Neiva Larisane Kuyven PROPOSTA DE MODELAGEM … · Émile Durkheim “Mire, veja : ... Figura 8:...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO Neiva Larisane Kuyven PROPOSTA DE MODELAGEM DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM EM SISTEMAS TUTORES INTELIGENTES ATRAVÉS DA TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS Dissertação submetida à Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Ciência da Computação Prof. Dr. Mauro Roisenberg Florianópolis, março de 2003

Transcript of Neiva Larisane Kuyven PROPOSTA DE MODELAGEM … · Émile Durkheim “Mire, veja : ... Figura 8:...

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA DA

    COMPUTAO

    Neiva Larisane Kuyven

    PROPOSTA DE MODELAGEM DA AVALIAO DA APRENDIZAGEM EM SISTEMAS TUTORES

    INTELIGENTES ATRAVS DA TEORIA DAS INTELIGNCIAS MLTIPLAS

    Dissertao submetida Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos

    requisitos para a obteno do grau de Mestre em Cincia da Computao

    Prof. Dr. Mauro Roisenberg

    Florianpolis, maro de 2003

  • PROPOSTA DE MODELAGEM DA AVALIAO DA APRENDIZAGEM EM SISTEMAS TUTORES INTELIGENTES ATRAVS DA TEORIA DAS

    INTELIGNCIAS MLTIPLAS

    Neiva Larisane Kuyven

    Esta Dissertao foi julgada adequada para a obteno do ttulo de Mestre em Cincia

    da Computao na rea de Concentrao de Sistemas de Conhecimento e aprovada em

    sua forma pelo Programa de Ps-Graduao em Cincia da Computao.

    _________________________________

    Prof. Dr. Fernando A. O. Gauthier Coordenador do CPGCC

    Banca Examinadora

    _________________________________

    Prof. Dr. Mauro Roisenberg - Orientador

    _________________________________

    Prof. Dr. Jorge M. Barreto

    _________________________________

    Prof. Dra. Clara Amlia

  • iii

    Uma sociedade no pode criar-se, nem se recriar

    sem criar, ao mesmo tempo, alguma coisa de ideal.

    Essa criao no para ela uma espcie de auto suplementar

    com o qual se completaria a si mesma uma vez constituda;

    o ato pelo qual ela se faz e se refaz periodicamente.

    mile Durkheim

    Mire, veja : o mais importante e bonito,

    do mundo, isto: que as pessoas no esto

    sempre iguais, ainda no foram terminadas,

    mas que elas sempre vo mudando.

    Guimares Rosa

    Para predizer o que vai acontecer

    preciso saber o que aconteceu antes.

    Nicolau Maquiavel

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, que nos d inteligncia para aprender e

    Seu esprito para nos transformar.

    Ao Prof. Dr. Mauro Roisenberg, pela orientao

    desta dissertao; especialmente pelo fato de

    acreditar na sua realizao e tambm pela sua

    disponibilidade quando necessrio.

    Aos professores da banca examinadora pela sua

    participao.

    A Universidade Federal de Santa Catarina pela

    oportunidade da realizao desta pesquisa, e pela

    oportunidade de convvio e aprendizagem atravs

    de seus professores e colegas do mestrado.

    Aos familiares, pela parcela de sacrifcio qual

    foram submetidos e pela motivao que

    forneceram.

    Aos meus colegas e amigos, em especial a minha

    amiga Judite e meu amigo Osias, pelo auxlio,

    dedicao e compreenso.

    Finalmente, a todos aqueles que no foram

    mencionados e que contriburam, de forma direta

    ou indireta, na realizao deste trabalho.

    Muito Obrigada.

  • v

    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................VII

    LISTA DE TABELAS .................................................................................................VIII

    RESUMO ....................................................................................................................... IX

    ABSTRACT .....................................................................................................................X

    1 - INTRODUO.................................................................................................... 11

    1.1 - Motivaes..................................................................................................... 12

    1.2 - Objetivos ........................................................................................................ 12

    1.2.1 - Objetivo geral ............................................................................................. 12

    1.2.2 - Objetivos especficos.................................................................................. 13

    1.3 - Organizao ................................................................................................... 13

    2 - CONTEXTUALIZAO DA EDUCAO E DA APRENDIZAGEM .......... 15

    2.1 - Educao e aprendizagem.............................................................................. 15

    2.2 - Evoluo histrica da educao..................................................................... 19

    3 - INFORMTICA NA EDUCAO .................................................................... 31

    3.1 - Informtica no contexto das teorias de aprendizagem................................... 33

    3.2 - Sistemas Tutores Inteligentes ........................................................................ 38

    3.2.1 - Modelo do especialista ............................................................................... 40

    3.2.2 - Modelo do estudante................................................................................... 41

    3.2.3 - Mdulo pedaggico .................................................................................... 42

    3.2.4 - Mdulo de interfaces .................................................................................. 42

    3.3 - CAI Computer Assisted Instruction X ICAI- Intelligent Computer

    Assisted Instruction ..................................................................................................... 43

    4 - CONCEPES DAS INTELIGNCIAS MLTIPLAS .................................... 46

    4.1 - Inteligncia lgico-matemtica...................................................................... 50

    4.2 - Inteligncia lingstica ................................................................................... 52

    4.3 - Inteligncia visuoespacial .............................................................................. 56

    4.4 - Inteligncia musical ....................................................................................... 59

    4.5 - Inteligncia corporal-cinestsica.................................................................... 62

    4.6 - Inteligncia interpessoal................................................................................. 66

    4.7 - Inteligncia intrapessoal................................................................................. 68

  • Sumrio

    vi

    5 - AVALIAO DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM NA

    PERSPECTIVA DAS INTELIGNCIAS MLTIPLAS .............................................. 70

    5.1 - Conceituao geral da avaliao.................................................................... 70

    5.2 - Avaliao no contexto das inteligncias mltiplas ........................................ 71

    5.3 - Avaliao em sistemas tutores inteligentes atravs das inteligncias

    mltiplas ...................................................................................................................... 76

    5.3.1 - Avaliao da inteligncia lgico-matemtica............................................. 77

    5.3.2 - Avaliao da inteligncia lingstica......................................................... 83

    5.3.3 - Avaliao da inteligncia visuoespacial .................................................... 86

    5.3.4 - Avaliao da inteligncia musical .............................................................. 94

    5.3.5 - Avaliao da inteligncia corporal-cinestsica........................................... 96

    5.3.6 - Avaliao da inteligncia interpessoal e intrapessoal................................. 99

    5.4 - Utilizao de mapas conceituais na avaliao da aprendizagem em Sistemas

    Tutores Inteligentes ................................................................................................... 101

    6 - CONCLUSO E SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS................. 107

    6.1 - Sugestes para trabalhos futuros.................................................................. 109

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................... 111

  • vii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Demonstrativo do surgimento do construtivismo ........................................... 29

    Figura 2: Domnios de uma aplicao de tutores inteligentes conforme Ulbrich(1997) 39

    Figura 3: Diagrama de blocos de um STI clssico conforme KAPLAN & ROCK

    (1995)....................................................................................................................... 40

    Figura 4: Exemplo de Diagramas de Venn..................................................................... 79

    Figura 5: Demonstrativo de um fluxograma................................................................... 87

    Figura 6: Esquema de resumo visual para explicar os componentes de um pargrafo .. 87

    Figura 7: Esquema de resumo visual para explicar os componentes de um relatrio ou

    ensaio ....................................................................................................................... 88

    Figura 8: Modelo de quadro visual - Mapa radial ......................................................... 89

    Figura 9: Modelo de quadro visual Escala contnua ................................................... 89

    Figura 10: Modelo de quadro visual Cadeia de acontecimentos em srie................... 90

    Figura 11: Modelo de quadro visual: Ciclo.................................................................... 90

    Figura 12: Estrutura de mapas de conceitos ................................................................... 92

    Figura 13: Exemplo de representao atravs do agrupamento ..................................... 93

    Figura 14: Demonstrao de cartes de tarefa em forma de cartas ............................... 98

  • viii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: CAI X ITS .................................................................................................... 44

  • ix

    RESUMO

    O processo avaliativo desafia educadores-pesquisadores na busca de uma prtica

    coerente e motivadora e que leve em considerao a real situao do aprendizado e o

    reconhecimento das mltiplas competncias inerentes ao ser humano.

    Esta pesquisa baseia-se em uma proposta de avaliao do processo ensino-

    aprendizagem em Sistemas Tutores Inteligentes atravs da teoria das Inteligncias

    Mltiplas de Howard Gardner. So abordados temas como a evoluo da educao

    atravs dos tempos at a atualidade e a utilizao da informtica educativa no ato de

    ensinar-aprender. So apresentados os fundamentos tericos bsicos sobre Sistemas

    Tutores Inteligentes e a teoria das Inteligncias Mltiplas. O enfoque maior centra-se na

    avaliao do processo ensino-aprendizagem no contexto das Inteligncias Mltiplas e

    sua forma de aplicabilidade em Sistemas Tutores Inteligentes utilizando-se de mapas

    conceituais, podendo a mesma ser realizada atravs de instrumentos justos, completos

    e abrangentes para com as inteligncias apresentadas pelos aprendizes.

    Palavras-Chaves: Sistemas Tutores Inteligentes, Inteligncias Mltiplas,

    Avaliao, Informtica na Educao, Mapas Conceituais.

  • x

    ABSTRACT

    The evaluation process challenges educators-researchers who are in search for a

    coherent and motivating practice that takes into consideration the reality of the learning

    practice and the recognition of multiple competences inherent in human being.

    This research is based on a proposal of evaluation of the teaching-learning

    process in Intelligent Tutoring Systems through Multiple Intelligences theory by

    Howard Gardner. Themes such as the evolution of education from the past to the

    present days and the use of educative computing science in teaching-learning process as

    well as the basic theoretical fundamentals of Intelligent Tutoring Systems and theory

    of Multiple Intelligences are presented here. The main focus is on the evaluation of

    teaching-learning process in the context of Multiple Intelligences and their aplicability

    in Intelligent Tutoring Systems using conceptual maps, turning the former possible to

    be put into practice through instruments which are fair, complete and comprehensive to

    the intelligences inherent in the learners.

    Keywords: Intelligent Tutoring Systems, Multiple Intelligences, Evaluation,

    Computing Science in Education, Conceptual Maps.

  • 1 - INTRODUO

    A educao vem procurando lanar mo de recursos tecnolgicos, tentando

    realizar um sonho que, THRONDIKE & GATES (1929) apud HOLLAND (1975), j

    idealizaram, em seu livro Princpios Elementares de Educao, que serviu de base para

    os estudos ainda individualizados.

