Niobio

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 129 1. INTRODUÇÃO 1.1 CONCEITO DO BEM MINERAL  O nióbio foi descoberto no começo do século XIX pelo britânico Charles Hatchett. Apesar de alguns adotarem a terminologia colúm- bio, a União Internacional de Química recomenda o uso do nome ni- óbio, em homenagem a deusa Niobe, lha de tântalo (nome de outro elemento químico na tabela periódica), segundo a mitologia grega. É uma das substâncias de mais baixa concentração na crosta terrestre, na proporção de 24 partes por milhão.  O nióbio (Nb) é o elemento de número 41 na tabela periódica dos elementos químicos, classicado como metal de transição. Sua densidade é de 8,57 g/cm³ e seu grau de dureza na escala de Mohs é de seis, numa escala de um a dez (classicação do diamante, já que este consegue cortar qualquer mineral). Outras caracterizações químicas do nióbio: em condições normais de temperatura e de pres- são (CNTP, ou seja, a 0 ºC e pressão atmosférica ao nível do mar), encontra-se no estado sólido da matéria, seu ponto de fusão ou derretimento é de 2468ºC e seu ponto de ebulição ou de evaporação é de 4744ºC. Nióbio Rui Fernandes P. Júnior Especialista em Recursos Minerais 1.2 CARACTERIZAÇÃO E OCORRÊNCIAS  O nióbio possui forte anidade geoquímica com o tântalo, ou seja, eles são estreitamente associados e encontrados juntos na maioria das rochas e dos minerais em que ocorrem. Na natureza há mais de 90 espécies minerais de nióbio e tântalo conhecidas, das quais podemos destacar com suas respectivas composições quími- cas: a columbita-ta ntalita (Fe, Mn) (Nb, Ta 2 ) O 6 , com teor máximo de 76% de Nb 2 O 5 ; o pirocloro (Na 3 , Ca) 2  (Nb, Ti) (O, F) 7 , com teor má- ximo de 71% de Nb 2 O 5 ; o bariopirocloro (Ba, Sr) 2  (Nb, Ti) 2 (O, OH) 7 , com teor máximo de 67% de Nb 2 O 5 ; a loparita (Ce, Na, Ca) 2 (Ti, Nb) 2  O 6 , com teor máximo de 20% de Nb 2 O 5  e a pandaíta (Ba, Sr) 2  (Nb, Ti, Ta) 2 (O, OH, F) 7 .  A columbita-tantalita e o piroclor o, que para efeitos de sim- plicação utiliza-se a terminologia química (Nb 2 O 5 ) são as principais fontes de nióbio no Brasil e no mundo.  A columbita-tantalita normalmente encontra-se associada aos pegmatitos, ou seja, são termos nais do magma granítico que não entram na rocha cristalizada primeiramente. Além disso, trata-se de rocha plutônica, resfriada lentamente abaixo da superfície terres- tre (os magmas vulcânicos, como os basaltos, extravasam e resfriam rapidamente) e dando origem a cristais que podem atingir metros de comprimento, podendo superar os 20 mm. Nos pegmatitos en- contram-se uma gama de minerais como: quartzo, feldspato, mica, terras raras, gemas (água marinha e topázio, por exemplo) além dos minerais: estanho (cassiterita), tungstênio (wolframita), além da columbita-tantalita.  O piroclor o encontra-se em carbonatitos associados às intru- sões alcalinas do cretáceo superior, da era mesozóica. Os carbonatitos costumam conter um ou mais dos seguintes mineriais: nióbio, níquel, cobre , titânio, vermiculita, apatita (fosfato), terras raras, barita, uo- rita, além dos minerais nucleares tório e urânio. Existe certa divergên- cia entre os especialistas no assunto s obre a origem dos carbonatitos, mas a versão mais aceita é de que são relacionados às rochas alca- linas, incluindo kimberlitos (associados à ocorrência de diamantes)

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Depósitos de Nióbio.

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    1. INTRODUO

    1.1 CONCEITO DO BEM MINERAL

    O nibio foi descoberto no comeo do sculo XIX pelo britnico Charles Hatchett. Apesar de alguns adotarem a terminologia colm-bio, a Unio Internacional de Qumica recomenda o uso do nome ni-bio, em homenagem a deusa Niobe, filha de tntalo (nome de outro elemento qumico na tabela peridica), segundo a mitologia grega. uma das substncias de mais baixa concentrao na crosta terrestre, na proporo de 24 partes por milho. O nibio (Nb) o elemento de nmero 41 na tabela peridica dos elementos qumicos, classificado como metal de transio. Sua densidade de 8,57 g/cm e seu grau de dureza na escala de Mohs de seis, numa escala de um a dez (classificao do diamante, j que este consegue cortar qualquer mineral). Outras caracterizaes qumicas do nibio: em condies normais de temperatura e de pres-so (CNTP, ou seja, a 0 C e presso atmosfrica ao nvel do mar), encontra-se no estado slido da matria, seu ponto de fuso ou derretimento de 2468C e seu ponto de ebulio ou de evaporao de 4744C.

    NibioRui Fernandes P. Jnior

    Especialista em Recursos Minerais

    1.2 CARACTERIZAO E OCORRNCIAS

    O nibio possui forte afinidade geoqumica com o tntalo, ou seja, eles so estreitamente associados e encontrados juntos na maioria das rochas e dos minerais em que ocorrem. Na natureza h mais de 90 espcies minerais de nibio e tntalo conhecidas, das quais podemos destacar com suas respectivas composies qumi-cas: a columbita-tantalita (Fe, Mn) (Nb, Ta2) O6, com teor mximo de 76% de Nb2O5; o pirocloro (Na3, Ca)2 (Nb, Ti) (O, F)7, com teor m-ximo de 71% de Nb2O5; o bariopirocloro (Ba, Sr)2 (Nb, Ti)2 (O, OH)7, com teor mximo de 67% de Nb2O5; a loparita (Ce, Na, Ca)2 (Ti, Nb)2 O6, com teor mximo de 20% de Nb2O5 e a pandata (Ba, Sr)2 (Nb, Ti, Ta)2 (O, OH, F)7. A columbita-tantalita e o pirocloro, que para efeitos de sim-plificao utiliza-se a terminologia qumica (Nb2O5) so as principais fontes de nibio no Brasil e no mundo. A columbita-tantalita normalmente encontra-se associada aos pegmatitos, ou seja, so termos finais do magma grantico que no entram na rocha cristalizada primeiramente. Alm disso, trata-se de rocha plutnica, resfriada lentamente abaixo da superfcie terres-tre (os magmas vulcnicos, como os basaltos, extravasam e resfriam rapidamente) e dando origem a cristais que podem atingir metros de comprimento, podendo superar os 20 mm. Nos pegmatitos en-contram-se uma gama de minerais como: quartzo, feldspato, mica, terras raras, gemas (gua marinha e topzio, por exemplo) alm dos minerais: estanho (cassiterita), tungstnio (wolframita), alm da columbita-tantalita. O pirocloro encontra-se em carbonatitos associados s intru-ses alcalinas do cretceo superior, da era mesozica. Os carbonatitos costumam conter um ou mais dos seguintes mineriais: nibio, nquel, cobre, titnio, vermiculita, apatita (fosfato), terras raras, barita, fluo-rita, alm dos minerais nucleares trio e urnio. Existe certa divergn-cia entre os especialistas no assunto sobre a origem dos carbonatitos, mas a verso mais aceita de que so relacionados s rochas alca-linas, incluindo kimberlitos (associados ocorrncia de diamantes)

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    e que so originados de material derivado de grande profundidade, possivelmente do manto. At o final dos anos 1950, o nibio era obtido como sub-produto do tratamento das columbitas e tantalitas, minerais pouco abundantes, implicando elevado preo e uso restrito a um tipo de ao inoxidvel e a algumas superligas. Com as descobertas de significati-vas reservas de pirocloro no Brasil e no Canad e com sua viabilizao tcnica, houve uma transformao radical nos aspectos de preos e disponibilidade. Atualmente, as trs maiores reservas exploradas de nibio no mundo esto localizadas no Brasil (Arax, no Estado de Minas Gerais; Catalo e Ouvidor, no Estado de Gois) e no Canad (Saint Honor, na provncia francfona do Quebec) so de origem carbonattica.

