Neoclassicismo, romantismo e realismo

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NEOCLASSICISMO, ROMANTISMO E REALISMO. 1- NEOCLASSISMO Rua de Paris, urbanização no século XVIII O neoclassicismo surge no século XVIII, na Itália, em oposição ao rococó e ao movimento barroco. O principal objetivo dos pintores neoclássicos era resgatar os valores da arte clássica, produzindo obras com temáticas nobres e moralizantes. O neoclassicismo é contemporâneo ao iluminismo francês. O mundo estava mudando rápido naqueles dias. Estamos em meados de 1750. O iluminismo está na moda. Este movimento intelectual critica o absolutismo político, o que significa que nos próximos anos, muitas cabeças nobres irão rolar. Reis serão guilhotinados, e revoluções liberais eclodirão por toda a Europa, trazendo monarquias constitucionais e repúblicas para a nova dança do poder. O neoclassicismo é um movimento cultural revivalista. Os pintores da época buscam suas referências na arte clássica, perpetuando a tradição dos grandes mestres. O retorno aos clássicos é um movimento recorrente no ocidente. Seus dogmas e diretrizes nunca são totalmente esquecidos, mas possuem períodos de maior destaque e influência. Até então, o movimento cultural predominante na Europa era o barroco, associado a Igreja Católica. Com a difusão dos preceitos iluministas e o apelo à racionalidade, a arte necessitava de uma renovação. Na Grécia e Roma antigas, julgou-se encontrar uma arte nobre, moderada e equilibrada. Ideal, portanto, para a propagação de valores importantes para a doutrina iluminista, como a honra, o dever, o patriotismo e o sacrifício. As principais referências eram encontradas na escultura antiga e nas pinturas do Renascimento Italiano movimento cultural igualmente revivalista. Nesta época, também descobriu-se as cidades mortas de Herculano e Pompeia, que coloriram a imaginação dos artistas neoclássicos. Herculano e Pompeia foram soterradas pelas cinzas do vulcão Vesúvio, no ano de 79 d.C., e descobertas em 1749, graças aos avanços da arqueologia. Impressionantemente preservadas, tiveram sua arquitetura, seus afrescos e esculturas utilizadas como referências pelos neoclassicistas. A influência e intervencionismo da Igreja são cada vez mais contestados. E se antes o conhecimento humano ficava enclausurado em bibliotecas de mosteiros e abadias, agora ele é catalogado e vendido em enciclopédias, disponíveis para quem puder pagar. O século XVIII é o século das luzes. A razão e a ciência são as vedetes da vez. Cai a nobreza e o clero, sobe a burguesia, os maiores interessados em todas estas mudanças. Nos séculos anteriores, homens com dinheiro, mas sem origem nobre, estiveram sempre à sombra dos acontecimentos, em lugares secundários. Agora, o céu é o limite. E para obter status social, vale tudo: desde obter instrução e cargos públicos, até pendurar obras de arte na sala para impressionar os vizinhos. Máquinas cada vez mais sofisticadas permitem a produção de itens de consumo em série tem início a Revolução Industrial. Os homens caminham em marcha para as cidades, que assumem um papel de destaque nesta

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NEOCLASSICISMO, ROMANTISMO E REALISMO.

1- NEOCLASSISMO

Rua de Paris, urbanização no século XVIII

O neoclassicismo surge no século XVIII, na Itália, em oposição ao rococó e ao movimento barroco. O

principal objetivo dos pintores neoclássicos era resgatar os valores da arte clássica, produzindo obras com temáticas

nobres e moralizantes. O neoclassicismo é contemporâneo ao iluminismo francês.

O mundo estava mudando rápido naqueles dias. Estamos em meados de 1750. O iluminismo está na moda.

Este movimento intelectual critica o absolutismo político, o que significa que nos próximos anos, muitas cabeças

nobres irão rolar. Reis serão guilhotinados, e revoluções liberais eclodirão por toda a Europa, trazendo monarquias

constitucionais e repúblicas para a nova dança do poder.

O neoclassicismo é um movimento cultural revivalista. Os pintores da época buscam suas referências na arte

clássica, perpetuando a tradição dos grandes mestres. O retorno aos clássicos é um movimento recorrente no ocidente.

Seus dogmas e diretrizes nunca são totalmente esquecidos, mas possuem períodos de maior destaque e influência.

Até então, o movimento cultural predominante na Europa era o barroco, associado a Igreja Católica. Com a

difusão dos preceitos iluministas e o apelo à racionalidade, a arte necessitava de uma renovação. Na Grécia e Roma

antigas, julgou-se encontrar uma arte nobre, moderada e equilibrada. Ideal, portanto, para a propagação de valores

importantes para a doutrina iluminista, como a honra, o dever, o patriotismo e o sacrifício.

As principais referências eram encontradas na

escultura antiga e nas pinturas do Renascimento Italiano –

movimento cultural igualmente revivalista. Nesta época,

também descobriu-se as cidades mortas de Herculano e

Pompeia, que coloriram a imaginação dos artistas

neoclássicos. Herculano e Pompeia foram soterradas pelas

cinzas do vulcão Vesúvio, no ano de 79 d.C., e descobertas

em 1749, graças aos avanços da arqueologia.

Impressionantemente preservadas, tiveram sua arquitetura,

seus afrescos e esculturas utilizadas como referências

pelos neoclassicistas.

A influência e intervencionismo da Igreja são cada vez mais contestados. E se antes o conhecimento humano

ficava enclausurado em bibliotecas de mosteiros e abadias, agora ele é catalogado e vendido em enciclopédias,

disponíveis para quem puder pagar. O século XVIII é o século das luzes. A razão e a ciência são as vedetes da vez.

