NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... ·...

36
NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVES ADRIANA LETE/ ANA MARIA/ TELMA PAES.

Transcript of NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... ·...

Page 1: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVES

ADRIANA LETE/ ANA MARIA/ TELMA PAES.

Page 2: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

Na poesia abolicionista, Castro Alves se apresenta

fecundado por sincera adesão a uma causa social e

humanitária de caráter atual e dá expansão ao seu

talento de orador.

Amós Coelho da Silva - Professor da UERJ/UGF.

Page 3: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

► Foi publicado pela primeira vez em 1868 (20 anos

antes da abolição da escravatura no Brasil).

► Dividido em seis partes, apresenta a liberdade

formal do Romantismo.

►Pertenceu à última fase do Romantismo (3ª

geração), condoreira, Pré-Realista.

►Poema narrativo, retrata o traslado dos escravos da

África para o Brasil.

►Ideologicamente, defende o abolicionismo num

país sustentado pela mão de obra escrava.

Page 4: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

O Navio Negreiro exige ser

declamado em praça pública, em

tom de discurso político para

contagiar, atingir grandes

platéias, tal a carga emocional

que possui. É poema rico em

hipérbole (imagens grandiosas,

exageradas), recurso poético

usado para reforçar a exposição

de ideias. Assim, o poeta

expressa linguagem

grandilouquente, pomposa,

altissonante.

Page 5: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

1ª Parte: Descrição do Cenário

“O mar, o céu

e o infinito são

descritos

configurando

o ambiente

onde será

desenvolvida a

“Tragédia no

Mar”.

Page 6: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

BELEZA NATURAL X HORROR DA

ESCRAVIDÃO

O Poeta nos conduz imaginariamente ao mar. Mostra a beleza da noite de luar e o contraste do

cenário (céu estrelado, mar) com a tragédia descrita, narrada dentro do Navio Negreiro.

Page 7: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

O Espaço/ O Narrador/ O Leitor...

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaçoBrinca o luar — dourada borboleta;

E as vagas (grandes ondas) após ele correm... cansam

Como turba de infantes inquieta.

'Stamos em pleno mar... Do firmamentoOs astros saltam como espumas de ouro...

O mar em troca acende as ardentias(fosforescência marítima),— Constelações do líquido tesouro...

Page 8: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

Céu e Oceano... “Dois Infinitos...”

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos

Ali se estreitam num abraço insano,

Azuis, dourados, plácidos, sublimes...

Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...”

Page 9: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

O Narrador visualiza o navio'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as

velasAo quente arfar das virações

marinhas,Veleiro brigue corre à flor dos mares,Como roçam na vaga as andorinhas...

Donde vem? onde vai? Das naus errantes

Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço ?

Neste saara os corcéis (cavalo veloz) opó levantam

Galopam, voam, mas não deixam traço

Page 10: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

ALUSÃO À LIBERDADE...

Bem feliz quem ali pode nest'hora

Sentir deste painel a majestade!

Embaixo — o mar em cima — o firmamento...

E no mar e no céu — a imensidade!

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!

Que música suave ao longe soa!

Meu Deus! como é sublime um canto ardente

Pelas vagas sem fim boiando à toa!

Page 11: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

A BELEZA POÉTICA DO CENÁRIO DESCRITO.

Homens do mar! ó rudes marinheiros,

Tostados pelo sol dos quatro mundos!

Crianças que a procela acalentara

No berço destes pélagos profundos!

(Pélago: mar alto)

Esperai! esperai! deixai que eu beba

Esta selvagem, livre poesia

Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,

E o vento, que nas cordas assobia...

Por que foges assim, barco ligeiro?

Por que foges do pávido poeta?(Pávido: temeroso, medroso).

Page 12: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

CONDOREIRISMO

Albatroz! Albatroz!

águia do oceano,

Tu que dormes das

nuvens entre as gazas

(transparências)

Sacode as penas,

Leviathan do espaço,

Albatroz! Albatroz!

dá-me estas asas.

Page 13: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

2ª PARTE: EXALTAÇÃO DOS MARINHEIROS.

Exalta a todos os marinheiros

independente da nacionalidade. É a

valorização do belo humano e suas ações

no espaço marítimo.

Page 14: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

O NAUTA E O MAR

Não importa aorigem (espanhol,italiano inglês,heleno = grego) dohomem do mar, oque importa é aexperiênciaadquirida nas suaatividades e asrecordações dosmomentosvividos.

Que importa do nauta o

berço,

Donde é filho, qual seu

lar?

Ama a cadência do verso

Que lhe ensina o velho

mar!

