NENNIUS. História Dos Bretões

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  • 6/10/2014 Histria dos Bretes (c. 800) | Histria Medieval - Prof. Dr. Ricardo da Costa

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    Histria dos Bretes (c. 800)

    NenniusTraduo: Adriana Zierer (UEMA)

    Reviso: Regina Egito (Letras - UFES)Reviso final: Ricardo da Costa (UFES)

    In: COSTA, Ricardo da (org.). Testemunhos da Histria.Documentos de Histria Antiga e medieval

    Vitria: Edufes, 2002, p. 209-253

    Prlogo

    1. Eu, Nennius, o mais humilde ministro e servo dos servos de Deus, pela graa de Deus, discpulode So Elbotus, para todos os seguidores da verdade envio sade.

    Que seja conhecido pela vossa caridade que, mesmo sendo estpido em intelecto e rude nodiscurso, eu presumi entregar estas coisas em lngua latina, no confiando no meu prprioconhecimento, que pequeno ou nenhum, mas parcialmente pelas tradies de nossos ancestrais,pelos escritos e monumentos dos antigos habitantes da Bretanha, e parte pelos Anais dosromanos e as crnicas dos pais sagrados, Isidoro, Jernimo, Prspero, Eusbio, epelasHistrias dos escotos e saxes, embora estes sejam nossos inimigos, no seguindo minhasprprias inclinaes, mas, para o melhor de minha habilidade, obedecendo aos comandos demeus senhores.

    Eu reuni, com dificuldade, esta histria de vrias fontes, e me esforcei devido humilhao, paraentregar posteridade as poucas notcias remanescentes sobre as realizaes do passado, paraque elas no pudessem ser esmagadas com o p, vendo que uma ampla safra j havia sidoarrancada pelos ceifeiros hostis das naes estrangeiras. Pois muitas coisas estiveram no meucaminho, e eu, at hoje, tive grande dificuldade em entender, mesmo superficialmente, os ditosdos outros homens; muito menos fui capaz em minhas prprias foras, mas como um brbaro,assassinei e corrompi a lngua de outros.

    Porm, carrego comigo um ferimento na alma, e estava indignado que o nome do meu povo,outrora famoso e distinto, pudesse afundar para o esquecimento, e como fumaa ser dissipado.

    Mas desde ento, entretanto, eu preferi ser um historiador dos bretes a (ser) ningum, emborahaja tantos a serem encontrados que possam executar muito mais satisfatoriamente o laborimposto a mim; humildemente entretenho meus leitores, cujos ouvidos poderia ofender peladeselegncia de minhas obras, que preenchem o desejo dos meus senhores, e concedem-me aindulgente tarefa de ouvir com candura as minhas histrias. Pois esforos zelososfreqentemente falham, mas o entusiasmo corajoso, se estivesse em seu poder, no me fariafalhar.

    Que possa, ento, a candura ser mostrada onde a deselegncia de minhas palavras forinsuficiente, e que a verdade desta histria, que minha rude lngua aventurou, como um tipo dearado, para traar nossos sulcos, no perca sua influncia do que causa, nos ouvidos dos ouvintes.Porque melhor beber de um nico gole a verdade de um humilde receptculo, do que o venenomisturado ao mel em uma taa de ouro.

    2. E no sejas relutante, diligente leitor, para ganhar o meu gracejo, e deitar o trigo no depsito datua memria: pois a verdade no preza quem fala, nem a maneira como falada, mas se aquelacoisa verdadeira; e ela no despreza a jia que resgatou da lama, mas a acrescenta com seusantigos tesouros.

    Porque eu bradei aos que so maiores e mais eloqentes que eu, que, inflamados com generoso

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    ardor esforaram-se, com a eloqncia dos romanos, a suavizar as dissonncias de sua lngua, seeles deixaram inabalvel algum pilar da histria que desejei ver permanecer. Esta histria,portanto, foi compilada no pela inveja aos que so superiores a mim, mas por um desejo debeneficiar meus inferiores, no ano 858 da Encarnao do Senhor, e no vigsimo quarto ano deMervin, rei dos bretes, e espero que as oraes para o meu melhor me sero oferecidas emrecompensa pelo meu trabalho. Mas isto suficiente como prefcio. Eu devo obedientementeexecutar o resto com o mximo do meu poder.

    II. Apologia de Nennius

    Aqui comea a apologia de Nennius, o historiador dos bretes, da raa dos bretes.

    3. Eu, Nennius, discpulo de So Elbotus, empenhei-me para escrever alguns trechos que oabatimento da nao bret havia apagado, porque os professores no tiveram nenhumconhecimento, nem deram nenhuma informao em seus livros sobre esta ilha da Bretanha. Maseu reuni tudo o que pude encontrar, desde os Anais dos romanos, as Crnicas dos santos padres,Jernimo, Eusbio, Isidoro, Prspero, e os Anais dos escotos e saxes, alm de nossas antigastradies.

    Muitos professores e escribas tentaram escrever isto, mas de algum modo ou outro abandonarampor causa da dificuldade, ou devido s mortes freqentes, ou s recorrentes calamidades deguerra. Eu rezo para que todo leitor que deseja ler este Livro possa me perdoar, por haver tentado,como um tagarela tolo, ou como alguma fraca testemunha, a escrever estas coisas, depois que elesfalharam. Vocifero com ele que sabe mais destas coisas que eu.

    III. A Histria4-5. De Ado ao dilvio, foram dois mil e quarenta e dois anos. Do dilvio a Abrao, novecentos equarenta e dois. De Abrao a Moiss, seiscentos anos. De Moiss a Salomo, e primeiraconstruo do templo, quatrocentos e quarenta e oito. De Salomo reconstruo do templo, quefoi sob Dario, rei dos Persas, seiscentos e doze anos foram passados.

    De Dario ao ministrio de nosso Senhor Jesus Cristo, e para o dcimo quinto ano do imperadorTibrio, foram quinhentos e quarenta e oito anos. Da paixo de Cristo completaram-senovecentos e quarenta e seis; da sua encarnao, novecentos e setenta e seis; sendo o quinto anode Edmundo, rei dos anglos.

    6. A primeira idade do mundo foi de Ado a No, a Segunda, de No a Abrao; a terceira, deAbrao a Davi; a Quarta, de Davi a Daniel; a Quinta, a de Joo Batista; a Sexta, de Joo aojulgamento, quando Nosso Senhor Jesus Cristo vir para julgar os vivos e os mortos, e o mundo,pelo fogo.

    O primeiro foi Jlio. O segundo, Cludio. O terceiro, Severo. O quarto, Carino. O quinto,Constantino. O sexto, Mximo. O stimo, Maximiano. O oitavo, outro Severo Equantio. O nono,Constncio. Aqui comea a histria dos bretes, editada por Marcos, o anacoreta, um santo bispodaquela gente.

    7. A ilha da Bretanha deriva seu nome de Bruto, um cnsul romano. Observada de um ponto nosudoeste, ela inclina-se um pouco na direo do oeste, e na sua extremidade norte medeoitocentas milhas, e em sua largura duzentas (milhas). Contm trinta e trs cidades, a seguir:

    1. Cair ebrauc (York)2. Cair ceint (Canterbury)3. Cair gurcoc (Anglesey)4. Cair guorthegern (?)5. Cair custeint (Carnarvon)6. Cair guoranegon (Worcester)7. Cair segeint (Silchester)8. Cair guin truis (Norwhich?)9. Cair merdin (Caermarthen)10. Cair peris (Porchester)11. Cair lion (Caerleon-upon-Usk)12. Cair mencipit (Verulam)

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    13. Cair caratauc (Catterick)14. Cair ceri (Cirencester)15. Cair gloui (Gloucester)16. Cair lullid (Carlisle)17. Cair grant (Cambridge)18. Cair daun (Doncaster)19. Cair britoc (Bristol)20. Cair meguaid (Meivod)21. Cair mauiguid (Manchester)22. Cair ligion (Chester?)23. Cair guent (Caerwent?)24. Cair collon (Colchester?)25. Cair londein (London)26. Cair Guorcon (Worren?)27. Cair lerion (Leicester)28. Cair draithou (Drayton)29. Cair ponsavelcoit (Pevenscy)30. Cairteimm (Teyn-Grace)31. Cair Urnahc (Wroxster)32. Cair colemion (?)33. Cair loit coit (Lincoln)

    Estes so os nomes das antigas cidades da ilha da Bretanha. Ela tambm possui vastospromontrios, e inumerveis castelos, construdos de tijolo e pedra. Seus habitantes consistem dequatro povos diferentes; os escotos, os pictos, os saxes, e os antigos bretes.

    8. Trs considerveis ilhas pertencem-lhe; uma, ao sul, oposta costa armoricana, chamadaWight; outra entre a Irlanda e a Bretanha, chamada Eubonia ou Homem (Man); e outra entre aIrlanda e a Bretanha, chamada Orkney; e daqui era antigamente uma expresso proverbial emreferncia a seus reis e senhores, Ele reinou sobre a Bretanha e suas trs ilhas.

    9. fertilizada por vrios rios, que atravessam-na em todas as direes, para o leste e oeste, onorte e sul; mas h dois que se distinguem do resto, o Tmisa e o Severn, que outrora, como osdois braos da Bretanha, abriam passagem aos navios empregados no transporte das riquezasadquiridas pelo comrcio. Os bretes foram antigamente muito populosos e exerciam umdomnio extensivo de mar a mar.