    1.3 USOS E SUBSTITUIES

    O nibio possui muitas utilidades e aplicaes em diversos ra-mos econmicos: da siderurgia a setores intensivos em tecnologia. A aplicao mais comum do nibio, ao contrrio dos demais metais refratrios, encontra uso principalmente na siderurgia e oca-sionalmente no segmento no metalrgico. Os produtos de ao recebem a classificao de planos e no planos. Os primeiros so constitudos por chapas grossas e finas la-minadas a quente e a frio e os aos no planos esto os trilhos, barra de reforo para concreto, fio mquina, dentre outras aplicaes. Existe um tipo de ao denominado (ARBL), ao de alta resistncia e de baixa liga, que permite, por exemplo, a construo de estruturas de menor peso e custo reduzido. Para aumentar a resistncia mec-nica do ao, basta elevar o teor de carbono, contudo algumas pro-priedades do ao como soldabilidade, tenacidade e conformibilidade so prejudicadas neste caso. A indstria siderrgica tem pesquisado uma alternativa que aumentasse a resistncia mecnica do ao sem alterar as outras propriedades desejveis. O nibio, o titnio e o vandio so alguns dos elementos utilizados na fabricao dos aos microligados, pois possuem uma alta afinidade com o carbono. No

    caso do nibio as adies tpicas so na faixa de 0,04%, ou seja, para cada tonelada de ao, so acrescentadas 400 gramas de nibio. A vantagem do nibio em relao ao vandio e ao titnio que ele possui maior resistncia; mas ao utiliz-lo em conjunto com os ou-tros elementos, pode possibilitar ganhos de sinergia liga, como a adio de nibio e titnio, por exemplo, na liga de alta resistncia, confere uma qualidade melhor do produto. Este ao especial pode ser utilizado na construo de oleodutos e gasodutos e plataformas para explorao de petrleo em guas profundas, construo naval. Na indstria automobilstica, o ao microligado pode ser utilizado em tiras laminadas a quente, conferindo alta resistncia mecnica, utilizados em chassis de caminhes e rodas de veculos, enquanto as tiras laminadas a frio so utilizadas na fabricao de automveis. Os aos microligados podem ser utilizados para fabricao de barras para concreto armado (vergalhes); utilizadas em construes civis; na rea nuclear (fabricao de reatores nucleares) e em locais de alta atividade ssmica (terremotos); na fabricao de trilhos ferrovirios, utilizados principalmente em curvas e desvios, onde o desgaste do ao mais intenso. O nibio utilizado tambm na fabricao de aos inoxid-veis tanto a base de carbono como a base de ferro, o ao ferrtico, responsvel por 10% do consumo mundial de nibio. A principal utilidade deste ao est na produo de escapamentos automoti-vos. O ao inoxidvel com nibio garante melhor desempenho nas condies de trabalho em temperatura elevada, garantindo maior durabilidade pea. O ao ferramenta constitudo, basicamente, por carbonetos de alta dureza, como cromo, tungstnio, molibidnio, vandio e co-balto. No desenvolvimento do ao ferramenta de alto desempenho, o nibio aparece como elemento formador de carbonetos (NbC). Muito utilizado para cilindros de laminadores e eletrodos para endurecimen-to superficial. O uso do nibio em ferros fundidos mais recente, utilizado, por exemplo, em anis de segmento e camisas de cilindros nos mo-tores automotivos; na indstria de minerao do cimento, os corpos

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    moedores e as mquinas de jateamento so compostos por ferro fundido a base de nibio e tambm utilizado em discos de freios de caminhes. Em todos estes casos, o nibio adicionado, dando origem a carbonetos adequados para uso em situaes severas de desgaste e abraso. Dentre os materiais projetados para funcionar por longos pe-rodos em atmosferas oxidantes e corrossivas, submetidas a tempe-raturas acima de 650 C, esto s superligas, que demandam o se-gundo maior consumo de nibio depois da indstria do ao. Existem diversos tipos de superligas que utilizam nibio, mas o destaque liga INCONEL 718, com teor de 53% de nquel (Ni); 18,6% de Cromo (Cr); 18,5% de Ferro (Fe) e 5,3% de Nibio (Nb). A liga 718 uti-lizada principalmente nos motores a jato e motores militares, como exemplo, a General Electric (GE) produz o motor CFM56, o motor a jato mais usado atualmente, contem aproximadamente 300 kilos de nibio de alta pureza. Ela pode ser utilizada tambm em outras peas de motores como parafusos e eixos de rotor; na indstria nu-clear; na indstria criognica (referente ao uso de tecnologias para produo de temperaturas muito baixas, abaixo de -150 C, estado em que o elemento nitrognio se encontra na forma lquida) e na indstria petroqumica. Outras superligas que utilizam nibio so: INCONEL 706 (3% de Nb), INCONEL 625 (3,5% de Nb), a Ren 62 e Udimet 630. O nibio metlico um dos metais que mais resistem cor-roso, principalmente em meios cidos e metais alcalino fundidos. Tambm utilizado em componentes de lmpadas de alta intensidade para iluminao pblica, associado ao metal tungstnio (W), pois re-quer alta resistncia mecnica, associadas resistncia corroso pelo sdio (Na). Outra propriedade fundamental do nibio a supercon-dutividade, que desaparecimento total da resistividade eltrica em temperaturas crticas prximas ao zero absoluto. Em estado puro, o nibio encontra aplicao em aceleradores de partculas subatmicas. O Grande Colisor de Hdrons (LHC sigla em ingls), o maior acelerador de partculas do mundo, um mega projeto envolvendo cientistas de diversos pases, incluindo o Brasil. Localizado na fronteira entre a

    Sua e a Frana, um anel de 27 Kilmetros de circunferncia, en-terrado a 100 metros de profundidade e resfriado a 271,3 graus abai-xo de zero. Visa detectar a existncia de partculas elementares da matria, inferidas pela fsica terica, porm jamais observadas como o bson de Higgs, o que poderia confirmar a existncia da matria es-cura e, conseqentemente, confirmar as teorias atuais sobre a origem do universo. Neste supercondutor, h magnetos compostos pela liga nibio-titnio. Outra utilidade do nibio metlico est na indstria aeroespacial: a liga C-103 composta de nibio, hfnio e titnio so utilizados como material refratrio por resistir a temperaturas acima de 1300 C e aceitar revestimentos contra oxidao, utilizados em propulsores e bocais de foguetes e est sempre presente na saia do motor Pratt & Whitney F100, um gerador de alta potncia usado nos caas F15 e F16. O metal nibio pode ser utilizado tambm em ligas de nibio-titnio, para uso em implantes cirrgicos; em componentes de nibio-titnio resistentes ignio, usados por mineradoras, principalmente na extrao de ouro; em lminas de nibio puro usadas na produo de diamantes sintticos; em plataformas martimas, com cabos andi-cos de nibio platinizados para proteo catdica (contra corroso) e para alvos de evaporao usados na indstria eletrnica e nas lminas de barbear. O xido de nibio utilizado na produo de cermicas finas como capacitores cermicos, lentes ticas, ferramentas, peas de mo-tor e alguns elementos estruturais resistentes ao calor e a abraso. A fabricao destes materiais requer xido de nibio de alta pureza. O xido de nibio com 99,9% de pureza utilizado para a fabricao de peas cermicas, lentes ticas, condensadores e atuadores cermicos. A produo de monocristais de niobato de ltio, utilizados em filtros especiais de receptores de TV exige o teor de 99,99% de xido de nibio, ou seja, xido de nibio de altssima pureza. No ramo da catlise, compostos de nibio tm sido utilizados para diversas reaes de interesse industrial. A catlise muda a velo-cidade das reaes qumicas, contudo a substncia catalisadora no se altera ao final da reao qumica.