Cai a nobreza e o clero, sobe a burguesia, os maiores interessados em todas estas mudanças. Nos séculos

anteriores, homens com dinheiro, mas sem origem nobre, estiveram sempre à sombra dos acontecimentos, em lugares

secundários. Agora, o céu é o limite. E para obter status social, vale tudo: desde obter instrução e cargos públicos, até

pendurar obras de arte na sala para impressionar os vizinhos.

Máquinas cada vez mais sofisticadas permitem a produção de itens de consumo em série – tem início a

Revolução Industrial. Os homens caminham em marcha para as cidades, que assumem um papel de destaque nesta

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nova ordem econômica. Muitos sonham com um retorno ao campo, mas a mudança já foi operada: centros urbanos

serão para sempre associados ao progresso e a modernidade.

Nas artes, a ruptura com o passado deve ser substancial. O barroco é abandonado com ares de desprezo – é

associado à Contrarreforma, um movimento da Igreja Católica para atrair fiéis. Mas o que pode assumir o seu lugar?

Confuso, o homem da época é incapaz de assimilar todas as mudanças que estão ocorrendo a sua volta. O jeito é olhar

para o passado e procurar uma referência. Grécia e Roma antigas parecem boas opções. Na Antiguidade, idealiza-se

um período de grandeza serena, de glórias e conquistas, em diversos campos do conhecimento humano. Este retorno

ao passado é conhecido como revivalismo.

Características:

Sofre influências do iluminismo, da Revolução Industrial e da ascensão burguesa;

O revivalismo como uma das principais características do neoclassicismo;

Resgatar os valores da arte clássica, produzindo obras com temáticas nobres e moralizantes. O neoclassicismo

é contemporâneo ao iluminismo francês.

Buscam inspiração na história grega e romana, na mitologia e na Bíblia, adaptando estas temáticas aos ideiais

iluministas. Assim, apesar da temática antiga, as pinturas são comentários políticos sobre a França do seu

tempo;

Mesmo ao retratar eventos mais recentes, o estilo é grandiloquente, revestido de nobreza e dignidade, através da obediência aos padrões estilísticos dos grandes mestres;

Temáticas nobres, com motivos atemporais e significações universais. Muitas pinturas possuíam um claro

propósito moralizante e panfletário. Virtudes como a coragem, a dedicação, o sacrifício e o patriotismo são

exaltadas;

A pintura histórica é considerada a mais nobre forma de arte. Antes da realizar uma pintura histórica,

pesquisas são realizadas, para conferir a obra uma impressão de autenticidade fatual. Muitas vezes, utiliza-se a

iconografia cristã com o propósito de dotar um tema de nobreza e significação moral;

As Técnicas do Neoclassicismo

A técnica neoclassicista era ensinada nas tradicionais Academias de Arte. Para os pintores da época, os antigos captaram de maneira notável a simplicidade e elegância da natureza, por isso, eram a referência máxima. Na pintura neoclássica, os contornos são nitidamente definidos – privilegia-se o desenho, ao invés da cor. As pinceladas não devem ser visíveis. Nas figuras humanas, as referências são as estátuas gregas e romanas, a anatomia é representada com precisão e a pele é pintada de forma naturalista. A Morte de Marat, 1793, David

Nos cenários, busca-se uma economia de elementos, atendo-se ao essencial para a representação do espaço. Linhas retas ocupam o lugar das delicadas curvas e espirais do movimento barroco, e as texturas são representadas realisticamente. As cores são fortes e sóbrias, substituindo os tons pasteis do barroco.

O Juramento dos Horácios, 1784, David

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A iluminação, muitas vezes, é pontual, conferindo às pinturas um ar de encenação teatral, o que salienta o caráter simbólico do tema. Apesar do uso dramático de luz e sombra, evita-se áreas muito escuras, que impediriam a correta apreciação do desenho.

Cleombrotus ordenada em banimento por Leonidas II, rei de Esparta, 1768, Benjamin Oeste

Nos retratos, as pessoas são representadas como figuras clássicas. O

pintor sente-se à vontade para adaptar e corrigir certas características

dos modelos que não considere apropriadas, criando uma arte ideal.

Há um modelo de beleza pré-definido.

Retrato/Portrait of Louisa Leveson Gower as Spes, 1767, Angelica

Kauffman

Salão de Paris, características do Salon de Paris - Principal exposição do período neoclássico

Salão de Paris

O Salão de Paris foi fundado em 1667 na capital francesa, e reunia o trabalho de artistas

contemporâneos. Durante muitos séculos, foi à exposição oficial de arte da França. Regulamentada por órgãos

do Estado, estava ligado a “Real Academia Francesa de Pintura e Escultura”, cujos docentes integravam a

comissão de jurados e conferiam prêmios aos artistas segundo critérios próprios.

A exposição foi chamada de “salão” pelo fato de ter sido organizada no Salon d’Apollon, no Louvre.

Ocorreu anualmente de 1667 a 1736, depois bienalmente até o ano de 1789, para voltar a ser organizado todos

os anos. Contou com subvenção estatal até 1881, quando passou a ser organizado pela “Sociedade dos Artistas

Franceses”.

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O sistema de seleção por júri, característico em exposições de arte até hoje, foi introduzido no Salão

em 1748. O júri, composto de acadêmicos de arte e pintores consagrados em outros salões, possuía dois

momentos de avaliação das obras: primeiro, selecionava os quadros que fariam parte da mostra, e depois

conferia prêmios aos destaques do evento. Participar do Salão, além de propiciar prestígio ao artista, era uma

oportunidade de vender suas obras – especialmente para o Estado – e conseguir patrocínios.

Tradicionalmente, manteve-se pouco aberto a novas técnicas e linguagens. No século XIX, foi

gradativamente perdendo o seu destaque, principalmente com o surgimento das vanguardas artísticas. Outros

salões passaram a ser organizados, como a Mostra Impressionista (1776) – primeira exposição baseada em

uma estética, e não em um júri -, e o Salão dos Independentes (1884).

