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1 Boletim 1059/2016 – Ano VIII – 12/09/2016 Negociação difícil eleva número de dissídios Por Camilla Veras Mota A dificuldade para se negociar aumento de salários em meio à recessão e as consequências da crise econômica atraso no pagamento das remunerações, no recolhimento de tributos e demissões em massa têm levado cada vez mais categorias ao Judiciário. No primeiro semestre, seis dos principais Tribunais Regionais do Trabalho do país Bahia, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo autuaram 288 dissídios coletivos, inclusive de greve, contra 241 no mesmo período do ano passado. Diante de um número cada vez maior de empresas que acenam com reajustes nominais próximos de zero, os acordos arbitrados pelos tribunais, de modo geral, continuam contemplando pelo menos a inflação acumulada no período até a database. Desembargadores relatam, contudo, um volume crescente de casos de conciliação em que o aumento é dado de forma parcelada. Um dos 22 sindicatos que representam os trabalhadores da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), o Saemac, está aguardando a decisão do Tribunal Regional do

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Boletim 1059/2016 – Ano VIII – 12/09/2016

Negociação difícil eleva número de dissídios Por Camilla Veras Mota A dificuldade para se negociar aumento de salários em meio à recessão e as consequências da crise econômica atraso no pagamento das remunerações, no recolhimento de tributos e demissões em massa têm levado cada vez mais categorias ao Judiciário. No primeiro semestre, seis dos principais Tribunais Regionais do Trabalho do país Bahia, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo autuaram 288 dissídios coletivos, inclusive de greve, contra 241 no mesmo período do ano passado. Diante de um número cada vez maior de empresas que acenam com reajustes nominais próximos de zero, os acordos arbitrados pelos tribunais, de modo geral, continuam contemplando pelo menos a inflação acumulada no período até a database. Desembargadores relatam, contudo, um volume crescente de casos de conciliação em que o aumento é dado de forma parcelada.

Um dos 22 sindicatos que representam os trabalhadores da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), o Saemac, está aguardando a decisão do Tribunal Regional do

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Trabalho da 9ª Região para encerrar a campanha que começou em março. A entidade pede 4% de aumento real, além dos 11% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulados nos 12 meses até a database. A proposta inicial do sindicato, que representa quase metade dos 7,4 mil funcionários da empresa, era aumento linear de R$ 615 para cada trabalhador, afirma Gerti José Nunes, presidente do Saemac. A ideia era recompor os salários de entrada o piso de R$ 1.394 , o que não foi acatado pelos sindicatos que representam os funcionários com salários mais altos. Eles aceitaram a proposta inicial da Sanepar, que cobria a inflação. Após oito dias de paralisação da base da Saemac, o Ministério Público interveio na campanha, que acabou indo para dissídio. "Hoje as categorias têm cada vez mais dificuldade de repor a inflação", observa a desembargadora do TRT9, Marlene Suguimatsu. Ela admite que os tribunais geralmente utilizam os índices de preços como parâmetro para determinar o percentual de reajuste nos dissídios, mas afirma que, neste ano, ainda não houve julgamento nesse sentido, já que uma série de casos foi conciliada e não precisou passar pela seção especializada, e que ainda não há garantia de que o tribunal determinará pelo menos a reposição das perdas inflacionárias. Já o TRT2, de São Paulo, segue usando o INPC como piso para as decisões, diz o desembargador Wilson Fernandes, eleito em agosto presidente da entidade. O que desapareceu neste ano foi o adicional de produtividade, que girava entre 1% e 1,5%. Frente às dificuldades que vêm sendo relatadas pelas empresas, especialmente aquelas de pequeno e médio porte, têm sido comuns as conciliações com parcelamento do aumento nas remunerações, ele relata. A boa notícia é que o volume de ações parou de aumentar em julho e agosto. "Parece que chegamos mesmo ao fundo do poço", diz Fernandes, que espera uma desaceleração dos dissídios neste negundo semestre. "O 'mínimo' [que as categorias têm buscado nas campanhas] é o emprego, receber em dia e, no máximo, manter benefícios", ela comenta. O número de dissídios ações para solucionar conflitos entre as partes da relação de trabalho no Paraná cresceu de 16 no primeiro semestre de 2015 para 20 no mesmo período deste ano. Os de greve avançaram de 10 para 12 nesse intervalo. Os metalúrgicos de Betim (MG) entregaram em julho a pauta de 2016 com parte da campanha do ano passado pendurada no TRT3. A categoria ainda não entrou em acordo com a federação das indústrias do Estado, a Fiemg, a respeito da proposta do banco de horas de até 300 dias. Apresentada como estratégia para atravessar a recessão, ele seria

