recepo do leitor-navegador, como sua
bagagem cultural, suas referncias miditicas e o uso que faz da Web. Meu objetivo ,
justamente, entender como se articulam as relaes do sujeito com a obra hipertextual,
tentando identificar mediaes para alm do produto.
No exerccio que realizei, propus-me a testar a observao como aparato
metodolgico pertinente para responder estas indagaes, tendo em vista que a presena direta
do pesquisador no campo evita algumas mediaes de terceiros e oferece o real em sua
complexidade ao observador crtico (GUBER, 2004, p.176)6. Para tanto, observei a
navegao de dois estudantes universitrios com perfis distintos pelo infogrfico multimdia
Mallu Magalhes. Os escolhidos foram um acadmico de direito e uma acadmica de
jornalismo, que, supostamente, apresentariam culturas miditicas distintas7. As observaes
ocorreram num bar da universidade, no entreturno das aulas, atendendo disponibilidade de
horrio e local dos participantes. As navegaes foram seguidas de entrevista semiestruturada
sobre a experincia de navegao e a familiaridade dos observados com a Internet. O
computador utilizado, na falta de um equipamento pblico, foi meu notebookpessoal.
Cabe ressaltar, aqui, o carter experimental do exerccio. De fato, no foi observada
uma recepo natural, pois os sujeitos no conheciam o produto e a navegao ocorreu num
lugar em que eles no costumam utilizar a Internet. Perderam-se algumas mediaes, como o
ambiente e a familiaridade do pblico com o produto alis, essas mediaes demandariam
uma estratgia metodolgica mais elaborada e um tempo muito maior de execuo. Por outro
lado, penso que o estranhamento inicial dos leitores-navegadores resultou numa explorao
mais vvida, que, porventura, no seria to rica, ou detalhada, caso os receptores j
conhecessem o infogrfico multimdia em questo.
A seguir, descrevo os resultados obtidos a partir da observao e da posterior
entrevista. Os perfis detalhados dos observados foram construdos com base em suas prprias
respostas. O roteiro no continha perguntas fechadas, mas sugestes de temas a seremabordados de acordo com a observao. A partir dos temas, surgiam as questes. Algumas
delas: Com que frequncia voc costuma navegar na Web?; Que sitescostuma visitar?;
J conhecia algo parecido ao infogrfico observado?; O que despertou/no despertou seu
interesse no infogrfico observado? Por qu?; dentre outras.
6 Traduo livre. No original: evita algunas mediaciones de terceros y ofrece lo real en su complejidad al
observador crtico.7 A acadmica de jornalismo possivelmente teria uma viso mais crtica sobre um produto miditico do que umestudante de outro curso.
-
8/7/2019 Navegao em um infogrfico multimdia na Web (Hipertexto 2009)
7/11
III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO
Belo Horizonte, MG 29 a 31 de outubro de 2009
7
Observando a navegao
Observao 1: Carla
A estudante de jornalismo Carla8 diz gostar muito de Internet. Ela utiliza a rede,
basicamente, para ler notcias e manter contato com os amigos atravs de redes sociais
possui contas no Facebook e no Orkut. Costuma acessar diariamente portais nacionais e
internacionais de notcias, bem como blogs. Ela tambm se autodenomina uma pessoa muito
visual, o que pude confirmar na observao, e, por isso, presta mais ateno a vdeos e
imagens. Carla apresenta um domnio grande da linguagem audiovisual e comenta, em termos
tcnicos, os videoclipes exibidos no infogrfico.
A navegao teve incio por volta das 19 horas, momento em que a movimentao nos
bares da universidade comea a se intensificar. O movimento e os rudos no local eram
intensos, mas no pareceram dispersar a ateno da observada. Aps explicar os objetivos do
exerccio, entreguei a ela o computador e fones de ouvido; abri uma janela de navegao com
a pgina inicial do infogrfico e pedi para que ela navegasse livremente, avisando-me quando
o trajeto fosse terminado. Passaram-se 20 minutos at que Carla se desse por satisfeita com a
navegao.
