Neoliberalismo e crise do trabalho em moçambique: O …Pretendemos, no presente trabalho, analisar...

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  • Neoliberalismo e crise do trabalho em moambique:

    O caso da indstria do caju

    Andr Cristiano Jos

    2005

    O Cabo dos Trabalhos: Revista Electrnica dos Programas de Mestrado e Doutoramento do CES/ FEUC/ FLUC, N 1, 2006.

    http://cabodostrabalhos.ces.uc.pt/n1/ensaios.php

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    1. Introduo

    Dois diferentes modelos de desenvolvimento vigoraram em Moambique desde a

    independncia nacional, com consequncias importantes para a economia nacional e

    para as relaes de trabalho. O primeiro, desenvolvimentista, de orientao

    socialista, representou uma ruptura com o sistema colonial portugus, ao propor

    construir uma sociedade sem classes, livre da explorao do homem pelo homem.

    O segundo, neoliberal, vigora desde meados dos anos 80, altura em que Moambique

    aderiu aos programas de reajustamento estrutural preconizados pelo Banco Mundial

    (BM) e Fundo Monetrio Internacional (FMI). Este modelo, que implicou a privatizao

    e liberalizao da economia, conduziu a alterao profunda das relaes laborais e

    do papel do Estado enquanto agente de desenvolvimento.

    Aos processos de transformao poltica e econmica levadas a cabo em

    Moambique so inerentes conflitos e tenses entre diferentes plos de interesses e

    de poder, reflectindo as vicissitudes da conjuntura internacional e as dinmicas

    polticas e sociais internas. No perodo imediatamente aps a independncia, esses

    conflitos e tenses ocorreram no contexto da guerra fria, em que no caso da frica

    Austral traduziu-se em confrontos armados em vrios pases (Gentili, 1999: 362-363).

    A transio para o neoliberalismo est associada crise econmica nacional e

    internacional, queda do Bloco socialista e consequente expanso capitalista, bem

    como s presses internas no sentido de adequar os quadros polticos e institucionais

    economia de mercado.

    Pretendemos, no presente trabalho, analisar as alteraes produzidas na

    economia moambicana e nas relaes de trabalho, no processo de transio do

    socialismo para o neoliberalismo, tendo como exemplo paradigmtico a indstria do

    caju. Propomos mostrar que a estratgia econmica adoptada pelo governo

    moambicano, seguindo as imposies do Banco Mundial, foram prejudiciais para a

    economia do caju, com consequncias desastrosas para milhares de trabalhadores.

    - 1 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    Temos presente que a emergncia do sector privado em Moambique, acompanhada

    pela desregulao dos mercados, atiou as velhas tenses e clivagens, no apenas

    entre trabalhadores e patres, mas tambm entre os sectores comercial e industrial

    (Leite, 1999).

    Procuraremos tambm mostrar que, perante a fragmentao e fragilizao dos

    sindicatos, a imprensa privada apresenta-se como um espao alternativo de debate

    pblico sobre o problema e, nesta medida, constitui-se como um imprescindvel

    instrumento de aco poltica e de construo da democracia moambicana.

    Restringimos a nossa anlise s publicaes do jornal Metical, entre 25 de Junho de

    1997 e 28 de Dezembro de 2001, que corresponde ao perodo de existncia do jornal.

    Sem termos a pretenso de esgotar as possibilidades de anlise que o jornal suscita,

    procuraremos simplesmente fornecer exemplos da estratgia de denncia e de

    resistncia seguida no Metical e do modo como contribuiu para a formao da

    opinio pblica sobre o problema do caju.1

    Antes de analisar as transformaes ocorridas nos ltimos anos, so necessrias,

    no entanto, algumas referncias histricas, na estrita medida em que sejam

    necessrias para a compreenso da natureza, intensidade e complexidade dos

    problemas em causa.

    2. Rumo ao socialismo: Entre o Mito e a Utopia

    Aps a II Guerra Mundial, o movimento internacional favorvel s independncias

    tornou-se mais expressivo, desencadeando-se uma nova vaga de descolonizao.

    Particularmente em frica, a generalidade das independncias foi alcanada em

    consequncia de longos processos de reivindicao e de luta armada, desenvolvidos

    fundamentalmente com o apoio dos pases socialistas. Apesar da diversidade

    ideolgica deste grupo de apoiantes parece ser consensual que as condies

    concretas do combate anticolonial, tanto em termos internacionais, como internos, e

    - 2 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    particularmente a opo pela via da luta armada, contriburam fortemente para que

    a organizao se tornasse um movimento revolucionrio de inspirao marxista

    (Brito, 2001: 40). As zonas libertadas2 desempenharam um papel fundamental para

    a construo ideolgica da Frente e para a experimentao de modelos de

    desenvolvimento tendentes a eliminar todas as de explorao e de excluso inerentes

    ao sistema colonial. Nas zonas libertadas desenvolveram-se as primeiras iniciativas

    de produo e comercializao colectiva e testaram-se formas de participao

    popular nas decises.

    As independncias de Moambique e de Angola, juntando-se a de outros pases

    da frica Austral, significaram um avano importante do bloco socialista na regio,

    contra o capitalismo representado pela frica do Sul, Nambia e Rodsia.3 O projecto

    poltico, econmico e social prosseguido pelo Estado moambicano ficou, desde logo,

    patente na Constituio que fixou como objectivo fundamental do Estado a

    eliminao das estruturas de opresso e explorao coloniais e tradicionais e da

    mentalidade que lhes est subjacente; extenso e reforo do poder popular

    democrtico; a edificao de uma economia independente e a promoo do

    progresso cultural e social; e edificao da democracia popular e a construo das

    bases material e ideolgica da sociedade socialista.4

    A concretizao destes objectivos pressupunha a eliminao das estruturas

    econmicas e interdependncias coloniais e de todas as formas de discriminao

    social em que o sistema assentava. A economia colonial de Moambique foi, pois,

    construda na extrema dependncia de Portugal e frica do Sul. Por exemplo, em

    1969, do total do volume das exportaes e importaes moambicanas, cerca de

    41% e 31%, respectivamente, resultava das relaes comerciais com os dois pases.

    Particularmente a rea dos servios, transportes e fornecimento de mo-de-obra,

    produzia aproximadamente 30% do total de receitas em divisas (Mosca, 1999: 40). Por

    seu turno, o desenvolvimento industrial era incipiente, descapitalizado, com

    - 3 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    maquinaria obsoleta (no geral, importada em segunda mo da Europa) e concentrava-

    se na transformao primria de produtos para exportao (Mondlane, 1995; Hanlon,

    1984: 74). Como prprio do sistema colonial, a estrutura da economia assentava

    sobre uma sociedade com uma forte estratificao social e racial, ocupando os

    negros as camadas mais baixas, com direitos reduzidos ao mnimo necessrio para

    sustentar o sistema (Mondlane, 1995).

    A concretizao dos objectivos definidos pelo Estado independente implicou,

    em primeiro lugar, uma forte interveno do Estado na economia. A Nacionalizao

    dos principais servios e bens (terra, sade, educao, habitao, transportes,

    banca, seguros, fbricas) foi um instrumento jurdico-poltico de extrema

    importncia neste processo. Ao mesmo tempo que permitia o controlo directo das

    principais reas econmicas e de servios por parte do Estado, cumpria as promessas

    de uma maior redistribuio e de democratizao do acesso aos servios pblicos.

    A par das Nacionalizaes, foi imperioso intervencionar diversos

    estabelecimentos, de modo a dar continuidade s actividades econmicas das

    empresas abandonadas aps a independncia. Tem sido sobejamente mostrado que,

    desde o perodo de transio para a independncia, milhares de cidados

    abandonaram (ou fora forados a abandonar) o pas, entre os quais muitos

    proprietrios de unidades fabris e comerciais e profissionais qualificados.5 Nalguns

    casos, o abandono foi acompanhado de sabotagem de equipamentos e edifcios, o

    que conduziu ao rompimento dos sistemas de controlo da assistncia de rotina, o

    desempenho das tarefas dirias, a manuteno ou a reposio de stocks (Eger,

    1992:160). Joseph Hanlon descreve a situao nos seguintes termos:

    Production was falling rapidly. The rural marketing network

    collapsed, as Portuguese and Asian traders either fled to Portugal

    or moved to the cities to take over business there. Peasants

    could not sell their surpluses or buy consumer goods, so peasant

    - 4 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    production plummeted. Most Portuguese settlers abandoned their

    farms, usually killing their cattle and destroying the tractors or

    driving them over the border. Industrial production dived as

    owners and skilled workers left, machinery was damaged, and no

    spares or raw materials were imported (1984: 72).