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usado quando o volume de pedidos não justificasse a presença de todos os funcionários na linha de produção. Com o atraso, 1,5 mil dos 35 mil trabalhadores da base ainda não tiveram reajuste, fechado em média em 9,9% nos acordos feitos diretamente com as empresas. "Nós sabemos que banco de horas não garante o emprego", argumenta Paulo Moreira, vice-presidente da entidade. À frente do sindicato entre 1996 e 1999, ele fechou acordo parecido, que não impediu o corte de quase metade dos funcionários da Fiat, que compõem grande parte da base. Na montadora, os 24,5 mil trabalhadores contabilizados em 1997 época em que o quadro de funcionários atingiu seu tamanho máximo viraram 12 mil um ano depois. "Só o que nós perdemos naquele período na Fiat corresponde ao total de demissões dessa crise", ele afirma, justificando a avaliação de que esta recessão não é a pior pela qual a cadeia automotiva mineira passou. Desde 2014, a base do sindicato encolheu de cerca de 48 mil para 35 mil pessoas. Depois de meses consecutivos de fechamento de postos de trabalho, Fernandes, do TRT da 2ª Região, tem observado uma mudança no perfil dos dissídios que chegam ao maior tribunal do país. "Havia muita discussão sobre PLR [participação nos lucros e resultados], novos direitos. Desde o ano passado vêm crescendo os dissídios por falta de pagamento de salários, demissões em massa", pontua. O TRT2 autuou 72 dissídios de greve nos primeiros seis meses de 2016, mais do que os 67 do primeiro semestre de 2015 e quase o dobro do registrado em 2012, 37. Um desses casos é o dos trabalhadores da metalúrgica Mecano, de Osasco, sobre a qual pesam dois dissídios de greve neste ano por falta de pagamento de salários. No primeiro, instituído em janeiro, houve conciliação porque a empresa se comprometeu a pagar os valores de forma parcelada, conta Gilberto Almazan, diretor do sindicato. Como o depósito das remunerações continuou atrasada, os 170 funcionários estão em greve há duas semanas, aguardando o julgamento do segundo dissídio. Funcionário da companhia há 36 anos, ele lembra que o quadro de funcionários chegou a contar 2 mil pessoas no início dos anos 1990. O caso, afirma Almazan, não é isolado, já que Osasco é um polo importante de fabricação de autopeças, segmento que já vinha perdendo mercado para os importados no período em que o real esteve bastante valorizado, por volta de 2012, e que desde 2015 amarga a retração do mercado doméstico e a queda de dois dígitos na produção e venda de veículos. Nos últimos dois anos, ele conta, o sindicato contabiliza perda de 10 mil empregos. Atualmente, os metalúrgicos de Osasco e região, que compreende outros 11 municípios, são 35 mil.

