Neto a evolucao das tecnicas e tecnologias da comunicacao social

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A evolução das técnicas e tecnologias da Comunicação

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A evolução das técnicas e tecnologias da Comunicação

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Relevância

Que técnicas de Comunicação?

� As de Comunicação Social, mediatizada, por intermédio das quais comunicamos uns com os outros, distintas das técnicas de Comunicação interpessoal

Qual a relevância do estudo da evolução destas técnicas?

Pelo facto de que o recurso à História permite compreender:

� o contexto social e cultural em que as técnicas de Comunicação surgem (a construção social da sua invenção) e são utilizadas (a construção social da sua utilização)

� o modo como a Comunicação se impôs como um valor central e como ideologia alternativa a ideologias políticas, passando de infra-estrutura a super-estrutura

� o papel que as técnicas de Comunicação desempenharam, evitando o determinismo técnico

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Duas tradiçõesna História da Comunicação

a cultura da argumentação:

� subjectiva

� condicional

� persuasiva

a cultura da evidência:

� objectiva

� incondicional

� demonstrável

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A escrita,técnica de transcrição da oralidade

Dois momentos decisivos na invenção da escrita, que assinalam:

� a passagem de uma representação literal (imagem representa o objecto) à representação abstracta (imagem representa fonemas que, reunidos, indicam o objecto)

� o afastamento progressivo da imagem como representação de objectos para imagem como representação de fonemas

� escrita ideográfica

� escrita alfabética

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A escrita ideográfica

Civilização Suméria (Mesopotâmia)

� contexto: região fértil, concentração populacional, armazenamento e comércio de mercadorias, necessidade de conservação de informação

� escrita cuneiforme (relativa à forma como era gravada)

� inicialmente, puramente figurativa (pictográfica simples), presta-se à inventariação e registo contabilístico de mercadorias em trocas comerciais

� progressivamente, abstracta (pictográfica complexa), na qual o conjunto das figuras pretende representar foneticamente uma palavra (cada figura, isoladamente, não tem relação com a palavra)

Civilização Egípcia, 3000 aC

� contexto: região fértil, concentração populacional, armazenamento e comércio de mercadorias, necessidade de conservação de informação

� escrita hieroglífica

� combinação de pictografia simples e complexa torna necessária a indicação de como os pictogramas devem ser interpretados (literal ou abstractamente)

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A escrita alfabéticao aumento das trocas comerciais, os efeitos sociais daí decorrentes, e a recusa da

representação pictográfica da divindade (Islamismo, Judaísmo) tornam necessária uma nova escrita, baseada não em imagem mas em signos que representam fonemas

Civilização Fenícia

� alfabeto de expansão geográfica limitada

� com a ausência de vogais, a escrita não representa completamente a oralidade, deixando o texto refém da ambiguidade de interpretação do leitor

Civilização Grega, séc. VIII-IV aC

� o poder político de Atenas impõe o alfabeto jónico como norma, perante outras alternativas desenvolvidas a par (o mesmo vem a acontecer com o desenvolvimento do alfabeto latino, por parte da civilização Romana)

� alfabeto com vogais, de ampla divulgação, base dos alfabetos criados até ao latino

� contribui para reorganização política e sócio-urbana grega

� a abstracção da escrita alfabética permite uma independência progressiva do alfabeto (enquanto sistema ordenado de fonemas) da língua que transcreve (independência da forma face ao conteúdo)

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A necessária resistência a determinismosna emergência da escrita

descoincidência nas velocidades de desenvolvimento técnico e de adopção/utilização social

o monopólio dos escribas (anteriormente contabilistas) e dinâmicas de manutenção do seu estatuto social

o relativo fechamento profissional da utilização desta técnica: a utilização profissional da escrita dura até ao Renascimento

o reduzido poder decisório associado à profissão do escriba (em comparação, por exemplo, com o mestre em retórica)

constrangimentos técnicos como obstáculo à massificação da adopção (o suporte era caro, e muitas vezes reciclado) limitam o número de textos disponíveis

a extensão relativa da sua adopção face à detenção de competências pelos cidadãos

o predomínio da tradição da oralidade face à escrita: a retórica constitui a técnica de comunicação da Antiguidade (Sócrates e a escrita enquanto fomento do sub-desenvolvimento das capacidades humanas de memorização)

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A retórica grega

criada como um instrumento que, em contexto de perturbação social e política, procura um reequilíbrio que prescinda do uso da força

Institui-se com uma finalidade jurídica e política

suscita o desenvolvimento de uma classe profissional (logógrafo) especializada na concepção de discursos

com o ensino Sofista (e a sua recusa de uma verdade absoluta, em prol da persuasão), torna-se um utensílio técnico, uma forma cujo conteúdo é relativizado

utilização é criticada (Platão) enquanto prática não comprometida com a procura e divulgação da verdade, o que faz com que Atenas não seja o contexto ideal para o desenvolvimento da retórica

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A retórica romanatraço moral e cultural decisivo: a solidariedade entre cidadãos como regra que institui a comunicação

como prática

a organização e o planeamento urbano tinham como um dos princípios orientadores a potenciação da comunicação entre os cidadãos: a oratória era, desta forma, não apenas um critério mas impunha-se como necessidade individual

a comunicação assume, em continuidade com a tradição grega, o papel de elemento de conciliação, de inclusão e de negociação: torna-se parte do processo civilizador, sobretudo dos povos conquistados

a necessidade de competências oratórias institui uma cultura de instrução, de transmissão de informação, conceito que reúne dois sentidos herdados distintos da tradição grega: por um lado, ideia, saber; por outro lado, dar uma forma, embalagem

ao contrário da tradição grega, esta síntese romana é decisiva: reúne dois mundos anteriormente separados, o da técnica e o do conhecimento (que despreza o primeiro). Esta síntese ilustra a atitude mais prática da cultura romana, que coloca a retórica ao serviço da vida quotidiana

a instrução baseia-se no trabalho dos instruendos, desenvolvido em a dois níveis: resumos escritos (baseados na consulta de manuais), e discursos e declamações. Desta forma, não apenas era receptor em processos de comunicação, mas tornava-se igualmente o seu emissor, o que ilustra a abordagem romana de informar como uma síntese entre dar conhecimento e colocar conhecimento numa determinada forma

a escrita mantém-se, no entanto, uma função da retórica: os livros são escritos para e de modo a serem utilizados como manuais ou para leituras/récitas públicas

difusão do alfabeto jónico pelo mundo, e da retórica através da sua integração no Catolicismo