Newsletter Policredos 1 - Universidade de Coimbraces.uc.pt/ficheiros2/files/Newsletter Policredos...

16
Bem-vindos ao primeiro número da Newsletter do POLICREDOS! Deixem que comecemos por vos apresentar o POLICREDOS! O POLICREDOS nasceu da constatação de que a religião continua a despertar o interesse da opinião pública. Sistemas de valores, instituições, grupos, religião na esfera privada e na esfera pública, secularização, pós- secularização, multiculturalis- mo, religião e identidade, papéis da religião na dinâmica sociopolítica das sociedades, lugares de emancipação e lugares de opressão, experiências alternativas tudo isto são temas na ordem do dia não só no contexto europeu, mas também no contexto global. O POLICREDOS pretende abordar as relações complexas entre política, religião e cultura. Pensamos, concretamente, que a chamada “(re)emergência da religião na Europa” encarada como algo relacionado com o aumento da diversidade religiosa e com o debate sobre a relação entre secularismo e modernidade – exige uma EDITORIAL Neste número/ In this issue Editorial 1 Idolatria e crítica / Indolatry and criticism José Manuel Pureza 3 Muitos não pedem nas ruas mas pedem às Igrejas / António Marujo 5 A religião italiana enfrentando a crise económica / Italian religion facing the economic crisis Alberta Giorgi 6 Cristiás e cristiáns ante a crise / Christians facing the crysis Marisa Vidal Collazo 7 Recensões e sugestões de livros 12 Religião em nocia 14 Asociación Mulleres Cristiás Galegas Exeria Welcome to the first issue of POLICREDOS Newsletter! Let us start by presenting you the POLICREDOS! POLICREDOS stemmed from the observation that religion continues to attract the interest of the public opinion. Value systems, insti- tutions, groups, religion in the private and the public sphere, secularization, post- secularization, multicultural- ism, religion and identity, the role of religions in socio- political dynamics of socie- ties, places of emancipation and places of oppression, alternative experiences - all these topics are on the agen- da not only within Europe, but in the global context as well. POLICREDOS aims to ad- dress the complex relation- ships between religion, poli- tics and culture. Specifically, we argue that the so called "(re) emergence of religion in Europe" and beyond - seen as something related to the increase in religious diversity and the debate about the relationships between secu- larism and modernity - re- quires a historical and com- parative perspective. Our approach relies on two pil- NEWSLETTER N.º 1 (J[n/M[r 2014)

Transcript of Newsletter Policredos 1 - Universidade de Coimbraces.uc.pt/ficheiros2/files/Newsletter Policredos...

Bem-vindos ao primeiro número da Newsletter do

POLICREDOS!

Deixem que comecemos por v o s a p r e s e n t a r o

POLICREDOS!

O POLICREDOS nasceu da

constatação de que a religião continua a despertar o

interesse da opinião pública. S i s temas de va lores ,

instituições, grupos, religião na esfera privada e na esfera

pública, secularização, pós-secularização, multiculturalis-

mo, religião e identidade, papéis da religião na dinâmica

sociopolítica das sociedades, lugares de emancipação e

lugares de opressão , experiências alternativas –

tudo isto são temas na ordem do dia não só no

contexto europeu, mas também no contexto global.

O POLICREDOS pretende

ab orda r a s r e l a çõe s complexas entre política,

religião e cultura. Pensamos, concretamente, que a

chamada “(re)emergência da religião na Europa” –

en c a r ada como a l go relacionado com o aumento

da diversidade religiosa e com o debate sobre a relação

en t r e s e cu l a r i smo e modernidade – exige uma

EDITORIAL Neste número/ In this issue

Editorial 1

Idolatria e crítica / Indolatry and criticism José Manuel Pureza

3

Muitos não pedem nas ruas mas pedem às Igrejas / António Marujo

5

A religião italiana enfrentando a crise económica / Italian religion facing the economic crisis Alberta Giorgi

6

Cristiás e cristiáns ante a crise / Christians facing the crysis Marisa Vidal Collazo

7

Recensões e sugestões de livros 12

Religião em no�cia 14

Asociación Mulleres Cristiás Galegas Exeria

Welcome to the first issue of POLICREDOS Newsletter!

Let us start by presenting you

the POLICREDOS!

POLICREDOS stemmed

from the observation that religion continues to attract

the interest of the public opinion. Value systems, insti-

tutions, groups, religion in the private and the public

sphere, secularization, post-secularization, multicultural-

ism, religion and identity, the role of religions in socio-

political dynamics of socie-ties, places of emancipation

and places of oppression, alternative experiences - all

these topics are on the agen-da not only within Europe,

but in the global context as well.

POLICREDOS aims to ad-

dress the complex relation-ships between religion, poli-

tics and culture. Specifically, we argue that the so called

"(re) emergence of religion in Europe" and beyond - seen as

something related to the increase in religious diversity

and the debate about the relationships between secu-

larism and modernity - re-quires a historical and com-

parative perspective. Our approach relies on two pil-

NEWSLETTER N.º 1 (J[n/M[r 2014)

perspectivação história e comp ar ada . A n os sa

abordagem baseia-se em dois pilares: por um lado, num

d e b a t e q u e p r ocu r a questionar a política da

diversidade religiosa e da identidade religiosa das

soc iedades europe ia s , tomando em conta a

historicidade do processo que transformou a Europa no

Ocidente moderno; por outro lado, numa leitura

crít ica de debates e experiências que podem

contribuir para uma “ecologia das experiências religiosas”

numa Europa desejada como um espaço de diversidade

cultural/religiosa e de tolerância.

Embora privilegiando os

países da Europa do Sul, estamos convictos de que os

contactos com países do hemisfério Sul e com

experiências do Sul no Norte permitirão consolidar esta

abordagem, ao mesmo tempo que abrem horizontes para

um alargamento do âmbito de análise do Observatório,

propondo-nos nós articular leituras críticas dos lugares

políticos das religiões, numa perspectiva comparada, a

partir de uma epistemologia do Sul e de redes de análise

crítica e de intervenção a nível global.

Neste primeiro número da

nossa Newsletter, que será trimestral, o foco estará na

crise e na forma como

instituições religiosas reagem à mesma em Portugal,

Espanha e Itália. Além de um texto de fundo, que lança a

temática (da autoria de José Manuel Pureza), teremos

textos referentes à questão nos países mencionados.

A Newsletter pretende não

só chamar a atenção para um tema em foco em cada um

dos seus números, como pretende também começar a

abrir caminho para dar voz a experiências alternativas no

que diz respeito a impactos políticos da religião, isto é,

antes de mais, a experiências nas quais se constroem

discursos e práticas críticas e transformadoras. Neste

número, apresentamos uma associação de mulheres

cristãs na Galiza.

A Newsletter manterá também secções nas quais se

apresentarão livros e links para notícias relevantes na

área do tema forte de cada número.

Apelamos, desde já, à

colaboração dos leitores, pedindo que nos mandem

relatos de experiências que deem voz aos sem voz!

lars: on the one hand, a de-bate that seeks to question

the policy of religious diversi-ty and religious identity of

European societies, taking into account the historicity of

the process that transformed Europe in the modern West;

and, on the other hand, a critical reading of debates and

experiences that can contrib-ute to an "ecology of reli-

gious experiences" in Europe as a desired place for cultur-

al/religious diversity and tol-erance.

Even though we mainly focus

on South European countries, we believe that the contacts

with countries of the South-ern hemisphere and the ex-

periences of the South within the North will consolidate

this approach, while opening new horizons for extending

the scope of the Observatory analysis, through an articula-

tion of critical readings of political places of religions, in

a comparative perspective, based on an epistemology of

the South and the networks of critical analysis and inter-

vention on a global scale.

In this first issue of our quar-terly newsletter, the focus

will be on the crisis and how religious institutions react to

it in Portugal, Spain and Italy. In addition to a theme intro-

ductory text by José Manuel Pureza, this newsletter fea-

tures texts dedicated to this theme in the countries men-

tioned.

Página 2

The Newsletter not only aims to draw attention to a

subject in focus in each issue; it aims as well to start open-

ing the way to voice alterna-tive experiences regarding

the political impact of reli-gion, especially those experi-

ments that build critical and transformative discourses and

practices. In this issue, we present an association of

Christian women in Galicia.

The newsletter also has sec-tions of book reviewing and

links to relevant news on the main focus of each issue.

Therefore, we invite the readers to contribute, send-

ing reports of experiences that give voice to the voice-

less!