ROMANTISMO

O romantismo é um movimento artístico

surgido na Europa, nas últimas décadas do século

XVIII. O romantismo surge em reação ao racionalismo

do movimento neoclássico. Os pintores do romantismo

buscam inspirar com a sua obra emoções fortes,

baseadas em visões subjetivas de mundo.

O século XVIII é conhecido como o

século das revoluções. A queda da monarquia francesa

é o marco definitivo que limita o fim da Idade Moderna

e o início da Idade Contemporânea. Inflados por ideais

liberais, a plebe guilhotina seus reis, e exige mudanças

em todos os setores da sociedade.

A Liberdade Guiando o Povo, Delacroix

Mas a paz e a tranquilidade ainda demorariam a vingar em solo europeu. Com o século XIX, vem

Napoleão e suas guerras infindáveis. Quando Rússia, Prússia e Áustria derrotam Napoleão Bonaparte e se

unem na chamada Santa Aliança, tomam uma série de medidas cujo intuito é manter o absolutismo como

forma de governo. Trazem novamente ao trono francês a família Bourbon, na figura de Luís XVIII. E

resguardam-se o direito de intervir em qualquer território onde a monarquia esteja ameaçada.

Mas na década de 1820 revoluções explodem por todo o continente europeu: a Bélgica liberta-se da

Holanda, a Grécia liberta-se da dominação Turca, há uma tentativa fracassada de unificar a Alemanha e a

Itália. Revoltas populares também ocorrem em Portugal e Espanha. Não há volta: ideologias de liberalismo e

nacionalismo sopram em todas as direções.

Em 1830, o povo francês, unido a sociedades secretas republicanas e a burguesia, realiza uma série de

levantes contra o rei Carlos X – que havia assumido após a morte de Luís XVIII ( O terror Branco) e tomado

uma série de medidas impopulares, como suprimir a liberdade de imprensa e dissolver a Câmara dos

Deputados. O rei abdica, e parte para o exílio na Inglaterra. Sucede-lhe o filho, que abdica depois de 20

minutos, e o sobrinho, que abdica após 7 dias. Assume Luís I, da casa de Orléans, um ramo menor da Casa

Bourbon. É o último rei da França, tendo abdicado em 1848.

Revolução de 1830, na França

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Após a revolução de 1830 na França, uma nova onda de revoltas alastrou-se pela Europa. Além das

guerras e revoltas armadas, o homem contemporâneo ainda precisava lidar com uma crise econômica de

proporção mundial, com um proletariado urbano faminto e desenganado.

São nestes anos turbulentos que floresce o romantismo. Coexiste na mesma época do neoclassicismo,

mas possui uma forma diferente de ver o mundo.

O conceito da Teoria do Sublime e seu uso nas pinturas do romantismo

Conceitualmente, o romantismo utilizou-se da chamada “teoria do sublime”, desenvolvida pelo inglês

Edmund Burke – e logo difundida pelo iluminista Denis Diderot, na França. Burke escreveu, em 1757, o tratado “Uma

Investigação Filosófica Sobre a Origem de Nossas Ideias do Sublime e do Belo”.

A natureza nas pinturas do romantismo não é serena e apaziguadora, mas devastadora e misteriosa. Os

traços não são claros e precisos, mas confusos e incertos, apostando na imaginação para preencher as lacunas. O

homem não é perfeito, mas pequeno e solitário, capaz tanto de realizar o bem quanto praticar o mal.

Os românticos buscavam imprimir em suas obras o sublime. Sublime é tudo o que exalta a alma,

espanta os sentidos, tudo o que é grandioso. Tal deleite sensorial pode ser obtido com a beleza extrema e com as luzes,

mas também com a feiura e as trevas. O horror também pode ser extraordinário. Para Burke, inclusive, o terror é

causador da mais forte emoção que a mente é capaz de sentir. Ao se notar que este terror é fictício, experimenta-se o

deleite. O romantismo é um movimento heterogênico, de grande

pluralidade artística. Baseia-se mais em ideias do que em

características formais. Assim, enquanto alguns pintores

criam desenhos precisos e elaborados, outros utilizam

pinceladas mais impulsivas e vigorosas, visíveis no quadro.

As formas podem ser obtidas com massas de cor.

O Exército de Aníbal Atravessando os Alpes, Turner, 1812

A composição tendia a ser movimentada e dinâmica, desenvolvendo-se em grandes linhas diagonais.

Comum a todos os artistas românticos, a valorização da

cor como tradução eficaz de sentimentos,

principalmente emoções fortes. Utiliza-se o claro-

escuro em relações contrastadas, para maiores efeitos

de dramaticidade. Os Fuzilamentos de Três de Maio, Goya

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REALISMO

Revolução de 1848

O conjunto de revoluções que acontecem em toda a Europa no ano de 1848 é conhecido como

Primavera dos Povos. Ocorrem em função de regimes governamentais autocráticos, crises econômicas e falta

de representação política das classes médias. Iniciada por burgueses e nobres que desejavam um governo

constitucional, tem a adesão de trabalhadores e camponeses que se rebelam contra os excessos do capitalismo.

O capitalismo, aliás, está em crise. Os anos de 1845 e 1846 são de péssimas colheitas, o que elevou

drasticamente os custos de vida e levou à miséria famílias inteiras de camponeses. Com menos pessoas

comprando produtos manufaturados, a crise atingiu a indústria. Assim, a massa popular estava suscetível aos

apelos revolucionários difundidos pelos socialistas.

As Revoluções de 1848 se iniciam na França, com a queda do último rei francês, Luís I, e a

instauração da república. Neste mesmo ano, Napoleão III, sobrinho do antigo imperador, é o primeiro

presidente eleito por sufrágio universal. Seu mandato seria de quatro anos, mas Napoleão articula um golpe de

estado e nomeia-se imperador da França, assim como Napoleão Bonaparte havia feito anos antes.