    10. Com relao ao perodo que esta ilha foi habitada depois do dilvio, vejo duas relaesdistintas. De acordo com os Anais da histria romana, os bretes deduzem [que] sua origem [foi]tanto de gregos como de romanos. Do lado da me, de Lavnia, a filha de Latino, rei da Itlia(Roma), e da raa de Silvano, o filho de Inachus, o filho de Drdano; que era filho de Saturno, reidos gregos, e que, tendo possudo uma parte da sia, construiu a cidade de Tria. Drdano era opai de Troilo, que era o filho de Pramo e Anquises; Anquises era o pai de Enas, que era o pai deAscnio e Slvio; e este Slvio era filho de Enas e Lavnia, a filha do rei da Itlia.

    Dos filhos de neas e Lavnia descendem Rmulo e Remo, que eram os filhos da sagrada rainha Ra Slvia, e os fundadores de Roma. Bruto era cnsul quando conquistou a Espanha e reduziuaquele pas a provncia romana. Depois subjugou a ilha da Bretanha, cujos habitantes eramdescendentes dos romanos, de Slvio Pstumo. Foi chamado Pstumo porque havia nascidodepois da morte do pai de Enas e sua me Lavnia se ocultou durante a gravidez; ele foichamado de Slvio porque nasceu no bosque. Desde ento (por conseguinte) os reis romanosforam chamados Silvano, e os bretes que brotaram dele; mas estes eram chamados bretes deBruto, e cresceram da famlia de Bruto.

    Enas, depois da Guerra de Tria, chegou com seu filho na Itlia, e tendo conquistado Turno,casou-se com Lavnia, a filha do rei Latino, que era filho de fauno, o filho de Pico, filho deSaturno. Depois da morte de Latino, Enas obteve o reino dos romanos, e Lavnio teve um filho,que foi chamado Slvio. Ascnio fundou Alba, e depois casou. E Lavnia deu a Enas um filho,chamado Svio, mas Ascnio casou com uma mulher, que concebeu e ficou grvida. E Enas,tendo sido informado que sua nora estava grvida, ordenou que seu filho chamasse seu feiticeiro

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    para examin-la e, [saber] se a criana concebida era homem ou mulher.

    O feiticeiro veio e examinou a mulher e declarou que seria um filho, o qual deveria se tornar omais valente entre os italianos (romanos), e o mais amado de todos os homens. Em conseqnciadesta previso, o feiticeiro foi mandado morte por Ascnio, mas aconteceu que com a morte dame da criana, no seu nascimento, ele foi chamado Bruto, e aps um certo intervalo, de acordocom o que o feiticeiro havia previsto, enquanto estava brincando com alguns outros, atirou emseu pai com um arco por acidente, no intencionalmente.

    Ele foi, por causa disso expulso da Itlia (Roma), e veio para as ilhas do Mar Tirreno, quando foiexilado por causa da morte de Turno, assassinado por Enas. Foi ento para as Glias, e construiua cidade de Turones, chamada Turnis. A uma distncia, veio a esta ilha, chamada por ele deBretanha, viveu aqui, e a ocupou com seus prprios descendentes, e ela foi habitada daqueletempo at o perodo presente.

    11. Enas reinou sobre os latinos por trs anos; Ascnio [por] trinta e trs anos; depois Slvioreinou doze anos, e Pstumo, trinta e nove anos: o ltimo, de quem os reis de Alba so chamadosSilvano, era irmo de Bruto, que governou a Bretanha na poca que Eli, o alto padre, julgou Israel,e quando a Arca da Promessa foi tomada pelos estrangeiros. Mas Pstumo, seu irmo, reinouentre os latinos.

    12. Depois de um intervalo de no menos de oitocentos anos, vieram os pictos, e ocuparam asilhas Orkney, de onde estragaram muitas regies, e se apoderaram daquelas no lado esquerdo daBretanha, onde ainda permanecem, tomando possesso de um tero da ilha a partir deste dia.

    13. Muito depois disso, os escotos chegaram Irlanda pela Espanha. O primeiro que veio foiPartolo, com mil homens e mulheres; este aumentaram para quatro mil, mas uma mortalidadeveio subitamente sobre eles (e) todos morreram em uma semana. O segundo foi Nimech, o filhode Agnominus, que, de acordo com o relato, depois de estar ao mar por um ano e meio, e tendoseus navios espalhados, chegou num porto da Irlanda, e continuando l por muitos anos,retornou por fim com seus seguidores para a Espanha.

    Depois destes, vieram trs filhos de um soldado espanhol com trinta navios (barcos), cada um dosquais contendo trinta esposas, e tendo permanecido l durante o espao de um ano, apareceu-lhes, no meio do oceano, uma torre de vidro, cujo topo parecia coberto de homens, a quem elessempre falavam, mas no recebiam nenhuma resposta.

    Finalmente, resolveram sitiar a torre; e aps um ano de preparao avanaram na direo desta,com um grande nmero de seus navios, e todas as mulheres, exceto um barco, que estavadanificado, no qual estavam trinta homens, e o mesmo tanto de mulheres, mas quando haviamtodos desembarcado na borda que circundava a torre, o mar abriu-se e os engoliu. A Irlanda,porm, foi povoada, at o perodo presente, pelas famlias remanescentes no barco que estavaquebrado. Mais tarde, outros vieram da Espanha e tomaram vrias partes da Bretanha.

    14. O ltimo de todos a vir foi Hoctor, que continuou aqui, e cujos descendentes aquipermaneceram at hoje. Istoreth, filho de Istorino, tomou Dalrieta com seus seguidores; Builoteve a ilha de Eubonia, e os outros lugares adjacentes. Os filhos de Liethali obtiveram o pas deDinete, onde est a cidade chamada Menavia, e a provncia Guiher e Cetgueli, que tomaram atserem expulsos de cada parte da Bretanha, por Cuneda e seus filhos.

    15. De acordo com os mais sbios dentre os escotos, se algum deseja aprender o que agora vouproferir, a Irlanda era um deserto, e desabitada, quando os filhos de Israel cruzaram o MarVermelho, no qual como lemos no Livro das Leis, os egpcios que o seguiram se afogaram.Naquela poca, vivia entre este povo, com uma numerosa famlia, um cita de nobre nascimento,que havia sido banido de seu pas, e que no foi perseguir o povo de Deus. Os egpcios que foramdeixados, vendo a destruio dos grandes homens de sua nao, e temendo que ele pudesse seapossar de seu territrio, aconselharam-se, e o expulsaram. A isto reduzido, ele vagueou quarentae dois anos na frica, e chegou, com sua famlia, nos altares dos filisteus, pelo Lago de Osiers.

    Depois, passando entre Rusicada e o montanhoso pas da Sria, viajaram pelo rio Malva atravs daMauritnia at as Colunas de Hrcules; e ao cruzar o Mar Tirreno, abordaram na Espanha, ondecontinuaram por muitos anos, crescendo e multiplicando imensamente. Desde ento, mil e dois

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    anos depois que os egpcios foram perdidos no Mar Vermelho, eles atravessaram a Irlanda, e odistrito de Dalrieta. Naquela poca, Bruto, que exercia primeiramente o ofcio de cnsul, reinavasobre os romanos, e a poltica, que antes era governada pelo poder rgio, foi depois dominada porquatrocentos e quarenta e sete anos, pelos cnsules, tribunos do povo e ditadores.

    Os bretes vieram Bretanha na terceira era do mundo; e na quarta, os escotos se apoderaram daIrlanda. Os bretes que, no suspeitando de hostilidades, estavam desprovidos dos meios dedefesa, foram atacados hostil e incessantemente, tanto pelos escotos do oeste, como pelos pictosdo norte. Um longo intervalo depois disto, os romanos obtiveram o imprio do mundo.

    16. Da primeira chegada dos saxes Bretanha ao quarto ano do rei Mermeno, foram computadosquatrocentos e quarenta e oito anos; da natividade do Nosso Senhor vinda de So Patrcio entreos escotos, quatrocentos e cinco anos; da morte de So Patrcio de Santa Brgida, quarenta anos,e do nascimento de So Columbano morte de Santa Brgida, quatro anos.

    17. Eu aprendi outra descrio deste Bruto dos antigos Livros de nossos ancestrais. Aps o dilvio,os trs filhos de No ocuparam respectivamente trs partes da terra: Sem estendeu suas fronteirasat a sia, Cam at a frica e Jaf at a Europa.

    O primeiro homem que habitou a Europa foi Alano, com seus trs filhos, Hisicon, Armenon, eNeugio. Hisicon teve quatro filhos, Fronco, Romano, Alamano, e Bruto. Armeno teve cinco filhos:Goto, Valaoto, Cibido, Burgndio e Longobardo. Neugio teve trs filhos, Valdalo, Saxo, e Bogano.De Hisico despertaram quatro naes: os francos, os latinos, os germanos e os bretes: deArmeno, os godos, valagothi, cibdios, burgundos, e longobardos; de Neugio, os bagari, vndalos,saxes e terinegi. Toda a Europa estava subdividida nestas tribos.

    Dizia-se que Alano era o filho de Fethuir; Fethuir, o filho de Ogomuin, que era o filho de Thoi;Thoi era filho de Boibus, Boibus de Semion, Semion de Mair, Mair de Ecthactur, Ecthactur deAurthack, Aurthack de Ethec, Ethec de Ooth, Ooth de Aber, Aber de Ra, Ra de Esraa, Esraa deHisrau, Hisrau de Bath, Bath de Jobath, Jobath de Joham, Joham de Jaf, Jaf de No, No deLamec, Lamec de Matusalm, Matusalm de Henoc, Henoc de Irad, Irad de Malaleel, Malaleel deCain, Cain de Eins, Eins de Set, Set de Ado, e Ado foi formado por Deus vivo. Nsobtivemos esta informao com relao aos habitantes originais da Bretanha da antiga tradio.