No debate ideológico em curso em torno dos modos de organização social e económica, o confronto entre uma visão apologética e uma versão crítica da relação entre fé e economia são parte desse combate ocupa um lugar fundamental. 1. Hobsbawm, referindo-se ao pensamento económico dominante desde os anos 80, escreve: “A economia, embora sujeita às exigên-cias da lógica e da coerên-cia, floresceu como uma for-ma de teologia – provavel-mente, no mundo ociden-tal, como o ramo mais influ-ente da teologia secu-lar” (1995: 19). A contemplação submissa do mistério da mão invisível e a qualificação como here-sias das críticas à retórica de divinização alimentam uma estratégia de transfor-mação do mercado no sa-grado do nosso tempo. To-do o discurso contemporâ-neo de apologia do agrava-mento das desigualdades, do desemprego, da precarie-dade e da vulnerabilidade social como supostas condi-ções de redenção exigidas “pelos mercados” ou “pela economia” se configura co-mo um discurso de idola-tria (Sung, 2011). Nele, co-mo sublinha Jon Sobrino (1986: 5), o mercado é as-sumido como algo que “re-clama para si as característi-cas da divindade: ultimida-de, auto-justificação e into-cabilidade, exigindo para si um culto, uma prática e uma ortodoxia.”

2. A atual crise profunda do capitalismo europeu impõe um questionamento claro deste discurso da idolatria. Ela veio trazida pela hege-monia do capitalismo finan-ceirizado, ponto de conver-gência de três dinâmicas: a desregulação global dos mo-vimentos de capitais, o crescente poder dos investi-dores institucionais e a adoção da lógica específica das finanças como cânone do modo-de-ser da ativida-de económica no seu todo, incluindo a consagração da rentabilidade acionista co-mo a base de aferição do desempenho das empresas.

IDOLATRIA E CRÍTICA / IDOLATRY AND CRIT IC I SM JOSÉ MANUEL PUREZA

O mercado é, neste discurso, um deus inclemente e disciplinador próximo do Deus que povoa o imaginário do Antigo Testamento em que ser sacrificador se confunde com ser salvador. E o que parece estar em causa neste olhar dominante sobre a economia e o seu modo-de-ser capitalista é, na verdade, não a afirmação do fim do sagrado mas tão só a deslocação do sagrado do universo eclesial para o universo do mercado.

Página 3

Ora, esta mudança de referencial e de cultura económica do capitalismo arrastou consigo uma desqualificação das normas sociais, percebidas nesse quadro como fatores de constrangimento geradores de ineficiência, e substituídas por uma nova ordem de valores no campo empresarial e económico

The confrontation between an apologetic vision and a critical version of the relationship between faith and economics plays a fundamental role in the current ideological debate around the modes of social and economic organization. 1. Hobsbawm, referring to the economic thinking dominant since the '80s, writes: "The economy, although subjected to the requirements of logic and coherence, flourished as a form of theology - probably in the Western world as the most influential branch of secular theology "(1995: 19). The submissive contemplation of the mystery of the invisible hand and the qualification of the critical rhetoric of deification as heresies feed a strategy for the transformation of the market as the sacred of our t i m e . T h e w h o l e contemporary discourse of apology through which worsening inequalities, unemployment, insecurity and social vulnerability are deeme d a s a l l e ged conditions of redemption required "by the markets" or "the economy" is configured as a discourse of idolatry (Sung, 2011). In it, as Jon Sobrino emphasizes (1986: 5), the market is assumed to be something that "claims for itself the characteristics of divinity: ultimacy, self-justification a n d u n t o u c h a b i l i t y , reclaiming for itself a cult, a practice and an orthodoxy".

2. The current profound crisis of European capital-ism demands a clear chal-lenge to this discourse of idolatry. It was brought by the hegemony of financial capitalism, a point of con-vergence between three dynamics: the global dereg-ulation of capital move-ments, the growing power of institutional investors and the adoption of the specific logic of finance as the canon, the way-of-being of the economic activity in its whole, including the consecration of the share-holder returns as the basis for measuring the perfor-mance of companies.

The market is, in this discourse,

one merciless and disciplinarian

God, close to the God that fills the

imagination of the Old Testament,

where being the sacrificer is

confused with being the saviour.

And what seems to be at stake in

this dominant look on the

economy and its capitalist

character is actually not the

affirmation of the end of the

Sacred, but only the displacement

of the Sacred from the ecclesial

universe to the market universe.

Now, this change of reference and economic culture of capitalism also brought a disqualification of social norms, perceived, in this frame, as constraints, generators of inefficiency, and substituted by a new order of values in the economic and business fields,

em que prevalece a maximização do lucro da empresa sobre outros valores da vida económica, como a satis-fação das necessidades humanas materiais, a garantia de emprego e de salário digno, a promoção das pes-soas envolvidas na atividade económica ou a proteção do ambiente. Uma tão profunda mutação coloca ao discurso estrutu-rado e fundamentado sobre a fé o desafio irrecusável de dar voz a uma gramática que fixe balizas éticas e polí-ticas intransponíveis ao agir humano em sociedade. Isso mesmo é prescrito pela encíclica Caritas in Veritate de Bento XVI: “os cânones da justiça devem ser respei-tados desde o início enquan-to se desenrola o processo

económico, e não depois ou marginalmente”. Por is-so, a centralidade da pessoa humana, a solidariedade e o bem comum não são refe-rências vagas mas sim princí-pios ético-políticos que exi-gem densificação pelas polí-ticas públicas e pela vida quotidiana das empresas. De novo a Caritas in Verita-te: “A área económica não é eticamente neutra nem de natureza desumana e anti-social. Pertence à ativi-dade do homem; e, precisa-mente porque humana, de-ve ser eticamente estrutura-da e institucionalizada.”

where the maximization of the company profit prevails over all the other values of the economic life, such as the satisfaction of material and human needs, ensuring employment and decent wages, the empowerment of people involved in the economic activity, or the protection of environment.

Such a profound mutation invites the structures and reasoned discourse on faith to the compelling challenge of giving voice to a grammar fixing the political and ethical warning lights for human action in society. This is even prescribed by the encyclical Caritas in Veritate of Pope Benedict XVI: "The canons of justice must be respected from the beginning, as the

economic process unfolds, and not just afterwards or incidentally." Therefore, the centrality of the human person, solidarity and the common good are not vague references but ethical-political p r i n c i p l e s r e q u i r i n g densification by public policies and the everyday life of companies. Again, Caritas in Veritate: "The economic sphere is not ethically neutral, nor inherently inhuman and anti-social. Belongs to man's activity; and, precisely because it is human, it must be ethically structured and institutionalized. "

Página 4

Referências | References Hobsbawm, E. (1995), Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo, Companhia das Letras Sobrino, J. (1986), “Reflexiones sobre el significado del ateísmo y de la idolatría para la teología”, Revista Latinoamericana de Teología, 7, 45-81 Sung, J. M. (2011), “Idolatria: uma chave de leitura da economia contemporânea”, in Jornadas Teológicas del Cono Sur y Brasil Ronaldo Muñoz: El Concílio Vaticano II y la teología latinoamericana 50 años después, http://www.sedosmission.org/web/en/mission-articles/doc_view/1670-fraternita-dono-reciprocita-nella-caritas-in-veritate, acedido em 25.10.2012

No sít io da Cáritas Portuguesa na internet, lê-se um apelo: “Muitos não pedem na rua mas pedem à Cáritas.” O presidente da instituição católica tem referido o aumento dos pedidos de ajuda, oriundos sobretudo de pessoas da classe média que viviam do trabalho e ficaram sem

emprego.

Muitos não pedem nas ruas, mas pedem às igrejas. O apoio para situações de aflição é uma das respostas das Igrejas cristãs (e em especial da Igreja Católica, maioritária no país) à crise e às situações de desespero que ela tem provocado a tantas famílias: na maior parte dos casos, essas ajudas tentam responder a pedidos de apoio para pagar alimentação, renda ou prestação da casa e despesas de saúde, por exemplo. Ou

dão comida a quem precisa.

O apoio deste tipo é difícil de contabilizar, já que ele é dado por uma miríade de organizações, instituições de solidariedade ou centros sociais – alguns milhares de inst itu ições e grupos informais. Um dos exemplos é o Fundo Social Solidário, criado pela Conferência Episcopal Portuguesa há dois anos e administrado pela Cáritas. Até ao final de Junho de 2013, o fundo tinha distribuído 1,3 milhões de euros por quase 10 mil pessoas (pouco mais de três mil agregados familiares). Das situações apoiadas, mais de 3500 casos foram para despesas com a casa (renda, prestações ou pagamentos da água, luz e gás), num total

de mais de 660 mil euros.

A mesma realidade existe no campo protestante e evangélico. O pastor Jorge Humberto, presidente da

A l i a n ç a E v a n g é l i c a Portuguesa, diz que “uns noventa por cento” das cerca de 500 comunidades e igrejas evangélicas puseram de pé, a nível local, iniciativas de ajuda de emergência, que passam pela distribuição de comida, géneros e roupa ou pelo pagamento de contas. Em muitos casos, acrescenta, as comunidades e igrejas federadas na AEP (que abrangem pelo menos umas 200 mil pessoas) tiveram que triplicar as ajudas e não

conseguem já fazer mais.