    Face a este cenrio, o Estado foi obrigado a estender a sua interveno para

    reas inicialmente no previstas, abrangendo sectores amplos e bastante

    diversificados. Estas contingncias foraram-no a dispersar-se na gesto das

    empresas, no lugar de controlar os mecanismos de acumulao e de garantir uma

    maior racionalidade e operatividade na distribuio dos recursos (Mosca, 1999: 97).

    De facto, o Estado foi obrigado a gerir desde a mais pequena mercearia de

    comercializao de produtos de primeira necessidade, at os estabelecimentos

    industriais de grandes propores. A criao de empresas estatais,6 lojas do povo,7

    cooperativas8 e aldeias comunais foi importante quer para assegurar a continuidade

    da produo agrcola e industrial e da comercializao dos produtos, quer para

    promover a participao popular no processo produtivo.

    Vencer a dependncia econmica, subverter a tradicional posio perifrica no

    sistema-mundo (Wallerstein, 1974) era (e ) o principal objectivo de Moambique

    ps-colonial:

    Recusamo-nos a ser eternos fornecedores de matria-prima. Recusamo-nos que

    permaneam as velhas relaes coloniais, ainda que com nova roupagem.

    Recusamo-nos a participar na diviso internacional do trabalho numa posio

    subordinada, pagando mais por produtos industrializados e vendendo a nossa

    fora de trabalho a preos cada vez mais baixos (Samora Machel, 1979, apud

    Hanlon, 1984: 82).

    - 5 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    Para concretizar o objectivo, Moambique contava sobretudo com as suas

    prprias foras, uma vez que beneficiava de apoio internacional limitado. Com a

    independncia do Zimbabwe, nove pases9 criaram a Southern Africa Development

    Coordinating Conference (SADCC), com objectivo de eliminar a dependncia

    econmica em relao a frica do Sul. Esta organizao concebeu um programa de

    aco concreta, incidindo a cooperao nas reas de transportes, comunicaes,

    alimentao, agricultura, indstria, energia e desenvolvimento dos recursos

    humanos.

    A poltica de socializao do campo foi assumida como central para ao

    desenvolvimento do campo e para a articulao estreita entre os meios rural e

    urbano. A construo das aldeias comunais permitiria no apenas integrar o sector

    produtivo tradicional na economia nacional, assim como seria imprescindvel para a

    articulao estreita entre a agricultura e a indstria e, ainda, para a organizao

    poltica das comunidades.

    Most important is the political transformation that comes only through

    production: state farms can create a rural working class to lead the revolution,

    while co-ops should instil a spirit of cooperative work to improve peoples own

    lives. Central to this economic and political transformation must be a social

    transformation which breaks the rural-urban divide and makes country life

    sufficiently attractive to stop migration to the cities. This is to be done through

    villagization. Mozambique is sparsely populated and most of the 10 million

    peasants still live on widely scattered family plots. Both because traditional

    farming methods require large tracts of land and because peasants fled further

    and further into the bush to escape forced labour and taxation. If they remain

    dispersed, there can be no cooperative farming. Only with villages nearby can

    state farms build up a permanent instead of a migrant workforce. Also, only in

    villages is it possible to make the necessary investments to raise the peasants

    living standard a school, health post, shop and water supply- and to organize

    - 6 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    social and cultural activities. Villagization is hardly a new idea. Tanzania has

    implemented it, and the colonial authorities moved peasants into fortified

    villages and along cotton roads where they could better control them. But

    Frelimos communal villages also have a central political point: only in a village

    can country people organize politically and create viable democratic institutions

    (Hanlon, 1984: 98-99).

    Com a independncia do Zimbabwe, aumentaram as expectativas de incremento

    da produo. As indstrias metalrgicas, txteis e alimentares, implantadas nas

    diferentes provncias do pas, ganhariam nova dinmica. A prestao de servios

    porturios para os pases vizinhos faria do corredor da Beira uma das principais fontes

    de receitas. Face s perspectivas de multiplicao dos resultados alcanados (ainda

    que modestos), o governo aprovou o Plano Prospectivo Indicativo (PPI), que previa

    ultrapassar o subdesenvolvimento em 10 anos: dcada de 80 de 90; dcada da

    vitria contra o subdesenvolvimento.10 No mbito este programa, as empresas e as

    machambas deviam estrita obedincia a planos e metas de produo muito

    ambiciosos, por vezes ilusrios, definidas centralmente pelo poder estatal. A

    materializao destes objectivos requeria uma disponibilidade financeira que no

    existia no pas e que, naquele contexto, se revelou difcil de mobilizar.

    It was a lovely dream and a rude awakening. Investors did not flood in with

    money in suitcases. Even in the best of times the necessary money, would not

    have been available, but with a worsening world recession here was no hope.

    Despite brave Third World talk of a new international economic order, foreign

    investment was not going to countries which were serious about breaking the old

    colonial relations. Super-profits were still the name of the game, and if

    Mozambique would not play, neither would international capital (Hanlon, 1984:

    84-85).

    - 7 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    Finalmente, a transformao radical das estruturas econmicas e sociais

    enquadrava-se num processo de luta de classes. O poder do Estado radicava do povo,

    era exercido em nome do povo e com o povo, assumindo-se a aliana operrio-

    camponesa como vital para a construo do socialismo. Foram criadas e implantadas

    vrias estruturas e formas de exerccio do poder popular, nomeadamente, assembleias

    populares em todas circunscries administrativas; organizaes democrticas de

    massas; tribunais populares; conselhos de produo.

    Dos Conselhos de Produo Unidade Sindical

    Como afirmmos, desde o perodo de transio para a independncia, milhares de

    cidados abandonaram o pas, realidade que forou o Estado no apenas a nomear

    comisses administrativas para a gesto das empresas, como a implantar uma estrutura

    organizativa (Conselhos de Produo) que assegurasse o cumprimento dos planos

    econmicos e que promovesse a organizao colectiva dos trabalhadores e o aumento

    da conscincia de classe. Contudo, mais do que institucionalizar uma estrutura

    organizativa eficaz para efeitos produtivos, as comisses de produo visavam pr em

    prtica o exerccio democrtico e popular do poder na esfera produtiva, eliminando

    todas as formas de organizao capitalista.11

    Aponta-se como marco institucional da criao do Conselhos de Produo data

    de 13 de Outubro de 1976, dia em que o Presidente da Repblica fez um discurso

    dirigido aos operrios, reclamando a necessidade de transformao radical das

    relaes de produo (Colao, 1991; Assis, 1997: 34-35; Machungo; 1977: 64).

    A VIII Sesso do Comit Central da FRELlMO, estudando profundamente esta

    situao, lanou palavra de ordem da Ofensiva Poltica e Organizacional

    Generalizada na Frente e Produo e o Camarada Presidente, Samora Moiss

    Machel, no seu discurso de 13 de Outubro de 1976, deu orientaes para a classe

    trabalhadora assumir a sua responsabilidade histrica, na etapa da Revoluo

    Democrtica Popular (Machungo, 1977: 64).

    - 8 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    De acordo com Assis (1997: 35), a instalao de conselhos de produo esteve a

    cargo da Comisso Nacional de Implementao dos Conselhos de Produo. Iniciou

    com uma experincia piloto em 47 empresas da cidade de Maputo, estendendo-se,

    posteriormente, para as restantes provncias. Em cada empresa, implantou-se um

    Conselho de Produo da Unidade de Produo (CPUP). Foram igualmente criados

    conselhos de produo nas provncias, distritos e localidades, com vista a permitir

    uma programao e planificao profunda da nao base e aplicao correcta das

    directivas econmicas e sociais (Comisso de Implementao dos Conselhos de

    Produo, 1977: 34). Em todos os nveis, os conselhos de produo estavam divididos

    em departamentos, compreendendo a cada um basicamente o cumprimento das

    seguintes funes:

    assuntos econmicos: estudar e propor superiormente metas de

    produo; Estudar a criao das condies para o cumprimento dessas

    metas; promover, estimular e controlar a prtica de emulao socialista ao

    nvel geral e individual; Organizar palestras, sobre assuntos relacionados

    com a economia e produo;

    assuntos sociais: solucionar os litgios entre os trabalhadores; estudar

    com os restantes departamentos e estruturas da empresa, a criao de

    benefcios para os trabalhadores (creches, transporte, frias, centros

    sociais); estudar e propor medidas, normas e aces a realizar para o

    seguro social (reforma, centros de frias, seguros);

    higiene e segurana: zelar pela garantia das condies necessrias

    higiene do trabalhador; estudar, divulgar e fazer aplicar as normas de

    segurana estabelecidas;

    assuntos culturais: organizar grupos culturais dos trabalhadores e

    promover trocas de experincias e sua divulgao;

    - 9 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    formao profissional: estudar o processo de transformao de todos

    os valores culturais, cientficos e tcnicos, em benefcio dos trabalhadores,

    promovendo a elevao do seu nvel de instruo e qualificaes

    profissionais;

    controle e disciplina: controlar o trabalho de cada departamento,

    assim como as actividades realizadas pelos trabalhadores; elevar a

    conscincia dos trabalhadores, de modo a observarem as regras de

    disciplina, assim como a conservarem os bens e equipamentos da empresa;

    zelar pelo cumprimento dos direitos dos trabalhadores; detectar e canalizar

    para as estruturas competentes qualquer tipo de sabotagem.