    18. Os bretes eram assim chamados [por causa] de Bruto: Bruto era o filho de Hisicon, Hisiconera o filho de Alano, Alano era o filho de Ra Slvia, Ra Slvia era a filha de Numa Pomplio,Numa era o filho de Ascnio, Ascnio de Enas, Enas de Anquises, Anquises de Troio, Troio deDardano, Dardano de Flisa, Flisa de Juuin, Juuin de Jaf; mas Jaf teve sete filhos; do primeirochamado Gomer, descenderam os galos; do segundo, Magog, os scythi e godos; do terceiro,Madai, os medos; do quarto, Jav, os gregos; do quinto, Tubal, surgiram os hebreus, hispnicos eitalianos; do sexto, Mosoc, surgiram os capadcios, e do stimo, chamado Tiras, descenderam ostrcios, estes so os filhos de Jaf, filho de No, o filho de Lamec.

    19. Os romanos, tendo obtido o domnio do mundo, mandaram legados ou representantes aosbretes para exigir deles refns e tributo, que eles recebiam de todos os outros pases e ilhas; maseles, orgulhosos e desdenhosos e arrogantes, trataram a legao com desprezo.

    Ento Jlio Csar, o primeiro que atingiu poder absoluto em Roma, grandemente enfurecidocontra os bretes, navegou vingativamente enquanto lutava contra Dolobelo, (o procnsul doreino da Bretanha, que era chamado Belino, e que era o filho de Minocano, que governava todasas ilhas do Mar Tirreno). Assim, Jlio Cesar retornou para casa sem a vitria, tendo tido seussoldados derrotados e seus navios despedaados.

    20. Mas aps trs anos, ele apareceu de novo com um grande exrcito, e trezentos navios, na bocado Tmisa, onde renovou as hostilidades. Nessa tentativa, muitos de seus soldados e cavalosforam mortos; mas o mesmo cnsul havia colocado lanas de ferro na parte rasa do rio, e isso seefetuando com tanta tcnica e segredo para escapar a notcia dos soldados romanos, eles fizeramconsidervel injria, assim Csar foi outra vez obrigado a retornar sem paz ou vitria. Os romanosforam, entretanto, uma terceira vez mandados contra os bretes, e sob o comando de Jlio,derrotaram-nos prximo de um lugar chamado Trinovanto [Londres], quarenta e sete anos antesdo nascimento de Cristo, e cinco mil e duzentos e doze anos da criao.

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    Jlio foi o primeiro a exercer o poder supremo sobre os romanos que invadiram a Bretanha: emsua honra, os romanos decretaram que o quinto ms fosse chamado com seu nome. Ele foiassassinado no Senado, nos idos de maro, e Otvio Augusto o sucedeu no imprio do mundo. Elefoi o nico imperador que recebeu tributo dos bretes, de acordo com o seguinte verso deVirglio: Purpurea intexti tollunt aulae Britanni.

    21. O segundo depois dele a vir Bretanha, foi o imperador Cludio, que reinou quarenta e seteanos depois do nascimento de Cristo. Ele trouxe consigo guerra e devastao; e, embora no semperda de homens, finalmente conquistou a Bretanha. Depois viajou para as Ilhas Orkneys, que eletambm conquistou, e depois exigiu tributos. Nessa poca nenhum tributo era recebido pelosbretes; mas era pago pelos imperadores britnicos. Ele reinou treze anos e oito meses. Seumonumento pode ser visto na Mongcia (entre os lombardos), onde morreu no seu caminho paraRoma.

    22. Cento e sessenta e sete anos aps o nascimento de Cristo, o rei Lcio e todos os chefes doexrcito breto receberam o batismo, em conseqncia de uma misso diplomtica enviada pelosimperadores romanos e o papa Evaristo.

    23. Severo foi o terceiro imperador que atravessou o mar para a Bretanha, onde, para proteger asprovncias recuperadas das incurses brbaras, ordenou a construo de um muro para separarbretes, escotos e pictos, estendendo-se na ilha de mar a mar, com largura de cento e trinta e trsmilhas. Este muro chamado na lngua bret de Gwal.

    Este muro foi construdo entre os bretes, escotos e pictos, pois os escotos do oeste e os pictos donorte faziam guerra incessantemente contra os bretes, mas estavam em paz entre si. No muitodepois, Severo morreu na Bretanha.

    24. O quarto foi o imperador e tirano Carausio que, exasperado pelo assassinato de Severo,atravessou a Bretanha e, esperado pelos lderes do povo romano, vingou-se severamente noschefes e dirigentes dos bretes, por causa de Severo.

    25. O quinto foi Constncio, o pai de Constantino, o Grande. Ele morreu na Bretanha; suasepultura, como aparece pela inscrio em seu tmulo, ainda vista perto da cidade chamadaCair segont (perto de Carnarvon). No pavimento da cidade mencionada acima, ele plantou trssementes de ouro, prata e bronze, de forma que nenhuma pessoa pobre poderia ser encontradanela (na cidade). tambm chamada Minmanton.

    26. Maximiano foi o sexto imperador a governar a Bretanha. Foi no seu tempo que os cnsulescomearam e que a designao de Csar foi descontinuada. Nesse perodo ainda, So Martinhotornou-se celebrado por suas virtudes e milagres e teve uma conversa com ele (o imperador).

    27. O stimo imperador foi Mximo. Ele retirou da Bretanha toda sua fora militar, matouGraciano, o rei dos romanos, e obteve a soberania de toda a Europa. No desejando devolver seuscompanheiros de guerra s esposas, filhos e possesses na Bretanha, conferiu-lhes muitosdistritos do lago do cume do Monte Jovia, at a cidade chamada Cant Guic, e at o Tmulo oeste,que significa, at o Cruc Ocidente.

    Estas so as Bretanhas Armoricanas e l permanecem at hoje. Em conseqncia de sua ausncia,a Bretanha, sendo atacada por naes estrangeiras, teve os herdeiros legtimos expulsos, at queDeus interpusesse sua assistncia. Fomos informados pela tradio de nossos ancestrais que seteimperadores vieram para a Bretanha embora os romanos afirmem que eles foram nove.

    O oitavo foi outro Severo, que viveu na Bretanha ocasionalmente, e outras em Roma, ondemorreu. O nono foi Constncio, que reinou dezesseis anos na Bretanha e, de acordo com o relato,foi traioeiramente morto no dcimo stimo ano de seu reinado.

    28. Assim, de acordo com o clculo feito pelos bretes, os romanos os governaram porquatrocentos e nove anos. Depois disso, os bretes desprezaram a autoridade dos romanos,recusando igualmente a pagar-lhes tributos, ou a receber seus reis, nem ousaram os romanosmais nenhuma tentativa de governar a regio, cujos nativos massacraram seus representantes.

    29. Devemos agora retornar ao tirano Mximo. Graciano, com seu irmo, Valenciano, reinou seteanos. Ambrsio, bispo de Milo, era ento eminente por sua percia no dogma dos catlicos.

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    Valenciano e Teodsio reinaram oito anos. Naquele tempo um snodo foi realizado emConstantinopla, assistido por trezentos e cinqenta prceres, e no qual todas as heresias foramcondenadas. Jernimo, o presbtero de Belm, era ento celebrado por todos. Enquanto Gracianoexerceu o supremo domnio do mundo, Mximo, durante uma rebelio dos soldados, foi saudadoimperador na Bretanha, e logo depois cruzou o mar at a Glia. Em Paris, atraioado porMellobaudes, seu chefe da cavalaria, Graciano foi derrotado, e fugindo para Lyon, foi agarrado emorto; mais tarde, Mximo associou seu filho Victor ao governo.

    Martinho, reconhecido por suas grandes virtudes, era neste perodo bispo de Tours. Depois de umconsidervel espao de tempo, Mximo foi despojado do poder real pelos cnsules. Valenciano eTeodsio e sentenciado a ser decapitado no terceiro marco de Aquilia: no mesmo ano, tambmseu filho Vtor foi morto na Glia por Arbogaste, cinco mil seiscentos e noventa anos da criaodo mundo.

    30. Trs vezes foram os representantes de Roma postos morte pelos bretes, e ainda estes,quando molestados pelas incurses das naes brbaras, viz, os escotos e os pictos, solicitaramenergicamente a ajuda dos romanos. Para dar efeito s suas splicas, embaixadores foramenviados e fizeram sua entrada com impresses de profundo sofrimento, tendo suas cabeascobertas com p e carregando ricos presentes para reparar o assassinato dos representantes.Foram favoravelmente recebidos pelos cnsules e juraram submisso ao jugo romano, comqualquer tipo de severidade que pudesse ser imposta.

    Os romanos, por conseguinte, vieram com seu poderoso exrcito em assistncia aos bretes etendo-lhes indicado um governante, e estabelecido o governo, retornaram Roma: e istoaconteceu alternadamente durante o espao de trezentos e quarenta e oito anos. Os bretes, noentanto, devido opresso do imprio, massacraram outra vez os representantes romanos, e denovo pediram por socorro.

    Uma vez mais os romanos incumbiram-se do governo dos bretes, e os assistiram ao repelir seusinimigos; e, depois de ter exaurido o pas de seu ouro, prata, bronze, mel e vestimentas caras, etendo, alm disso, recebido ricos presentes, retornaram em grande triunfo Roma.

