News Making

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Introdução Propusemo-nos neste trabalho fazer um estudo sobre o newsmaking os valores/noticia. Este estudo incidiu no livro de Mauro Wolf Teorias da Comunicação no qual podemos encontrar diversos exemplos e noções relativamente ao funcionamento das empresas informativas. Dentro destas podemos encontrar vários processos e maneiras de simplificar o tratamento da informação e construção das notícias. Nestes processos estão presentes os valores/notícia como parte integrante e essencial da funcionalidade da profissão jornalística, visto que funcionam como linhas guia que estão presentes em todo o processo de produção informativa e não só na fase da selecção. Nas palavras do próprio autor: Definida a noticiabilidade como um conjunto de elementos através dos quais um órgão informativo controla e gere a quantidade e o tipo de acontecimentos, de entre os quais há que seleccionar as noticias, podemos definir os valores/notícias (news values), como uma componente da noticiabilidade. Estes valores constituem a resposta à pergunta seguinte: quais os acontecimentos que são considerados suficientemente interessantes, significativos e relevantes para serem transformados em notícias?” O newsmaking: os valores/notícia

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Introdução 

Propusemo-nos neste trabalho fazer um estudo sobre o newsmaking os valores/noticia. Este estudo incidiu no livro de Mauro Wolf Teorias da Comunicação no qual podemos encontrar diversos exemplos e noções relativamente ao funcionamento das empresas informativas. Dentro destas podemos encontrar vários processos e maneiras de simplificar o tratamento da informação e construção das notícias. Nestes processos estão presentes os valores/notícia como parte integrante e essencial da funcionalidade da profissão jornalística, visto que funcionam como linhas guia que estão presentes em todo o processo de produção informativa e não só na fase da selecção.

 

  Nas palavras do próprio autor:

“Definida a noticiabilidade como um conjunto de elementos através dos quais um órgão informativo controla e gere a quantidade e o tipo de acontecimentos, de entre os quais há que seleccionar as noticias, podemos definir os valores/notícias (news values), como uma componente da noticiabilidade. Estes valores constituem a resposta à pergunta seguinte: quais os acontecimentos que são considerados suficientemente interessantes, significativos e relevantes para serem transformados em notícias?”

O newsmaking: os valores/notícia

  Os valores/notícias funcionam na prática de uma forma complementar, na

selecção e escolha dos acontecimentos a transformar em notícias, são diferentes combinações que ocorrem entre diferentes valores/notícias que recomendam a selecção de um facto.

Como segundo aspecto é que os valores/notícia são critérios de relevância e que estão espalhados por todo o processo de produção desde a selecção até ao produto final. Este valores/notícia funcionam como linhas guia e sugerindo em todo o processo que deve ser realçado e o que dever ser omitido e o que dever ser prioritário na preparação das notícias a apresentar em público.

Os valores/notícia são regras de fácil compreensão e utilização que são utilizados no trabalho profissional e implicitamente ou explicitamente conduzem os procedimentos operativos numa redacção. Outro aspecto importante relacionado com os valores/notícia está ligado ao tipo de processo de que são parte constitutiva. Os

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jornalistas não podem sempre que apareça um acontecimento novo criar um novo conjunto de características valores/notícia, que vão fazer oposição ao conjunto de características valores/notícia utilizado em acontecimentos anteriores. Assim tem que haver coerência neste conjunto de características valores/notícia que não são mais do que as linhas guia em todo o processo. Tudo isto serve para rotinizar tal tarefa de forma a torná-la exequível e gerível. O atributo rigor dos valores/notícia não é mais que a lógica da tipificação que tem como objectivo prático o de fazer com que de uma forma programada se torne o mais fácil a repetitividade de certos procedimentos a fim de evitar incertezas excessivas e a de simplicidade do raciocínio. Os valores/notícias deverão permitir que a selecção do material seja realizada com rapidez de uma maneira quase “automática”, que seja defensável “postmortem” e se caracterize por um certo grau de flexibilidade e de comparação e sobretudo, que não seja susceptível de demasiados impedimentos.

Existem ainda duas considerações a fazer, a primeira de caracter dinâmico, ou seja, que nos dá a visam de que os valores/notícia mudam no tempo e não permanecem sempre os mesmo estão atentos e de acordo com a época. Hoje em dia assuntos que, há alguns anos “não existiam”, constituem hoje de uma forma geral, notícia, existe deste modo uma extensão gradual do número e do tipo de temas considerados noticiáveis. Alguns destes temas impuseram-se de tal forma que determinaram uma cobertura informativa criando assim uma adaptação e uma extensão dos critérios de noticiabilidade para uma área que anteriormente não constituía noticia.