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    Tabela 1TOTAL DAS RESERVAS DE NIBIO EM 2008

    Unid: 1000 ton

    UFMedida

    Indicada1000 t

    Inferida1000 t

    Total1000 tMinrio

    1.000 t Contido em Nb2O5 (ton) Teor (%)

    MG 632.560 3.851.232 0,61 15.400 1.100 649.060

    AM 179.795 2.038.523 1,13 460.640 2.852.893 3.493.328

    GO 30.105 97.504 0,32 39.638 8.208 77.951

    TOTAL 842.460 5.987.259 0,71 515.678 2.862.201 4.220.339

    Fonte: AMB-DNPM

    2. RESERVAS

    O Brasil detm as maiores reservas mundiais de nibio, seguido pelo Canad e Austrlia. As reservas medidas de nibio (Nb2O5) apro-vadas pelo DNPM e contabilizadas totalizaram 842.460.000 toneladas, com teor mdio de 0,73% de Nb2O5 e esto concentradas nos Estados de Minas Gerais (75,08%), em Arax e Tapira; Amazonas (21,34%), em So Gabriel da Cachoeira e Presidente Figueiredo e em Gois (3,58%), em Catalo e Ouvidor. As jazidas encontram-se associadas aos complexos alcalinos carbonatticos. O complexo Carbonattico do Barreiro situa-se no oeste do Es-tado de Minas Gerais, na regio do Alto Paranaba, no municpio de Arax. Esta regio tem sido alvo de pesquisas geolgicas desde o s-culo XVIII. Em 1886, Orville Derby realizou as primeiras investigaes geolgicas nesta regio. Em 1944, o engenheiro Lucas Lopes, secret-rio da Agricultura, Indstria e Comrcio do governo de Minas Gerais, criou o Instituto de Tecnologia Industrial (ITI), nos mesmos moldes do Instituto de Pesquisas Tecnolgicas (IPT), do Estado de So Paulo, porm voltadas pesquisa mineral em Minas. Um dos legados deste rgo, extinto em 1963, foi descoberta das jazidas de pirocloro de

    Arax, em 1953, quando o gelogo Djalma Guimares esteve em Arax para averiguar a existncia de minerais de urnio e descobriu em suas pesquisas os primeiros cristais de pandata (briopirocloro). A explo-rao de pirocloro, no entanto s se iniciaria na dcada seguinte. As jazidas carbonatticas de Arax, bem como as de Tapira, Ca-talo e Ouvidor constituem a provncia alcalino carbonattica do Alto Paranaba, do Perodo Cretceo e est encaixado em xistos e quartzi-tos do pr-cambriano do Grupo Arax, numa faixa NO-SE, abrangendo parte do Alto Paranaba, Tringulo Mineiro e Sudeste de Gois. Pos-suem forma circular com 4,5 km de dimetro, constitudas por rochas ultramficas metassomatizadas (glimeritos), cortados por carbonati-tos e fosforitos. O manto de intemperismo em complexos carbonat-ticos possui uma grande importncia econmica por ser formadora de depsitos residuais de vrios elementos como barita, trio, fsforo (apatita), urnio, cobre, trio, titnio e elementos de terras raras. A descoberta das jazidas de pirocloro no sudeste goiano teve incio ainda no sculo XIX, em 1892, pelo gelogo Eugnio Hussak. Ele fazia parte da Comisso Exploradora do Planalto Central (a misso Cruls), que demarcaria a rea do futuro Distrito Federal, chefiada pelo astrnomo e gegrafo belga Luiz Cruls. Durante a viagem, a expedio passou pela regio de Catalo e Hussak descobriu uma rocha diferente.

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    Com base nesta rocha que foi descoberta a grande jazida de fosfato de titnio e, posteriormente, nos anos 1960 foram descobertas as jazidas de pirocloro, que comeariam a ser exploradas no final dos anos 1970. O complexo Ultramfico-Alcalino e Carbonattico de Catalo so um dos vrios complexos alcalinos mesozicos que se encontra nas bor-das da Bacia Sedimentar do Paran. Destaca-se como plat elptico com os eixos N-S e W-S medindo em aproximadamente 6 km A poro interna do complexo constituda por rochas gneas, com encaixantes meta-mrficas, apresentando arqueamento em seus bordos. Um manto espes-so de produtos de intemperismo cobre o corpo das rochas alcalinas. A mineralizao do nibio ocupa a parte central do complexo, represen-tado pela pandata (brio-pirocloro) e por pirocloro rico em Ca e Na no carbonatito. Estas jazidas apresentam extrema complexidade tanto em sua composio fsico-qumica e na paragnese mineralgica, acarre-tando dificuldades tanto nas operaes de lavra (dimensionamento das reservas) e de beneficiamento do minrio (controle de qualidade). O carbonatito do Morro dos Seis Lagos est localizado no Esta-do do Amazonas, em So Gabriel da Cachoeira, no noroeste deste Es-tado (regio conhecida como cabea de cachorro), trplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Colmbia. Em 1975, o projeto RADAM veri-ficou nesta regio anomalias radioativas com intensidade duas vezes superior ao limite de deteco do cintilmetro. Estas anomalias foram causadas pela presena dominante do trio (Th). Em 1982, a CPRM iniciou a pesquisa de detalhe, atravs da geofsica area, geoqumica, sondagens e mapeamento geolgico. Estas pesquisas foram suficien-tes para revelar que uma combinao perfeita do clima, das rochas matrizes e topografia geraram um depsito excepcional de minrios, notadamente de nibio, titnio e de substncias metlicas do gru-po dos lantandeos (terras raras). Um intenso processo de lixiviao, provocadas pela alta incidncia de chuvas na Amaznia, ocorreu nas chamins, causando uma profunda dissoluo dos carbonatitos e lixi-viando os elementos mais solveis. O resultado foi um enriquecimento notvel destas trs substncias, at uma profundidade de 250 metros. O nibio proveio, originalmente, do pirocloro dos carbonatitos. O pro-cesso de lixiviao destruiu o pirocloro, deixando o nibio disponvel

    para reagir com o oxignio e formar os xidos, prevalecendo uma combinao do xido de nibio com o rutilo (xido de titnio TiO2) e com os elementos de Terras Raras como o trio e o crio. Alm disso, o xido de nibio ainda aparece na estrutura da hematita, limonita e goethita (hidrxidos de ferro).

    3. PRODUO

    O Brasil o maior produtor mundial de nibio, com aproxima-damente 98% do total mundial, seguido pelo Canad e Austrlia, que respondem pelo percentual restante.

    Tabela 2EVOLUO DA PRODUO DE NIBIO 1997-2008

    ANOSContido no concentrado(em t Nb2O5)

    xido de Nibio

    (t)

    Contido na Fe-Nb

    (em t Nb)

    1997 25.688 1.745 16.681

    1998 33.795 2.400 20.516

    1999 31.352 1.375 18.866

    2000 31.190 1.274 18.218

    2001 39.039 2.632 24.864

    2002 41.303 2.371 24.174

    2003 36.992 2.064 24.875

    2004 34.016 2.529 25.169

    2005 56.023 3.399 38.819

    2006 68.850 4.008 41.566

    2007 81.922 2.915 52.442

    2008 60.692 3.812 53.839

    Total 540.643 30.524 360.029

    Fontes: DNPM-DIDEM, CPRM/DIRECOM.

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    No Brasil, h apenas duas empresas que extraem o minrio, beneficiam e elaboram os produtos finais de nibio: a Companhia Brasileira de Metalurgia e Minerao (CBMM) em Arax, Minas Gerais e a Minerao Catalo de Gois Ltda, controlada pelo grupo Anglo American do Brasil, de capital britnico. Em 2008, a CBMM produziu 91,44% do total nacional produzido da liga Ferro-Nibio e 100 % da produo de xido de nibio. Os processos de extrao, beneficiamento do minrio e trans-formao do concentrado em liga de ferro nibio pelas duas minera-doras apresentam diferenciaes no apenas na escala de suas plantas industriais, mas tambm em seus processos produtivos, principalmen-te devido s diferenciaes mineralgicas de suas jazidas. Na Minerao Catalo, o minrio de pirocloro extrado em trs minas: a mina de Boa Vista e pelas minas 1 e 2. A primeira mina contm um alto teor de slica e as duas ltimas contm um alto teor de minrio de ferro. Este fato obrigou a beneficiar estes minrios separadamente, pois caso contrrio, a quantidade de nibio extra-da seria muito pequena. Na mina, utilizam-se detonadores a base de uma emulso especial, contendo nitrato, que no causa efeitos colaterais aos mineradores, como enxaqueca, caso utilizassem os ex-plosivos convencionais. Da mina, o minrio levado em caminhes convencionais at a unidade de britagem e moagem. Primeiramente, este minrio britado e modo, at atingir uma granulometria ideal, em seguida feita uma separao magntica, o deslame e a flotao, processos fsicos de onde so retiradas as impurezas. Aps estes pro-cessos, ocorre o processo aluminotrmico, onde todo o concentrado transformado em ferro-nibio. A CBMM possui uma planta significativamente maior do que a da Anglo American em tamanho e em escala. A mina de pirocloro da CBMM localiza-se no complexo do barreiro, dentro de uma rea mi-neralizada a nibio. Esta rea mineralizada est circundada por uma cobertura latertica, composta por elementos como apatita e barita. A minerao feita a cu aberto por bancos de 10m de altura sem a necessidade de uso de explosivos ou qualquer outro artifcio, uma vez que o material, tanto o minrio como o estril frivel e de fcil