    Se, por um milagre da engenhosidade mecnica, um livro pudesse ser de tal forma apresentado que a pgina dois fosse visvel somente ao leitor que tivesse feito o que hoje se afirma na pgina um, e assim por diante, grande parte do que hoje existe, a instruo individual poderia ser substituda pela letra impressa,

    Apesar de alguns resultados animadores, o uso de computadores em educao

    vinha se restringindo, at a poucos anos, via de regra, construo de verdadeiros

    viradores de pgina eletrnicos, inspirados nas mquinas de ensinar mecnicas e

    eletromagnticas dos anos 50, sem utilizar o verdadeiro potencial de que dispem.

    Atualmente, novas abordagens do uso da informtica na educao tm traduzido novas

    perspectivas para esta rea.

    A partir dos anos 70, as pesquisas nesta rea passaram a trabalhar na aplicao da

    expectativa de Inteligncia Artificial aos problemas da criao de ambientes de

    aprendizagem, acarretando, por conseguinte, no desenvolvimento dos Sistemas Tutores

    Inteligentes, com a proposta de introduzir uma abordagem heurstica aplicada aos

    sistemas de ensino que at ento eram utilizados. Desta forma, o professor deixa de ser

    o centro, e o aluno passa a ser o prprio agente responsvel pela aquisio do seu

    conhecimento.

    Um Sistema Tutor Inteligente caracteriza-se por ter conhecimento do que

    ensinar, de como ensinar, de a quem ensinar e de como interactuar com os

    alunos.

  • Introduo 12 1.1 - Motivaes

    O crescente desenvolvimento de tecnologias de informao e de comunicao

    disponveis hoje, leva-nos a um repensar sobre as metodologias utilizadas no processo

    de ensino-aprendizagem e principalmente no processo de avaliao, desafiando-nos a

    buscar condies mais adequadas para um ambiente de aprendizagem interativo e

    dinmico. Isso implica ser capaz de refletir sobre a aprendizagem a partir de dois plos:

    a promoo do ensino ou a construo do conhecimento pelo aluno.

    Como professora de uma instituio de ensino, a autora da presente tese tem

    verificado a interdisciplinaridade da informtica e o seu potencial para auxiliar como

    uma ferramenta pedaggica no processo de ensino-aprendizagem, sendo este tema, o

    motivador para o desenvolvimento da presente pesquisa.

    A Informtica no uma panacia para a reforma do ensino, mas ela pode ser um

    catalisador significativo para a mudana. Para aqueles que procuram uma soluo

    simples e inovadora, a tecnologia no a resposta, mas, para aqueles que procuram uma

    ferramenta poderosa para apoiar ambientes de aprendizagem colaborativos, a tecnologia

    tem um enorme potencial.

    1.2 - Objetivos

    1.2.1 - Objetivo geral

    A rea de atuao da proposta de pesquisa aqui apresentada a Inteligncia

    Artificial na Educao, mais especificamente a sub-rea de Sistemas Tutores

    Inteligentes. A pesquisa tem por objetivo geral desenvolver uma proposta de como

    avaliar o aluno em Sistemas Tutores Inteligentes que favoream o aprimoramento do

    processo de ensino-aprendizagem na construo do conhecimento, baseado nas

  • Introduo

    13

    principais teorias de aprendizagem e na teoria das inteligncias mltiplas bem como na

    utilizao de mapas conceituais.

    1.2.2 - Objetivos especficos

    - Identificar as teorias de aprendizagem encontradas no processo educacional,

    sua evoluo e mudanas que acarretam at a atualidade;

    - Realizar um estudo da Teoria das Inteligncias Mltiplas propostas por

    Howard Gardner;

    - Identificar estratgias de ensino atravs da Teoria das Inteligncias Mltiplas;

    - Identificar formas de avaliao da aprendizagem atravs das Inteligncias

    Mltiplas;

    - Realizar um estudo sobre os mapas conceituais e sua aplicabilidade.

    - Apresentar uma proposta de modelagem de avaliao da aprendizagem em

    Sistemas Tutores Inteligentes atravs da Teoria das Inteligncias Mltiplas e

    da utilizao de mapas conceituais.

    1.3 - Organizao

    O presente trabalho est estruturado em seis captulos, onde no primeiro captulo

    realiza-se uma abordagem introdutria sobre a rea/tema na qual est inserida a

    pesquisa, seus objetivos e importncia.

    No segundo captulo descreve-se a contextualizao da Educao e da

    Aprendizagem, sendo descrita a evoluo da educao atravs dos tempos, at a

    atualidade, abordando-se sempre a evoluo das teorias da aprendizagem.

    No terceiro captulo apresenta-se a utilizao da Informtica na Educao no

    processo ensino-aprendizagem.

  • Introduo 14

    No quarto captulo descreve-se as concepes das Inteligncias Mltiplas de

    Howard Gardner, suas caractersticas, e como so identificadas nos indivduos.

    No quinto captulo apresenta-se uma proposta de modelagem de avaliao da

    aprendizagem, aplicvel a Sistemas Tutoriais Inteligentes na perspectiva das

    Inteligncias Mltiplas, e como estas podem ser aplicadas em Sistemas Tutores

    Inteligentes atravs de mapas conceituais, podendo-se desta forma realizar uma

    avaliao atravs de instrumentos justos, completos e abrangentes para com as

    inteligncias apresentadas pelos aprendizes.

    No sexto captulo trata-se das consideraes finais do trabalho bem como

    colocaes de trabalhos futuros.

    Em sua ltima parte encontram-se as relaes bibliogrficas das obras que

    exerceram maior influncia neste trabalho, e que so citadas ao longo do texto.

  • 2 - CONTEXTUALIZAO DA EDUCAO E DA APRENDIZAGEM

    2.1 - Educao e aprendizagem

    A educao tem por objetivo uma aprendizagem que abranja conceitos e

    experincias, que libere o aluno para a auto-aprendizagem criando condies para que o

    mesmo possa tornar-se um sujeito de iniciativa, de responsabilidade, de

    autodeterminao, de discernimento e que saiba desenvolver seu prprio conhecimento,

    utilizando-se de suas experincias para a soluo de seus problemas.

    O processo educativo pode ser concebido de vrias formas, um fenmeno

    humano, histrico e multidimensional. Nele esto presentes os aspectos humanos,

    tcnicos, cognitivos, emocionais, os scio-polticos e os culturais. Estes aspectos

    requerem mltiplas implicaes e relaes. De acordo com determinada teoria/proposta

    ou abordagem do processo ensino-aprendizagem, privilegia-se um ou outro aspecto do

    processo educacional. NUNES (1999)

    A educao necessita de pressupostos e de conceitos fundamentais que norteiam

    seus caminhos, tendo em vista que ela no se manifesta como um fim, mas sim como

    um instrumento de manuteno ou transformao social. A pedagogia pressupe um

    direcionamento filosfico que garante a compreenso dos valores e das prticas

    educacionais vivenciadas pelo educando enquanto sujeito em construo.

    Muitos pesquisadores conceituam a educao, e todos so unnimes em afirmar

    que ela a responsvel pela formao do ser humano, segundo uma prtica pedaggica,

    na qual ocorre o desenvolvimento do conhecimento.

    Para LUCKESI (1991) A educao uma prtica humana direcionada por uma

    determinada concepo terica. A prtica pedaggica est articulada com uma

  • Contextualizao da Educao e da Aprendizagem

    16

    pedagogia, que nada mais que uma concepo filosfica da educao. Tal concepo

    ordena os elementos que direcionam a prtica educacional.

    Para SAVIANI apud NUNES (1999)

    ... o objeto da educao diz respeito, de um lado, identificao dos elementos

    culturais que precisam ser assimilados pelos indivduos da espcie humana para que

    eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, descoberta das formas

    mais adequadas para atingir esse objetivo.

    Idealizador de uma pedagogia que alcanou o reconhecimento mundial, Paulo

    Freire defende a proposta de que junto com o ensino, os alunos devem ser incentivados

    a entender seu papel na sociedade. E acrescenta que o processo educativo no

    politicamente neutro, mas sim uma ao cultural que resulta numa relao de domnio

    ou de liberdade entre os seres humanos, onde o educando torna-se produtor tambm do

    conhecimento que lhe foi ensinado, ou seja, o prprio agente de sua educao.

    Neste novo movimento estamos cada vez mais deixando de lado o modelo de aulas expositivas e abstratas por aulas prticas e vivenciadas, com forte tendncia a uma educao mais criativa e libertadora e no meramente reprodutora. FREIRE (1971)

    Mais do que desenvolver contedos curriculares dever da escola e dos

    profissionais da educao, capacitar o estudante para a vida e no podemos ignorar o

    poder da informtica na preparao desse futuro. O domnio completo dessa tecnologia

    um dos passos necessrios educao de nossos jovens. Mas s isso no suficiente.

    Mais do que o domnio do computador, o que precisamos desenvolver nos alunos so

    habilidades cognitivas e emocionais. A criatividade, o senso crtico, a iniciativa, o

    raciocnio lgico, a auto-estima, a capacidade de selecionar entre tantas, as fontes

    fidedignas e as informaes relevantes so requisitos bsicos para o desenvolvimento

    integral do indivduo. Assim os objetivos educacionais de preparo para a vida sero

    alcanados, onde o importante saber agir, escolher, tomar decises e solucionar

  • Contextualizao da Educao e da Aprendizagem

    17

    problemas, sendo de fundamental importncia atuao do aluno, que ser agente da

    sua prpria educao. LOPES (1996)

    O processo de aprendizagem se inscreve na dinmica da transmisso da cultura,

    que constitui a definio mais ampla da palavra educao. No nvel social podemos

    considerar a aprendizagem como um dos plos do par ensino-aprendizagem, cuja

    sntese constitui o processo educativo.

    A palavra inglesa learning (aprendizagem), provavelmente, deriva do radical

    indo-europeu, leis, que significa pista ou pegada. Antes de atingir sua forma atual,

    sofreu muitas transformaes: laestan, leornian, lernen. Em diferentes perodos da

    evoluo da lngua inglesa, ela pode ter sido entendida como seguir uma pista,

    continuar, vir a saber ou, talvez mesmo, entrar nos trilhos. CATANIA (1999)

    Existem vrios conceitos de aprendizagem, onde pesquisadores a definem de

    forma parecida; todos eles concordam que a aprendizagem pode ser definida como uma

    mudana relativamente permanente no comportamento do indivduo, resultante da

    experincia vivenciada ao longo de suas relaes com o meio.

