Newsletter nº2, Setembro de 2010 Nota do...

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Pontos de interesse: Livro dedicado às salinas Georgius Agricola Reunião de Nantes Nesta edição: Nota do editor 1 Estrutura do livro sobre as salinas atlânticas 2 Personagem 4 Eventos 5 Nota do editor Livros de sal O interesse económico do sal motivou, desde muito cedo, o aparecimento de muitas publicações, abordando sobretudo os aspectos de inventariação e cadastro, legislação, tributação e tecnolo- gia, seja sob a forma de relatórios ou artigos, seja sob a forma de monografias, retratando a pro- dução de sal em determinadas regiões ou países. Mais recentemente o reconhecimento do legado do sal, histórico e ao nível do património paisa- gístico e natural, motivou outras tantas publicações, umas de carácter mais específico, outras de carácter mais generalista, sendo possível encontrar livros de excelente qualidade nestas duas vertentes. De facto, o sal e as salinas são um tema apaixonante ao qual podem ser associadas imagens de uma beleza por vezes surpreendente e, também porque existe um carácter algo “alquímico” no sal, que lhe advém, talvez da herança clássica de ter sido considerado como uma súmula da Terra, Fogo e Água. Sendo o ECOSAL ATLANTIS um projecto integrado que associa parceiros de diferentes áreas (não apenas geográficas mas também do conhecimento) foi no entanto por todos reconhecido que não existia, quer em edições antigas quer em edições modernas, um livro que abordasse integralmente as salinas no contexto geográfico atlântico. Por outro lado alguns destes parceiros possuem um acervo documental e um activo em termos de conhecimento global que tem sido utilizado apenas parcelarmente, e cuja compilação e trata- mento permitirá disponibilizar um conjunto de dados até agora inéditos, bem como realizar novas abordagens a este tema. Este conjunto de razões motivou a que um dos produtos a desenvolver na actividade 3 (difusão e comunicação) seja precisamente a edição de um livro acerca das sali- nas e da exploração do sal na área geográfica do Atlântico. O trabalho de preparação até agora realizado e as expectativas face ao material existente, levam -nos a encarar este trabalho como algo mais do que um instrumento para a divulgação do projec- to e da futura rota; partimos para a sua concretização com o objectivo de fazer dele simultanea- mente uma referência acerca do tema, mas também uma publicação que desperte o interesse do público pelo lado “mítico” e “alquímico” do sal, esse produto que continuamos a cultivar nos “jardins de sal” do Atlântico pelo método descrito por Agricola há 450 anos. Renato Neves Coordenador nacional do ECOSAL ATLANTIS em Portugal Newsletter nº2, Setembro de 2010 Investindo no nosso futuro comum

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Pontos de interesse:

Livro dedicado às

salinas

Georgius Agricola

Reunião de Nantes

Nesta edição:

Nota do editor 1

Estrutura do livro

sobre as salinas

atlânticas

2

Personagem 4

Eventos 5

Nota do editor Livros de sal

O interesse económico do sal motivou, desde muito cedo, o aparecimento de muitas publicações,

abordando sobretudo os aspectos de inventariação e cadastro, legislação, tributação e tecnolo-

gia, seja sob a forma de relatórios ou artigos, seja sob a forma de monografias, retratando a pro-

dução de sal em determinadas regiões ou países.

Mais recentemente o reconhecimento do legado do sal, histórico e ao nível do património paisa-

gístico e natural, motivou outras tantas publicações, umas de carácter mais específico, outras de

carácter mais generalista, sendo possível encontrar livros de excelente qualidade nestas duas

vertentes. De facto, o sal e as salinas são um tema apaixonante ao qual podem ser associadas

imagens de uma beleza por vezes surpreendente e, também porque existe um carácter algo

“alquímico” no sal, que lhe advém, talvez da herança clássica de ter sido considerado como uma

súmula da Terra, Fogo e Água.

Sendo o ECOSAL ATLANTIS um projecto integrado que associa parceiros de diferentes áreas

(não apenas geográficas mas também do conhecimento) foi no entanto por todos reconhecido

que não existia, quer em edições antigas quer em edições modernas, um livro que abordasse

integralmente as salinas no contexto geográfico atlântico.