    desmonte. Este minrio transportado por correia transportadora at a unidade de concentrao. Na unidade de concentrao, o min-rio passa por um processo de desagregao e decomposio, sem a necessidade de britagem, salvo para pequenos blocos ou torres. O minrio britado a menos de 50 mm e o passante na peneira se junta em uma mesma correia e vo para o silo de minrio da concentrao. No processo de moagem, o minrio levado para o moinho de bolas, onde so liberados os cristais de pirocloro, extremamente finos. Aps a moagem, o minrio passa por um processo de separao magntica, da qual retirada a frao de magnetita (Fe) existente no minrio; a frao magntica contendo ferro bombeada para uma represa espe-cial onde estocada para uma eventual comercializao, a parte no magntica levada para o deslame, de onde so retiradas as lamas laterticas que podem impedir a seqncia do processo. Feito o desla-me, a polpa deslamada passa por um processo de flotao e filtragem. Na unidade de sinterizao so retirados os teores de enxofre (S) e gua (H2O) e na unidade de desfosforao so retirados o fsforo (P) e o Chumbo (Pb). O processo de produo da liga FeNb feito a partir de uma re-ao aluminotrmica onde so misturados o concentrado de pirocloro, a sucata de ferro ou o xido de ferro e o carvo de origem vegetal. Os reatores consistem em um cilindro de chapa de carbono, revestido com tijolos de magnesita e posicionados num leito de areia e slica sobre uma concavidade cnica preparada previamente e destinada a receber todo o metal a ser produzido durante a reao. A areia do fun-do do reator revestida por uma camada de bentonita e cal. A parte externa vedada com areia para evitar vazamento de escria ou me-tal. Em frente cada reator feito outra concavidade na areia destinada a receber a escria. A maioria das impurezas escorificada, inclusive o trio e o urnio. Todo o fsforo, enxofre e cerca de 20% de chumbo contido no concentrado passam ao ferro-liga e por um processo de lixiviao, reduzindo estes elementos aos nveis desejados. Aps o trmino da reao a escria vazada e o ferro-nibio deixado num leito de areia para esfriar, solidificar. A escria removiada e soterre-da em local confinado, conforme as normas da Comisso Nacional de

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    Energia Nuclear (CNEN), devido ao pequeno contedo radioativo. Aps a solidificao o FeNb britado, amostrado, analisado e estocado em tambores de 1000 kg. O FeNb pode ser embalado em tambores de 250 kg, podendo ser embalados em tambores de 25lb ou sacos (big bags), conforme as solicitaes dos clientes e levados at o porto do Rio de Janeiro, em carretas para serem exportados. Numa anlise comparativa da produo nacional de nibio nos ltimos 12 anos (1997-2008), verificamos um aumento de 135,41% na produo do concentrado de pirocloro; 118,45% na produo do xido de nibio e de 162,42% na produo da liga ferro-nibio. Entre 1997 e 1998 verificou-se um crescimento de 31,56% na produo do concentrado e 22,99% na liga ferro-nibio. A constru-o do gasoduto Bolvia-Brasil influenciou fortemente a demanda pelo metal. As crises especulativas no sudeste asitico em 1997 e na Rssia em 1998 afetaram negativamente a produo de nibio entre 1998-1999 e tambm no ano 2000. Em 2001 e 2002 a produo dos derivados de nibio alm de recuperar os nveis de produo antes das duas crises j mencionada, experimenta um crescimento relativo entre 2000 e 2002 de 32,42% para o concentrado de nibio e de 32,69% na produo da liga ferro-nibio. O aumento na produo foi resultado na melhoria das vendas, resultado do bom desempenho da indstria automobilstica e aero-nutica, notadamente a europia, em razo da exigncia de metais mais leves e resistentes. No ano 2003, foi registrada uma queda na produo principal-mente do concentrado de nibio e do xido de nibio, com valores respectivos entre 2002 e 2003 de 10,44% e 12,95%. Este fato foi conseqncia da retrao do mercado internacional, resultando na pa-ralisao da planta de produo de xido de nibio e, pelo fato de se ter uma oferta superior demanda e aos estoques. A partir de 2004, ocorre um aumento significativo da pro-duo dos derivados de nibio, principalmente o concentrado e a liga ferro-nibio, em funo do maior aquecimento da demanda no mercado mundial. O vertiginoso crescimento econmico dos pases asiticos na ltima dcada, principalmente a China e a ndia, con-

    tribuiu para o aquecimento do mercado de ferroligas, incluindo a liga ferro-nibio, este crescimento foi mais acentuado entre 2006 e 2007, atingindo 19% da produo de concentrado e de 26,17% na produo da liga Fe-Nb.

    4. COMRCIO EXTERIOR

    O Brasil no realiza importaes de nibio desde 1993, sendo auto-suficiente para atender as demandas do mercado interno, alm de suprir a quase totalidade da demanda mundial pelo produto. Em 1981, a CBMM programou uma poltica de nacionalizao, estimulan-do outras empresas a fabricar produtos como o p de alumnio e o cloreto de clcio. Entre 1997 e 2008, houve um crescimento nas exportaes da liga Ferro-Nibio, tanto em quantidade exportada, quanto em valores em dlares FOB. Em 1997, foram exportados 13.947 ton da liga Fe-Nb e em 2008, 48.562 ton, um crescimento de 248,2%. J em valores exportados, em 1997 foi de US$ (FOB) 211.600,00 e em 2008, US$ 1.601.902,00, um crescimento de 557,1%. Quanto ao xido de nibio foi observada uma queda na quantidade e um aumento nos valores exportados quanto em valores exportados de 49,4% e 45,4% respec-tivamente. O contnuo aumento nas exportaes da liga FeNb e a re-duo do xido observadas neste perodo, principalmente a partir do ano 2000, deu-se em funo da concorrncia predatria no segmento de xido de nibio e de ligas grau vcuo, para as quais, o xido a matria prima principal. A ao da concorrncia de material prove-niente de subproduto do estanho (FeNb Ta) e da columbita-tantalita reprocessados na Rssia e na China levou a uma expanso na oferta de xido no mercado. Os principais pases importadores da liga FeNb brasileira neste perodo analisado foram em ordem crescente: Holanda (Pases Bai-xos), Estados Unidos, Japo, China, Alemanha, Canad, Coria do Sul, Mxico, Coria do Norte, ndia, Taiwan (Formosa), Reino Unido, Ar-bia Saudita, Finlndia, Argentina, Itlia, Venezuela e Rssia, repre-

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    Tabela 3COMRCIO EXTERIOR DE NIBIO 1997/2008

    ANOS

    EXPORTAO (A) IMPORTAO (B)de liga FeNb(1)

    SALDO(A-B)Liga FeNb (1) xido de nibio (2)

    Em t. 103 US$-FOB Em t. 103 US$-FOB Em t. 103 US$-FOB Em t. 103 US$-FOB

    1997 13.947 211.600 1.387 22.229 - - 15.334 233.829

    1998 18.504 239.964 1.138 19.504 - - 19.642 259.468

    1999 16.821 223.945 1.064 18.170 - - 17.885 242.115

    2000 17.407 232.084 639 11.080 - - 18.046 243.164

    2001 18.339 242.024 903 13.986 - - 19.242 256.010

    2002 18.405 237.595 217 4.158 5 41 18.617 241.712

    2003 18.600 233.967 340 5.860 - - 18.940 239.827

    2004 20.145 249.326 592 9.739 5 57 20.732 259.008

    2005 34.725 468.844 495 7.552 - - 35.220 476.396

    2006 39.130 528.730 433 4.660 - - 39.563 533.390

    2007 47.514 1.081.614 702 12.138 - - 48.216 1.093.752

    2008 48.562 1.601.902 890 24.054 - - 49.452 1.625.956

    Fonte: DNPM/DIDEM; MDIC/SECEX(1) Dados em Nb2O5 contido na liga ferro-nibio (Nb/Fe-Nb=0,66)(2) Dados em Nb2O5, apenas a CBMM exporta este produto.