    Segundo MIERMONT (1994),

    A aprendizagem uma das modalidades de tratamento da informao que, por meio de ensaios e erros, e em funo dos dados do meio ambiente interno ou externo, conduz modificao dos sistemas de pensamento, de ao e de emoo. Baseia-se nas diferentes formas de memria que integram dados eventualmente transmitidos de uma gerao para outra. A aprendizagem permite, graas s experincias suscitadas pelas interaes familiares e sociais, a aquisio dos automatismos inconscientes e pr-conceitos.

    Conforme GAGN (1974),

    A aprendizagem uma modificao na disposio ou na capacidade do homem, modificao essa que pode ser retirada e que no pode ser simplesmente atribuda ao processo de crescimento. O tipo de modificao a que se d o nome de

  • Contextualizao da Educao e da Aprendizagem

    18

    aprendizagem manifesta-se como uma alterao no comportamento e infere-se que a aprendizagem ocorreu, comparando-se o comportamento possvel antes de o indivduo ser colocado em uma situao de aprendizagem e o comportamento apresentado aps esta circunstncia.

    Para que o sujeito participe do seu processo de ensino-aprendizagem, a ao

    pedaggica atravs da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade deve apontar para

    a construo de uma escola participativa e decisiva na formao do sujeito social. O

    educador, sujeito de sua ao pedaggica, capaz de elaborar programas e mtodos de

    ensino-aprendizagem, sendo competente para inserir a sua escola numa comunidade. O

    objetivo fundamental da interdisciplinaridade experimentar a vivncia de uma

    realidade global que se inscreve nas experincias cotidianas do aluno, do professor e do

    povo, porm, na escola tradicional, esta prtica compartimentada e fragmentada.

    Ao admitir o conhecimento como processo de natureza interdisciplinar que

    segundo MORAES (1996), pressupe flexibilidade, plasticidade, interatividade,

    adaptao, cooperao, parcerias e apoio mtuo, coloca-se a utilizao pedaggica do

    computador na confluncia de diversas teorias teorias transitrias e coerentes com a

    viso epistemolgica de rede. Dessa forma, abrem-se as possibilidades de profunda

    alterao na pedagogia tradicional o que no significa sua negao, mas um

    redimensionamento e uma dinamizao alicerados no procedimento de questionar, de

    admitir a provisoriedade do conhecimento, na abertura ao dilogo e na integrao de

    novas idias.

    Os computadores esto alterando a paisagem do nosso ambiente social e

    intelectual e, sem dvida, vieram para ficar. Eles produzem modificaes nas teorias de

    aprendizagem e, portanto, no ensino.

    Novas maneiras de pensar e de conviver esto sendo elaboradas no mundo das telecomunicaes e da informtica. As relaes entre os homens, o trabalho, a prpria inteligncia dependem, na verdade, da metamorfose incessante dos dispositivos informacionais de todos os tipos. Escrita, leitura, viso, audio so capturados por uma informtica cada vez mais avanada. PIERRE LEVY (1998)

  • Contextualizao da Educao e da Aprendizagem 19

    Pensando educao a partir desse paradigma e o processo de construo do

    conhecimento na ao comunicativa, importante dizer que:

    O conhecimento no mais relao de um sujeito isolado com algo no mundo, que objetiva e manipula. Mas constri-se na relao social de sujeitos, enquanto processo do entendimento entre eles, sobre algo no mundo que os integra e desafia. Ao passarem do paradigma da conscincia para o do entendimento lingstico no mbito da teoria de intersubjetividade, as subjetividades defrontam-se umas com as outras, como poderes objetivadores opostos e como espontaneidades originrias, que projetam mundos, sempre, no entanto, como pretenses criticveis, que transcendem os contextos nos quais so formuladas e ganham vida sempre nova nas prticas do entendimento de cada comunidade lingstica. MARQUES (1990)

    Com a revoluo tecnolgica e cientfica a sociedade mudou muito nas ltimas

    dcadas. Assim, a educao no tem somente que adaptar s novas necessidades dessa

    sociedade do conhecimento como, principalmente, tem que assumir um papel de ponta

    nesse processo.

    2.2 - Evoluo histrica da educao

    A perspectiva histrica dos fatores educativos sugere uma reflexo acerca da

    educao, da escola e da produo do conhecimento. O estudo dos elementos que

    constituem a histria da educao faz-se necessrio na pesquisa sobre o fazer

    pedaggico, com o intuito de no s entender como se processam as prticas,

    atribuindo-lhes sentidos, mas de poder agir cada vez mais conscientemente.

    A educao e o processo ensino-aprendizagem passaram por vrias fases, at

    chegar as prticas pedaggicas educacionais nos dias de hoje. Nesta perspectiva,

    pretende-se fazer uma amostragem de forma cronolgica, sobre a formao dos

    conceitos que contriburam para a definio de nossas polticas educacionais e que se

    constituem em alguns pontos integrantes para configurar a dimenso hermenutica da

    Pedagogia, enquanto teoria crtica da educao e cincia do educador.

  • Contextualizao da Educao e da Aprendizagem 20

    Atravs do trabalho, o ser humano experimenta suas crenas, suas idias, suas

    concepes, tornando-se materializadas em um processo no qual o pensar e o fazer se

    complementam, evitando a alienao1.

    Segundo FERREIRA (2001) em relao ao trabalho:

    (...) a educao tem-se apresentado como uma forma de acompanhar o desenvolvimento das sociedades. Entretanto, em vez de centrar-se na prxis, centra-se ora na teoria, ora na prtica, ora na transmisso do saber, ora na inteno de formar mo-de-obra, contribuindo, assim, para alargar o distanciamento entre grupos de pensadores e grupos de trabalhadores.

    De uma forma ou outra, o ser humano, enquanto ser social, est desenvolvendo

    algum tipo de aprendizagem. Ainda segundo FERREIRA (2001) sabe-se que esta

    aprendizagem tanto pode ocorrer de forma natural (na interao com seus pares, dentro

    dos seus grupos sociais) como formalmente (na escola, por exemplo).

    Podemos distinguir verses institucionalmente diferentes da educao:

    Educao informal: ao nascer o indivduo insere-se num mundo j

    interpretado e que preexiste ao sujeito, ainda que este horizonte

    interpretativo pouco interiorizado. Os sujeitos-aprendizes por sua vez,

    passam a rever o mundo de acordo com essa interpretao e a express-la

    segundo a situao social que os condiciona. Assim, o cotidiano, a

    experincia de vida e a famlia so fontes informais de educao.

    Educao formal: a educao que tem na escola seu ponto principal de

    referncia. Nascida dos problemas e necessidades do mundo da produo

    tem toda uma estrutura hierrquica, cronolgica e burocrtica.

    1 Alienao (de alienare, afastar, separar aqui entendida como a situao em que o ser humano separado de sua produo, perdendo a posse sobre o produto de seu trabalho e, em conseqncia, perdendo sua centralidade e a compreenso de si prprio.

  • Contextualizao da Educao e da Aprendizagem 21

    A educao entre os povos primitivos, consistia na maioria das vezes, na mera

    transmisso do conhecimento necessrio a sobrevivncia. Este ensinamento, realizado

    no meio das prprias famlias, era repassado quase sempre de forma prtica e utilitria,

    reavivando desta forma, a tradio dos cls e grupos tribais medida de sua transmisso

    de gerao em gerao.

    Era essencialmente uma educao natural, espontnea, inconsciente, adquirida na convivncia de pais e filhos, adultos e menores. Sob influncia ou direo dos maiores, o ser juvenil aprendia as tcnicas elementares necessrias vida: caa, pesca, pastoreio, agricultura e fainas domsticas. Trata-se de uma educao por imitao ou, melhor por co-participao nas atividades vitais. Assim, aprende tambm os usos e costumes da tribo, seus cantos e suas danas, seus mistrios e seus ritos, o uso das armas e, sobretudo, a linguagem que constitui sua maior instrumento educativo. LUZURIAGA (1995)

    O objetivo principal da educao para esses povos era incluir e ajustar os mais

    novos ao ambiente, s prticas e s interaes, tendo a experincia dos mais velhos

    como referncia.

    Nas sociedades primitivas, o processo educativo altamente informal e totalmente integrado nas atividades dirias que visam sobrevivncia do indivduo e da tribo: alimentao, abrigo, vesturio e defesa. GUILES (1987)

    Segundo alguns historiadores a passagem para um estgio diferenciado dos povos

    pr-histricos para o incio da civilizao, tem como caracterstica, a preocupao em

    estabelecer formas de organizao poltica que substituam as organizaes centradas nas

    famlias, nos cls. Desta forma, surgem as classes sociais formadas com base em

    critrios como a fora, a posse, a distino dentro do grupo. Durante este perodo o

    homem passa a ser considerado civilizado, coincidindo tambm com a formao dos

    estados, a distino em classes sociais, a diviso do trabalho, o aparecimento da escrita,

    sendo esta ltima uma forma de diferenciao entre as pessoas, os povos, os saberes.

    At mesmo na sociedade contempornea h a diferenciao entre os que tm

    acesso a diversificadas linguagens e os que no tm, entre os que lidam com tecnologias

    cada vez mais sofisticadas e os que no o fazem.

  • Contextualizao da Educao e da Aprendizagem 22

    A escrita propiciou a acumulao do saber, gerou novo perfil de aprendizagem e de conhecimento do real: poder-se-ia agora ler a vida e entende-la na interao com seus pares ou entend-la lendo-a nos escritos. Aprender passa a ser uma ao mediada pelo cdigo escrito. FERREIRA (2001)

    Os gregos, alm das contribuies basilares para reas como msica, literatura e

    filosofia, legaram alguns fundamentos da pedagogia. Nesta fase da histria, tem-se a

    contribuio de grandes pensadores como Scrates, Plato e Aristteles que

    influenciaram, sobremaneira, o pensamento educacional e servem de referncias nos

    estudos realizados ao longo dessas centenas de sculos distantes de sua existncia.

    Scrates considerado ponto de referncia para a compreenso dos demais

    momentos da educao grega. Ficou conhecido somente a partir dos escritos de Plato.

