ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá...

16
novas da Número 16, Março de 2004 Fórum da Língua polo futuro do reintegracionismo Milhares de pessoas saem à rua contra manipulaçom após 11-M Canteira do Pedroso degrada rio Arnego Vigo mobiliza-se contra segunda circunvalaçom Prossegue actividade independentista contra simbologia do fascismo Repressom sobre a CIG Joám Lopes Talvez nom seja assim Artur Alonso Novelhe 16 número Sector naval de Trasancos mobiliza-se contra a desapariçom Desde o Verao passado, a indústria de Fene nom recebe encomendas O grupo de construçom naval IZAR só contempla a possibili- dade de aplicar um expediente de regulaçom de emprego no estaleiro de Fene se este conti- nua sem carga de trabalho durante os próximos meses. A situaçom é muito preocupante, já que, desde o Verao passado, a indústria de Fene nom recebe encomendas. Nos últimos meses, 2.000 operários das empresas auxiliares fôrom transferidos para outras fábricas e já se fala em planos de pré- reforma, que afectariam perto de 700 trabalhadores de Izar- Fene. Os outros seriam transfe- ridos para o estaleiro militar de Ferrol, tal como já vem aconte- cendo há tempo. Entretanto, o conjunto de operários de Izar do Estado prossegue com as duras negociaçons com a empresa acerca da convençom colectiva. Desde 1997 até hoje, perdêrom- se um total de 450 postos de tra- balho em Izar-Fene. Mas esta situaçom vê-se agravada entre os operários das empresas auxi- liares. Nos últimos anos, já fôrom deslocados perto de 2000 para outras fábricas. De facto, no início do ano, diversos dirigentes de Izar recon- hecêrom que a situaçom da indústria de Fene é “especial”, ao nom poder este estaleiro cons- truir navios até o ano 2007. A direcçom de Izar, assim como a SEPI (Sociedade Espanhola de Participaçons Industriais, único accionista de empresa), está a manter atitudes chantagistas. Os sindicatos denunciam o imo- bilismo da empresa e conside- ram que esta situaçom conduz a um “beco sem saída”. Durante muitos meses e até há escassas semanas, Izar, a SEPI e os sindi- catos mantivérom contínuas reunions para tentar chegar a um acordo, mas fôrom infrutuosas.

Transcript of ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá...

Page 1: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

novas daNúmero 16, Março de 2004

Fórum daLíngua polofuturo doreintegracionismo

Milhares depessoas saem àrua contramanipulaçomapós 11-M

Canteira doPedroso degradario Arnego

Vigo mobiliza-secontra segundacircunvalaçom

Prossegueactividadeindependentistacontra simbologiado fascismo

Repressomsobre a CIGJoám Lopes

Talvez nomseja assimArtur Alonso Novelhe

16número Sector naval de Trasancosmobiliza-se contra a desapariçomDesde o Verao passado, a indústriade Fene nom recebe encomendas

O grupo de construçom navalIZAR só contempla a possibili-dade de aplicar um expedientede regulaçom de emprego noestaleiro de Fene se este conti-nua sem carga de trabalhodurante os próximos meses. Asituaçom é muito preocupante,já que, desde o Verao passado, aindústria de Fene nom recebeencomendas. Nos últimosmeses, 2.000 operários dasempresas auxiliares fôromtransferidos para outras fábricase já se fala em planos de pré-reforma, que afectariam pertode 700 trabalhadores de Izar-Fene. Os outros seriam transfe-ridos para o estaleiro militar deFerrol, tal como já vem aconte-cendo há tempo. Entretanto, oconjunto de operários de Izar doEstado prossegue com as durasnegociaçons com a empresaacerca da convençom colectiva.Desde 1997 até hoje, perdêrom-se um total de 450 postos de tra-balho em Izar-Fene. Mas estasituaçom vê-se agravada entreos operários das empresas auxi-liares. Nos últimos anos, jáfôrom deslocados perto de 2000para outras fábricas. De facto, no início do ano,diversos dirigentes de Izar recon-hecêrom que a situaçom daindústria de Fene é “especial”, aonom poder este estaleiro cons-truir navios até o ano 2007. Adirecçom de Izar, assim como aSEPI (Sociedade Espanhola deParticipaçons Industriais, únicoaccionista de empresa), está amanter atitudes chantagistas.Os sindicatos denunciam o imo-bilismo da empresa e conside-ram que esta situaçom conduz aum “beco sem saída”. Durantemuitos meses e até há escassassemanas, Izar, a SEPI e os sindi-catos mantivérom contínuasreunions para tentar chegar a umacordo, mas fôrom infrutuosas.

Page 2: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

Repressom sobre a CIG

segunda

Por Joám Lopes

Editora: Minho Media S.L.

Director: Ramom Gonçalves.

Redacçom: Carlos B.G., MartaSalgueiro, J.Manuel Lopes, AntónÁlvarez, Ivám Garcia, Alonso Vidal.

Correspondentes: Compostela,Beatriz Peres / Vigo, Xiana Gonzalez /Lugo, Joám Bagaria / Corunha,Armando Ribadulha / Ourense, TiagoPeres / Paris, J. Irazola / Madrid, JoséR. Rodriguez

Colaboraçons: Maurício Castro, JoámCarlos Ánsia, Santiago Alba Rico,Xesus Serrano, Kiko Neves, José R.Pichel, Ramom Pinheiro, Carlos Taibo,Ignacio Ramonet, Ramón Chao.

Fotografia: Borxa Vilas, Rosa Veiga,Miguel Garcia, Arquivo NGZ.

Humor Gráfico: Suso Sanmartin,Pepe Carreiro, Pestinho +1.

Publicidade: 639 146 523

Imagem Corporativa: Paulo Rico.

Desenho gráfico e maquetaçom:Miguel Garcia e Carlos Barros.

Correcçom lingüística: Eduardo Sanches Maragoto

NOVAS DA GALIZAApartado dos Correios 106927080 Lugo - GalizaTel: 639 146 [email protected]

As opinions expressas nos artigos nomrepresentam necessariamente aposiçom do periódico. Os artigos somde livre reproduçom respeitando aortografia e citando procedência. Éproibido outro tipo de reproduçom semautorizaçom expressa do grupo editor.

Fecho de Ediçom: 15.03.04

repressom sobre o sindicalismo éumha constante no tempo. O poderacode a ela sempre que a fórmula dacenoura moral conter-refrear-temperar-moderar se apresenta insuficiente. Aofensiva anti-sindical do fascista Aznar,vem motivada polo propósito de coarctaros direitos consagrados polo próprioordenamento jurídico-político espanhol.Pretende-se que os instrumentos maisúteis para a classe trabalhadora, o daauto-organizaçom e o de greve fiquemsob controlo do executivo. A domesticaçom sindical que o governopensava ter conseguido virou dificultosa.Se bem que pareça tê-lo fácil no caso dasCCOO, apesar da sobrevivência emduras condiçons de sectores muito com-bativos, e algo menos no caso da UGT(havemos de seguir este caso após otriunfo eleitoral do PSOE), aparece aCIG como un duro inimigo a combater. Ogoverno espanhol e as fiscalias ao seuserviço, nom esquecem que foi na Galizaonde se gestou a greve geral do ano 2002,com a prévia do ano anterior circunscritaao nosso país. E é que, longe de precon-ceitos, a nossa naçom timorata noutroscampos como o político, tem no sindica-lismo um motivo de orgulho e exemploque deita abaixo falsas premissas.A CIG, com a sua irmá pequena CUT ecom outros sectores que permanecemcombativos no sindicalismo espanhol, ten-dem para umha certa radicalizaçom dosseus postulados, como resposta às duríssi-mas condiçons que se estám a impor nomundo do trabalho. Os horários de dez emais horas diárias, as condiçons que pro-vocam o índice de mortandade mais altoda Europa em acidentes laborais, a burlaaos direitos de sindicaçom e de eleiçomlivre de representantes, som o pam de cadadia na maioria das empresas. A LOLS, oEstatuto do Trabalhador, as convençonscolectivas, já nom som problema porminúsculos e pouco avançados, mas porserem papéis molhados, utilizados só polopatronato quando pode tirar proveito, mor-mente nos despedimentos e sançons. Estepanorama, nada novo mas sim agravadonos últimos tempos, tem motivado confli-tos de grande resistência e combate nostempos recentes, lembremos Monbus notransporte, e ainda Arriva ou Castromil. Agreve geral ficou enfim como umha derro-ta, talvez a primeira do governo Aznar.Agora, o que se pretende, com os obscurosCardenal e Malvar à frente das fiscalias deEspanha e da Galiza respectivamente, épassar aos paus, vista a falha da cenoura.

Sobre a CIG caem, sentença após sen-tença, duras penas que, oxalá me engane,provocarám a entrada em prisom dealguns dos melhores exemplos da militán-cia deste sindicato. Seria causa pouco útilprocurar a lógica às sentenças ou equidadeàs penas. Isto nom está em causa. O casodos companheiros de Lugo já tratado nestejornal é, por enquanto, o mais grave, masseguirám-se outros, mesmo contra as pró-prias testemunhas da defesa. Estám a rea-brir-se causas dormidas como as do Banco

Canário-Sariano, Monbus, encetando-senovas como as do conflito das mariscado-ras de Mugardos, várias por causa dasmobilizaçons do Prestige, algumhas muitorecentes polo conflito de Izar, com a actualsuspensom de emprego e vencimento dedez dias para o comité de empresa, a sen-tença contra o secretário geral da CIG, e umlongo etc. A realidade galega de algumhasorganizaçons políticas como o PSOE ou aEU, fica evidenciada com actuaçonscomo as do plenário ferrolano condenan-do os trabalhadores de Izar e defendendo

o provocador Juan Fernández. A CIG, em comunicado difundido no últi-mo boletim porta-voz, critica UGT eCCOO e fala de condicionar as acçons con-juntas. Graves acusaçons, totalmente fun-dadas, baseadas no boicote à celebraçom deeleiçons no mar e boicote à Mesa doCarbom. Mas nom parece que devam serabandonadas as tençons de unidade sindi-cal contra a repressom. Se é impossível aonível confederal, haverá-se de trabalhar nossectores e nas empresas com possibilida-des. A unidade de classe é avaliada comcerteza na sua justa importáncia poladirecçom que lidera o companheiro SusoSeixo. A confiança depositada nesta equipapola filiaçom nom tem sido defraudada.Mesmo semelha que umha central tam plu-ral e com diversas frentes críticas como aCIG, conseguiu focar esta vaga repressivacom sucesso e umha notória unidade inter-na. A greve de fome e a manifestaçom deLugo constituem umha façanha organizati-va, solidária e propagandística indubitável,mas sobretudo constituem um êxito nadefesa do projecto estratégico da CIG, tam-bém capaz de resistir as seguras pressonsdo seu entorno político, ou parte dele, moti-vada polas eternas inoportunidades eleito-rais. A manifestaçom, apesar de um certonervosismo organizativo e controlo exces-sivo, com certeza motivado polo anterior,foi um sucesso quanto à assistência, mastambém qualitativo, ao ter conseguidoatrair sectores de outras centrais sindicais.A CIG trata a questom repressiva global-mente. Está a preparar um longo relatóriosobre os imensos casos existentes poloPaís adiante, e ainda sobre a necessáriaimplementaçom de recursos jurídicoscompetentes no penal, estudando novasmobilizaçons. As experiências indicamque mais tarde ou mais cedo a centraldeverá contar com umha secçom especiali-zada no tema e com militáncia dedicada àluta anti-repressiva e à solidariedade. Étempo de fecharmos fileiras e nom permi-tirmos que seja abalado o mais grandesucesso da classe operária da Galiza e detodo o nacionalismo em geral. Avançarmoscontra umha maré de espanholidade ereacçom é dificultoso, e nom é claro, antespolo contrário, que qualquer mudançapolítica favorável ao PSOE, acabe pormudar a atitude do Estado ImperialistaEspanhol, acaso diluirá apenas maioresvirulências. Aguardemos que, habituados abaloiçar de esquerda a dereita, prevaleça afirmeza face ao conforto e ao "aggiorna-mento" dos tapetes e dos gabinetes. A clas-se operária e a Galiza precisam.