    Respondendo s necessidades do operariado moambicano, o mbito das tarefas

    dos conselhos de produo alargou-se para incluir aulas de alfabetizao, formao

    no trabalho, transporte de e para casa, fornecimento de refeies, creches e outras

    questes relacionadas com a segurana social e econmica dos trabalhadores (Eger,

    1992: 161).

    semelhana do que acontecia com outras estruturas e organizaes criadas

    pelo Estado, no havia qualquer separao entre os Conselhos de Produo e o

    partido FRELIMO. As duas entidades, os conselhos de produo e o partido FRELIMO,

    partilham no apenas os membros e as estruturas hierrquicas e organizativas, como

    tambm os pressupostos poltico-ideolgicos de aco. Ainda que se considere que

    esta relao foi forada pelos imperativos de unidade de luta, por novo tipo de

    relaes laborais e por necessidade de eficcia (Eger, 1992: 160), a verdade que

    ela determinou modo significativo o perfil do sindicalismo moambicano e marcou

    decisivamente a sua aco poltica at a actualidade.

    Por deciso do IV Congresso do partido Frelimo, em 1983 os Conselhos de

    Produo foram transformados na Organizao dos Trabalhadores Moambicanos

    - 10 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    (OTM). Por seu turno, a OTM encarregou-se da criao de sindicatos nacionais,

    coordenando no apenas a elaborao dos programas dos sindicatos, como a

    nomeao dos seus corpos directivos e a eleio dos outros rgos (Mosca, 1999: 78).

    Todas as estruturas representantes dos trabalhadores em cada empresa eram

    tutelados pela OTM, que coordenava e fiscalizava as suas actividades e tinha sobre

    eles poderes de direco.

    Em Moambique, a criao dos sindicatos no surge, pois, enquanto processo

    endgeno dos trabalhadores pela necessidade de defesa dos seus direitos contra o

    patronato, mas como uma iniciativa do prprio Partido-Estado-Governo12 (Assis,

    1997: 43), principal agente econmico e detentor formal do monoplio da aco

    poltica. Tendo sido concebidos como tentculos das estruturas partidrias,

    semelhana do que acontecia com as organizaes democrticas de massas,13 a aco

    dos sindicatos visava, exclusivamente, colaborar com o governo e nunca confront-

    lo. Coerentemente, a unidade sindical, como apoteose da unidade ideolgica e

    partidria, imps-se com naturalidade.

    Em conformidade com este quadro, foram criadas Comisses de Trabalho, com

    funes de resoluo de conflitos laborais, em substituio dos tribunais judiciais. As

    Comisses de Trabalho eram constitudas por juzes sem formao tcnico-jurdica,

    escolhidos entre os membros das estruturas orgnicas das empresas e dos conselhos

    de produo, desde que tivessem sentido de justia, bom senso e uma formao

    poltica equilibrada. Respondendo carncia de licenciados em direito, as

    Comisses visavam garantir o acesso a uma justia clere, e que aplicasse

    correctamente os princpios que inspiram a construo da nova sociedade.

    A indstria do caju na economia socialista

    Antes da independncia, o caju j assumia extrema importncia na economia de

    Moambique, sendo uma das mais importantes fontes de divisas. No final do perodo

    - 11 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    colonial, a importncia do caju na economia nacional era superior que a do algodo e

    do acar, representando 21,3% do total das exportaes (Leite, 1999: 2-3). Em

    1974, Moambique impunha-se como o maior produtor mundial de castanha de caju,

    com uma produo de cerca de 42,7% do total, permitindo fornecer o produto

    indstria local, sem prejudicar a exportao.

    Depois da independncia, o governo adoptou medidas proteccionistas para a

    indstria nacional, limitando as exportaes da castanha em bruto e regulando os

    preos de comercializao.14 A mediao entre estes agentes econmicos passou a

    ser feita fundamentalmente pelas lojas de povo e cooperativas entretanto criadas.

    Apesar desta poltica, no foi possvel evitar o declnio da indstria de

    processamento do caju, estando esta confrontada com problemas financeiros e de

    ineficincia, sobretudo nas unidades estatizadas (Leite, 1999:6). A crise da indstria

    est igualmente associada reduo da produo agrcola e destruio de rede de

    comercializao.

    Primeiro, se a nacionalizao da terra foi importante para evitar a emergncia

    de cidados sem terra em Moambique, o processo de construo de aldeias

    comunais (inspiradas na ujamaa de Julius Nyerere)15 teve resultados modestos e,

    nalguns casos, efeitos perversos. No se registou, no geral, qualquer incremento na

    produtividade, e muito menos se efectivaram as promessas de eliminao da

    explorao do homem pelo homem. Segundo, a guerra foi um factor de destruio

    da produo agrcola e a rede comercial foi destruda. Entre 1976 e 1990, a produo

    agrcola do caju decresceu em 81,7% e, no incio dos anos 90, apenas uma das 15

    fbricas existente nos primeiros dois anos da independncia continuava a funcionar

    e era uma das poucas que manteve a gesto privada (Leite, 1999: 6-7).

    O ano de 1991, estando iminente o fim da guerra e num contexto em que o

    neoliberalismo se implantara, representa a viragem definitiva da poltica sobre o

    caju. Neste ano, foi reautorizada a livre exportao da castanha em bruto, reacendo-

    - 12 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    se os velhos conflitos entre os comerciantes (com interesse na exportao, porque

    mais rentvel) e os industriais (com interesse no processamento da castanha para

    exportao e para o mercado interno). As intervenes do Banco Mundial e do

    governo moambicano foram decisivas para o agravamento deste conflito, com

    prejuzos para a indstria nacional e para os trabalhadores.

    3. Guerra Quente e a Morte da Utopia

    Os esforos de concretizao do ideal socialista desenvolveram-se num contexto que,

    no devendo ser desprezado ou minimizado, constituiu um constrangimento de

    extrema importncia que teve de ser enfrentado: a guerra e o chamado inimigo

    interno. A guerra marcou decisivamente a histria de Moambique no perodo ps-

    colonial, at 1992, altura em que foram assinados os Acordos de Paz entre a FRELIMO

    e a RENAMO.16

    Poucos meses depois da independncia, em Agosto de 1975, o exrcito

    rodesiano desencadeou ataques militares contra Moambique, que se prolongaram

    at a queda do governo de Ian Smith em 1980. Estes ataques intensificaram-se, em

    resposta ao explcito apoio militar e diplomtico do governo moambicano aos

    movimentos de libertao da Rodsia (Christie, 1996: 145-155).

    Em paralelo com a aco militar, Moambique aplicou sanes econmicas

    Rodsia,17 fechando-lhe o acesso aos portos, ainda que esta medida implicasse

    abdicar de uma das mais importantes fontes de receitas do pas. Segundo Christie

    (1996: 149), como consequncia dos confrontos entre Moambique e Rodsia, as

    Naes Unidas estimam que Moambique sofreu prejuzos em 600 milhes de dlares

    americanos, correspondentes a mais de duas vezes o valor das exportaes anuais

    [] no seu melhor ano de comrcio externo, 1981.

    Com a independncia de Zimbabwe, Moambique tinha que continuar a

    enfrentar outro problema to ou mais destrutivo e dramtico: a aco militar da

    - 13 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    RENAMO e da frica do Sul. Esta guerra desenvolveu-se com muita intensidade em

    todas as regies do pas, causando danos colossais na economia nacional e na vida

    das pessoas. Apesar do Acordo de No-agresso e Boa Vizinhana (Acordo de

    Nkomati)18 assinado entre Moambique e frica do Sul, os ataques militares directos

    do exrcito sul-africano no cessaram, nem o seu apoio RENAMO. A frica do Sul

    contava, ainda, com o apoio militar de alguns pases da NATO, particularmente da

    Inglaterra e dos EUA, que incorporavam militares no seu exrcito (Christie, 1996:

    161).

