Neutro

17
ISSN 0101-4838 183 tempo psicanalítico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012 O neutro O neutro 1 Manoel Tosta Berlinck* RESUMO Este artigo é parte de um projeto de investigação sobre “O método clínico” financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil. Toma em consi- deração o neutro como recurso retórico, lugar na linguagem que permite a ocorrência da psicopatologia entendida como linguagem (logos) sobre o pathos psíquico. O neu- tro seria o lugar na língua a ser ocupado pelo clínico. Palavras-chave: neutro; pathos psíquico; clínica; Psicopatologia Fundamental. ABSTRACT The neuter This article is part of a research project on “The Clinical Method” funded by the National Council for the Scientific and Technological Development (CNPq) from the Ministry of Science, Technology and Innovation from Brazil. It takes the neuter into consideration as a rhetoric resource, a place in language that allows the occurrence of Psychopathology as a language (logos) about the psychic pathos. The neuter would be the place in language occupied by the clinician. Keywords: neuter, psychic pathos, clinics, Fundamental Psychopathology. * Sociólogo, psicanalista, Ph.D. (Cornell University), Professor da Faculdade de Ciências Humanas e da Saú- de da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Presidente da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental, autor de Psicopatologia Fundamental (2000) e de Erotomania com German E. Berrios (2009), entre outros livros e numerosos artigos. Tempo_Psicanalítico.indd 183 Tempo_Psicanalítico.indd 183 25/07/2012 08:31:57 25/07/2012 08:31:57

Transcript of Neutro

  • ISSN 0101-4838 183

    tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    O neutro

    O neutro1

    Manoel Tosta Berlinck*

    RESUMOEste artigo parte de um projeto de investigao sobre O mtodo clnico

    financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), do Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao do Brasil. Toma em consi-derao o neutro como recurso retrico, lugar na linguagem que permite a ocorrncia da psicopatologia entendida como linguagem (logos) sobre o pathos psquico. O neu-tro seria o lugar na lngua a ser ocupado pelo clnico.

    Palavras-chave: neutro; pathos psquico; clnica; Psicopatologia Fundamental.

    ABSTRACTThe neuter

    This article is part of a research project on The Clinical Method funded by the National Council for the Scientific and Technological Development (CNPq) from the Ministry of Science, Technology and Innovation from Brazil. It takes the neuter into consideration as a rhetoric resource, a place in language that allows the occurrence of Psychopathology as a language (logos) about the psychic pathos. The neuter would be the place in language occupied by the clinician.

    Keywords: neuter, psychic pathos, clinics, Fundamental Psychopathology.

    * Socilogo, psicanalista, Ph.D. (Cornell University), Professor da Faculdade de Cincias Humanas e da Sa-de da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP), Presidente da Associao Universitria de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental, autor de Psicopatologia Fundamental (2000) e de Erotomania com German E. Berrios (2009), entre outros livros e numerosos artigos.

    Tempo_Psicanaltico.indd 183Tempo_Psicanaltico.indd 183 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    184 MANOEL TOSTA BERLINCK

    Foi disso que vivi o neutro era o meu verdadeiro caldo de cultura [...]. O neutro inexplicvel e vivo, procura me entender: assim como o protoplasma e o smen e a protena so de um neutro vivo. E eu estava toda nova.

    Lispector, 1964/1998: 102

    Uma superficial observao do campo das psicoterapias revela a existncia de uma multiplicidade de prticas clnicas carecendo de slida base metodolgica. Essa multiplicidade pode ser fruto da sin-gularidade existente na clnica. Porm tal caracterstica no justifica a ausncia de rigor e preciso.

    As prticas clnicas so, via de regra, regidas por exigncias ins-titucionais como, por exemplo, as que ocorrem na sade mental, na qual a produo medida pelo nmero de atendimentos realizados por unidade do SUS, muitas vezes sem a ocorrncia de um trabalho de pensamento sobre a prtica.

    Outras vezes, as psicoterapias so regidas por exigncias profis-sionais como, por exemplo, as que ocorrem na psiquiatria, na qual a produo medida por atendimentos acompanhados de prescrio de medicamentos. Cabe, ento, ao psiquiatra aplicar um sistema clas-sificatrio com base em informaes padronizadas e ministrar medica-mentos sem uma observao cuidadosa e prolongada do paciente que envolva a intuio, a percepo figurativa e a representao de palavra.

    Diante desse quadro, a clnica, ou seja, o caminho percorrido visando o tratamento, a sade e a pesquisa e almejando a compreen-so do pathos psquico, voluntarista, irrefletida, mecnica, carente de uma prolongada e sistemtica observao clnica e sem uma repre-sentao de palavras justificada.

