Nem tudo se perde, muito pode ser reaproveitado

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Balneário Camboriú, 27 de fevereiro de 2010 15 Especial Nem tudo se perde, muito pode ser reaproveitado Já pensou que aquela roupa que você não gosta pode ser exatamente o que outra pessoa procura? Ou naqueles livros que você sabe que não vai reler e continuam juntando poeira na estante? E que em vez de comprar um móvel novo, você pode rea- proveitar a mobília que já foi usada por alguém? O costume de reciclar e renovar envolve exata- mente o que o mundo precisa: ações racionais. O Página 3 foi em busca de empresas locais que apostam nesse filão e descobriu que há muito mais que nostalgia e economia por trás da cultura do reaproveitamento. Exclusividade e móveis usados cheios de personalidade Pilhas de sofás, armários, mesas, cadeiras de instituto de beleza. Nas lojas de móveis usados - os famosos pulgões - não existe nada de sujo ou inu- tilizável, muito pelo contrário. As dezenas de mercadorias que cada um desses estabelecimen- tos oferece são praticamente da mesma qualidade das lojas de móveis novos, alguns produtos inclusive são tão bem conser- vados que poderiam ser reven- didos como novos. Um dos maiores motivos para que estas lojas atraiam uma clientela considerável é jus- tamente o preço. De acordo com a proprietária do Brikão, Umbelina Kramer, os valores abaixo do mercado e as con- dições facilitadas contribuem muito para manter movimento de compra e venda durante o ano todo. Ela explica que o espaço para acomodar tanta mercadoria é sempre um problema, já que existe uma oferta muito grande de pessoas também querendo vender os produtos. “Isso acon- tece muito em Balneário por- que as pessoas vêm morar aqui e encontram apartamentos já mobiliados, ou então os donos desses apartamentos precisam se desfazer dos móveis porque seus inquilinos têm móveis e assim vai”, disse Umbelina. Justamente por esse motivo, é necessário realizar uma boa avaliação da mercadoria antes de aceitá-la para revenda. “Se necessário, vamos até os apar- tamentos dar uma avaliada nos móveis”, pontuou. Daniele Sisnandes Além de clientes em busca de bons preços, existe uma parte da clientela de lojas de móveis usados que vê nesses estabe- lecimentos oportunidades e exclusividade. Segundo a proprietária do Móveis Usa- dos Avenida, localizado na 4ª Avenida, Lucimar Aparecida Barbosa, como está sempre recebendo mercadoria nova, os clientes estão acostumados a visitar frequentemente a loja em busca de peças únicas - o famoso ato de garimpar. “Isso acontece porque ofere- cemos móveis de um padrão diferente dos vendidos nas grandes redes. Muitos nem são mais encontrados em lojas de novos. As pessoas procuram geralmente por mobiliário em madeira, na maioria das vezes pra fazer reformas, persona- lizar esses produtos”, revelou Lucimar. Já por esse motivo, a loja oferece diversos móveis em madeira crua, prontos para serem pintados de acordo com a intenção de cada cliente e com a cara de cada ambiente. Mas ela explica que apesar da exclusividade de vários pro- dutos e do preço baixo, esta- belecimentos especializados em usados sofrem muito com as condições super facilitadas das empresas que se dedicam aos móveis novos, principal- mente às grandes redes. “Esse é o nosso maior problema, por- que essas lojas oferecem parce- lamento a perder de vista, mas incluem juros exorbitantes, uma coisa que não temos aqui. Mesmo assim as pessoas com- pram, porque querem parcelas baixas”, reclamou. Fotos Daniele Sisnandes Por Daniele Sisnandes

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Já pensou que aquela roupa que você não gosta pode ser exatamente o que outra pessoa procura? Ou naqueles livros que você sabe que não vai reler e continuam juntando poeira na estante? E que em vez de comprar um móvel novo, você pode reaproveitar a mobília que já foi usada por alguém? O costume de reciclar e renovar envolve exatamente o que o mundo precisa: ações racionais. O Página 3 foi em busca de empresas locais que apostam nesse filão e descobriu que há muito mais que nostalgia e economia por trás da cultura do reaproveitamento.