A

2 segunda Março 2004 novas da galiza

Situaçom. Lucio Juan Aguerre

A ofensiva anti-sindicalpretente coarctar os direitosconsagrados polo próprio

ordenamento jurídico--político. Pretende-se que

os instrumentos maisúteis para a classe

trabalhadora fiquem sobcontrolo do executivo

Page 3: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

Suso Sanmartin

sumário

Encontro dasmulheres europeias

Vigo acolhe em Maio o actointernacional da Marcha

Mundial das Mulheres

Banda Desenhadagalega, no caminho

Analisamos a situaçom e aspespectivas deste géneroartístico na Galiza

O último da músicanegra na Galiza

Os nossos colaboradoreshabituais apresentam-nosas bandas Mama Boogie eDandy Fever.

America Abjecta Est

Segunda parte do artigo deopiniom de Carlos Quiroga

acerca do panoráma políticoe social nos EUA

10

13

12

Nos anos setenta, a Galiza figurava entre asnaçons do mundo ponteiras na construçomnaval. O estaleiro de Fene estava especiali-zado no lançamento de grandes naviosmercantes e em superpetroleiros. Estafábrica contava com mais de 6000 operá-rios no seu quadro. Em finais desta década,já se começárom a sentir as conseqüênciasda crise no sector e os trabalhadores e tra-balhadoras das empresas auxiliares fôromas primeiras vítimas.Em 1984, dous anos antes da entrada doEstado espanhol na ComunidadeEconómica Europeia, as autoridades comu-nitárias impugérom fortes medidas restriti-vas sobre o conjunto do sector naval esta-tal. A partir desta data, o estaleiro de Fenetem tido proscrita a construçom de grandesnavios, cometimento que até esse momentoera a sua especialidade. Por causa destamedida, a Galiza perdeu a totalidade da suacapacidade para construir grandes embar-caçons, enquanto noutros territórios doEstado esta capacidade apenas se viu afec-tada em 25 %. A destruiçom do naval gale-go, igual que o sector pequário e outrossectores produtivos nacionais, foi empre-

gada como moeda de troca na entrada doEstado espanhol na CEE.Som mesmo insultantes as justificaçonsque destas medidas realizam no PSOE, aoconsiderarem que a denominada "reconver-som do naval" era necessária para "moder-nizar" o sector. A comarca de Trasancossofreu umha profunda crise económicaque ainda hoje padece. Mas semelha que ofuturo dos estaleiros trasanqueses nom émuito esperançoso. Depois de ter ficadoreduzido o quadro de Izar Fene até 1033operários, a direcçom da empresa públicaespanhola contempla uns planos de ajustede emprego que liquidariam por completoa indústria fenesa. Por enquanto, umhaparte importante do quadro de pessoal doestaleiro de Fene está a ser transferida paraa fábrica de Izar Ferrol. Mas ainda fica um lugar para a esperança.Nos últimos meses, o conjunto de trabalha-dores dos estaleiros trasanqueses está amobilizar-se para exigir umha convençomcolectiva justa e nova carga de trabalhopara Izar Fene. Entretanto, a maioria dospartidos institucionais opta pola via repres-siva e criminaliza o movimento operário.

editorial

A destruiçom deumha indústria

15

7

Em luita poloemprego em IZAR

Analisamos a situaçomlaboral das fábricas queIZAR tem na Galiza, emperigo de desapariçom.

editorialMarço 2003novas da galiza 3

Esta figura nom pudo ser publicada no correspondente número de Fevereiro por questons técnicas

Page 4: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

4 notícias Março 2004 novas da galiza

notícias

O encontro caracterizou-se pola juventude da assistência e a renovaçom de ideias e discursos

Fórum da Língua: nasceum novo reintegracionismo

Redacçom

Depois de vários anos de trabalhopola unidade de acçom dos colec-tivos reintegracionistas, o MDLassumiu um repto complexo earriscado: Reunir pessoas ecolectivos da Galiza e perguntar-lhes polo futuro da Língua.O dia nom era propício. Umhagrande nevada e vaga de frio dei-xava incomunicado parte do País.A organizaçom nom podia garan-tir o sucesso. Sabia das comple-xas relaçons entre alguns grupose das anteriores tentativas frustra-das de unidade. O clima nom aju-dava. Mas na primeira hora damanhá várias dezenas de pessoasjá esperavam às portas daFaculdade de Filologia.A organizaçom tomou conta detodos os pormenores, da pastacom material para o encontro,até os cartons acreditativos ouos petiscos servidos nos interva-los. No salom de actos daFaculdade, com um grande pro-jector, era apresentado o Fórumcom mais de 140 pessoas inscri-tas ao meio-dia. Lá estavamconvidados e convidadas, parti-cipantes nas mesas de debate erepresentantes de mais de vintecolectivos sociais.Após umha simpática apresen-taçom por parte de SusoSammartim, os diferentes gruposparticipárom no Bloco de expe-riências. Na última hora damanhá umha palestra analisavaas características que devia apre-sentar o movimento reintegra-cionista para calhar na sociedadecom maior hipótese de sucesso.Especial mençom para a ópticaempresarial e profissional, que olivreiro e editor Xavier Paz intro-duziu como parámetro novidosode actuaçom social.

Na jornada de tarde os e as parti-cipantes dividírom-se para acudi-rem a mesas simultáneas: Meiosde comunicaçom e EnsinoObrigatório primeiro e LocaisSociais e Novas Tecnologiasdepois, após um intervalo competiscos. O encerramento do acto,a cargo do escritor CarlosQuiroga, seria a nota artística, quenom deixou ninguém indiferente.

Valorizaçons positivasEm geral, as pessoas mostrárom-se satisfeitas e agradecêrom aorganizaçom do Fórum. Assim,Miguel Penas, Secretário deOrganizaçom de AGAL, espera-va que a iniciativa servisse paraatingir objectivos mais concretos.O Prof. António Gil, representan-te de AAG-P, destacava as boasmaneiras dos participantes, o res-peito à organizaçom, a assistên-

cia de público e a "preponderán-cia do sector reintegracionista,apesar de ser umha convocatóriaaberta a toda a gente". Viu nega-tiva a densidade do programa e oescasso tempo que ficou para aintervençom do público. Feliz,mostrava-se o Porta-Voz doMDL, Luís Fontenla, porque aspessoas "reintegracionistas com-preendêrom o que tenhem emcomum e agora começará ocaminho da unidade de acçom".

O Futuro também estivo presenteFoi destacado o bom momentopor que atravessa o reintegracio-nismo e os planos de futuro. Parao Prof. Celso A. Cáccamo, devemimpulsionar-se "projectos econó-micos que, ainda dentro do qua-dro capitalista, representem umincentivo para a mobilidadesocial ascendente através do por-

tuguês como alternativa aoespanhol". Para O Prof. AntónioGil, cumpre começar com a reu-niom dos e das "luso-reintegra-cionistas" para discutir os seustemas desde a sociedade galega,mas com o intuito de a abrir àLusofonia. Concorda LuísFontenla, que acha precisa a pla-nificaçom em comum de projec-tos prioritários para a defesa daLíngua, e Miguel Penas, vêcomo imprescindível abrirmo-nos à sociedade, para termosumha presença real e forte.Afirma que a AGAL está dispos-ta ao diálogo com outras posturassobre a língua, mas a "estratégiada sua organizaçom, passa porum fortalecimento organizativoque lhes permita continuar com otrabalho social dos grupos locaise também com os trabalhos edito-riais e de comunicaçom".

Analisárom-se as perspectivas do movimento reintegracionista para calhar na sociedade com maior hipótese de sucesso

O Jacobeu é a razom pola qual aCámara compostelana quer res-tringir a presença de artistasmusicais, mimos e fotógrafas naPraça do Obradoiro, asPratarias e o Franco para assimse dispersarem por outras ruascom menos presença de pesso-as. O vereador de segurançacidadá Xosé Baqueiro indicavaque se trata de "harmonizar apresença de artistas" que devemafastar-se daquelas zonas maisapinhadas de gente.Para o colectivo de pessoas quehabitualmente realiza o seutrabalho artístico nestas ruasda capital galega esta medida"nom é compreensível". JoséRamom, que realiza o seutrabalho de fotografia na Praçado Obradoiro há já cinco anos,assegura que esta decisom"é umha surpresa que nomtem motivaçom algumha".Por outro lado, Montero indi-ca "nom entender a políticade Baqueiro" achacando-lheo facto de nom querer atendero colectivo.Em sentido contrário, o verea-dor de segurança cidadá mani-festou que os artistas do entor-no da Catedral "impediram otránsito de 6 milhons de pesso-as" indicando ainda que "a acti-vidade destas pessoas incomodaa vizinhança e causa transtornosna hotelaria". Mas o mundoartístico que habitualmente tra-balha na zona monumental jádecidiu unir-se para nom permi-tir que "deem cabo de umhaactividade" que é a "nossaforma de vida".A Cámara Municipal pretendeenviar estas pessoas para aPorta Faxeira, Alameda eBonaval onde o tránsito de pes-soas é evidentemente menorque na zona monumental.

Cámara Municipalde Compostelaquer levar artistasda rua para osarredores da ZonaMonumental

Page 5: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

notíciasMarço 2004novas da galiza 5

Galizalivre.org

Mais de 900 carros particularesmobilizaróm-se no passadodomingo dia sete de Março nacidade de Vigo numha das primei-ras demonstraçons de oposiçomvicinal à construçom de umhasegunda via de circunvalaçom. Sese levar a cabo, a nova infra-estru-tura viária projectada no PGOMsuporia umha importante agres-som para todas as paróquias dorural viguês entre as quais seencontram Teis, Lavadores,Cabral, Poulo, Sam Paio,Sárdoma, Castrelos, Matamá,Comesanha, Corujo ou SamMiguel de Oia, com a partiçom edesapariçom progressiva destaspovoaçons, a demoliçom de centosde casas de habitaçom unifamilia-res, a destruçom dos modos tradi-cionais de vida, trabalho e ocu-paçom do hábitat, a generalizaçomdos processos especulativos a todoo termo municipal ou a possibili-dade de construçom de prédios devários andares no rural viguês.A mobilizaçom convocada no diasete deste mês pola Coordenadorapola Supressom da Ronda deVigo, que aglutina comissons devicinais das paróquias afectadas,sindicatos, associaçons cidadás,centros sociais e partidos políti-cos, saiu ao meio-dia do CoutoGrande para fazer um percursopolas paróquias afectadas a nortedo termo municipal e terminarnovamente no ponto de partida.Telmo Varela, presidente daAssociaçom de Vizinhos eVizinhas de Corujo, afirmou que"nós pensamos que haviam deestar aqui muitos dos políticosprofissionais que dizem que hátanto consenso quanto ao planogeral e à Ronda. É só ver aassistência ao protesto de hoje ecomprovamos que nom existeesse tal consenso de que se falanos meios de comunicaçom". Odirigente vicinal adiantou a res-peito da mobilizaçom que "temosque repeti-la, mas nom só polasparóquias convocantes, mas emtodas aquelas onde estiver previs-

ta a passagem a ronda, e o nossodesejo é finalizarmos a manifes-taçom nalgum ponto do centro dacidade".