No âmbito do Conselho Português de Igrejas Cristãs (Copic), as três igrejas que o compõem também sentem a m e sm a r e a l i d a de : o presidente do Copic, o bispo metodista José Sifredo, cita o exemplo de uma loja solidária criada pela Igreja Lusitana, de centros sociais da Igreja Presbiteriana e da Igreja Metodista e de iniciativas como os almoços solidários que apareceram na sua própria comunidade (a Igreja do Mirante, no Porto): t r ê s m u l h e r e s desempregadas que se juntaram e preparam almoços para quem quer aparecer, em vez de ir ao

restaurante.

Outras respostas – já existentes antes da crise, intensificadas com a actual situação – passam pelo apoio continuado e institucional: lares de terceira idade, centros de dia e apoio domiciliário a idosos, creches e infantários ou ocupação de tempos livres acabam por p r e s t a r s e r v i ç o s

complementares.

Há ainda serviços que passam pelo apoio pessoal. A Cáritas Portuguesa, por exemplo, tem promovido a criação de diversos Grupos de Interajuda Social (Gias),

CRISE : MUITOS NÃO PEDEM NAS RUAS MAS PEDEM ÀS IGREJAS / CRIS I S : MANY PEOPLE ASK THE CHURCH, NOT THE STREET | ANTÓNIO MARUJO

Página 5

On the website of Caritas-Portugal it reads: “Many people don’t beg on streets, but ask Caritas for help”. The President of the Catholic institution refers to the increase in aid-requests, especially those made by middle-class people who lost

their job.

Many people don’t beg on the street, but ask the church for aid and help. Offering support in difficult situations is one of the answers of the Christian Churches (especially of the Catholic Church, which is majoritarian in Portugal) to t h e c r i s i s a n d i t s consequences, which affected many families who now live in despair. Mostly, the churches try to meet the request of support for buying alimentary products, for income, home provisions and expenses for healthcare, for example. Or, they give food

to those who need.

It is difficult to account for this type of support, because it is provided by a myriad of organizations, solidarity institutions, or social centers – a few thousands of institutions and informal groups. An example is the Social Solidarity Fund, created two years ago by the P o r t u g u e s e B i s h o p s Conference and managed by Caritas. By the end of November 2013, the fund had distributed 1.6 million euros to over 11 thousand people (just over 3,700 households). Among the situations supported, over 2,500 cases were related to house expenses (income, benefits or payment of water, electricity and gas), totaling more than 830

thousand euros.

The same reality exists in protestant and evangelical

churches. Pastor Jorge Humberto, president of the Portuguese Evange l ica l Alliance (AEP), says that "around ninety percent" of about 500 evangelical churches and communities, organ ized emergency-initiatives and support services at the local level, ranging from the distribution of food, foodstuffs and clothes to paying bills. In many cases, he adds, communities and churches in federated AEP (covering at least about 200 thousand people) have had to triple the aid initiatives, and cannot

do more.

Within the Portuguese Counc i l o f Chr i s t i an Churches (Copic), the three churches included (a total of about 20 000 people and 50 communities) also face the same reality: the president of Copic, the Methodist Bishop Joseph Sifredo, quotes examples of a solidarity shop created by the Lusitanian Church, social centers o r g a n i z e d b y t h e Presbyter ian and the Methodist Church, and initiatives such as solidarity lunches that appeared in his own community (the Church of Mirante in Porto): three unemployed women who came together to prepare lunches for those who want to come by, instead of going

to the restaurant.

Other answers – already existing before the crisis, but intensified under the current situation – are related to the long-term inst i tutional support: hospices, daycare centers, and home care for the elderly, childcare and nurseries, and leisure activities, which ultimately provide for complementary

services.

There are even services for

que reúnem essencialmente pes soa s que f i c a ram desempregadas, com o apoio

de um(a) acompanhante.

No âmbito do discurso, há duas linhas bem diferentes: de um lado, várias lideranças religiosas e outros grupos de diferentes igrejas aceitam a ideia da austeridade, mesmo se fazem críticas, em d i f e r e n t e s g r a u s , a determinadas consequências dessa política, como o aumento da pobreza ou do desemprego. Por vezes, como acontece com a Associação Cristã de Empresários e Gestores (Acege, católica), defende-se que os líderes empresariais e financeiros devem evitar despedir, cumprindo deveres contratuais e pagando o salário. A Acege, presidida por António Pinto Leite, reúne vários líderes de empresas e do sector

financeiro.

Do outro lado, instituições como a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP, mandatada pelos bispos para intervir em questões sociais e políticas) ou movimentos como a Liga e Juventude Operária Católica têm sido muito críticos da orientação que tem sido seguida a nível europeu. Tal como, no c a m p o p r o t e s t a n t e , documentos de sínodos ou p o s i ç õ e s de g r u p o s vocac ionados para a

intervenção social.

A CNJP tem publicado periodicamente reflexões sobre a presente situação (disponíveis em http://www.ecclesia.pt/cnjp/). Na

última, sobre a ética nas finanças (3 de Fevereiro de 2013), a CNJP censura gravemente a ac tua l orientação: “Perante o flagrante insucesso do modelo de política seguido em 2012, a insistência de idêntico modelo, nalguns aspectos agravado, em 2013, pode ser et icamente inaceitável. O povo, as pessoas e as famílias não podem servir de objecto de experiências de política económica de sucesso a l t a m e n t e d u v i d o s o . Ao denunciá-lo, as CJP afastam-se da cumplicidade

do silêncio.”

Esta linha de reflexão, que tem sido seguida por diferentes instituições e grupos católicos, também tem correspondências no campo evangélico. O Sínodo da Igreja Metodista, uma das t r ê s i g r e j a s d o protestantismo histórico português, concluía, em 2011, que era “tempo de dizer basta à acumulação excessiva de riqueza por parte de alguns à custa de muitos, aos vencimentos chocantes e ao lucro fácil.” O Desafio Miqueias, uma rede evangélica internacional de combate à pobreza, lançou o programa Dívida Zero para ajudar famílias endividadas e combater a exclusão ligada a esse fenómeno. Ao mesmo tempo, critica o que o seu responsável português, João Pedro Martins, considera a “experimentação que se está a fazer nos países periféricos

europeus”.

personal support. The Portuguese Caritas, for example, has promoted the creation of various social mutual-aid groups (Gias), which, with the support of a tutor, gather mainly people who have been fired or lost

their jobs.

In this perspective, two – very different – action lines emerge: on the one side, various religious leaders and other groups in different churches accept the idea of austerity, even though they criticize, to various degrees and extent, some of its consequences, such as the increase in poverty and unemployment. Sometimes, as with the Association of Christian Entrepreneurs and Managers (ACEGE, Catholic), it is even argued that business and financial leaders should avoid firing, and should fulfill their contractual obligations and pay the wages. The ACEGE, chaired by Antonio Pinto Leite, gathers several leaders of companies, enterprises, and businessmen from the

financial sector.

On the other hand, institutions such as the National Commission for Justice and Peace (NCJP, mandated by the bishops to intervene in social and p o l i t i c a l i s s u e s ) o r movements such as the Catholic Workers’ League and the Young Catholic Workers Organization have been very critical of the direction being followed at the European level; likewise, in the Protestant camp, there are documents from synods or positions of groups devoted to the social

intervention.

The NCJP periodically publishes reflections on the current situation (available at

Página 6

t h e u r l : h t t p : / /www.ecclesia.pt/cnjp/). In one of the last issues, on ethics in finance (3 February 2013), the NCJP severely criticizes the current stance: "Given the blatant failure of the political model followed in 2012, insisting on an identical model, worsened in some aspects, in 2013 may be ethically unacceptable. The people, the individuals and families, cannot be an object of experimentation of e c o n o m i c p o l i c y characterized by a highly doub t fu l suc ce s s . I n denouncing it, the CJP turns away from the complicity of

silence."

This line of thought, which has been followed by various Catholic institutions and groups, is also matched in the Evangelical field. The Synod of the Methodist Church, one of the three churches in the historical Portuguese Protestantism, concluded, in 2011, that it was "time to say enough to the excessive accumulation of wealth by a few at the expense of many, the shocking salaries, and the easy profit". The Desafio Miqueias, an international evangelical network against poverty, launched the Zero Debt program to help indebted families to fight exclusion connected to this phenomenon. At the same time, the Desafio Miqueias promotes courses and actions against corruption and criticizes what its Portuguese representative, Jo ão Pedro Mar t in s , considers the "trial that is being conducted in European

peripheral countries."