    O mtodo de educao socrtico tinha como pressupostos o dilogo e a escuta,

    considerado o parto do conhecimento, sendo que este originariamente centra-se nas

    pessoas e s o conhecimento que vem de dentro capaz de revelar o verdadeiro

    discernimento acerca da realidade. Para Scrates a atividade educativa deveria ser

    realizada pela converso. Era contrrio ao domnio do estado na educao da poca,

    pois acreditava no valor do ser humano e defendia que a virtude era propriedade de

    todos, independentemente da classe social. FERREIRA (2001)

    A contribuio de Scrates para a educao pode ser sintetizada com o dizer-se que foi o primeiro em reconhecer como fim da educao o valor da personalidade humana, no a individual subjetiva, mas a de carter universal. Assim comea o humanismo em educao. pois que o decisivo no homem a virtude, o fim imediato da educao a formao tica, a moral. Mas a educao tem tambm aspecto social, ainda que subordinado ao humano; e nesse sentido h de estar de acordo com as leis e tradies do Estado. LUZURIAGA (1995)

    Plato, discpulo de Scrates, igualmente defendia o dilogo como mtodo

    educativo. Queria atravs dele, entender a relao entre o eterno, o imutvel, a

    essncia e o que flui. Sobre Plato, destaca-se igualmente a sua preocupao com a

    educao do homem que o Estado necessita. No deixa de ser um ideal de educao

    semelhante de Scrates, medida que ambos destacam o aspecto moral, porm,

    Plato, ao aliar educao e objetivo do estado, avana, estabelecendo um rgido e

  • Contextualizao da Educao e da Aprendizagem

    23

    sistemtico programa para a atividade educativa.Acreditava que a educao era funo

    do estado, pois s este representava a idia de justia, e tem poder de mostrar ao

    indivduo que sua conscincia moral e sua conscincia espiritual formam um todo. Em

    suma, a pedagogia de Plato consistia na formao do homem social dentro do estado

    justo.

    Aristteles afirmava que as formas e as caractersticas, no existem antes do ser,

    por isso a realidade deve ser sentida, pois no existe nada na conscincia que j no

    tenha sido sentido e organizado por esta. A partir desse conceito fundou a lgica.

    A viso que Aristteles tinha sobre o homem e a educao conforme FERREIRA

    (2001) demonstra:

    para Aristteles, o homem nasce para a cidadania e o estado existe para a realizao do bem dos cidados. O homem s atinge a felicidade dentro de uma coletividade social, sendo o processo educativo o caminho que leva realizao deste fim. Assim, a finalidade da educao funo do estado -, o bem moral, razo de felicidade.

    Na Idade Mdia todo conhecimento no devia contrariar a f; antes, o racional

    deve ser meio para o reforo da f. Percebe-se, assim, que a educao na poca

    medieval serve aos interesses da Igreja. Concebe-se a educao como um processo

    social mais amplo que visa o atendimento das prerrogativas de um poder desejado pela

    Igreja. Um dos grandes feitos em termos educacionais, neste perodo, foi o

    estabelecimento de universidades que se proliferaram rapidamente como centros de

    aprendizagem e divulgao do conhecimento, embora, em seu incio, fossem

    demasiadamente conservadoras e preocupadas com o acmulo de conhecimentos pela

    memorizao. A aprendizagem era compreendida como aquisio de informao, em

    um sentido predominantemente cognitivo, entendia-se aprender como: ficar na

    memria ou conhecer. FERREIRA (2001).

  • Contextualizao da Educao e da Aprendizagem 24

    O Renascimento (XV e XVII) foi um movimento cultural, cientfico e filosfico

    associado Itlia e contribuiu para o estabelecimento de uma nova proposta de vida: o

    Homem buscando respeito conscincia de sua humanidade. No Renascimento

    cultivada a individualidade, a personalidade total e no s a religio e a msica. No

    havia possibilidade de separar o Renascimento do Humanismo, isto , do movimento

    amplo pelo qual o ser humano situado como princpio e centro de todas as esferas

    scio-culturais. FERREIRA (2001).

    No Renascimento o processo educativo influenciado pelo Humanismo torna-se

    livre e transforma-se, se comparado ao medieval. O educador deve criar no educando

    um esprito questionador para desenvolver-se e no ser um sujeito passivo. Alguns dos

    pensadores elaboraram modelos escolares cujos pressupostos, a partir de uma leitura

    superficial, poderiam ser consideradas, am alguns aspectos, precursores da abordagem

    cognitivista, muito defendida em nosso sculo.

    Sem dvida, o Renascimento em se tratando de educao, foi um perodo marcado

    por proposies de idias e prticas sobre as quais se aliceraram modernas teorias

    educacionais, aes educativas com vistas a privilegiar o aluno e sua produo do

    conhecimento.

    A partir do sculo XVII, inicia-se o grande perodo de libertao das idias

    consideradas ultrapassadas. O ideal humanista e literrio torna-se agora ideal de

    realidade. Exige-se conhecimento do mundo; as palavras, o ensino verbal e a

    memorizao so descartadas. A idias generalizada de que o conhecimento est dentro

    dos seres e precisa se tornar consciente gera um novo modo de pensar: o conhecimento

    produz-se a partir da relao Homem X Objeto. FERREIRA (2001).

    Analisando como a Psicologia vinha tratando o problema da produo do

    conhecimento pelo homem, aspecto este importante no estudo da inteligncia,

    encontramos duas grandes correntes: o apriorismo e o empirismo.

  • Contextualizao da Educao e da Aprendizagem 25

    Dentro da corrente do apriorismo ou aprendizagem por maturao (tambm

    conhecido por inatismo), encontramos a Psicologia de Gestalt (ou da forma), que

    considera que o conhecimento se produz porque h na pessoa uma capacidade interna

    inata (a priori). A estrutura dada desde o comeo de forma definitiva ou como

    manifestao de estruturas que a impem de dentro para fora percepo e inteligncia,

    a medida que se manifestam as necessidades provocadas pelo contato com o meio.

    Os gestaltistas afirmam que no h excitao sensorial isolada, mas complexos em

    que o parcial funo do conjunto. Isso significa que o objeto no percebido em suas

    partes para depois ser organizado mentalmente, mas se apresenta primeiro na sua

    totalidade (na sua forma) e s depois o indivduo se atentar para os detalhes.

    Essa tendncia que o sujeito tem para organizar aquilo que percebido significa

    que o objeto nunca aparece na percepo tal como existe em si. Ele elaborado pelo

    sujeito que estrutura organicamente coisas apenas justapostas ou leva perfeio das

    formas apenas esboadas.

    A teoria de Gestalt supervaloriza a percepo como funo bsica para o

    conhecimento da realidade. As prticas pedaggicas inspiradas na mesma do muita

    importncia para a motivao, que seria a maneira do professor mexer com o interior

    do aluno, para possibilitar que este venha a aprender.

    O inatismo explica os conhecimentos atravs de sua existncia j pr-formada na mente humana, como lembrana, de outras encarnaes. Toda a compreenso da realidade j estaria inscrita no ser humano ao nascer. Ao inatismo se vinculam as idias de desenvolvimento e de maturao. Tambm o inatismo se alinha na corrente racionalista das explicaes da realidade. GROSSI & BORDIN (1992)

    Segundo Ren Descartes (1596-1650), com a frase Penso, logo existo, faz

    acreditar que o ser humano s o medida que produz idias, conhecimento e traz

    tona a possibilidade de ser a razo a nica forma de atingir a verdade.

  • Contextualizao da Educao e da Aprendizagem 26

    No racionalismo, a perspectiva que faz crer que tudo passa pelo mbito da razo, o ser humano basicamente um ser racional. A concepo terica do racionalismo, parte do princpio de que o desenvolvimento da inteligncia determinado pelo indivduo e no pelo meio. Portanto, de dentro para fora. A idia que o ser humano j nasce com a inteligncia pr-moldada. A lgica, por exemplo, seria uma capacidade inata do homem. medida que o ser humano amadurece, ele vai reorganizando sua inteligncia pelas percepes que tem da realidade. Essas percepes dependem de capacidades que so inerentes ao indivduo e no dos estmulos externos. LOPES (1996)

    John Locke (1632-1704) tornou-se conhecido pela contribuio como terico do

    liberalismo, considerado o fundador do empirismo. Locke critica Descartes, afirmando

    que o ser humano no nasce com o conhecimento, mas, atravs da experimentao, vai

    conhecendo. Enquanto Descartes valoriza o lgico, Locke atm-se ao psicolgico.

    A tradio do empirismo iniciou-se com Aristteles, aluno de Plato. Aristteles

    gostava de observar a natureza e, inclusive, de fazer experincias com ela. Para ele, a

    origem do conhecimento estava na experincia sensorial, que nos permite formar idias

    a partir de associaes entre as imagens proporcionadas pelos sentidos. Ao contrrio de

    Plato, Aristteles achava que ao nascermos somos uma tbua rasa, uma tabuinha de

    cera, como aquela que usavam os sumrios, ainda por imprimir. nossa experincia que

    vai criando impresses sobre a tabuinha, impresses que, ao se unirem, acabam dando

    lugar s idias, que constituem o verdadeiro conhecimento. POZO (2002)

    O empirismo, ao contrrio, caracterizado por Aristteles como tendo na experincia a modalidade e o veculo de toda a aquisio de conhecimentos. dele a afirmao de que nada est na inteligncia que no tenha passado pelos sentidos. GROSSI & BORDIN (1992)

    Ao empirismo se vinculou o associacionismo, que a teoria segundo a qual as

    impresses se fixaro na inteligncia se estiverem associadas umas s outras

    especialmente e se fixaro mais e melhor se estiverem associadas temporalmente pela

    sua repetio reiterada.

  • Contextualizao da Educao e da Aprendizagem 27

    Nem no inatismo nem no empirismo h lugar para o papel da ao do sujeito no

    conhecimento do mundo.

    O empirismo valoriza a cincia como meio e como fim educativo, reportando a

    educao instruo e esta para a formao da mente interpretada no sentido cognitivo

    e epistemolgico CAMBI (1999). O empirismo desenvolve uma concepo de mente

    infantil e da educao destacando o papel do mestre ao proporcionar experincias para

    uso adequado da inteligncia, afirma que a alma como uma tbua rasa, sem nada

    escrito e o conhecimento s comea aps a experincia sensvel. Essas afirmaes

    influenciaram duas importantes escolas da psicologia clssica, o behaviorismo e a

    psicanlise.

    Com base nos princpios filosficos e epistemolgicos do racionalismo e do

    empirismo, os educadores tradicionais acreditavam que sua tarefa era a de transmitir as

    informaes, as regras e os valores coletados do passado para as novas geraes, sendo,

    desta forma, o professor o centro do processo educativo. No entanto, a Pedagogia

    tradicional foi perdendo o seu vigor diante do surgimento de uma nova sociedade

    industrializada. Assim, mesclando com a praticidade de um saber fazer, baseado na

    Pedagogia tradicional, propiciou o surgimento da Pedagogia tecnicista.