As revoluções expandiram-se pela Europa, em países como Áustria, Alemanha e Hungria. Seus efeitos

foram sentidos inclusive no Brasil, com os rebeldes republicanos da Revolução Praieira. Foi um despertar do

nacionalismo dos povos.

Embora ansiassem pelo mesmo ideal – a eleição de representantes políticos pelo voto -, as revoluções

de 1848 separaram definitivamente a burguesia e o proletariado. Enquanto os primeiros desejavam a

manutenção da propriedade e planos de desenvolvimento econômico, as classes menos favorecidas queriam

reformas sociais e o fim da desigualdade. Os interesses burgueses prevaleceram.

Os artistas tomaram as dores do povo. Inicia-se o movimento cultural do realismo.

Características do Realismo, Artistas do Realismo, obras do Realismo

O realismo é um movimento artístico surgido na segunda metade do XIX, na França. Os artistas

interessavam-se pela realidade de sua época, e não raro as pinturas traziam reflexões sociais e

políticas.

Os Quebradores de Pedras, Gustave Courbet

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Um dos marcos iniciais do movimento é a exposição da obra “Enterro em Ornans”, de Gustave Courbet, pintada em 1849.

Enterro em Ornans Autor: Gustave Courbet

Ano: 1849

Técnica: Óleo sobre tela

Tamanho: 315cm x 668cm

Movimento Artístico: Realismo

Museu: Museu d’Orsay, Paris, França

A técnica no movimento artístico do realismo

O realismo a que se propõe o movimento não é a exatidão fotográfica,

mas a exaltação da verdade, acentuando-se nos temas elementos que

melhor o representem e eliminando o que for acessório.

The Fifer, Manet, 1866

Os artistas do realismo buscam um equilíbrio

entre a linha (associada a intelectualidade) e a

cor (emotividade). Privilegia-se os tons fechados

e menos vibrantes. O traço é expressivo e

denuncia a personalidade de seu criador. The Forest of Fontainebleau, Corot, 1830-1832

Ao deixar um vestígio visível da atividade física

de fazer o quadro, bem como ao ignorar certas

convenções pictóricas (perspectiva,

proporção…), o artista chama a atenção para o

caráter ilusório da pintura. A obra deixa de

representar a realidade para se tornar uma

realidade e m si.

The Village Maidens, Courbet, 1851-1852

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Características e diferenças entre a pintura do romantismo e do realismo

Odalisca Reclinada, de Delacroix (1827) e Olympia, de Manet (1863)

O romantismo surge nas últimas décadas do século XVIII. O realismo, por sua vez, surge na segunda metade

do século XIX, na França, influenciado pelas teorias científicas e filosóficas de sua época.

Abaixo, algumas diferenças fundamentais entre os movimentos do romantismo e realismo:

Imaginação x realidade: os pintores do romantismo elegem a imaginação como a faculdade artística

criadora por excelência. Já os realistas acreditam que a beleza está na realidade ao redor, e que cabe

ao artista descobri-la e acentuá-la. Pintores realistas sustentam que temas abstratos e imaginados não

pertencem ao domínio da pintura;

Escapismo x engajamento: costumeiramente, os artistas românticos buscam evadir-se no tempo e no

espaço, através de pinturas históricas, mitológicas, narrativas ou exóticas. Já os realistas exaltam o seu

próprio tempo e o heroísmo da vida cotidiana e moderna. Podem, inclusive, enriquecer suas obras de

intenções políticas e sociais;

Emoção x objetividade: pintores do romantismo elegem a cor como modo especial de expressão. Suas

pinceladas são impetuosas, rápidas e impulsivas. Os artistas do realismo buscam um equilíbrio entre a

linha (associada a intelectualidade) e a cor (emotividade). As cores são menos vibrantes do que na

escola romântica;

Ilusionismo x verdade: os pintores realistas chamam a atenção para os processos reais da pintura –

traço, pincelada, cor, composição. Este vestígio físico da atividade de se fazer o quadro, bem como a

quebra de regras acadêmicas como a perspectiva e a profundidade de campo, denunciam o aspecto

ilusório da pintura.

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PINTORES NEOCLÁSSICOS A Coroação de Napoleão, de Jacques-Louis David

Ficha Técnica - A Coroação de Napoleão: Autor: Jacques-Louis David Onde ver: Museu do Louvre, Paris, França Ano: 1805 a 1807 Técnica: Óleo sobre tela Tamanho: 979 cm x 629 cm Movimento: Neoclassicismo

A obra, pintada entre os anos de 1805 e 1808, encontra-se exposta no Museu do Louvre, em Paris, na França.

O principal foco de atenção do quadro é seu tamanho.

Reza a lenda que Napoleão supervisionou o trabalho de David e visitava regularmente seu ateliê para verificar

o progresso do pintor com o quadro. Uma cópia da composição foi feita pelo próprio pintor oficial da corte francesa e

encontra-se no palácio de Versalhes.

A Morte de Marat, de Jacques-Louis David

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A vítima foi um dos principais membros da Convenção Nacional - órgão que governou a França na época do

Terror, Revolução Francesa. Sua orientação política extremista fez com que reunisse muito inimigos, em especial após

a queda dos girondinos.

Em 13 de julho, uma jovem chamada Charlotte Corday, uma adversária política de Marat, obteve uma

audiência com ele em sua sala de banho. Algo comum, já que ele sofria de uma doença de pelo que o forçava a tomar

banhos frequentemente. Por isso, o revolucionário usava seu banheiro como escritório.

Durante a reunião, Corday esfaqueou Marat até a morte. Em seu julgamento, ela declarou: "Eu matei um

homem para salvar cem mil vidas". Três dias após, ela foi mandada para a guilhotina.