Both the current Pope Francis I and the previous Pope Benedict XVI, warned against the effects of the crisis on social ties, on families, and especially on the most vulnerable people, such as the elderly. Recently, Pope Francis expressed his concerns a b o u t f i n a n c e a n d e conom ic s , s t ron g l y criticizing the idolatry of money and calling for a return to a ‘person-centered ethics’ and solidarity; at the same time, h e u r g e d C h u r c h communities to ‘open their doors to the poor’. F r o m a n a t i o n a l perspective, both the Catholic Church and the religious associations have always been very active in the Italian civil society, especially in the fields of youth, assistance and caregiving. Well-known national organizations like Caritas as well as a high number of small and local associations have a long history of charity and social assistance. Facing the crisis, re l ig ious associat ions increased their activities on the field and, also, their political presence. Catholic associations operating in the fields of labor and

business, for instance, took a stance against the crisis, calling for a renewed commitment of Catholics in politics based on the Church Social Doctrine. In 2009 seven among the b i g g e s t C a t h o l i c associations gathered in the Forum of people and associations of Catholic inspiration in the field of Work: they include Movimento Crist iano Lavorator i (Christ ian Workers Movement) , Confartigianato (labor association – craft sector), C o n f e d e r a z i o n e Cooperat i ve I t a l i ane (Federation of Italian Cooperatives), Compagnia delle Opere (Company of Work), CISL (Italian Confederation of Workers' Trade Unions), ACLI (Christian Associations of Italian Workers), and Coldiretti (Organization of agricultural workers). In 2011, the Forum promoted a Manifesto, supported by a number of social actors: “Good politics for the common good”. The Manifesto asked for a regeneration of the political c l a s s , po l i t i c a l and economic support for the principle of subsidiarity, and for youth and families, and the acknowledgement of the social role of work, factories, and enterprises. The associations promoting the Manifesto, together with other important actors, organized a meeting in Todi (Umbria) in Autumn 2011 – which has became an annual meeting of Cathol ic associat ions engaged in the field of work and, more broadly, for pol i t i cal ly committed

A RELIGIÃO ITAL IANA ENFRENTANDO A CRISE ECONÓMICA / ITAL IAN RELIGION FACING THE ECONOMIC CRIS IS - ALBERTA GIORGI

suas actividades neste campo, e, também, a sua p r e s e n ç a p o l í t i c a . Associações católicas que operam no campo do trabalho ou das empresas, por exemplo, tomaram posição contra a crise, p e d i n d o u m c o m p r o m e t i m e n t o renovado dos católicos nas políticas na Doutrina Social da Igreja. Em 2009 sete das ma iore s as soc i ações católicas reuniram-se num foram de pessoas e associações de inspiração católica no campo do trabalho: incluíam-se o Movimento Crist iano Lavoratori, Confartigianato, C o n f e d e r a z i o n e Cooperat ive I t a l i ane, Compagnia delle Opera, CISL, ACLI, e a Coldiretti. Em 2011, o Forum promoveu um Manifesto suportado por um número substancial de actores sociais: “Boas políticas para o bem comum”. O Manifesto pedia uma regeneração da classe política, e o apoio político e económico para o princípio da subsidariedade, para os jovens e as famílias, e o reconhecimento do papel social do trabalho, fábricas e empresas. As associações que promoveram o Manifesto, em conjunto com outros importanets actores, organizaram no outono de 2011, em Todi (Umbria) uma conferência que se tornou conferência anual das associações católicas ligadas ao campo do trabalho e, de uma maneira mais vasta, aos católicos compremetidos p o l i t i c a m e n t e . E s t e renovado compromisso das

A recente crise económica afectou largamente a sociedade e economia italiana, tal como ocorreu também em toda a Eurozona; conjuntamente com outros actores, a Igreja Católica e as associações religiosas apresentam actividades de superação da crise.

Página 7

Tanto o Papa Francisco, como o anterior Papa Bento XVI, advertiram contra os efeitos da crise nos laços sociais, nas famílias e, especialmente nos mais vulneráveis, como, por exemplo, os idosos. Recentemente, o Papa Francisco expressões a sua preocupação sobre a realidade financeira e económica, criticando fortemente a idolatria do dinheiro, e incentivando a um retorno a uma “ética centrada nas pessoas” e à solidariedade; ao mesmo t e m p o i n c i t o u a s comunidades da Igreja a “abrir as suas portas aos pobres”. De uma perspectiva nacional, tanto a Igreja Católica e as associações r e l i g i o s a s , s e m p r e estiveram muito activas na sociedade civil italianas especialmente nos campos da juventude, da assistência e d o s c u i d a d o s . Organizações nacionais bem conhecidas, como a Cris, bem como um grande número de associações pequenas e locais têm uma longa história de assistência soc i a l e c ar i t a t i v a . Enfrentando a crise, estas associações aumentaram as

The recent economic crisis hugely affected Italian society and economy, as well as throughout the whole Eurozone; along with the other actors, the Catholic Church and religious associations also engaged in coping activities.

Catholics. This renewed commitment of Catholic Associations in the political field is also rooted in the c h a n g e s a n d transformations of the Italian political landscape - as a consequence of the collapse of the biggest political parties in the n i n e t i e s ( C h r i s t i a n Democracy, Socialist and Communist parties). The Catholic Church’s national hierarchy also p romoted Catho l i c s ’ commitment in the political field, while supporting with interest several political initiatives within the boundaries of the Catholic world. Different opinion emerges, though. Some positions call for a wider State intervention in the economic field, such as the Council for Justice and Peace, which requests a world political authority and the taxation of financial transactions. On the other hand, the President of the Vatican Bank IOR (Institute of Works of Religion) expressed his doubts about new forms of taxations or protect ive measures , s u g g e s t i n g i n s t e a d governments ’ act ions aiming at reindustrialization, reinforcement of credit institutions, support for employment, and, above all, rebuilding citizens’ and markets’ trust towards the Governments. It has to be said that the IOR itself has b e e n a c c u s e d o f misconduct and money laundering, and the Pope s t r e n g t h e n e d t h e supervision of financial transaction and bank activities, and fostered its financial transparency.

In broader terms, while p r o p o s i n g d i f f e r e n t solutions, Italian clergy expresses a deep concern about the consequences of the economic crisis, which can be considered as a ‘social bomb’. In the Catholic media, which are very important in Italy, there is an increasing attention towards events offering a chance for internal dialogue, such as the Social Weeks, annually promoted by the Italian Episcopal Conference to discuss current issues. At the same time, the most i m p o r t a n t C a t h o l i c magaz ines and dai ly newspapers, such as Famiglia Cristiana (Christian Family) and Avvenire (Future), extensively cover the consequences of crisis on families and citizens, and call for a renewed social solidarity. Researches ana lyz ing C a t h o l i c s p o l i t i c a l commitment underline the im po r t an ce o f t h e economic issues in shaping political orientation, with percentages significantly higher than ethical themes – which are usually considered to be the drivers of Catholics vote. That is to say that the economic crisis has a huge impact in the Catholic world, being the most important concern for everyone.

ser considerada como uma “bomba social”. Nos media católicos, que são muito importantes em Itália, é crescente a atenção face a eventos que oferecem uma hipótese de diálogo interno, tais como as Semanas Soc ia is , promovidas anualmente pela Conferência Episcopal Italiana para discutir temas da actualidade. Ao mesmo tempo, os mais importantes jornais e revistas católicos, tal como Famiglia Cristiana (Família Cristã) e Avvenir, cobrem exaustivamente as consequências da crise em famílias ou cidadãos, e apelam a uma renovada solidariedade social. Investigadores que analizam o compromisso político dos católicos sublinham a importância de temas económicos na formação da orientação política, com percentagens maiores que temas éticos—que são normalmente considerados como decisivos no voto católico. É o mesmo que dizer que a crise económica tem um impacto enorme no mundo católico, sendo causa de preocupação para todos.

Página 8

Associações Católicas no campo pol ít ico esta também enraízado nas mudanças e transformações da política italiana - como consequência do colapso dos partidos políticos com maior expressão na década de noventa (Partidos da D e m o c r a c i a C r i s t ã , Socialista e Comunista). A hierarquia nacional da Igreja Católica também promove o compromisso no campo político dos católicos, enquanto, por outro lado, suporta com interesse algumas iniciativas polít icas dentro das fronteiras do mundo católico. Apesar disso, o p i n i õ e s d i f e r e n t e s e m e r g e m . A l g u m a s posições clamam por uma intervenção maior do E s t a d o n o c a m p o económico, tal como o Conselho para a Justiça e a Paz, que exige uma autoridade política mundia e a taxação de transações financeiras. Por outro lado, o Presidente do Banco do Vaticano (Instituto das Obras Religiosas) expressa as suas dúvidas sobre novas formas de taxação ou medidas protecionistas, sugerindo, em vez disso, acções governamentais que a p o n t e m p a r a a reindustrialização, reforço das instituições de crédito, apoio ao emprego, e, sobretudo, reconstruir a confiança de cidadãos e do m e r c a d o f a c e a o s Governos. Em termos mais latos, ainda que propondo diferentes soluções, os clérigos italianos expressam uma profunda preocupação sobre as consequências da crise económica, que pode