Primeiro, Carla leu o texto de abertura e clicou num link que levava reportagem
escrita sobre Mallu Magalhes, fora do ambiente do infogrfico. A matria tinha oito pginas,
mas Carla s leu a primeira, fazendo comentrios e exclamaes sobre as referncias musicais
da cantora adolescente. Ao fim da pgina, voltou ao ambiente do infogrfico e continuou sua
navegao.
Na primeira casa, Carla assistiu ao videoclipe da msica J1 at a metade o vdeo
travou, provavelmente pela conexo lenta. Ao acionar a segunda casa, a observada assistiu ao
clipe dos Beatlespresente na pgina e exclamou: Que psicodlico!. O vdeo s apresentava
metade do clipe. Depois, foi para a quarta casa e passou a seguir a ordem do tabuleiro at acasa sete, sempre assistindo aos vdeos e tecendo breves comentrios. Na casa sete, o vdeo
travou. Carla pausou-o, esperou a pgina carregar at o fim e, ento, clicou no play para poder
assistir ao restante. Aps isso, continuou a seguir a ordem das casas at a ltima. Por fim,
clicou na barra do site daBravo!, acima do infogrfico, e foi direcionada pagina inicial do
site da revista. Decidiu, ento, que a navegao havia terminado.
8 Os nomes dos observados foram trocados.
-
8/7/2019 Navegao em um infogrfico multimdia na Web (Hipertexto 2009)
8/11
III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO
Belo Horizonte, MG 29 a 31 de outubro de 2009
8
Carla disse que o primeiro elemento do infogrfico a chamar sua ateno foi o banner
com o ttulo Mallu Magalhes a girar no canto superior esquerdo da tela. No incio, pensou
que o site fosse da prpria Mallu, at por causa da esttica, que imitava madeira e remetia ao
folk, estilo musical da cantora. S depois, percebeu que era uma reportagem. Ela se admirou
com os tantos recursos empregados numa nica matria e afirmou que o jornalismo deveria
apostar nesse modelo mais vezes.
A observada tambm gostou da construo em forma de jogo interativo. Disse que,
intuitivamente, seguiu a ordem das casas, mesmo sabendo que elas poderiam ser acionadas
fora de ordem. Quando perguntada sobre por que no havia clicado na casa trs, ela afirmou
no ter reparado. Tambm no percebeu que havia faixas de udio em alguns momentos, nem
que havia quadros de texto em todas as casas do tabuleiro. Percebeu, sim, que a reportagem
escrita (fora do ambiente do infogrfico) continuava, mas preferiu voltar ao tabuleiro, para ler
a reportagem depoiso que no chegou a fazer.
Carla considerou atrativos os textos curtos. Esses, assim como os trechos de vdeos,
eram, segundo ela, uma maneira rpida de conhecer a histria de Mallu Magalhes. Alm
disso, despertavam curiosidade para saber mais sobre a cantora. No geral, a observada gostou
da experincia, considerando-a ldica e divertida.
Observao 2: Jonas
O estudante de direito Jonas, tal qual Carla, utiliza a Internet diariamente para ler
notcias e comunicar-se, tanto com amigos, quanto profissionalmente. usurio de programas
de bate-papo e de redes sociais, frequenta blogs e sites de notcias. Entretanto, devido ao seu
tempo escasso, optou em assinar newsletters de alguns portais, para receber as notcias
diretamente na caixa de e-mailinclusive, as notcias da revistaBravo!. No costuma acessar
sites como o YouTube e s assiste a vdeos na Web quando algum os envia por e-mail.
Tambm como Carla, Jonas no conhecia o infogrfico Mallu Magalhes. No entanto,mostrou certo conhecimento sobre a cantora quem era, suas msicas e sua relao com
Marcelo Camelo, apesar de nunca ter lido muito sobre ela. Considerou, ainda, o infogrfico
parecido com outras reportagens que ele vira na Web, mas no soube precisar quais.