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Campanhas salariais devem ser mais acirradas no 2º semestre Por Camilla Veras Mota O início das campanhas salariais do segundo semestre desenha um cenário ainda desafiador para as categorias. Após cinco rodadas de negociação e uma proposta de reajuste de 6,5% da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), que não cobre a inflação acumulada nos 12 meses até a database, em setembro, bancários de todo o país entraram em greve na última terçafeira. Na pauta de reivindicações estão o reajuste de 14,78%, que corresponde a uma alta real de 5%, 14º salário e garantia de manutenção do emprego. Após reunião da última sextafeira, a Fenaban ofereceu 7% de aumento, rejeitado pelo Comando Nacional dos Bancários na própria mesa de negociação. Os acordos coletivos das montadoras, muito concentrados neste e no próximo mês, terão o peso da negociação fechada no fim de agosto na Mercedes do ABC paulista. Na tentativa de evitar cerca de duas mil demissões anunciadas pela empresa na fábrica de São Bernardo do Campo, os trabalhadores aceitaram reajuste nominal zero em 2017. Ainda assim, cerca de 500 trabalhadores receberam na semana passada telegramas que informavam de seu desligamento, conforme o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A razão seria a adesão insuficiente ao plano de demissão voluntária (PDV) lançado logo após o acordo, 1.028, ante expectativa de 1,4 mil. No início de agosto, o sindicato também fechou acordo para evitar demissões na Volkswagen. A fixação de reajuste equivalente ao INPC até 2021 evitou 3,6 mil cortes na unidade de São Bernardo, cerca de um terço do total de funcionários. Depois de uma negociação conturbada, os metalúrgicos da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) aprovaram em votação dividida no último dia 31 agosto a proposta de correção de 5% nos salários com perda real, portanto a partir de janeiro de 2017, nove meses após a database da categoria, em maio. "Este mês de setembro vai ser diferente", afirma João Rached, negociador por mais de 40 anos de empresas como HSBC, Volkswagen e Alcoa, justificando sua avaliação de que o atual cenário de recessão não deve ser suficiente para evitar conflitos mais duros entre empresas e trabalhadores. O especialista em recursos humanos admite que os sindicatos estão com capacidade de mobilização reduzida diante do risco do desemprego, mas diz acreditar que as entidades farão pressão durante as campanhas por demandas mais ligadas à manutenção do

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emprego. "Aí entra também a questão política", ele acrescenta. A atual discussão sobre a reforma trabalhista e previdenciária, em sua visão, pode ser um poderoso combustível para as negociações desta segunda metade do ano e para a atuação do movimento trabalhista, em especial das centrais sindicais. Na última quintafeira, 14 sindicatos de metalúrgicos, de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Rio Grande do Sul, seis federações e duas confederações lançaram uma ação conjunta pela defesa dos direitos trabalhistas e da aposentadoria e contra o desemprego e a terceirização. O primeiro passo, conforme o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos, Miguel Torres, será uma paralisação no próximo dia 29. Juntas, as entidades representam cerca de 2 milhões de trabalhadores. Participante da manifestação coletiva, os metalúrgicos de Osasco lançarão a campanha salarial de 2016 no próximo dia 20. Gilberto Almazan, presidente da entidade, adianta que a pauta vai contemplar um pedido de aumento real, mesmo depois da perda de 10 mil empregos na região, que contempla ao todo 12 municípios. "As demissões estão perdendo fôlego. Boa parte das empresas já readequou o quadro de funcionários para depois da crise", justifica.

Desempenho do varejo em julho divide visões de anal istas Por Tainara Machado Embora o mercado de trabalho continue a se deteriorar, o aumento da confiança dos consumidores parece estar tendo algum efeito sobre as vendas no varejo, que dão sinais de estabilização. Após alta de 0,1% em junho, a média das projeções de 19 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data indica que em julho o volume de vendas no varejo restrito, que não inclui automóveis e material de construção, ficou estável, feitos os ajustes sazonais. As projeções para a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), a ser divulgada amanhã pelo IBGE, vão de queda de 0,6% até alta de 0,7%. Já o varejo ampliado que considera, além dos oito segmentos analisados no restrito, os de veículos e materiais de construção deve ter desempenho melhor. A média das projeções de 17 analistas é de alta de 0,8% no mês.