Por outro lado alguns destes parceiros possuem um acervo documental e um activo em termos

de conhecimento global que tem sido utilizado apenas parcelarmente, e cuja compilação e trata-

mento permitirá disponibilizar um conjunto de dados até agora inéditos, bem como realizar novas

abordagens a este tema. Este conjunto de razões motivou a que um dos produtos a desenvolver

na actividade 3 (difusão e comunicação) seja precisamente a edição de um livro acerca das sali-

nas e da exploração do sal na área geográfica do Atlântico.

O trabalho de preparação até agora realizado e as expectativas face ao material existente, levam

-nos a encarar este trabalho como algo mais do que um instrumento para a divulgação do projec-

to e da futura rota; partimos para a sua concretização com o objectivo de fazer dele simultanea-

mente uma referência acerca do tema, mas também uma publicação que desperte o interesse do

público pelo lado “mítico” e “alquímico” do sal, esse produto que continuamos a cultivar nos

“jardins de sal” do Atlântico pelo método descrito por Agricola há 450 anos.

Renato Neves Coordenador nacional do ECOSAL ATLANTIS em Portugal

Newsletter nº2, Setembro de 2010

Investindo no nosso futuro comum

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Livro sobre as salinas atlânticas

A realização de um livro sobre as salinas atlânti-

cas no final de 2012 constitui o objectivo da

acção 3.7 da Actividade de Comunicação

(coordenada pelo Geolittomer e pelo Ecomusée

du marais salant, parceiros 2 e 3 do projecto

Ecosal Atlantis). O objectivo desta publicação é

dar a conhecer ao grande público as várias ver-

tentes da salicultura atlântica sob diferentes

aspectos, sejam geográficos, históricos, técni-

cos, culturais e ecológicos, apresentando simul-

taneamente os principais resultados do projecto

Ecosal Atlantis da forma o mais atractiva possí-

vel. O objectivo é produzir um “belo livro”, com

cerca de 150 páginas, a cores, ilustrado por

documentos muito variados, uma boa parte ain-

da inéditos, que virão acompanhados também

de uma cartografia temática original que será produzida pelo Geollitomer em colaboração com outros

parceiros. As cartas permitirão sintetizar a informação dando aos leitores uma visão

clara e sinóptica. O livro utilizará e valorizará a documentação reunida no âmbito da

Actividade 4 (Património).

Com a finalidade de dar coerência a esta publicação e respeitar o “espírito euro-

peu”, evitaremos a realização de um mero catálogo de sítios. Por esse motivo o livro

compreenderá sínteses comparativas que introduzem os vários estudos caso, privi-

legiando naturalmente os sítios salícolas participantes no Ecosal Atlantis. Para

alguns aspectos muito específicos não serão apresentados capítulos, mas sim

cadernos inseridos em capítulos relacionados com os temas em questão.

A primeira parte do livro apresentará a salicultura e o seu desenvolvimento ao longo

do curso da história nas regiões atlânticas da União Europeia, desde a Escócia à

baía de Algeciras, no Sul de Espanha. Será analisada a repartição geográfica dos

sítios salícolas, antigos e actuais, costeiros e interiores, estabelecendo as suas tipo-

logias. Serão estudadas também as suas diferentes estruturas e técnicas de produ-

ção. Estes aspectos são muitos importantes, pois existem diferenças notórias entre

os sítios de produção britânicos e os continentais, localizados entre a Bretanha e o

estreito de Gibraltar; nos primeiros a evaporação era efectuada sobretudo com

recurso à combustão visando a ebulição, nos segundos impera a evaporação solar.

Enormes diferenças são também encontradas entre os sistemas costeiros e de inte-

rior.

A segunda parte será consagrada aos aspectos culturais e patrimoniais e, também,

ao comércio do sal, abordando elementos patrimoniais e objectos directamente rela-

cionados com o sal, ou com o seu uso. Os diferentes tipos de armazenamento e de

meios de transporte (por exemplo barcos) serão igualmente passados em revista.