Jacques-Louis David foi convidado pela Convenção a pintar um memorial a Marat. Ele era uma boa escolha,

porque compartilhava dos mesmos ideais revolucionários e tinha um estilo neoclássico rigoroso, adequado à situação.

Depois da Revolução, o quadro se tornou constrangedor para o novo regimo e em 1795 foi devolvido a David.

Sua reputação só foi ser restaurada com o poeta e crítico de arte Charles Baudelaire que, sobre ela, comentou: "Esta

obra contém algo ao mesmo pungente e terno; uma alma alça voo no ar frio do aposento, entre estas paredes frias, em

volta desta fria banheira funerária".

Detalhes de A Morte de Marat se destacam:

1. Face de Marat

Durante a Revolução, Marat foi um dos homens mais poderosos da França. Ele

foi um jornalista radical, editor da publicação L'Ami du Peuple (O Amigo do

Povo). David alterou a aparência do amigo para ajustá-la à de um herói

martirizado. Removeu suas marcas de pele e o rejuvenesceu, embora Marat

realmente usasse esta espécie de turbante molhado de azeite devido a sua

doença.

2. Faca do crime A faca de Charlotte está no chão, como se ela estivesse fugido

e deixado-a no chão. Segundo alguns relatos, porém, a faca ficou alojada no

peito de Marat. Mas David excluiu todo elemento que prejudicasse a imagem

de mártir do revolucionário. Ele também "limpou" a imagem, deixando-a com

pouco sangue e mudando o fundo ornamentado do banheiro.

3. Mobília Para enfatizar que Marat

era um "homem do povo", David

pintou este caixote velho como uma

escrivaninha improvisada. Foi nesta

superfície em que o artista assinou

sua dedicatória "Ao Marat, David".

4. Carta na mão A carta na mão de

Marat é uma apresentação de

Charlotte: "Basta minha grande

infelicidade para dar-me o direito à

sua bondade". David distorce a

verdade para destacar a natureza

generosa do assassinado e demonizar

a assassina. Na verdade, Charlotte

conseguiu entrar porque afirmou ter

informações sobre os reacionários,

inimigos monarquistas.

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A Banhista de Valpinçon, de Jean-Auguste Dominique Ingres

Ficha Técnica - A Banhista de Valpinçon:

Autor: Jean-Auguste Dominique Ingres

Onde ver: Louvre, Paris, França

Ano: 1808

Técnica: Óleo sobre tela

Tamanho: 146cm x 97cm

Movimento: Neoclassicismo

A obra, originalmente chamada de A Mulher Sentada, acabou por receber o nome do colecionador a quem

pertencia quando foi comprada pelo Louvre, em 1879. A obra foi pintada em Roma, onde Ingres esteve de 1806 a

1810. A imagem transmite uma sensação de contemplação distraída e encanto sensual.

Existe na obra uma preocupação maior com os contornos fluidos do corpo da mulher do que com a sugestão

de estrutura óssea da mesma. Isso é especialmente evidente na perna direita, desenhada com graça. No entanto, se

observada de perto é possível perceber que essa parece ter sido enxertada nos panos acima dela, ao invés de conectar-

se de modo convincente ao corpo.

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Detalhes de A Banhista de Valpinçon se destacam:

1. Turbante e rosto:

Apenas uma parte do rosto da banhista é visível, o que

destaca ainda mais o seu turbante listrado. Alguns outros

nus de Ingres seguem essa tradição orientalista.

2. Costas:

A vasta área das costas da banhista cria um conjunto de

formas abstratas, mas ao mesmo tempo transmite a

suavidade da carne viva.

3. Ombro:

O contorno liso do ombro esquerdo sintetiza a filosofia

idealista do artista sobre a representação do corpo feminino.

Todas as angulosidades e irregularidades reais que indicam

ossos e tendões sob a pele foram substituídos pela perfeição.

4. Pé e sandália:

Ingres concebeu as formas da banhista de modo amplo, em

especial quando comparadas às delicadas rendas da sandália.

Isso passa a impressão de que a mulher não tem ossos nem

tornozelos.

A Grande Odalisca

Ficha Técnica - A G A Grande Odalisca: Autor: Jean-Auguste Dominique Ingres Onde ver: Museu do Louvre, Paris, França Ano: 1814 Técnica: Óleo sobre tela Tamanho: 91cm x 162cm Movimento: Neoclassicismo

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Originalmente, a obra deveria formar par com outro nu pintado por Jean-Auguste Dominique Ingres, porém o

regime de Bonaparte desmoronou, obrigando Carolina a fugir. Desta maneira, o segundo nu, uma pessoa dormindo,

foi destruído.

Ingres era fiel ao estilo neoclássico, com uma obra de atmosfera serena, e mais atenção aos contornos do que à

cor em sua pintura. A Grande Odalisca foi pintada em Roma, durante um período em que o artista desfrutava de uma

reputação muito melhor na Itália do que na França.

Na obra a modelo é retratada como uma mulher de um harém, adotando, assim, o gosto temático pelo

orientalismo, popular entre os artistas românticos. Mesmo com essa afinidade, o pintor permaneceu contrário aos

ideais românticos até sua morte.

Detalhes de A Grande Odalisca se destacam:

1. Olhar de soberba: Apesar de sua nudez, a odalisca é representada de maneira a

parecer distante e inacessível. Ela esconde o seu corpo do espectador e oferece a ele

um olhar arrogante, sem sinais de simpatia. O efeito ainda é reforçado pelo fundo e

pelos tons frios e prateados dos tecidos e acessórios.

2. Pose estranha: A obra e repleta de contradições. A imagem parece exemplificar,

ao mesmo tempo, a indolência mimada e a sensualidade natural da mulher. No entanto, ao ser melhor analisada, é

possível perceber que sua pose é rígida e estranha.