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Balneário Camboriú, 27 de fevereiro de 2010 15Especial

Nem tudo se perde, muito pode ser reaproveitado

Já pensou que aquela roupa que você não gosta pode ser exatamente o que outra pessoa procura? Ou naqueles livros que você sabe que não vai reler e continuam juntando poeira na estante? E que em vez de comprar um móvel novo, você pode rea-proveitar a mobília que já foi usada por alguém? O costume de reciclar e renovar envolve exata-mente o que o mundo precisa: ações racionais. O Página 3 foi em busca de empresas locais que apostam nesse filão e descobriu que há muito mais que nostalgia e economia por trás da cultura do reaproveitamento.

Exclusividade e móveis usados cheios de personalidade

Pilhas de sofás, armários, mesas, cadeiras de instituto de beleza. Nas lojas de móveis usados - os famosos pulgões - não existe nada de sujo ou inu-tilizável, muito pelo contrário. As dezenas de mercadorias que cada um desses estabelecimen-tos oferece são praticamente da mesma qualidade das lojas de

móveis novos, alguns produtos inclusive são tão bem conser-vados que poderiam ser reven-didos como novos.Um dos maiores motivos para que estas lojas atraiam uma clientela considerável é jus-tamente o preço. De acordo com a proprietária do Brikão,

Umbelina Kramer, os valores abaixo do mercado e as con-dições facilitadas contribuem muito para manter movimento de compra e venda durante o ano todo.Ela explica que o espaço para acomodar tanta mercadoria é sempre um problema, já que

existe uma oferta muito grande de pessoas também querendo vender os produtos. “Isso acon-tece muito em Balneário por-que as pessoas vêm morar aqui e encontram apartamentos já mobiliados, ou então os donos desses apartamentos precisam se desfazer dos móveis porque seus inquilinos têm móveis e

assim vai”, disse Umbelina.

Justamente por esse motivo, é necessário realizar uma boa avaliação da mercadoria antes de aceitá-la para revenda. “Se necessário, vamos até os apar-tamentos dar uma avaliada nos móveis”, pontuou.

Daniele Sisnandes

Além de clientes em busca de bons preços, existe uma parte da clientela de lojas de móveis usados que vê nesses estabe-lecimentos oportunidades e exclusividade. Segundo a proprietária do Móveis Usa-dos Avenida, localizado na 4ª Avenida, Lucimar Aparecida Barbosa, como está sempre recebendo mercadoria nova, os clientes estão acostumados a visitar frequentemente a loja em busca de peças únicas - o famoso ato de garimpar.“Isso acontece porque ofere-cemos móveis de um padrão diferente dos vendidos nas grandes redes. Muitos nem são mais encontrados em lojas de novos. As pessoas procuram geralmente por mobiliário em madeira, na maioria das vezes pra fazer reformas, persona-

lizar esses produtos”, revelou Lucimar. Já por esse motivo, a loja oferece diversos móveis em madeira crua, prontos para serem pintados de acordo com a intenção de cada cliente e com a cara de cada ambiente.Mas ela explica que apesar da exclusividade de vários pro-dutos e do preço baixo, esta-belecimentos especializados em usados sofrem muito com as condições super facilitadas das empresas que se dedicam aos móveis novos, principal-mente às grandes redes. “Esse é o nosso maior problema, por-que essas lojas oferecem parce-lamento a perder de vista, mas incluem juros exorbitantes, uma coisa que não temos aqui. Mesmo assim as pessoas com-pram, porque querem parcelas baixas”, reclamou.