    sentando mais de 95% do total exportado. Entre os anos de 1999 e 2002, ocorreu uma queda no volume exportado, reflexo das crises do sudeste asitico e da Rssia. Em 2003, ocorreu uma recuperao nos nveis exportados em 1998, sobretudo pelo crescimento econmico mais expressivo na Zona do Euro. A partir de 2004, foram observa-dos sucessivos aumentos nas exportaes, principalmente em 2006 e 2007, quando foi observado um crescimento de 105% nos valores exportados. O crescimento da economia chinesa contribuiu decisiva-mente para este fato, impulsionando a indstria siderrgica daquele pas e, conseqentemente, a demanda por ao, incluindo os aos ino-

    xidveis e aos aos de qualidade superior, a base da liga Fe-Nb. Isto elevou o consumo do metal e inflacionou os preos do produto, pois o aumento na quantidade ofertada foi insuficiente para atender o au-mento na demanda. A CBMM exporta 95% da sua produo para 350 clientes, em mais de 50 pases, sendo a nica empresa nacional a produzir e ex-portar o xido de nibio, toda a sua comercializao de liga e xido realizado atravs de empresas subsidirias internacionais: CBMM Europe BV em Amsterd (Holanda); Reference Metals Company Inc., Pittsburgh, Estado da Pensilvnia, nos Estados Unidos e CBMM Asia

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    Pte, Cingapura, bem como atravs de seus distribuidores na China, a Citiniobium Trading, e a GFE-Mir/CBMM, na Rssia. As subsidirias de-senvolvem toda a parte de logstica, distribuio e desenvolvimento do mercado sendo responsveis pelo estabelecimento de convnios e parcerias com clientes e entidades cientficas para desenvolvimento de novos produtos. Toda a produo da Anglo American Brasil da liga Fe-Nb ex-portada, pelo porto de Santos, sobretudo para Alemanha, Estados Unidos, Japo e Holanda, alm de outros clientes, produtores de aos especiais, no Mdio Oriente, sia e Austrlia O nibio apresenta significativa importncia para a balana co-mercial brasileira do setor mnero-metalrgico e para economia dos Estados produtores deste insumo: Minas Gerais e Gois. O Estado de Minas, que possui o terceiro maior PIB entre todos os Estados da fe-derao, os insumos a base de nibio contribuem significativamente em sua balana comercial, perdendo apenas para as exportaes de minrio de ferro e derivados e para o caf.

    O saldo da balana comercial dos produtos derivados de nibio cresceu 367,76% no perodo analisado. Entre 2004 e 2005 registrou-se um crescimento de 83% e entre 2006 e 2007, em virtude do boom chins, foi registrado um aumento de 105%. Em 2007 e em 2008, o saldo ultrapassou a barreira de US$(FOB) 1.000.000.000,00.

    5. CONSUMO APARENTE

    O perfil de consumo de nibio destina-se basicamente pro-duo de aos microligados, sob a forma de ferro nibio. Portanto, a indstria siderrgica a principal demandante deste metal, assim como o nquel, zinco e ferro. Quase 90% da produo de nibio so destinadas aos que fazem uso do ferro nibio standard, tanto na pro-duo de aos microligados, como na fabricao de aos resistentes ao calor. O restante da produo destinado produo de superligas a base de xido de nibio de alta pureza e outras finalidades. A Anglo American destina toda sua produo de Fe-Nb para atender o mercado estrangeiro. A CBMM tambm destina toda sua produo de xido de nibio para o mercado estrangeiro. Em 2007, o consumo de xido de nibio da alta pureza ficou restrito aos EUA (94,2%), Japo (4,4%) e pases da Unio Europia (1,4%). No en-tanto, uma pequena parte da produo da empresa de Arax (apro-ximadamente 5%) da liga Fe-Nb foi dirigida ao mercado nacional. Em 2007, mais de 96% do consumo de Fe-Nb destinou-se ao parque industrial siderrgico do eixo sul-sudeste, sendo os principais Esta-dos consumidores em ordem decrescente: Minas Gerais (52%), com destaque para a regio do Vale do Ao (Ipatinga, Timteo e Coronel Fabriciano); Esprito Santo (20%); So Paulo (15%), Rio de Janeiro (8%) e Rio Grande do Sul (1%). As principais empresas consumidoras foram: Usiminas (Ipatinga-MG), com 25%: Acesita (Timteo-MG), com 19%, Companhia Siderrgica Tubaro (Vitria-ES), com 18%, Grupo Gerdau (11%), Cosipa (Cubato-SP), com 8%; Aos Villares (6%) e Companhia Siderrgica Nacional (Volta Redonda-RJ), com 4% do total consumido nacionalmente.

    Grfico 1SALDO DA BALANA COMERCIAL DE NIBIO 1997-2008

    Fonte: DNPM/ Sumrio Mineral

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    A elevao nos preos do petrleo, entre 2003 e julho de 2008 viabilizaram novos projetos de explorao e a manuteno de linhas de transmisso desativadas, demandaram uma maior produo de tu-bos de ao de alta resistncia, tanto ao calor como s baixas tem-peraturas. A Rssia est construindo uma mega oleoduto de mais de 4000 km de extenso, atravessando a glida estepe siberiana (as tem-peraturas podem atingir at -70 C), onde h existncia de grandes jazidas de petrleo e gs natural. O oleoduto ligar Taichet, na regio de Irkutsk, na Sibria Oriental at a costa do Oceano Pacfico (Mar do Japo), atendendo a crescente demanda por petrleo dos pases asiticos, incluindo a China. Para atender o mercado chins, Vladmir Putin (ento presidente e hoje primeiro-ministro russo) e Wen Jia-bao (premi chins) assinaram um acordo para a construo de uma bifurcao deste oleoduto em 2004. Esta possui 67 km de extenso, ligando Skovorodino, no extremo leste da Rssia, at a fronteira norte da China, onde est localizado o terminal de Daquing. Alm da construo deste oleoduto, a parceria russo-chinesa prev tambm a construo de gasodutos. Em 2006, a empresa russa Gazprom, a maior produtora de gs natural neste pas, e a China Na-tional Petroleum Coorporation (CNPC sigla em ingls), a maior empresa petrolfera chinesa tambm firmaram parcerias. Os russos so o maior produtor de gs natural do planeta e a demanda chinesa por gs natu-ral tende a aumentar em virtude de seu vigoroso crescimento econ-mico. Caso as projees do crescimento do PIB chins se confirmem e a China no for seriamente afetada pela crise financeira internacional, iniciada na Amrica do Norte em 2007 (da qual abordaremos adiante); a oferta de gs natural chinesa seria insuficiente para suprir sua de-manda, o que exigiria a importao do gs natural russo, proveniente da Sibria. De acordo com o plano da Gazprom, um gasoduto orado em US$ 10 bilhes ligar o leste da Rssia ao oeste da China, sendo primeiras entregas do gs (80 bilhes de m), previstas para 2011. A demanda por tubos de grande dimetro para o transporte de gs natural e petrleo sob alta presso a base de aos microligados por nibio no se limita apenas aos casos mencionados anteriormente. A Berg Pipe, Europipe, Nippon Steel, Oregon Steel, Stelco, Sumitono

    e Usiminas produzem estes aos especiais, atendendo clientes como Petrobrs, Britsh Gas, Exxon, Norwegian Statoil e a prpria Gazprom. As chapas grossas microligadas com nibio tambm so consu-midas pela indstria naval e de plataformas martimas. Importantes consumidores de chapas para navios so as japonesas Hitachi Zosen e Mitsubishi Heavy Industries e as sul-coreanas Hyundai e Samsung. As plataformas martimas so feitas principlamente por estaleiros polo-neses e alemes. A indstria automotiva tem consumido aos microligados de alta resistncia, laminadas a quente e a frio, principalmente aps a primeira crise do petrleo nos anos 1970. Este tipo de ao reduz o peso dos automveis, implicando economia no consumo de combustvel. O nibio consumido em ferros fundidos para discos de freios e peas automotivas como anis de segmento e camisas de cilindros. A Cofap no Brasil e a Mercedes Benz, no Brasil e na Europa produzem estes materiais. Como supercondutor, os fabricantes como a General Dynamics e a General Electric, que, por sua vez, compram os cabos supercon-dutores da Alsthom, Furukawa, Hitachi, ICG, Kobe, LMI, Outokumpu,

    Grfico 2EVOLUO DO CONSUMO APARENTE BRASILEIRO 1997-2008

    Fonte: Sumrio Mineral/DNPM

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    Oxford, Sumitomo, Supercon e Vacuumschmelze. A liga C-103 compos-ta de nibio usada como material refratrio pela indstria aeroes-pacial (aplicada principalmente em propulsores e bocais de foguetes) por resistir a temperaturas acima de 1.300C e aceitar revestimentos contra oxidao. O consumo dessas ligas base de nibio aumentou com o crescimento do nmero de lanamentos de satlites, envolven-do na cadeia de fornecimento empresas como General Electric, Kaiser Marquardt, Lockheed Martin, Loral, e Pratt & Whitney. As principais empresas que usam nibio em lentes pticas para instrumentos oftlmicos, microscpios e cmeras de vdeo so as japo-nesas Hoya, Minolta, Nikon e Ohara, a francesa Corning e a alem Shott. Entre os fabricantes de condensadores e atuadores cermicos contendo nibio esto as japonesas NEC, Matsushita Electric, Murata Manufac-turing, TDK e a Trans-Tech, dos EUA. A Bayer, a Sumitomo e a Union Carbide fabricam catalisadores empregando compostos de nibio.