A navegao ocorreu s 17 horas e 30 minutos. O ambiente o mesmo bar estava
mais tranquilo do que na primeira observao, com rudos ocasionais de cafeteiras
funcionando e pessoas conversando. Jonas no permaneceu mais do que oito minutos na
navegao. Seus movimentos pareceram mais rpidos que os de Carla (menos contemplativos,
-
8/7/2019 Navegao em um infogrfico multimdia na Web (Hipertexto 2009)
9/11
III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO
Belo Horizonte, MG 29 a 31 de outubro de 2009
9
talvez), mas igualmente atentos. No exclamou, ou esboou comentrios em momento algum.
As instrues dadas e o equipamento utilizado por ele foram os mesmos que a Carla.
O rapaz comeou assistindo ao videoclipe inicial; observou a foto ilustrativa da seo
e leu o texto de abertura. Percorreu o cursor para verificar quais casas eram clicveis,
resolvendo, por fim, clicar na casa oito, onde leu o texto e observou a fotografia. Depois,
clicou na primeira casa, onde pausou o vdeo para poder ler o texto. Acionou a casa trs,
ouviu um trecho da entrevista em udio e a pausou. Foi casa dois, assistiu ao clipe dos
Beatles e tambm o pausou. Percebeu, ento, a barra daBravo!; clicou nessa e foi para a capa
do site.
Nesse momento, mais ou menos metade da navegao, Jonas interrompeu o trajeto
pelo infogrfico. Passou a percorrer as capas das sees do site, como Teatro & Dana e
Cinema. Quando encontrava uma manchete de seu interesse, clicava nela e lia a reportagem,
aparentemente at o fim. Mais tarde, na entrevista, o observado esclareceu que, na verdade,
ele apenas dava uma olhada superficial pelos textos, atendo-se somente ao que despertasse
mais interesse.
Apesar de ter se interessado pelo tema do infogrfico, Jonas considerou as
informaes pouco profundasele prefere reportagens mais longas. Tambm no gostou dos
recursos multimiditicos; para ele, melhor ter a opo de assistir ou no ao vdeo 9, para no
haver distraes desagradveis. Quando comeou a explorao, ficou atento ao videoclipe de
Mallu Magalhes, cuja cano ele conhecia e gostava, mas, assim que passou a percorrer
outros pontos do hipertexto, verificou que no havia mais o que ver ali. No se interessou pela
entrevista em udio, ou pelos demais vdeos. Decidiu, assim, procurar reportagens de seu
interesse no site da revista, at terminar a navegao.
Consideraes finais
No exerccio apresentado, algumas mediaes foram certamente foradas. Ao serem
convidados a navegar num site para fins de observao, os sujeitos foram, de certa forma,
compelidos a aterem-se atividade, concentrados. Numa situao mais natural, como em
casa, os observados poderiam sentir-se menos pressionados. Por outro lado, o exerccio faz-
me indagar at que ponto uma observao, por mais que acontea num ambiente natural, no
ser artificializada. Afinal, a prpria presena do pesquisador no ambiente pode modificar a
9 No infogrfico, os vdeos rodam automaticamente.
-
8/7/2019 Navegao em um infogrfico multimdia na Web (Hipertexto 2009)
10/11
III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO
Belo Horizonte, MG 29 a 31 de outubro de 2009
10
conduta dos observados10. Cabe, ento, pensar em maneiras de aproximao, para que a
observao no censure ou melindre os observados.
Outro ponto importante so as competncias tecnolgicas, miditicas e culturais de
cada pessoa. Como o exerccio evidenciou, a trajetria de cada sujeito configura sua maneira
de ler/perceber o hipertexto: a estudante de jornalismo, acostumada com contedos
audiovisuais, presta mais ateno aos vdeos e os critica em aspectos tcnicos; o estudante de
direito, vindo de uma cultura mais letrada, considera superficiais os textos curtos. H,
tambm, o conhecimento musical, que ambos apresentam, em alguma medida; o fato de que
os dois so estudantes universitrios, provavelmente habituados a realizarem anlises crticas
em sala de aula; o costume de ambos de utilizar a Internet com frequncia e o domnio que
tm da linguagem hipertextual, ainda que Jonas prefira produtos menos multimiditicos; as
aparentes diferenas de personalidadeela mais distrada, ele mais afoito. H, enfim, uma
srie de pormenores a serem investigados.
