Nísia floresta da sala de aula para a literatura

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Universidade Federal do Rio Grande do SulFaculdade de EducaçãoHistória da Educação

Nome: Bruna Vieira Dorneles

Nísia Floresta: da sala de aula para a literatura

Nísia Floresta, uma Biografia:

Dionísia Gonçalves Pinto nasceu em 12 de outubro de 1810, em Papari, no Rio Grande do Norte – hoje esta cidade tem o seu nome. Filha do português Dionísio Gonçalves Pinto e da brasileira Antônia Clara Freire casou-se cedo, aos 13 anos, com Manuel Alexandre de Melo, mas logo se separou, voltando a residir com os pais.

No ano de 1828, seu pai fora assassinado em Recife a mando de um represente da elite pernambucana, pois era um advogado que contrariava os interesses de muitos poderosos. Neste mesmo ano, casou-se com Manuel Augusto de Faria Rocha, pai de sua filha Lívia – nascida dois anos depois. Em 1833, Nísia vive um ano de sentimentos contraditórios. Em janeiro deste ano, nasceu seu segundo filho, Augusto Américo. Entretanto, no mês de agosto, seu esposo falece, deixando-a sozinha com dois filhos pequenos.

Adotou um pseudônimo assim que começou a publicar suas obras. Passou a chamar-se, então, Nísia (final do seu nome) Floresta (nome do sítio onde nasceu) Brasileira (símbolo do ufanismo) Augusta (recordação do 2º marido).

Nísia Floresta marcou a história da educação feminina no Brasil. Foi através do seu papel como educadora que lutou por aquilo que almejava, proporcionando um ensino diferenciado ao que era oferecido às mulheres no século XIX. É lembrada, dois séculos depois, como precursora dos ideais feministas no nosso país.

“Nísia Floresta, uma voz feminina revolucionária, denunciava a condição de submetimento em que viviam as mulheres no Brasil e reivindicava sua emancipação, elegendo a educação como o instrumento através do qual essa meta seria alcançada.” (Guacira Lopes Louro, 2006, pág. 443).

Nísia e a Educação:

“Às mulheres o conhecimento e não apenas o bordado.” Uma das frases que mais se tem conhecimento escrita por Nísia Floresta, muito nos diz sobre sua luta e todo o trabalho que fez para a educação feminina brasileira.

Em 1832 Nísia mudou-se para Porto Alegre com o esposo e a filha Lívia. O pequeno Augusto nascera no ano seguinte (quando, também, o marido falecera). Aos vinte e três anos, Nísia vivia com os dois filhos, com a mãe e duas irmãs, já lecionando na capital gaúcha – onde residiu por quatro anos.

É sabido que Nísia trocou correspondências com Anita e Giuseppe Garibaldi, até 1835, quando teve início a revolução farroupilha. Numa tentativa de fugir de tal conflito, partiu com sua família para o Rio de Janeiro.

Em 1838, após ter chegado ao RJ, Nísia Floresta fundou o Colégio Augusto, dedicado a educação feminina. O currículo desta escola foi inovador, pois na sua prática pedagógica implementou disciplinas que antes estavam restritas aos homens.

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As mulheres, até então, tinham apenas o direito de aprender a doutrina cristã. a ler, escrever e contar. Enquanto, para os homens, eram ensinados noções de geometria, às mulheres ensinavam-se noções de bordado e costura.

A proposta pedagógica de Nísia Floresta, instituída no Colégio Augusto, incluía os ensinos de Ciências, de História e Geografia, de línguas estrangeiras como o latim, o inglês, o italiano e o francês – juntamente de suas respectivas gramáticas e literaturas – e a prática de educação física. Propunha o número reduzido de alunas por turma, objetivando a qualificação do ensino. Os avanços pedagógicos propostos por Nísia foram muito criticados pela sociedade da época, pois acreditava-se que tudo que fosse alheio às praticas domésticas, não dizia respeito às mulheres.

Enquanto a educação de homens era voltada para as funções públicas, a educação feminina estava voltada para as práticas domésticas e para a maternidade. Sua educação estava justificada por seu destino de ser mãe. Portanto, entende-se que a educação era dada a partir de sua função social. Por esse motivo, a educação para ambos os sexos era tão distinta, uma vez que homens e mulheres ocupavam papeis diferentes na sociedade.

“[...] mulheres deveriam ser mais educadas do que instruídas, ou seja, para elas, a ênfase deveria recair sobre a formação moral, sobre a constituição do caráter; sendo suficientes, provavelmente, doses pequenas ou doses menores de instrução. [...] não havia porque mobiliar a cabeça da mulher com informações ou conhecimentos, já que seu destino primordial – como esposa e mãe – exigiria, acima de tudo, uma moral sólida e bons princípios.” (LOURO, 2006, pág. 446).