    6. PREOS

    No existe no Brasil comercializao do mineral pirocloro e de concentrado de pirocloro, desde 1981, sendo ambos industrializados e comercializados pelas empresas que atuam com o insumo, tanto como liga, como xido de nibio O preo do nibio est diretamente relacionado ao comporta-mento da siderurgia e a demanda mundial pelo metal que restrita e cclica associada realizao de grandes projetos que utilizam aos fortalecidos pelo nibio como gasodutos, refinarias, plataformas de explorao de petrleo, etc. Entre 1997 e 2006 no se observou grandes oscilaes no preo, provavelmente ocasionado pelo fato da comercializao do ferronibio e do xido de nibio ser realizada diretamente pelas empresas produ-toras e no por meio de bolsas de mercadorias. A CBMM tem um papel de firma lder no mercado internacional de nibio, os preos praticados por ela servem de referncia para o estabelecimento de preos das firmas seguidoras: Anglo American Brasil e a canadense Cambior.

    Tabela 3EVOLUO DOS PREOS* DA LIGA FeNb e XIDO DE NIBIO 1997/2008

    AnoLiga Ferro-Nibio xido de Nibio

    US$/t US$/t

    1997 13.458 16.027

    1998 13.952 17.138

    1999 13.313 17.077

    2000 13.333 17.340

    2001 13.197 15.488

    2002 12.826 19.161

    2003 12.578 17.235

    2004 12.377 16.451

    2005 13.502 15.257

    2006 13.512 10.762

    2007 22.764 17.291

    2008 32.987 27.927

    Preo Mdio 15.650 17.263

    Fonte: Sumrio Mineral-DNPM/MME(*) Preo mdio FOB

    Num contexto histrico, os preos mdios da liga ferro-nibio, apresentam uma relativa estabilidade. O nibio um dos poucos casos de bens metlicos caracterizados por esta estabilidade, ao contrrio do nquel, por exemplo. No perodo ps-guerra (1945), somente os dois choques do petrleo provocaram uma inflexo dos preos do produto, com um sensvel aumento neste perodo. O primeiro choque ocorreu em 1973, como resposta dos pases rabes Guerra do Yom Kipur. Estes pases decretaram o completo bloqueio do fornecimento de petrleo aos pases aliados de Israel (EUA, Holanda e Portugal), e simultanea-mente ao aumento dos preos do petrleo, o preo mdio do kilograma de nibio subiu de US$ 6,83 em 1973 para US$ 9,08 um aumento de

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    33%. O segundo choque petrolfero ocorreu entre 1978 e 1980, como conseqncia da Revoluo Islmica Xiita no Ir e a deflagrao do conflito Ir e Iraque (1980-1988). Os dois pases eram e figuram ainda hoje como um dos maiores produtores de petrleo do mundo. Neste perodo, o preo mdio do kilograma de nibio saltou de US$ 11,29 em 1978 para US$ 13,87, um aumento aproximado de 23%. Entre 2006 e 2008, observa-se um forte aumento nos preos dos insumos a base de nibio. O aumento foi de 144,13% para a liga Ferro Nibio e 159,49% para o xido de nibio. O forte aumento foi reflexo, principalmente, devido elevada demanda da indstria siderrgica chinesa, por aos de qualidade superior; alm disso, os repasses na defasagem cambial (o real se valorizou frente ao dlar entre outubro de 2002 e agosto de 2008), realizao de novos in-vestimentos, alm da renovao dos contratos, contriburam para a elevao dos preos do metal. O nibio possui sucedneos. Na siderurgia, o titnio e o van-dio so elementos microligantes. O tntalo pode ser aplicado tambm em superligas na indstria aeronutica para fabricao de turbinas especiais, produtos laminados e fios resistentes corroso e s altas temperaturas, alm da fabricao de carbetos para as ferramentas de alto corte, contudo este metal possui preos mais elevados, alm de elevada densidade. No caso dos aos microligados, foram feitos testes com nibio, tntalo e vandio para a viabilidade deste na indstria de autopeas e de vages ferrovirios. O nibio apresenta melhor vantagem em relao aos outros dois elementos, no apenas em suas propriedades fsico-qumicas, mas tambm por ser um metal abundante no pas. O reconhecimento da vantagem competitiva do nibio em relao aos metais concorrentes fez com que o consumo mdio de ferro-nibio aumentasse em mdia 19% ao ano, entre 2002 e 2007, enquanto o crescimento da produo de ao foi de 7% ao ano no mesmo perodo. Mesmo considerando os mercados onde a tecnologia siderrgica j est avanada, a taxa mdia de crescimento do consu-mo de ferro-nibio, no mesmo perodo foi de 15% ao ano, ao passo que o crescimento mdio da indstria siderrgica foi de 2% ao ano.

    A CBMM e a Anglo American antevendo os possveis aumentos na demanda, tem realizado projetos de expanses de suas capaci-dades produtivas, garantindo a oferta e evitando maiores oscilaes nos preos nos prximos anos. Alm disso, reforam a posio dessas empresas como lderes da indstria mundial de nibio, tendo em vista as vantagens competitivas delas com o alto teor do minrio de Arax, rede prpria de distribuio e a atuao em vrios segmentos de pro-dutos do nibio e a Minerao Catalo por representar uma alternativa de fornecimento desse material associada a uma tradicional empresa de minerao e, tambm, uma rede prpria de distribuio. A produo anual da CBMM projetada para o ferro-nibio at 2011 foi de 120 mil toneladas, da liga ferro-nibio, com investi-mentos previstos de R$ 250 milhes. Em 2008, a capacidade insta-lada era 90 mil toneladas por ano. Esta mesma empresa iniciou os projetos de expanso para produzir 150 mil toneladas a partir de 2014, principalmente na expanso das plantas de concentrao e metalurgia. Vale observar que estas projees j foram revistas, em

    Grfico 3EVOLUO DOS PREOS DA LIGA FERRO-NIBIO

    E DO XIDO DE NIBIO 1997-2008

    Fonte: Sumrio Mineral DNPM/MME

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    virtude dos impactos preliminares da crise econmica internacional. A Anglo American Brasil investiu R$ 30 milhes em um projeto para o reaproveitamento dos rejeitos da extrao de fosfato pela Copebrs, estes rejeitos possuem uma quantidade significativa de minrio de pirolcloro, o que significa um aumento de 30% na produo de ferro-nibio, que em 2007 foi de 7000 toneladas, aproximadamente, alm de reduzir a emisso de rejeitos no processo produtivo da apatita (fosfato) pela Copebrs. Portanto, com base nos investimentos rea-lizados tanto pela Minerao Catalo como pela CBMM e as reservas existentes garantem a liderana do Brasil mercado e a determinao do preo nos prximos anos.