    31. Depois da acima mencionada guerra entre os bretes e romanos, o assassinato de seusgovernantes, e a vitria de Mximo, que matou Graciano, e o trmino do poder romano naBretanha, eles estiveram em alerta por quarenta anos. Vortigern ento reinava na Bretanha. Noseu tempo, os nativos tinham pavor das incurses no apenas dos escotos e pictos, mas tambmdos romanos, alm de terem apreenso de Ambrsio. Enquanto isso, trs navios, exilados daGermnia, chegaram Bretanha. Eles eram comandados por Horsa e Hengist, irmos e filhos deWihtgils. Wihtgils era o filho de Witta; Witta, de Wecta; Wecta, de Woden de Frithowald;Frithowald, de Frithuwulf; Frithuwulf, de Finn; Finn, de Godwulf; Godwulf, de Geat, que, comoeles dizem, era o filho de um Deus, no do Deus Onipotente e Nosso Senhor Jesus Cristo (queantes do princpio do mundo estava com Seu Pai e o Esprito Santo, co-eterno e da mesmasubstncia, e que, em compaixo natureza humana, no desdenhou em assumir a forma de umservo), mas resultado de seus dolos, e que, cegados por algum demnio, adoravam de acordocom o costume pago.

    Vortigern os recebeu como amigos e entregou-lhes a ilha que, em sua lngua chamada deThanet, e pelos bretes, Ruym. Graciano Equntio, nessa poca, reinava em Roma. Os saxesforam recebidos por Vortigern, quatrocentos e quarenta e sete anos aps a paixo de Cristo, e deacordo com a tradio de nossos ancestrais, do perodo da sua primeira chegada Bretanha at oprimeiro ano do reinado do rei Edmundo, foram quinhentos e quarenta e dois anos, e deste anoque ns agora escrevemos, que o quinto de seu reinado, quinhentos e quarenta e sete anos.

    32. Nesta poca, So Germano, notvel por suas numerosas virtudes, veio pregar na Bretanha: porseu ministrio muitos foram salvos; mas muitos do mesmo modo morreram no convertidos. Dosvrios milagres que Deus permitiu-lhe fazer, devo aqui mencionar apenas alguns: primeiro devoadvertir para aquele concernente ao inquo e tirnico rei Benlli. O santo homem, informado desua m conduta, apressou-se em visit-lo, com o propsito de admoest-lo. Quando o homem deDeus, com seus seguidores, chegou ao porto da cidade, foram respeitosamente recebidos por seuguardador, que saiu e os saudou.

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    Eles lhe incumbiram de comunicar sua inteno ao rei, que devolveu uma resposta spera,declarando com blasfmia, que ainda que permanecessem l um ano, no entrariam na cidade.Enquanto esperavam por uma resposta, a noite caiu, e eles no sabiam para onde ir. Por fim, veioum dos servos do rei que, curvando-se ante o homem de Deus, anunciou as palavras do tirano,convidando-os, ao mesmo tempo, para sua prpria casa, para onde foram, sendo gentilmenterecebidos. acontecia, porm, que ele no tinha gado, exceto uma vaca e um bezerro, o ltimo como qual, impelido pela generosa hospitalidade devido a seus hspedes, ele matou, preparou ecolocou diante deles.

    Mas o piedoso So Germano ordenou a seus companheiros que no quebrassem um nico ossodo bezerro; e, na manh seguinte, ele foi encontrado vivo ileso e de p ao lado de sua me.

    33. Cedo, no mesmo dia, eles foram de novo ao porto da cidade, para solicitar audincia com omalvado rei; e enquanto estavam empenhados numa prece fervorosa, esperando por admisso,um homem, coberto de suor saiu, e prostrou-se diante deles. Ento So Germano, dirigindo-se aele, disse: -Acreditas tu na Sagrada Trindade? O homem respondeu: -Acredito realmente,. Eleento o batizou e beijou, dizendo: - V em paz, nesta hora tu deves morrer: os anjos de Deusesperam por ti no ar, com eles deves ascender para Deus em quem acreditaste.

    Ele, cheio de alegria, entrou na cidade, e aps encontrar o prefeito foi preso, amarrado econduzido ante o tirano, que tendo dado a ele sentena, imediatamente mandou mat-lo, pois eraa lei deste rei perverso que todo aquele que no estivesse no seu labor antes do nascer do sol seriadecapitado na cidadela. Neste nterim, So Germano, com seus companheiros, esperaram todo odia diante do porto, sem obter a admisso do tirano.

    34. O homem mencionado acima, porm, permaneceu com eles. -Tome cuidado, disse-lhe SoGermano, que nenhum de seus amigos permanea esta noite dentro destes muros. Com isso, eleentrou na cidade apressadamente, trouxe seus nove irmos, e com eles retirou-se para a casa ondetinha exercido to generosa hospitalidade. Aqui So Germano ordenou-lhes que continuassem,rpido; e quando os portes se fecharam, -Veja, disse ele, e o que quer que acontea nacidadela, no virem seus olhos para l; mas rezem sem cessar, e invoquem a proteo doverdadeiro Deus. E, eis que, cedo na noite, fogo caiu do cu, e queimou a cidade, juntamentecom todos aqueles que estavam com o tirano, de forma que ningum escapou; e aquela cidadelanunca foi reconstruda at o dia de hoje.

    35. No dia seguinte, o homem hospitaleiro que fora convertido pela pregao de So Germano, foibatizado, com seus filhos, e todos os habitantes daquela parte do pas; e So Germano oabenoou, dizendo: -Um rei no dever faltar sua descendncia para sempre. O nome destapessoa Catel Drunluc: -Daqui em diante, tu deves ser um rei todos os dias de tua vida.

    Assim foi cumprida a profecia do rei Davi: Ele ergueu os pobres para fora do p e retirou osnecessitados do lugar repulsivo. E, de acordo com a previso de So Germano, de um servo eletornou-se um rei: todos os seus filhos foram reis, e de sua descendncia todo o pas dos Powystem sido governado at hoje.

    36. Aps os saxes terem continuado algum tempo na ilha de Thanet, Vortigern prometeu supri-los com roupas e provises, com a condio de que se empenhassem em lutar contra os inimigosde seu pas. Mas tendo os brbaros crescido enormemente em nmero, os bretes tornaram-seincapazes de realizar o compromisso; e quando os saxes, de acordo com a promessa que haviamrecebido, exigiram um suprimento de provises e roupas, os bretes responderam: -Seu nmeroaumentou; assisti-los desnecessrio agora; vocs devem, portanto, retornar para casa, pois nopodemos mais sustent-los; e, em seguida a isso, eles (os saxes) comearam a tramar meios paraquebrar a paz entre eles.

    37. Mas Hengist, em quem unia-se malcia e perspiccia, percebendo que teria que agir com umrei ignorante, e um povo vacilante, incapaz de opor muita resistncia, respondeu a Vortigern: -Ns somos, de fato, poucos em nmero; mas, se voc nos der permisso, enviaremos a nosso pasum nmero adicional de foras, com quem lutaremos por voc e seus sditos. Ao concordarVortigern com esta proposta, mensageiros foram despachados Ctia, onde selecionando umnmero de tropas guerreiras, retornaram com dezesseis embarcaes, trazendo com eles a lindafilha de Hengist. E agora o chefe saxo preparava um divertimento, para o qual convidou o rei,

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    seus oficiais, e Ceretico, seu intrprete, recomendando previamente sua filha a servi-los toabundantemente com vinho e cerveja, que eles pudessem ser logo embriagados.

    Esse plano deu certo, e Vortigern, instigado pelo demnio e enamorado com a beleza da donzela,pediu-a, atravs da mediao de seu intrprete, ao pai, prometendo dar por ela qualquer coisa queele desejasse. Ento Hengist, que j tinha consultado os mais velhos da raa Oghgul, que oassessoravam, exigiu para sua filha a provncia chamada em ingls, Centland, em breto, Ceint(Kent).

    Esta cesso foi feita sem o conhecimento do rei, Guoyrancgonus, que governava ento em Kent, eque experimentou uma no desconsidervel partilha de dor ao ver seu reino assimclandestinamente, fraudulentamente, e imprudentemente entregue a estrangeiros. Assim adonzela foi entregue ao rei, que dormiu com ela, e amou-a excessivamente.

    38. Hengist, aps isso, disse a Vortigern: -Serei para ti igualmente pai e conselheiro; nodesprezes meus conselheiros, e tu no ters razo para ter medo de ser conquistado por nenhumhomem ou nao que seja, porque o povo do meu pas forte, guerreiro e robusto: se tuaprovares, mandarei vir meu filho e seu irmo, ambos homens valentes, que ao meu convitelutaro contra os escotos, e tu podes dar-lhes as regies do norte, prximas muralha chamadaGwal.

    Aps o incauto soberano concordar com isso, Octa e Ebusa chegaram com quarenta navios.Nestes viajaram ao redor do pas dos pictos tomaram as rcades e apossaram-se de muitasregies, at os confins dos pictos.

    Mas Hengist continuou, aos poucos, mandando vir navios de seu prprio pas, de forma que ilhaspor esse motivo foram deixadas sem habitantes; e enquanto seu povo ia crescendo em poder enmero, eles vieram para a acima mencionada provncia de Kent.

    39. Enquanto isso, Vortigern, como se desejando acrescentar mais aos males que j haviaocasionado, casou-se com sua prpria filha, de quem teve um filho. Quando So Germano teveconhecimento disso, veio, com todo o clero breto, para reprov-lo: e enquanto uma numerosaassemblia de eclesisticos e leigos estava em Conselho, o fraco monarca ordenou sua filha aaparecer diante deles, e na presena de todos, apresentar o filho para So Germano, e declararque Vortigern era o pai.