Cantai! que a morte é

divina!

Resvala o brigue à bolina

Como golfinho veloz.

Presa ao mastro da

mezena=vela/ mastro de ré

Saudosa bandeira acena

As vagas que deixa após.

Page 15: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

VIDA LIVRE X VIDA ESCRAVA

“Nautas de todas as plagas (país),

Vós sabeis achar nas vagas (ondas)

As melodias do céu! ..”

O homem do mar tende a cantar suas

saudades, soube buscar em sua liberdade

o conhecimento de Deus (melodias do

céu). A liberdade da vida do nauta

contrasta com da vida do negro

escravizado, subtraído de sua terra natal.

Page 16: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

3ª PARTE: ANUNCIA A TRAGÉDIA NO MAR.

No último verso da 1ª parte do poema, o poeta,

em exclamação altissonante, fala – “Albatroz!

Albatroz! Dá-me estas asas...” Evidenciando o anseio

em desvendar os mistérios que envolvem o brigue

voador. Busca, assim, o poeta a liberdade criadora

que lhe permite participar da ação que observa. A

águia do oceano é o poeta, pois só ele poderia

transmutar-se e surgir como uma ave com o olhar

humano. É como ser humano que ele vê das alturas

com espanto o pavoroso quadro que segue....

Page 17: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!

Desce mais ... inda mais...

não pode olhar humano

Como o teu mergulhar no brigue voador!

Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!

É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...

Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que

horror!

Page 18: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

A EMOÇÃO DO NARRADOR...

O narrador age como se anunciasse o

início de um grande espetáculo. Condizente

ao Romantismo, a linguagem apresenta

recursos estilísticos (reticências,

exclamações), significativas pela carga

emocional... “Meu Deus! Meu Deus! Que

horror!”

Page 19: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

4ª PARTE: O Horror do Tombadilho Era um sonho dantesco... o tombadilhoQue das luzernas (clarão) avermelha o brilho.Em sangue a se banhar.Tinir de ferros... estalar de açoite...Legiões de homens negros como a noite,Horrendos a dançar...

O sonho dantesco é a descrição do inferno

feita por Dante na “Divina Comédia” em que as

almas condenadas ao suplício eterno, são

atormentadas pelo diabo.

Page 20: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

Negras mulheres, suspendendo as tetasMagras crianças, cujas bocas pretasRega o sangue das mães:Outras moças, mas nuas e espantadas,No turbilhão de espectros arrastadas,Em ânsia e mágoa vãs!

Page 21: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

E ri-se a orquestra

irônica, estridente...

E da ronda fantástica a

serpente

Faz doudas espirais ...

Se o velho arqueja, se no

chão resvala,

Ouvem-se gritos... o

chicote estala.

E voam mais e mais...

O riso reflete o

sarcasmo dos

mentores deste

horrendo

espetáculo. A

orquestra =o som

do chicote (espiral)

que estala, os

gritos de dor que

enchem o espaço.

Page 22: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

Presa nos elos de uma só cadeia,A multidão faminta cambaleia,E chora e dança ali!Um de raiva delira, outro enlouquece,Outro, que martírios embrutece,Cantando, geme e ri!

Page 23: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

O Riso de Satanás diante do horror...

No entanto o capitão manda a manobra,E após fitando o céu que se desdobra,Tão puro sobre o mar,Diz do fumo entre os densos nevoeiros:"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!Fazei-os mais dançar!..."

(...)

E da ronda fantástica a serpenteFaz doudas espirais...

Qual um sonho dantesco as sombras voam!...Gritos, ais, maldições, preces ressoam!

E ri-se Satanás!...

Page 24: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

As imagens saltam do poema e desfilam na mente do leitor como se

fossem reais. Presos, os negros escravizados perdem o equilíbrio

físico e psicológico e enlouquecem de tanto martírio. Cantando, gemem, riem. A rotina torna insensíveis os

tripulantes do navio negreiro à desgraça dos infelizes.

Page 25: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

5ª Parte: O Poeta Interpela DeusSenhor Deus dos

desgraçados!Dizei-me vós, Senhor Deus!Se é loucura... se é verdadeTanto horror perante os céus?!Ó mar, por que não apagasCo'a esponja de tuas vagasDe teu manto este borrão?...Astros! noites! tempestades!Rolai das imensidades!Varrei os mares, tufão!

Page 26: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

Quem são estes

desgraçados

Que não encontram em

vós

Mais que o rir calmo da

turba

Que excita a fúria do

algoz?