Especulaçom selvagemO movimento contra a construçomde umha segunda infra-estrutura decircunvalaçom que afectaria todo orural viguês apresenta como novi-dades o facto de ter aparecidorecentemente a partir das comis-sons das paróquias afectadas, sema adesom da Federaçom deAssociaçons de Vizinhos eVizinhas de Vigo e apesar do con-senso existente entre os três parti-dos institucionais no respeitantetanto ao PGOM como à cons-truçom desta infra-estrutura. NaCoordenadora pola Supressom daRonda de Vigo assegura-se queesta é "desnecessária" e apenasserve os interesses de Carrefour,Zona Franca, o Grupo Peugeot-Citröen e as empresas do portoviguês, provocando nas paróquiasafectadas "umha desfeita socioeco-nómica e ambiental" e a "acele-raçom dos processos especulati-vos" no rural da cidade.Face ao projecto urbanístico muni-cipal, que terá uns 36 metros delargura e umha zona afectada con-sideravelmente mais ampla, pro-ponhem umha melhoria substanti-va das vias de comunicaçomsecundárias e de comunicaçominterparoquial e a promoçom e dig-nificaçom do tranporte público.Por último, a Coordenadora afirmaque "hoje já existe um segundocinturom de circunvalaçom, que éa própria auto-estrada Rande-Baiona, a qual, se fosse gratuita,solucionaria eventuais necessida-des futuras de comunicaçom". Amobilizaçom maciça realizada estemês punha de manifesto, pola pri-meira vez, a importáncia que está aatingir a oposiçom vicinal à novainfra-estrurura viária. Os colecti-vos convocantes marcárom umpróximo encontro para a próximasexta-feira às 20 horas no local daassociaçons de vizinhos e vizinhasde Cabral para realizarem umhanova assembleia informativa.

Vigo mobiliza-se contrasegunda circunvalaçom

Manifestam-se novecentas viaturas

Redacçom

A indignaçom popular polasmentiras do governo espanholacerca dos acontecimentos do11-M levou às ruas mais de setemil galegos e galegas na noite dodia 13 de Março. A Internet e atelefonia móvel conseguiammobilizar o País em poucomenos de umha hora à frente dassedes do PP na maior parte dascidades galegas.Manifestárom-se por volta de2.000 pessoas em Compostela,2.000 também em Vigo, 500 emOurense, 1.500 em Ponte Vedra,500 em Lugo, 500 em Ferrol evárias dezenas em Ponferrada.

Após as convocatórias governa-mentais que o PP utilizou paradefender a Constituiçom, asmobilizaçons de repulsa multi-plicárom-se de forma insólitaenquanto era confirmada a tergi-versaçom dos factos por parte deAcebes, Zaplana e Michavila.As palavras de ordem pronuncia-das nas mobilizaçons apontavamo PP como responsável políticopola sua política internacional eexpressavam a repulsa perante atergiversaçom interesseira dosdados referentes à autoria dacolocaçom das bombas. "Nomfoi a ETA, foi o PP", "Ilegalizar oPartido Popular" ou "Nós já dixe-mos, nom à guerra" fôrom alguns

dos gritos ouvidos nas diversasmanifestaçons.Horas mais tarde, às 6h00, a sededo PP em Culheredo era incen-diada por pessoas desconhecidasque calcinárom as instalaçons eprovocárom importantes danosmateriais, segundo afirmam dife-rentes meios de comunicaçom.Na mesma madrugada prévia àsvotaçons, as sabotagens atingí-rom também 31 assembleias devoto, cujas portas fôrom seladascom palitos e cola. Nalgumhadas assembleias de voto aparecê-rom grafites que vinculavamestas acçons com a responsabili-dade do PP pola situaçom origi-nada após a invasom do Iraque.

Redacçom

O colectivo de maes e pais conse-guiu, com o apoio da luta estudan-til, que a Junta ordenasse o começoimediato das obras de reforma daEscola de Ensino Secundário (IES)'Pedra da Água' em Ponte Areias.Deste modo, o Delegado daConselharia da Educaçom NéstorValcárcel assinou o compromissode reparar as instalaçons e cons-truir um novo centro para o ano2005, e ainda aceitou a demissomda equipa directiva, reivindi-caçons promovidas polaAssembleia de Estudantes.As mobilizaçons começárom nosprimeiros meses do presente anoacadémico, lideradas polaAssociaçom de Maes e Pais deAlunos e Alunas (AMPA). Estecolectivo convocou concen-traçons diante do Concelho e nosJulgados, umha caminhada aPonte Vedra e realizou umhaacçom simbólica em que váriospais e maes chegárom a subir aos

telhados do centro.Nos primeiros dias de 2004,Néstor Valcárcel visitava as ins-talaçons para entrevistar-se comos pais e as maes. No encontro,quijo aparentar ser receptivo àsdemandas, ao mesmo tempo queevitava assumir qualquer tipo decompromisso e negava a viamobilizadora como meio.Nom obstante, em poucas sema-nas o alunado aderiu à luta orga-nizando umha Assembleia deEstudantes que reuniu em suces-sivas convocatórias mais deduzentas pessoas. Após teremrealizado umha campanha deinformaçom e agitaçom, aAssembleia decidiu intensificar aluta, como assinala um dos porta-vozes e membro de Agir, AlbertoRio Bom: "havia que dar umgolpe na mesa para fazer ver àJunta que íamos mesmo a sério".Foi entom quando "na madruga-da do dia 14 entramos na escola,trancamos as entradas e prepara-mo-nos para aguentar o que

fizesse falta", explica Rio Bomna entrevista publicada no sítioweb da organizaçom estudantil.Começavam um encerramentoapoiado polos pais e maes queficárom às portas da Escola. Aosseis dias e após umha reuniom derepresentantes da Assembleia, daAMPA e da Cámara com oDelegado de Educaçom, estedecidiu ceder às reclamaçons.A Escola Secundária 'Pedra daÁgua' padece problemas de aglo-meraçom desde a mesma cons-truçom do centro, acolhendo odobro de estudantes que lhecorresponderiam por espaço.Conta com carências de material,salas e dotaçons, além de estarvisivelmente deteriorada, ques-tom ratificada polo Inspector deEnsino, que qualificou o centrocomo o mais estragado da zona.Para evitar que as promessasanunciadas nom passem de arma-dilha eleitoral, a Assembleia deEstudantes está preparada paravoltar às mobilizaçons.

Milhares de pessoas manifestam-seem repulsa pola manipulaçom do PP

AMPA e estudantes forçam início dasobras na Escola Secundária 'Pedra da Água'

Incendeiam sede do PP em Culheredo e selam portas de 31 assembleias de voto

A manifestaçom de Compostela juntou por volta de 2.000 pessoas em pouco menos de umha hora

Page 6: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

6 notícias Março 2004 novas da galiza

Prossegue actividade independentistacontra a simbologia do fascismo

Detenhem oito independentistas quando pretendiam entregar a cabeça de Franco

Redacçom

A polémica desatada à volta dasimbologia fascista continua vivana Galiza. Ao redor de dousmeses depois de que dous volun-tários da organizaçom indepen-dentista NÓS-UP derrubassem amaçadas a estátua que tinha sidoerigida ao ditador no concelhotrasanquês de Narom, calhandocom a celebraçom do Congressoda Memória, o tema recuperouactualidade no passado Entrudo.A discussom tinha-se gerado, nomês de Dezembro passado, entreas forças da esquerda institucio-nal e o próprio independentismo.Enquanto as primeiras afirma-vam que a simbologia é um sim-ples 'resto do passado', só deven-do ser retirada se assim o consi-deravam os respectivos governosmunicipais, a esquerda indepen-dentista vem denunciando que asobrevivência simbólica do fran-quismo só se entende se conside-rarmos que o actual regime é her-deiro da reforma pactuada de 40anos de ditadura. Desta perspec-tiva, já se via que actos de deso-bediência civil como o pintado decor-de-rosa da estátua eqüestrede Franco em Ferrol, os estragos

no chamado cabeçom de PonteAreias, ou o próprio derrubamen-to de Narom poderiam ter conti-nuidade ao longo do ano.E assim foi. Na sexta feira 21 deFevereiro, umha delegaçom deNÓS-UP reavivava a polémicaacudindo à sede da Junta daGaliza, situada no bairro compos-telano de Sam Caetano. Lá pre-tendia introduzir via registoumha volumosa caixa embrulha-da em papel para prendas quecontinha a cabeça desaparecidado 'ladrom das batatas', assimconhecido popularmente. Osorganizadores e organizadoras doacto pretendiam "entregar o bustoa quem foi um dos mais esforça-dos servidores do carniceiro deFerrol", e propunham ao actualpresidente da ComunidadeAutónoma Galega "colocá-locomo decoraçom do seu gabine-te". Embora num primeiromomento os e as militantes ultra-passassem sem aparente proble-ma o cordom de segurança comque a polícia autonómica conta àentrada do prédio do governo,fôrom detidos e detidas antes depôr um pé no seu interior diantedo grupo de jornalistas que acu-diam a cobrir a notícia do acto.

Sob a acusaçom de 'danos', osactivistas e as activistas de NÓS-UP passárom cerca de quatrohoras nas dependências da esqua-dra policial compostelana. MariaSanches, Daniel Lourenço, UgioCaamanho, Paulo Rico, ÁngeloRodrigues, Carlos Morais,Antom Santos e André Seoaneserám possivelmente imputadosna causa aberta polos sucessos deNarom. Até hoje já fôrom cha-madas a declarar três pessoas dacomarca de Trasancos emrelaçom com a investigaçomaberta, relacionando-os a políciaespanhola com um carro que foidetectado nos arredores da está-tua atacada.A organizaçom independentistavoltou a manifestar após estesfactos que a frente de trabalhodedicada ao combate da simbolo-gia fascista continua viva, e, comefeito, na noite da terça-feira deEntrudo um novo grupo devoluntários encapuchados -agoraem Ourense- recuperavam amaça para derrubar a placa dehomenagem que o Capitám Eloitem numha das ruas mais centraisda cidade das Burgas. Nesta oca-siom nom houvo nenhuma pessoadetida nem identificada.

Canteira do Pedrosodegrada rio Arnego

Afecta este rio proposto para a Rede Natura 2000

A Associaçom para a DefesaEcológica da Galiza (ADEGA) ea Associaçom Ecologista Sobreirade Lalim estám a denunciar que acanteira de granito existente nolugar do Pedroso, Rodeiro, está adegradar o rio Arnego, afectandoindirectamente a zona deste rioproposta para fazer parte da RedeNatura 2000. A canteira ocupaterrenos demasiado próximos dorio, desobedecendo portanto ascondiçons em que foi autorizada.Desde a abertura da canteira, o rioArnego arrasta umha notávelquantidade de sedimentos areno-sos que degradam a qualidade daágua. Por outro lado, o aterro, degrande impacto paisagístico,ultrapassa a extensom e a incli-naçom máxima permitida. Vizinhos e vizinhas asseguráromque estám a ser empregados explo-sivos na canteira a só 40 metros dedistáncia do rio, o que poderá vir aprovocar prejuízos a pessoas que seencontrarem à beira do rio nomomento das explosons, como porexemplo pescadores.ADEGA e Sobreira lamentam quea canteira tivesse sido autorizadaapesar de um relatório negativoemitido em Outubro de 1998 polaDirecçom Geral do MeioAmbiente Natural da Conselhariado Meio Ambiente. Este relatórioaponta que "a zona em que sesitua a exploraçom mineira éumha das melhor conservadas" dorio Arnego. No relatório afirma-setambém, como se pode verificardesde o início da exploraçom da

canteira, que esta afectará negati-vamente tanto o entorno doArnego como o próprio rio.Cumpre que a Consellaria doMeio Ambiente vele primorosa-mente polo cumprimento estritodas condiçons da autorizaçom daexploraçom da canteira. Aliás,nom devia ser permitido o iníciodos trabalhos na segunda área deexploraçom que integrará a can-teira, situada no outro lado do rio.ADEGA e Sobreira lamentam quenos últimos anos se tenha estado apermitir de modo irracional e des-medido a abertura de numerosascanteiras no entorno graníticosituado entre Rodeiro, Agolada eLalim. Isto está a acarretar umenorme impacto ambiental negati-vo, para além de um grave riscopara a populaçom, pois já se temverificado em várias ocasions umuso indevido de explosivos.Para as organizaçons ambientalis-tas, este caso é mais um exemplodo elevado grau de indefensabili-dade dos espaços de maior valorambiental da nossa terra peranteprojectos altamente impactantescomo canteiras, centrais hidroeléc-tricas, parques eólicos ou infra-estruturas de transporte. Na comar-ca do Deça, som também exem-plos disto a construçom do macro-parque eólico da Serra do Candám,os sedimentos dos aterros que vampara o rio Deça por causa da cons-truçom da auto-estrada Santiago-Doçom ou os projectos de barra-gens Lamas I e Lamas II que afec-tam o rio Arnego.