    A atrevida mulher obedeceu; e So Germano, tomando a criana, disse: -Eu serei um pai paravoc, meu filho; no o dispensarei at que me sejam dados uma navalha, uma tesoura, e umpente, e que me seja permitido d-los ao seu pai carnal. A criana obedeceu a So Germano e,indo na direo de seu pai, Vortigern, disse a ele: -Tu s meu pai, raspa e corta o cabelo da minhacabea. O rei enrubesceu, e ficou em silncio; e, sem responder criana, levantou-se comgrande raiva e abandonou a presena de So Germano, execrado e condenado por todo o snodo.

    40. Mas logo depois, chamando juntos seus doze homens sbios, para consult-los sobre o quehavia a ser feito, eles lhe disseram: -Retira-te para os limites mais remotos do seu reino; lconstri e fortifica uma cidade para te defender porque o povo que tu recebeste traioeiro; elesesto tentando dominar-te por estratagema, e, mesmo durante a tua vida, a apoderar-se de todosos pases sujeitos ao teu poder, quanto mais iro ainda tentar, depois da tua morte!

    O rei, agradecido com este conselho, partiu com seus homens sbios, e viajou atravs de vriaspartes de seus territrios, em busca de um lugar conveniente para o objetivo de construir umacidadela. No tendo nenhum objetivo, viajaram longe e extensamente, chegando por fim a umaprovncia chamada Guenet; e tendo inspecionado as montanhas de Heremus, descobriram, nocume de uma delas, uma situao adaptada construo da cidadela. Sobre esta, os sbios vieramdizer ao rei: -Constri aqui uma cidade, pois este lugar ser sempre seguro contra os brbaros.

    Ento o rei mandou vir artfices, carpinteiros, pedreiros, e coletou todos os materiais necessrios construo; mas todo este desapareceu em uma nica noite de forma que no restou nada do quehavia sido fornecido para a construo da cidadela. Os materiais foram procurados em todas aspartes, uma segunda e uma terceira vez, e de novo desapareceram como antes, tornando-se intilqualquer esforo para reav-los.

    Vortigern inquiriu seus homens sbios sobre a causa dessa oposio ao seu empreendimento, e de

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    to intil desperdcio de trabalho. Eles responderam: -Tu deves encontrar uma criana nascidasem pai, mat-la, e aspergir seu sangue no solo onde a cidade ser construda, ou jamais realizarso teu propsito.

    41. Em conseqncia dessa resposta, o rei enviou mensageiros por toda a Bretanha, em busca deuma criana nascida sem pai. Depois de inquirir em todas as provncias, eles vieram para o campode Ellet, no distrito de Glevensing, onde um grupo de meninos estavam jogando bola. E aobrigarem dois deles, um disse ao outro: -Ah, menino sem pai, nenhum bem nunca ir teacontecer. Com isso, os mensageiros diligentemente inquiriram a me e os outros meninos se elehavia tido um pai.

    O que sua me negou, dizendo: -De que maneira ele foi concebido, eu no sei, pois nunca tiverelaes com nenhum homem; e ela ento afirmou solenemente que ele no havia tido paimortal. O menino foi, por esse motivo, levado, e conduzido diante Vortigern, o rei.

    42. Um encontro aconteceu no dia seguinte com o propsito de assassin-lo. Ento o meninodisse ao rei: -Por que teus servos me trouxeram aqui? -Para que voc seja morto, respondeu orei, e que o solo no qual minha cidadela ser erguida, seja aspergida com teu sangue, sem o queeu no poderei construi-la.

    -Quem, disse o menino te instruiu para fazer isso? -Meus sbios, replicou o rei. -Ordena-lhes para virem aqui, retornou o menino. Quando isto foi feito, ele lhes perguntou: -Por qualmeios vos foi revelado que esta cidadela no poderia ser construda, a menos que o solo fossepreviamente aspergido com meu sangue? Falai sem disfarces e declarai quem me descobriu avs. Ento dirigiu-se ao rei: -Logo desvendarei tudo para ti, mas quero questionar teus sbios, edesejo que eles te desvendem o que est escondido debaixo deste solo.

    Eles reconheceram sua ignorncia. -Existe, ele disse, um lago; eles examinaram e oencontraram. Continuando suas questes: -O que h nos vasos? Eles permaneceram emsilncio. -Existe uma tenda neles, disse o menino; separai-na e vocs descobriro. Sendo istofeito ao comando do rei, foi encontrada uma tenda estendida.

    O menino, continuando com suas perguntas, perguntou aos sbios o que estava dentro dela. Maseles no souberam o que responder. -Existem, disse ele, duas serpentes, uma branca e a outravermelha; abram a tenda. Eles obedeceram, e duas serpentes adormecidas foram descobertas. -Considerem atentamente, disse o menino, o que esto fazendo. As serpentes comearam alutar entre si; e a branca, erguendo-se, jogou a outra para o meio da tenda e algumas vezesdirigiu-a para o topo desta. Isso foi repetido trs vezes.

    Finalmente, a vermelha, aparentemente a mais fraca das duas, recobrou seu flego, expeliu abranca da tenda; e a ltima, ao ser perseguida no lago pela vermelha, desapareceu.

    Ento o menino perguntou aos sbios o que significava o terceiro maravilhoso augrio, e elesexpressaram sua ignorncia. O menino ento disse ao rei: -Irei agora explicar a ti o significadodeste mistrio. O lago o emblema deste mundo, e a tenda, o teu reino: as duas serpentes sodois drages; a serpente vermelha o teu drago, mas a branca o drago do povo que ocupamuitas provncias e distritos da Bretanha, mesmo at de mar a mar. Finalmente, no entanto,nosso povo deveria erguer-se e afastar a raa sax para alm do mar, quando vieramoriginalmente, mas afasta-te deste lugar, pois no tens permisso para erigir uma cidadela; eu,para quem o destino est associado a este estabelecimento, devo permanecer aqui; quanto a ti,est a incumbncia de procurar outras provncias onde possas construir uma cidadela.

    -Como o teu nome? perguntou o rei. - Eu me chamo Ambrsio (em breto Embres Guletic),retornou o menino; e em reposta pergunta do rei, -Qual a tua origem? ele replicou: - Umcnsul romano era meu pai.

    Ento o rei designou-lhe aquela cidade, com todas as suas provncias a oeste da Bretanha; epartindo com seus sbios do sinistro Distrito, chegou regio de Gueneri, onde construiu umacidade que, de acordo com seu nome, foi chamada de Cair Guorthigirn.

    43. Finalmente Vortimer, o filho de Vortigern, lutou valentemente contra Hengist, Horsa, e seupovo; mandaram-lhes para a ilha de Thanet, e trs vezes os fecharam dentro dela, e sitiaram-nosno lado oeste. Os saxes agora despacharam representantes para a Germnia para solicitar

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    grandes reforos, e um nmero adicional de navios: tendo obtido isso, lutaram contra os reis eprncipes da Bretanha, e algumas vezes estenderam seus limites devido vitria, outras vezeseram conquistados e levados a retroceder.

    44. Quatro vezes Vortimer bateu-se valentemente contra o inimigo; a primeira j foi mencionada,a segunda foi no rio Derwent, a terceira no Lapis Tituli, na lngua deles chamada Epsford, emborana nossa Rithergabail, l Horsa caiu, e [tambm] Catigern, o filho de Vortigern; na quarta batalhaque ele lutou, estava prximo da pedra s margens do Mar da Glia, onde os saxes, estandoderrotados, fugiram para seus navios.

    Depois de um curto intervalo, Vortimer morreu. Antes de sua doena, ansioso pela futuraprosperidade de seu pas, ele encarregou os amigos de enterrar seu corpo na entrada do portosaxo, na pedra onde os saxes chegaram primeiro. -Pois embora, ele disse eles possam habitaroutras partes da Bretanha, se vs ainda seguires as minhas ordens, eles nunca permaneceronesta ilha. Eles imprudentemente desobedeceram esta ltima injuno e negligenciaram enterr-lo onde ele havia determinado.

    45. Depois disso os brbaros se fizeram firmemente incorporados, e foram auxiliados por pagosestrangeiros; embora Vortigern fosse amigo deles, por causa da filha de Hengist, que ele amavatanto, que ningum ousasse lutar contra ele - no meio tempo eles traram o rei imprudente, eenquanto fingiam a aparncia de amizade, estavam tramando com os inimigos. E deixe aqueleque l entender que os saxes foram vitoriosos e governaram a Bretanha no por causa de suacoragem superior, mas devido aos grandes pecados dos bretes: Deus ento permitiu isso.

    Pois qual homem sbio resistiria ao completo conselho de Deus? O Todo-Poderoso o Rei dosReis, e o Senhor dos senhores, governando e julgando a todos, de acordo com sua prpriavontade.

    Aps a morte de Vortimer, Hengist, fortalecido pelas novas aquisies, juntou seus navios, ereunindo seus lderes, consultou-os sobre qual estratagema deveriam vencer Vortigern e seuexrcito; com tal insidiosa inteno mandaram mensageiros ao rei com ofertas de paz e amizadeperptua; sem suspeitar da traio, o monarca, depois de aconselhar-se com os mais velhos,aceitou as propostas.

    46. Hengist, sob a pretenso de ratificar o tratado, preparou um divertimento, para o qualconvidou o rei, os nobres, e os oficiais militares, em nmero de mais ou menos trezentos.Dissimulando especialmente sua m inteno, ordenou a trezentos saxes que escondessem umafaca debaixo de seus ps e se misturarem com os bretes. Disse ele: -Quando eles estiverembastante inebriados, gritarei Nimed eure saxes!. Ento que cada um pegue sua faca e mate seuhomem. Mas poupem o rei por causa do seu casamento com minha filha, porque melhor que eleseja poupado que morto.