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Para Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados, as vendas no varejo devem ter crescido 0,4% entre junho e julho, o que seria o segundo mês consecutivo de variação positiva do índice. Mesmo assim, apesar de projetar um número melhor do que a média dos analistas, Castelli é cauteloso ao falar de recuperação. "Ainda é algo bem tímido, baseado principalmente na melhora recente da confiança", diz. De acordo com a Sondagem do Consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV), o índice de confiança aumentou 5,4% em julho, a terceira alta consecutiva. Em agosto, o indicador continuou a subir e avançou 2,6%, nota o economista. Castelli destaca ainda que outros indicadores econômicos mostraram variação positiva no mês, como as vendas nos supermercados medida pela associação que reúne os estabelecimentos do setor, a Abras. Em julho, as vendas aumentaram 0,4% em relação a junho, segundo os dados dessazonalizados pela consultoria. Também subiram o movimento de veículos nas estradas pedagiadas e a expedição de papel ondulado, comenta Castelli, o que o leva a projetar alta das vendas no mês. O dado mais negativo, diz, foi o da Serasa Experian, que

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piorou tanto na comparação mensal quanto no acumulado em 12 meses. Em julho, o índice de atividade do comércio caiu 1,3% em relação a junho, com ajuste sazonais. Os principais ramos de atividade, como supermercados, móveis e tecidos, tiveram recuos no período. Para o Bank of America Merrill Lynch (BofA), que estima decréscimo de 0,1% das vendas em julho, o varejo continua a sofrer com o comprometimento da renda em meio ao ajuste do mercado de trabalho. "Mesmo assim, destacamos que há uma tendência de acomodação dos resultados mensais, por causa da melhora da confiança do consumidor e dos empresários do varejo", afirmam os economistas do banco em relatório. Para Castelli, da GO, a recuperação das vendas só ganhará fôlego quando houver, além de um avanço das expectativas, uma melhora real dos fundamentos que movem o varejo, como massa salarial e crédito. Por enquanto, lembra, esses dois vetores continuam a piorar. É por isso, diz, que mesmo com a expectativa de alta de 0,7% das vendas no varejo ampliado, indicador mais usado para projetar a atividade econômica, as expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre ainda não são muito animadoras. Ele estima estabilidade no período, após recuo de 0,6% no segundo trimestre.

Magistrados impedem advogados de usar celular em audiências Por Adriana Aguiar A presença corriqueira de smartphones e tablets durante audiências trabalhistas tem causado atrito entre advogados e juízes. Em algumas varas, o uso desses equipamentos está proibido, apesar de haver precedente favorável do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em 2008, o órgão autorizou o uso de computador portátil em julgamentos por advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público. A medida incomoda advogados que usam a tecnologia para consultar processos hoje em sua maioria eletrônicos e legislações durante as audiências. A proibição é justificada pela possibilidade de os profissionais poderem passar instruções a testemunhas por mensagens de texto ou WhatsApp e, assim, influenciar o resultado final dos julgamentos.