Os detidos e as detidas pretendiam introduzir via registo umha caixa que continha a cabeça desaparecida do 'ladrom das batatas'

A canteira ocupa terrenos próximos do rio, desobedecendo as condiçons em que foi autorizada

Paulo Rico

Page 7: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

reportagemMarço 2004novas da galiza 7

Desde o Verao passado, a indústria de Fene nom recebe encomendas

O grupo de construçom naval IZAR sócontempla a possibilidade de aplicar umexpediente de regulaçom de emprego noestaleiro de Fene se este continua sem cargade trabalho durante os próximos meses. Asituaçom é muito preocupante, já que,

desde o Verao passado, a indústria de Fenenom recebe encomendas. Nos últimos meses,2.000 operários das empresas auxiliares fôromtransferidos para outras fábricas e já se falaem planos de pré-reforma, que afectariamperto de 700 trabalhadores de Izar-Fene.

Os outros seriam transferidos para oestaleiro militar de Ferrol, tal como já vemacontecendo há tempo. Entretanto, o conjuntode operários de Izar do Estado prosseguecom as duras negociaçons com a empresaacerca da convençom colectiva.

Sector naval de Trasancosmobiliza-se contra a desapariçom

Antón Álvarez Sanz

Actualmente, nom se prevêmudança nenhuma com respeitoà difícil situaçom que atravessa oestaleiro de Fene. Ainda continuavigente a proibiçom imposta em1984 que impede o retorno àconstruçom naval convencional,aspecto que agrava a situaçom, setemos em conta que esta fábricaestá sem carga de trabalho desdeo dia 21 de Agosto de 2003.Francisco Rodríguez, deputadodo BNG no Congresso espanhol,denunciou que nas últimas datas"tem sido transferido até 14 % doquadro de pessoal de Izar-Fene aIzar-Ferrol, mais de 130 trabalha-dores de um total de 1033", como claro intuito de converter aindústria de Fene "num apêndi-ce" do estaleiro militar de Ferrol:"Eis a razom de porque estám aser instruídos os seus trabalhado-res na construçom militar".Aliás, suspeita-se que a empresatem preparados planos de pré-reforma que afectaria perto de700 trabalhadores de Izar-Fene.Desde 1997 até hoje, perdêrom-se um total de 450 postos de tra-balho em Izar-Fene. Mas estasituaçom vê-se agravada entre osoperários das empresas auxilia-res. Nos últimos anos, já fôromdeslocados perto de 2000 paraoutras fábricas. De facto, no início do ano, diver-sos dirigentes de Izar reconhecê-rom que a situaçom da indústriade Fene é "especial", ao nompoder este estaleiro construirnavios até o ano 2007. Adirecçom de Izar, assim como aSEPI (Sociedade Espanhola deParticipaçons Industriais, únicoaccionista de empresa), está amanter atitudes chantagistas. Nasentrevistas estatais de nego-ciaçons sobre a convençomcolectiva, Izar subordina a apro-ximaçom das suas posturas da

parte social, a que os sindicatosaceitem a aplicaçom de um expe-diente de ajuste de emprego noscentros com alto índice de subo-cupaçom, entre os quais seencontra o estaleiro de Fene.Esta é umha das condiçons quesempre defendeu a SEPI paraconseguir um acordo sobre a con-vençom colectiva de Izar. Os sin-dicatos denunciam o imobilismoda empresa e consideram queesta situaçom conduz a um "becosem saída". Durante muitosmeses e até há escassas semanas,Izar, a SEPI e os sindicatos man-tivérom contínuas reunions paratentar chegar a um acordo, masfôrom infrutuosas. A atitude inflexível da empresapropiciou que, desde o início doano, se multiplicassem as mobili-zaçons dos operários dos estalei-ros públicos do Estado. Quatromil operários de Fene e Ferroldeslocárom-se a 16 de Fevereiro

até a Corunha em mais de 40camionetas e dezenas de veículosparticulares para concentrar-se àfrente da Delegaçom do Governoespanhol. Após a reuniom manti-da com o Delegado do Governoem exercício, José Manuel Pérez,os representantes sindicais dosestaleiros de Fene e Ferrol anun-ciárom que radicalizariam asmobilizaçons "se nom intervin-hesse no conflito para defenderos interesses dos trabalhadores egarantir o seu futuro". Exigíromtambém do máximo representan-te do Estado na Galiza a retiradados processos sancionadores con-tra aqueles operários que aderi-rem às paralizaçons e mobili-zaçons nas fábricas trasanquesasde Izar. Por outro lado, denunciá-rom a alta percentagem de emi-graçom entre os empregados dasempresas auxiliares. Dias depois, perto de 5.000 tra-balhadores do sector naval tra-

sanquês deslocárom-se atéCompostela para reclamar o des-bloqueio da negociaçom sobre aconvençom colectiva. Os operá-rios terminárom o protesto à fren-te das dependências da Junta,onde os presidentes dos comitésde empresa de Izar-Fene e Izar-Ferrol se entrevistárom com osecretário geral de Inovaçom eIndústria, Jesús Vázquez SanLuis, de quem, segundo afirmam,obtivérom o compromisso deintervir no conflito que enfrentaos operários de Izar com a SEPI ea direcçom da empresa. Porém, enquanto esta manifes-taçom percorria as ruas compos-telanas, o presidente da SEPI,Ignacio Ruiz-Jarabo, afirmou emMadrid que a sociedade que eledirige "nom pode, nem deveceder" perante as pretensons deincrementos salariais das centraissindicais, e solicitou-lhes"moderarem as reclamaçons, já

Ainda continuavigente a proibiçom

imposta em 1984que impede o retornoà construçom naval

convencional,aspecto que agrava

a situaçom, setemos em conta que

esta fábrica estásem carga de trabalho

desde o dia 21 deAgosto de 2003

reportagem

5.000 trabalhadores do sector naval trasanquês manifestárom-se para reclamar o desbloqueio da negociaçom Carlos Pardellas

Desde 1997 atéhoje, perdêrom-se

um total de 450 postosde trabalho em

Izar-Fene. Mas estasituaçom vê-se

agravada entre osoperários das

empresas auxiliares.Nos últimos anos,

já fôrom deslocadosperto de 2000 para

outras fábricas

Page 8: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

8 reportagem Março 2004 novas da galiza

que o grupo está a ter perdas eencontra-se em crise". Mas, a lutado sector continuou e, no dia 5 deMarço, perto de 30 camionetasdeslocárom-se de Trasancos até acapital espanhola para secundar amanifestaçom estatal dos operá-rios de Izar. A organizaçom independentistaNÓS-Unidade Popular fijo saber asua posiçom favorável à convoca-tória de umha greve geral nacomarca de Trasancos. Segundoesta formaçom política, "a con-vençom está ligada aos planos doPartido Popular", que culmina-riam num processo de privati-zaçom da empresa. "Como játinha feito o governo do PSOE, oPP prepara umha nova reconver-som, umha nova declaraçom deguerra que a classe trabalhadorada comarca nom pode perder". Domesmo modo, esta organizaçom épartidária de que "as mobilizaçonsse tornem mais combativas".

Vaga repressivaNo dia cinco de Fevereiro emFerrol, após terem percorrido asruas da cidade numha manifes-taçom de mais de três mil pessoas,os comités de empresa tomárom adecisom de impedir a entrada esaída nos Paços do Concelho davereaçom, em protesto polo blo-queio da convençom colectiva epola falta de carga de trabalhopara Fene. Enquanto os delegadosse reuniam com o presidente daCámara Municipal, Juan Juncal,umha mao-cheia de operários ocu-pou o primeiro andar da Cámara edirigiu-se para o gabinete de JuanFernández, actual vice-presidenteda Cámara, com o intuito de pen-durar umha faixa reivindicativa.Mas Juan Fernández respondeuque só consentiria se passassem"por cima do cadáver dele" e agre-diu um manifestante. De seguida,parte dos trabalhadores respondeua estas agressom, empurrando overeador de Independentes porFerrol para o interior do seu gabi-nete. Juan Fernández é conhecido

por ser o responsável de Astafersa,umha empresa do sector naval,denunciada por falta de pagamen-to aos seus empregados.O plenário da Cámara Municipalde Ferrol, reunido a dia 20 deFevereiro em sessom extraordiná-ria, aprovou iniciar acçons legaispara apurar responsabilidadespenais e civis contra as pessoasque enfrentárom Juan Fernández.

Com os votos favoráveis do PP,IF, PSOE e EU e o voto contra doBNG, a Cámara Municipal deFerrol denunciou os operários deIzar protagonistas do confronto.Durante esta sessom plenária, osvereadores e vereadoras do PSOEe de EU tivérom que ouvir da bocados trabalhadores ali presentes, asacusaçons de "traidores" e de"vendidos".

Posteriormente, o Partido Popularcomeçou a criminalizar os trabal-hadores, chegando a declarar JuanJuncal que os factos som conse-qüência da acçom de "um grupode exaltados que atenta contra aessência mesma da democracia", eainda, que existem "grupelhosviolentos que cumpre erradicar-mos se nom quigermos que paula-tinamente a política galega acabe

por se parecer à basca". Porém, asocial-democracia espanhola tam-bém se uniu ao carro da intoxi-caçom. Amable Dopico, do PSOE,assinalou que "os factos fôromuma mostra de sindicalismo pale-olítico e nom representativo".Yolanda Díaz, de EU, defendeu oinício de acçons legais para que"situaçons como estas nom se tor-nem a repetir".

Nas negociaçonssobre a convençom

colectiva, Izarsubordina ceder nassuas posturas a queos sindicatos aceitema aplicaçom de um

expediente de ajustede emprego no

estaleiro de Fene

Quatro mil operários de Fene e Ferrol deslocárom-se a 16 de Fevereiro até a Corunha em mais de 40 camionetas e dezenas de veículos particulares

Juan Juncal que os factos som conseqüência da acçom de "um grupo de exaltados que atenta contra a essência mesma da democracia"

Carlos Pardellas

La Opinión

Page 9: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

9reportagemMarço 2004novas da galiza

Nome e Apelidos

Nº Conta

Junto cheque polo importe à ordem de Minho Média S.L.

Localidade E-mail

C.P.Endereço

Telefone

1 Ano = 12 números = 20 euros

Preenche este impresso com os teus dados pessoais e envia-o a NOVAS DA GALIZA, Caixa dos Correios 1069 (C.P. 27080) de Lugo

Assinante Colaborador = 30 euros

Assinatura

[email protected] Telefone: 639 146 523www.novasgz.com

Origens do sector

A empresa ASTANO instalou-se em Fene em 1941 para cons-truir pequenos barcos piscató-rios de madeira, mas logocomeçou a crescer e, a partir de1963, começou a se especializarna construçom de grandespetroleiros. Mesmo se chegá-rom a lançar à água barcoscomo o "Arteaga", de 300.000toneladas.Em 1945, entregam-se os pri-meiros navios construídos emaço, incrementando a actividadee as instalaçons até atingir, em1972, um quadro de empregadossuperior aos 6.000 operários.Neste ano, o estaleiro de Fenealcança o recorde mundial delançamento de navios de degrau

inclinado, com o lançamento deum superpetroleiro de 325.000toneladas, renovado três anosmais tarde com outro de 365.000toneladas.No ano 1972, o ‘InstitutoNacional de Indústria’ adquiriu amaioria das acçons da empresa epassou a ser o seu único proprie-tário em 1979. A construçom degrandes navios continuaria aindaaté o ano 1984, data em que seinicia a chamada "reconversomdo sector naval", que supujo areduçom do quadro a 3.414empregados, a cessaçom daconstruçom de navios e a incor-poraçom no grupo ‘EstaleirosEspanhóis, S.A.’.Como dados ilustrativos, em

1976, 35 % de empregados nosector naval do Estado trabalha-va em fábricas galegas. Aliás, 50% dos barcos entregados noEstado espanhol correspondia aestaleiros galegos. Nesse ano,ASTANO tinha empregadas6.730 pessoas e entregara umtotal de 413.019 toneladas. Naactualidade, os últimos cálculosfalam de apenas 1.033 trabalha-dores no estaleiro de Fene. Porsua vez, Bazán (actual Izar-Ferrol), em 1976, possuía 6.749trabalhadores. Em 2004, contacom 1.965.Desde 1984 vigora a proibiçomde construir navios no estaleirode Fene. Em 1987, inicia-se aactividade da construçom de

plataformas "off-shore".Desde 2001, todos os estaleirospúblicos (militares e civis) sefusionárom numha só empresa,"Izar Construçons Navais,S.A.", criada pola SEPI e organi-zada em unidades de negóciocom autonomia de gestom e, oque antes era ASTANO, passa ase denominar IZAR, EstaleiroFene. Por sua vez, a antigaBazán de Ferrol, passou a sedenominar Izar Ferrol.