CRISTIÁS E CRISTIÁNS ANTE A CRISE | CHRISTIANS FACING THE CRISIS MARISA VIDAL COLLAZO ASOC. ENCRUCILLADA | WWW.ENCRUCILLADA.ES

cambios no xeito de elixir aos deputados, creación de o b s e r v a t o r i o s independentes das políticas públicas, etc. O profesor Calleja conclúe que “non hai atallos morais nin espirituais á xustiza social sen pasar por unhas estruturas sociais xustas”. Para el unha parte da solución ten que vir necesariamente no apostar polo movemento civil alternativo, nutrido de persoas sensibles á xustiza social, que crece en rede e é capaz de xerar actores políticos alternativos. Nesta mesma liña, a teóloga p o r t u g u e s a T e r e s a Martinho Toldy, profesora na Univ. de Coimbra, achega a situación que se está a vivir hoxe no veciño Portugal. As conclusións da profesora Toldy non difiren moito das do profesor Calleja: “Perdemos direitos sociais. Temos a sensação do fim de uma era de direitos acerca do qual existe um discurso ambíguo por parte dos políticos e das entidades patronais (...) A política parece ter sido substituída pelas finanças como único horizonte de referência para a governação. Por outro lado, vivemos um momento de acordar de consciências que, segundo alguns analistas, poderá contribuir para a r e c o n f i g u r a ç ã o d a democracia”. Xosé Montes Pérez, exdirector de Caritas diocesana de Santiago analiza o papel da Igrexa dende Caritas na xestións

Página 9

Desde que o ano 2008 que estoupou a crise en España, crise na que aínda estamos, a revista Encrucillada, R e v i s t a G a l e g a d e Pensamento Crist ián , mantense alerta. No número 162 (marzo-abril 2009) xa se fixo eco deste problema afondando nos motivos e as oportunidades que a crise podía brindar ás persoas cristiás atentas aos sinais do Reino. A finais dese mesmo ano, no número 165 (nov-dec 2009) recollíanse os relatorios do XXIV Foro Relixión e Cultura en Galicia, titulado: A outra cara da crise, fixándose no de crecemento como camiño, e marcando o novo perfil que a crise lle estaba a dar á exclusión social. e aos mesmos movementos sociais. Está a saír do prelo o número 183 da revista Encrucillada, e de novo o tema que trata é a crise e o papel da igrexa perante ela. N u n p r i m e i r o afondamento, Ignacio Calleja Sáez de Navarrete, profesor de Moral Social Cristiá na Fac. de Teoloxía de Vitoria, analiza a democracia, no seus acer tos e t r ampas , afondando na relación entre política e economía. Ve perspectivas de futuro na participación cidadá organizada sobre todo a raíz do movemento 15M, dende o que se está a xerar o contrapoder necesario para chegar a acadar o control democrático da r iqueza , unha nova fiscalidade, a creación dunha banca pública, novas leis laborais para a democracia nas empresas,

Since the 2008 crisis exploded in Spain, a crisis we are still facing, the journal Encrucillada, Revista Galega de Pensamento Cristián, stayed alert. Its issue number 162 (March-April 2009) approached this topic, deepening the motives and opportunities potentially offered by the crisis to Christians attentive to the signs of the Kingdom. Later that same year, the issue number 165 (November -December 2009) compi led the conference papers from the XXIV Forum Religion and Culture in Galicia, entitled: A outra cara da crise (the other face of the crisis), paying attention to the degrowth as a process, and exploring how the crisis was affecting the profiles of social exclusion and social m o v e m e n t s . T h e forthcoming issue number 183 of the journal Encrucillada deals again with the crisis and the Church’s role in facing it. In the first article, Ignacio Calleja Sáez de Navarrete, Professor of Christian Social Morality at the Faculty of Theology of Vitoria, analyzes democracy in its successes and pitfalls, deepening the relationship between politics and economics. He argues that the future of democracy can be seen in the citizens’ organized participation that has resulted from the 15M movement, which is generating the necessary counterweight to achieve the democratic control of wealth, a new system of taxation, the creation of a public bank, new labor laws towards democracy in

business, changes in the way of choosing the deputies, the creation of independent observatories of public policies, etc. Professor Calleja concludes that “There are no moral or spiritual shortcuts: social justice can only be established through fair social structures” According to him, a part of the solution is necessarily related to the alternative civil movement, composed by people sensitive to social justice, which grows through networking and is capable of generating alternative political actors. Likewise, the Portuguese theologian Teresa Martinho Toldy, professor at the University of Coimbra, outlines the current situation in Portugal. P r o f e s s o r T o l d y ’ s conclusions are not much different from professor Calleja’s ones: “We are losing our social rights. We feel like it is the end of an era of rights, about which there is an ambiguous discourse by politicians and employers (...) Politics seems to have been replaced by finance as the sole reference for governance. On the other hand, we live in a time of conscience awakening that, according to some analysts, could contribute to the reconfiguration of democracy” Xosé Montes Pérez, former director of the diocesan Caritas of Sant iago, analyzes the role of the Church from Caritas in the management of individual crises, which are now

éticas ou as enerxías sustentábeis que hoxe se están a mover en Galicia, e conclúe: “dende a creación de cooperativas e empresas, pasando por compartir o espazo de trabal lo e chegando á idea e a práctica d o m e r c a d o s o c i a l , amósasenos un xeito de constru í r as re lac ións económicas e sociais dende a cidadanía e a traveso duns valores e prácticas baseadas na colaboración, o traballo conxunto, o ben común… desterrando a lei da procura do máx imo bene f i c i o individual que tanto dano nos fai coma persoas, coma sociedade e como especie”. O sociólogo Santiago González Avión fai unha achega de carácter máis teolóxico, partindo do recordo ás 1118 vítimas do accidente ocorrido o pasado 12 de maio en Sabhar, Bangladesh, e que pasaron polos informativos sen de ixar pegada , asolagada a súa memoria polos intereses da industria téxtil. As persoas pobres non só constitúen o contexto vital para a interpretación da Teoloxía, senón tamén unha fonte de contidos da mesma. “Temos a obriga moral de avanzar de cara a unha espiritualidade global da liberación, e unha teoloxía que lle dea soporte. Pero debemos facelo cunha forte consciencia das nosas limitacións e das nosas posibilidades, porque, do contrario, en vez de facer Teoloxía, o que faremos será propaganda de determinados

Página 10

das cr ises persoais , agudizadas agora pola crise económica. Bríndanos no seu artigo, cheo de referencias a textos do Maxisterio da Igrexa, a p r o x i m i d a d e e acompañamento das máis de 60 . 0 00 p e r soa s voluntarias que traballan en Caritas. Unha labor que el cifra en “alentar no desánimo; atender aos máis vulnerables que non teñen traballo, sobre todo ás familias onde non hai un salario; esixir políticas que prioricen ás persoas; reclamar unha opción máis ética ante unha sociedade pouco redistr ibut iva; fomentar itinerarios persoais de inserción con constancia; reivindicar políticas sociais xenerosas para persoas con ingresos baixos; facilitar a formación para os colectivos de baixa preparación; buscar solucións ou novas iniciativas para as persoas que teñen máis dificultade no acceso ao traballo; sensibilizar ás empresas para que colaboren cos máis afectados pola crise; apoiar a cantos están en situación de baixa autoestima ou desesperanzados; etc” X o s é C un s T r a b a , dinamizador do blogue No me pidan calma apunta outro campo de acción dando detallada conta das diferentes alternativas que xorden en Galicia no camiño do decrecemento e volta á terra, un camiño que opta polo comercio x u s t o , s o s t i b l e e sustentable. No seu artigo fai unha relación de máis de trinta iniciativas que van do sector primario (agricultura ou pesca) ata as finanzas

worsened by the economic crisis. The text, with plenty of references to the Church M a g i s t e r i u m , g i v e s information on the work of more than 60,000 volunteers working at Caritas. A work he describes as being focused on “encouraging the discouraged, serving the most vulnerable people who have no job, especially in households where there is no income; claiming for policies that prioritize people; demanding a more ethical society instead of a society with little redistribution; constantly encouraging personal itineraries of inclusion; claiming for social policies generous to low income people; providing training for low educated groups; looking for solutions and new initiatives for people who have more difficulty in accessing the job market; raising companies’ awareness and i n sp i r i ng them to collaborate with those most affected by the crisis; supporting those who are experiencing low self-esteem or desperation, etc. " Xosé Cuns Traba, animator of the blog No me pidan calma (Don’t tell me to be quiet), suggests another battlefield, giving a detailed account of the different alternatives that could be traced in Galicia for a process of degrowth and return to earth, a process that opts for fair and sustainable trade. In his article, he lists over thirty initiatives ranging from the primary sector (agriculture and fisheries) to ethical finance or sustainable energies that are currently developing in Galicia, and concludes: “ f r om the c r ea t i on o f cooperatives and companies,

passing through the sharing of working spaces, until the idea and the practice of a social market, we are shown a way to build economic and social relations from citizenship and through values and practices of collaboration, working together, the common good... banishing the pursuit of maximum individual benefit that damaged us so much as individuals, society and as a species” The sociologist Santiago González Avión brings a more theological contribution, starting from the memory of the 1,118 victims of the 12 May accident in Sabhar, Bangladesh, and the fact that this information passed by without leaving a trace, drowned in the memory by the interests of the textile industry. Poor people not only are the vital context for the interpretation of theology, but also the source of its contents. “We have a moral obligation to advance towards a global spirituality of liberation, and towards a theology that supports it. But we must do so with a strong awareness of our limitations and our possibilities, otherwise, instead of doing theology, we will advertise certain ideological contents, which do not reveal the reality and prevent us from finding God in it. (...) Turning to to the poor does not mean using them as a striking power against real or imagined enemies. Nor does it mean to put patches on a torn social fabric and let everything to continue as it is. Rather, it means putting our own lives at stake to stand with the poor, sit with them, think with them, pray with them and try with them to