    Para alm dos efeitos devastadores para as populaes, os ataques militares

    atingiam alvos econmicos estratgicos, inviabilizando os projectos de

    desenvolvimento traados no pas e no mbito da SADCC. Os seguintes exemplos so

    elucidativos:

    South Africa also backs up its economic muscle with force. It works mainly

    through the Mozambique National Rasistance (MNR) to try to keep the railways

    from Zimbabwe to Beira and Maputo closed. Sometimes it works directly. For

    example, during the month before the second major SADCC conference (in

    Blantyre in November 1981) the bridges carrying the road, railway and oil

    pipeline from Beira to Zimbabwe were expertly sabotaged [] (Hanlon, 1984:216)

    In the month before [the third SADCC conference in Maseru in January 1983],

    South African forces actually attacked Maseru. And the oil storage depot in Beira

    was sabotaged, causing more than 10 million damage to oil and facilities []

    This was the base of oil supplies for Zimbabwe oil pipeline. To fill the gap,

    Zimbabwe tried to import oil products from Maputo. The MNR closed the railway

    from Maputo to Zimbabwe, and South Africa refused to carry oil from Maputo to

    Zimbabwe (Hanlon, 1984: 216-217)

    Armed bands destroyed 1,000 rural shops, 20 sawmills, cotton gins, and tea

    factories. 1,OOO rural shops, 20 sawmills, cotton gins, and tea factories.

    Hundreds of cars and trucks and more than 20 locomotives were also destroyed.

    - 14 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    More than 40 foreign technicians were kidnapped and four killed. Sweden was

    forced to abandon the showpiece Ifloma forest Industries complex after it was

    built, leaving it paralysed due to lack of operating staff. Hundreds of villages

    were burned. Crops were burned in he fields and in peasant grain stores, and

    agricultural marketing lorries and farm machinery were destroyed; an estimated

    one-quarter of the normally marketed grain was lost due to MNR action (Hanlon,

    1984:87)

    A frica do Sul procurou explorar ao mximo a vulnerabilidade da economia

    moambicana. Por exemplo, em 1980, a Cmara de Minas da frica do Sul reduziu

    para cerca de 30% o recrutamento de mo de obra moambicana para as minas e

    revogou um acordo de 1928, segundo o qual o governo de Moambique podia usar 60%

    dos salrios dos mineiros para comprar ouro a um preo preferencial (Christie, 1996:

    172). Cortando uma das tradicionais e principais fontes de divisas, esta deciso

    provocou danos avultados na economia de Moambique, colocando o governo perante

    dois dilemas imediatos: que alternativas seguir; e que destino dar aos potenciais

    trabalhadores que j no podiam ir para as minas e aos que entretanto tinham sido

    despedidos em consequncia da crise causada pelas sanes decretadas contra a

    Rodsia.

    No contexto da guerra, era urgente para Moambique reforar o poder militar e

    angariar maior capital possvel. De acordo com Hanlon (1984: 234-235), o interesse

    estratgico da Unio Sovitica na regio da frica Austral ficou prejudicado porque

    Moambique ops-se constituio de uma base militar, defendendo o princpio da

    conservao do oceano ndico como zona de paz e sem armas nucleares.

    Consequentemente, tanto o apoio militar, como o econmico, por parte da Unio

    Sovitica (e do bloco do Leste) estiveram muito aqum das necessidades.

    Com a rejeio da candidatura de Moambique ao Council for Mutual Economic

    Assistance (COMECON) no incio dos anos 80, agravaram-se os constrangimentos para

    - 15 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    a implementao dos planos de desenvolvimento. Ao nvel da SADCC, a comunidade

    internacional disponibilizou apenas 1/3 do valor necessrio para a reconstituio da

    rede de transportes e comunicaes (Hanlon, 1984: 214).

    O primeiro sinal de que a adeso ao BM e ao FMI era uma condio

    imprescindvel para beneficiar de apoio para enfrentar a crise, foi dado em 1983

    quando, por causa da seca, Moambique solicitou ajuda alimentar comunidade

    internacional. Contra todas as expectativas, a ajuda foi, antes, reduzida (Hanlon,

    1996:15). Em 1984, o governo acabou por assinar um acordo com o BM, do qual

    resultou a disponibilizao imediata de 45 milhes de dlares para Moambique.19

    A guerra por outros meios

    Os conflitos armadas em Moambique estavam associados a outras formas de fazer a

    guerra. Nos centros urbanos, destacam-se dois grupos de presso contra o projecto

    socialista: empresrios e burocratas do aparelho do Estado, muitos dos quais

    ocuparam os lugares da burguesia e pequena burguesia colonial. Trata-se, no

    entanto, de grupos dinmicos, fluidos, que criam diversos tipos de alianas, em

    funo dos contextos. Como explica Joseph Hanlon,

    Sometimes bureaucrats and traders seem allied; at other times,

    the bureaucrats seem to ally with the workers and peasants

    against the traders. Sometimes the conflicts are expressed as

    between Party and state, sometimes as within Party or state, and

    sometimes as between state and private (1984: 187).

    No atingir as metas de produo trouxe carncias de tipos de bens de consumo

    no mercado, e especulao. Com a escassez dos produtos e o controle administrativo

    dos preos, floresceu uma economia paralela que transformou a candonga num dos

    principais meios de acumulao de capital, margem das regras do Estado.

    - 16 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    Tambm nas zonas rurais, o projecto socialista no vingou como se esperava.

    Nalguns casos, as aldeias comunais significaram uma rplica de formas coloniais de

    produo e de organizao social, ainda que se defenda que estes seriam casos

    excepcionais, de desvirtuamento da poltica oficial (Mosca, 1999: 137).20 Esta

    circunstncia proporcionou o aparecimento (ou at o crescimento) de uma classe de

    privilegiados (autoridades tradicionais, membros do GD e outros notveis) que

    controlava o acesso terra e os processos produtivo e de comercializao de

    produtos, como recuperou (e, noutros casos, subverteu) as antigas hierarquias

    tradicionais (Dinerman, 1999; Geffray, 1991). Cedo emergiram e agravaram-se as

    tenses entre as experincias embrionrias de democracia participativa e o

    autoritarismo das autoridades tradicionais e do Estado. Por outro lado, a criao de

    atractivos (escolas, postos de sade, sistemas de abastecimento de gua e de bens

    de consumo, etc.) para que as populaes permanecessem nas aldeias, provocou

    maior concentrao de pessoas e, com ela, a intensificao na explorao dos

    recursos naturais, com consequentes prejuzos para o ambiente e para a produo

    (Mosca, 1999: 138).

    A reaco do governo, reforando o controlo e o aparelho repressivo (Ofensiva

    Poltica e Organizacional;21 publicao de leis de defesa da economia, com penas

    severas; reforo da vigilncia popular), ou recorrendo propaganda e ao discurso

    ideolgico, no conseguiu reverter os problemas e no conseguiu travar as presses

    das emergentes elites urbanas e rurais, que reivindicavam um espao de actuao na

    poltica e na economia moambicana.

    Neste contexto, a adeso s instituies de Bretton Woods configurou-se como

    o nico rumo acessvel para fazer face imediata s situaes de emergncia que o

    pas atravessava. A implementao dos programas de reajustamento estrutural nos

    anos subsequentes representa, na retrica do Estado, um passo importante para a

    - 17 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    reconstruo nacional. Provavelmente ter tambm sido uma condio indispensvel

    para a paz no pas e na regio. A morte da utopia foi o preo.

    4. Neoliberalismo e crise do trabalho

    Com a adeso aos programas de reajustamento estrutural em 1987,22 a ajuda

    externa aumentou de 360 milhes de dlares em 1985, para 700 milhes em 1987 e,

    pelo menos, 1 bilio por ano a partir 1990, transformando Moambique no maior

    beneficirio da frica sub-sahariana (Hanlon, 1996: 16).

    No mbito do PRE, a onda de privatizaes alargou-se para todos sectores que

    tinham sido objecto de intervenes e nacionalizaes na poca do socialismo

    (educao, sade, educao, sade, habitao, transportes, banca, seguros, entre

    outros). Nalguns casos, o Estado manteve a sua actividade, concorrendo, embora nas

    piores condies, com agentes privados, noutros, o mercado passou a ser

    exclusivamente dominado por privados, como acontece caso da banca. At ao ano

    2000, tinham sido privatizadas cerca de 1000 empresas (Pitcher, 2002: 147), sendo

    que as de pequena e mdia dimenses eram destinadas aos empresrios nacionais (na

    sua maioria, polticos e militares) e as grandes empresas ficaram sob a alada dos

    interesses estrangeiros (Francisco, 2003: 164).23

    Moambique seguiu religiosamente as prescries do Banco Mundial, a ponto de

    ser considerado pelos doadores ocidentais, o bom aluno do BM, o melhor

    exemplo africano a ser seguido por outros pases. O que lhe confere essa

    singularidade , naturalmente, o nmero alargado de empresas privatizadas num

    curto espao de tempo. Se h diferentes percepes sobre os resultados econmicos

    do programa de reajustamento estrutural, havendo quem inclusivamente desconfie

    da iseno dos mtodos e dos resultados de avaliaes optimistas das agncias

    financeiras internacionais (Abrahamsson e Nilsson, 1995: 31), o mesmo no acontece

    em relao aos seus efeitos sociais. geral a constatao de que aquele programa

    - 18 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    acarretou consequncias sociais graves para a sociedade moambicana, devendo o

    seu impacto ser analisado em conjunto, tendo em conta tanto critrios econmicos,

    como os de natureza social, poltica e at cultural.