Por fim, apesar das muitas mediaes que podem intervir na recepo do leitor-
navegador, reitero que a maneira como o infogrfico apresentado, seguindo uma ordem
cronolgica, determinante para uma maior compreenso da histria contada. Ao mesmo
tempo, diminui o risco de stress cognitivo, uma vez que no preciso perder-se em trilhas,
nem ter conhecimento prvio para entender a trajetria de Mallu Magalhes. Possivelmente,
outros infogrficos seguiro estruturas parecidas, caso os autores optem pelo uso de mltiplos
recursos miditicos.
Referncias
ANTENORE, Armando. Revolucionria aos 16 anos. Bravo!, So Paulo, n. 134, out. 2008.Disponvel em .ltimo acesso em: 16 set. 2009.
FERRERES, Gemma. Infografia Periodista. Disponvel em: . ltimo acesso em: 15 set. 2009.
GUBER, Rosana. La observacin participante: nueva identidad para una vieja tcnica. In ______. Elsalvaje metropolitano: reconstruccin del conocimiento social en el trabajo de campo. Buenos Aires:Paids, 2004. p. 171-188.
LVY, Pierre. As tecnologias da inteligncia: o futuro do pensamento na era da informtica. Rio deJaneiro: Editora 34, 1993-2001. 203 p.
10
No mais, ainda que um espao pblico como o bar impea certa naturalidade ps descalos para maiorconforto, por exemplo , penso que o ambiente , em certa medida, natural aos observados, pois costumamfrequent-lo em outras situaes. No se trata de um ambiente hostil, ou laboratorial.
-
8/7/2019 Navegao em um infogrfico multimdia na Web (Hipertexto 2009)
11/11
III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO
Belo Horizonte, MG 29 a 31 de outubro de 2009
11
Mallu Magalhes. Infogrfico disponvel em: . ltimoacesso em: 16 set. 2009.
MARCUSCHI, Luz Antnio. Linearizao, Cognio e Referncia: o desafio do hipertexto. Lnguase instrumentos lingsticos, Campinas, v. 3, 1999. Disponvel em: . ltimo acesso em: 15 set. 2009.
SALAVERRA, Ramn. Aproximacin al concepto de multimedia desde los planos comunicativo einstrumental. Estudios sobre el mensaje periodstico, Madrid, n.7, p. 383-395, mai. 2001. Disponvelem: . ltimoacesso em: 15 set. 2009.
TEIXEIRA, Tattiana; RINALDI, Mayara. Promessas para o futuro: as caractersticas do infogrfico nociberjornalismo a partir de um estudo exploratrio. In: VI ENCONTRO NACIONAL DEPESQUISADORES EM JORNALISMO, 2008. So Paulo. Banco de dados. So Paulo: AssociaoBrasileira de Pesquisadores em Jornalismo, 2008. Disponvel em: . ltimo acesso em: 15 set. 2009.
WANDELLI, Raquel. Leituras do Hipertexto: viagem ao dicionrio Kazar. So Paulo: ImprensaOficial SP, 2003. 277 p.
http://bravonline.abril.com.br/flash/mallu/http://www.pucsp.br/~fontes/%20atividade/17Marcus.pdfhttp://www.pucsp.br/~fontes/%20atividade/17Marcus.pdfhttp://sbpjor.kamotini.kinghost.net/%20sbpjor/admjor/arquivos/coordenada8tattianateixeira.pdfhttp://sbpjor.kamotini.kinghost.net/%20sbpjor/admjor/arquivos/coordenada8tattianateixeira.pdfhttp://sbpjor.kamotini.kinghost.net/%20sbpjor/admjor/arquivos/coordenada8tattianateixeira.pdfhttp://sbpjor.kamotini.kinghost.net/%20sbpjor/admjor/arquivos/coordenada8tattianateixeira.pdfhttp://www.pucsp.br/~fontes/%20atividade/17Marcus.pdfhttp://www.pucsp.br/~fontes/%20atividade/17Marcus.pdfhttp://bravonline.abril.com.br/flash/mallu/