3. Incensário: Talvez o artista estivesse interessado em exagerar nas curvas de sua modelo para reforçar o apelo visual,

mas também investiu na ilusão simples para aguçar outros sentidos do espectador. Isso fica evidente com os rastros

finos de fumaça que saem do incensário, retratados com precisão. Isso evoca uma atmosfera perfumada e inebriante,

enquanto as texturas dos tecidos exibem uma aparência palpável.

4. Curvatura das costas: A posição em que a modelo está, com suas costas estranhamente curvadas, passa a impressão

de que a moça possui três vértebras a mais. Ingres sabia bem disso, mas não sentiu remorsos ao distorcer sua imagem

para criar um contorno mais agradável e sensual.

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PINTORES ROMÂNTICOS Liberdade Guiando Povo / Eugène Delacroix

A obra “A Liberdade Guiando o Povo” foi pintada por Eugène Delacroix em 1830, em

homenagem ao levante popular ocorrido neste mesmo ano. Delacroix é um dos pintores mais

característicos do romantismo francês.

Destaques da obra “A Liberdade Guiando o

Povo”:

1- A liberdade: representada como uma deusa

clássica, sinônimo de virtude e eternidade. No

entanto, seus traços robustos são comuns ao povo

francês. Empunha uma arma moderna – um

mosquete.

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2- Os cadáveres: os mortos são membros da guarda de elite do rei. O realismo dos cadáveres é

inspirado em obras de Antoine-Jean Gros, pintor que Delacroix admirava.

3- O homem sem calças: outro fator que torna a obra complexa e ambígua é a presença deste cadáver

desnudado, um homem desprovido de sua dignidade. Suas roupas foram furtadas, e

provavelmente pelos revoltosos. Outros personagens do quadro apresentam-se com objetos

roubados dos cadáveres. Assim, mesmo entre aqueles que lutam pela liberdade, há atitudes

censuráveis. Delacroix não se esforça para “higienizar” o conflito ou torna-lo mais nobre. A

guerra, em si, parece-lhe indigna.

4-

5- As bandeiras: duas bandeiras são retratadas

no quadro, uma empunhada pela liberdade, e

outra sobre a Catedral de Notre Dame. A

bandeira tricolor foi utilizada na Revolução

Francesa de 1789 e nas guerras de Napoleão.

Após a derrota deste em Waterloo, a bandeira

não foi mais utilizada. O regresso deste

símbolo é carregado de emoção, como se o

povo reconquistasse o seu orgulho.

6- O campo de batalha: o centro da revolução de 1830 foi a Ponte d ‘Arcole, e provavelmente este é

o cenário da pintura. Porém, nenhum posto de observação permite esta vista de Notre Dame.

Como outros pintores românticos, Delacroix abdica de uma fidelidade literal aos fatos em prol de

um maior efeito dramático. Converte acontecimentos contemporâneos em imagens míticas.

Page 17: Neoclassicismo, romantismo e realismo

7- A composição: é uma composição

clássica, piramidal, em que a liberdade

ocupa o vértice da pirâmide. O mosquete

com baioneta que a liberdade empunha

cria uma linha paralela com a arma

segurada pela criança. No restante do

quadro, várias linhas diagonais trazem

dinamismo à composição.

8- As cores: as cores vivas da bandeira auxiliam o destaque para a mulher que simboliza a liberdade.

Nota-se que o vermelho da bandeira está sobre o céu azul, o que o salienta ainda mais. As cores se

repetem nas roupas do trabalhador aos pés da liberdade. As vestes da liberdade são pintadas em

um tom mais claro do que aqueles encontrados no restante da pintura, facilitando o sentido de

leitura.

9- A luz: Delacroix dominava a técnica do

chiaroscuro/ claro-escuro. Estes fortes

contrastes de luz e sombra conferem

maior dramaticidade à cena. Na

paisagem, a luz do entardecer se mistura

a fumaça dos canhões, dissolvendo-se em

um brilho marcante.

10- A pincelada: as pinceladas de Delacroix

são visíveis na tela, o que contraria as

regras acadêmicas que determinam que a

pincelada deve ser “invisível”.

Page 18: Neoclassicismo, romantismo e realismo

John Constable Obra: A Carroça de Feno A Carroça de Feno, do pintor inglês é a obra homenageada hoje pelo projeto Um Pouco de Arte para sua Vida. O quadro parece cheio de atmosfera e evoca a impressão de um dia de verão no campo inglês. A

p

Ficha Técnica - A Carroça de Feno:

Autor: John Constable

Onde ver: National Gallery, Londres, Reino Unido

Ano: 1821

Técnica: Óleo sobre tela

Tamanho: 130,2cm x 185,4cm

Movimento: Romantismo

Paisagem com duas figuras atravessando um rio raso numa carroça parece incontroversa, as quando a obra foi

exposta pela primeira vez, em Londres, no ano de 1821, representou uma ruptura radical com as convenções temáticas

e técnicas. Por esse motivo a pintura acabou não sendo levada a sério.

Para o artista, o mundo natural era inspirador e afetava profundamente a sua produção. Constable buscava

expressar sua reação pessoal à natureza por meio de seus quadros inovadores, que

representavam a paisagem cotidiana inglesa em escala grandiosa.

Em A Carroça de Feno o pintor buscava transmitir o movimento, a

vitalidade e a luz refletida que via no trecho de rio. O céu possui uma

profundidade realista e os aspectos cambiantes se refletem na superficie dos

campos e do rio. As nuvens ondulantes dão ritmo e movimento à cena.

Detalhes de A Carroça de Feno se destacam:

1. A carroça de feno: O foco da pintura de Constable é uma tradicional carroça de

madeira usada para carregar feno que parece ter servido por muitas temporadas.

Os dois trabalhadores rurais sentados na carroça acrescentam interesse humano à

cena e sugerem um modo de vida em sintonia com a natureza.