    Entre 1987 e 2000, foram despedidos pelo menos 100 mil trabalhadores, a maior

    parte destes sem que tivessem recebido salrios h mais de dois anos de trabalho e,

    evidentemente, sem que tivessem beneficiado de qualquer indemnizao (Pitcher,

    2002: 170). Nos pases perifricos como Moambique os custos sociais das

    privatizaes fazem-se sentir com maior acuidade, manifestando-se no apenas na

    insegurana ou perda dos postos de trabalho, como tambm atravs do aumento da

    violncia urbana e da instabilidade e social.

    Contudo, os efeitos do neoliberalismo moambicano no se distribuem de igual

    forma por todos os cidados, havendo, pelo contrrio, quem dele se beneficie. Como

    afirma Francisco (2003: 143), as privatizaes foram importantes para a

    recomposio e estruturao de uma burguesia de Estado, constituda em torno do

    complexo poltico-burocrtico. Por sua vez, Pitcher (2002: 6) usa a expresso

    transformative preservation para realar a capacidade do partido Frelimo de

    sobreviver s profundas transformaes polticas e econmicas que o pas atravessa,

    assegurando que as suas elites adquiram vantagens dos programas de reajustamento

    estrutural, conservando, desta maneira, o controlo poltico e econmico do pas,

    desde 1975. Para caracterizar as formas de imposio econmica do BM e do FMI e as

    vantagens colhidas pelas elites nacionais, Saul (1994) diz que Moambique est num

    processo de recolonizao.

    A destruio da indstria do caju

    O programa de reajustamento estrutural relanou os investimentos nos diversos

    sectores da economia moambicana, tendo os empresrios do ramo industrial

    apostado tambm no processamento do caju. Como legitimamente esperavam os

    - 19 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    industriais, a viabilidade destes investimentos s seria possvel se o governo

    mantivesse a poltica de restrio exportao da castanha em bruto.

    No entanto, nos primeiros anos de recuperao, a indstria moambicana

    debatia-se com problemas financeiros e de ineficincia. As dificuldades de

    funcionamento das unidades industriais no permitiram a absoro de uma parte

    considervel da castanha produzida. Este foi o pretexto necessrio para o governo

    (re)autorizar a exportao de castanha de caju, a partir de 1991. Ainda que o

    governo afirmasse que a exportao neste ano seria a ttulo excepcional, a

    reduo das restries acabou por se repetir progressivamente nos anos seguintes,

    tendo o BM sido determinante neste processo.

    Um estudo do BM sobre o desenvolvimento do sector privado,24 seguindo a

    teoria ricardiana das vantagens comparativas, chegaria concluso de que mais

    vantajoso para Moambique no investir na industrializao (dado tambm o

    funcionamento precrio das fbricas) e dedicar-se exclusivamente exportao da

    castanha no processada. Alegadamente, dessa transferncia de investimentos criar-

    se-iam novos postos de trabalho e seria a forma mais eficaz para assegurar maior

    financiamento do Oramento do Estado e maiores amortizaes da dvida externa,

    assim como aumentaria a procura (e, consequentemente, os preos) da castanha em

    bruto, em benefcio dos agricultores.

    Leite (1999: 29) afirma que a liberalizao do comrcio do caju no foi

    determinada pelo BM, uma vez que o governo iniciaria antes da interveno daquela

    instituio. Na verdade, aquele estudo aparece apenas como uma fundamentao

    formal de uma poltica previamente imposta pelo BM, como veio a reconhecer esta

    instituio quando assumiu as responsabilidades pelo erro cometido na poltica

    sector do caju.

    No passou muito tempo at que as recomendaes do estudo se

    transformassem em imposies ao governo moambicano, refm da dvida externa.

    - 20 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    Entre as campanhas agrcolas de 1991/92 e 1998/99, a taxa de exportao de

    castanha de caju baixou de 60% para 14%. Face ao aumento dos protestos contra a

    reduo das taxas, esta voltou a subir para 22%, em 1999 (Leite, 1999: 19-38;

    McMillan et al., 2002: 1-6).

    Como afirmmos, nos primeiros 15 de independncia, Moambique seguiu uma

    poltica de proteco da indstria de caju, autorizando apenas a exportao de

    castanha de caju processada. Os principais destinos deste produto eram os EUA (que

    adquiria 76% do total) e a Europa. Ao deixar de apostar no processamento da

    castanha, Moambique colocou-se numa posio muito difcil, passando a contar

    apenas com a ndia, como o maior comprador mundial de castanha bruta.

    Tendo em conta os ganhos que advm da colocao do produto no mercado

    internacional, os comerciantes que operam em Moambique tm interesse em

    exportar castanha de caju bruta para a ndia, em detrimento da sua colocao nas

    fbricas nacionais que no esto em condies de competir com os importadores

    indianos. Por exemplo, na campanha agrcola 1992/1993, o preo Free On Board

    (FOB)25 da castanha atingia os 689 dlares americanos por tonelada, contra 271

    dlares pagos pelos industriais (Leite, 1999: 9).

    Os preos praticados pela ndia podem explicar o interesse dos comerciantes em

    exportar castanha no processada para a ndia, mas no explicam o interesse daquele

    pas no produto moambicano. Isto tendo em conta que a ndia tambm,

    simultaneamente, produtora e exportadora de castanha de caju, processada ou no e

    que, por outro lado, existem outros pases produtores na costa oriental africana e no

    sudeste asitico. Avanamos com algumas hipteses cuja verificao pressupe, no

    fundo, analisar a natureza dos interesses subjacentes economia do caju: a castanha

    de caju moambicana de melhor qualidade; o preo da castanha moambicana

    muito baixo; a produo agrcola indiana (e do sudeste asitico) no suficiente para

    satisfazer as necessidades do parque industrial; os custos da produo industrial na

    - 21 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    ndia so to baixos que compensam o custo das importaes; o controle do mercado

    mundial permite jogar em melhores condies com as dinmicas do mercado

    internacional.

    Entretanto, devemos tomar em conta que, ao contrrio de Moambique, a ndia

    regulou fortemente o mercado do caju. Por exemplo, Kerala produz mais de 50% do

    total da produo nacional, a distribuio garantida por uma rede ampla de

    cooperativas e o Estado fixa os preos de comercializao e as tarifas de importao

    de castanha (McMillan et. al., 2002: 19-21). A propsito, intrigante que depois de o

    BM reconhecer que a sua poltica de liberalizao foi desastrosa, tenha sido

    anunciado que, em Fevereiro de 2005, duas empresas multinacionais, a OLAM (de

    Singapura) e a TechnoServe (com sede nos EUA) fizeram uma parceria para revitalizar

    a indstria do caju em frica, incluindo Moambique. A OLAM a maior empresa do

    mundo de processamento de caju e controla tambm o mercado indiano. A

    TechnoServe possuidora da tecnologia mais avanada nesta actividade.26 No seria

    surpreendente que nos prximos tempos comeasse a vigorar em Moambique uma

    poltica proteccionista da economia do caju, conjugada com flexibilizao das

    relaes de trabalho.

    A liberalizao da exportao da castanha de caju em bruto implicou tambm o

    fim do racionamento das licenas de exportao, podendo todos os cidados requerer

    que estas lhes sejam passadas. Esta circunstncia provocou a proliferao de

    exportadores e o aumento da interveno de intermedirios formais e informais. A

    economia do caju passou, por conseguinte, a funcionar tambm ao sabor das disputas

    dos diferentes agentes e condicionada pelos interesses dos intermedirios e

    armazenistas. Entre os agricultores e o mercado internacional, passaram a existir

    mais trs nveis de interveno na cadeia do caju: pequenos intermedirios,

    armazenistas e, finalmente, exportadores e industriais. Para alm dos elevados

    - 22 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    custos de transporte que no podiam suportar, os agricultores passaram a ser vtimas

    da presso dos intermedirios, formais e informais.