    Depois que comeram e beberam e estavam muito embriagados, Hengist subitamente vociferou,Nimed eure Saxes! e imediatamente seus companheiros pegaram suas facas e, correndo nadireo dos bretes, cada um o cercou e sentou prximo a ele, e houve o assassinato de trezentosnobres de Vortigern. Ao ser capturado, o rei negociou sua libertao, entregando as trsprovncias do leste e sul, alm de outros distritos que os traidores optaram.

    47. So Germano admoestou Vortigern a retornar para o verdadeiro Deus e abster-se de qualquerconjuno ilcita com sua filha, mas o infeliz fugiu para refugiar-se na provncia deGuorthigirniaun, assim chamada devido ao seu prprio nome, onde ele se escondeu com suasesposas. Porm, So Germano seguiu-o com todo o clero breto, e sobre uma pedra, rezou pelaredeno de sua alma por quarenta dias e quarenta noites.

    Este homem abenoado havia sido unanimemente escolhido comandante contra os saxes. Eento, no pelo som das trombetas mas pelas rezas, cantos, aleluias e os clamores do exrcito deDeus, os inimigos foram dispersados e at mesmo jogados ao mar.

    Outra vez Vortigern fugiu ignominiosamente de So Germano [e foi] para o reino da Demcia,onde, s margens do rio Teibe, construiu um castelo que chamou de Cair Guothergirn. O santo,como de costume, seguiu-o para l, e com todo o clero apressou-se e rezou para o Senhor por trsdias e noites. Na terceira noite, na terceira hora, um fogo caiu repentinamente do cu e queimou

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    completamente o castelo. Vortigern, a filha de Hengist, suas outras esposas e todos os outroshabitantes do castelo, tanto homens como mulheres, pereceram miseravelmente. Assim foi o fimdeste rei infeliz, como podemos encontrar escrito na vida de So Germano.

    48. Outros afirmam-nos que, sendo odiado por todo o povo da Bretanha por ter recebido ossaxes, e sendo publicamente acusado por So Germano e pelo clero aos olhos de Deus, ele fugiue vagou de um lugar a outro, buscando um lugar de refgio at que, com o corao partido, teveum fim ignbil. Alguns registros atestam que a terra abriu-se e o engoliu na noite em que seucastelo queimou, j que nenhum resto foi descoberto na manh seguinte, nem dele, nem daquelesque queimaram com ele.

    Ele teve trs filhos: o mais velho foi Vortimer, que, como vimos, lutou quatro vezes contra ossaxes e os ps em fuga; o segundo, Catergirn, morto na mesma batalha com Horsa; o terceiro,Pascent, que reinou em duas provncias, Buelt e Guorthegirnaiun, aps a morte de seu pai. Estaslhe foram atribudas por Ambrsio, o grande rei entre todos os reis da Bretanha. O quarto foiFausto, nascido de um casamento incestuoso com sua filha, que foi criado e educado por SoGermano. Ele construiu um grande monastrio s margens do rio Renis, chamado com seu nome,e que permanece at o presente perodo.

    49. Esta a genealogia de Vortigern, que retorna at Fernmail, que reinou no reino deGuorthegirnaim, e era o filho de Teudubir; Teudubir era o filho de Pascent; Pascent, deGuaidcant; Guaidcant, de Moriud; Moriud, de Eldat; Eldat, de Eldoc; Eldoc, de Paulo; Paulo, deMepurit; Mepurit, de Briacat; Briacat, de Pascent; Pascent, de Guorthigirn; Guorthigirn, deGuortheneu; Guortheneu, de Guitaul; Guitaul, de Guitolin; Guitolin, de Glovi. Bonus, Paulo,Mauron e Guotolinus eram quatro irmos que construram uma grande cidade s margens do rioSevern, a qual em breto chamada Cair Gloui, em saxo, de Gloucester. J foi dito o suficientesobre Vortigern.

    50. Quando Graciano Equantio era cnsul em Roma - pois ento todo o mundo era governado porcnsules romanos - os saxes foram recebidos por Vortigern no ano de quatrocentos e quarenta esete do Nosso Senhor. E seja quem for que algum dia leia o que est contido aqui pode receberinstruo, [pois] o Senhor Jesus Cristo fornece assistncia, [Ele], que co-eterno com o Pai e oEsprito Santo, vive e reina para todo o sempre. Amm.

    Naqueles dias, So Patrcio era cativo entre os escotos. O nome do seu senhor era Milcho, dequem ele era guardador de porcos havia sete anos. Quando atingiu a idade de dezessete anos, estedeu-lhe a liberdade. Por impulso divino, [Patrcio] aplicou-se leitura das Escrituras e mais tardefoi para Roma, onde, repleto com o Esprito Santo, continuou por um longo tempo, estudando ossagrados mistrios daqueles escritos. Durante a sua permanncia, Paldio, o primeiro bispo, foienviado pelo papa Celestino para converter os escotos [os irlandeses]. Mas tempestades e sinaisde Deus o impediram de desembarcar, porque ningum pode chegar em nenhum pas, exceto setiver permisso do Alto; alterando ento sua direo da Irlanda, ele veio para a Bretanha e morreuna terra dos pictos.

    51. Ao ser conhecida a morte de Paladino, os patrcios romanos Teodsio e Valenciano entoreinando, o papa Celestino enviou Patrcio para converter os escotos f da Sagrada Trindade;Vtor, o anjo de Deus o acompanhou, admoestando, acompanhando e assistindo-o, e tambm obispo Germano.

    Germano ento enviou o antigo Segerus com ele, como um venervel e elogiado bispo, para o reiAmatheur, que vivia prximo, e que tinha a prescincia do que iria acontecer; ele foi consagradobispo no reino daquele rei pelo santo pontfice, assumindo o nome de Patrcio, tendo at esseponto sido conhecido como Maun; Auxilius, Issernino, e outros irmos foram ordenados com elepara graus inferiores.

    52. Tendo distribudo bnos e aperfeioado todos no nome da Santa Trindade, ele embarcoupara o mar que est entre os gauleses e os bretes; e depois de uma rpida passagem chegou Bretanha, onde pregou por algum tempo. Depois que toda a preparao necessria foi feita e queo anjo lhe deu o aviso, ele veio para o mar da Irlanda. Aps encher o navio com presentesestrangeiros e tesouros espirituais, ele chegou, com a permisso de Deus, Irlanda, onde batizoue pregou.

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    53. Do comeo do mundo ao quinto ano do reinado de Logiore, quando os irlandeses forambatizados na f e a unidade da Trindade foi pregada a eles, se passaram cinco mil trezentos etrinta anos.

    54. So Patrcio ensinou o Evangelho s naes estrangeiras pelo espao de quarenta anos.Investido de poderes apostlicos, deu viso aos cegos, purificou os leprosos, curou os surdos,expulsou demnios, ressuscitou nove dentre os mortos, redimiu muitos cativos de ambos os sexospor sua prpria expensa e deixou-os livres em nome da Santa Trindade. Ensinou os servos deDeus e escreveu trezentos e sessenta e cinco livros cannicos e outros relativos f catlica.Fundou muitas igrejas e consagrou o mesmo nmero de bispos, fortalecendo-os com o EspritoSanto. Ordenou trezentos mil presbteros, converteu e batizou doze mil presbteros, e converteu ebatizou doze mil pessoas na provncia de Conatcha (Connaught).

    Em um dia batizou sete reis, que eram os sete filhos de Amolgith.

    Ele continuou jejuando quarenta dias e noites, no cume da montanha Eile, que Cruachan Eile, eproferiu trs peties a Deus para os irlandeses que tivessem abraado a f. Os escotos dizem quea primeira petio era esta: ele recebia todo o pecador arrependido at a ltima extremidade davida; a segunda, que eles nunca seriam exterminados pelos brbaros, e a terceira, que a Irlandairia ser inundada (com gua) durante sete anos antes da vinda do Nosso Senhor para julgar osvivos e os mortos, quando ento os crimes das pessoas poderiam ser dissipados pela Suaintercesso e suas almas purificadas no ltimo dia.

    Ele deu ao povo sua bno da parte mais elevada da montanha, e indo mais alm, que iria rezarpor eles, e se agradasse a Deus, ele veria os efeitos de seus labores. Apareceu-lhe um inumervelbando de pssaros de muitas cores, significando o nmero de pessoas santas de ambos os sexosda Irlanda, que deveriam vir para ele como seus apstolos no dia do Julgamento para seremapresentados diante do tribunal de Cristo. Depois de uma vida dedicada converso do bem dahumanidade, So Patrcio, numa idade madura saudvel, passou deste mundo para o Senhor, emudou sua vida para uma melhor, com os santos e eleitos de Deus ele repousa para sempre.Amm.

    55. So Patrcio parecia-se com Moiss em quatro particularidades: o anjo falou-lhe no ramoardente; ele vagueou quarenta dias e quarenta noites numa montanha; ningum conhece a suasepultura, nem onde ele est enterrado; esteve dezesseis anos como cativo. No seu vigsimoquinto ano, foi consagrado bispo por So Mateus, e foi oitenta e cinco anos apstolo dosirlandeses. Seria mais proveitoso tratar a vida deste santo no seu conjunto, mas no hora paraconcluir a eptome dos seus labores.