    As caractersticas e resultado dessa prtica so amplamente des-conhecidos, pois, no mbito da sade mental, por exemplo, os rela-trios encaminhados s agncias responsveis so, muitas vezes, me-ramente formais e, no mbito da clnica privada, pobres informaes existem, dado que praticamente no h relatos de casos que revelem vivncias clnicas.

    Tempo_Psicanaltico.indd 184Tempo_Psicanaltico.indd 184 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • O NEUTRO 185

    tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    Alm disso, nos ltimos 60 anos, desde a descoberta dos primeiros psicotrpicos, a literatura mdica no registra caso de cura por ingesto dessas molculas, ou seja, de remisso prolongada de sintomas sem ingesto de medicamentos. So numerosos os casos de estabilizao, de inibio de sintomas, o que no pouca coisa. Porm no h pesqui-sas que revelem casos de remisso prolongada de sintomas provocada por consumo de drogas psicotrpicas. Ao contrrio, suspeita-se que o consumo prolongado dessas drogas leva dependncia e intoxicao. Quando pacientes realizam programas de desintoxicao, suspeita-se que, na grande maioria dos casos, os sintomas inibidos reaparecem como antes. No entanto, a esse respeito tambm no h pesquisas.

    Esse quadro miservel, desde o ponto de vista da cura, ou seja, da remisso de sintomas sem necessidade de permanente ingesto de medicamentos, precisa ser revelado e, se isso se confirmar, est mais do que na hora de se buscar outros tipos de tratamentos.

    Este trabalho faz parte de projeto de pesquisa sobre o mtodo clnico e examina um determinado momento da clnica psicopatol-gica fundamental, quando o paciente se apresenta pela primeira vez ao clnico e este no lana mo, imediatamente, de um protocolo diagnstico pragmtico, como ocorre frequentemente na atualidade, principalmente na psiquiatria.

    A clnica psicopatolgica fundamental aquela que ocorre aqum (ou alm) da descoberta dos psicotrpicos e dos sistemas clas-sificatrios pragmticos como o CID e o DSM. Neste mbito, em que as caractersticas de cada manifestao sintomtica esto classifi-cadas e caracterizadas, no h espao e tempo para a fala psicopato-lgica do paciente. No h, pois, lugar para a ocorrncia da psicopa-tologia discurso (logos) sobre o pathos psquico.

    A clnica psicopatolgica fundamental, por levar em conside-rao a subjetividade, muitas vezes confundida com a psicanlise. Entretanto, ela pretende ir alm (ou aqum) da indispensvel contri-buio freudiana, pois reconhece que no h um nico saber capaz de dar conta do pathos psquico.

    Tempo_Psicanaltico.indd 185Tempo_Psicanaltico.indd 185 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    186 MANOEL TOSTA BERLINCK

    Nessa atividade, desde a Grcia antiga at a atualidade, o pacien-te se apresenta ao clnico como eminentemente enigmtico, surpre-endente e perigoso, ocupando sempre um lugar na linguagem (logos).

    H, pois, no paciente, um agir e um padecer. Como observa Lebrun (2009), esses dois conceitos so inseparveis, mas cada um deles designa uma potncia bem distinta.

    Padecer inferior a agir por dois motivos. Em primeiro lugar, pr-prio do agente encerrar em si mesmo um poder de mover ou mudar, do qual a ao a atualizao; o ajuste est naquilo que faz ocorrer uma forma. Diz-se paciente, ao contrrio, quele que tem a causa de sua modificao em outra coisa que no ele mesmo. A potncia que caracteriza o paciente no um poder-operar, mas um poder-tornar-se, isto , a suscetibilidade que far com que nele ocorra uma forma nova. A potncia passiva est ento em receber a forma. Em segundo lugar, padecer consiste essencialmente em ser movido ao passo que o agente, na medida em que sua atividade prpria est em comunicar uma forma, no essencialmente mutvel. Ocorre, decerto, que ele deve mover-se para agir sobre o paciente, mas no como agente porque ele tambm um ser que contm matria. O paciente como tal que , por natureza, um ser mutvel, caracterizado pelo movimento (Lebrun, 2009: 12-13).

    Ora, na psicopatologia fundamental, o clnico e o paciente mal se distinguem, j que ambos so pacientes e agentes. Aqui, tanto cl-nico quanto paciente querem dizer lugares mutveis e evanescentes e no constituem um paradigma. No se trata, entretanto, de uma anlise mtua. Guardando seus lugares, o clnico se deixa afetar pelo paciente e este afetado pelo clnico. A circulao do afeto (pathos) que garante a natureza psicopatolgica da clnica.