Quem são? Se a estrela

se cala,

Se a vaga à pressa

resvala

Como um cúmplice

fugaz,

Perante a noite confusa...

Dize-o tu, severa Musa,

Musa libérrima, audaz!...

A Musa - “severa,

libérrima, audaz” – é

Melpomene, musa

da tragédia.

Segundo a mitologia

grega são nove

divindades que

presidem as Artes, a

História e a

Astronomia.

Mneumosine

(memória) é filha de

Zeus, tendo cada

uma função

específica.”

Page 27: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

São os filhos do deserto,Onde a terra esposa a luz.Onde vive em campo abertoA tribo dos homens nus...São os guerreiros ousadosQue com os tigres mosqueadosCombatem na solidão.Ontem simples, fortes, bravos.Hoje míseros escravos,Sem luz, sem ar, sem razão. . .

Page 28: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

A Severa Musa narra ao poeta a vida dos

negros desde a África ate o momento de

sua desventura. E compara a liberdade

vivida em sua terra, com a condição de

escravo manifesta na gradação

ascendente... “Míseros escravos,/ Sem

luz,/ sem ar, sem razão...”

Page 29: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

São mulheres desgraçadas,

Como Agar o foi também.

Que sedentas, alquebradas,

De longe... bem longe vêm...

Trazendo com tíbios=escasos

passos

Filhos e algemas nos

braços,

N'alma — lágrimas e fel...

Como Agar sofrendo tanto,

Que nem o leite de pranto

Tem que dar para Ismael.

Page 30: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

Personagem bíblica, escrava de Sara

(esposa de Abraão), foi expulsa de

sua casa com seu filho Ismael. Este

era filho do seu senhor. A

comparação prende-se a semelhança

do sofrimento das negras escravas

com o de Agar, que nem o leite do

peito tinha para dar ao seu filho, na

caminhada que empreendeu pelo

deserto de Sur, próximo de Canaã. A

liberdade vivida por essas mulheres

em seus países, é interrompida

quando por eles passa a caravana

maldita que lhes rouba a liberdade.e

as arrebata de sua pátria.

Page 31: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

Ontem a Serra Leoa,A guerra, a caça ao leão,O sono dormido à toaSob as tendas d'amplidão!Hoje... o porão negro, fundo,Infecto, apertado, imundo,Tendo a peste por jaguar...E o sono sempre cortadoPelo arranco de um finado,E o baque de um corpo ao mar...

Ontem plena liberdade,A vontade por poder...

Hoje... cúm'lo de maldade,Nem são livres p'ra morrer. .Prende-os a mesma corrente— Férrea, lúgubre serpente —Nas roscas da escravidão.

E assim zombando da morte,Dança a lúgubre coorteAo som do açoute... Irrisão!...

Page 32: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

Existe um povo que a bandeira empresta

P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...

E deixa-a transformar-se nessa festa

Em manto impuro de bacante fria!...

Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,

Que impudente na gávea tripudia?

Silêncio. Musa... chora, e chora tanto

Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Page 33: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

Nos versos...“Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta,/ Quem imprudente na

gávea tripudia?” O poeta expressa o impacto que sente ao descobrir que a

bandeira é a de sua própria pátria. E ante ao silêncio, o poeta fala à musa... “Musa... Chora, e chora tanto/ Que o pavilhão se

lave no teu pranto!”

Page 34: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

Auriverde pendão de minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra

E as promessas divinas da esperança...

Tu que, da liberdade após a guerra,

Foste hasteado dos heróis na lança

Antes te houvessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha!...

Em tom de expressiva revolta, o poeta rememora os momentos grandiosos da Pátria em que a bandeira era ostentada com orgulho. Ele preferia que ela fosse manchada de sangue numa luta justa, do que cobrir de luto escravo

africano.

Page 35: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas

Fatalidade atroz que a mente esmaga!

Extingue nesta hora o brigue imundo

O trilho que Colombo abriu nas vagas,

Como um íris no pélago profundo!

Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga

Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!

Andrada! arranca esse pendão dos ares!

Colombo! fecha a porta dos teus mares!

O poeta pede à fatalidade que exterminar o

brigue(navio) imundo, bem como o trilho

(caminho) que Cristovão Colombo abriu. Invoca

os heróis do Novo Mundo para que arranquem a

bandeira do mastro do navio negreiro. Com este

gesto acabaria o trafico negreiro e a escravidão

no Brasil.

Page 36: NAVIO NEGREIRO – CASTRO ALVEScolegiosantarosa-pa.com.br/material_do_professor/... · CONDOREIRISMO Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas