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Povos indígenas no Brasil Hoje, no Brasil, vivem mais de 200 povos indígenas, falando cerca de 190 línguas e dialetos, com uma riqueza cultural que nem imaginamos. Para acabar com a idéia de que os índios são todos iguais, vamos classificá-los em três grandes grupos, de acordo com fatores culturais e geográficos: povos de regiões úmidas, povos de região seca e povos da área nordestina. ^ifppi bnsB I - *: :- mm mm mm mm mtm BBBB p—i W V w A .\- \ V .^ O O .> O d, ; D O O tJ ^ - * VO c* »< -5Í? ^'vi * / Povos de regiões úmidas POVOS DE REGIÕES ÚMIDAS POVOS DE REGIÕES SECAS POVOS DA ÁREA NORDESTINA Um espaço para reescrevera nossa história Ano II - Primeiro semestre de 1995 - n 0 2 São povos que vivem em florestas tropicais (amazônia e mata atlântica), à beira dos rios ou no litoral. Agricultores na sua maioria, a alimentação básica é a mandioca, o milho, a batata-doce, o cará e a ba- nana, além do peixe. São bons nadadores e bons canoeiros, tendo introduzido a jangada como embarcação de pesca do mar. Suas aldeias, geralmente pequenas, são construídas sem muita ordem. Dormem em redes e possuem um belo artesanato de cerâmica e penas. Cada casa abriga uma familia extensa (avós, pais, filhos, genros e netos), podendo chegar a ter 40 pessoas. A autoridade é exercida pelo chefe da família, não havendo um ca- cique geral, o que ocorria somente em época de guerra. Em certas comunidades, como entre os Guarani, o pajé, que é o chefe religioso tem mais poder que o chefe político. Seu universo religioso é muito rico, povoado de espíritos e animais poderosos. O feitiço é visto como causa das doenças e mortes, o que leva muitas vezes a conflitos dentro da própria comunidade. ' 'Z São bastante andarilhos, não se apegando muito à terra, pois carregam dentro de si seu mundo cultural e sua história. Por isso se dispersaram de tal forma, e hoje estão espalhados por quase todo o Brasil. São cerca de 140 povos e entre os de língua tupi temos os Guarani, Tapirapé, K a m a i u r á , Guajajara, Suruí e outros; entre os de língua aruak temos os Terena, Apurinã, Kulina; entre os de língua karib temos os Bakairi, Makuxi, Kalapalo e além de outros povos como os Tukano, Yanomami e Tikuna*. Ií^ nmir. mim «>, r~ 199S - 2004 Década dos povos indígenas Por decisão da ONU, estamos iniciando a década dos Povos Indígenas. Gostaríamos que fosse um tempo para uma revisão histórica dos crimes cometidos contra eles, ao longo destes 500 anos de invasão e um momento para ouvir o que nos tem a dizer. Que este espaço muito além do 19 de abril data de pouca significação para os povos indígenas do continente. 10 -^SV ^ m ;> .& Povos de região seca São os que vivem em regiões montanhosas (Sul e Minas) ou de cerrado (Centro-Oeste). São muito tradicionais e apegados à terra, pois ela é seu mundo cul- tural e o lugar de seus antepas- sados. Possuem um território mais definido e quando imigram, costumam voltar para a mesma região. Uma das poucas exceções foram os Kai- apó, que ti- veram, por pressão das frentes de co- lonização, que ir para as flo- restas do sul do Pará, onde vivem até hoje. Caçadores e co- letores, alguns destes povos se tornaram agricultores, como os Timbira e Kaiapó, possuindo no milho, no feijão e na abóbora, sua base alimentar. A caça é outra fonte alimefltar importante, tendo vindo deles o nosso gosto pelo churrasco. Não usam redes, dormindo em camas de vara (jirau) ou no chão, em esteiras ou peles. Não têm grande afinidade com a água, mas são excelentes corredores e estão sempre se exercitando. Com uma sociedade muito hierarquizada, possuem um chefe geral, que muitas vezes tem autoridade sobre várias comunidades. As aldeias são sempre divididas em duas metades, seja no exercício da chefia (em cada época do ano é um grupo que assume o comando), seja nos esportes ou nos casamentos. Os que fazem parte de um grupo não podem se casar com pessoas de mesmo grupo. Por amarem as formas e as linhas bem definidas alguns dentre eles, como os Kaiapó e Timbira, possuem aldeias em circulo, o que faz lembrar o sol. De fato para este povos, por morarem em regiões frias ou secas é este astro que a vida ou a morte e por isso várias de suas festas acontecem ao nascer do sol. Valentes guerreiros, foram chamados as muralhas do sertão, tendo sido alvos de muitas guerras de extermínio. Possuem um belo artesanato de palha e penas e os Kaiapó são mestres da pintura geométrica em seus próprios corpos. Ao contrário do anterior, neste grupo temos apenas os povos de linguaje como os Kaingang, os Xokleng, os Xavante, os Kaiapó, os Maxakali, os Pataxó, os Bororó, os Timbira e outros. Ser índio Vi muitas pessoas postarem-se diante de mim, um índio, e ficar horas a olhar-me. Além de me lançarem uma série de perguntas, entre elas se não existe mais índio bravo. Penso comigo: o que estarão eles pensando? Esforço-me para penetrar em seus pensamentos. Afinal, um descendente de índios selvagens, descendentes de seres mitológicos - um índio - está postado diante deles, de calças, camisa e sapatos. Neste momento a imaginação desse povo simples voa pelo mundo da fantasia. Como será que vivem? O que comem? Será descendente de comedores de gente? Terá provado carne humana? Tem algum sentimento humano de amor e compaixão? Enfim percebo que as interpretações e humana entre os homens e a naturea. Gostaria de dizer-lhes que possuímos nossos valores sociais, políticos, econômicos, culturais e religiosos, que adquirimos através dos tempos, de geração em geração. Dizer que somos humanos, somos sujeitos a falhas e erros. Dizer que nossos sentimentos mais íntimos são exteriorizados através da arte, da língua, da nossa religião, das festas acompanhadas de ritos e cerimônias. Dizer que conseguimos chegar num mundo equilibrado, prenhe de valores que transmitimos a nossos filhos, o que em outras palavras mais compreensíveis, é sinônimo de educação. Dizer que estamos prontos para receber o que de útil a sociedade deles nos oferece e comparações que nos fazem não passam da rechaçar o que de ruim ela nos apresenta. categoria de animais exóticos que habitam a selva. Tenho vontade de fazê-los compreender meu mundo, assim como cheguei a compreender o mundo deles. Gostaria de dizer-lhes que faço parte de uma sociedade que possui normas de vivência Mas a cegueira etnocêntrica não permite esse diálogo franco e sincero. Daniel Matenho Cabixi, da nação Paresi (MT) (in A questão indígena, Cuiabá, CDTI, 1984) Povos da Área Nordestina Por ter sido o Nordeste a primeira área a ser invadida pelos portugueses, seus povos foram os que mais sofreram. Perderam língua nativa e muitas tradições de seus antepassados e hoje têm dificuldade em serem reco- nhecidos como indígenas. Em sua maioria, são remanes- centes de antigos aldeamentos missionários e que agora estão recuperando suas terras e seus costumes. Nesta região apenas os Fulni-ô, em Pernambuco, conservam o idioma nativo. Os demais - cerca de 30 povos - acham-se espalhados por quse todos os estados do Nordeste, como os Tapeba, Tremembé, Potiguara, Pankararu, Pataxó, Xokó e outros. *De acordo com a orientação da Associação Brasileira de Antropologia-ABA, os nomes indígenas não devem ser flexionados no plural. bi Expediente * Bororé ou M'bororé, nome da batalha em que os Guarani venceram os bandeirantes, a 18 de março de 1641. FEVEREIRO 7 de fevereiro de 1756 - Morte de Sepé Tiaraju, nas colinas de Santa Tecla, atual região de Bagé (RS). ABRIL 17 de abril de 1974 - I a Assembléia de Chefes Indígenas, em Diamantino (MT), a partir da qual ressurge o movimento indígena no Brasil. 21 de abril - Ano novo maia. «^i i 1 Este jornal mural é feito pelo Clml Sul (texto de B. Prezia e ilustrações de Sam) Pedidos à Rua Prof. Sebastião Soares de Faria, 27 - - Bela Vista. 01317-010 São Paulo - Tel. (011) 284-5040 Apoio: FTD Livros para quem procura qualidade NOSSOS DEUSES "Vocês, brancos, Julgavam que éramos selvagens... Quando cantávamos nossos louvores ao sol, à lua ou ao vento, vocês nos chamavam de idolatras. Sem compreender, nos condenaram como almas perdidas, simplesmente porque nossa religião era diferente da sua. Nós víamos a obra do Grande Espírito em quase tudo: no sol, na lua, nas árvores, no vento e nas montanhas. As vezes nos aproximávamos d'Ele, através deles. Será que isso era tão ruim assim? Acho que cremos no Ser Supremo, com uma mais forte que a de muitos brancos que nos chamam de pagãos. Os indígenas, vivendo ao lado da natureza e do Mestre da Natureza, não vivem na escuridão." Ta tanga Mani (Búfalo Caminhante), da nação Stoney, Canadá(1871-1967) ín Povos Indígenas do Sul Com este mural iniciamos a apresentação da vida e da cultura dos povos do Sul. Começaremos pelo povo Guarani, que juntamente com os tupis do litoral, foram os primeiros a enfrentar os invasores europeus no século XVI. Pos-íeriormente conheceremos outros povos como os Kaingang, os Xokleng, os Xetá e muitos outros que foram exterminados. Os Místicos da América O Guarani é um povo mistico, para o qual aterra é apenas o reflexo do mundo sobrenatural, que é o verdadeiro. Vivendo nas florestas da bacia dos rios Paraguai e Paraná, este povo tem uma longa história de resistência. Os atuais Guarani foram os que não aceitaram o aldeamento dos jesuítas do século 17, tendo se refugiado nas matas, por desejarem conservar suas tradições. Hoje no Brasil existem três sub-grupos: os Kaiowá, que vivem no Mato Grosso do Sul, os Nhandeva ou Avá - que vivem no oeste do Paraná e parte do MS e os Mbyá que estão espalhados por todo o Sul e Sudeste. Possuem um cacique (morivichá),mas a figura mais importante é o pajé, chamado de pai ou nhanderu (nosso pai). Esta liderança religiosa pode ser exercida por uma mulher, que recebe o nome de nhandecy - nossa mãe. A vida em nossa sociedade tem levado os Guarani a constantes crises, o que os fazem buscar um mundo diferente, a Terra sem Males, onde não sofrimento e onde podem viver o seu modo de ser guarani, o tekohá. Como esta terra está à Leste, para além do oceano, os Guarani estão em constantes mudanças em direção do litoral. Hoje eles vêem a importância de ter uma terra demarcada e uma forte organização para enfrentar a sociedade brasileira. Por isso criaram a Nemboaty Guasu Guarani Grande Reunião Guarani - que congrega represen- tantes dos sete Estados onde vivem. Os Guarani acreditam que temos duas almas: a espiritual e a ani- mal. A primeira, recebemos no mo- mento da concepção e os pais são avisados por Nhanderu, Deus, ou por seus auxiliares, através do sonho. Ela se integra ao corpo por ocasião do nascimento e sua função principal é ser palavra. E responsável pelos atos bons e generosos. A alma animal aparece no nascimento e responde pelos atos maus e por nosso temperamento. Ela gosta de carne, ao contrário da espiritual que gosta de vegetais. Se alguém recebe a alma de uma onça, ele será violento; se recebe a do beija-flor, será calmo e bondoso. Se recebe do macaco, será travesso e irriquieto. Ao morrer, a alma animal ficará vagando e fazendo o mal aos outros. Por isso os cemitérios devem estar longe das cidades. Mas a alma espiritual vai em busca da Terra sem Males. A TRAGÉDIA GUARANI üs Guarani, na época da invasão européia, eram em tomo de 200 mil. Desde o início foram escravizados pelos espanhóis do Paraguai, que em menos de cem anos os reduziram a um quarto da população. Para fugir à escravização e aos massacres, aceitaram o aldeamento cristão dos jesuítas, chamado de reduções e que se implantaram no oeste do atual Paraná e no Mato Grosso do Sul. Apesar de perderem a religião antiga, mantiveram sua própria língua e voltaram a ser um povo numeroso e forte. Devido aos constantes ataques dos paulistas, que viviam do comércio de escravos, as reduções foram várias vezes destruídas, o que levou o rei espanhol a autorizar a formação de exércitos. Melhor protegidos e instalados mais para o Sul, puderam criar verdadeiras cidades, em número de 30, onde tudo era fabricado, incluindo gráficas, que imprimiam livros em espanhol e guarani. Com o Tratado de Madri, em 1750, que desejava acabar com o conflito de fronteiras entre espanhóis e portugueses, estes receberam a margem esquerda do rio Uruguai, que incluía sete aldeamentos - os Sete Povos das Missões. Os Guarani não aceitaram esta barganha e empunharam armas, desencadeando uma guerra que durou três anos. Os que não foram mortos, tiveram que transferir-se para as regiões que hoje são o Paraguai e Ar- gentina. O grande líder desta guerra foi Sepé Tiaraju {ver nosso mural Bororé, 1). Apesar de massacrados, os Guarani legaram sua língua que hoje é falada por 3,5 milhões de pessoas no Paraguai. p 1 n L^V. 1 ,11 õT & â Ju LEITURA RECOMENDADA Lugon, Clovis - A república comunista cristã dos Guarani, São Paulo, Paz e Terra, 1980 Meliá, Bartomeu - A experiência religiosa guarani, in O rosto índio de Deus, Petrópolis, Ed. Vozes, Col. Teologia e Libertação, 1989. Prezia, Benedito - A Guerra de Piratininga, Col. Cinco Séculos, São Paulo, Ed. FTD, 1991. A influência Guarani no Sul do Brasil Os Guarani que viviam no Sul deixaram suas marcas na região, como as ruínas das igrejas das missões, que hoje são monumentos históricos, o hábito de tomar chimarrão e sobretudo os nomes dos lugares. São guaranis as serras do Cavará, Canguçu ou os rios Iguaçu, Uruguai, Quaraí, Camaquã, Chuí, Ibitinã, Butiré, Caí e outros. também as cidades Jaguarão, Bagé, Tapes, Taquari, Jacuí, Pejuçara, Guabiju, Itaim, Tupanciretã, Tucunduva, Ubiretama entre outras. Um dos grandes personagens históricos do Sul é Sepé Tiaraju ou São Sepé, símbolo da identidade gaúcha. Chamá-los de bugres, como ocorre no Sul, a estas pessoas com uma história e uma cultura tão rica, além de ofensivo, é um desconhecimento de nossas raízes. 1 MM i L

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Povos indígenas no Brasil Hoje, no Brasil, vivem mais de 200 povos indígenas,

falando cerca de 190 línguas e dialetos, com uma riqueza cultural que nem imaginamos. Para acabar com a idéia de que os índios são todos iguais, vamos classificá-los em três grandes grupos, de acordo com fatores culturais e geográficos: povos de regiões úmidas, povos de região seca e povos da área nordestina.

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Povos de regiões úmidas

POVOS DE REGIÕES ÚMIDAS

POVOS DE REGIÕES SECAS

POVOS DA ÁREA NORDESTINA

Um espaço para reescrevera nossa história Ano II - Primeiro semestre de 1995 - n0 2

São povos que vivem em florestas tropicais (amazônia e mata atlântica), à beira dos rios ou no litoral. Agricultores na sua maioria, a alimentação básica é a mandioca, o milho, a batata-doce, o cará e a ba- nana, além do peixe. São bons nadadores e bons canoeiros, tendo introduzido a jangada como embarcação de pesca do mar.

Suas aldeias, geralmente pequenas, são construídas sem muita ordem. Dormem em redes e possuem um belo artesanato de cerâmica e penas. Cada casa abriga uma familia extensa (avós, pais, filhos, genros e netos), podendo chegar a ter 40 pessoas. A autoridade é exercida pelo chefe da família, não havendo um ca- cique geral, o que ocorria somente em época de guerra. Em certas comunidades, como entre os Guarani, o pajé, que é o chefe religioso tem mais poder que o chefe político.

Seu universo religioso é muito rico, povoado de espíritos e animais poderosos. O feitiço é visto como causa das doenças e mortes, o que leva muitas vezes a conflitos dentro da própria comunidade.

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São bastante andarilhos, não se apegando muito à terra, pois carregam dentro de si seu mundo cultural e sua história. Por isso se dispersaram de tal forma, e hoje estão espalhados por quase todo o Brasil. São cerca de 140 povos e entre os de língua tupi temos os Guarani, Tapirapé, K a m a i u r á , Guajajara, Suruí e outros; entre os de língua aruak temos os Terena, Apurinã, Kulina; entre os de língua karib temos os Bakairi, Makuxi, Kalapalo e além de outros povos como os Tukano, Yanomami e Tikuna*.

