Ninguém escapará à queda do céu e Epidemia-fumaça

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ninguém escapará à queda do céu e epidemia-fumaça Fábio Tremonte

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Seleção de imagens dos trabalhos de Fábio Tremonte apresentados na exposição coletiva Hipótese e Horizonte | curadoria de Germano Dushá | Observatório | 28 de novembro à 26 de dezembro de 2015 | São Paulo, SP A mostra, cujo título já evidencia a natureza de seu ímpeto, reúne esforços que tomam a constituição do espaço, e sua relação com a ampla vista que o cerca, como forma de pensar e experimentar possíveis futuros da cidade. Envolta a um cenário que ventila esgotamentos de toda sorte [ecológicos, sociais, políticos] se balança entre método e poesia, ideia e sensação, humor e consternação, literalidade e abstração, para imaginar e conjecturar o que é que ainda pode nos vir.

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ninguém escapará à queda do céue

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Ninguém escapará à queda do céu | 2015

Apocalipse xamânico. A consequência da propagação generalizada da “epidemia-fumaça” do ouro é, para Davi Kopenawa, o extermínio dos xamãs, reduzidos à impotência e aniquilados pela captura de seus espíritos auxiliares: Nossos espíritos auxiliares tentam atacar e afugentar a epidemia xawara, mas ela só se afasta um pouco e depois volta rápido (...) nós tentamos destruí-la, mas é muito dura, resistente como borracha. Quando é atacada, nem sente os golpes. Ao contrário, ela se apodera dos espíritos xamânicos que tentam atingi-la e com isso destrói os pais deles, os xamãs. O fracasso do xamanismo diante dos poderes patogênicos liberados pelos brancos define a verdadeira magnitude das consequências da corrida do ouro — a instauração de uma crise escatológica e de um movimento brutal de entropia cosmológica: Quando todos nós tivermos desaparecido, quando todos nós, xamãs, tivermos morrido, acho que o céu vai cair. É o que dizem nossos grandes xamãs. A floresta será destruída e o tempo cará escuro. Se não houver mais xamãs para segurar o céu, ele não cará no lugar. Os brancos são apenas engenhosos, eles ignoram o xamanismo, não são eles que poderão segurar o céu (...) Não são só os Yanomami que morrerão, mas todos os brancos também. Ninguém escapará à queda do céu. Se morrerem os xamãs que o mantêm no lugar, ele cairá mesmo. É o que dizem nossos anciãos. Nossos grandes xamãs e nossos anciãos estão morrendo um após outro, isso me desespera. Os brancos destroem nossa floresta e nossos anciãos morrem todos, pouco a pouco, de epidemia. Isso me dá raiva. [Davi Kopenawa, “Palavras indígenas”, 2006 - 2010]

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Ninguém escapará à queda do céu | 2015 | texto sobre parede | 60 x 30 cm | Foto: Daniela Ometto

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Ninguém escapará à queda do céu [detalhe] | 2015 | texto sobre parede | 60 x 30 cm | Foto: Daniela Ometto

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Epidemia-fumaça | 2015

A figura das propriedades patogênicas do ouro (e de outros metais) é ponto central de um tema recorrente do pensamento yanomami: os efeitos epidemiológicos do contato com as profundezas da terra. Das emanações deletérias que essas atividades propagam, surgem as chamadas “epidemias-fumaças” (xawara waki,- xi), e a contaminação generalizada que provocam. Esta fumaça-epidemia atinge o “mundo inteiro” (...) O vento leva-a até o céu. Quando chega lá, seu calor queima-o pouco a pouco e ele fura. O “mundo inteiro” é então ferido como se estivesse queimado, como um saco de plástico derretendo no calor. [Davi Kopenawa citado por Bruce Albert, “O ouro canibal e a queda do céu. Uma crítica xamânica da economia política da natureza (Yanomami)”, 2000]

Assista o vídeo: https://vimeo.com/151008698

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Epidemia-fumaça | 2015 | instalação com máquina de fumaça | dimensões variáveis

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Seleção de imagens dos trabalhos de Fábio Tremonte apresentados na exposição coletiva Hipótese e Horizonte | curadoria de Germano Dushá | Observatório | 28 de novembro à 26 de dezembro de 2015 | São Paulo, SP

A mostra, cujo título já evidencia a natureza de seu ímpeto, reúne esforços que tomam a constituição do espaço, e sua relação com a ampla vista que o cerca, como forma de pensar e experimentar possíveis futuros da cidade. Envolta a um cenário que ventila esgotamentos de toda sorte [ecológicos, sociais, políticos] se balança entre método e poesia, ideia e sensação, humor e consternação, literalidade e abstração, para imaginar e conjecturar o que é que ainda pode nos vir.

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