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Balneário Camboriú, 27 de fevereiro de 201016 Especial

Sebo: luta de anos pela conquista da clientela As paredes forradas por exem-plares dos mais variados estilos impressionam. São centenas de edições, inclusive de revistas e gibis. Para Mara Frahm, dona do sebo Opção Leitura, locali-zado na Rua 1500 há mais de sete anos, finalmente agora, depois de tanto tempo insis-tindo no reaproveitamento de livros e no incentivo à leitura, parece que “os sebos conquis-taram os moradores de Balne-ário Camboriú”.Ela acredita que nos últimos tempos a procura por livros tem aumentado consideravelmente por parte dos mais jovens. “Isso é uma vitória e me deixa muito feliz. Sempre falavam que com a internet os livros desaparece-riam, mas isso não é verdade. Via esses meninos procurarem por gibis e hoje se tornaram lei-tores fiéis”, ressaltou.Nos fundos do estabeleci-mento, um pequeno quarto reúne diversos álbuns em vinil, local preferido dos senhores de

meia idade e dos jovens. “Eles passam horas escolhendo, olhando e revendo as capas e

comumente estão atrás de edi-ções raras. Os mais novos pre-ferem MPB e rock”, revelou.

Mas é certo que todos dividem uma certa nostalgia em manter o hábito da procura constante

por novidades tantas vezes já ouvidas. Para os clientes que quise-rem trocar materiais, o sebo está sempre aberto. Quando o material que chega até a loja não pode ser aproveitado, Mara já possui destino certo para os exemplares e nem por um segundo pensa na ideia de jogá-los fora. “Eu guardo tudo em uma caixa, geralmente são apostilas de escolas particu-lares e material didático, que eu envio para escolas públi-cas da cidade. É uma forma de colaborar, visto que tantas delas são tão desaparelhadas”, argumentou. Mas ela revela que nenhum cliente que está em busca de algo específico fica sem res-posta e que indicar outros sebos é uma coisa comum na cidade. “Geralmente, quem vai a um, vai a todos quando está atrás de alguma coisa especial”, finaliza Mara.

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Promoções e atualidade para incentivar o consumo

Parece que a paixão pelos sebos não vem só dos clientes. Seus proprietários, no caso de Balneário, as proprietárias, se rendem e confessam que o amor por esses estabelecimen-tos reflete exatamente a perso-nalidade de cada uma. É o caso do Sebo Criativu s, instalado na Alvin Bauer, que esbanja organização. O ambiente claro quase causa dúvidas se aquele é

mesmo um sebo tradicional. Para a proprietária, Amanda Moreno, cada sebo é a cara de sua dona. O seu, por exem-plo, exibe uma coleção super diversificada de exemplares de revistas. Os preços podem ser menores até que as edições da promoção do dia, vendidas por R$ 0,49. “Tenho uma distribui-dora de revistas, por isso, essa grande variedade”, contou.

Ela afirma ainda que traba-lha bastante na base da troca e acredita que isso incentiva os clientes. Quando comprou o sebo, há cerca de um ano e meio, Amanda encontrou uma coleção grande de livros espíritas e mesmo sem querer acabou reunindo um acervo considerável sobre o tema. “Pra movimentar essa área, o cliente paga R$ 20 no primeiro

e depois pode pegar outro por R$ 5”, disse.Outro ponto que aposta ser essencial para movimentar as vendas é manter sempre o acervo atualizado. “Eu cos-tumo checar na Revista Veja quais são os vinte livros mais vendidos e direciono as com-pras desses exemplares. Acho que isso cria uma identidade e não torna o sebo um lugar só

de relíquias”. Amanda percebe que a prateleira de vinis é mais cobiçada por artistas plásticos do que por ouvintes ou cole-cionadores. “Quando o curso de DJ que existe em Balneário entra na reta final, os forman-dos vêm até aqui em busca de material prático, se não, esses vinis costumar virar peças de decoração e até relógios”, declara.

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Balneário Camboriú, 27 de fevereiro de 2010 17Especial

Renovar o guarda roupa pode ficar barato e estilosoGastar pode ser uma tarefa indesejada para muitas pes-soas. Gastar com roupas então, pode ser terrível. Mas mesmo em uma cidade como Balneá-rio Camboriú, onde a imagem é indiscutivelmente supervalo-rizada, renovar o guarda roupa pode ser muito mais acessível e divertido do que se imagina. O que muita gente nem desconfia é que existem por aqui diversos brechós, com particularida-des fascinantes e é claro, preço baixo. A proprietária do brechó Uni-versal, localizado na 3ª Avenida, Vera Lúcia Linhares, revela que são cerca de dez lojas como a sua na cidade e que mesmo assim o mercado vive movimentado. A oferta variada de produtos tam-bém é responsável pela clientela eclética. “Temos roupas mas-culinas, femininas, sapatos,

acessórios. Analiso tudo o que chega, mando lavar e só então coloco à venda”, disse.