Existe ainda uma cobertura informativa que os mass media reservam aos chamados “single issue movement”, movimentos estes que se solidificam na sociedade civil em torno de problemas simples.

Este tipo de movimentos começa a constituir noticia ultrapassando deste modo o limiar da noticiabilidade. Estabelece-se uma integração entre as estratégias de noticiabilidade adaptadas pelos “single issue movement” e os valores/notícias aplicados pelos órgão de informação.

Pode dizer-se então que cada novo sector, tema argumento ou assunto, se torne regularmente “noticiado”, desde que exista um reajustamento e uma redefinição dos vlares/notícias.

A segunda consideração, está ligada à anterior, indica que as especialização temática constitui um índice significativo do modo como os valores/notícia se traduzem em prática organizativas.

Os especialistas não podem ser deixados inactivos, a organização de uma redacção em sectores temáticos específicos são indicações dos critérios de noticiabilidade que nele vigoram.

Os valores/noticias provem de pressupostos implícitos ou de considerações relativas:

 

a. ás características substantivas das notícias; ao seu conteúdo; 

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b. à disponibilidade do material e aos critérios relativos ao produto informativo;

c. ao público;

d. à concorrência.

A primeira categoria está relacionado com o acontecimento a transformar em notícia; a segunda, diz respeito ao conjunto de processos de produção e realização; a terceira, está relacionada com a imagem que os jornalistas têm acerca dos destinatários e por fim a quarta consideração diz respeito ás relações entre os mass media existentes no mercado informativo.

Critérios Substantivos

Nem todos acontecimentos podem ser notícia. É imprescindível preencher os requisitos necessários a partir da importância e do interesse da notícia. A definição do que é importante e interessante para ser noticiado passa pelo reconhecimento de variáveis que delimitam essa natureza os valores/notícia.

Existem quatro variáveis que determinam esta importância

O Grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos no acontecimento noticiável, e está relacionado com toda a sociedade, desde dirigentes governativos até à sociedade comum cobrindo assim todos os nichos da sociedade mas “quanto mais o acontecimento disser respeito aos países de elite, tanto mais provavelmente se transformará em notícia”; “ quanto mais o acontecimento disser respeito ás pessoas de elite, mais provavelmente se transformará em notícia”. Dentro da mesma relevância alguns itens mesmo que não visualizáveis, repetitivos e aborrecidos devem ser dados a conhecer ao público, isto acontece nomeadamente com as notícias políticas e estrangeiras.

O parâmetro de avaliação da importância de uma acontecimento noticiável está directamente relacionado com o grau na hierarquia assim sendo e dando um exemplo dos dirigentes governativos tanto é mais noticiável a notícia de um primeiro-ministro que um subsecretário governativo, ou seja o grau do poder institucional ou de outras hierarquias vai determinar a relevância e a noticiabilidade do acontecimento.

Impacte sobre a nação e sobre o interesse nacional. Isto é a notícia interessa se tiver capacidade de alguma forma influir ou incidir sobre o país. Vai interessar ao leitor ou ao ouvinte se a noticia poder ser compreendida por esteou seja se estiver dentro do contexto cultural. Igualmente a proximidade quer geograficamente quer culturalmente vão interessar aos potenciais ouvintes e leitores. Isto porque a proximidade implica a partilha de pressupostos culturais comuns. No entanto as noticias estrangeiras poderão começar com o país vizinho por este ser geograficamente mais próximo assim poder fazer uma melhor cobertura do acontecimento com um grau muito grande de veracidade. Quanto mais longe se torna geograficamente o acontecimento poderá levar a uma notícia distorcida devido á recolha e tratamento da notícias. Os redactores utilizam o esquema da difusão das notícias locais(país), país mais próximos (culturalmente, politicamente e geograficamente) e o resto do mundo. A notícia aprece com mais frequência em países desenvolvidos até porque no resto do mundo (não desenvolvido)

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não existem infra-estruturas políticas e sociais que possam constituir notícias relevantes e noticiáveis.

Quantidade de pessoas que o acontecimento (de facto ou parcialmente) envolve. Esta variável diz-nos que quanto maior for número de pessoas ou personalidades estiver relacionado com o acontecimento maior é a visibilidade ou seja maior á o valor/notícia. Por outro lado se houver uma acontecimento exemplo um desastre de avião geograficamente próximo e com um número limitado de vítimas, é mais noticiável que um outro acontecimento mais longe e com um maior número vítimas, é uma questão de impacto junto do público.

Relevância e significatividade do acontecimento quanto à evolução futura de uma determinada situação. A importância de uma notícia pode ser uma forma diferente realçada, sublinhada ou acentuada em relação aos valores/notícia relativamente à concorrência, uma entrevista em exclusivo pode fazer toda a diferença na compreensão de assunto ou acontecimento. Assim os critérios substantivos são dois a importância e o interesse da notícia. Se todas as notícias importantes são de uma maneira mais fácil seleccionadas quase obrigatoriamente as de interesse podem ter um caracter mais subjectivo assim sendo menos vinculativa para todos. O interesse que a história possa ter está muito ligado com público algo a quem a história de destina e os valores/notícia e que pode-se definir como “capacidade de entretenimento”. O objectivo é a de manter desperto o interesse do público pelo noticiário e também não muita utilidade em fazer um tipo de jornalismo aprofundado se o telespectador ou o leito não mostra interesse por este. Assim desta forma esta capacidade de entreter o público deverá situar-se numa posição elevada na lista dos valores/notícia, quer como sendo um fim em todo o processo jornalístico mas também como o de potenciar e concretizar outros ideais jornalísticos. Segundo Gans existe algumas categorias que podem servir de lista para identificar os acontecimentos noticiáveis.

a. histórias de gente comum que é encontrada em situações insólitas, ou histórias de homens públicos surpreendidos no dia a dia da sua vida privada;

b. histórias em que se verifica um inversão de papeis (“o homem que morde o cão”);

c. histórias de interesse humano;

d. histórias de feitos excepcionais e heróicos.

  Critérios relativos ao produto

Em relação ao material e ao produto informativo temos que realçar as suas características específicas e sua disponibilidade.

Quanto à disponibilidade, tem se averiguar a acessibilidade do acontecimento e seus requisitos técnicos (a sua estruturação de forma a ser coberto e a despesa necessária para o cobrir.

Relativamente ao produto, os critérios explicam-se segundo os procedimentos produtivos e possibilidades técnicas e organizativas características de cada meio de

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comunicação específico. Estes critérios são aplicados com rigor cada vez maior quando a notícia decresce de importância.

Nesta categoria, seguindo orientações de Golding e Elliot deve-se incluir também o critério de brevidade. As noticias devem ser o mais claras e concisas possível de forma a poderem enquadrar-se nos valores/noticia e no mecanismo de produção. Esta necessidade de brevidade é verdadeiramente visível no mundo televisivo onde a quantidade de material noticiável é tanta que para ser encaixada nos noticiários tem de ser bem escolhida e esquematizada.

Outro critério de relevância da notícia é o de ideologia de notícia. De acordo com muitos autores, os acontecimentos são mais noticiáveis dependendo dos seus efeitos negativos, sendo que qualquer acontecimento que quebra a rotina é noticiável. Este critério varia consoante vários elementos como a origem ou a evolução das próprias empresas jornalísticas, sendo que, na sua maioria, estas empresas têm tendência natural para focar mais o pontual e menos o rotineiro.

A actualidade é outro valor/notícia ligado ao produto informativo. Os acontecimentos devem ser sempre o mais actuais possíveis.

O critério anterior é facilmente associável ao de frequência A periodicidade de produção informativa é uma forma de determinar a actualidade dos acontecimentos. O critério da continuidade contraria o da actualidade uma vez que uma noticia ao ser repetida durante muito tempo vai perder o teor actual... Justifica-se a continuidade de uma história quando esta vai tendo novos desenvolvimentos.

Critérios operativos inerentes ao de actualidade :

Actualidade interna- se um determinado tema é novidade/actual para o jornalista, presume-se que o seja também para a generalidade do público. Diz-se por isso também que são os jornalistas que criam a actualidade...

Repetição- Se uma noticia é classificada de repetitiva ou de parecida com outras já existentes passa a ser não noticiável. Para exemplificar isto podemos falar das noticias de política interna.