    7. PERSPECTIVAS

    7.1 CONTEXTUALIZAO

    Alguns fatores macroeconmicos concernentes a economia mundial so extremamente relevantes em nossa anlise, porque no s influenciam como tambm podem futuramente determinar os ru-mos um setor ou ramo da atividade econmica. No caso do nibio no diferente: nos ltimos anos alguns fatos merecem uma meno mais aprofundada, pois podem auxiliar na tomada de decises futuras. Den-tre estes fatores, podemos destacar trs: o forte crescimento chins nos ltimos 15 anos, as fortes altas no preo de petrleo entre 2003 e meados de 2008 e a crise econmica estadunidense, oriunda do setor imobilirio e deflagrada em agosto de 2007. A China sofreu uma forte inflexo nos rumos de sua economia poltica, no final dos anos 1970, aps a morte de Mao Tse Tung e a chegada de Deng Xiaoping no comando do pas. Este presidente no alterou o regime poltico, mas promoveu uma abertura econmica, ten-do no Estado o elemento centralizador desta abertura. O crescimento econmico do Produto Interno Bruto (PIB) chins se encorpou a partir dos anos 1990, segundo dados do Fundo Monetrio Internacional (FMI) e do Banco Mundial, entre 1991 e 2003 foi em mdia de 11,45% ao

    ano. Em 2006 e 2007, as estimativas do FMI apontam para um cresci-mento de 11,6% e 11,9%, respectivamente e as projees para 2008 e 2009, indicam uma desacelerao neste crescimento de 9,7% e 8,5%, respectivamente, em virtude da crise na Amrica do Norte. Este excepcional crescimento tem sido apontado como um dos principais determinantes da alta dos preos das commodities aps 2002. Setores intensivos em commodities metlicas e industriais (au-tomotivo, metalrgico e de construo civil) pressionaram a demanda por esses bens ao mesmo tempo em que o crescimento populacional fomentou a compra externa de alimentos e commodities agrcolas. Dados da Organizao Mundial do Comrcio (OMC) apontam um cresci-mento nas importaes chinesas entre 2003 e 2004 de 7% para o ferro e ao, 35% na importao de metais ferrosos, 60% na importao de petrleo e 70% na importao de minrios. A forte demanda por commodities metlicas processadas, in-cluindo a demanda por ferro-nibio na elaborao de aos especiais, pode ser explicada dentro deste crescimento econmico chins. Uma das conseqncias deste crescimento o intenso processo de urba-nizao naquele pas, refletindo na indstria automobilstica (cres-cimento da frota automotiva) e na construo civil e tambm pelo fato da China atravessar uma crise energtica e estes insumos so altamente intensivos em energia, obrigando-os a importar o produto j processado. No que concerne ao petrleo, este atualmente a principal fon-te de energia primria no planeta. Segundo a Agncia Internacional de Energia (AIE), em 2004, a oferta mundial de energia foi de 11 bilhes de toneladas equivalentes de petrleo (tep), enquanto o consumo final de energia foi de 7,6 bilhes de teps. O petrleo, o carvo mineral e gs natural so as principais fontes de energia, com 34,3%, 25,1% e 20,9%, respectivamente. No lado do consumo, o petrleo responde por 42,3% do consumo mundial de energia. O gs natural vem aumentando sua participao na matriz energtica mundial, enquanto o petrleo dever permanecer como principal fonte de energia mundial at que haja restrio de oferta, aps atingir o pico de produo mundial. Mes-mo diante da descoberta de novas jazidas, inclusive no Brasil, garantia

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    o suprimento da demanda mundial por mais algumas dcadas, isso se a demanda mundial mantiver constante. Os preos do barril de petrleo oscilaram no teto mximo de US$ 40,00 desde o final da Guerra do Golfo (1991) at meados de 2003, quando ocorreram sucessivas valorizaes. Durante o ano de 2007 e no primeiro semestre de 2008, os preos dispararam chegando ao recorde de US$ 147,00 em julho do ano passado. Os preos caram fortemente em virtude da crise sistmica do sistema financeiro esta-dunidense, e tiveram uma leve recuperao no primeiro semestre de 2009, estando atualmente no patamar de US$ 70,00. A forte eleva-o nos preos do petrleo tem o carter essencialmente geopoltico, principalmente capitaneado pelos EUA e pelos emergentes asiticos: China e ndia. A China j foi exportadora de petrleo, mas atualmente o segundo maior importador do mundo e sua produo interna aten-de somente um tero de suas necessidades. A ndia tambm depende das importaes de petrleo, o que corresponde 85% do consumo interno. O Japo e a Coria do Sul tambm dependem fortemente da importao de petrleo para sustentar suas economias domsticas. Para atender esta crescente demanda, h uma necessidade logs-tica de maneira que os principais fornecedores, como a Rssia e os Pa-ses do Oriente Mdio (Arbia Saudita, Iraque e Ir) supram as neces-sidades crescentes dos pases asiticos e tambm dos pases europeus. Por isso, grandes projetos de transporte dessas riquezas so determi-nantes (oleodutos e gasodutos). O oleoduto siberiano, j mencionado, ligando a Rssia at o Mar do Japo, com ramificaes para a China; a construo do oleoduto ligando o Cazaquisto, na sia Central at a provncia chinesa autnoma de Xinjiang; o oleoduto ligando o Mar Cs-pio (Azerbaijo) ao Mar Mediterrneo (costa da Anatlia, na Turquia), fornecendo petrleo para a Europa e EUA e a possvel construo de um gasoduto ligando o Ir e a ndia, atravessando o Paquisto, dentre outros megaprojetos so alguns exemplos de como o aspecto logstico fundamental na questo mundial da oferta e demanda por petrleo. Outro ponto importante a salientar neste cenrio econmico internacional de extrema relevncia concernente a crise econmica oriunda na economia estadunidense, a maior economia do mundo.

    A atual crise financeira, iniciada em agosto de 2007 foi rapida-mente disseminada para os pases europeus tem uma gnese distinta das crises econmicas dos anos 1990 e do incio desta dcada, como a mexicana (1994), a do sudeste asitico (1997), a russa (1998) e argentina (2001). Em vez de ter sido gestada em pases em desen-volvimento ou emergentes, esta crise teve origem em fenmenos re-lacionados a economias desenvolvidas e avanadas. A bolha no setor imobilirio, com alta desproporcional nos preos de imveis, caracte-rstica de um intervalo de prosperidade na Amrica do Norte e Europa Ocidental, foi o gatilho desta crise sistmica, porm no foi nica causa. O dficit comercial e o dficit pblico da economia dos EUA, o crescimento e a inadimplncia de alguns setores internos (incluindo o setor imobilirio) sem o devido respaldo de liquidez, tambm in-flaram a bolha. Isto conduziu a economia estadunidense a uma auto dependncia de capitais lquidos para a manuteno do crescimento dos negcios, criando instabilidade monetria (a prpria credibilidade da moeda norte-americana como unidade de referncia monetria in-ternacional foi ameaada), riscos e incertezas. Muitos bancos nos EUA, Inglaterra, Frana e em outros pa-ses europeus faliram ou receberam injeo de crdito estatal durante estes 13 meses at que o pedido de falncia do quarto maior banco estadunidense de investimentos, Lehman Brothers, em setembro de 2008, desencadeou uma nova etapa da crise. Alguns pases j foram seriamente afetados como Hungria, Paquisto, Ucrnia, Grcia, Litu-nia e o caso mais grave: a Islndia, cuja pequena economia dependia fortemente dos depsitos financeiros nos trs principais bancos lo-cais. Os valores neles acumulados chegaram a ser dez vezes maiores do que o PIB da ilha, localizada no Circulo Polar rtico. A crise de se-tembro tornou transparente a incapacidade destes bancos em honrar seus correntistas, obrigando o governo a nacionaliz-los. As projees mais otimistas de crescimento mundial para 2009 foram revistas para baixo, de acordo com ltimo boletim econmico do FMI, publicado em julho. A queda do PIB mundial oscilaria em torno de 1,4%. Os EUA, a Zona do Euro e o Japo teriam um decrescimento em seus PIBs de 2,6%, 4,8% e 6,0% respectivamente. Os pases com

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    potencial de crescimento evidente (BRICs,): Brasil, Rssia, ndia e China tambm tiveram suas estimativas revistas para baixo. O Brasil e a Rssia tero uma retrao respectiva de 1,3% e 6,8%, enquanto Chi-na e ndia tero um crescimento de 7,5% e 5,4%, respectivamente.