    56. Naquele tempo, os saxes se tornavam mais fortes em virtude de seu grande nmero ecresciam em poder na Bretanha. Aps a morte de Hengist, no entanto, seu filho Octa cruzou daparte mais ao norte da Bretanha para o reino de Kent, e dele procedem todos os reis daquelaprovncia at hoje.

    Ento Artur, juntamente com os reis da Bretanha, lutou contra eles (os saxes) naqueles dias, masArtur mesmo era um comandante militar [dux bellorum]. Sua primeira batalha foi na foz do rioque chamado Glein. Sua segunda, terceira, quarta e quinta batalhas foram acima de um riochamado Douglas e [que] est na regio de Linnuis. A sexta batalha foi s margens do riochamado Bassas. A stima batalha foi na floresta de Celidon, que Cat Coit Celidon. A oitavabatalha foi na fortaleza de Guinnion, na qual Artur carregou a imagem de Santa Maria semprevirgem sobre seus ombros; e os pagos foram postos em debandada nesse dia.

    E sob o poder de Nosso Senhor Jesus Cristo e sob o poder da sagrada Virgem Maria, sua me,houve uma grande mortandade entre eles. A nona batalha foi travada s margens da Cidade dasLegies. A dcima batalha foi travada s margens do rio Tribuit. A dcima primeira batalha foirealizada na montanha Agnet. A dcima segunda batalha foi no Monte Badon, no qual caram emum dia novecentos e sessenta homens de uma investida de Artur e ningum os golpeou, exceto oprprio Artur, e em todas as batalhas ele saiu como vencedor. E enquanto eles [os saxes] eramderrotados em todas as batalhas, estavam buscando ajuda da Germnia e seus nmero eraaumentado muitas vezes sem interrupo. E eles trouxeram reis da Germnia que poderiamreinar sobre eles na Bretanha at o tempo em que Ida, o filho de Eobba reinou. Ele foi o primeiro

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    rei na Berncia, em Berneich.

    Genealogia dos Reis da Berncia57. Woden gerou Beldeg, que gerou Beornec, que gerou Gechbrond, que gerou Aluson, que gerouInguec, que gerou Aedibrith, que gerou Ossa, que gerou Eobba, que gerou Ida. Mas Ida teve dozefilhos, cujos nomes so: Adda, Aedlric, Decdric, Edric, Deothere, Osmer, e uma rainha chamadaBearnoch, Ealric. Ealdric gerou Aelfret: o mesmo Aedlfred Flesaur. Pois ele tambm teve setefilhos, cujos nomes so: Anfrid, Osguald, Osbiu, Osguid, Osgudu, Oslapf, Offa. Osguid gerouAlcfrid e Aelfguin e Echfird.

    Echgfrid aquele que fez guerra contra o seu primo, Birdei, rei dos Pictos, e ele caiu [mesmo]com toda a fora de seu exrcito, e os pictos com seu rei ganharam a vitria; e os saxes nuncaoutra vez conseguiram exigir tributos a eles. Desde o tempo dessa guerra foi chamado Gueith LinGaran.

    Mas Osguid teve duas esposas, Riemmelth, filha de Royth, filho de Rum, e a outra chamava-seEanfled, filha de Eadguin, filho de Alli.

    Genealogia dos Reis de Kent58. Hengist gerou Octha, que gerou Ossa, que gerou Ealdbert, que gerou Ercunbert, que gerouEcgberth.

    Origem dos reis do leste da Inglaterra59. Woden gerou Casser, que gerou Titinon, que gerou Trigil, que gerou Rodmunt, que gerouRippan, que gerou Guillem Guechan, que foi o primeiro rei do leste da Inglaterra. Gucha gerouGuffan, que gerou Tydil, que gerou Ecni, que gerou Aldul, que gerou Elric.

    Genealogia dos reis da Mrcia60. Woden gerou Guedolgeat, que gerou Guithleg, que gerou Guerdmund, que gerou Offa, quegerou Ongen, que gerou Eamer, que gerou Pubba. Mas Pubba teve doze filhos, dos quais dois somais conhecidos para mim que os outros, que so Penda e Eva.

    Genealogia dos reis de Deiri61. Woden gerou Beldeyg. Brond gerou Siggar, que gerou Sebald, que gerou Zegulf, que gerouSoemil, que primeiro separou Deur de Birneich. Soemil gerou Sguerthing, que gerou Giulglis, quegerou Usfrean, que gerou Iffi, que gerou Ulli, Aedgum, Osfird e Eadfird.

    Havia dois filhos de Edguin, que caram com ele na batalha de Meicen, e da sua origem nuncarecomeou o reino, pois ningum da sua raa escapou da guerra, mas todos eles foram mortoscom ele pelo exrcito de Catguollaunus, rei da regio da Guenedcia.

    Osguid gerou Ecgfird, o mesmo Ecgfrid Ailguin, que gerou Oslach, que gerou Alhun, que gerouAdlsing, que gerou Echun, que gerou Oslaph. Ida gerou Eadric, que gerou Ecgulf, que gerouLiodguald; que gerou Aetan. O mesmo Eata Glinmaur, que gerou Eadbyrth e Ecgbirth, que foi oprimeiro bispo da nao deles.

    Ida, filho de Eobba, tendo ido para a regio norte da Bretanha, onde o mar da Humbria, e reinoudoze anos, e uniu Dinguayrdi guurth Berneich.

    62. Ento Dutigirn naquele tempo lutou bravamente contra o povo dos anglos. Naquele tempo,Talhaiarn Cataguen era famoso pela poesia, e Neirin, e Taliesin e Bluchbard, e Cian, que chamado Guenith Guaut, foram todos famosos ao mesmo tempo na poesia bret. O grande rei,Mailcun, reinou entre os bretes, isto , no distrito de Guenedcia, por causa de seu antepassadoCunedda que, com seus doze filhos, havia vindo da parte esquerda, isto , do pas que chamadoManau Gustodin, cento e quarenta e seis anos antes que Mailcun reinasse, e expulsasse os escotoscom muita matana daqueles pases, e eles nunca retornaram outra vez para habit-los.

    63. Adda, filho de Ida, reinou por oito anos; Ethelric, filho de Adda, reinou por quatro anos.Theodorico, filho de Ida, reinou sete anos. Freothwulf reinou seis anos. Naquele tempo, o reinode Kent, pela misso de Gregrio, recebeu batismo Hussa [e] reinou sete anos. Contra ele lutaramquatro reis, Urien, e Ryderthen, e Gualllauc, e Morcant. Teodorico lutou bravamente, juntamentecom seus filhos, contra aquele Urien.

    Mas naquele tempo, algumas vezes o inimigo e algumas vezes nossos compatriotas eram

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    vencidos, e ele encurralou-os trs dias e trs noites na ilha de Metcaut, e enquanto ele continuavanuma expedio foi assassinado, por insistncia de Morcant, cheio de inveja, em razo de suasuperioridade como estrategista militar, muito acima da de todos os reis.

    Eadfered Flesaurs reinou doze anos em Bernicia, e doze outros em Deira, e deu a sua mulherBebba a cidade de Dynguoaroy, que devido a ela, chamada de Bebbanburg.

    Edwin, filho de Alla, reinou dezessete anos, apoderou-se da Elmcia, e expulsou Cerdic, seu rei.Eanfied, sua filha, recebeu o batismo no dcimo segundo dia depois de Pentecostes e com todosos seus seguidores, tanto homens quanto mulheres. Na Pscoa seguinte, o prprio Edwin recebeuo batismo, e doze mil de seus sditos com ele. Se algum deseja saber quem os batizou, foi RumMap Urbgen: ele empenhou-se quarenta dias em batizar todas as classes de saxes, e por suapregao muitos acreditaram em Cristo.

    64. Oswald, filho de Ethelfrid, reinou nove anos; o mesmo Oswald Llauiguin; ele matouCatgublaun (Cadwalla), rei da Guenedcia, na batalha de Catscaul, com muita perda para o seuprprio exrcito. Oswy,filho de Ethelfrid, reinou vinte oito anos e seis meses. Durante o seureinado, houve uma terrvel mortalidade entre os seus sditos quando Catgualart (Cadwallader)foi rei entre os bretes, sucedendo seu pai, e ele mesmo morreu entre o resto. Ele assassinouPenda no campo de Gai, e agora tomou parte no massacre de Gai Campi, e os reis dos bretes,que sairam com Penda na expedio at a cidade de Judeu, foram mortos.

    65. Ento Oswy restituiu todas as riquezas que estavam com ele na cidade para Penda, que asdistribuiu entre os reis dos bretes, que era Atbert Judeu. Mas Catgabail sozinho, rei daGuenedcia, levantando-se de noite, escapou juntamente com seu exrcito, por isso chamadoCatgabail Catguommed. Egfrid, filho de Oswy, reinou nove anos. No seu tempo, o santo bispoCuthbert morreu na ilha de Medcaut. Foi ele que fez a guerra contra os pictos e foi por elesmorto.

    Penda, filho de Pybba, reinou dez anos. Inicialmente separou o reino da Mrcia daquele doshomens do norte, mas foi assassinado pelo traidor Onnan, rei dos anglos do leste, e So Oswald,rei dos homens do norte. Ele lutou na batalha de Cocboy na qual caiu Eawa, filho de Pybba, seuirmo, rei dos mercianos, e Oswald, rei dos homens do norte, e ele ganhou a vitria por artesdiablicas. Ele no era batizado e no acreditava em Deus.