    Ocorre, entretanto, que o clnico, graas a um longo e penoso processo de formao, acredita saber o que se passa com o paciente logo em seguida s primeiras palavras por este pronunciadas. Entre-

    Tempo_Psicanaltico.indd 186Tempo_Psicanaltico.indd 186 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • O NEUTRO 187

    tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    tanto, mesmo crendo em sua formao, o enigmtico, surpreendente e perigoso continua presente e gera inquietao e angstia. O resul-tado desta situao incmoda frequentemente lana o clnico numa precipitao psicoteraputica, impedindo uma observao detalhada e cuidadosa do paciente (Berlinck, 2009).

    Como evitar, ento, que a clnica se constitua em um paradig-ma em que clnico e paciente se opem buscando um sentido?

    Frequentemente isso impossvel. O clnico ocupa posio ins-titucional que solicita precipitao. Este o caso, por exemplo, da clnica realizada no servio pblico, na qual a produtividade uma exigncia. Ocorre, tambm, na clnica particular paga por compa-nhias de seguro articuladas indstria farmacutica. Rapidez e preci-so diagnstica so requisitos de toda clnica pressionada institucio-nalmente. Nesses casos, no se trata de ocupar um lugar na lngua que possibilite a fala sobre o pathos psquico.

    Na clnica particular, em que o grau de liberdade supostamen-te maior, tambm h exigncias imaginrias capazes de promover inquietao e angstia no clnico e uma precipitao diagnstica. A prpria formao do clnico pode ser um desses fatores.

    Um bom exemplo dos constrangimentos que ocorrem na clni-ca psicopatolgica o caso do Dr. Jefferson de Lemos narrado por Margarida de Souza Neves (2010).

    Desde maio de 1912 estavam sob os cuidados do Dr. Jefferson os que, diagnosticados como epilticos, estavam internados no Hos-pital Nacional de Alienados, instituio que a pena arguta de Lima Barreto (1920/2004) qualificou de Cemitrio dos vivos.

    O doutor Lemos dirigia dois pavilhes do Hospital, o Pavilho Griesinger, no qual ficavam as mulheres que haviam recebido o diag-nstico de epilepsia, e o Pavilho Guislan, seo de epilticos ho-mens, na terminologia adotada pelo Hospital.

    Segundo Neves (2010), o doutor Lemos era, portanto, o alie-nista responsvel pelos epilticos adultos, e sua tarefa era to mais

    Tempo_Psicanaltico.indd 187Tempo_Psicanaltico.indd 187 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    188 MANOEL TOSTA BERLINCK

    difcil quanto mais escassos eram os instrumentos da medicina da sua poca para lidar com a epilepsia, conhecida como o grande mal quando acompanhada das crises convulsivas que mdicos e leigos chamavam de ataques ou acessos.

    Considerada ento uma doena mental, a epilepsia, dramtica em suas manifestaes, era nas primeiras dcadas do sculo XX particularmente cercada de preconceitos mdicos e sociais. Alguns desses preconceitos eram herdeiros da milenar associao da doena possesso diablica. Outros eram veiculados pela cincia mdica que, na poca, afirmava ser inata e incoercvel a tendncia ao crime e violncia dos epilticos. Outros ainda eram fruto do constrangimento dos doentes e de seus fa-miliares, uma vez que o diagnstico pesava como uma condenao, pois a doena era vista como herana maldita, evidncia da degenerao, do vcio, das taras e da vida desregrada (Neves, 2010: 2).

    Alm do cotidiano desgastante nas enfermarias do velho Hos-pital da Praia Vermelha, o doutor Jefferson de Lemos enfrentava ou-tras dificuldades. Era, alm de mdico, um positivista ortodoxo e convicto, conhecedor profundo dos escritos de Augusto Comte e seu devoto seguidor.

    Sua inabalvel f positivista levava-o a buscar a harmonia como ideal para a vida dos indivduos e das sociedades. Lidar coti-dianamente com pacientes cuja patologia implicava, em momentos de crise severa, a perda da conscincia e o completo descontrole do corpo era lidar com a sempre inesperada quebra de toda a harmonia no plano individual (Neves, 2010).

    Seu objetivo confesso era, portanto, a fidelidade ao incompa-rvel mestre Comte e admirvel doutrina o positivismo e no ao tratamento e compreenso da epilepsia.

