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    Neuropsicologia da Linguagem Oral

    A relao entre crebro e linguagem foi reconhecida atravs da identificao

    das funes lingusticas do hemisfrio esquerdo. No se questiona o papel deste

    hemisfrio para as funes da linguagem nos indivduos destros, que constituem a

    maioria da populao, mas sim a relevncia do mesmo como sede nica da

    linguagem (Mansur e Senaha, 2003).

    Atravs do teste de Wada, possvel verificar a dominncia hemisfrica para

    a linguagem. O teste consiste em injetar amital sdico em uma das cartidas do

    paciente, ao qual se ordena que fale, enquanto mantm os dois braos elevados.

    Alguns segundos aps a injeco, o brao do lado oposto cartida injetada cai e, se

    o hemisfrio que recebeu o amital for o dominante, a fala automaticamente

    interrompida. Atravs deste teste, Rasmussen e Milner comprovaram o predomnio

    do hemisfrio esquerdo, em relao linguagem, mesmo em canhotos, como

    mostra a tabela abaixo (Oliveira e Amaral, 1997).

    Hemisfrio dominante (%)

    Esquerdo Direito Ambos

    Canhotos e ambidestros 70% 15% 15%

    Destros 96% 4% 0

    (Oliveira e Amaral, 1997)

    O conceito de centros da linguagem foi substitudo por reas instrumentais

    da linguagem, as quais esto localizadas tanto no hemisfrio esquerdo como no

    hemisfrio direito. Estudos da dcada de 1960 (Eisenson, 1962; Weinstein, 1964)

    contriburam para o reconhecimento de que leses no hemisfrio direito podemresultar em problemas de comunicao verbal que no constituem uma afasia

    propriamente dita, mas que afetam a relao do indivduo com o seu interlocutor

    (Joanette, Goulet e Hannequin, 2003). O hemisfrio direito est relacionado aos

    aspectos no literais da linguagem, ou seja, linguagem figurada ou implcita, como:

    ironia, sarcasmo, metfora e compreenso de histrias com moral (Parente, em

    Fonseca, Salles e Parente, 2009).

    No hemisfrio esquerdo, as reas frontais esto relacionadas produo da

    fala. J as reas mais posteriores esto relacionadas aos aspectos mais receptivos

    da linguagem. A rea clssica de Wernicke, localizada no centro lateral do

    hemisfrio esquerdo (dos destros) considerada fundamental para todas asmodalidades de linguagem. Associado a essa rea est o plo motor regio de

    Broca (Mansur e Senaha, 2003).

    O sistema de comunicao oral pode ser prejudicado por leses em

    diferentes regies do sistema nervoso. Distinguem-se clinicamente as

    manifestaes patolgicas, de acordo com a localizao das leses:

    Disfonia: alterao na intensidade, qualidade e timbre da voz causada por

    leses nos rgos fonadores, como uma laringite ou tumor de laringe;

    Disartria: distrbios da fala / m articulao da palavra devido a dificuldade

    de realizar movimentos musculares coordenados produo de vogais e

    consoantes. Causada por leses nos nervos cranianos bulbares ou do

    trigmeo ou do facial;

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    Afasia: desorganizaes da linguagem que se referem tanto ao plo

    expressivo quanto ao receptivo. Causadas por leses de reas corticais ou

    dos feixes nervosos que estabelecem conexes com essas reas; (Gil, 2007;

    Oliveira e Amaral, 1997).

    As afasias podem ser classificadas em:

    Afasia de Broca: comprometimento na elaborao da palavra falada. O

    paciente apresenta perturbao na capacidade de se expressar, com a

    presena de mutismo (ausncia de produo oral) ou fala lenta, telegrfica,

    utilizando apenas palavras-chave, de forma no gramatical. Exemplo: utiliza

    verbos no infinitivo, elimina artigos, adjetivos e advrbios. No incio o

    paciente pode apresentar supresso de linguagem com evolues diversas.

    O mutismo irreversvel raro. Estereotipias verbais podem estar presentes

    em diferentes graus. Tambm h comprometimento de ler em voz alta, de

    repetir o que lhe dito e de nomear objetos. Geralmente os pacientes tm

    conscincia da sua dificuldade; Afasia de Wernicke: comprometimento da compreenso da linguagem. O

    paciente pode falar de forma fluente e as vezes at de forma excessiva

    (logorria). Porm, a comunicao nada transmite, ou seja, sem contedo.

    Geralmente o paciente no tem conscincia do comprometimento. A

    capacidade de repetir palavras tambm fica comprometida. Leses na rea

    de Wernicke alteram, ao mesmo tempo, a decodificao da linguagem,

    qualquer que seja a modalidade sensorial de apresentao (palavras ouvidas

    ou palavras lidas);

    Afasia de conduo: a repetio de palavras e frases difcil ou quase

    impossvel. A leitura tende a reduzir ou eliminar as dificuldades de produooral espontnea. Causada por leso no fascculo arqueado (que liga a rea

    de Broca rea de Wernicke);

    Afasia transcortical sensorial: definida por muitos autores como uma afasia

    de Wernicke, mas onde h a possibilidade de repetio;

    Afasia transcortical motora: ausncia ou reduo da produo oral, porm a

    capacidade de repetio est preservada;

    Afasia global: casos extremos com dificuldades graves em todas as

    modalidades de compreenso e produo da linguagem;

    Outros distrbios da linguagem oral Parafasia: erro de substituioa palavra alvo trocada por outra. Pode ser

    uma troca fonmica (ex. bola por cola / marco por barco) ou uma troca

    semntica (ex. mesa por cadeira);

    Agramatismo: produo oral destituda do emprego de regras combinatrias

    da lngua (omisso de verbos, pronomes, preposio, artigos). Linguagem

    primitiva; As parafasias literais correspondem a um deslocamento da

    estrutura fonmica das palavras, com inverso de slabas, substituies, uso

    de palavras deformadas, porm ainda identificveis (reutamismo por

    reumatismo, biciteta por bicicleta);

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    Referncias:

    Gil, R. (2007). Neuropsicologia. So Paulo: Santos Editora.

    Joanette, Y., Goulet, P., & Hannequin, D. (2003). Dficits de comunicao verbal por

    leso no hemisfrio direito. Em R. Nitrini, P. Caramelli e L. Mansur. Neuropsicologia:

    das bases anatmicas reabilitao. So Paulo. Grupo de Neurologia USP.

    Mansur, L. L., & Senaha, M. L. H. (2003). Distrbios de linguagem oral e escrita e

    hemisfrio esquerdo. Em R. Nitrini, P. Caramelli e L. Mansur. Neuropsicologia: das

    bases anatmicas reabilitao. So Paulo. Grupo de Neurologia USP.

    Oliveira, J. M., & Amaral, J. R. (1997). Princpios de neurocincia. So Paulo:

    TecnoPress.

    Parente, M. A. M. P. (2009). Pressupostos tericos que embasaram a construo doNeupsilin. Em R. Fonseca, J. Salles e M. Parente. Neupsilin: instrumento de

    avaliao neuropsicolgica breve.So Paulo: Vetor Editora.