ReconversomA reconversom naval abordadapolo governo espanhol, a partirde 1983, significou umhareduçom especialmente notóriaem Astano, que deixou a cons-

truçom de mercantes, e nomea-damente de petroleiros, para rea-lizar exclusivamente platafor-mas off-shore. Algumhas esti-mativas assinalam que em cadaposto perdido em Astano fôromdestruídos outros 2,5 empregosna comarca trasanquesa. Istodeve-se a que a construçomnaval tem um grande poder mul-tiplicador e de dependênciasobre o tecido industrial que arodeia. Com estas medidas, aGaliza perdeu absolutamentetoda a capacidade para construirgrandes navios.A crise alcançou em cheio o con-junto de Trasancos, e por isso éque a comarca foi declaradaZona de Urgente reindustriali-zaçom (ZUR). Dentro deste con-texto, os agentes sociais do Paísagírom com contundência eorganizárom-se até três grevesgerais a nível nacional.Especialmente paradoxal foi opapel jogado pola UGT, quesucumbiu perante os ditadosgovernamentais e boicotou cadaumha das convocatórias. Estesindicato espanhol considerou eainda mantém que a reconver-som foi necessária.Os efeitos das medidas tomadaspolo governo espanhol emTrasancos para paliar a crisefôrom muito pobres. Em cincoanos, os resultados da ZUR tra-sanquesa fôrom os piores doEstado em termos de emprego:319 empregos gerados por 19projectos e um investimentototal de 6.519 milhons de pese-tas. Aliás, este investimento foio menor das sete ZUR do Estadoespanhol.

Em cada postoperdido em Astanofôrom destruídos

outros 2,5 empregosem Trasancos,

originando umhagrave crise social.Neste contexto, osagentes sociais doPaís agírom comcontundência eorganizárom até

três greves gerais anível nacional

Os efeitos das medidas tomadas polo governo espanhol em Trasancos para paliar a crise fôrom muito pobres

Page 10: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

10 reportagem Março 2004 novas da galiza

Feminismo galego contribuirá para a elaboraçom da Carta Mundial das Mulheres

Marta Salgueiro

Um encontro com um objectivo:contribuir para a elaboraçom daCarta Mundial das Mulheres. EmVigo serám elaboradas conclu-sons que se unirám às de milha-res de mulheres de todo o plane-ta para o documento final daCarta Mundial das Mulheres paraa Humanidade. É por isso, polaimportáncia do documento e polaimportáncia das conclusons que éfundamental a participaçom dasgalegas com as particularidadesdo nosso país. Para poder expres-sar qual a Europa que queremosconstruir, qual a Europa em quequeremos viver. As mulheresgalegas estamos chamadas a estaestimulante participaçom naconstruçom da Europa de todas.A Eliminaçom da pobreza e aerradicaçom da violência degénero som grandes reptos quetemos que encarar e que precisamda implicaçom e da participaçomde todas.

Em cada 100 pessoas sememprego 63 som mulheresUnicamente 4,3 por cento doscontratos que se realizam a mul-heres na Galiza tenhem umhaduraçom indefinida, segundorecolhe o relatório da CIG "Amulher galega no mercado labo-ral". Um outro dado, talvez maissignificativo, prova que em cada100 pessoas desempregadas noPaís 63 som mulheres. ASecretária da Mulher da CIG,Elvira Patinho, pujo de manifestoque 'as mulheres representam 43por cento da populaçom activagalega e 40 por cento da ocupa-da, sofrendo um maior índice decontrataçom temporária". Norelatório, aliás, recolhe-se queesta eventualidade afecta sobre-tudo grupos etários compreendi-dos entre os 16 e os 39 anos deidade, ainda que inclusive a taxamais baixa, que afecta as mulhe-res de mais de 55 anos, se dupli-casse desde o ano 1990. No ano2002, 60,6 por cento das assala-riadas galegas com menos de 30anos tinham um contrato tempo-rário, ao passo que 38 por centodas assalariadas entre 30 e 40anos tinham contrato temporário.Uns dados que venhem a definira mulher trabalhadora como aque mais temporalidade sofre,

recebendo aliás os salários maisbaixos. O vencimento de umhamulher com contrato temporáriona Galiza é de 53,4 por centomenos que a média estatal.

Deterioro da Saúde Publica Se os dados do mercado do tra-balho na Galiza evidenciam desi-gualdade, os do atendimentosanitário som claramente discri-minatórios. No documento"Analises da atençom à saude dasmulheres galegas" confrontam-sediversas estatísticas da Galizacom os seus equivalentes noEstado espanhol. Um relatórioque recolhe que na Galiza a taxade mortalidade materna se situaem 4,7% face a 3,6% do Estadoespanhol, e a percentagem demortandade por cancro de colode útero é de 1,43 maior que aestatal. Mais um dado, a percen-tagem de afectadas pola SIDA é10,2 por cento maior entre asmulheres galegas que entre asespanholas. Para além dos dadosestatísticos, neste relatório recol-he-se ainda que os centros deorientaçom som insuficientes econtam com quadros profissio-nais muitos escassos, ou que oacesso a métodos anticoncepti-vos cirúrgicos se encontra limita-do polas diferenças de critérioentre os hospitais de referência.Quanto ao aborto, 97 por centodas intervençons realizadas nonosso país, som em centros pri-vados mas 47% das pacientestenhem que sair fora da Galiza,por nom existir nenhum hospitalacreditado para efectuar inte-rrupçons a partir das doze sema-nas de gravidez.

A violência tem géneroe também cúmplices Ao deterioro da saúde pública edo atendimento à mulher, aorecorte das liberdades e à preca-riedade laboral deve acrescentar-se também o panorama dasituaçom da mulher galega quan-to à violência de género. Nas últi-mas semanas fôrom muitas asagressons contra as mulheresdenunciadas ou feitas públicas.As violaçons de duas moças emOurense, a violaçom, com poste-riores ameaças, de umha mulherna cidade de Ferrol, os três casosde violência de género no concel-ho de Oleiros, o caso de abusos a

umha menor por parte do presi-dente da Cámara de Toques, ocaso de assédio laboral e moral aumha trabalhadora no concelhode Begonte, a morte a maos doseu filho de um vizinho de Ferrolacusado de agressons continua-das, o documento feito públicopola Conferência Episcopal, anotícia feita pública de que maisde 200 mulheres fôrom vítimasnos últimos anos das redes de tra-ficantes na fronteira entre aGaliza e Portugal, os contínuosassassinatos de mulheres e

crianças que se estám a produzirdesde que começou o ano noEstado espanhol, som só algunsexemplos a mostrar a realidadeem que vivemos.Diante destes e doutros casos deviolência de género tornadospúblicos no nosso país e perantea cumplicidade que se desprendede algumhas declaraçons políti-cas e religiosas com essa violên-cia, a Coordenadora Galega daMarcha Mundial das Mulheresdecidia convocar umha manifes-taçom nacional que tivo lugar no

passado dia 15 de Fevereiro emCompostela. Umha mobilizaçomque percorreu as ruas composte-lanas a denunciar que quem des-culpa, entende ou esconde aviolência machista converter-seem cúmplice dela. CarmeBarrantes, da AssociaçomLiberanza de Compostela foi aencarregada de ler o comunicadoda mobilizaçom do dia 15 deFevereiro. Um texto em quefôrom assinalados, para além dosagressores, aqueles que os enco-brem "A Conferência EpiscopalEspanhola, em sintonia comManuel Fraga, também situa araiz da violência machista nosavanços dos direitos das mulhe-res. Esta Conferência Episcopalestá mais preocupada por ditar oque tem que acontecer nas nossascamas e nos nossos úteros, quepolas conseqüências que o seudiscurso, cheio de desprezo, estáa produzir nas geraçons que obri-gatoriamente tivérom de ser edu-cadas nas suas doutrinas (...).Nesta mesma cidade(Compostela) o presidente daCámara Xosé Sánchez Bugallo ea vereadora do pelouro daMulher Adelaida Negreira, utili-zam meios de comunicaçom paradesprezar e atacar as organi-zaçons de mulheres que defende-mos os nossos direitos enquantoa Casa de Acolhida de Santiagofoi mercantilizada em prol deumha política de desigualdade e

O feminismo galego exercerá de anfitriom, nesta Primavera, das mulheres europeias. Já começou a contagem decrescentepara a celebraçom em Vigo da mobilizaçom europeia das Mulheres da Marcha Mundial.

Marcha Mundial reactivada na Galiza com acelebraçom do encontro das mulheres europeias

A Marcha conta com um fórum sobre ecologia, outro sobre a constituiçom europeia, umha feira feminista e um concerto com voz própria feminina

O feminismo denuncia os agressores e os seus cúmplices com mobilizaçons nas ruas

Page 11: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

redistribuiçom tradicional dospapéis de mulheres e homens(...). A violência machista, degénero, nom é um problema DASmulheres , mas umproblema PARA asmulheres".Para além deCompostela, no diaoito de Março ofeminismo foi visí-vel por todo o País,com concentraçonsem Lugo, PonteVedra, Costa daMorte, Corunha,Ourense, Vigo eFerrol. Neste oito deMarço, o feminismogalego tinha umreferente claro: amobilizaçom euro-peia de Maio. Olema escolhidoreflecte o significa-do que tem a Marcha Mundialdas Mulheres. "Diferentes sim,desiguais nom" é o chamamentofinal da Marcha. Um chamamen-to que diz respeito à Europa que

se quer construir e que começaassim: "Mulheres de todo o pla-neta estamos a marchar para con-seguirmos a eliminaçom da

pobreza e a violên-cia de género (...). Anossa resposta éclara, diferentes sim,desiguais nom.Porque somos porumha Europa detodas, e nom daescravatura, somospor umha Europajusta e democrática,somos pola Europarespeitosa das dife-renças, nom polaEuropa das desi-gualdades, e a gran-de mobilizaçom dasmulheres que perco-rrerá as ruas de Vigono dia 23 do próxi-mo mês de Maio

será um espelho das nossas von-tades, do nosso compromisso naconstruçom de um mundo dife-rente de onde sejam desterradas apobreza e a violência".

reportagemMarço 2004novas da galiza 11

Só 4,3% doscontratos quese realizároma mulheres naGaliza tenhem

duraçomindefinida. Em

cada 100pessoas sememprego, 63

som mulheres

O sentido da Marcha Mundialdas Mulheres em Vigo nestaPrimavera tem um objectivo fun-damental. As mulheres europeiasqueremos contribuir para a ela-boraçom da Carta Mundial dasMulheres para a Humanidadecom umha visom própria daEuropa que queremos construir.Para isso se realiza a mobili-zaçom europeia. Juntas paradebater que temos a dizer as mul-heres quanto a direitos univer-sais, ecologia, liberdade, igualda-de e democracia. As conclusonsda Galiza serám acrescentadas àsde milhares de mulheres em todoo mundo, para conseguir aredacçom final da Carta Mundial.