A qualidade é outro critério muito relevante, o qual Gans divide em cinco tópicos:

a-      a acção (quanto maior/melhor for a ilustração/realce, melhor será a noticia

b-     o ritmo ( fazer a noticia o menos aborrecida possível )

c-      o carácter exaustivo da noticia ( fornecer todos os pontos de vista sobre um artigo controverso ou dar o maior número de dados cogniscitivos possível sobre o assunto a ser tratado )

 

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d-     a clareza da linguagem ( no caso da televisão, o telespectador não terá a hipótese de voltar atrás para rever o que não percebeu )

 

O último valor notícia relativo ao produto é o equilíbrio. A noticiabilidade de determinados acontecimentos é aumentada se a categoria onde estes estão inseridos escassear na globalidade do produto informativo e desta forma poderem equilibrar esse mesmo produto.

 

Critérios relativos ao meio de comunicação

 

Na informação televisiva, a noticiabilidade aumenta com a possibilidade de fornecer bom material visual. Este valor/noticia não diz respeito somente às qualidades técnicas standard mas também à capacidade de uma noticia ilustrar um acontecimento.

Gans considera o texto verbal tão essencial como as imagens porque muitas vezes é ele que carrega a informação.

A frequência é outro critério de noticiabilidade muito importante no que ao meio de comunicação diz respeito. Quanto mais a frequência de um acontecimento se adaptar à do meio de comunicação mais probabilidade tem de ser noticiado. Por frequência de um acontecimento entende-se o tempo que este leva a tomar forma e a ganhar significado.

O formato é o valor/noticia que diz respeito ao espaço existente para a produção noticiosa, ou seja, a quantidade de filmagens que há para apresentar num noticiário, a sua duração...Dentro destas limitações e em comum a todos os meios de comunicação aparece a necessidade de um artigo ter uma introdução, uma parte central e uma conclusão.

 

Critérios relativos ao público

 

Os critérios que aqui são retratados são controversos e dizem respeito à imagem que o jornalista tem do público e ao papel que essa imagem desempenha.

Por um lado e apesar de todos os estudos levados a cabo pelas empresas informativas em conhecer as características da audiência, os jornalistas raramente chegam a conhecê-las até por opção própria, defendendo que a sua obrigação é a de apresentar notícias e não agradar ao público. Por outro lado, o jornalista, devido à sua posição privilegiada no mundo das notícias, é a pessoa indicada para saber o que é do

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interesse do público. Visto que é uma área ambígua tem de se arranjar mecanismos quer para combater a vassalagem ao público quer para manter autonomia.

Segundo Golding e Elliot, podem-se especificar os critérios relativos ao público através da “estrutura narrativa”. Para Gans existem três categorias:

 

a- as notícias que permitem uma identificação por parte do espectador

 

b- as notícias de serviço

 

c- as notícias ligeiras

 

Para além disto existe a “protecção”, ou seja, a não noticiabilidade de factos que provavelmente feririam susceptibilidades ou provocaram estados de ansiedade ou traumas no público.

 

Critérios relativos à Concorrência

 

Na opinião de Gans, a competição origina três tendências. Por um lado, a tendência que se regista nos mass media, que é de garantir exclusivos, invenção de novas rubricas e feitura de pequenas “caixas” sobre os pormenores. Esta tendência provoca a fragmentação, ou seja, a centralização nas figuras de elite outros factores que não permitem transmitir uma imagem fidedigna da realidade social.

A segunda tendência consiste no facto de um mass media agir em função de outro, ou seja, noticiar um acontecimento por achar que o outro o irá fazer.

A terceira tendência aparece ligada à segunda dado que as expectativas recíprocas resultam na semelhança nas coberturas informativas nos mass media.

A competição contribui ainda para que seja criados parâmetros profissionais e modelos de referência.

Conclusão

 

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Podemos então concluir que apesar de estarem presentes em todas as fases da produção informativa os valores/notícia não assumem graus de relevância iguais entre si. A funcionalidade destes advém de combinações reciprocas e das diversas avaliações que têm que ser feitas consoante a variedade de notícias a serem tratadas. Cada notícia está revestida de um caracter singular e como tal todas requer uma avaliação da disponibilidade e credibilidade, da importância ou do interesse do acontecimentos e da actualidade, para além de uma avaliação dos critérios relativos ao produto, ao meio de comunicação e ao formato. Os valores/notícia são então algo de abstracto e só ganham forma quando aplicados na realidade, ou seja, no desenrolar da produção informativa onde contribuem para rotinização do processo e para simplificar a tarefa do jornalista que de outra forma

Bibliografia

 

  WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Lisboa, Presença, 1994.(3a. edição).

Fonte: http://newsmakingvalores.no.sapo.pt/