Página 11

contidos ideolóxicos, que non desvelan a realidade nin permiten atopar a Deus nela. (…) Volverse aos pobres non significa utilizalos como forza de choque contra inimigos reais ou imaxinados. Pero tampouco significa poñer remendos sobre un tecido social esgazado para que continúe todo como está. Máis ben supón poñer a vida en xogo para estar cos pobres, sentir con eles, pensar con eles, rezar con eles e procurar con eles alternativas para unha vida digna. (…) Todas as teoloxías, mesmo a da liberación, non valen o que un xesto auténtico de solidariedade coas clases sociais espoliadas”. A crise segue avanzando, e as persoas que nos chamamos cristiás non podemos quedar de brazos cruzados. Teremos que recuperar a palabra profética, ler con ollos de realidade a Amós, e empezar a repetir en primeira persoa o sermón da montaña: Benaventurada eu cando teña fame de xustiza, pois meu ha ser o Reino dos Ceos.

find alternatives for a decent life. (...) All the theologies, even the liberation theology, are not worth the same as a real gesture of solidarity towards the plundered social classes." The crisis continues to advance, and we, as people who call ourselves Christians, cannot stand idly by. We have to recover the prophetic word, read God through the eyes of reality, and begin to repeat in first person the Sermon on the Mount: Blessed me when I hunger for justice, for mine will be the Kingdom of Heaven.

Referências | References

1 http://blogs.lavozdegalicia.es/nomepidancalma

2 Xosé Cuns article is accessible from the web page of Encrucillada (www.encrucillada.org)

Página 12

CRISTIÁS E CRISTIÁNS ANTE A CRISE - MARISA VIDAL COLLAZO

I am grateful for the chance POLICREDOS gave us to present our associ-ation. Our association struggles since 1996 for a church that recognizes the feminine face of God in Galicia and for a church that embeds in our life and in our action the theological word – a word that shows the way in our historical path as women, as Christian, and as Galician. Our spirituality has specific and peculiar features. It includes a specific discourse on God, on feminine and on Galician. We are aware that we are producing theology that emerges from life – from our lives as a group and from the life of each of us. What are our motivations? - We are motivated by not being pleased with what we have and by daring to search for new ways. We know that we have not achieved our goal yet – the utopia of equality and co-responsibility in our path. - We are motivated by our personal fulfillment. We are awakened, alert in face of the calls we receive from reality. We search for our real self, both as a group and individually. - We are motivated by the task of deconstructing the system, of destroy-ing schemes that do not correspond to what we feel. We feel the need to awaken consciences, to change mentalities. - We are not interested in things that are not worthy of life, that do not allow our growtg as women, as Christians and as Galician. We want to speak and to write genuinely, starting from the center of our being. We want to have a word and to express it – not a formal and empty word, but a full and fulfilled word that represents us as persons. Methodology In our work and our activities as association, we always take ourselves as a starting point. When we are attentive to ourselves, we experience a genuine “contamination” of life, we feel ourselves attuned, “mistresses and sisters” like our matriarch Exeria wrote to her friends. We have much to share. We share experience, deepness and life. We are a rich group because we experience plurality and this brings us together as sis-ters. We have much in common when we share our individual originality. We know that we all go through a process until we die. We are aware of the need to put new experiences into new words, since sometimes the language we use prevents us from being, from growing from the inside. That is our way to celebrate what is important to us. Whatever we do celebrates us as authentic and original human beings and our meditation always includes the feminine symbolism. We think that there is no sense in a meeting, an assembly without celebrating, without symbols that foster our growth from the inside. Our symbols are daring, intense. We give them much importance because they connect us to life and marks our presence in the place where we exist. Our participation in the feminist platform Worldwide March of the Galici-an Women is very important for us. We bring to it what is ours, our bodily, symbolic and celebrative being. We know that the fulfillment we long for will not be complete if we do not communicate with other wom-en. We strive in feeling that we do not live in a ghetto. On the contrary, we are prophetic, we live at the borders. Our institutions are machist and patriarchal – so it is difficult to consider them to be Christian institutions. We want feminist to get deep into them in order to turn them more human and more Christian. A bit of our history We all have catholic background. Most of us had experiences where the-ology did not serve us. It came short when attempting to express our

Agradezo a ocasión que me brinda Policredos para presentarvos a Asociación Mulleres Cristiás Galegas Exeria á que pertenzo. Escribo en galego, a miña lingua, irmá da portuguesa, coa idea de crear pontes entre nós, abrazadas polo Miño. As mulleres de M.C.G.-Exeria levamos dende marzo de 1996 traballando por unha igrexa que recoñeza o rostro feminino de Deus en Galicia e poña palabra teolóxica na vida que estamos vivindo e no que estamos facendo, trazando camiño no noso devir histórico como mulleres, como cristiás e como galegas. Vivimos e transmitimos, alí onde imos, unha espiritualidade con acentos peculiares, propios e nosos, unha espiritualidade que implica un discurso sobre Deus tamén propio, en feminino e en galego. Somos conscientes de que estamos facendo teoloxía, unha teoloxía desde a vida, desde as vidas de todas e cada unha de nós. Que é o que nos motiva?. Motívanos a insatisfacción, o non sentirnos contentas co que temos e o atrevernos a buscar camiños novos. Non paramos, porque sabemos que aínda non temos chegado á meta, esa utopía de igualdade e corresponsabilidade pola que camiñamos. Motívanos tamén a nosa plenificación persoal. Non estar acomodadas, sentirnos sempre alerta ante as chamadas que nos fai a realidade. Estar espertas e sentirnos apoiadas na busca do noso ser auténtico e de cada unha. Motívanos tamén desmontar o sistema, desfacer os esquemas cos que non nos sentimos identificadas, "dar caña" alí onde vemos que hai que espertar conciencias, que hai que cambiar mentalidades. O que non nos vale para a vida, o que non nos fai medrar como mulleres, como cristiás e como galegas non nos interesa. Queremos falar e escribir xenuinamente, desde nós, desde o centro do noso ser. Ter palabra propia e dicila. Non unha palabra formal e oca de contido senón plena e plenificada, que nos represente como persoas. Metodoloxía En tódolos nosos traballos e quefaceres como asociación partimos sempre da vida, de nós mesmas. Cando nos atopamos, vivimos un auténtico contaxio de vida, sentímonos en sintonía, "donas e irmás", como escribía a nosa matriarca Exeria ás súas compañeiras. Temos moito que aportarnos todas e cada unha. Nas nosas xuntanzas hai moita experiencia, moita fondura, moita vida. Somos un grupo rico por diverso, no que nos sentimos enlazadas, irmás. Temos moito en común desde cada orixinalidade individual. Sabemos que todas estamos en proceso, ata que morramos. Sabemos da necesidade de poñer palabras novas ás novas experiencias, pois ás veces a linguaxe que usamos impídenos ser, impídenos medrar por dentro. Por iso lle damos tanta importancia á festa e a celebración. Todo o que facemos nos celebra a nós como seres auténticos e irrepetibles, e nas nosas reflexións está sempre moi presente a simbólica feminina. Non entendemos unha reunión, unha asemblea, sen o xesto e a celebración, sen símbolos que nos fagan crecer por dentro. Os nosos símbolos son atrevidos, ousados, intensos. Dámoslles moita importancia