Serám celebrados dous fóruns,um sobre a ConstituiçomEuropeia e outro sobre Ecologia.Um de manhá e outro de tarde,paralelamente à celebraçom daFeira Feminista. A assistênciaserá de 100 mulheres e haverátraduçom simultánea parafrancês, inglês, espanhol e gale-go-português. Os objectivosvisados som, por um lado, apro-fundar na elaboraçom da TeoriaFeminista da Marcha sobre sus-tentabilidade ecológica, e poroutro, elaborar um discurso pró-prio da Marcha sobre o processode construçom europeia. Nofórum de "sustentabilidade eco-lógica: alternativas feministas"

participarám Rosa Isela SerranoCastro de México, Maria JoséGuerra Palmero das IlhasCanárias e Lidia Senra daGaliza. Contributos feministasna origem e desenvolvimento deumha constituiçom europeia.Sobre isso reflectirám MaríaXosé Agra Romeroda Galiza DorisBenegas da Castelae Angeles MaestroMartín de Madrid.Nos dous fórunshaverá umha repre-sentante daC o o r d e n a d o r aEuropeia e umhaintegrante doS e c r e t a r i a d oInternacional. Estesdous encontros cele-brarám-se no CentroCultural Caixa Novae será precisa ins-criçom por razonsde lotaçom.Paralelamente aofórum da manhádesenvolverá-se outra mesa dedebate no Centro Social deCaixa Nova sobre "Mulheres eespiritualidade, corporeidade eresistência" com Chini Rueda(Espanha), María José Torres(Espanha), Jeraldine Cespedes(República Dominicana) e Pilar

Wirtz (Galiza).Além da Feira Feminista que sedesenvolverá na zona portuáriacom espaços sobre violência,ecologia, imigraçom, liberda-des sexuais, saúde... no dia 22de Maio a partir das 22h00 noParque de Castrelos terá lugar a

festa concerto dasmulheres europeias.No palco estarámUxía, Cantareirasde Trasancos (músi-cas Tradicionais deentretenimento),Tucanas (percus-som criativa portu-guesa), SouadMassi (música uni-versal França /Argélia) Las Niñas(Hip-hop andaluz),Mercedes Peón(Galiza, música domundo) eAmparanoia (músi-cas mestiças). Nodomingo ao meio-dia partirá a mani-

festaçom das mulheres euro-peias polas ruas de Vigo. AMarcha nom quijo adiantar porenquanto o numero de mulheresassistentes mas aguarda-se apresença de milhares de pesso-as que chegarám à Galiza detodas as partes da Europa.

Primavera em Vigo:encontro das mulheres europeias

Um dosobjectivos éelaborar um

discursopróprio daMarchasobre o

processo deconstruçom

europeia

Lavandeira J.R.O caso do regedor de Toques é só um exemplo da realidade actual

As mulheres querem contribuir com umha visom própria da Europa que pretendem construir

Page 12: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

Artur Alonso

Vivemos num país imaginário.Quem sonha com libertá-lo estáteimosamente errado, este paísnom sabe a quem pertence.Quem acredita em ele pertencera umha raça sonha vagamenteum tempo pola sua própria his-tória queimado.Quem defende o direito a serassimilado, assim mesmo,divaga sobre a ilusom impossí-vel de deitar mais terra sobre omesmo cadáver.Aqueles e aquelas que improvi-sam umha língua por medo aperderem o que nunca tivéromdescrevem no céu círculos depimenta para se iludirem asi mesmos com a prontaternura do sol.Quem confia docemente emalgum dia se reencontrar sim-plifica, sem se aperceber damistura de interesses quetraçam a diário o labirinto danossa existência.Aqueles e aquelas que lutampor grafar harmonia na palav-ra, preferem às vezes discorrerpor afluentes que nunca se che-gam a juntar.Quem dorme convencido deque domina dez ferrados ignoraa chuva a lamber os seus cam-pos sem prévio aviso e difamados elementos por serem denatural incontrolados.Assim que vivemos num paísimaginário, no qual cada um ouumha de nós contribui ao seumodo a adiar futuros que a histó-ria nos negou por teimosia deacreditarmos eternamente naconformidade.Porque quem fecha olhos nompoderá descansar, quando adecadência invadir a ritmo lentocada coraçom paralisado. Porque quem abrir em demasiapestanas sonhadoras nom seráapto para compreender a simplesrealidade, nem o tecido queentrelaça novas formas amiúdecambiantes.E aqueles e aquelas que moramno fundo da sua humildade igno-ram o peso do diverso. Domesmo jeito, aqueles e aquelasque acomodam em determinadacircunstáncia os seus copos namesa farta tampouco podemsupor a sua ausência de habilida-des para preverem o momentoem que falhar algumha pata,

apesar de começar -sem se aper-ceberem-a escassear o alimentopola voragem dos ratos. Destejeito, cada um deles inventa umpaís a seu acomodo. Rica é a pátria que dá cabida atodos os sonhos, mas nestenosso território imaginado nin-guém jamais foi capaz de arris-car umha visom em voz alta, portemor a compartilhá-la.Por isso aqueles e aquelas quecruzam o rio entediadas de fica-rem na sombra, receiam de

umha bandeira que nom podeacolher todos os seus filhos e fil-has. Por isso aqueles e aquelasque ficam acomodadas de vive-rem sempre ajoelhadas, extre-mam as precauçons em vésperade tormentas, maniatando mais aseus súbditos e súbditas; por issoquem resiste na esperança deconstruir a manhá saudável,arrepia o pescoço perante umporvir incontrolável; por isso ose as nom tenhem outro remédioque permanecer, mal som capa-zes de trocar umha tímida emonótona experiência.Porque este país há séculos queestá a espalhar os seus males,como Zaratrusta no cume, aosquatro pontos cardinais; teiman-do terem permissom do vento.Porque este país há séculos quenom sabe onde aposentar-se, edoem-lhe as cadeiras e treme nasua velhice. Porque esta país jamais tivo

12 opiniom Março 2004 novas da galiza

O meu amigo Onésimo deve estara deixar a América, provisoria-mente. Ele foi nascer nos Açores eno seu horizonte era óbvio esta-rem os EUA. Por isso é professorna Brown University, por issodeve estar a deixar a América paravir a um encontro de escritores. Epor isso há anos que está a escre-ver livros prodigiosos de crónicase estórias em que se interrogaconstantemente acerca da identi-dade, a sua e a dos outros, do ladode lá visto de cá, do lado de cávisto de lá, e todas as vice-versas,passando pola equidistáncia aço-riana que dá um ponto de referên-cia assim como o da galeguidade arespeito do nada e do tudo. OOnésimo emprega a exacta inte-ligência e o fino humor que,para além de estragar todosos preconceitos acercado professorado uni-versitário, ensina maisacerca da América (ede nós

revistos nela) do que qualquerlivro de história ou filme. Por elesei que à América, sempre cons-truída de aluviom, talvez nomcheguem só pessoas amedronta-das fugidas da Europa, mas genteque a pense e lhe mude o rosto. Elembro-me do Onésimo quandovejo as notícias acerca do JohnKerry, esse segundo JFK, talvezcapaz de defrontar Bush emNovembro. Ou melhor, lembro-me da mulher do Kerry, porqueela, Maria Teresa ThiersteinSimões Ferreira, nasceu emMoçambique.A americanidade (i)lusa que euconheço dá para outras espe-ranças, escrevia eu. Poderá mudaralgo nos EUA a partir deNovembro, e daí mudar o mundosob a sua pata...? Vale a pena teresperança no Kerry, ou melhor, namulher do potencial presidente...?Eu acredito, até por curiosidade,que vale a pena saber quem ela é:filha de um médico oncologista,nascida há 64 anos. As crónicascontam que adorava acompanhar

o pai quando este percorria a sava-na à procura de doentes que nompodiam pagar. A família enviou-apara a África do Sul a um colégiode freiras que lhe deveu dar umhaeducaçom católica pouco esterili-zante, porque já na UniversidadeWitwatersrand de Joanesburgonom passou tam pacífica: partici-pou em várias marchas contra o'apartheid' no final da década de50. Licenciada em Románicas, via-jou para a Suíça, inscrevendo-se naEscola de Tradutores-Intérpretesde Genebra, sendo colega do actualsecretário-geral da ONU, KofiAnnan. Quando estava a terminar ocurso, conheceu John Heinz III,recém licenciadop o r

Yale, que fazia a sua própria pere-grinaçom às paisagens helvéticasdos bancos: ia fazer um estágiobancário e preparar-se para gerirfortunas, a do império familiar àcusta do 'ketchup' e da maionese. É claro que a nossa moçambicanaficou apaixonada polo rapaz do'ketchup' e da maionese, mas issonom a impediu de tentar seguircarreira independente. O percursolevou-a a Nova Iorque, ondecomeçou a trabalhar como tradu-tora da ONU. John Heinz III esta-va mais perto, e o casamento aca-bou por verificar-se. Depois, ostrês filhos e a carreira política domarido, obrigárom-na a mudar derumo e renunciar à actividade pro-fissional. Mas quando em meadosdos anos 70 John Heinz, senadorrepublicano, começou a ruminar ahipótese de se candidatar à CasaBranca, Teresa mostrou opo-siçom. Em 1991 o rapaz do 'ket-chup' e da maionese faleceu numacidente de aviaçom e Teresadecidiu empregar melhor a fortu-na de Heinz: aplicou parte dos

milhons em causas filantrópicas, eapostar nesta vertente levou oentom presidente George Bush,pai do actual, a nomeá-la umhadas representantes na Cimeira doRio. E o Rio seria um rio... Porquena mesma delegaçom ia um sena-dor divorciado, algo bonitom ebastante engatador.A estas alturas já vamos sabendocousas do hipotético próximo pre-sidente dos EUA, que passou poloVietname acarretando medalhasmas que a classe política emWashington conhecia, nessetempo, especialmente polos'affairs' com jornalistas, modelos eaté com Patti Davis, filha de

Ronald Reagan (aquela cujoesplendor a 'Playboy' tam-

bém ensinou). Parece queJohn Kerry e Teresacoincidírom num jantarnessa cidade linda, eno final da noite ele

convidou-

-a (contra todo o prognóstico)para na manhá seguinte irem àmissa, durante a qual a convenceua orar em latim: obviamente istodeveu ser irresistível, porquecasárom em 1995. Más línguas insinuárom que eleestava mais interessado no dinheiro.Mas o certo é que John Kerry é defamília bem, pai diplomático naEuropa, formado também na Suíça(fala ainda francês!), diplomado emYale, onde entrou para a exclusivasociedade secreta 'Skull and Bones',organizaçom maçónica que já deuvários presidentes, incluindo osBush. Desportista, pacifista, depoisde "bom soldado" na guerra, conver-tido em fiscal, com as mesmas ini-ciais que o assassinado presidente deculto John F. Kennedy, a quemadmira, colega do próprio TedKennedy no Senado, bom moço de1,90, e... Com Teresa ao lado, agoraela também no Partido Democrata,só umha bala poderá impedir queseja presidente. Apostar neste segun-do JFK...? A América continuará aser abjecta, mas menos, claro...

opiniom

América Abjecta Est (e II)

Carlos Quiroga

Vivemos numpaís imaginário

Assim que vivemosnum país imaginário,

no qual cada umou umha de nóscontribui ao seu

modo a adiar futurosque a história nos

negou por teimosiade acreditarmoseternamente naconformidade

Page 13: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

análiseMarço 2004novas da galiza 13

[email protected]@terra.es

trem, renunciou a fabricar a suaprópria locomotiva e por issotampouco conheceu outras histó-rias, senom por vozes dos outros.E se em determinado momentoum germe da vida assoma poloseu ventre, com tempo o receioencarrega-se de mutilá-lo, de talmodo, com tal vil arrogáncia, quetoda a validez emigra com a suamala à procura de um lugar queaprecie sour trabalhado.Talvez poda haver ressurreiçom,talvez poda haver um ponto deinflexom ou encontro, talvezquando de novo a oportunidadechame à porta, nom abramos commedo, nom fechemos com forçaao simples assobio do vento.Talvez por uma vez só, deixemosde olhar para o chao, afanados emcontar migalhas, para salvarumhas poucas do gelo. Talveznumha tardinha clara de apeteceraprendamos a caminhar para afrente; talvez num proceroOutono deixemos esmagadas nochao as velhas sombras e olhemospara cima, com decisom, e aomesmo tempo sem preponderán-cia, e sabedores de que nada deve-mos, sem ressentimento para nadaa ninguém cobrarmos, podamosenfim alçar um pé primeiro,depois arrastar um outro, maistarde aprender com força a moveras pernas, levar ambas extremida-des... e sem pressa, mesmo sempausa, decidamos de vez camin-har para a frente e atravessar asmontanhas, que hora após hora,desde o momento em que cadanovo ser nasce, lhe vam gravando(como o pudor, como o temor,como a ignomínia e a ignoráncia,como ...) dentro das nossas almas,igual que nos gravárom umhafalsa linguagem.Pois sem mais ainda habitamosum país imaginário... E de nósdependerá, e de nós igualmenteexigido nos será: preciso, neces-sário... nalgum momento deixar-nos por fim comodamente de fale-cer a enxergar o sol terno ecomeçar por falarmos abertamen-te do país que cada um de nósimaginamos deve pôr-se emmovimento...Ainda que talvez nom seja assim,talvez nem sequer seja... e sim-plesmente este é um escrito maispara o lixo... inconformista, tal-vez, ou de alguém que vive, semele saber, em seu país imaginadohá já muito tempo.