    66. Do comeo do mundo at Constantino e Rufo, decorreram cinco mil seiscentos e cinqenta eoito anos. Ainda dos dois cnsules Rufo e Rublio, at o cnsul Stilicho, passaram-se trezentos esetenta e trs anos. Tambm de Stilicho para Valenciano, filho de Plcido, e o reinado deVortigern, foram vinte e oito anos. E do reinado de Vortigern briga entre Guitolinus e Ambrsio,passaram-se doze anos, que Guolopum, que Catgwaloph. Vortigern reinou na Bretanhaquando Teodsio e Valenciano eram cnsules, e no quarto ano do seu reinado os saxes vieram Bretanha, no consulado de Feliz e Taurus, no ano 400 da encarnao de Nosso Senhor JesusCristo. Do ano em que os saxes vieram para a Bretanha e foram recebidos por Vortigern, aotempo de Dcio e Valeriano, passaram-se sessenta e nove anos.

    Sobre as coisas admirveis da Bretanha67. A primeira coisa admirvel o lago Lumonoy. Nele h sessenta ilhas, a moram homens, e cercado por sessenta rochedos, e h um ninho de guia em cada rochedo, e correm para elesessenta rios, mas no vai dele nenhum rio para o mar a no ser um rio que se chama Lemn.

    A segunda coisa admirvel a entrada do rio Trahanonni porque numa onda semelhante a ummonte ad sissam cobre as praias e retrocede como outros mares.

    A terceira coisa admirvel um lago quente que est na regio Huich e cercado de um lado porum muro feito de pedra, e para l vo homens por todo tempo para lavar-se e a cada um assimcomo lhe convier, o banho se far segundo a sua vontade. Se quiser, o banho ser frio, se quente,(o banho) ser quente.

    68. A quarta coisa admirvel : fontes ao mesmo tempo chegam do mar, pelas quais fontes o marse aquece; da diversas iguarias salgam-se, mas no esto perto do mar, mas emergem da terra.

    Outra coisa admirvel Duorig Habren, isto Dois Reis de Sabrina. Quando o mar est inundadoad sissam para a foz do Sabrina duas montanhas de espumas se congregam separadamente e

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    fazem guerra entre si como se fossem dois aretes batendo; e um vai contra o outro e se batemalternadamente, e novamente se afasta um do outro e novamente aproximam-se em cada sissa.Isto fazem desde o incio do mundo at hoje.

    69. H uma outra coisa admirvel, isto , Open Linn Liuan. A foz daquele rio corre para o Sabrinae quando o Sabrina sobe ad sissam e o mar inundado da mesma maneira na entrada dosupradito rio e no lago da entrada recebido, em forma de sorvedouro, e o mar no vai para cima,e h uma praia junto do rio, e enquanto o Sabrina cresce ad sissam este litoral no fica coberto; equando reflui o mar e o Sabrina, ento o lago Linn Liuan pe para fora tudo o que devorou domar, e ento esse litoral fica coberto; e como um monte numa onda expele e rompe com fora. Ese houver o exrcito de toda a regio, na qual est situada e voltar a face contra a onda, no s aonda arrasta o exrcito com sua fora, com as vestes encharcadas de gua, mas tambm os cavalosdo mesmo modo so arrastados. Se porm, o exrcito for por detrs contra ela, a onda no lhecausa mal e quando o mar retroceder, todo o litoral que a onda cobre fica descoberto atrs e omar volta dele.

    70. H uma outra coisa admirvel na regio Cinlipiuc. Existe a uma fonte de nome Finnaun GuurHelic. No corre nenhum rio dela, nem para ela. Os homens vo fonte para pescar. Uns vo pelaparte leste e tiram peixes dessa parte; uns pela direita, outros pela esquerda e pelo ocidente, e ospeixes so puxados de uma e de outra parte. E outra espcie de peixes arrastada, retirada detodas as partes. uma coisa muito admirvel, os peixes serem encontrados na fonte uma vez queno corre rio para ela nem dela. E nela (na fonte) so encontradas quatro espcies de peixes: e noentanto ela no pela sua grandeza nem pela sua profundidade. A profundidade dela vai at osjoelhos, so vinte ps de comprimento e de largura, tem margens altas de todos os lados. Junto dorio que se chama Guoy, so encontrados frutos sobre o freixo na subida do bosque, que est juntoda entrada do rio.

    H uma outra coisa admirvel na regio que se chama Guent. Existe a uma escavao da qual ovento sopra por todo o tempo sem interrupo. E quando no sopra o vento em tempo de vero,daquela escavao sopra incessantemente, e ningum possa resistir junto profundidade do fosso. E se chama Vith Guint em breto, em latim, Flacio. uma coisa muito admirvel o vento soprarda terra.

    71. H uma outra coisa admirvel em Guhyr, um altar que est num lugar que se chamaLoyngarth, que sustentado pela vontade de Deus. A histria desse altar parece-me melhorcontar do que silenciar. Foi feito enquanto So Iltuto orava na caverna que est perto do mar quebanha a terra do supracitado lugar; a entrada da caverna est junto do mar, e eis que uma naunavegava do mar e dois vares que a conduziam, e o corpo do santo homem estava com eles nonavio e o altar sobre a face dele, o qual altar era sustentado pela vontade de Deus.

    O homem de Deus caminhou em direo a eles; o corpo do santo homem e o altar estavaminseparavelmente sobre o rosto do santo corpo. E disseram a So Iltuto: -Aquele homem de Deusrecomendou-nos que o conduzssemos a ti e o sepultssemos contigo. O nome dele no reveles anenhum homem para que os homens no jurem por si mesmos.

    E depois do sepultamento, aqueles dois vares voltaram ao navio e navegaram. E So Iltutofundou a igreja prximo do corpo do santo homem e em torno do altar, e permanece at hoje oaltar sustentado pela vontade de Deus. Veio um jovem rei para que provasse, levando um ramoem sua mo, dobrou-o junto do altar e sustentou-o com ambas as mos; assim comprovou averdade daquele rei e ele depois disso no viveu um ms inteiro. O outro olhou debaixo do altar eperdeu a viso e antes de um ms terminou a vida.

    72. H uma outra coisa admirvel na supracitada regio de Guent. Existe a uma fonte junto deuma paliada do poo Mouric e lenha no meio da fonte. E os homens lavam suas mos com assuas faces e tem debaixo dos ps madeira quando se lavam. Eu mesmo comprovei e vi. Quando omar cresce, o Sabrina se estende para a onda montante sobre todo o mar e cobre e se dirige at afonte se enche sissa do (rio) Sabrina e arrasta a madeira consigo at o grande mar e por umespao de trs dias vai contra o mar. E no quarto dia se encontra na supradita fonte. Ocorreu queum dos rsticos o sepultasse na terra para comprovar e no quarto dia foi encontrado na fonte eaquele rstico que o escondeu e sepultou morreu antes do fim do ms.

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    73. Existe outra maravilha na regio que chamada Buelt. Existe uma montanha de pedras l euma das pedras colocada sobre esse conjunto com a pegada de um cachorro nela. Quando Cabal,que era o co de Artur, o guerreiro, estava caando o javali Troynt, imprimiu sua pegada na pedrae depois Artur reuniu a pedra num monte abaixo da pegada de seu co e (o local) foi chamado deCarn Cabal. E os homens vieram e removeram a pedra com suas mos durante um dia e umanoite; e no dia seguinte foi encontrado sobre aquele monte que foi feito.

    Existe outra maravilha prxima de uma regio que chamada Ercing. Uma lpide localiza-se lprximo a uma fonte chamada Licat Anir, e o nome do homem que est enterrado na sepultura assim: Anir. Era o filho de Artur, o guerreiro, e o prprio Artur o matou e o enterrou nesse local.

    E vieram os homens para medir aquele tmulo que tem de comprimento s vezes seis ps, svezes nove, s vezes doze e s vezes quinze. Nessa medio, mede-se uma vez; de outra vez no seencontrar a mesma medida; eu sozinho o comprovei.

    74. H outra coisa admirvel na regio que se chama Cereticiaun. Existe a um monte Cruc Maurcom um sepulcro no cimo. Qualquer pessoa que venha ao sepulcro e se estenda junto deleembora seja de pequena estatura no comprimento se descobre o sepulcro; se a pessoa for baixa ede pouca idade, do mesmo modo, no s se encontra o comprimento do sepulcro conforme aestatura do homem, mas, se for mais velha e de grande estatura, ainda que fosse de qualquercvados de comprimento, conforme a estatura de cada homem, encontra-se o tmulo.

    Qualquer peregrino e qualquer homem entediado dar trs voltas junto dele; no recair sobreele nenhum tdio at o dia de sua morte; e no ser novamente atingido por tdio algum aindaque esteja sozinho nos pontos extremos do mundo.

    75. A primeira coisa admirvel a praia sem mar. A segunda, a ver a um monte que gira trsvezes por ano. A terceira o vau a existente. Quando o mar est cheio, ele tambm se enche;quando o mar baixa, ele tambm diminui.

    A quarta a pedra que se movimenta noite sobre o vale Citheinn e foi lanada um dia voragemdo Cereuus, que est no meio do mar chamado Mene; e no dia seguinte foi encontrada semdvida na margem do supracitado vale. H a um lago que se chama Luchlein. cercado porquatro crculos (anis). No primeiro crculo cercado por gronna de estanho; no segundo, porgronna de chumbo; no terceiro, por gronna de ferro; no quarto, por gronna de bronze. Nesse lagoencontram-se muitas prolas, que os reis pem nas orelhas.

    Existe outro lago que faz a madeira endurecer-se em pedras. Os homens modelam a madeira edepois de lhe darem forma lanam-na no lago e permanece a at o fim do ano; e no fim do ano seencontra a pedra. Chama-se Luch Echac.