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199S - 2004 Década dos povos indígenas

Por decisão da ONU, estamos iniciando a década dos Povos Indígenas. Gostaríamos que fosse um tempo para uma revisão histórica dos crimes cometidos contra eles, ao longo destes 500 anos de invasão e um momento para ouvir o que nos tem a dizer. Que este espaço vá muito além do 19 de abril data de

pouca significação para os povos indígenas do continente.

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Povos de região seca

São os que vivem em regiões montanhosas (Sul e Minas) ou de cerrado (Centro-Oeste). São muito

tradicionais e apegados à terra, pois ela é seu mundo cul- tural e o lugar de seus antepas- sados. Possuem

um território mais definido e quando imigram, costumam voltar para a mesma região. Uma das

poucas exceções foram os Kai- apó, que ti- veram, por pressão das frentes de co- lonização, que

ir para as flo- restas do sul do

Pará, onde vivem até hoje. Caçadores e co-

letores, alguns destes povos se tornaram agricultores, como os Timbira e Kaiapó, possuindo no milho, no feijão e na abóbora, sua base alimentar. A caça é outra fonte alimefltar

importante, tendo vindo deles o nosso gosto pelo churrasco.

Não usam redes, dormindo em camas de vara (jirau) ou no chão, em esteiras ou peles. Não têm grande afinidade com a água, mas são excelentes corredores e estão sempre se exercitando.

Com uma sociedade muito hierarquizada, possuem um chefe geral, que muitas vezes tem autoridade sobre várias comunidades. As aldeias são sempre divididas em duas metades, seja no exercício da chefia (em cada época do ano é um grupo que assume o comando), seja nos esportes ou nos casamentos. Os que fazem parte de um grupo não podem se casar com pessoas de mesmo grupo.

Por amarem as formas e as linhas bem definidas alguns dentre eles, como os Kaiapó e Timbira, possuem aldeias em circulo, o que faz lembrar o sol. De fato para este povos, por morarem em regiões frias ou secas é este astro que dá a vida ou a morte e por isso várias de suas festas acontecem ao nascer do sol.

Valentes guerreiros, foram chamados as muralhas do sertão, tendo sido alvos de muitas guerras de extermínio.

Possuem um belo artesanato de palha e penas e os Kaiapó são mestres da pintura geométrica em seus próprios corpos.

Ao contrário do anterior, neste grupo temos apenas os povos de linguaje como os Kaingang, os Xokleng, os Xavante, os Kaiapó, os Maxakali, os Pataxó, os Bororó, os Timbira e outros.

Ser índio Vi muitas pessoas postarem-se diante de

mim, um índio, e ficar horas a olhar-me. Além de me lançarem uma série de perguntas, entre elas se não existe mais índio bravo.

Penso comigo: o que estarão eles pensando? Esforço-me para penetrar em seus pensamentos. Afinal, um descendente de índios selvagens, descendentes de seres mitológicos - um índio - está postado diante deles, de calças, camisa e sapatos. Neste momento a imaginação desse povo simples voa pelo mundo da fantasia.

Como será que vivem? O que comem? Será descendente de comedores de gente? Terá provado carne humana? Tem algum sentimento humano de amor e compaixão?

Enfim percebo que as interpretações e

humana entre os homens e a naturea. Gostaria de dizer-lhes que possuímos nossos valores sociais, políticos, econômicos, culturais e religiosos, que adquirimos através dos tempos, de geração em geração.

Dizer que somos humanos, somos sujeitos a falhas e erros. Dizer que nossos sentimentos mais íntimos são exteriorizados através da arte, da língua, da nossa religião, das festas acompanhadas de ritos e cerimônias. Dizer que conseguimos chegar num mundo equilibrado, prenhe de valores que transmitimos a nossos filhos, o que em outras palavras mais compreensíveis, é sinônimo de educação.

Dizer que estamos prontos para receber o que de útil a sociedade deles nos oferece e

comparações que nos fazem não passam da rechaçar o que de ruim ela nos apresenta. categoria de animais exóticos que habitam a selva. Tenho vontade de fazê-los compreender meu mundo, assim como cheguei a compreender o mundo deles.