Germám Hermida

Esta situaçom acabou por permi-tir desenvolver umha bandadesenhada em que, pola vez pri-meira, autores e autoras galegaschegam a trabalhar em mercadosnunca vistos polos nossos conte-rráneos e conterráneas (afora, éclaro, dos casos de MiguelanxoPrado ou Das Pastoras) comopode ser a França ou os EstadosUnidos. Fran Bueno, Abraldes,Marcos Calo ou Carlos Portela(um dos escassos guionistas quetemos no país) som alguns dosactualmente mais badalados forada península.Por outro lado, a comunicaçomentre autores está a dar numhaauto-organizaçom que atingequotas nom vistas no país desdeos começos dos anos noventa,aquando do extinto FrenteComixário. O nascimento em2001 de um colectivo de autorescomo Polaqia, que auto-editam edistribuem o seu trabalho emformatos de alta qualidade coin-cidiu com a criaçom da revista"BD Banda", que quer servir demontra e de campo de provaspara os autores do País sempre àprocura de umha alta qualidadede ediçom. O grande êxito notrabalho do associacionismo foino entanto a constituiçom docolectivo Chapapote, que reuniupola primeira vez a prática tota-lidade de autores e autoras deBD do País em torno dos protes-tos contra a catástrofe doPrestige, publicando o álbumcolectivo "H2Oil" e desenvol-vendo diferentes exposiçons. Ocolectivo conseguiu também

situar a nona arte em pé de igual-dade com a música e a literaturano momento da mobilizaçomcontra o piche, e serviu de germepara o relançamento daAssociaçom Galega deProfissionais da Ilustraçom. Em2003 produzia-se nestecolectivo um relevo gera-cional (e pacífico) que tor-nava sócios e até integravanos órgaos directivosmuitas e muitos dos auto-res de BD que até entomcareciam de umha estru-tura associativa sólida.Precisamente a juventu-de é umha característicadestacada do panoramaactual da BD. Autores eautoras de entre vinte etrinta anos lideram estaarte no país actualmen-te, enquanto sommenos os membros degeraçons anteriores -como a do FrenteComixário- que conti-nuam em activo.À criaçom no ano2001 do portal BD deculturagalega.org, quese constituiu no verdadeiro refe-rente informativo para os profis-sionais do meio, aderírom com otempo diferentes fóruns e listasde correio postos em andamentopolos próprios autores e autoras.Para além de listas como "ElNoveno" existe também um webpromocional, "El mono sabio",que agrupa vários destes criado-res, assim coma um número cres-cente de páginas pessoais dediferentes autores como VíctorRivas, quer dizer, a consciência

de profissionalizaçom cresce.Perante um panorama como estenom estranha que, aos poucos,pareça que a indústria editorialgalega comece a pensar emaproveitar o potencial criativodo País na nona arte. Nos últi-mos anos estám-se a dar a con-

hecer projectos editoriais,ainda escassos, que apostam naBD pola primeira vez em muitotempo. Após publicaçons isola-das de Xerais ao longo dos anosnoventa, Toxosoutos acabou delançar ao mercado duas séries deBD. Por um lado "Galicia encómic" com umha tiragem dedez mil exemplares nunca vistano nosso país e com o claro pro-pósito de aproveitar o turismo(veja-se o álbum "Compostela, aorigem de umha lenda"). Por

outro lado, e dirigida ao públicoinfantil, temos a série "OsBarbanzóns", realizada poloprolífico Pepe Carreiro. Porém,a aposta mais destacada dosúltimos anos foi a publicaçom,primeiro por Xerais e mais tardepor "La Voz de Galicia" darevista infantil "Golfiño" que,

capitaneada porFausto Isorna, foidurante quase dousanos umha plataformade difusom maciça danona arte, permitindodiferentes autores vive-rem pola primeira vezdo seu trabalho.A desapariçom da revis-ta Golfinho é o grandeponto negro que ficanum panorama cheio deesperança para a bandadesenhada galega.Numerosos projectos deauto-ediçom (para alémdo circuito dos fanzines) ede propostas de publi-caçom no exterior mistu-ram-se com uns autorescada vez mais preparados emais adaptados à indústriaeditorial. No nível amador,

citas tam veteranas coma asJornadas de BD de Ourense (jána XV ediçom), ou o salomVinhetas desde o Atlántico daCorunha (que se consolidacomo cita internacional) conco-rrem agora com eventos maismodestos como os de Arteijo,Cangas ou mesmo a SemanaItinerante de BD patrocinadapola Junta que, de umha manei-ra ou de outra, aproximam cadavez mais a nona arte do público.

análise

Banda Desenhada Galega vive momento de esperança com um forte grau de auto-organizaçom

BD galega: No caminho

A crítica concordam. Nunca a BD galegatinha estado numha situaçom tam privilegiadacomo a actual ao nível artístico. A criaçomda Faculdade de Belas Artes em Ponte Vedrapermitiu a muitos dos desenhadores edesenhadoras conhecer e provar técnicas

que até há poucos anos nom tinhampossibilidades de desenvolver. Da mesmamaneira, o desenvolvimento de indústriasanexas à BD, como a de animaçom ou ailustraçom permitiu a muitos autorespolir o seu estilo e ir vivendo do desenho.

Por outro lado, e no que diz respeito aesta situaçom criou-se um clima de intensatroca de experiências e de informaçom entredesenhadores e desenhadoras já quaseprofissionais em que jogou um papelfundamental a massificaçom da Internet.

‘História da Língua em Banda Desenhada’

Page 14: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

14 cultura Março 2004 novas da galiza

portal galego da língua

AGAL participa activamenteno Fórum da Língua

PGL

No passado sábado 28 de Fevereiroa Faculdade de Filologia tornou-senumha festa do reintegracionismo.O Fórum da Língua organizadopolo MDL foi um grande sucesso ea AGAL participou activamente navoz de vários dos seus associados eassociadas. Do mesmo modo, oPGL participou em representaçomda Associaçom, mostrando o seucontributo ao reintegracionismo norespeitante à aplicaçom das novastecnologias e da Internet. Na sessom da manhá, no Bloco deExperiências, Eugénio Outeiroapresentou brevemente o trabalhoe a trajectória da nossaAssociaçom. Começou com umbreve relato da História da AGALpara depois centrar-se nas activida-des e projectos actuais. Na primei-ra palestra do Fórum, também demanhã, participárom a escritora

Raquel Miragaia e o livreiroXavier Paz, ambos associados daAGAL. A palestra foi intitulada'Novas estratégias para um novo

reintegracionismo'.De tarde, o director do "Novas daGaliza" e associado da AGALRamom Gonçalves fijo parte damesa dos meios de comunicaçom.

Simultaneamente, desenvolveu-sea mesa de ensino obrigatório, comumha avultada representaçom deassociados e associadas da AGAL.Participárom o professor de portu-guês na EOI de Ourense ValentimRodrigues Fagim e a professora delíngua Rosário Fernandes-Velho. Amoderar a mesa estivo a tambémsócia da AGAL e professora de lín-gua Sílvia Capom. Na segunda parte da tarde, na mesade novas tecnologias participáromdous membros da Comissom infor-mática da AGAL: o professor daUSC Ramom Flores e Miguel R.Penas em representaçom do PGL.Para finalizar, e para dar o toquefinal a este excelente Fórum, con-tou-se com a participaçom de maisum sócio da AGAL, neste caso odirector da 'Agália', CarlosQuiroga, que propujo um encerra-mento audiovisual que com certezanom deixou ninguém indiferente.

'Foro Social do Berzo' aprova resoluçom emdefesa do galego nos meios de comunicaçom

Igor Lugris

AAssociaçom Cultural Fala Ceivedirigiu-se ao Foro Social do Berzo(como membro integrante damesma) para pedir a aprovaçomde umha resoluçom em prol daliberdade de expressom em galegonos meios de comunicaçom dessa

comarca do leste da Galiza. Omotivo deste pedido fôrom osobstáculos que alguns meiosinformativos estám a pôr nos últi-mos meses ao uso do idioma gale-go, impedindo de falar galego nasrádios e na televisom, nom publi-cando escritos na nossa língua ounom recolhendo os comunicados

de imprensa redigidos na línguaprópria do Berzo. O FSB, tendoem conta diverso ordenamentojurídico internacional, estatal,autonómico e comarcal, aprovou aresoluçom em que insta os meiosde comunicaçom a respeitarem aescolha lingüística das bercianas edos bercianos.

PGL participa na palestra de novas tecnologias

Participantes na palestra de novas tecnologias do Fórum da Língua

''Diário Comboio'',primeiro volume emGalego-Portuguêsreeditado noséculo XXI PGL. A Associaçom Galega daLíngua e a editora Laiovento dis-tribuem já a nova ediçom danarrativa 'Diário Comboio', deRaquel Miragaia, que publicamde parceria, e que debutou nomercado em inícios do ano passa-do. Este é o primeiro volume emGalego-Português do novo séculoque ultrapassa a primeira ediçom.O livro é ilustrado com fotogra-fias de Luz Castro. 'DiárioComboio' foi um livro muitovalorizado pola crítica galega, aqual, apesar da censura e do silên-cio sistemáticos com que costumatratar os textos em Galego-Português, reconheceu nesta oca-siom os méritos e acertos de umtrabalho literário muito singular eoriginal, que representa mesmoumha renovaçom a respeito domedíocre e recorrente panoramada narrativa no subsidiadoGalego-Castelhano.

''Detrás dapalavra'', poemasdiante do silêncio PGL

Vem a Lume a quarta entrega poé-tica do corunhês José AlberteCorral Iglésias, subordinada aotítulo "Detrás da palavra".Conforme Sérgio Iglésias, queassina o Limiar da obra, trata-sede um poema "nada histérico,com um verso dominado que ape-sar do desassossego temático demuitos poemas, deixam um gostoplácido e umha calma chicha,como de gamela ao pairo". Comesta publicaçom a AssociaçomGalega da Língua volta como edi-tora, fazendo parte este livro dasua secçom Criaçom.

Vem a lumeúltima Agália

Galiza na Mealibra PGL. A revista ‘Mealibra’ dePortugal publica no seu últimonúmero um amplo bloco de 63páginas dedicado à literatura gale-ga. Nestas páginas aparece umtrabalho do Carlos Quiroga ("al-khuarizmi -...de literatura gale-ga") a modo de breve história por-tátil das nossas letras explicadasao povo português, e recolheumha Antologia de textos de 26autores, na maior parte dos casosinéditos, com as fotografias enotas biobibliográficas.