    O desconcerto em relao epilepsia, que parecia escapulir cincia, traduziu-se em algumas das terapias indicadas como, por

    Tempo_Psicanaltico.indd 188Tempo_Psicanaltico.indd 188 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • O NEUTRO 189

    tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    exemplo, aquelas previstas na primeira tese brasileira sobre o tema, apresentada em 1859 pelo doutor Francisco Pinheiro Guimares por ocasio de um concurso de provimento de ctedra para a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Pinheiro Guimares (1859) preconi-zava, como medida preventiva, uma estranha dieta alimentar capaz de evitar as crises que consistia em evitar carnes negras, ovos, massas, fritadas, pato, porco, carnes salgadas, enguia, arraia, caranguejo, la-gosta, alcachofra, aspargos e salsa, alm de prescrever alguns trata-mentos radicais para as ocasies de crise, tais como dar um tiro perto do ouvido do paciente de forma a assust-lo com o rudo e com a possibilidade de ser ferido ou morto; ou ainda jogar o epiltico em um rio durante a crise e, nos casos de febre intermitente artifi-cial, aquela provocada por fins teraputicos em intervalos regulares, deixar o enfermo em crise nu, no frio e, depois, muito agasalhado, em um ambiente superaquecido. Quanto aos procedimentos a se-rem utilizados no tratamento sistemtico, aconselhava o uso, alm das sangrias, purgativos, vomitivos e exutrios, de algumas drogas com base em substncias vegetais como a Valeriana, a Beladona e a Artemsia, ou em compostos qumicos como o xido de zinco e, principalmente, o nitrato de prata, ainda que este ltimo tivesse um efeito colateral indesejado, pois sua utilizao contnua fazia com que a pele do doente adquirisse um tom azulado. Pinheiro Guima-res sugere ainda a possibilidade de tratamentos cirrgicos, tais como a obliterao das artrias epicranianas, a cauterizao da faringe ou dos nervos, e mesmo a castrao, segundo ele duas vezes utilizada na medicina com bom xito, mas no recomendvel porque brbara (Pinheiro Guimares, citado por Neves, 2010: 76).

    Os pacientes do doutor Jefferson, ainda segundo Neves (2010), estavam, graas a Comte, livres do circo de horrores dos tratamentos previstos para a epilepsia pelas teses mdicas. O doutor Lemos sabia que Augusto Comte havia recusado a ingesto de qualquer medica-mento por ocasio da doena que o levaria morte. Assim, o trata-

    Tempo_Psicanaltico.indd 189Tempo_Psicanaltico.indd 189 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    190 MANOEL TOSTA BERLINCK

    mento adotado por ele obrigava seus enfermos, fundamentalmente, a um regime alimentar. Eles eram privados de carnes de todo tipo, obrigados a alimentar-se exclusivamente de uma comida inspida, tinham que abandonar o caf, poderiam ser forados a comer menos e, eventualmente, eram submetidos a uma sangria.

    O exemplo do doutor Jefferson de Lemos est muito longe de ser diferente dos exemplos clnicos de ontem e de hoje. Diante do doente, o clnico assolado pela inquietao e pela angstia e lan-a mo de conhecimentos adquiridos em sua formao. Ocorre que tais conhecimentos so, via de regra, eivados de preconceitos, levando-os precipitao diagnstica e medicao inadequada.

    Como se proteger, repetimos, da inquietao e da angstia que assola o clnico toda vez que se defronta com um paciente?

    Clnicos famosos possuem recomendaes a esse respeito. Pinel (1801/2007), por exemplo, refere-se s condies favorveis para a manifestao sintomtica do paciente. Freud, por sua vez, fala de uma abstinncia silenciosa do clnico concedendo a livre associao ao paciente durante o tempo necessrio para uma observao deno-minada escuta. Kraepelin se refere ao tempo necessrio para que a doena se manifeste plenamente. Binswanger, tanto no caso Ellen West (1977) como no de Aby Warburg (2007), extremamente cui-dadoso com o tempo necessrio para a manifestao psicopatolgica, como se cresse que a prpria existncia assistida pelo clnico a res-ponsvel pelo tratamento.

    Nessas recomendaes h sempre uma referncia ao tempo para a compreensiva manifestao lgica do paciente: a lgica de seu pa-thos. Esse tempo no o da inquietao e da angstia do clnico, mal silenciadas pelo seu conhecimento a priori.

    Na clnica psicopatolgica fundamental, em que clnico e pa-ciente necessitam do tempo e do espao para colocar em palavra (lo-gos) o sofrimento (pathos) psquico, ocorrendo, assim, a prpria psi-copatologia, qual seria o lugar, na lngua, a ser ocupado pelo clnico?

    Tempo_Psicanaltico.indd 190Tempo_Psicanaltico.indd 190 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • O NEUTRO 191

    tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    H um lugar (topos) na lngua que pode ser ocupado pelo cl-nico de forma a reduzir e at evitar a inquietao, a angstia e a precipitao diagnstica e proporcionar um caminho em direo ao discurso (logos) sobre o pathos psquico, ou seja, psicopatologia? Se lugar (topos) houver, eis a hiptese deste trabalho, ele seria o neutro.

    Como se sabe, h lnguas em que o neutro uma figura expl-cita: o latim, o alemo, o ingls e, em menor grau, o espanhol. O portugus no possui esse lugar explcito. Entretanto, os que falam o portugus com frequncia criam artifcios linguageiros para expressar o neutro (Lauand, 2010). Isso, porm, cria questes complexas para a clnica na lngua portuguesa.