Especial relevo será dado à importância do sal atlântico no estabelecimento de rela-

ções marítimas e comerciais entre diferentes regiões europeias. Com efeito, é

importante sublinhar o facto do sal das nossas regiões do Espaço Atlântico ter cons-

tituído, no passado, um motor para as trocas comerciais entre a Europa do Sul e do

Investindo no nosso futuro comum

Embarcação tradicional (Falucho salinero) na baía de

Cádiz.

Col. L Ménanteau

Carregamento de sal para um veleiro. Vista a partir do

esteiro de Arceau, nas salinas da ilha de Noirmoutier.

Impresso c. 1840.Museu das Marais Salants - Cap

Atlantique (Batz-sur-Mer)

Marnoto da Ria de Aveiro em

traje tradicional.

Câmara Municipal de Aveiro

Planta de uma salina dita de champ double. F. Franquelin,

1705.

Museu das marais salants - Cap Atlantique (Batz-sur-Mer)

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Armazenagem e transporte do sal nas salinas de S. Fernando (baía de Cádis). Vista estereoscópica, Estados Unidos da América, 1903. Col L. Ménanteau

Norte. A dimensão transatlântica será tida também em consideração, pois uma parte da produção era destinada à salga do bacalhau

pescado na Terra Nova, uso particularmente importante em Portugal, ou para a salga da carne dos saladeros dos países do Rio da

Prata (Argentina, Uruguai e Sul do Brasil). Um exemplo eloquente deste tema:

em 1912, perto de 64% de toda a produção da área salícola mais extensa da

Europa – a baía de Cadiz – era destinada a estes países sul-americanos!

O papel desempenhado pelas salinas na manutenção da biodiversidade

(Actividade 6 – Biodiversidade e Turismo de Natureza) será tratado na terceira

parte do livro. Este capítulo iniciar-se-á por uma apresentação da riqueza ecoló-

gica dos sítios estudados, utilizando o diagnóstico efectuado na acção 6.1. Dois

pontos serão detalhadamente analisados: a vegetação e a sua dinâmica em fun-

ção do meio, e da existência ou não da produção de sal, e a avifauna e o habitat

“salina” (relações entre os sítios atlânticos em termos de nidificação e migra-

ções). Serão aqui abordados igualmente os aspectos que se prendem com o

abandono, reconversão, ou destruição dos espaços salícolas. Deste conjunto de

temas serão tiradas conclusões sobre modelos de gestão específicos a aplicar

neste tipo de espaços “artificiais”, frequentemente incluídos em áreas protegidas.

Finalmente a última parte tratará do potencial turístico dos sítios salícolas, apre-

sentando a Rota do Sal Tradicional do Atlântico (Actividade 5 Desenvolvimento

do Território). Serão apresentados exemplos de ordenamento e a gestão turística

dos diferentes sítios, relevando as boas-práticas de produção (Acção 5.3) e inter-

pretação (Acção 5.4), orientadas para um turismo durável e sustentado. O livro

terminará com uma carta da Rota criada no âmbito do projecto, abrindo também

perspectivas de difusão da Rota a outros espaços (arco mediterrânico e costa

atlântica marroquina).

Antes do final de Setembro de 2010 será apresentada a todos os parceiros uma

proposta de estrutura detalhada, visando obter correcções e sugestões antes

ainda da Assembleia Geral de parceiros, que terá lugar nas ilhas de Ré e Oléron

(França) em Novembro 2010, onde a estrutura deverá ficar definitivamente aprovada.

Loïc Ménanteau (Géolittomer)

Investindo no nosso futuro comum

Carregamento de sal em embarcações tradicionais da

Figueira da Foz.

Câmara Municipal da Figueira da Foz

Refinaria de sal em Ars-en-Ré (ilha de Ré).

Col. G. Buron

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Quem foi Agricola?

Em praticamente todos os museus, exposições ou

livros acerca do sal e das suas tecnologias surge,

invariavelmente, uma ilustração representando o

esquema de uma salina, proveniente da obra De Re

Metallica (Da Natureza dos Metais), da autoria de

Georgius Agricola. Esta ilustração e a descrição minu-

ciosa do processo, constituem as primeiras referên-

cias objectivas e precisas acerca deste método produtivo, razão pela qual a

obra e o seu autor são abundantemente citados. Com tamanha profusão de

referências impõe-se a pergunta – quem foi Agricola?

Georgius Agricola, nasceu em 1494 em Glauchau na Saxónia, tendo sido

baptizado como George Bauer, o facto do termo bauer significar camponês

na língua germânica, explica a latinização do seu apelido para agricola, que

deverá ter ocorrido ainda durante o seu período universitário na Saxónia.

Entre 1524 e 1526 estuda em Itália, cursando Filosofia, Medicina e Ciências

Naturais. Em 1527 assume o cargo de médico em Joachimsthal na Boémia,

numa região de intensa exploração mineira. Com um espírito de matriz pro-

fundamente científico e humanista que, inclusivamente, lhe granjeia a amiza-

de de Erasmo, publica diversos livros, nomeadamente um Diálogo sob a figu-

ra de um mineiro, e um tratado de pesos e medidas Gregas e Romanas.

Porém a sua obra maior é sem dúvida a De Re Metallica constituída por um

conjunto de capítulos (livros) profusamente ilustrados, acerca de geologia,

mineralogia e engenharia de minas nos quais trabalhou durante mais de 20

anos, visitando locais de exploração de minerais e rochas e consultando

exaustivamente autores precedentes.

No livro XII é abordada a obtenção de vários materiais por evaporação, um

dos quais o sal e as tecnologias com ele relacionadas, de onde provém a

famosa gravura representando salinas costeiras.

De Re Metallica é publicada um ano após a morte do seu autor (1556). Durante

cerca de 200 anos, ou seja até praticamente ao alvorecer da Revolução Industrial, esta obra permaneceu como referência absoluta

para a Geologia e a Engenharia de Minas, constituindo actualmente uma preciosa fonte nos domínios da história das ciências da

terra e das tecnologias com elas relacionadas.

Renato Neves

Coordenador nacional do ECOSAL ATLANTIS em Portugal

Personagem

Investindo no nosso futuro comum

Ilustração representando o esquema de uma salina, De Re

Metallica , Georgius Agricola 1556

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Reunião da actividade 6 em Nantes

Em 27 de Maio passado celebrou-se em Nantes, na sede do laboratório Geolittomer (parceiro 3

do ECOSAL), a primeira reunião da Actividade 6 – Biodiversidade e Turismo da Natureza.

Assistiram à reunião cerca de 20 pessoas, pertencentes a 7 das 13 organizações associadas ao

projecto (Bournemouth University, Universidade de Aveiro, Asociación de Amigos de las Salinas

de Interior e 4 instituições francesas) e ainda Renato Neves, na qualidade de coordenador nacio-

nal (PT) e Bernard Guihéneuf, Director do Parque Natural da Brière.

As comunicações apresentadas por Jesús Carrasco, Renato Neves, David Cranstone, Roger

Herbert, Jean-Guy Robin, permitiram conhecer melhor os diferentes sítios salineiros.

Anne Bonis apresentou a problemática geral da Actividade 6 que veio a constituir a base para

um debate muito produtivo de todos os participantes.

No dia seguinte (28 de Maio) a Communauté de communes Océan Marais de Monts (parceiro 4

do ECOSAL) organizou uma visita aos sapais da Vendeia, que permitiu aos participantes, conti-

nuar a discussão do dia anterior, descobrindo a biodiversidade das salinas activas e abandona-

das (visita guiada por Jan-Bernard Bouzillé y Jean-Guy Robin).

Seguiu-se uma visita ao Ecomuseu de Daviaud (Sophie Jeannenot) durante a qual o Presidente

da Communauté de communes e o Presidente do Municipio de La Barre-de-Monts ofereceram

uma recepção aos participantes.

Loïc Ménanteau (Géolittomer)

Eventos

Calendário de eventos Traduções - Universidade de Aveiro

Investindo no nosso futuro comum

Passados

Julho de 2010

V Feira Internacional do Sal (Aveiro, Portugal)

Reunião actividade 4 “Património” (Aveiro. Portugal)

Reunião do chefe de fila com os parceiros portugueses (Fig. da

Foz, Portugal)

Futuros

Setembro de 2010

Feira Nacional da Cebola (Rio Maior, Portugal)

Novembro de 2010

Workshop gastronómico (Aveiro, Portugal)

Assembleia de sócios (La Rochelle, França)