O Fórum foi umgrande sucesso e aAGAL participou

activamente na vozde vários dos seus

associados eassociadas

Agália. Os números 75|76 dapublicaçom internacional daAssociaçom Galega da Língua,correspondentes ao 2º Semestre de2003 contam com mais páginas doque nunca, 314, e com capas aquatro tintas ilustradas com desen-hos originais do escritor galegohomenageado em 2003, Avilês deTaramancos. Neste caso, tambéma ilustraçom interior está montadaa partir de fotografias realizadaspor Carlos Alhegue Leira nosmanuscritos de Antom Avilês, tira-das em 2000 para um trabalho dedoutoramento, que também seoferece neste volume.

Portugal e Galiza:Encantos e encontros PGL. Laiovento publica de parce-ria com a AGAL este trabalho deJosé David Santos Araújo,Presidente do Fórum de AmizadeGaliza-Portugal. O livro é uma pes-quisa ampla e demorada sobre ouniverso cultural luso-galaico.David Araújo, como pensador efilósofo procurou em todo omomento descobrir coincidênciasou contrapartidas entre personagensde um e outro lado. O seu trabalhoé lúcido, claro, didáctico e pedagó-gico. O leitor ou leitora percebelogo como som atraentes os seusconteúdos: somos um mesmo povo,proprietários da mesma língua, des-frutamos da mesma paisagem, pos-suímos a mesma filosofia, temosumha mesma forma de contemplara vida. oferece neste volume.

PGL. A escritora Luísa Villalta,nascida na Corunha em 1957, dei-xou-nos a dia 6 de Março, na suamorada da cidade herculina.Licenciada nas filologias Galego-Portuguesa e Hispánica a sua obraabrange volumes de poesia, ensaio,teatro, e narrativa. Na revistaAgália vinhérom a lume duas cola-boraçons da autora: a nota "A lín-gua dos sons" (n.º 6) e a selecçompoética "O oco da palavra" (n.º 10).

Morre Luísa Villalta

Page 15: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

músicaMarço 2004novas da galiza 15

música

Dandy Fever e Mama Boogie gravárom nos últimos meses

Temo-nos proposto sempre, como um dos finsdestas páginas, deitar luz sobre aquelesprojectos musicais mais interessantes surgidos

na nossa geografia. Por isso hoje apresentamosduas bandas que tenhem dous denominadorescomuns: a música negra e o facto de terem

gravado alguns temas ultimamente. Estas som as suas histórias, que ficarám incompletas senom ouvirmos as suas músicas.

Davide Loimil e Inácio Gomes

Dandy FeverDandy Fever é umha nova bandada Corunha formada recentemen-te por membros de Diskatocam,que depois de algumhasmudanças na formaçom dabanda, como a saída do seu voca-lista, decidem mudar de nomepara iniciarem umha nova etapaadentrando-se mais nos sonsjamaicanos.É assim como desapareceDiskatocam e nasce DandyFever. Incorporam Diego eMariana como vocalistas e um

teclado, reforçando também asecçom de ventos.Estilisticamente vemos dife-renças consideráveis, apostando-se agora na investigaçom das raí-zes da música jamaicana maistradicional. Ska e rocksteadypopulares executados com classee sem perderem a compostura,afastando-se assim das bandasactuais mais populares.Já pudemos seguir as suas evo-luçons ao vivo em diversos pal-cos e comprovarmos a sua quali-dade. Esta verifica-se claramentena solvência com que reprodu-zem as versons de algumhas das

melhores bandas de músicajamaicana de todos os tempos,nomeadamente Hepcat e Wailers.É possível fazer o download detrês temas da sua página web ecomprovar como soa o vultomais importante da músicajamaicana do século passadofeita na Galiza do século XXIenquanto esperamos pola iminen-te ediçom de algum material dopessoal do fanzine El Ejecutor.

Mama BoogieFunk, soul, jazz ou blues somalguns dos estilos que formam acoluna vertebral desta relativa-

mente nova banda de Compostelacujos membros se movem comsoltura e classe ao vivo, comotenhem demonstrado em diversasocasions tanto na Galiza como noestrangeiro.Esta magnífica banda acabou degravar seis temas e ainda maisdous extras, estes últimos comumha produçom diferente cadaum, que vam do blues clássicoestilo Nova Orleáns ou texano atéo jazz. Os temas fôrom registadosna escola de som "CES" e,segundo nos comenta um doscomponentes da banda, abrem ocaminho para a futura gravaçom

de umha maqueta mais séria.Como planos mais imediatos ten-hem prevista a participaçom numfestival em Madrid e a apariçomcomo banda no palácio de con-gressos desta mesma cidade.

A formaçom é a seguinte:Luís Figueroa: guitarra solista evoz.Máni Castro: baixoDario Agrafojo: percussom.Pablo Costa: harmónica de bluesPaco G. Seignon: trompeteJavi Vilanova: saxo Jaime Barreiro: guitarra acom-panhante.

Funk, soul, jazz ou blues som alguns dos estilos que formam a coluna vertebral de Mama Boogie

MÚSICA NEGRA NA GMÚSICA NEGRA NA GALIZALIZAAÚLÚLTIMO GRITO DATIMO GRITO DA

Dandy Fever é umhabanda formada por

membros deDiskatocam. Depois

de mudanças naformaçom, decidem

mudar de nomepara iniciarem

umha nova etapaadentrando-se maisnos sons jamaicanos

Mama Boogie acaboude gravar seis temase ainda mais dous

extras, estes últimoscom umha produçomdiferente cada um,que vam do blues

clássico estilo NovaOrleáns ou texano

até o jazz

Page 16: ngz16 - novas.galnovas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz16.pdf · tença, duras penas que, oxalá me engane, provocarám a entrada em prisom de alguns dos melhores exemplos da militán-cia

É certo que as mentiras tei-mam em revirar os nossosrazoados. A mentira teimo-sa, fascista, acaba por nosfazer duvidar; sentimo-nosculpados. Empurrados poloPoder brincamos a manter oequilíbrio nas beiras dopoceiro da sua falsidade.Quer surdos, derrotados,quer na clandestinidade,som as nossas opçons. Arevolta há de continuar aaguardar nalgures. Porém,os tempos nom som os maispropícios. Vivemos, commaneiras acrobatas, na novasociedade triunfal do siste-ma capitalista, esvaziada aocompleto do sentimento depertença ao grupo. O capitalacabou tam emaranhadoentre a populaçom que oinimigo semelhamos sernós próprios. Dantes, umfalar, era fácil diferenciar ooperário do empresário, oexplorado do explorador.Agora nom. Trabalhadoresautónomos, autónomas masdependentes, trabalhadoresindefinidos, indefinidassubcontratadas, temporá-rios, temporárias masmenos, temporários suces-sivos, temporárias merca-doria de ETT, funcionários,interinas, apadrinhados,emigrantes... O povo trabal-hador já nom sabe quedefender. Nem quem estádiante ou a par. Os sindica-tos, a meio da vertigem,resultam agora em novosterroristas a serem perse-guidos (a sentença de Lugocontra a CIG semelha umauto do tal Garzón). Masnem todos continuam emequilíbrio: mostrando osfocinhos no poceiro rebo-lem os grandes sindicatos,despolitizados, tornados emsimples gestores dos seuspróprios privilégios. É 10de março. O poder dassociedades anónimas vemde conseguir o seu objecti-vo, o anonimato. O inimigohavemos de ser nós. Nomhá mais ninguém aí fora.

novas da

Ramom Gonçalves

Xosé Luís Trigo é um dosfiliados da CIG de Lugoprocessados pola última grevegeral, condenado a mais decinco anos de prisom. Fôromtrês os membros do sindicatocondenados por presumíveisincidentes diante do pubRuada. Nestes momentosNovas da Galiza recebeua informaçom de que astestemunhas que declaráromno julgamento tambémtenhem sido processadaspola juíza que instrui o caso.Xosé Luís Trigo concedeu estaentrevista ao NGZ atítulo pessoal e em exclusiva.Trabalhador da construçomcivil e activista sindical, reflectesobre as conseqüências sociaise políticas de umha sentençaque provocou múltiplasmostras de apoio para comos processados. Umha numerosamanifestaçom a 29 deFevereiro foi o topo destasolidariedade nas ruas de Lugo.

Qual é do teu ponto devista a conseqüência maisimediata da sentença quevos condena a mais de cincoanos de prisom?Do meu ponto de vista, umhadas conseqüências mais graves éo medo que se pode gerar entreos trabalhadores e as trabalha-doras, que este acontecimentoseja um precedente de desmobi-lizaçom. Perante casos assim,umha pessoa reflecte antes dedar um passo à frente, antes dese organizar ou participar nasmobilizaçons. É fácil perceberque há muita conflitualidade nomundo do trabalho e apanharmedo.Também quero fazer umha valo-raçom a nível pessoal: Como épossível que a justiça esteja afazer umha valoraçom tam dese-quilibrada no direito fundamentalde greve, quando por outro ladoestám a passar ao lado de direitosfundamentais como o da saúdelaboral que causa mortes por

causa da negligência do patrona-to? Tanto a inspecçom de trabal-ho como os julgados estám aignorar o estatuto dos trabalhado-res e das trabalhadoras, factomuito perigoso, pois com isto de"reforma aqui ou acolá" estamosa viver um estatuto cada vez maisprecário para o conjunto do povotrabalhador. Já agora, poderiafalar de algumha vivência quetenho tido: um dia, por exigir unsóculos de segurança fui assedia-do, ameaçado e depois acabei emUrgências, no hospital, porqueme foi pó da obra para os olhos.Isto é apenas umha pequena his-tória ao lado de outras cousas queaqui acontecem… Onde está ajustiça nestes casos, quandoestám a ser violentados os direi-tos dos trabalhadores e das trabal-hadoras?

UGT e CCOO recusárom--vos o apoio caso houvesseprotestos, nom foi?. Quala tua valoraçom no que a istodiz respeito?

Acho que UGT e CCOO nom seimplicárom nada como organi-zaçons sindicais. Mas também écerto que a título individualhouvo filiados e filiadas deambos os sindicatos que estivé-rom connosco na rua, comprome-tendo-se como companheiros ecompanheiras, inclusive critican-do a postura das suas centrais queactuárom assim para defenderinteresses políticos.

Tu és trabalhador da cons-truçom civil. Como vivêrom oteu processo no dia-a-dia osteus companheiros?Os meus colegas nom acredita-vam, mas na verdade nom apenasos colegas ficaram surpreendi-dos, também a populaçom emgeral. Eu, no dia da greve estavaa trabalhar na Corunha, numhaobra de 240 trabalhadores.Houvo umha assembleia paradecidir se trabalhávamos ou nomtrabalhávamos e decidiu-se maio-ritariamente que nom se trabalha-ria. Cada um foi para a sua casa

para se integrar com os seus com-panheiros. Eu fui para Lugo e poracaso nom aconteceu nada, massim ali.

Entre as mostras de apoiocontam-se as de Carlos Slepoy,que compareceu no casoPinchet, e André Segura,membro da Associaçom Livrede Advogados. Qual ainterpretaçom do caso queeles fizérom?Nom acreditavam, dixérom queera umha tremenda barbaridade esalientárom muitas vezes que istotinha conotaçons políticas contrao movimento operário tentandotravar o sucesso das suas reivin-dicaçons. Comentárom tambémque nunca tinham visto nadaigual, e repara que também esta-mos a falar do Carlos Slepoy, quetomou conta de casos de desapa-recidos e desaparecidas naArgentina ou no Chile, casos dedireitos humanos na América doSul. Quanto a eles, dérom-nostodo o apoio desde logo.

“Onde está a justiça nestes casos,quando estám a ser violentados os direitosdos trabalhadores e das trabalhadoras?

a entrevista Associaçom Cultural Revolta de Vigo

Luís Trigo, filiado da CIG condenado a mais de cinco anos de prisom pola última greve geral.

10 de Março

Kiko Neves