    Segundo PRADO2, a pedagogia tecnicista conseguiu expressar a sntese de

    vrios aspectos: a ideologia da transmisso cultural, a pedagogia tradicional, as idias

    inovadoras, o avano das cincias e da tecnologia, o modelo social capitalista, at certo

    ponto contraditrios.

    Em consonncia com este movimento comearam a proliferar propostas

    educacionais que acolhiam as mquinas de ensinar, inicia-se o uso do computador no

    processo de ensino-aprendizagem.

    2 PRADO, Maria Elisabeth Brisola Brito . O uso do computador na formao do professor. MEC -Ministrio da Educao e Cultura

  • Contextualizao da Educao e da Aprendizagem 28

    Embora a pedagogia tecnicista tenha sido instalada no auge do processo de

    industrializao, seus princpios continuaram vigorando e norteando o sistema

    educacional at os dias de hoje. As metas educacionais no modelo tecnicista so

    baseadas no empirismo e respaldadas pela teoria behaviorista de aprendizagem, desta

    forma, o aprendizado do aluno se d de fora para dentro, por meio de treinamento de

    padres e de sua reproduo. Essa pedagogia reflete o paradigma mecanicista do

    conhecimento e do trabalho, o qual concebe o desenvolvimento do indivduo pela

    metfora da mquina.

    Tanto na pedagogia tradicional como na tecnicista a figura do aluno continua

    sendo passiva no processo de aprendizagem e a figura do professor ativo enquanto

    transmissor de informaes e de conhecimento.

    Em meados de 1950 a corrente do behaviorismo comeara a se enfraquecer e hoje

    suas afirmaes tericas - embora no os vrios xitos de sua aplicao - possuem em

    grande parte apenas valor histrico. Comea a despontar no perodo ps-guerra e de

    carter anti-associacionista, o construtivismo, tendo como principais autores Jean Piaget

    e L.S. Vygotsky, com uma nova abordagem de ensino-aprendizagem, onde a principal

    caracterstica a construo do conhecimento atravs do processamento da informao.

    Para Piaget, o behaviorismo tem razo ao afirmar que o conhecimento vem da

    experincia. Sem contato com o mundo externo no h como produzir conhecimento.

    Por outro lado, a Gestalt tem razo em demonstrar a necessidade de processos internos

    para que o conhecimento se torne possvel. Assim, Piaget formula uma terceira posio

    explicativa do conhecimento, diferente das outras duas - behaviorismo e inatismo - mas,

    contm o que elas trazem de verdadeiro, conforme figura 1. No entanto, como elas so

    inconciliveis, porque partem de pressupostos contrrios - o conhecimento est no

    objeto / o conhecimento est no sujeito -, a teoria piagetiana ultrapassa essas duas.

    (FRANCO 1998).

  • Contextualizao da Educao e da Aprendizagem 29 Figura 1: Demonstrativo do surgimento do construtivismo

    CONSTRUTIVISMO

    Piaget Conhecimento = Suj. Obj.

    APRIORISMO

    Gestalt Conhecimento = Suj. Obj.

    EMPIRISMO

    Behaviorismo Conhecimento = Obj. Suj.

    Fonte: FRANCO, Srgio Roberto Kieling. O construtivismo e a educao. 7.ed. Porto

    Alegre: Mediao, 1998, p.21.

    De acordo com Piaget, o conhecimento no est no sujeito nem no objeto, mas ele

    se constri na interao do sujeito com o objeto. A construo acontece na medida que

    o sujeito interage - e portanto age sobre e sofre a ao do objeto -, construindo desta

    forma sua capacidade de conhecer e vai produzindo tambm o prprio conhecimento.

    Piaget, defende que a evoluo da cognio humana se d em uma estrutura

    organizada em estgios que iniciam com o beb e sua percepo de mundo atravs,

    principalmente, de seus reflexos e percepes sensoriais, at o adolescente, tornando-se

    capaz de pensar de maneira completamente lgica.

    Para VYGOTSKY (1991), o conhecimento visto como um resultado da

    construo do prprio indivduo, atravs da interao do sujeito com o mundo,

    considerando os fatores biolgicos, experincias fsicas, a troca social e os processos de

    equilbrio e desequilbrio nessa construo.

    No construtivismo de Piaget, a aprendizagem ocorre de forma individual, para

    Vygotsky, todo o processo de aprendizagem esta diretamente relacionado integrao

    do indivduo com o meio externo (meio este que leva em conta no apenas os objetos,

  • Contextualizao da Educao e da Aprendizagem

    30

    mas os demais sujeitos). Tanto Piaget, quanto Vygotsky, so construtivistas, ou seja,

    sustentam que a inteligncia construda a partir das relaes recprocas do homem

    com o meio. Os dois se opem teoria empirista - para a qual a evoluo da inteligncia

    produto apenas da ao do meio sobre o indivduo - quanto concepo racionalista -

    que parte do princpio de que j nascemos com a inteligncia pr-formada-. Para o ser

    humano, segundo Vygotsky, o meio sempre revestido de significados culturais, e que

    estes somente so aprendidos com a participao dos mediadores. O fator cultural,

    bsico para Vygotsky, e pouco enfatizado por Piaget, a diferena central entre os dois

    tericos construtivistas. Ambos divergem tambm quanto a seqncia dos processos de

    aprendizagem e de desenvolvimento mental. Para Vygotsky o primeiro que gera o

    segundo. Em suas palavras, o aprendizado adequadamente organizado resulta em

    desenvolvimento mental e pe em movimento vrios processos de desenvolvimento

    que, de outra forma, seriam impossveis. Piaget, ao contrrio, defende que o

    desenvolvimento progressivo das estruturas intelectuais que nos torna capazes de

    aprender - fases do desenvolvimento-.

    Verifica-se que as tendncias educacionais no evoluem de forma isolada. A

    educao um fato social-poltico e, portanto, no pode ser vista, tampouco repensada,

    de forma descontextualizada.

  • 3 - INFORMTICA NA EDUCAO

    Quando fala -se sobre Informtica na Educao, tem- se a frente a viso de

    mudanas que esto sendo provocadas na educao. Em apenas vinte anos, a tecnologia

    eletrnica tem penetrado dramaticamente em todas as reas de nossa sociedade, em

    muitos aspectos sociais e culturais de nossas vidas.

    Informtica na Educao um novo domnio da cincia que em seu prprio

    conceito traz embutida a idia de pluralidade, de inter-relao e de intercmbio crtico

    entre saberes e idias desenvolvidas por diferentes pensadores. Por ser uma concepo

    que ainda est em fase de desenvolver seus argumentos, quanto mais valer-se de teorias

    fundamentadas em vises de homem e de mundo coerentes, melhor ser para observar e

    analisar diferentes fatos, eventos e fenmenos, com o objetivo de estabelecer relaes

    entre eles. ALMEIDA (2000)

    A Informtica Educativa uma realidade condizente com o momento atual,

    portanto, precisa deixar de ser tratada superficialmente por educadores que rejeitam, s

    vezes de forma acrtica, o computador na escola.

    OLIVEIRA (1996) elucida esta questo de forma clara e direcionada ao mundo

    atual:

    O momento de globalizao em que vivemos, com crescente tomada de conscincia de novas maneiras de pensar e at de viver, faz com que o educador, psicopedagogo, o psiclogo, enfim, profissionais que lidam com crianas e jovens desta gerao, busquem atualizar-se frente aos novos recursos tecnolgicos, a fim de se inserirem no tempo presente, procurando acompanhar o ritmo cada vez mais rpido das inovaes e trocas de informaes.

    O termo Informtica na Educao tem assumido diversos significados

    dependendo da viso educacional e da condio pedaggica em que o computador

    utilizado. Pode este ser usado para desenvolver a socializao ou o individualismo, a

  • Informtica na Educao

    32

    cooperao ou a competio. Tambm, pode ser usado para desenvolver as estruturas de

    pensamento ou para transmitir conhecimentos. apenas mais um recurso pedaggico

    cujo uso vai depender da concepo de educao e dos objetivos do professor.

    O uso do computador, enquanto instrumento tecnolgico na educao, est

    sempre associado a milagres ou a revolues. O computador, por si s, no um agente

    de mudanas. Se para o professor, ensinar transmitir conhecimento, fixar regras, o

    computador, com todos os seus recursos de multimdia - som, imagem, animao -, ser

    apenas uma verso moderna da mquina de ensinar skineriana. Neste contexto, o uso

    do computador como uma mquina de ensinar consiste na informatizao dos mtodos

    de ensino tradicionais. Portanto, torna-se fundamental reconhecer que no basta

    modernizar um paradigma saturado de ensino. necessrio e urgente transformar o

    modelo educacional para que o processo de conhecer e de atuar seja integrado e

    interdisciplinar. O computador pode contribuir para o estabelecimento desse novo

    paradigma.

    O emprego do computador no processo pedaggico, assim como, o uso de

    qualquer tecnologia, exige do educador uma reflexo sobre o valor pedaggico da

    informtica sobre as transformaes da escola e sobre o futuro da educao.

    Os sistemas educacionais no podem perpetuar-se em seus modelos e mtodos de ensino convencionais e, a formao e o uso das tecnologias deve estar presente na grade curricular bsica, a fim de preparar as novas geraes. O computador no ensino, pode assumir tantas e diversas facetas que podemos afirmar que o recurso didtico mais verstil do momento e que capaz de aglutinar e integrar qualquer tipo de comunicao. O computador nos ambientes educacionais podem ser uma poderosa ferramenta para a gerao de centro de ensino e do grupo vem como a orientao do aluno. Pode ainda, ser uma ferramenta de ensino-aprendizagem, tanto para adquirir conhecimentos concretos, assim como meio de trabalho para a pesquisa e desenvolvimento do corpo discente. CABRERA & CEJUDO (1995)

    Sendo assim, cabe ao professor utilizar todo o potencial que a tecnologia pode

    oferecer para revolucionar a aprendizagem. Com o desenvolvimento tecnolgico, ele

    tem um enorme poder de tornar o processo de ensino-aprendizagem mais fcil,

  • Informtica na Educao

    33

    prazeroso e agradvel, pois facilita o acesso dos alunos a outras fontes de consulta,

    material didtico, artigos, visualizao da aplicao computacional de determinados

    assuntos, em tempo real. Assim, surge para o professor um novo paradigma, onde ele

    deixa de ser o centro da aprendizagem e o aluno, torna-se responsvel pela construo

    de seu conhecimento. A informtica est proporcionando essa condio ao aluno, ao

    mesmo tempo em que auxilia o professor nessa mudana.