Gostaria de dizer-lhes que faço parte de uma sociedade que possui normas de vivência

Mas a cegueira etnocêntrica não permite esse diálogo franco e sincero.

Daniel Matenho Cabixi, da nação Paresi (MT)

(in A questão indígena, Cuiabá, CDTI, 1984)

Povos da Área Nordestina

Por ter sido o Nordeste a primeira área a ser invadida pelos portugueses, seus povos foram os que mais sofreram. Perderam língua nativa e muitas tradições de seus antepassados e hoje têm dificuldade em serem reco- nhecidos como indígenas. Em sua maioria, são remanes- centes de antigos aldeamentos missionários e que agora estão recuperando suas terras e seus costumes.

Nesta região apenas os

Fulni-ô, em Pernambuco, conservam o idioma nativo. Os demais - cerca de 30 povos - acham-se espalhados por quse todos os estados do Nordeste, como os Tapeba, Tremembé, Potiguara, Pankararu, Pataxó, Xokó e outros.

*De acordo com a orientação da Associação Brasileira de Antropologia-ABA, os nomes indígenas não devem ser flexionados no plural.

bi

Expediente * Bororé ou M'bororé,

nome da batalha em que os Guarani venceram os bandeirantes, a 18 de março de 1641.

FEVEREIRO

7 de fevereiro de 1756 - Morte de Sepé Tiaraju, nas colinas de Santa Tecla, atual região de Bagé (RS).

ABRIL

17 de abril de 1974 - Ia Assembléia de Chefes Indígenas, em Diamantino (MT), a partir da qual ressurge o movimento indígena no Brasil.

21 de abril - Ano novo maia.

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Este jornal mural é feito pelo Clml Sul (texto de B. Prezia e ilustrações de Sam) Pedidos à Rua Prof. Sebastião Soares de Faria, 27 - 1° - Bela Vista. 01317-010 São Paulo - Tel. (011) 284-5040

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NOSSOS DEUSES "Vocês, brancos, Julgavam que éramos

selvagens... Quando cantávamos nossos louvores ao sol, à lua ou ao vento, vocês nos chamavam de idolatras. Sem compreender, nos condenaram como almas perdidas, simplesmente porque nossa religião era diferente da sua. Nós víamos a obra do Grande Espírito em quase tudo: no sol, na lua, nas árvores, no vento e nas montanhas. As vezes nos aproximávamos d'Ele, através deles. Será que isso era tão ruim assim?

Acho que cremos no Ser Supremo, com uma fé mais forte que a de muitos brancos que nos chamam de pagãos. Os indígenas, vivendo ao lado da natureza e do Mestre da Natureza, não vivem na escuridão."

Ta tanga Mani (Búfalo Caminhante), da nação Stoney, Canadá(1871-1967)

ín Povos Indígenas do Sul

Com este mural iniciamos a apresentação da vida e da cultura dos povos do Sul. Começaremos pelo povo Guarani, que juntamente com os tupis do litoral, foram os primeiros a enfrentar os invasores europeus no século XVI. Pos-íeriormente conheceremos outros povos como os Kaingang, os Xokleng, os Xetá e muitos outros que Já foram exterminados.

Os Místicos da América O Guarani é um povo mistico, para o qual aterra é

apenas o reflexo do mundo sobrenatural, que é o verdadeiro. Vivendo nas florestas da bacia dos rios Paraguai e Paraná, este povo tem uma longa história de resistência. Os atuais Guarani foram os que não aceitaram o aldeamento dos jesuítas do século 17, tendo se refugiado nas matas, por desejarem conservar suas tradições. Hoje no Brasil existem três sub-grupos: os Kaiowá, que vivem no Mato Grosso do Sul, os Nhandeva ou Avá - que vivem no oeste do Paraná e parte do MS e os Mbyá que estão espalhados por todo o Sul e Sudeste. Possuem um cacique (morivichá),mas a figura mais importante é o pajé, chamado de pai ou nhanderu (nosso pai). Esta liderança religiosa pode ser exercida por uma mulher, que recebe o nome de nhandecy - nossa mãe. A vida em nossa sociedade tem levado os Guarani a constantes crises, o que os fazem buscar um mundo diferente, a Terra sem Males, onde não há sofrimento e onde podem viver o seu modo de ser guarani, o tekohá. Como esta terra está à Leste, para além do oceano, os Guarani estão em constantes mudanças em direção do litoral. Hoje eles vêem a importância de ter uma terra demarcada e uma forte organização para enfrentar a sociedade brasileira. Por isso criaram a Nemboaty Guasu