    Segundo Lauand (2010: 1), as lnguas que dispem do neutro contam com um poderoso recurso de pensamento, sem o qual se tornam inacessveis amplas regies do real. Para esse autor:

    o neutro puxa para a abstrao, a totalidade, a indeterminao e no tem nada que ver com seres concebidos como inanimados e nem tampou-co uma terceira opo para aqueles que no decidiram ainda se so masculinos ou femininos. Masculino e feminino s se opem ao neu-tro enquanto determinao; no enquanto gnero ou sexo (Lauand, 2010: 1).

    Nesta perspectiva, o neutro indeterminado: sem forma, sem figura e sem limites.

    O neutro no pode ser confundido, desde logo, com a indife-rena. Esta um dos destinos possveis da pulso enquanto o neutro um lugar proporcionado pela lngua ao falante, o lugar que pro-porciona ao falante a condio de falante, ou seja, provoca a lingua-gem.

    O neutro afasta o clnico da pronncia de enunciados perfor-mativos. Para haver um enunciado performativo, preciso que haja certo contexto, mais ou menos estritamente institucionalizado, um

    Tempo_Psicanaltico.indd 191Tempo_Psicanaltico.indd 191 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    192 MANOEL TOSTA BERLINCK

    indivduo que tenha o estatuto requerido ou que se encontre numa situao bem definida. O enunciado performativo na medida em que a prpria enunciao efetua a coisa enunciada; o performativo se consuma num mundo que garante que o dizer efetua a coisa dita (Foucault, 1982-1983/2010). Por exemplo, quando o mdico afirma isso no nada para um paciente com uma queixa, este deixa de ter algo (um obscuro, surpreendente e perigoso) para se queixar no s ao mdico que diz isso, mas a todos os clnicos.

    Num enunciado performativo os elementos dados na situa-o so tais que, ao pronunciar o enunciado, segue-se um efeito conhecido de antemo, regulado de antemo, efeito codificado que precisamente aquilo em que consiste o carter performativo do enunciado. Ao passo que, ao contrrio, no neutro, que se aproxima daquilo que Foucault (1982-1983/2010) denomina de parrsia, qualquer que seja o carter habitual, familiar, quase institucionali-zado da situao em que ela se efetua, o que faz o neutro a intro-duo, a irrupo do discurso determinando uma situao aberta, ou antes, abrindo a situao e tornando possveis vrios efeitos que, precisamente, no so conhecidos. O neutro no produz um efei-to codificado, ele abre um risco indeterminado (Foucault, 1982-1983/2010: 32).

    O neutro no se desenrola numa demonstrao, por mais neu-tra que esta seja, pois quem enuncia a demonstrao no corre ne-nhum risco. O enunciado do neutro no abre nenhum risco se ele for encarado como um elemento num procedimento demonstrativo. A no h neutro. A pronncia do neutro (dentro ou fora de um procedimento demonstrativo) constitui um acontecimento irrupti-vo, abrindo para o clnico um risco no definido ou mal definido. , portanto, em certo sentido, o contrrio do performativo, em que a enunciao de algo provoca e suscita, em funo do cdigo geral e do campo institucional em que pronunciado, um acontecimento plenamente determinado. O neutro um dizer eruptivo que desen-

    Tempo_Psicanaltico.indd 192Tempo_Psicanaltico.indd 192 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • O NEUTRO 193

    tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    cobre e que abre para o risco: possibilidade, campo de perigos, ou em todo caso eventualidade no determinada. O neutro coloca o clnico beira de um abismo, espao onde pode surgir o enigmtico surpreendente.

    Neste sentido, o neutro se aproxima da definio oferecida por Roland Barthes (2003: 16-17): O neutro aquilo que burla o para-digma, ou melhor, chamo de neutro tudo o que burla o paradigma. Paradigma, por sua vez, a oposio de dois termos virtuais dos quais um atualizado para se falar, para se produzir sentido.

    Para Barthes (2003), o paradigma o mbil do sentido; onde h sentido h paradigma e onde h paradigma (oposio) h sentido. Assim, o sentido assenta no conflito (escolha de um termo contra o outro), e todo conflito gerador de sentido: escolher um e rejeitar outro sempre sacrificar ao sentido, produzir sentido.

    Toms de Aquino cujo pensamento filosfico e teolgico ex-plora muito as possibilidades do neutro explica: O gnero neutro informe e indistinto; enquanto o masculino (e o feminino) forma-do e distinto. E, assim, o neutro permite adequadamente significar a essncia comum, enquanto o masculino e o feminino apontam para um sujeito dentro da natureza comum (Aquino, 1265-1273/2006, I, q. 14, a. 1).