    McMillan et. al. (2002: 10-16), fazendo uma avaliao estritamente econmica

    da liberalizao do comrcio do caju, concluem que, ao contrrio do que supunha o

    BM, os seus resultados so flutuantes ao longo dos anos, representando, no geral,

    ganhos mnimos para os agricultores. Efectivamente, o aumento da procura, longe de

    proporcionar ganhos substanciais para os agricultores, apenas acentuou a sua

    fragilidade econmica e social.

    Os efeitos da poltica de liberalizao foram particularmente desastrosos para

    os trabalhadores da indstria do caju, naturalmente, com consequncias sociais

    graves. Em 1998, j existiam entre 8.000 e 10.000 trabalhadores sem postos de

    trabalho. Alguns destes trabalhadores no foram tecnicamente despedidos,

    simplesmente deixaram de receber os seus salrios desde a altura em que as

    empresas reduziram ou suspenderam as actividades (Pitcher, 2002: 170).

    A complexidade deste problema aumenta quando temos presente que alguns

    industriais, atrados pelas possibilidades de colher maiores lucros em pouco tempo,

    lanaram-se para a exportao do caju no processado. Nestes casos, a retrica da

    crise da indstria serviu puramente para legitimar o desrespeito dos direitos dos

    trabalhadores. Na luta pela conservao dos postos de trabalho e por assegurar o

    exerccio de direitos de cidadania, os sindicatos e os trabalhadores do caju so

    obrigados a enfrentar o fogo cruzado de interesses poderosos e avassaladores.

    5. Sindicatos: Resistncia Silenciada?

    A Constituio moambicana de 1990 introduziu a democracia liberal,

    multipartidria, e alargou o leque dos direitos e liberdades individuais e colectivos,

    entre os quais a liberdade sindical. A nova conjuntura poltica teve duas

    consequncias imediatas para o sindicalismo moambicano: a OTM deixou de ser uma

    - 23 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    organizao filiada no partido FRELIMO, transformando-se numa central sindical

    (OTM-CS); e nasceu uma outra central sindical, a Confederao Nacional dos

    Sindicatos Livres de Moambique (CONSILMO).

    A implementao do PRE tem sido acompanhada de reformas legislativas no

    sentido de criar um ambiente favorvel aos negcios. Esta nova filosofia tem

    conduzido a um questionamento dos direitos e garantias elementares dos

    trabalhadores, alegadamente para atrair investimentos estrangeiros e aumentar a

    competitividade nacional. Actualmente, vigoram regimes de excepo s leis gerais

    do Estado (condies de trabalho, regime cambial e fiscal, etc.), sobretudo nas zonas

    francas industriais, onde se implantaram empresas com capacidade para contratar

    milhares de pessoas. Autores como Hiplito Hamela (2003: 1-16), por exemplo,

    consideram que a fixao do salrio mnimo nacional por via da concertao social

    no serve para Moambique, porque desadequada economia de mercado. Por

    imposio do Banco Mundial, est em curso a reforma da lei do trabalho

    moambicana, com vista a acolher as novas exigncias do capitalismo.

    Os sindicatos moambicanos enfrentam com extremas dificuldades os novos

    problemas do mundo laboral. O novo contexto poltico transformou-os em rfos do

    governo e do Estado, provocando uma crise identitria ainda no ultrapassada. 27 A

    aco dos dirigentes sindicais ambgua, repartida entre as velhas alianas poltico-

    partidrias e a necessidade de defesa dos trabalhadores. O distanciamento das bases

    por parte dos dirigentes sindicais sintoma desse posicionamento ambguo, o que se

    torna num elemento de intensificao da crise de legitimidade de que sofrem.

    As dificuldades dos sindicatos prendem-se tambm com a prpria natureza e

    complexidade dos problemas actuais. Como afirma Arthur (2004: 299), os sindicatos

    so confrontados com situaes que no entendem e que no tm meios para

    controlar, como o caso das privatizaes. Ora, enfrentar estas questes pressupe,

    por um lado, ter argumentos cientficos e polticos suficientemente consolidados e

    - 24 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    capacidade retrica necessria para o efeito. Por outro lado, adoptar estratgias

    inovadoras de luta e de mobilizao social, integrando a luta dos trabalhadores e

    pelo trabalho numa reivindicao mais ampla por direitos de cidadania. Ao contrrio

    do que se tem proposto com vista a ampliar o cnone do internacionalismo

    operrio (Santos, 2004), os sindicatos moambicanos tm estado fechados sobre si

    prprios, embora estabeleam relaes formais com organizaes congneres da

    frica Austral e de outras partes do mundo. A avaliao dos resultados dessa

    cooperao est, no entanto, por fazer.

    De acordo com os dados do Ministrio do Trabalho (DNPET, 2005: 17), o nmero

    de greves organizadas em Moambique tem sido intermitente, embora no geral tenda

    a decrescer consideravelmente entre os anos 2000 e 2004, apesar das condies de

    trabalho se degradarem progressivamente. A baixa capacidade de reivindicao dos

    sindicatos poder estar associado ao controlo poltico que sobre eles ainda

    exercido, assim como poder ser uma consequncia da condio de precariedade em

    que se encontram os trabalhadores (que inibe a sua participao) e, igualmente,

    resultado das dificuldades de envolvimento das lutas locais num contexto mais amplo

    (nacional, regional e global) de luta por direitos de cidadania. No caso do caju, a

    imprensa privada, com destaque para o jornal Metical, foi um dos aliados mais

    importantes dos trabalhadores e dos industriais, dando visibilidade nacional e

    internacional sua luta.

    O Papel da Imprensa: O caso do Jornal Metical

    A liberdade de imprensa, formalmente consagrada na CRM de 1990, resulta de um

    longo processo de luta que iniciou no perodo colonial e atravessou a poca do

    jornalismo militante, mas que no est concludo. No perodo do socialismo, apesar

    de no faltarem exemplo de uma imprensa crtica,28 consensual que, no mbito do

    - 25 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    centralismo democrtico, ela era concebida como um instrumento importante ao

    servio do partido e do Estado (Graa, 1996; Lima, 1996; Vasconcelos, 1996).29

    No contexto da democracia multipartidria, a imprensa palco privilegiado de

    disputa poltica e de formao da opinio pblica. Em Moambique, a imprensa

    privada, escapando da alada do poder poltico, constitui-se como um espao

    alternativo (nalguns casos, exclusivo) de debate de temas normalmente descurados

    pelas elites polticas e econmicas. atravs da imprensa privada que muitos

    assuntos de interesse pblico, como por exemplo os casos de corrupo, so trazidos

    ao conhecimento dos cidados, contra a vontade do governo e dos detentores do

    poder econmico. No caso da guerra do caju, os industriais e os sindicatos

    moambicanos encontraram na imprensa privada um aliado que foi determinante

    para a denncia pblica da teia composta pelo Banco Mundial, governo e

    comerciantes.

    Entre os jornalistas da imprensa privada, destaca-se a aco protagonizada por

    Carlos Cardoso, primeiro no Mediafax e depois Metical, neste caso como editor.30

    Carlos Cardoso foi percursor na luta pela defesa da indstria do caju, tendo seguido a

    fundo o problema durante muitos anos, at a sua morte. Como afirmam Fauvet e

    Mosse (2004: 340), Carlos Cardoso acreditava que Moambique s podia avanar

    atravs da industrializao e que as receitas do Banco Mundial eram uma garantia de

    que Moambique seria eternamente um pas exportador de matrias-primas. Aqueles

    autores acrescentam que no Mediafax as posies da AICAJU31 e do SINTIC32 eram

    expostas com clareza num momento em que a maior parte da imprensa no tinha

    percebido a importncia da batalha do caju.

    No jornal Metical encontramos 32 nmeros que abordam a temtica do caju,

    sendo que em vrios nmeros h mais do que um artigo sobre a questo. As notcias

    produzidas em torno do caju resultam principalmente de decises, conferncias de

    imprensa e opinies dos polticos moambicanos ou de representantes do BM e do

    - 26 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    FMI. Nestes casos, quando no feito o contraditrio no mesmo artigo, cruzando

    as fontes, o editorial ou um artigo de opinio evidenciam o ponto de vista dos

    industriais e dos trabalhadores. Por exemplo, numa altura em que os efeitos

    desastrosos da liberalizao do caju eram evidentes, o Secretrio de Estado do

    Tesouro dos EUA em visita a Moambique, afirma que concorda com a

    industrializao do acar e com o financiamento do sector privado, mas que

    continua a crer que a industrializao do caju s pode ser feita custa dos

    camponeses.33 Neste nmero, o jornal reala que o assunto sobre a crise do caju era

    perifrico na visita do Secretrio de Estado americano, tendo vindo luz por presso

    dos movimentos anti-globalizao. Em simultneo, o artigo expe a posio da

    AICAJU, naturalmente favorvel proteco da indstria nacional.