    3.1 - Informtica no contexto das teorias de aprendizagem

    Nos ltimos anos os computadores adquiriram maior importncia na rea da

    educao e treinamento, tendo como meta um incremento no processo ensino-

    aprendizagem.

    Pode-se enfatizar, basicamente, dois modos de apoio Educao, atravs dos

    computadores: a incorporao de conceitos de Informtica ao currculo comum e os

    programas de apoio ao ensino - softwares educacionais -.

    No primeiro modo, a incorporao de conceitos de informtica, busca fazer com

    que atravs dos programas convencionais de computao se possa desenvolver um

    projeto educacional multi e interdisciplinar, mediante a aplicao da ferramenta

    educacional.

    No segundo modo, programas de apoio ao ensino so enquadrados aos programas

    de computador que foram criados explicitamente para uso educacional, sendo

    ferramentas de uso direto ou aplicativos para o desenvolvimento de solues

    personalizadas.

    A atividade de uso do computador pode ser feita tanto para continuar transmitindo

    a informao para o aluno e, portanto, para reforar o processo instrucionista, quanto

  • Informtica na Educao

    34

    para criar condies para o aluno construir seu conhecimento por meio da criao de

    ambientes de aprendizagem que incorporem o computador.

    A abordagem que usa o computador como meio para transmitir a informao ao

    aluno mantm a prtica pedaggica vigente. Na verdade, o computador est sendo usado

    pra informatizar os processos de ensino que j existem. Isso tem facilitado a

    implantao do computador na escola pois no quebra a dinmica por ela adotada. Alm

    disso, no existe muito investimento na formao do professor. Para ser capaz de usar o

    computador nessa abordagem basta ser treinado nas tcnicas de uso de cada software.

    No entanto, os resultado nos termos de adequao dessa abordagem no preparo de

    cidados capazes de enfrentar as mudanas que a sociedade est passando so

    questionados. Tanto o ensino tradicional quanto sua informatizao preparam um

    profissional obsoleto.

    O ensino tradicional ou a informatizao do ensino tradicional so baseados na

    transmisso de conhecimento. Neste caso, tanto o professor quanto o computador so

    proprietrios do saber, e assume-se que o aluno um recipiente que deve ser

    preenchido. O resultado dessa abordagem o aluno passivo, sem capacidade crtica e

    com uma viso de mundo limitada. Esse educando, quando formado, ter pouca chance

    de sobrevivncia profissional na sociedade atual.

    Essa concepo de educao baseada no modelo empirista assume que a reteno

    do conhecimento se d como conseqncia da freqncia com que ele transmitido. Se

    o professor se esmera na preparao e na transmisso do conhecimento do aluno, e se

    este realiza um bom trabalho na memorizao do conhecimento, est garantido o

    sucesso do processo de ensino.

    Quando o computador usado para passar a informao ao aluno, o computador

    assume o papel de mquina de ensinar, e a abordagem pedaggica a instruo

    auxiliada por computador. Geralmente os softwares que implementam essa abordagem

    so os tutoriais, os softwares de exerccio-e-prtica e os jogos. Os tutoriais enfatizam a

  • Informtica na Educao

    35

    apresentao das lies ou a explicitao da informao, ou seja, apresentam o contedo

    ao aprendiz. No exerccio-e-prtica a nfase est no processo de ensino baseado na

    realizao de exerccios com grau de dificuldade variado, so considerados tutoriais

    simples. Este tipo de software, utilizado para a reviso e memorizao de algum

    assunto j visto pelo aprendiz, onde, so apresentadas perguntas, para que possam ser

    respondidas. Nos jogos educacionais, a abordagem pedaggica utilizada a explorao

    livre e o ldico, ao invs da instruo explcita e direta. VALENTE (1993)

    Os Softwares educacionais, conforme acima descritos, consolidam o aluno como

    um ser passivo e controlado pelo ambiente, onde os conhecimentos so apresentados

    seqencialmente de uma forma muito rgida. Criando-se desta forma, uma nova verso

    de mquina de ensinar projetada por Skinner. Softwares educacionais baseados nessa

    perspectiva terica behaviorista, conforme estudos do EPIE Educacional Products

    Information Exchanche, apesar de basta criticados, so bastante utilizados at hoje.

    Os tipos de softwares, chamados de CAI - Instruo Assistida por Computador ,

    nasceram quase ao mesmo tempo em que a computao, mas hoje, ela tem mais fora

    do que nunca, devido ao desenvolvimento tecnolgico dos computadores, sendo estes

    caractersticos das abordagens comportamentalistas.

    A mquina de ensinar aplicava testes de mltipla escolha onde o aluno

    selecionava a alternativa considerada correta e apertava a tecla correspondente. A

    resposta era avaliada e o aluno recebia o feedback imediato. Segundo KLEIN (1979),

    apud BARONE & SILVEIRA(2001) ...essas mquinas no s testavam e avaliavam,

    como ensinavam, uma vez que podiam proporcionar a pronta modificao do

    comportamento do aluno, alm de permitirem um desenvolvimento no ritmo do prprio

    aprendiz.

    A mquina de ensinar, conforme KLEIN (1979) apud BARONE & SILVEIRA

    (2001) possui as seguintes caractersticas:

  • Informtica na Educao

    36

    O contedo apresentado ao aluno de forma ordenada e lgica;

    exigida do aluno uma resposta categrica;

    Possibilita ao aluno identificar se a resposta est ou no correta (feedback)

    Segundo Skinner, uma mquina de ensinar possui duas caractersticas

    essenciais: o aluno deve compor a resposta ao invs de escolher entre

    alternativas, e percorrer uma seqncia de passos previamente

    estabelecida.

    Este modelo foi muito utilizado pelas escolas ocidentais no final dos anos 50 e

    incio dos anos 60, atravs da instruo programada. Estes softwares serviram de base

    para o desenvolvimento dos primeiros sistemas computadorizados com fins

    pedaggicos. Ainda na dcada de 60, esforos da IBM, levaram produo destes

    sistemas. Nestes, o computador responsvel por disponibilizar os mdulos seqenciais

    de instruo para o aprendiz e verificar a eficincia de suas respostas nos testes de

    mltipla escolha ou no preenchimento de lacunas em trechos de textos, como nas

    mquinas de Skinner.

    Os princpios da abordagem construcionista vm sendo elaborados por Seymour

    Papert desde a implementao da linguagem Logo, no final da dcada de 60. A

    abordagem onde os softwares criam condies para o aluno construir seu conhecimento

    por meio da criao de ambientes de aprendizagem que incorporaram ao computador,

    comeou a desenvolver-se com Papert, influenciado pelas teorias piagetianas.

    A linguagem foi desenvolvida tendo como pressuposta, uma concepo de

    aprendizagem, ensino, escola, educao que era conhecida como filosofia LOGO. Seu

    propsito era fazer com que as crianas pudessem construir micromundos, valendo-se

    de suas aprendizagens matemticas anteriores, atravs de uma aprendizagem no-

    formalizada. Muitos dos seus pressupostos, como aprender fazer, aprender a aprender,

    respeitar o interesse do aluno e a aprendizagem significativa, so compatveis com os

    princpios de uma aprendizagem construtivista.

  • Informtica na Educao

    37

    Desta forma, a interao do sujeito com o computador, leva a uma adaptao

    cognitiva atravs das trocas entre o prprio sujeito e os objetos simblicos (que so os

    programas), levando-os a reconhecer-se e construir sua realidade. Para PAPERT (1985)

    apud BARONE & COSTA & NOAL (2001), o poder do ambiente, est no fato se ser

    rico em descobertas colocando o sujeito num ambiente natural e espontneo como os

    micromundos, onde ele passa a ser livre para brincar e construir micromundos

    pessoais, pois nenhum conhecimento inteiramente redutvel a palavras e nenhum

    totalmente indescritvel.

    A ferramenta computacional um dos meios mais simples de implementar a

    teoria construtivista. Juntamente com a teoria construtivista-interacionista de Piaget

    surgem sistemas computacionais com a Inteligncia Artificial (IA), e os sistemas de

    acesso no linear hipertextos -, permitindo formas diversas de buscar informaes e

    construir conhecimentos mais adaptveis s caractersticas cognitivas dos alunos.

    A partir destas novas formas de pensamento sobre a informtica na educao,

    surgiram os sistemas ICAIs - Intelligent Computer Assisted Instruction , mais tarde

    chamados de Sistemas Tutores Inteligentes, nome proveniente do acrnimo ITS

    Intelligent Tutoring Systems. Estes sistemas, possuam a possibilidade de acompanhar

    individualmente o desempenho dos estudantes, deixando-o em alguns momentos livres

    para seguirem seu ritmo de aprendizagem a partir de consultas em seqncias didticas

    e em outros, orientando-os quando necessrio, como se fossem tutores humanos.

    A informtica passa a ser encarada tambm como um meio de comunicao entre

    aprendizes e orientadores. Com a chegada da Internet, em meados dos anos 90,

    vislumbrou-se uma nova perspectiva de aplicao da informtica na educao. A

    internet propicia a troca de experincias, dvidas, materiais, trocas pessoais entre seus

    usurios, atravs do que chamamos de Ambientes Virtuais de Estudo (AVE). Atravs

    destas ferramentas, o professor, agora, parceiro do processo de ensino-aprendizagem.

    Em vez de centralizador da informao, o professor tem preponderantemente o papel de

    coordenador do processo, pois a informao est disponvel nas redes telemticas.

  • Informtica na Educao

    38

    Nestes ambientes de aprendizagem construtivistas enriquecidos pela telemtica, o

    sujeito passa a descobrir novas propriedades na rede fsica e a encontrar novos

    procedimentos que permitem o xito na ao. Onde, na troca de informaes, ocorre

    uma relao que no se caracteriza apenas como uma relao entre um sujeito e um

    objeto, mas sim entre vrios sujeitos e o objeto rede. As descobertas procedimentais

    realizadas pelo aprendiz so socializadas e passam a ser objeto de testagens e ainda

    propiciam novas descobertas, por parte dos outros estudantes, o que caracteriza uma

    aprendizagem cooperativa.

    3.2 - Sistemas Tutores Inteligentes

    Os Sistemas Tutores Inteligentes (STIs), buscam potencializar a Informtica

    Educativa atravs da aplicao de tcnicas de Inteligncia Artificial (IA), junto aos

    programas de computador.

    Os STIs, conforme ULBRICH (1997), so campos de pesquisas e

    desenvolvimento interdisciplinares, sendo estes:

    - a Cincia da Computao (tcnicas de IA);

    - a Psicologia (aspectos cognitivos) e

    - os segmentos de Educao e treinamento.