    Para a compreenso do fundamental pensamento sobre o neu-tro realizado por Toms de Aquino, que influenciar profundamen-te, por exemplo, toda a filosofia de Martin Heidegger (1977/2010) e, tambm, a psicanlise de Jacques Lacan, seria necessrio um longo e complexo desvio pelas teses caractersticas do autor da Suma teol-gica e no esse o objetivo deste texto.

    Entretanto, com Toms de Aquino apreende-se que o neutro se aproxima de um lugar, de um topos, e se afasta do gnero frequen-temente associado, como faz Freud com a atividade e a passividade. O gnero , como a indiferena, um efeito da pulso e esta, sendo dinmica, no guarda um lugar (topos).

    Tempo_Psicanaltico.indd 193Tempo_Psicanaltico.indd 193 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    194 MANOEL TOSTA BERLINCK

    Assim, a clnica possui, como sua primeira exigncia, a relao com o enigmtico surpreendente e tal relao s verbalmente poss-vel se o clnico ocupar o lugar do neutro na lngua, ou seja, se afastar de todo paradigma.

    O corpo enigmtico, surpreendente e perigoso denominado paciente, apresentando-se ao clnico, o fundo, a natureza de onde brotam intuies, sinais, figuras e palavras em direo a uma com-preenso, uma interpretao (Verstehen). Natureza entendida, aqui, como o que faz surgir e abriga. A natureza, que Heidegger denomina tambm Terra, a que no sendo forada a nada sem esforo e infatigvel.

    A metfora da lavoura talvez sirva para esclarecer essa situao. O corpo, chamado paciente, apresentando-se ao clnico seria, assim, uma natureza, uma Terra onde qualquer manifestao est prestes a ocorrer. O corpo enigmtico, surpreendente e perigoso denominado paciente , pois, realista e est necessariamente incluso no ato de co-nhecer. Neste sentido, o intelecto apreende-se como objetivo imedia-to da realidade/corpo, isto , do que antes de qualquer conhecimento j em si mesmo. Na clnica h, pois, inicialmente, uma apreenso direta, intuitiva do que inteligvel no corpo, ou seja, do que ele , de sua essncia. Apreenso confusa e geral no ponto de partida que apenas afirma algo que e logo faz a pergunta do quid: o que ?

    Todo o trabalho clnico consiste, assim, em passar do conheci-mento obscuro, confuso, geral e, antes de tudo, afirmativo e inter-rogativo do real para um conhecimento preciso e claro, prprio ao objeto em foco. A realidade inteligvel de um corpo obscuro, surpre-endente e perigoso s aparece para o clnico mediante a impresso que esse corpo causa nos seus sentidos e a imagem que os sentidos conservam ou reproduzem dele. A conformidade da impresso sen-svel com a realidade sensvel e material, concreta de um paciente no pode deixar dvida no clnico, por mais contraditria que ela seja. A hesitao a expresso de um conflito intrapsquico. Se isso

    Tempo_Psicanaltico.indd 194Tempo_Psicanaltico.indd 194 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • O NEUTRO 195

    tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    ocorre, o clnico se encontra descentrado de sua posio neutra, ou seja, no ocorreu ainda a palavra capaz de desencobrir o obscuro. Ocorre, ento, o que se poderia chamar de contratransferncia, ou seja, uma atribuio de sentido do clnico para o paciente como exigncia da manifestao das atribuies de sentido que o paciente transfere para o clnico. Em outras palavras, o clnico deve confiar em sua intuio, sua sensibilidade, em sua capacidade de apreenso figurativa daquilo que se manifesta na clnica. O que importa nesse realismo do sensvel o clnico ser o portador e anunciador do que um ser, de sua essncia e, antes de tudo, do fato de ele existir. Pois o encontro da existncia s pode fazer-se para o homem pelo choque do sensvel, pelo afeto, pelo pathos e da apenas que pode surgir no clnico a ideia de ser. O que inteligvel a prpria realidade do paciente enquanto apreensvel pela inteligncia. prprio da inteli-gncia justamente poder estender-se ao que no e poder tornar-se outra coisa.

    Diante do ser que desencobre, a inteligncia desencobre a si mesma como no sendo apenas ela, mas tambm o que no ela. Assim, no caso do Dr. Jefferson de Lemos, a inteligncia no desen-cobre porque ela sabe: o epiltico est diante do clnico positivista, cuja inteligncia est obturada pelo saber de Augusto Comte. No h espao, na intuio, na sensibilidade, na inteligncia do Dr. Jefferson de Lemos, para estender-se ao que no , para ir alm (ou aqum) do positivismo e permitir a desencoberta do ser epiltico.