    Ao tomar abertamente posio sobre o problema do caju, Carlos Cardoso, em

    consequncia das declaraes do Presidente da Repblica segundo as quais

    Moambique no tinha alternativa ao Banco Mundial (Fauvet e Mosse, 2003: 341-342),

    prope trs medidas pragmticas: submeter uma lei AR, proibindo a exportao do

    caju em bruto; procurar novos parceiros (provavelmente a China) para financiar a

    indstria; cortar com o apoio do BM e virar para a Unio Europeia, que comeava a

    ser sensvel ao problema de Moambique. 34

    Procurando mostrar que nenhum processo poltico era irreversvel, que era

    necessrio ter coragem para seguir o caminho que melhor servisse os interesses

    nacionais, o Metical publicou um artigo sobre a revalorizao da indstria do caju na

    Tanznia (Tanzania Decide Reindustrializar o Caju), numa tentativa de fazer uso

    da importncia poltica e simblica deste pas em relao a Moambique.35

    A par da exposio da inoperncia do governo, o Metical apoiou os sindicatos,

    dando cobertura sua luta interna, assim como explorando as potencialidades das

    articulaes existentes no seio do movimento sindicalista internacional. O Metical

    publica, assim, na primeira pgina o artigo Campanha Mundial Pr-caju.36 Tratava-

    - 27 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    se de uma promessa de internacionalizao da luta por parte do Secretrio-geral da

    Unio Internacional dos Trabalhadores da Agricultura, Alimentao, Hotelaria,

    Restaurantes e Similares (UITA), em visita a Moambique.37

    A campanha nacional e internacional a favor da industrializao reacendeu os

    debates sobre os modelos de desenvolvimento impostos pelo BM e FMI e deu

    visibilidade poltica a outros problemas que lhe esto associados noutros pases,

    nomeadamente na ndia. A este respeito, o Metical publicou uma carta de 11

    membros do Congresso dos EUA, dirigida ao Secretrio do Tesouro, apelando para o

    fim da liberalizao do comrcio do caju em Moambique e denunciando o trabalho

    infantil utilizado na indstria indiana do caju, sob a proteco do BM, FMI e do

    governo americano.38

    Outra estratgia seguida pelo jornal foi a de tentar beneficiar ao mximo das

    divergncias internas do partido FRELIMO e do governo. Uma vez que nem todos os

    membros do governo e deputados da FRELIMO subscreviam a poltica do caju do BM,

    o Metical procurou explorar essas divergncias, expondo tambm interesses pessoais

    dos membros do governo na questo. Assim, foram publicados artigos com os

    seguintes ttulos: Poltica do Caju: Frelimo Contra o Governo;39 e Um Ministro no

    Caju: A Poltica do Governo no Caju Virou-se Contra os Interesses de Agostinho de

    Rosrio?.40

    A investida do Metical sobre a classe poltica viria resultar numa tomada de

    posio pblica do ento Vice-Presidente da Assembleia da Repblica, com um artigo

    de opinio no Metical, defendendo a proibio da exportao da castanha de caju em

    bruto, numa altura em que tinha sido apresentada naquele rgo uma proposta de lei

    sobre o caju. O poltico em causa ops-se proposta de aplicao de uma sobretaxa

    de exportao apenas a partir de determinadas quantidades, argumentando que s a

    absoluta proibio de exportao de caju no processado podia salvar a indstria

    - 28 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    nacional, tal como acontecera com o Vietname, que se vinha a impor no mercado

    mundial.41

    O assassinato de Cardoso e o encerramento do Metical representam um revs

    para a sociedade Moambicana ainda assombrada de silncios e silenciamentos. O

    contributo de Carlos Cardoso para a construo da democracia moambicana

    inquestionvel. Como testemunha Santos (2000),

    Carlos Cardoso transformara o Metical na voz dos que no tinham voz ou tinham medo

    de falar. Um entusiasta do processo de paz e de democratizao, Cardoso previra

    antes que ningum o perigo de vincular o objectivo nobre da democracia, s

    imposies violentas da globalizao neoliberal, ao desmantelamento das frgeis

    estruturas produtivas, privatizao atribiliria, incubadora de corrupo, perda

    das referncias ideolgicas e ticas da luta por uma sociedade melhor e mais justa

    com que Samora Machel tinha inspirado toda uma gerao de jovens moambicanos.

    A aco poltica de Carlos Cardoso estende-se para alm das pginas do

    Metical, envolvendo-se no apenas na discusso de diversos problemas do pas, mas

    sobretudo na procura de solues para os mesmos. A sua eleio como deputado da

    Assembleia Municipal, integrado na lista de um grupo de cidados, fora dos quadros

    partidrios, um testemunho do apoio que a sua luta conquistara. Devolveu o que

    tem faltado a muito cidados moambicanos nos ltimos anos: esperana.

    6. Concluso

    A reconfigurao do Estado moambicano ao adoptar o neoliberalismo trouxe consigo

    consequncias econmicas e sociais graves. Apesar dos discursos triunfalistas do

    governo, do BM e do FMI ao avaliarem os resultados macroeconmicos, as

    privatizaes e a liberalizao do comrcio no beneficiaram a esmagadora maioria

    dos cidados moambicanos, muitos dos quais continuam a viver no limiar da pobreza

    - 29 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    e outros tantos na pobreza absoluta. Flexibilizao e precarizao do trabalho,

    despedimentos colectivos, desemprego, insegurana, fome, drstica reduo das

    prestaes assistencialistas do Estado so alguns dos efeitos devastadores dos

    programas de reajustamento estrutural. O exerccio de direitos de cidadania cada

    vez mais selectivo.

    Os fenmenos de excluso no so construdos sem o seu reverso, sem o

    fomento de uma burguesia nacional que, para o caso de Moambique emerge

    principalmente das classes polticas que anteriormente lideraram o movimento

    revolucionrio, de inspirao marxista-leninista.

    A liberalizao da exportao do caju em bruto um exemplo incontestvel

    de como as imposies do BM prejudicam o desenvolvimento dos chamados pases

    perifricos do sistema mundial. Alegadamente destinada a aumentar as receitas do

    Estado e a beneficiar os agricultores, as profecias da liberalizao no se

    confirmaram. No s os ganhos dos agricultores foram mnimos, nos casos em que se

    verificaram, como a liberalizao destruiu a indstria do caju, encerrando cerca de

    10 mil postos de trabalho.

    Infelizmente, o caso do caju no singular em Moambique, estando o pas

    amarrado no colete de foras do BM e FMI, com alguma resignao (e

    aproveitamento) do governo, certo. Como se tem afirmado, a globalizao neoliberal

    transforma os Estados perifricos em simples caixas de ressonncia das agendas das

    instituies financeiras internacionais.

    Aos sindicatos coloca-se o desafio de se libertarem do apoio poltico do

    governo e aprofundarem a democracia interna e de apostarem na articulao

    nacional e internacional da luta, inserindo-a num contexto mais alargado de disputa

    pelo exerccio de direitos de cidadania. Para o caso de Moambique, parece ser vital

    a compreenso da importncia dos trabalhadores rurais e do sector informal para o

    debate poltico. Contudo, o alargamento sistemtico e articulado da aco poltica

    - 30 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    para todas as classes e grupos sociais pode ser determinante para a construo de

    novas alternativas democrticas para Moambique. Por isso, embora nos parea

    imprescindvel que se discuta em que condies se podem concretizar, subscrevemos

    algumas das propostas de Peter Waterman (2002: 47) relativas ao novo sindicalismo

    operrio, nomeadamente que:

    deve adoptar um modelo de organizao dinmico, descentralizado,

    horizontal, democrtico e flexvel;

    deve trocar o modelo da ajuda, pelo modelo da solidariedade,

    praticado em funo das carncias quotidianas dos trabalhadores (e

    no apenas dos seus lderes);

    deve ultrapassar as meras declaraes de intenes, os apelos pblicos

    e os congressos bem intencionados, para se traduzir em aces

    polticas concretas;

    deve articular com outros internacionalismos democrticos.

    A evidncia do potencial emancipatrio das mltiplas lutas travadas a nveis

    local, nacional e internacional autoriza-nos a acreditar que possvel substituir o

    Consenso de Washington por um Consenso da Esperana, por um Consenso da

    Cidadania.