  • Informtica na Educao

    39

    Figura 2: Domnios de uma aplicao de tutores inteligentes conforme

    Ulbrich(1997)

    Tutores Inteligentes

    Educao e Treinamento

    Cincia da Computao

    Psicologia

    Os STIs so programas que utilizam tcnicas de Inteligncia Artificial em

    Sistemas CAI -Instruo Assistida por Computador e que, interagindo com o aluno,

    modificam suas bases de conhecimento, percebem as interaes do aluno, possuem a

    capacidade de aprender e adaptar as estratgias de ensino de acordo com o desenrolar do

    dilogo, nos quais o estudante e o computador-tutor possam ter um flexibilidade que se

    assemelha muito de perto ao que de fato ocorre quando um estudante e um tutor

    humano sentam-se um diante do outro para conjuntamente ensinar e aprender.

    Os STIs no possuem uma arquitetura padro, estas podem variar de uma

    implementao para outra, principalmente em se tratando de domnios diferentes. A

    maioria dos STIs desenvolvidos, conforme KAPLAN & ROCK (1995), possuem certas

    caractersticas em comum, sendo que suas implementaes seguem uma arquitetura

    bsica constituda por quatro mdulos.

    - Mdulo do especialista;

    - Mdulo do estudante;

  • Informtica na Educao

    40

    - Mdulo pedaggico; e

    - Mdulo de interface.

    De maneira geral segundo ULBRICH (1997), o modelo do especialista contm o

    conhecimento sobre o que ensinar; o modelo do estudante contm o conhecimento

    sobre quem ensinar; o mdulo pedaggico contm informaes sobre como ensinar

    e a interface se constitui no mdulo sobre como apresentar o material instrucional.

    Atravs interao desses mdulos, o STI capaz de fazer julgamentos sobre o que o

    aprendiz sabe, e como ele est progredindo.

    Figura 3: Diagrama de blocos de um STI clssico conforme KAPLAN & ROCK (1995)

    DIAGNSTICO

    MDULO DO ESPECIALISTA

    MDULO DO ESTUDANTE

    MDULO PEDAGGICO

    INTERFACE

    3.2.1 - Modelo do especialista

    O modelo do especialista ou domnio - ou Rede de Conhecimento -, descreve o

    conhecimento de um especialista na rea de domnio do sistema, servindo como base

    para a construo do Modelo o Estudante.

    Possui como principais funes acondicionar o conjunto de informaes que ser

    mostrado ao estudante e tambm possuir dados sobre os mecanismos de sua avaliao.

  • Informtica na Educao

    41

    A representao do conhecimento em IA, utiliza-se de tcnicas como: redes

    semnticas, regras de produo, frames, etc.

    3.2.2 - Modelo do estudante

    Neste mdulo esto as modelagens cognitivas dos alunos a serem usadas

    conforme o estado cognitivo dos mesmos. Contm informaes relevantes, crenas, o

    conhecimento que o sistema possui sobre o aluno - conhecimento este que representa do

    ponto de vista do sistema -, o que o aluno conhece a respeito do domnio, de outros

    domnios afins, assim como, o que o aluno desconhece ou conhece erroneamente e o

    que ele pensa que conhece. Este mdulo deve ser ainda dinmico e refletir as alteraes

    que ocorrem no estado cognitivo do aluno no decorrer das interaes. VICARRI (1996)

    atravs deste modelo que o tutor faz uma avaliao do aluno, e segundo

    VICARRI (1996), este modelo pode ainda ser acrescido dos seguintes componentes:

    especificao dos objetos do aluno, modelo de intenes do aluno, planos do aluno,

    atitudes, procedimentos de inferncia do aluno relevantes para a aplicao.

    O modelo do estudante a representao do conhecimento do estudante e dos seus

    erros, mapeando quais informaes do tutor j foram assimiladas.

    Atravs do relacionamento entre as informaes assimiladas pelo aprendiz no

    modelo do estudante e o modelo do especialista que so executados os processos de

    diagnsticos, alimentando o mdulo pedaggico acerca da performance do usurio em

    questo. Quanto mais fiel for a representao do aluno, melhor ser a possibilidade do

    tutor definir uma estratgia de ensino adequada.

  • Informtica na Educao

    42

    Existem vrios mtodos de descrever o mdulo do estudante, dependendo das

    caractersticas da modelagem empregada. Os modelos so normalmente classificados

    conforme a maneira com que interpretam o nvel de conhecimento do estudante.

    Alguns modelos de descrio para o modelo do estudante so:

    - Modelo diferencial: compara o modelo do estudante com o modelo do

    especialista;

    - Modelo overlay: adota que o conhecimento do estudante um subconjunto

    do conhecimento do especialista;

    - Modelo de crenas: consiste em um conjunto de crenas relacionadas ao

    que se supem que o estudante entende sobre determinado conceito; e

    - Modelo de perturbao: adota que os erros do estudante so derivados de

    concepo errnea de algum conceito, relacionando o conhecimento do

    estudante como uma perturbao do conhecimento do especialista.

    3.2.3 - Mdulo pedaggico

    O mdulo pedaggico, tambm chamado de mdulo instrucional (ou mdulo

    tutorial), executa o diagnstico do conhecimento do estudante, decide quais estratgias

    de ensino sero utilizadas e determina qual a informao que ser apresentada.

    A funo primordial deste mdulo a de gerenciar a seqncia instrucional,

    monitorando o comportamento e performance do estudante de maneira a auxili-lo no

    processo de aprendizagem.

    3.2.4 - Mdulo de interfaces

    O mdulo de interface ou mdulo de comunicao, realiza o intercmbio de

    informaes entre o sistema e o estudante, e tem como funo monitorar o desempenho,

  • Informtica na Educao

    43

    comportamento e apresentao do material instrucional que est armazenado na base de

    conhecimentos - modelo do especialista -, traduzindo a representao do conhecimento

    adotada em uma linguagem de interface compreendida pelo estudante.

    Conforme VICARRI (1996), este mdulo fundamental para o sucesso de um

    tutor, j que ele responsvel pela apresentao do material instrucional e por receber

    os eventos e solicitaes do usurio. O mtodo de comunicao adotado pela maioria

    dos tutores o Processamento de Linguagem Natural, porm, a utilizao de tcnicas de

    hipertextos e hipermdia vem crescendo consideravelmente.

    3.3 - CAI Computer Assisted Instruction X ICAI- Intelligent Computer Assisted Instruction

    Segundo ULBRICH (1997), os sistemas ICAIs so desenvolvidos levando em

    considerao algumas exigncias especficas:

    Modelagem dos domnios de conhecimento e de raciocnio com finalidade

    de comunicao, resoluo de problemas pedaggicos e aquisio do

    conhecimento;

    Compreenso e gerao de linguagem natural em ligao com a

    modelagem de um domnio, principalmente em relao aos enunciados de

    exerccios e s explicaes;

    Comunicao homem-mquina, principalmente em relao concepo de

    sistemas interativos que tm por objetivo tarefas de aprendizagem com

    aspectos fortemente cognitivos;

    Modelagem de agentes humanos - professores/alunos - levando em conta o

    estado do conhecimento, as informaes incompletas, incorretas e

    incertezas, bem como as noes sobre aprendizagem;

    Concepes de sistemas adaptativos e evolutivos, uma vez que um ICAI

    deve se adaptar a seu usurio levando em conta sua evoluo;

  • Informtica na Educao

    44

    Arquitetura de sistemas que levam em conta a integrao e a concepo

    eficaz dos diversos mdulos.

    Para explicitar melhor as diferenas entre os sistemas CAI e os sistemas ICAI,

    VICARRI (1996), sintetizou alguns aspectos bsicos de cada abordagem, conforme se

    verifica na Tab. 1.

    Tabela 1: CAI X ITS

    Aspecto CAI ITS

    Origem Educao Cincia da Computao

    Estruturao e funes Uma nica estrutura algortmica pr-definida, onde o aluno no influi na seqncia.

    Estrutura subdividida em mdulos, cuja seqncia se da em funo das respostas do aluno.

    Estrutura do conhecimento Algortmica Heurstica

    Modelagem do estudante Apenas a resposta do ltimo exerccio avaliada.

    Todas as respostas so avaliadas durante a interao.

    Modalidades Tutorial, exerccios e prtica, simulao e jogos educativos.

    Dilogo socrtico e bidirecional, ambiente interativo e autor fazendo a funo de guia.

    A diferena bsica dos programas CAI dos ICAI, atribuda s estratgias de

    ensino do conhecimento especfico a ser ensinado e por manter um modelo

    dinamicamente atualizado da performance do usurio.

  • Informtica na Educao

    45

    Mediante a realidade emergente da informtica aplicada educao, vale ressaltar

    que uma modificao nos padres vigentes est e continuar se processando, e o

    computador juntamente com softwares como STIs, auxiliaram em muito o processo de

    ensino-aprendizagem.

  • 4 - CONCEPES DAS INTELIGNCIAS MLTIPLAS

    A teoria das Inteligncias Mltiplas foi desenvolvida por Howard Gardner, tendo

    este vrios seguidores como Campbell e Armstrong que sero citados durante este

    captulo.

    Vrios so os estudos desenvolvidos e apresentados sobre a inteligncia, a partir

    dos quais surgiram e desapareceram vrias propostas e teorias que tentam explicar o

    funcionamento da mente humana. Nenhuma delas, entretanto, pode ser considerada

    completa ou definitiva. FONSECA (2002).

    Pode-se citar como sendo mais interessantes para a pesquisa, a teoria do

    Quociente de Inteligncia de Thodore Simon e Alfred Binet, A frenologia de Gall e

    vrias teorias de mltiplas inteligncias, entre as quais destaca-se a de teoria das

    inteligncias mltiplas de Howard Gardner como a de maior importncia para este

    trabalho. FONSECA (2002)

    Os primeiros teste de inteligncia foram desenvolvidos em 1904 pelo psiclogo

    francs Binet. Importada pelos Estados Unidos, alguns anos mais tarde, a testagem da

    inteligncia tornou-se muito difundida, assim como a noo de que existia algo

    chamado inteligncia que podia ser medida objetivamente e reduzida a um simples

    nmero ou escore de QI, tendo inicialmente como principal aplicao a classificao

    das crianas nas sries correspondentes e diferenciar crianas com retardo.

    A doutrina frenolgica pregava atravs dos ensinamentos de Franz Joseph Gall,

    como determinar o perfil mental de um indivduo atravs das medidas de seu crnio,

    onde refletiam diferenas no tamanho e na forma de determinadas regies do crebro.