    Os seres cognocentes distinguem-se dos que no conhecem pelo fato de os que no conhecem no terem em si mais que sua prpria forma, enquanto o cognoscente de natureza a poder ter tambm em si a forma de outra realidade (permanecendo ele mesmo). claro que a natureza do no-cognoscente mais fechada em si e limitada. Ao contrrio, a na-tureza do cognoscente tem mais amplitude e extenso (Aquino, 1265-1273/2006, I, q. 14, a.1).

    Tempo_Psicanaltico.indd 195Tempo_Psicanaltico.indd 195 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    196 MANOEL TOSTA BERLINCK

    Prosseguindo na metfora agrria anteriormente adotada, o cl-nico seria algum (o lavrador?) que guarda a brotao na Terra. Ele sabe que dessa Terra, dessa natureza (o corpo obscuro, surpreendente e perigoso do paciente) brotam embries de palavras em direo a uma linguagem.

    O clnico-lavrador guarda, ento, as manifestaes do paciente--natureza, ou seja, aquilo que brota no corpo, suas manifestaes significantes.

    , pois, impossvel falar do conhecimento sem falar de sua relao com a realidade, com o ser (paciente). Dizer eu penso , tambm, dizer: o ser (paciente) existe, quer o eu, quer o no-eu, o eu como o no-eu sendo anteriores conscincia que tenho deles: pensar o ser no faz-lo advir.

    O portugus, como j foi dito, no dispe do gnero neutro. O desconhecido surpreendente, por sua vez, no nem masculino nem feminino. Aquilo, portanto, que pertence ao neutro no tem forma, no um terceiro gnero oposto aos dois outros e constituindo uma classe determinada de existentes ou de seres de razo. O neutro aquilo que no se distribui em nenhum gnero: o no geral, o no genrico, assim como o no particular. Ele recusa a pertena tanto categoria do objeto quanto do sujeito. E isso no quer dizer apenas que ele ainda est indeterminado e como que hesitando entre os dois, isso quer dizer que ele supe outra relao, que no depende nem das condies objetivas nem das disposies subjetivas.

    O desconhecido surpreendente sempre vivido, pensado e dito no neutro. O pensamento no neutro uma ameaa e um escnda-lo para o prprio pensamento. A nomeao do neutro, do obscuro surpreendente, no tem o poder de acolher diretamente. Algo nos dado dizer para o qual falta nossa maneira de abstrair e de generali-zar a habilidade de promover signos (Blanchot, 2010).

    O corpo obscuro, surpreendente e perigoso que se apresenta na cl-nica denominado paciente assim chamado para aclimatar e domesticar

    Tempo_Psicanaltico.indd 196Tempo_Psicanaltico.indd 196 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • O NEUTRO 197

    tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    o neutro, pois paciente passivo de adquirir forma e gnero, ou seja, o paciente informe (Lebrun, 2009). O neutro , assim, constantemente rechaado de nossa linguagem e de nossa verdade. Recalque posto em evidncia de modo exemplar por Freud que, por sua vez, denomina o neutro como inconsciente. Freud guarda o neutro quando prope que o mbito do inconsciente, do obscuro, do recalcado onde nascem forma e linguagem graas pulso, ao instinto, figura e lngua. No se trata aqui de uma esperana, mas da prpria natureza falante do corpo. Na clnica no h lugar para uma virtude como a esperana, pois ela conta com a natureza prpria do humano que inclui a linguagem.

    O obscuro surpreendente na clnica neutro. O obscuro no nem objeto, nem sujeito. Isso significa dizer que pensar o obscuro no de modo algum propor gnero coisa (das Ding). O ainda no conhecido, objeto de todo o saber ainda por vir, no tampouco ultrapass-lo no absolutamente incognoscvel, sujeito de pura trans-cendncia, recusando-se a toda maneira de conhecer e de se exprimir (Blanchot, 2010). Ao contrrio, digamos que na clnica est em jogo o obscuro surpreendente, com a condio, porm, de precisar: a clni-ca se relaciona com o obscuro surpreendente como enigma. Dito de outro modo, na clnica supe-se uma relao entre clnico e paciente na qual o obscuro surpreendente seria afirmado, manifestado e at exibido: desencoberto naquilo que o mantm enigmtico. O enigm-tico, nessa relao, se desencobriria, portanto, naquilo que o mantm encoberto (Blanchot, 2010). A relao clnica deve deixar intacto intocado o que transmite e no desvelado o que desencobre. A cl-nica no uma relao de desvelamento. O obscuro, na clnica, no ser revelado, mas indicado, sugerido sutilmente, apontado.

    Para evitar mal-entendidos, necessrio esclarecer que, se essa rela-o com o obscuro surpreendente afasta o conhecimento objetivo, afas-ta igualmente o conhecimento intuitivo e o conhecimento por fuso mstica. O conhecimento como neutro pressupe uma relao estranha a toda exigncia de identidade e de unidade, ou mesmo de presena.