Página 13

experience of God. The awareness of that fact became obvious when the ecclesiastic hierarchy of our church issued a document, in 1996, on the role they thought we – as women – should have within the church. We shared our rejection and our repulsion and, in doing that, we came to the conclusion that we had a discourse on God different from the document issued by the hierarchy. We dream of changing the Church. So, we started building our own space, because we did not accept the spaces that were offered to us – we were not comfortable within them. We started to organize workshops to discuss feminist theology in order to educate ourselves and to learn with each other. Through feminist Christology, we came to the conclusion that there were other women also feeling out of place in a church that did not cherish them and their contributions. We have also studied feminism since we understood that there was an open field that could enrich us, foster our consciousness as women equal in rights, heirs of a tradition of women that were fighters, thinkers, wom-en that did not accommodate themselves to the second rank position assigned by the society. We identified ourselves with them because we understood that their struggles were our struggles. We recognized our-selves as daughters and we recognized them as mothers, as matriarchs of our history. After this experience came the time of action. We became members of the feminist platform “Worldwide March of Women” and we strongly engaged ourselves in the actions and demonstrations of the “Never Again Platforms” against war in Iraq, promoting a boycott to products of corpo-rations that financed war. Later, we returned to our body, to our being women in the world and our workshops focused on reflection and contemplative dance. We went deep within ourselves and we became aware of the goddess existing there, we worked on the topic of feminine health and of negotiation. We experienced our corporality as theological locus of a meeting with God. This path translated into the celebration we prepared in October 2004 for the meeting “We are Church” in Santiago. This meeting gave origin to “Redes Cristás” (Christian Networks) – a platform that gathers Christian base communities from all over the Spanish territory. In 2006 (when our Association celebrated 10 years of existence), we organized a book called Donas de nosa memoria (Owners of our Memory) where we registered our memories and our reflections on what we had experienced and we attempted to open pathways to the future, which we are starting to follow. Throughout the time, we turned progressively from thought to action, to spirituality and reflection. We became more and more aware of the god-dess living within each one of us. We started to work in an inclusive translation of the New Testament. We hope to finish the inclusive trans-lation of the Lucas Gospel. We are aware of the need to unify body and thinking. Four years ago, we creaded a new space called “Thinking in Common” (Pensando en Comun) where we voice our experience in fields that challenge our being as fe-male believers. The first topic we discussed was abortion. We shared our personal experiences, analyzed the reflections that help going forth and we expressed our consistent and decided opinion on such a controversial issue. The document “Abortion as voluntary interruption of pregnancy” was approved during our 2009 Assembly. The next topic we have chosen was about being and belonging to the church. We approved a document called “We, the women within the Church” at our 2010 Assembly. After-wards, we started to work on the topic of gender violence within society but especially within the Church. We expressed our firm and decided

porque nos conectan absolutamente coa vida. Este sentido simbólico dános presenza alí onde estamos. Valoramos moito a nosa pertenza á plataforma feminista Marcha Mundial das Mulleres de Galiza, na que aportamos, entre outras cousas, o noso ser corpóreo, simbólico e celebrativo. Somos conscientes de que a plenitude á que aspiramos estaría coxa se non a comunicáramos ás outras. Dános moita vida sentir que non somos guetto, senón profecía, vivindo na fronteira. As nosas institucións son machistas e patriarcais, e por ese motivo dificilmente cristiás. Queremos que o feminismo penetre nelas e as volva máis humanas, máis cristiás tamén. Un pouco da nosa historia. Todas vimos de historias persoais católicas. A maioría vivimos nalgún momento que a teoloxía que nos transmitían non nos servía, que se quedaba curta para expresar a nosa experiencia de Deus. Esta constatación fíxose patente cando, en 1996, a xerarquía eclesiástica da nosa igrexa promulgou un documento sobre el papel que nós, as mulleres, debiamos ter na igrexa. Reuniunos o rexeitamento e a repulsa, pero ao xuntarnos démonos conta de que todas manexabamos ou intuíamos un discurso sobre Deus diferente do que esa xerarquía transmitía no seu escrito. Soñamos con cambiar a Igrexa, e empezamos abrindo espazos propios, porque os espazos que se nos ofrecían non nos gustaban, non nos sentíamos cómodas neles. Ao primeiro xuntámonos en obradoiros para falar de teoloxía feminista, nun claro interese por formarnos, por aprender da reflexión de outras. Na cristoloxía feminista descubrimos que outras mulleres compartían as mesmas inquedanzas, sentíanse, coma nós, desubicadas nunha igrexa que non as recoñecía na súa valía e no que elas estaban aportando. Tamén traballamos temas de feminismo porque vimos que había un campo aberto que nos podía enriquecer, facernos crecer por dentro na nosa conciencia de mulleres de pé, en igualdade de dereitos, herdeiras dunha tradición de mulleres loitadoras, pensadoras e vividoras, que non se tiñan resignado ao segundo posto que a sociedade lles tiña asignado. Identificámonos plenamente con elas porque vimos nas súas loitas parte das nosas loitas. Recoñecémonos como fillas, e a elas como nais, matriarcas da nosa historia. Despois veu a etapa do facer cara fóra, da acción. Así integrámonos na Plataforma feminista Marcha Mundial das Mulleres, e estivemos moi activas nas movidas cidadás integradas nas Plataformas Nunca Máis e contra a guerra de Iraq, promovendo un boicot aos produtos de empresas que financiaban la guerra,... Máis tarde volvemos ao noso corpo, ao noso ser de mulleres no mundo e os nosos obradoiros fixéronse de afondamento. Camiñamos cara dentro de nós mesmas por medio da danza contemplativa. Mergullámonos e adiviñamos á deusa que nos habita, traballamos a saúde feminina, a negociación, a nosa relación cos cartos,... En todos estes traballos vivimos a nosa corporeidade como lugar teolóxico de encontro con Deus. Este camiño quedou plasmado na celebración que, en outubro de 2004, presentamos no Encontro Somos Igrexa que se celebrou en Santiago e que dou lugar ao nacemento de Redes Cristiás, plataforma que aglutina a cristiáns de base de todo o estado español. En 2006, cando a asociación Mulleres Cristiás Galegas Exeria cumpriu dez anos, elaboramos unha publicación, Donas da nosa memoria, na que fixemos recordo e reflexión do vivido, tentando abrir camiños para o futuro, polos que imos transitando.

Página 14

opinion on the issue in the document “Gender violence, violence against women”, approved in 2011. Our participation in the “Theological Cafe” organized by the Association of Female Theologians of Spain, in 2011, was the starting point for the creation of a “Space of Feminist Theology” in our Association – a space dedicated to working on the field of theology. Reading texts of feminist theologians opens doors and windows, supports our reflection, based on what we are, what we feel and want, what we experience, what challeng-es us to go further, what opens pathways and gives us the chance to con-nect with others. After a year of work, we published a collective book called “As mulleres falamos de teoloxía. Espazo de teoloxia feminis-ta” (We, women, talk about theology. A space of Feminist Theology”). In this book we offer our words as women to all those who wish to adopt the way of theology and feminism. The book includes a glossary, bibliog-raphy on feminism and theology and its prologue was written by Ivone Gebara. It is a pioneer book in Galicia. We aim to go beyond the dialogue between feminism and the church, searching for a renovated face of God/Goddess, revealed in the challenges and changes presented by our society. We dream of a humanity based upon justice where the voices of women are heard and church is more Christian and sister, a church that fully recognizes our diversity and fecun-dity.

Ao longo do tempo fomos pasando do pensamento á acción, e logo á espiritualidade e á reflexión, tomando conciencia da deusa que nos habita a todas e cada una. Empezamos a dedicar tempo e esforzo á tradución inclusiva do Novo Testamento, da que esperamos ter pronto o Evanxeo de Lucas. Vimos que era necesario reunificar corpo e pensamento, facernos unha, e creamos fai catro anos un novo espazo: Pensando en Común, no que, desde a nosa experiencia de vida, fomos poñendo palabra a temas que nos cuestionaba como mulleres crentes. O primeiro tema que chamou por nós foi o aborto. Recollemos as nosas experiencias persoais, analizamos que reflexións nos serven e cales non para poder avanzar e demos a nosa palabra, coherente e decidida, sobre unha cuestión tan espiñenta. O documento O aborto como interrupción voluntaria do embarazo foi aprobado en Asemblea no año 2009. O seguinte tema a traballar foi o noso ser e pertencer á igrexa. O documento redactado: Nós, as mulleres, na Igrexa, foi aprobado en asemblea no ano 2010. Seguiulle a violencia de xénero, que analizamos con fondura na sociedade e, sobre todo, na Igrexa. En novembro de 2011 viu a luz o resultado das nosas reflexións: A violencia de xénero, violencia contra as mulleres, a nosa palabra firme e decidida sobre un tema ocultado e descoñecido. A raíz da nosa participación no café teolóxico ao que a Asociación de Teólogas de España nos convidou no ano 2011, iniciamos na asociación o Espazo de Teoloxía Feminista, un lugar no que traballar no camiño da reflexión e elaboración teolóxica. Ler textos de diferentes teólogas feministas nos abre portas e ventás, apoia a nosa reflexión, que parte sempre de nós, do que somos, sentimos e queremos, do que estamos vivindo e nos leva máis aló, facéndonos afondar e abrir novos camiños, compartindo en relación. Froito do traballo do primeiro ano deste Espazo xurdiu unha publicación colectiva: As mulleres falamos de teoloxía. Espazo de teoloxía feminista. Nel brindamos as nosas palabras de mulleres a todas as persoas que queiran empezar a transitar polos espazos da teoloxía e o feminismo. O prólogo de Ivone Gebara, un glosario de termos e unha completa bibliografía de teoloxía e feminismos completan esta obra, pioneira en Galicia. O noso obxectivo é facer avanzar o diálogo entre feminismo e igrexa, buscando un novo rostro de Deus/Deusa que se nos manifesta nos retos e cambios que a nosa sociedade propón a cada paso. Soñamos cunha humanidade máis xusta, na que resoe a voz das mulleres, e unha igrexa máis cristiá, máis irmá, que nos recoñeza plenamente na nosa diversidade e fecundidade.