Page 19: Neoclassicismo, romantismo e realismo

2. Lavadeira:

Uma mulher aparece ajoelhada em um estrado que se prolonga a partir da casa. Não fica claro

que ela esteja lavando roupas no rio ou se está apenas recolhendo água, já que um jarro de

banho encontra-se posicionado logo atrás dela. Sua inclusão na paisagem ilustra um dos

aspectos da vida doméstica na comunidade de trabalho rural.

3. Cão:

Logo à beira da água, de pé, encontra-se um cachorro, elemento importante da pintura que

dirige o olhar do espectador para o foco desejado pelo artista. Um dos homens na carroça

gesticula para o animal, sugerindo uma história.

Catedral de Salisbury

(1776-1837) a partir da Catedral de Salisbury Meadows

Page 20: Neoclassicismo, romantismo e realismo

A Última Viagem do Temeraire, de William Turner Ficha Técnica - A Última Viagem do Temeraire: Autor: William Turner Onde ver: National Gallery, Londres, Reino Unido Ano: 1839 Técnica: Óleo sobre tela Tamanho: 90,7cm x 112,6cm Movimento: Romantismo

Como uma aparição, o espetáculo luminoso de um navio de guerra de altos mastros desliza na direção do

espectador pelas águas calmas do rio Tâmisa. O barco desempenhou um papel fundamental na batalha de Trafalgar,

auxiliando o barco Victory, de lorde Nelson, que era atacado pelos inimigos.

Apesar da aura de esplendor retratada na pintura, o barco está em um estado lamentável, despojado de

qualquer utilidade e sendo rebocado para estaleiro de Rotherline, onde será desmontado. A bandeira branca no

rebocador simboliza a rendição do Temeraire a seu destino.

O pintor combinou muitos fatores para dar à obra o ar memorável e

comovente que ela possui: o cenário sublime, assim como o equilíbrio harmonioso

da composição são uma metáfora da vida e da morte do velho barco. Até mesmo a

boia preta do barco representa o fim de uma era.

Detalhes de A Última Viagem do Temeraire se destacam:

1. Navio fantasma:

Com três deques e 98 armas de fogo, o navio ficou atracado no porto por diversos

anos. Os três mastros e o cordame do navio foram removidos e a pintura estava

descascando. No entanto, a versão apresentada por Turner o barco está elegante e

romântico, com tons de branco e dourado.

Page 21: Neoclassicismo, romantismo e realismo

2. Rebocador industrial: No dia da viagem final, outro barco seguiu o

Temeraire, mas Turner preferiu excluí-lo da pintura, para enfatizar o

contraste entre o rebocador a vapor feio e escurecido e o majestoso

barco a velas branco.

3. Pôr do sol flamejante: O sol poente representa o fim da era das

velas, assim como do Temeraire. O céu vermelho-sangue, refletido na

superfície da água, serve para relembrar os sacrifícios feitos pela

marinha britânica na Batalha de Trafalgar.

4. Velas enfunadas: No horizonte, bem à direita do rebocador, é

possível distinguir a forma de outro barco a vela fantasma.

Provavelmente o barco foi incluído para reforçar a mensagem do

quadro: o fim dos barcos a vela e a inevitável transição para a era dos

barcos a vapor.

Page 22: Neoclassicismo, romantismo e realismo

PINTORES REALISTAS

Gustave Courbet

Jean-Desiré Gustave Courbet nasceu em Ornans, França, no dia 10 de

junho de 1819. De uma abastada família de proprietários rurais, interessa-

se desde cedo pelo desenho e pela política. Em 1840, muda-se para Paris,

onde opta por não frequentar a tradicional Academia de Arte, preferindo

cursos livres como os da Académie Suisse.

A partir de 1844, Gustave Courbet passa a utilizar em suas obras uma espátula de aço, com a qual empasta

generosamente a tinta sobre a tela. Gustave Courbet pinta de modo instintivo, com grande destreza. Gradativamente,

vai abandonando o romantismo de suas primeira telas, e passa a se interessar pelo mundo concreto e visível. Pinta

personagens de sua própria época, bem como motivos políticos e sociais. Gustave Courbet torna-se um dos principais

nomes do movimento realista.

Em 1855, na Exposição Universal de Paris, diversos quadros de Gustave Courbet são recusados pela

organização do evento, dentre eles “Enterro em Ornans” e “O Atelier”. Gustave Courbet então manda construir uma

pequena casa próxima à Exposição, onde inaugura o “Pavilhão do Realismo“. Com 41 quadros, a mostra é financiada

pelo próprio artista.

Nos anos seguintes, graças a amigos influentes, como o marchand Bruyas, Gustave Courbet desfruta de uma

vida tranquila e financeiramente estável. Pinta principalmente paisagens e nus femininos. Em 1871, no entanto,

Gustave Courbet envolve-se nos episódios da Comuna de Paris (governo revolucionário operário e socialista que

comandou Paris por cerca de 40 dias).

Com a derrota da Comuna, o pintor, que durante o episódio atuou como presidente da Comissão dos Artistas,

é responsabilizado pela destruição de um monumento histórico, a coluna napoleônica da Praça Vendôme. Condenado

a pagar as despesas astronômicas de restauração do monumento, Gustave Courbet busca asilo político na Suíça. Morre

neste país, em La Tour de Pailz, de cirrose hepática, no dia 31 de dezembro de 1877.

Durante a vida, Gustave Courbet foi estigmatizado como um pintor grosseiro e vulgar. Suas obras eram tão

polêmicas que, na segunda metade do século XIX, alguns cafés aristocráticos de Paris exibiam cartazes pedindo aos

clientes que não discutissem Gustave Courbet. Conta-se que, em um Salão de Outono, Napoleão III chicoteou um dos

quadros do artista, irritado com a vulgaridade da pintura.