    Tempo_Psicanaltico.indd 197Tempo_Psicanaltico.indd 197 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    198 MANOEL TOSTA BERLINCK

    Relacionar-se com o obscuro surpreendente sem desvel-lo sig-nifica muito precisamente que o enigmtico no neutro no pertence luz. Pertence a uma regio estranha a essa descoberta que se realiza na e pela luz. O obscuro surpreendente no cai sob o olhar, sem estar, no entanto, escondido do olhar: nem visvel, nem invi-svel ou, mais exatamente, desviando-se de todo o visvel e de todo o invisvel.

    O obscuro surpreendente, aquele para o qual a clnica nos des-perta, muito mais imprevisvel do que pode s-lo o futuro, mesmo o futuro no predito, pois tal como a morte ele escapa a toda apre-enso, exceto fala, mas na medida em que esta no uma apreen-so, no uma captura.

    Eis ento o essencial na clnica: falar o obscuro surpreendente, acolh-lo na fala mantendo-o obscuro precisamente no apreend--lo, no compreend-lo, recusar-se a identific-lo por essa captura objetiva que a viso, a qual captura, embora distncia. Viver com o obscuro surpreendente diante de si (o que significa dizer tam-bm: viver diante do obscuro e diante de si como obscuro) entrar nessa responsabilidade da fala que fala sem exercer qualquer forma de poder, inclusive esse poder que se realiza quando olhamos, j que, olhando, mantemos sob nosso horizonte e em nosso crculo de viso na dimenso do visvel-invisvel aquilo e aquele que est diante de ns. Clinicar , sem vnculo, vincular-se ao obscuro surpreen-dente e perigoso, ao caso clnico como fundamento da terapia e da pesquisa psicopatolgica (Magtaz & Berlinck, 2012).

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    Aquino, T. (1265-1273/2006). Suma teolgica, v. 1 ad 4. So Paulo: Loyola.Barthes, R. (2003). O neutro. So Paulo: Martins Fontes.Berlinck, M. T. (2009). Breve nota sobre O caso Filiscos e Hipcrates, seu

    autor. Pulsional Revista de Psicanlise, 22(2), 54-56.

    Tempo_Psicanaltico.indd 198Tempo_Psicanaltico.indd 198 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57

  • O NEUTRO 199

    tempo psicanaltico, Rio de Janeiro, v. 44.i, p. 183-199, 2012

    Binswanger, L. (1977). El caso de Ellen West. Estudio antropolgico-clnico. In: May, R., Angel, E. & Ellenberger, H.F. (Eds.). Existencia (pp. 288-434). Madrid: Editorial Gredos.

    Binswanger, L. & Warburg, A. (2007). La curacin infinita. Histria clnica de Aby Warburg. Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora.

    Blanchot, M. (2010). A conversa infinita 3. So Paulo: Escuta.Foucault, M. (1982-1983/2010). O governo de si e dos outros. So Paulo: Mar-

    tins Fontes.Heidegger, M. (1977/2010). A origem da obra de arte. So Paulo: Edies 70.Lauand, J. (2010). O neutro na gramtica e na metafsica Qual a do neutro?

    Disponvel em . Recupe-rado em 03/03/2012.

    Lebrun, G. (2009). O conceito de paixo. In: Novaes, A. (Org.). Os sentidos da paixo (pp. 12-31). So Paulo: Companhia das Letras.

    Lima Barreto, A. H. (1920/2004). O cemitrio dos vivos. So Paulo: Planeta.Lispector, C. (1964/1998). A paixo segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco.Magtaz, A. C. & Berlinck, M. T. (2012). O caso clnico como fundamento

    da pesquisa em Psicopatologia Fundamental. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 15(1), s/p.

    Neves, M. de S. (2010). O grande mal no Cemitrio dos Vivos: diagnsticos de epilepsia no Hospital Nacional de Alienados. Histria, Cincias, Sade--Manguinhos, 17(2), 1-13.

    Pinel, P. (1801/2007). Tratado mdico-filosfico sobre a alienao mental ou a mania. Porto Alegre: Editora da UFRGS.

    Pinheiro Guimares, F. (1859). Algumas palavras sobre a epilepsia. Tese apresen-tada para o concurso de um lugar de opositor na Seo de Cincias Mdicas da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

    NOTAS

    1 Este artigo resultado parcial da pesquisa sobre O mtodo clnico, finan-ciada pelo CNPq. Agradeo as contribuies de Ana Ceclia Magtaz e de Xochiquetzaly Yeruti de vila Ramirez.

    Recebido em 13 de janeiro de 2011Aceito para publicao em 03 de maro de 2012

    Tempo_Psicanaltico.indd 199Tempo_Psicanaltico.indd 199 25/07/2012 08:31:5725/07/2012 08:31:57