    Embora apresente incertezas e controvrsias sobre sua teoria, Gall foi o primeiro a supor

    que o crebro o rgo do corpo responsvel pela maioria das atividades relacionadas

    mente e tambm em propor a idias de rgos da mente, onde diferentes reas do

  • Concepes das Inteligncias Mltiplas

    47

    crebro so responsveis por diferentes aes, capacidades, pensamentos e emoes.

    SABBATINI (1997)

    Com Relao a teoria das inteligncias mltiplas, Gardner no foi o nico a

    elaborar uma teoria para explicar numerar e analisar as possveis e diversas inteligncias

    humanas. Entre elas podemos destacar a Teoria Hierrquica3 de CARROLL (1993); a

    Teoria das Estrutura do Intelecto4 de GUILFORD (1967, 1971) e a Teoria da Estrutura

    do Intelecto5 de STERNBERG (1997, 1985, 1992). A maior divergncia que encontra-

    se entre as teorias o seu nmero de inteligncias apresentadas e seus aspectos em

    relao a diviso de inteligncias. Um ponto entre as teorias em que a inteligncia no

    formada somente de um nico aspecto, mas de vrios independentes, porm

    relacionados. FONSECA (2002)

    Quase 80 anos aps o desenvolvimento dos primeiros testes de inteligncia, o

    psiclogo de Harvard chamado Howard Gardner desafiou esta crena comum,

    afirmando que a nossa cultura definira a inteligncia de forma muito limitada,

    propondo, em seu livro Estruturas da Mente em 1983, a existncia de pelo menos sete

    inteligncias bsicas. Em sua teoria das inteligncias mltiplas, Gardner tentou ampliar

    o alcance do potencial humano alm do escore de QI, questionando seriamente a

    validade de se determinar a inteligncia de um indivduo tirando-se este indivduo do

    seu meio ambiente natural e pedindo-lhe para fazer tarefas isoladas que jamais fez antes

    e provavelmente jamais faria novamente. Para Gardner a inteligncia tem mais a ver

    com a capacidade de resolver problemas e criar produtos em ambientes com contextos

    ricos e naturais.

    Para STENBERG apud GARDNER (1995a) a inteligncia a capacidade de

    solucionar problemas abstratos, ...um indivduo inteligente na medida em que capaz

    3 Ver com maior detalhamento em CARROLL, J. B. Human Cognitivies Abilities: A Survey of factor-analytic studies. New York: Cambridge University Press, 1993. 4 Ver com maior detalhamento em GUILFORD, J. P. The Nature os Human Intelligence, 1967. The Analysis of Intelligence. New York: MCGraw-Hill, 1971.

    5 Ver com maior detalhamento em STERNBERG, R. J. As Capacidades intelectuais Humanas: uma abordagem em processamento de informaes. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1992.

  • Concepes das Inteligncias Mltiplas

    48

    de pensar em termos abstratos. Conceitua tambm a inteligncia como a capacidade

    que o ser humano possui de criar e/ou modificar coisas; de extrair a essncia de um

    determinado contedo e, ainda, refletir e discutir sobre o mesmo.

    Conforme GARDNER(1995a) pode considerar-se que:

    Uma inteligncia implica na capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que so importantes num determinado ambiente ou comunidade cultural. A capacidade de resolver problemas permite pessoa abordar uma situao em que um objetivo deve ser atingido e localizar a rota adequada para esse objetivo.

    A teoria das inteligncias mltiplas est baseada nesta capacidade que o ser

    humano dispe para resolver problemas. Alm disso, so consideradas inteligncias

    universais, que podem ser analisadas em qualquer contexto scio-cultural. Segundo

    GARDNER (1994a e 1995a) e HATCH (1990) deve-se reconhecer que a inteligncia

    pode ser abordada sob diferentes aspectos, no s correlacionados lgica, matemtica

    e memorizao mas, tambm, fluncia verbal e escrita, msica, habilidades artsticas,

    entre outras. Conforme GARDNER (1994a) todos os indivduos possuem diferentes

    tipos de mentes e o bom professor deve dirigir-se mente de cada aluno da forma mais

    direta possvel, visando reconhecer as foras pessoais de cada um. O professor, neste

    sentido, deve ser um antroplogo, observando seu aluno cuidadosamente, e um

    orientador, ajudando-o a atingir os objetivos que a escola estabelece. BOMSUCESSO

    (1999)

    Segundo GARDNER (1995a) pode-se considerar:

    as inteligncias como potenciais puros, biolgicos, que podem ser vistos numa forma pura somente nos indivduos que so, no sentido tcnico, excntricos. Em quase todas as outras pessoas, as inteligncias funcionam juntas para resolver problemas, para produzir vrios tipos de estados finais culturais ocupaes, passatempos e assim por diante.

  • Concepes das Inteligncias Mltiplas

    49

    Todas as inteligncias tm igual importncia para o autor, apesar de maior ateno

    e prestgio dispensado pela comunidade acadmica, movida por valores culturais

    ocidentais, s inteligncias lingsticas e lgico-matemtica. As inteligncias so

    capacidades universais na espcie humana e todos as possumos potencialmente,

    podendo ser mais desenvolvidas de acordo com a carga gentica e estmulos familiares

    e culturais. Elas esto relacionadas com reas do crebro deixando as mentes muito

    diferentes umas das outras porque cada pessoa ter uma capacidade central que a deixa

    fluente em uma inteligncia, isto no significa que as inteligncias operem

    isoladamente, pois funcionam de forma combinada, com grau de independncia

    significativo, onde todos os papis culturais exigem vrias inteligncias.

    GARDNER (1994b) coloca que atualmente no se pode perpetuar a idia de que

    todos aprendem do mesmo modo, ou seja, preciso identificar diferentes modos de

    adquirir e representar o conhecimento. Os indivduos diferem na potencialidade de suas

    inteligncias e tambm na forma como tais inteligncias so invocadas e combinadas

    para executar diferentes tarefas, resolver problemas e progredir em diversas reas.

    da mxima importncia reconhecer e estimular todas as variadas inteligncias humanas e todas as combinaes inteligncias. Ns somos todos to diferentes, em grande parte, porque possumos diferentes combinaes de inteligncias. Se reconhecermos isso, penso que teremos pelo menos uma chance melhor de lidar adequadamente com os muitos problemas que enfrentamos neste mundo. GARDNER (1987) apud GARDNER (1995a)

    Dentro dessa perspectiva os indivduos so considerados como um conjunto de

    aptides em que o total maior do que a soma das partes GARDNER (1995a). Apesar

    de no ser prodgio de nenhuma das habilidades, no significa que ele no poder ser

    muito bem sucedido e favorecido pela combinao de capacidades que podero

    destinar-lhe uma boa posio vocacional ou ocupao. Para Gardner parece ser mais

    importante estabelecer que as inteligncias devem ser estimuladas em todos, ainda que

    alguns, certamente com maior competncia, possam aperfeio-las com a aprendizagem

    propriamente dita.

  • Concepes das Inteligncias Mltiplas

    50

    O desenvolvimento natural de cada inteligncia est baseado, pelo menos

    inicialmente, em um potencial biolgico, que, ento, expressa-se como o resultado da

    interao dos fatores genticos e ambientais. Assim, aps o perodo inicial da infncia,

    em que o beb possui uma capacidade pura de padronizar, as inteligncias so inseridas

    em temas simblicos. Esta a razo da impossibilidade de se medir uma inteligncia no

    abstrato, pois qualquer tentativa de atingir esse objetivo estaria simplesmente avaliando

    experincias anteriores. GARDNER (1995a)

    A perspectiva de sermos potencialmente inteligentes e termos diferentes

    inteligncias, acontecem naturalmente, pois desenvolvemos mais umas do que outras

    em funo de nossas heranas genticas e dos estmulos do meio. Para GARDNER

    (1994a), temos a presena de idias do apriorismo, ou seja, a pr-determinao do ser

    humano pela sua herana gentica, combinadas com concepes behavioristas, onde a

    criana basicamente, uma tbua rasa a ser determinada pelo meio social.

    Encontramos, ento, na teoria das inteligncias mltiplas, um elemento de passividade

    do sujeito.

    Diante deste contexto de multiplicidade intelectual o conceito de inteligncia

    comeou a perder sua mstica e se tornou um conceito funcional que se pode ver

    operando na vida das pessoas de vrias maneiras. Em uma tentativa de organizar esta

    massa de informaes, Gardner ofereceu um meio de mapear a ampla gama de

    capacidades dos seres humanos, ao agrupar essas categorias em inicialmente sete

    categorias ou inteligncias abrangentes.

    4.1 - Inteligncia lgico-matemtica

    Este grande livro que fica o tempo todo aberto diante dos nossos olhos, o universo, s pode ser lido quando tivermos aprendido a linguagem e nos tornado familiarizados com o jeito em que ele est escrito. Est escrito em linguagem matemtica, e sem esse meio

  • Concepes das Inteligncias Mltiplas

    51

    impossvel compreendermos uma nica palavra.

    Galileu, 1663

    A inteligncia lgico-matemtica est associada ao que chamamos de raciocnio

    cientfico ou indutivo e tambm raciocnio dedutivo. Conforme a perspectiva de

    ARMSTRONG (2001), esta inteligncia envolve a capacidade de reconhecer padres,

    de trabalhar com smbolos abstratos - como nmeros e formas geomtricas - bem como

    relacionamentos lgicos, afirmaes, calcular, quantificar, proposies - se-ento,

    causa-efeito - e hipteses, assim como discernir, relacionar e/ou ver conexes entre

    peas separadas ou distintas.

    Esta inteligncia encontra-se normalmente em cientistas, programadores de

    computadores, contadores, advogados, banqueiros e matemticos.

    CAMPBELL (2000) destaca a idia de Gardner onde o modelo do

    desenvolvimento cognitivo de Piaget progride das atividades sensrio-motoras at as

    operaes formais, sendo estas talvez, uma descrio do desenvolvimento de um

    domnio aquele da inteligncia lgico-matemtica. Para ele, Piaget mapeou a

    progresso da inteligncia lgica, comeando com as interaes de uma criana com os

    objetos no ambiente at a descoberta do nmero, a transio dos objetos concretos para

    os smbolos abstratos, a manipulao das abstraes e, finalmente, a considerao de

    afirmaes hipotticas com seus relacionamentos e implicaes. Gardner apresenta

    restries quanto a idia de que o desenvolvimento cognitivo de Piaget aplica-se to

    bem s outras reas de competncia humana.

    Gardner descreve a inteligncia lgico-matemtica como abrange