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"De início eu achava isso muito facilitador, mas infelizmente alguns advogados narraram casos de colegas que começaram a passar o que estava acontecendo nas audiências para as testemunhas e, por isso, passei a proibir o uso desses equipamentos em audiências de instrução [quando são ouvidas as testemunhas]", afirma a juíza Ana Cristina Magalhães Fontes Guedes, da 28ª Vara do Trabalho de São Paulo. Nas audiências de instrução, todos os que estão na sala recebem a recomendação de não usar equipamentos eletrônicos. "Eu não tenho como verificar o que estão fazendo nos seus equipamentos. Por isso achei melhor mudar o procedimento e proibir a utilização", diz a magistrada. O advogado Marcos Alencar, que atua em Recife, afirma já ter sido repreendido por juízes ao usar seu tablet ou smartphone durante audiências, assim como de advogados que defendiam a parte contrária. "Só cedi e desliguei os equipamentos para não prejudicar meus clientes e não gerar nenhum incidente", diz. Para Alencar, apenas as testemunhas devem ficar incomunicáveis, não os advogados. "Eu não posso ser impedido de usar a tecnologia a favor do meu cliente." Segundo ele, os computadores oferecidos pelos tribunais nas salas são normalmente lentos e com smartphones ou tablets é possível ter informações mais rápidas. "Os advogados estão sendo tolhidos de suas prerrogativas pela presunção de que poderia haver comunicação com testemunhas." Advogada em São Luís (MA), Bianca Ribeiro, do Ulisses Sousa Advogados, diz também já ter passado por situação semelhante. "Uso o celular para me comunicar com o escritório e para controlar o horário das audiências, quando há mais de uma no mesmo dia. Uma vez, porém, o advogado da outra parte se incomodou e o juiz pediu que guardasse o celular", afirma. A profissional diz entender o posicionamento do outro advogado. Mas por outro lado afirma que a medida interfere na privacidade e na ética profissional. "O celular é um instrumento de trabalho. Não se pode presumir que o advogado vá agir ilicitamente para perturbar o andamento da audiência." Mesmo informando que usaria o celular apenas para gravar audiências, o advogado Carlos Eduardo Dantas Costa, sócio do Peixoto & Cury Advogados, também foi proibido de usar o aparelho. Ele conta que tinha cinco audiências seguidas de um mesmo cliente e pediu autorização para ligar o aparelho e registrar a sessão.

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"Mesmo explicando ao juiz que deixaria o celular em modo avião e usaria apenas a função de gravação, o magistrado não autorizou, com receio de que informações pudessem ser repassadas a testemunhas", afirma. A autorização só veio na última audiência, quando não havia mais testemunhas do lado de fora da sala. Para o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, a proibição "impede o exercício profissional e limita os direitos do advogado e também do cliente". Ele destaca que o Conselho Nacional de Justiça decidiu em 2008 que magistrado ou servidor de tribunal não pode impedir advogado, defensor público ou mesmo membro do Ministério Público de usar computador portátil em sessão de julgamento, uma vez que estão no exercício constitucional de suas atribuições. De acordo com Lamachia, se algum advogado entender que suas prerrogativas profissionais foram violadas, pode apresentar representação à OAB para que o caso seja analisado. O tema, porém, nunca chegou a ser pautado pelo Conselho Federal. O juiz Antônio Umberto de Souza Júnior, titular da 6ª Vara do Trabalho de Brasília, afirma que o magistrado tem poder de polícia durante a fase de audiência, conforme o artigo 360 do novo Código de Processo Civil (CPC), e deve tomar as medidas necessárias para que ocorra sem qualquer tipo de perturbação que possa acarretar a nulidade do ato que está sendo realizado. Segundo o magistrado, porém, "não é razoável supor que todo advogado tem o intuito de fraudar a realização do ato". Em 22 anos de magistratura, acrescenta, nunca precisou impedir o uso de celular em suas audiências. "A proibição pura e simples esbarra na ordem legal, já que o novo CPC, no artigo 367, permite que o advogado possa por meios próprios registrar a audiência. A rigor, ele pode tirar o celular do seu bolso e ligar o gravador", diz. O juiz do trabalho Rafael Val Nogueira, que atua em Recife (PE), também afirma não ver problemas no uso de tablet ou smartphone durante as audiências. "O advogado pode consultar jurisprudência ou ver suas anotações e para isso deve ter acesso", afirma. Apesar de nunca ter visto uma tentativa de burlar a regra da incomunicabilidade com as testemunhas, entende que, se ocorrer, o magistrado deve agir rapidamente para impedir a prática. (Fonte: Valor Econômico dia 12/09/2016)

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Ministro nega proposta de expandir jornada

São Paulo - Em torno da polêmica sobre a reforma trabalhista a ser proposta pelo novo governo de Michel Temer, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, afirmou que a atualização da legislação não prevê o aumento da jornada de trabalho.