Página 15

RECENSÃO | SANTOS, BOAVENTURA DE SOUSA (2013) , SE DEUS FOSSE UM ACTIV ISTA DOS DIREITOS HUMANOS . COIMBRA: ED. ALMEDINA. TERESA TOLDY

O livro constitui uma pedrada no charco parado da pouca discussão sociológica e multicultural,

entre nós, do papel público e sociopolítico da religião. Procura dar conta do peso que as crenças religiosas ou a espiritualidade das várias religiões tem nos “activistas da luta por justiça sócio-

económica, histórica, sexual, racial, cultural e pós-colonial”. As diversas formas como a religião se cruza com estas lutas, e constitui inspiração para as mesmas, testemunha, na perspectiva do

autor, que a “ideologia da autonomia e do individualismo possessivos”, típica da Modernidade ocidental, foi posta em causa.

Se Deus fosse um activista dos direitos humanos constitui um livro de extrema utilidade como roteiro para a identificação dos diversos tipos e impactos das teologias políticas existentes

atualmente, já que procede a uma caracterização complexa (recusando os simplismos correntes na análise desta temática, particularmente, quando se cruza com a questão dos

fundamentalismos!), das diversas correntes, retomando a ideia de que o denominador comum a todas é a reivindicação da intervenção da religião na vida pública.

A obra coloca o dedo na ferida da possibilidade de conciliar (ou não) o sagrado e o profano, o religioso e o secular, o transcendente e o

imanente e afirma que a pergunta acerca da possibilidade ou impossibilidade de diálogo entre estes se coloca de forma mais premente nas chamadas “zonas de contacto”, onde a existência de “concepções rivais da dignidade humana, da ordem social e da transformação social”

se torna mais óbvia. Existirão “outras gramáticas de dignidade humana”, após o “falhanço histórico” de uma compreensão e de uma prática dos direitos humanos entendida como a “universalização” do seu modelo ocidental? Boaventura pensa que sim. Mas o reconhecimento

dessas outras gramáticas exige a superação de um pensamento e de práticas centradas em compreensões monoculturais rivais, quer estas sejam inspiradas por um universalismo cristão de tipo medieval, quer por um Islão empenhado em “islamizar a modernidade”. E exige

também a denúncia da injustiça histórica produzida pela modernidade ocidental, ao retirar às outras culturas e ao futuro dos outros povos a “capacidade de produzir futuros alternativos”.

Esperemos que esta obra contribua para animar o tal debate, ainda por fazer em Portugal, em torno de leituras políticas da religião e das suas articulações e desarticulações com os direitos humanos, bem como em torno da superação de fundamentalismos e da procura de caminhos de emancipação. Um livro a ler, pois!

The book is a very relevant contribution to a sociological and multicultural discussion on the public and socio-political role of religion – a discussion

almost non-existent in Portugal! It emphasizes the relevance and the weight of religious beliefs and of religious spiritualties for “activists in their strug-

gles for economic, social, historical, sexual, rational, cultural and postcolonial justice”. According to Boaventura, the diverse ways according to which

religion crosses their struggles and inspires them testifies that “the ideology of autonomy and possessive individualism” typical of western modernity is

now in question.

Se Deus fosse um activista dos direitos humanos is a book extremely useful for the identification of the different types and impacts of current political

theologies, since it develops a complex profile (refusing simplistic analysis especially when it comes to the question of fundamentalisms – something

very common nowadays!) of the various trends of political theology. It states that their common ground is the vindication of an intervention of religion

in public sphere.

The book goes into a deep debate on the possibility (or not) of reconciling sacred and profane, religious and secular, transcendent and immanent and

states that the question on the possibility or impossibility of a dialogue between all these topics is even more urgent in the so called “contact zones”,

where the existence of “rival notions of human dignity, of social order and of social transformation” becomes obvious. Are there “other grammars of

human dignity”, after the “historical debacle” of an understanding and a practice of human rights understood as the “universalization” of the western

model? Boaventura thinks there are indeed. But the recognition of other grammars demands the overcoming of ways of thinking and practices focused

on rival mono-cultural understandings – whether inspired by a medieval Christian universalism or by an Islam engaged in “the islamization of moderni-

ty”. The recognition of other grammars also requires the denunciation of historical injustices of western modernity, an injustice that robs the “capacity

of producing alternative futures” of “other cultures and of the future of other people”.

Let us hope that this book will contribute to awake this debate – still non-existent in Portugal – around political readings of religion and of its articula-

tions and disarticulations with human rights as well as around the overcoming of fundamentalisms and around the search for ways of emancipation. A

book to read!

Página 16

Temas em rede: Reacções à Carta Apostólica Evangelii Gaudium

O historiador José Ma�oso destacou o “convite a não ter medo” na exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ do Papa Francisco e a necessidade de se viverem as bem-aventuranças, “a pobreza, a perseguição, a luta pela jus,ça e pela paz”. “O medo de imitar a Jesus Cristo, de aparecer como cristão aos olhos do mundo, de proclamar os direitos dos pobres e oprimidos, de saltar fora do mercado. Con,nuar a ler: Agência Ecclesia

Y no es para menos, dado el furibundo y radical ataque que acaba de lanzar el Pon6fice hacia el sistema capitalista en su conjunto y, más concretamente, la libertad económica y el libre mercado. Su posicionamiento ideológico en esta materia no es de extrañar si se observa, mínimamente, su larga carrera eclesiás,ca como obispo y, posteriormente, cardenal en Argen,na. Por qué se equivoca el Papa - Manuel Llamas. Con,nuar a ler: Libre Mercado

OUTRAS LEITURAS

The Pope's Rhetoric - Greg Mankiw Migração na Exortação "Evangelii gaudium" - P. Alfredo Gonçalves Has Pope Francis misunderstood the market economy? - Philip Booth Um Papa revolucionário - Amadeu Garrido De rerum (não) novarum - Francisco Mendes da Silva

Declarações do pon6fice levaram o locutor de rádio americano e conservador Rush Limbaugh a classificar as frases do papa como "marxismo puro". Con,nuar a ler: Exame.com

I don't wish to stand in the way of people enjoying other people's prejudices, but Francis's hyperbolic rants about the role and allegedly dictatorial power of free markets are embarrassing in their wrongness. Ma� Welch Con,nuar a ler: Reason.com

D. Pio Alves, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações, alertou para os riscos de fazerem leituras parciais da primeira exortação apostólica do Papa, ‘Evangelli Gaudium’ (A alegria do Evangelho). Con,nuar a ler: Agência Ecclesia

Mas quando ele foi rezar à Igreja de Santa Maria Maior, quando todos lhe admiraram a ba,na simples e os sapatos pretos e usados, eu reparei em algo mais extraordinário: "Olha, um homem", disse-me. É, ele andava como uma pessoa comum. O papa porteiro de discoteca - Ferreira Fernandes. Con,nuar a ler: Diário de No6cias

José Vera Jardim, an,go ministro da Jus,ça, considera que há “um processo de laicização da sociedade” mas destaca a atualização da Doutrina Social da Igreja que o Papa está a promover com as suas palavras e ações. “Na verdade o que o Papa Francisco tem vindo a fazer não é muito novo na Doutrina Social da Igreja (DSI) mas é uma atualização face a uma situação que o mundo atravessa de grande desigualdade entre as pessoas ”, revela à Agência ECCLESIA José Vera Jardim, coautor da atual Lei de Liberdade Religiosa. Con,nuar a ler: Agência Ecclesia

O Papa está a tornar-se a referência dos que precisam de energia espiritual para resis,r à idolatria do dinheiro, à ,rania dos mercados, à especulação financeira, à economia que mata, às polí,cas que consideram os doentes e os velhos um estorvo e o desemprego uma fatalidade. O

discurso do método do Papa Francisco - Fr. Bento Domingues. Con,nuar a ler: Religionline

A tendência dos documentos ministeriais é lançar o Evangelho numa letargia, mul,plicando os textos, os debates e as discussões – os ‘entes’, na imagem de Tomás de Aquino. Pelo contrário, a Evangelii Gaudium ajuda-nos a acordar desta letargia e re-encontrar a Alegria do Evangelho. Nota-se que é escrito por um Bispo de origem la,no-americana: onde não se espera pelo Estado para abrir um furo de água comunitário, onde não se espera pelo pároco para iniciar reuniões eclesiais de base, onde não se espera pela apple para nos trazer o úl,mo tablet. Uma alegria que desperte - Rui Pedro Vasconcelos. Con,nuar a ler: Religionline

A palavra mais repe,da no documento é a palavra alegria. A Igreja tem, pois, de ser uma casa onde reina a alegria, o que não significa ausência de esforço, de trabalho e sacriScio. Francisco: a alegria do Evangelho - Anselmo Borges. Con,nuar a ler: Diário de No6cias

Ficha Técnica

Coordenação do Observatório Policredos

Teresa Toldy

Coordenação da Newsletter

Teresa Toldy, Alberta Giorgio, João Emanuel Diogo

Colaboradores neste número:

David Fitzsimmons, José Manuel Pureza, António Marujo,

Alberta Giorgi, Marisa Vidal Collazo, Teresa Toldy