    7.2 BALANO PRODUO-CONSUMO

    A produo e o consumo de nibio esto estritamente relacio-nados ao comportamento do setor siderrgico, condicionado inds-tria automobilstica, aeroespacial e petrolfera. Entre 1997 e 2008 ocorreu um aumento de 225 % no saldo produo-consumo de nibio. Neste nterim, os crescimentos mais expressivos ocorreram entre 2004 e 2005, com 73% e entre 2006 e 2007, com 22%. Os aumentos mais expressivos entre 2004 e 2007 acompanharam as fortes expanses da indstria automobilstica e os aumentos nos preos dos barris de petrleo. Antes da segunda onda da crise econmica na Amrica do Norte, as indstrias automobils-ticas nos pases emergentes, principalmente no Brasil, tiveram cres-cimentos expressivos. No Brasil, o crescimento no setor automotivo entre 2006 e 2007 foi de 6,3% e o aumento nas vendas de carros, veculos, nibus e caminhes tiveram um aumento de 28%: em 2006 foram vendidos 1,92 milho de veculos e em 2007 foram vendidos 2,46 milhes. O crdito farto e longas prestaes na venda das auto-mveis (um carro poderia ser financiado em at 84 parcelas ou sete anos) deram impulso ao setor. O reflexo disto est nas grandes metr-poles brasileiras, que sofrem com congestionamentos cada vez mais freqentes e intensos. Porm, a crise de setembro provocou uma inflexo nesta tendn-cia, segundo a Federao Nacional da Distribuio de Veculos Automo-tores (FENABRAVE), as vendas em outubro de 2008 tiveram uma queda de 11,6% em relao a setembro e de 3,3% em relao ao mesmo perodo de 2007, decorrentes da retrao do crdito e a elevao dos juros. Em novembro, segundo a Associao Nacional dos Fabricantes de Veculos automotores (ANFAVEA), a produo nacional de veculos diminuiu em 28,6% (194 mil unidades) em relao ao mesmo perodo

    de 2007 (272,9 mil unidades) e 34,4% em relao ao ms de outubro (296,9 mil unidades). Em dezembro, as vendas no setor tiveram um aumento de 9,4% sobre o ms anterior, reflexo da reduo do IPI no setor. A produo acumulada de janeiro a dezembro de 2008 foi de 3,2 milhes de veculos, 8% maior que o acumulado no mesmo perodo de 2007 e com isso o pas subiu uma posio no ranking mundial, do stimo para o sexto lugar. No primeiro semestre de 2009, segundo a mesma entidade, foram fabricados 1,46 milhes de veculos, uma que-da de 13,6%, em relao ao mesmo perodo de 2008.

    Tabela 4BALANO PRODUO-CONSUMO DE NIBIO

    Em toneladas

    ANOSPRODUO1

    (A)CONSUMO2

    (B)SALDO

    (A) (B)

    H I S T R I C O

    1997 18.426 3.092 15.334

    1998 22.916 3.274 19.642

    1999 20.241 2.356 17.885

    2000 19.492 1.446 18.046

    2001 27.496 8.254 19.242

    2002 26.545 7.928 18.617

    2003 29.939 7.889 22.050

    2004 27.698 6.961 20.737

    2005 42.818 7.032 35.786

    2006 45.574 6.011 39.563

    2007 55.357 7.141 48.216

    2008 57.201 8.199 49.902

    Fonte: AMB (DNPM), Sumrio Mineral (1998-2009)1. Produo e Importao de xido de Nb e contido na liga FeNb2. Consumo Aparente

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    A atual crise gera um cenrio de incertezas, incluindo o compor-tamento microeconmico da indstria do nibio. No se sabe em qual magnitude a crise afetar os pases emergentes: Rssia, China, Brasil e ndia, especialmente os dois pases asiticos demandantes de matrias-primas, como o petrleo e insumos minerais. Alm disso, os EUA re-presentam aproximadamente 25% do PIB mundial e 30% do consumo, ou seja, mesmo se os pases emergentes mantiverem um crescimento sustentado, o crescimento destes pode no contrabalancear o cenrio recessivo na Amrica do Norte e na Europa nos prximos anos. Outro aspecto relevante, diz respeito simbiose econmica entre os EUA e a China. A renda dos habitantes dos EUA no aumentou, mas seu poder de compra aumentou em funo da queda do preo dos produtos, em sua maioria importados da China, nos ltimos anos. Isto impulsionou o crescimento econmico chins e suas exportaes, gerando supervits neste pas, aplicados em ttulos do governo estadunidense. A indstria do petrleo tambm foi afetada pela crise, mas tam-bm tem gerado muitas incgnitas sobre o comportamento do preo da commodity nos prximos anos. Uma srie de fatores envolvendo oferta e demanda poder influenciar os preos. Se a demanda foi du-ramente arrefecida pela atual crise, da qual no se sabe a sua durao nem sua intensidade, o que colocou o preo do barril de petrleo a patamares prximos de US$ 50,00; o comportamento na oferta depen-der fortemente da resposta dada aos pases produtores de petrleo aos efeitos desta crise, sobretudo os membros da OPEP (Organizao dos Pases Exportadores de Petrleo). O comportamento na demanda depender das polticas energticas de diversos pases que procuram fontes alternativas e/ou maneiras de consumir com menos intensida-de o insumo petrolfero. A indstria automobilstica foi seriamente afetada pela crise internacional, incluindo a indstria brasileira j mencionada. As in-dstrias automotivas dos EUA, Alemanha, Gr-Bretanha e Itlia j recorreram ao auxlio de crdito estatal, a exemplo do setor bancrio, intensificando o temor de uma longa e dolorosa recesso no primeiro mundo. A General Motors ostenta o maior rombo entre as montadoras estadunidenses, alm da Ford e Chrysler, tendo perdas de US$ 2,5

    bilhes no terceiro trimestre de 2008 e o valor de suas aes atingi-ram o nvel mais baixo em seis dcadas, reflexo do setor automotivo daquele pas, cujas vendas despencaram, e 2008 terminou com o pior resultado no setor, desde os anos 1970. Algumas medidas de apoio ao setor foram adotadas por gover-nantes de alguns pases. Na Frana, o presidente Nicolas Sarkozy anun-ciou em dezembro, um pacote de US$ 13,26 bilhes (10,5 bilhes) para socorrer empresas francesas, principalmente, as duas montadoras Renault e Citren. Nos EUA, o governo injetou at o comeo de julho US$ 50 bilhes em emprstimos oriundos do tesouro daquele pas para socorrer a GM, que esteve em concordata por 40 dias, desde 01 de junho, alm disso, a empresa passou por uma profunda reformula-o. A nova GM ser formada por apenas quatro marcas (Chevrolet, Cadillac, Buick e GMC), tendo o governo estadunidense como acionis-ta majoritrio (60%) e comear com apenas US$ 11 bilhes em dvi-das, sendo que outros US$ 40 bilhes em dbitos ficam com antiga GM, sob anlise judicial e parte deste dbito ser eliminado com as vendas da europia OPEL e da canadense Magma. O presidente Barack Obama se empenhou tambm em socorrer a Chrysler, transferindo seu controle para o grupo italiano FIAT.

    8. APNDICES

    8.1 GLOSSRIO DE ABREVIATURAS E SMBOLOS

    ACESITA (Aos Especiais Itabira)

    AIE (Agncia Internacional de Energia)

    ANFAVEA (Associao Nacional dos Veculos Automotores)

    ARBL (Ao de alta resistncia e baixa liga)

    BRICs Sigla referente a Brasil, Rssia, ndia e China. O termo um acrnimo da palavra inglesa bric (tijolo) e faz referncia aos pases emergentes, com elevado potencial de crescimento econmico nos prximos anos

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    CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Minerao)

    CNEN (Comisso Nacional de Energia Nuclear)

    CNPC (China Nacional Petroleum Coorporation): Companhia Nacional de Petrleo Chinesa

    CNTP (Condies Normais de Temperatura e Presso):

    CPRM (Companhia de Pesquisas e Recursos Minerais)

    FENABRAVE (Federao Nacional dos Veculos Automotores)

    FeNb (liga Ferro-Nibio)

    FIAT (Fabbrica Italiana Automobili Torino, Fbrica Italiana Automveis Turim)

    FMI (Fundo Monetrio Internacional)

    GM (General Motors)

    IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados)

    IPT (Instituto de Pesquisas Tecnolgicas)

    ITI (Instituto de Tecnologia Industrial)

    LHC (sigla em ingls para grande colisor de hdrons)

    NbC (liga nibio-carbono)

    Nibio (Nb)

    OMC (Organizao Mundial do Comrcio)

    OPEP (Organizao dos Pases Produtores de Petrleo)

    PIB (Produto Interno Bruto)

    Pirocloro (Nb2O5)

    RADAM (Projeto Radar na Amaznia)

    Tep-Tonelada Equivalente de Petrleo

    USIMINAS (Usinas Siderrgicas de Minas Gerais)

    US$ (FOB)-Dlar free on board. Valores de exportao isentos de cus-to, frete e seguro

    8.2 TEC

    8.3 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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