Segundo comunicado da pasta, a proposta vai manter a jornada atual com a possibilidade de quatro horas extras, chegando a 48 horas semanais. "O freio será de 12 horas, inclusive com horas extras.

Não estou falando em aumentar a jornada diária para 12 horas. A proposta prevê que trabalhadores e empregadores possam acordar, em convenção coletiva, como a jornada semanal será feita, para trazer legitimidade aos acordos coletivos.

Essa cláusula acordada não poderá depois ser tornada nula por uma decisão do juiz, trazendo segurança jurídica", declarou, em nota.

O ministro ainda garantiu que direitos como FGTS, 13º salário e férias não serão alterados. "Não há hipótese de mexermos no FGTS, no 13º salário, de fatiar as férias e a jornada semanal. Esses direitos serão consolidados.

Temos um número imenso de trabalhadores que precisam ser alcançados pelas políticas públicas do Ministério do Trabalho. Essa pasta é a casa do trabalhador, e é nesse sentido que estamos conduzindo a reforma trabalhista."

Na avaliação do sócio-proprietário do escritório Lopes & Castelo Advogados Luis Alexandre Castelo, flexibilizar as leis trabalhistas é uma mudança importante.

"Pois dará aos empresários e empregados a condição de negociar varias questões, como por exemplo horário de almoço, parcelamento de férias e demais benefícios, porém sem a perda destes, mas sim uma forma de criar alternativas para o empregado", diz

Da redação

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Bancários rejeitam proposta e greve em agências é m antida

São Paulo - O Comando Nacional dos Bancários rejeitou na última sexta-feira uma proposta apresentada pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) para encerrar a greve. Sem acordo, mais de 10 mil agências ficaram fechadas, sem atendimento ao público.

O comunicado dos bancários relatou que os bancos estão propondo um reajuste de 7% no salário, na participação de lucros e resultados (PLR ) e nos auxílios refeição, alimentação, creche, e abono de R$ 3,3 mil. "Mais uma vez não cobre, sequer, a inflação do período, já que o INPC de agosto fechou em 9,62%, e representa uma perda de 2,39% para cada bancário e bancária", argumentou o Comando Nacional dos Bancários.

Uma nova rodada de negociação ficou marcada para amanhã, terça-feira (13), em São Paulo. No quarto dia de greve da categoria, na última sexta-feira, 10.027 agências e 54 centros administrativos tiveram as atividades paralisadas em todo o Brasil.

Entre as reivindicações dos bancários estão: reposição da inflação do período (9,62%) mais 5% de aumento real, valorização do piso salarial, no valor do salário mínimo calculado pelo Dieese (R$ 3.940,24), PLR de três salários mais R$ 8.317,90, combate às metas abusivas, ao assédio moral e sexual, fim da terceirização, mais segurança, melhores condições de trabalho.

Proposta das instituições

Em nota, a Fenaban confirmou a proposta de aumento na remuneração dos bancários, que consiste em um reajuste de 7% para os salários e benefícios, e abono de R$ 3.300,00 a ser pago até 10 dias após a assinatura do acordo com os bancários. "A Fenaban entende que o modelo de aumento composto por abono e reajuste sobre o salário é o mais adequado para o atual momento de transição na economia brasileira, de inflação alta para uma inflação mais baixa", disse a entidade patronal em seu comunicado.