    1 O Metical foi fundado por Carlos Cardoso, tem cerca de 7 pginas no mximo e distribudo

    por fax. Este jornal tem sido considerado o percursor do jornalismo de investigao em

    Moambique e fundamental para o aprofundamento democrtico no pas. Carlos Cardoso

    iniciara a luta pela proteco da indstria do caju quando trabalhava no jornal Mediafax.

    Aquele jornalista foi barbaramente assassinado no dia 22 de Novembro de 2000, quando

    investigava vrios casos de corrupo em Moambique.

    2 Circunscries territoriais conquistadas administrao colonial portuguesa, controladas

    pela FRELIMO durante a luta de libertao.

    - 31 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    3 O Apartheid da frica do Sul vigorou at 1994; a independncia da Nambia foi alcanada

    em 1990; e o regime colonial rodesiano de Ian Smith caiu em 1980.

    4 Artigo 4. da Constituio da Repblica Popular Moambique de 1975, com as alteraes

    introduzidas pela Lei n. 11/78, de 15 de Agosto.

    5 Christie (1996: 135), diz que apenas entre os anos de 1974 e 1976, cerca de 200.000

    brancos e indianos abandonaram Moambique.

    6 Os princpios e normas de organizao, funcionamento e gesto das empresas estatais

    foram, inicialmente, definidos pelo Decreto-lei n. 17/77, 28 de Abril e, posteriormente,

    revogado pela Lei 2/81, de 30 de Setembro, que alterou a sua estrutura orgnica.

    7 Decreto n. 24/76, de 17 de Junho.

    8 Formalmente institudas pela Lei n. 9/79, de 10 de Julho.

    9 Angola, Botswana, Lesoto, Malawi, Moambique, Swazilndia, Tanznia, Zmbia e

    Zimbabwe.

    10 Como veremos, o plano da vitria contra o subdesenvolvimento no foi implementado.

    11 A participao popular foi alargada com a implantao de Grupos Dinamizadores (GDs) -

    produto de um processo de transformao dos Comits do partido FRELIMO criados durante a

    luta de libertao nas Zonas Libertadas no sector produtivo. Em virtude sua gnese, dos

    objectivos para que foram criados e do perfil dos seus membros, as duas figuras (GD e

    Conselhos de Produo) tendem a se confundir e a dissolver-se nas estruturas do partido

    Frelimo. Os GDs exerciam uma diversidade de funes poltico-administrativas; de

    administrao da justia; de mobilizao para tarefas poltico-partidrias, para a segurana

    nacional, para a organizao de processos de produo colectiva, para a execuo de

    programas de educao (Chichava, 1999; Resoluo sobre a organizao dos Grupos

    Dinamizadores e Bairros Comunais, 1979).

    12 Esta expresso sugere que o partido Frelimo, o governo e o Estado confundem-se, no se

    discernindo com clareza os respectivos membros e os mbitos de actuao de cada rgo.

    13 Como por exemplo, Organizao da Mulher Moambicana (OMM); Organizao da Juventude

    Moambicana (OJM); Organizao da Criana Moambicana.

    - 32 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    14 A Comisso Nacional de Preos, mediante proposta da Secretaria do Estado do Caju, fixava

    os preos a praticar pelos agricultores e pelos industriais.

    15 Nyerere afirma que o retorno a ujamaa (familyhood) a base para a construo do

    socialismo africano, supostamente porque nas sociedades tradicionais africanas os indivduos

    cuidam da comunidade e vice-versa, no havendo, por isso, lugar para a explorao

    (1967:166).

    16 Resistncia Nacional de Moambique. No cabe neste trabalho analisar o processo de

    criao da RENAMO, nem a complexidade das relaes este aquele movimento, frica do Sul,

    Rodsia, Portugal e outros pases ocidentais. Neste ponto pretendemos apenas mostrar que a

    guerra foi um determinante factor de desestabilizao de Moambique.

    17 As sanes tinham sido decretadas pelas Naes Unidas, como parte da presso

    internacional para a independncia de Zimbabwe.

    18 O Acordo de Nkomati foi assinado em 1984. Preconizava, basicamente, o fim das agresses

    militares da frica do Sul e do apoio deste pas RENAMO, em troca da retirada de apoio

    militar do governo moambicano ao Congresso nacional Africano (ANC).

    19 O Decreto n. 6/84, de 19 de Setembro autoriza a celebrao do acordo entre Moambique

    e o BM e FMI. Neste ano, como vimos, Moambique assinou o Acordo de N`komati com a

    frica do Sul, como sinal de abertura para o dilogo com o Ocidente.

    20 A este propsito, Mosca (1999: 137) diz que, por exemplo, os mtodos coercivos

    constituram excepes em Moambique e representaram desvios s directivas existentes. Por

    outro lado, afirma que em zonas de guerra eram muito duvidosas as fronteiras entre a livre

    circulao e a obrigao de residir nas aldeias.

    21 Tratou-se de uma iniciativa do governo nos anos 80, que envolveu deslocaes dos seus

    membros para os diferentes sectores produtivos e de organizao social, no sentido de

    detectar os problemas de que o pas enfermava e apontar solues imediatas.

    22 Em Moambique recebeu inicialmente o nome de Programa de Reabilitao Econmica

    (PRE) e, posteriormente, Programa de Reabilitao Econmica e Social (PRES). Obedeceu ao

    ao mesmo leque de medidas implementados noutros pases perifricos: austeridade

    oramental, as privatizaes e a liberalizao dos mercados.

    - 33 - Andr Jos

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    23 Os nmeros referentes s empresas privativas no so coincidentes. Por exemplo, Cramer

    (2001: 1), citando dados da Unidade Tcnica para a Reestruturao das Empresas, menciona

    1400 empresas privatizadas, apenas nos anos 90.

    24 Hilmarsson, 1995.

    25 FOB Free on Board: o exportador deve entregar a mercadoria, desembaraada, a bordo do

    navio indicado pelo importador, no porto de embarque. Todas as despesas, at o momento

    em que o produto colocado a bordo do veculo transportador, so da responsabilidade do

    exportador. Ao importador cabem as despesas e os riscos de perda ou dano do produto a

    partir do momento que este transpuser a amurada do navio.

    26 Magazine For Development and Cooperation, http://www.inwent.org/E+Z/content/arquiv-eng/05-2005/foc_art1.html (acedida no dia 23/05/2005) 27 Repare-se, por exemplo, na alterao de uma estrofe do hino dos trabalhadores, carregada

    de simbolismo revelador da colagem ao projecto poltico da FRELIMO, partido do governo.

    Onde se dizia que se sindicatos venceriam as manobras do imperialismo, passou-se a cantar

    manobras do patronato.

    28 Vasconcelos (1996: 139-143) d-nos exemplo de membros do governo que, no apogeu do

    perodo socialista, consideravam que a oposio de Moambique era feita pela imprensa. O

    mesmo autor d-nos conta que alguns nmeros da revista Tempo viram a sua circulao

    interdita em Angola, por constiturem um mau exemplo do jornalismo crtico.

    29 Actualmente existem 16 jornais em Moambique, sendo 3 do Estado (dois dos quais dirios e

    um semanrio). Nove dos jornais privados so dirios, difundidos por fax. Os restantes so

    semanrios.

    30 Carlos Cardoso teve um longo percurso no jornalismo moambicano, chegando a ser

    director da Agencia de Informao de Moambique (AIM).

    31 Associao dos Industriais do Caju.

    32 Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Caju.

    33 Metical n. 756, dia 19 de Junho de 2000.

    34 Metical n. 697, dia 23 de Maro de 2000.

    35 Metical n. 763, dia 29 de Junho de 2000.

    - 34 - Andr Jos

    http://www.inwent.org/E+Z/content/arquiv-eng/05-2005/foc_art1.htmlhttp://www.inwent.org/E+Z/content/arquiv-eng/05-2005/foc_art1.html

  • Neoliberalismo e Crise do Trabalho em Moambique

    36 Metical n. 708, dia 12 de Abril de 2000.

    37 A UITA uma organizao sindical composta por 330 sindicatos de 124 pases e conta com

    um total de 2.700.000 filiados.

    38 Metical n. 978, dia 02.05.2001.

    39 Metical n. 107, dia 25 de Novembro de 1997.

    40 Metical n. 411, dia 10 de Fevereiro de 1999.

    41 Metical n. 569, dia 23 de Setembro de 1999.

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    - 35 - Andr Jos

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    1. Introduo 2. Rumo ao socialismo: Entre o Mito e a Utopia A indstria do caju na economia socialista 3. Guerra Quente e a Morte da Utopia A guerra por outros meios

    4. Neoliberalismo e crise do trabalho A destruio da indstria do caju

    5. Sindicatos: Resistncia Silenciada? O Papel da Imprensa: O caso do Jornal Metical

    6. Concluso