O que indignava o público e os críticos da época era a adesão de

Gustave Courbet a uma nova tendência artística, o realismo. Ao

invés de pintar graciosas mulheres nuas, bailarinas árabes,

escravas romanas ou ninfas gregas, em poses lânguidas e

passivas, Gustave Courbet retratava mulheres de seu próprio

tempo, figuras popularescas recendendo a suor. A beleza, para

Gustave Courbet, estava no mundo visível.

Apesar de provocar repulsa em um público acostumado às

pinturas neoclássicas e românticas, Gustave Courbet vendia bem.

Possuía amigos influentes, dentre eles o marchand Bruyas, seu

principal mecenas. As críticas inflamadas a sua obra, ao invés de

incomodar ou ofender, lisonjeavam o artista. Gustave Courbet

via-se como o arauto de uma nova estética.

Woman with white stockings, 1861

Page 23: Neoclassicismo, romantismo e realismo

Embora não possuísse uma boa oratória e seus argumentos muitas vezes soassem confusos, Gustave Courbet

jamais se negou a discutir o realismo de suas obras, seja nos bares, cafés ou nos Salões de Paris. Era um homem

apaixonado pelo seu ofício, e politicamente envolvido com as transformações de sua época.

A Origem do Mundo / Courbet

L’ORIGIN DU MONDE

Autor: Gustave Courbet

Ano: 1866

Técnica: óleo sobre tela

Tamanho: 46cmx55cm

Museu: Museu d’Orsay,

Paris, França

Movimento Artístico:

Realismo

A obra “A Origem do

Mundo” foi pintada por

Gustave Courbet em 1866,

encomendada pelo

diplomata turco otomano

Khalil-Bey, colecionador de

imagens de nus femininos.

Destaques da obra : A Origem do Mundo

O close: o enquadramento de “A Origem do Mundo” é bastante incomum, e possui uma clara

intenção de escandalizar o público, especialmente devido ao seu realismo gráfico. A pintura é

realizada com tantos detalhes que lembra uma fotografia;

A mulher: especula-se que uma moça de nome Joanna Hiffernan tenha servido de modelo

para a obra “A Origem do Mundo”. Joanna, conhecida como Jo, era amante do pintor James

Whistler, amigo de Gustave Courbet.

O quadro: em fevereiro de 2013, a revista Paris Match publicou uma matéria sobre a

descoberta de outro suposto quadro de Gustave Courbet, a cabeça de uma mulher, que seria

uma parte cortada da tela “A Origem do Mundo”. Segundo a revista, esta conclusão é fruto de

dois anos de pesquisa e análise. Assim, “A Origem do Mundo” faria parte de um trabalho

maior. Apesar de endossada por alguns especialistas, a hipótese foi descartada pelo Museu

d’Orsay, atual proprietário da tela de Gustave Courbet.

Estudos sobre o quadro “A Origem do Mundo”

Page 24: Neoclassicismo, romantismo e realismo

Apesar de ser uma obra de encomenda, “A Origem do Mundo” é um manifesto de Gustave Courbet

contra as instituições acadêmicas. Até então, a tradição neoclássica ditava a pintura do nu feminino com

base no estatuário grego e romano. Eram corpos idealizados, estereotipados e claramente irreais. Um

símbolo da Beleza.

Mais: a temática do nu só era aceita se deslocada no tempo no espaço. Assim, o tema era constante

em pinturas mitológicas e históricas. Durante o século XIX, a exibição do corpo feminino passou por uma

revolução encabeçada por Gustave Courbet e Édouard Manet. As mulheres representadas passaram a ser

personagens de seu próprio tempo, mundanas e prosaicas.

Em “A Origem do Mundo, portanto, Gustave Courbet pinta o que vê, em uma obra genuinamente

realista. E se o quadro é capaz de chocar até mesmo o público atual, é porque a obra testa os limites de nossa

própria moralidade e liberdade de expressão.

O Ateliê do Pintor, de Gustave Courbet

O quadro é considerado uma das autopropagandas mais elaboradas.

Ficha Técnica - O Ateliê do Pintor:

Autor: Gustave Courbet

Onde ver: Musée D'Orsay, Paris, França

Ano: 1854-1855

Técnica: Óleo sobre tela

Tamanho: 3,61m x 5,98m

Movimento: Realismo

Courbet se apresentava trabalhando em um ateliê que lembrava uma caverna, em meio a uma multidão

diversificada e enigmática. A cena é pintada com grandeza e segurança, mas, embora as figuras sejam vividamente

retratadas individualmente, de maneira coletiva elas não possuem um sentido óbvio.

Page 25: Neoclassicismo, romantismo e realismo

A pintura é considerada uma das obras-primas centrais do século XIX. O quadro foi criado para a grande

Exposição Universal realizada em Paris no ano de 1855, mas foi rejeitada pela comisão de seleção. Depois de ter sido

rejeitado, Courbet montou uma exposição individual sua no "Pavilhão do Realismo", erguido às próprias custas

Detalhes de O Ateliê do Pintor se destacam:

1. Budelaire: Sentado entre os amigos de

Courbet encontra-se Charles Budelaire, um

dos principais poetas franceses da época. Os

dois se conheceram em 1848, em um refúgio

de artistas e intelectuais.

2. Courbet: A figura do pintor encontra-

se no centro do grupo bastante

diversificado. O artista faz um largo

gesto com o pincel. Na verdade ele não

trabalhava assim em suas pinturas, mas

por ser absolutamente vaidoso, quis

exibir seu perfil. A modelo ao seu lado,

nua, tem sido interpretada como uma

encarnação da verdade.

3. Amantes da arte:

O casal em pé, em destaque à direita, exemplificam os amantes da arte ou colecionadores

e foram descritos, pelo próprio Courbet, como "uma mulher da moda, de roupas elegantes,

e o marido".

4. Champfleury:

Jules Husson, que escrevia sob o pseudônimo de Champfleury era um amigo muito próximo de Courbet e o principal porta-voz literário do Realismo.