Da redação

(Fonte: DCI dia 12/09/2016)

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Em dois anos, setor automotivo corta 200 mil vagas Programas de demissão voluntária devem aumentar pos tos perdidos nas montadoras Cleide Silva, O Estado de S. Paulo A crise que levou à redução drástica nas vendas e na produção de veículos no Brasil provocou o fechamento, de 2014 até agora, de 31 mil vagas nas montadoras, onde normalmente os empregos são considerados de melhor qualidade. Na rasteira, foram demitidos mais de 50 mil trabalhadores nas autopeças e mais de 124 mil nas concessionárias, numa conta que supera 200 mil cortes. Os números vão seguir em alta, pois ainda há ajustes a serem feitos em algumas fábricas, como as de Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR), onde a Volkswagen deve seguir o mesmo procedimento realizado na unidade do ABC paulista, com abertura de programa de demissão voluntária (PDV), que atraiu pelo menos 1,2 mil funcionários nos últimos dias. Na Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo (SP), 1.047 trabalhadores se inscreveram em um PDV nas duas últimas semanas, após a montadora oferecer R$ 100 mil como incentivo, além dos direitos da rescisão. Apesar disso, a empresa não obteve as 1,4 mil adesões que esperava e, por isso, demitiu mais 370 funcionários. Alguns trabalhadores aderiram ao programa por não verem mais o futuro que esperavam no setor, até pouco tempo muito cobiçado. “O ambiente atual é de muita pressão”, diz Gustavo, funcionário da Mercedes há cinco anos que pediu para não ter o sobrenome divulgado, por questão de segurança. Ele vai aproveitar o salário extra e a rescisão para quitar as prestações do apartamento em Santo André (SP), onde mora com a esposa, que trabalha numa administradora de condomínios, e a enteada, de 12 anos. “Com isso, me livro da maior dívida que tenho.” Gustavo, de 39 anos, vai começar a distribuir currículos em indústrias, mas já dá “este fim de ano como perdido”. Se não conseguir emprego nessa área, pretende voltar a dar aulas de história, área em que é graduado. Outro funcionário que também pede para não ter o nome divulgado – e se identifica apenas pelas iniciais J.S. – quer aproveitar o dinheiro do PDV para fazer um curso de línguas fora do País e, quem sabe, uma pós-graduação. “Enquanto a situação não

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melhora, vou tentar investir nos estudos”, afirma ele, que tem 38 anos e também trabalhou por cinco anos na Mercedes no setor de CKD (veículos desmontados). A intenção do ex-metalúrgico é ir para o Canadá ou Austrália, mas ele se preocupa com a dívida que deixará no Brasil, de “muitas” prestações do imóvel adquirido em São Bernardo do Campo (SP) há poucos anos. A esposa e os três filhos de 17, 10 e 7 anos ficarão no País. Ela faz bicos como manicure e em confecção de roupas. No fim de 2013, as montadoras do País empregavam 157 mil trabalhadores, número que, em agosto, era de 126 mil. Desse total, 2,5 mil estão em lay-off (com contratos suspensos por cinco meses) e 19,8 mil no Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que reduz jornada e salários. Retomada. A partir de 2014, quando as crises econômica e política se intensificaram, a produção nacional despencou de 3,7 milhões de veículos para as esperadas 2,3 milhões de unidades neste ano. O mercado interno encolheu 1,7 milhão de veículos e caminha para chegar ao fim do ano com vendas de no máximo 2 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, retornando assim a volumes próximos aos de dez anos atrás. Voltar a vender anualmente mais de 3 milhões de unidades, como ocorreu de 2009 a 2014, deve levar no mínimo quatro anos, prevê Rodrigo Custódio, diretor da área automotiva da consultoria Roland Berger para a América do Sul. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, também vê uma recuperação lenta. Neste ano, a entidade estima nova queda de 19% nas vendas em relação ao anterior, mas, para 2017, o executivo espera o início da retomada. “Certamente vamos ficar acima dos 2 milhões de veículos deste ano, que é um número muito baixo”, prevê Megale. “Pode ser até que o volume cresça pouco, mas não vai ser negativo.”

(Fonte: Estado de SP dia 12/09/2016)

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