EstiloSegundo Vera, os preços variam de R$ 2 a R$ 60. Mas para aque-les que imaginam que os bre-chós são opções somente para quem não quer gastar muito, está apenas 50% certo. Os clien-tes desse tipo de loja querem muito mais do que baixo custo. “Temos sim aquelas pessoas que querem pechinchar, mas sem-pre explicamos que trabalha-mos com peças únicas, muitas são difíceis de serem encontra-das em lojas convencionais. Já outras pessoas estão acostuma-das com esse tipo de comércio, as “brechozeiras”, que são mais jovens e estão atrás justamente de peças únicas”, salienta a proprietária.

Brechós-boutique conquistam mais adeptos em BalneárioAssim como em grandes cen-tros, o filão do brechó boutique chegou a Balneário e parece ter conquistado uma clientela fiel. No calçadão da Rua 11, o Armário da Maria é o exem-plo que roupas de grife podem sim estar ao alcance de qual-quer um. Com cabides e araras forrados de produtos de alta qualidade e roupas de marcas reconhecidas, a loja de roupas usadas atrai um público que vai desde jovens descolados até senhoras de estilo mais clássico.

FornecedoresPara quem possui roupas desse perfil e quer renovar o guarda roupa gastando pouco, o

Armário da Maria aceita peças sob consignação, mas segundo a proprietária, Janete Luthten-berg, é necessário que ainda tenham as etiquetas da marca e devem estar em bom estado de conservação. Os valores geralmente são definidos com base no tempo de uso e estado da peça. Aqui os produtos são vendidos por 10% a 30% do valor que seriam comercializados em outras lojas. O fornecedor, por sua vez, recebe cerca de 30% do valor da venda. Porém, a loja aceita apenas fornecedores com pelo menos 25 peças de cada vez, entre roupas e acessórios, para fechar uma espécie de pacote.

Roupas de grife também para os pequenosNão é necessário ter um filho para saber que o tempo útil de roupas de crianças é muito curto. Foi pensando nisso que através de uma conversa entre amigos surgiu um conceito diferente de brechó, direcio-nado aos pequenos.Cláudia Muller, gerente do Gente Miúda Brechó, locali-zado há três anos na Rua 1400, conta que uma amiga sua reve-lara que estava acostumada a comprar peças de roupas e calçados de grife por preços muito abaixo do mercado em uma loja no Rio de Janeiro. E foi aí que surgiu a ideia de tra-zer esse modelo de estabeleci-mento para Balneário.Mas Cláudia enfatiza que o valor reduzido não é o único diferencial do negócio. “Nossa grande preocupação é com a qualidade dos produtos. Que-remos oferecer roupas, calça-dos e brinquedos de grife e que estejam em perfeito estado. O diferencial é que serão vendi-dos por pelo menos metade do preço de uma peça nova”,

disse. Para definir os valores, a gerente costuma pesquisar o custo de mercado de cada produto. “Hoje sabemos que nossa clientela é A e B e que os nossos fornecedores, as pes-soas que vendem as peças para a loja também são justamente dessas mesmas faixas sociais”, pontua Cláudia. Como a gerente vai viajar para renovar o estoque, a loja vai aceitar novas peças de forne-cedores locais apenas depois de março. “Pedimos que as roupas estejam lavadas, sem manchas e sem bolinhas, os brinquedos com pilhas e tudo em ótimo estado”, explicou. Para os pais que têm interesse em trocar mercadoria, Cláu-dia esclarece que é feita uma análise dos produtos trazidos e que a pessoa recebe uma espécie de vale, para gastar com aquilo que necessita. Se o objeto desejado é mais, a pes-soa pode descontar e pagar a diferença.

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