Guarani -Á Grande Reunião Guarani - que congrega represen- tantes dos sete Estados onde vivem. Os Guarani acreditam que temos duas almas: a espiritual e a ani- mal. A primeira, recebemos no mo- mento da concepção e os pais são avisados por Nhanderu, Deus, ou por seus auxiliares, através do sonho. Ela se integra ao corpo por ocasião do nascimento e sua função principal é ser palavra. E responsável pelos atos bons e generosos. A alma animal aparece no nascimento e responde pelos atos maus e por nosso temperamento. Ela gosta de carne, ao contrário da espiritual que gosta de vegetais. Se alguém recebe a alma de uma onça, ele será violento; se recebe a do beija-flor, será calmo e bondoso. Se recebe do macaco, será travesso e irriquieto. Ao morrer, a alma animal ficará vagando e fazendo o mal aos outros. Por isso os cemitérios devem estar longe das cidades. Mas a alma espiritual vai em busca da Terra sem Males.

A TRAGÉDIA GUARANI üs Guarani, na época da invasão européia, eram em tomo de 200 mil. Desde o início foram escravizados

pelos espanhóis do Paraguai, que em menos de cem anos os reduziram a um quarto da população. Para fugir à escravização e aos massacres, aceitaram o aldeamento cristão dos jesuítas, chamado de reduções e que se implantaram no oeste do atual Paraná e no Mato Grosso do Sul.

Apesar de perderem a religião antiga, mantiveram sua própria língua e voltaram a ser um povo numeroso e forte. Devido aos constantes ataques dos paulistas, que viviam do comércio de escravos, as reduções foram várias vezes destruídas, o que levou o rei espanhol a autorizar a formação de exércitos.

Melhor protegidos e instalados mais para o Sul, puderam criar verdadeiras cidades, já em número de 30, onde tudo era fabricado, incluindo gráficas, que imprimiam livros em espanhol e guarani.

Com o Tratado de Madri, em 1750, que desejava acabar com o conflito de fronteiras entre espanhóis e portugueses, estes receberam a margem esquerda do rio Uruguai, que incluía sete aldeamentos - os Sete Povos das Missões. Os Guarani não aceitaram esta barganha e empunharam armas, desencadeando uma guerra que durou três anos. Os que não foram mortos, tiveram que transferir-se para as regiões que hoje são o Paraguai e Ar- gentina. O grande líder desta guerra foi Sepé Tiaraju {ver nosso mural Bororé, n° 1).

Apesar de massacrados, os Guarani legaram sua língua que hoje é falada por 3,5 milhões de pessoas no Paraguai.

p 1 n

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LEITURA RECOMENDADA Lugon, Clovis - A república comunista cristã dos Guarani,

São Paulo, Paz e Terra, 1980

Meliá, Bartomeu - A experiência religiosa guarani, in O rosto índio de Deus, Petrópolis, Ed. Vozes, Col. Teologia e Libertação, 1989.

Prezia, Benedito - A Guerra de Piratininga, Col. Cinco Séculos, São Paulo, Ed. FTD, 1991.

A influência Guarani no Sul do Brasil Os Guarani que viviam no Sul deixaram suas marcas na região, como as ruínas das igrejas das

missões, que hoje são monumentos históricos, o hábito de tomar chimarrão e sobretudo os nomes dos lugares. São guaranis as serras do Cavará, Canguçu ou os rios Iguaçu, Uruguai, Quaraí, Camaquã, Chuí, Ibitinã, Butiré, Caí e outros. Há também as cidades Jaguarão, Bagé, Tapes, Taquari, Jacuí, Pejuçara, Guabiju, Itaim, Tupanciretã, Tucunduva, Ubiretama entre outras.

Um dos grandes personagens históricos do Sul é Sepé Tiaraju ou São Sepé, símbolo da identidade gaúcha. Chamá-los de bugres, como ocorre no Sul, a estas pessoas com uma história e uma cultura tão rica, além de ofensivo, é um desconhecimento de nossas raízes.

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