Nísia acreditava que a mulher deveria ser educada para poder criar bem os seus filhos, entretanto, seu pensamento ia além. Concluía que mulheres tinham tanta capacidade quanto os homens para assumir as mesmas responsabilidades que eles.

“Por que a ciência nos é inútil? Porque somos excluídas dos cargos públicos; e por que somos excluídas dos cargos públicos? Porque não temos ciência [...] Eu digo mais, não há ciência, nem cargo público no Estado, que as mulheres não sejam naturalmente próprias a preenchê-los tanto quanto os homens.” (FLORESTA, 1989, pág. 52 e pág. 73).

Adauto Câmara descreveu Nísia como “aquela mulher metida a homem, pregando a emancipação de seu sexo, batendo-se pela extinção da odiosa tirania masculina.” Isto porque as mulheres que lutassem para ter um nível de escolarização igual ou elevado ao dos homens estavam indo contra a sociedade e às normas impostas por uma hierarquia de gêneros. Segundo Guacira Lopes Louro,

“[...] por muito tempo, a ignorância foi considerada como um indicador de pureza, o que colocava as mulheres não ignorantes como não-puras. [...] Isso poderia levá-las a uma outra representação: à de mulher-homem.” (2006, pág. 469).

Para disseminar ainda mais a sua pedagogia, Nísia criou e dirigiu outra escola no Rio de Janeiro, na qual chamou Escola Brasil. Ela foi professora em quase todas as disciplinas ensinadas.

No artigo “A contribuição de Nísia Floresta para a educação feminina”, Lucina Martins Castro afirma que

“Para Nísia, a tarefa da mulher era árdua, sua formação deveria abranger vários níveis de aprendizado, como a educação moral, intelectual e religiosa.

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A mulher deveria ser um exemplo de virtude. Talvez, em sua concepção essa fosse a forma mais fácil de alcançar o respeito e a valorização social.”

Escreveu inúmeros artigos sobre educação e publicou livros denunciando a opressão na qual estavam submetidas as mulheres, seu inconformismo com a condição social da mulher no século XIX e os preconceitos enfrentados por elas, vindos da sociedade patriarcal brasileira.

Nísia Floresta e a Literatura:

Nísia estreou nas letras em 1931, com a publicação de artigos no jornal pernambucano “Espelho das Brasileiras”. Ela tratava, principalmente, sobre a condição feminina em diversas culturas. Entretanto, já havia um ano que adquiriu uma forte presença na imprensa, debatendo questões polêmicas da época.

Por todo o preconceito que enfrentou, seu nome não costuma ser citado na história da literatura brasileira – como escritora romântica – e na história da educação feminina – como educadora.

Nísia recebeu o título de precursora do feminismo no Brasil, pois não há registros de textos escritos anteriormente com esta intenção. Ela lutou pelos direitos das mulheres submissas, analfabetas e anônimas.

Foi uma das primeiras mulheres brasileiras a publicar textos em jornais. Publicou contos, crônicas, poesias e ensaios.

Em 1832 publica seu primeiro livro Direito das mulheres e injustiça dos homens, com 22 anos de idade. É uma tradução livre de Vindication of the Rright of Woman, de Mary Wollstonecraft. Trata da opressão sofrida pela mulher, numa época em que elas deveriam ceder sempre à vontade dos homens. Um ano depois, saiu a 2ª edição do livro em Porto Alegre. Até 1839 já estava na 3ª edição. Nísia acrescentou suas ideias na tradução e adaptou o texto à sociedade brasileira, fazendo assim um novo livro.

O livro de Mary Wollstonecraf foi citado em A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, lançado em 1844. No artigo “Escritoras, escritas, escrituras” – in História das mulheres no Brasil – de Norma Telles, a autora comenta a menção no livro de Macedo, acusando-o de ironia.

“O livro é mencionado como irônica zombaria quando um jovem descreve Carolina: ‘a bela senhora é filósofa!... faze ideia! Já leu Mary de Wollstonecraft e como esta defende o direito das mulheres’ [...] O autor não explica quem é Mary Wollstonecraft e não há outras alusões ao livro, o que leva a pensar em leitores que entendiam o que liam.” (IBIDEM, pág. 407).

Outra obra importante de Nísia é Opúsculo Humanitário, publicado em 1853 no Rio de Janeiro. Trata da história da condição feminina, desde a antiguidade clássica até o séc. XIX.

Nísia, em suas obras, denuncia a visão da mulher como classe oprimida, luta por uma sociedade mais justa e valoriza a função feminina da maternidade. Entende que o progresso da sociedade depende da educação que é oferecida à mulher, pois é ela quem vai ter o primeiro contato com os filhos e que, por sua educação, tornar-se-ão homens bons ou maus.

Nísia Floresta lançou diversas outras obras. Entre elas estão Conselhos à minha filha (1842), Fany ou o modelo das donzelas (1847), Daciz ou a jovem completa (1847), Discurso que às suas educandas dirigiu Nísia Floresta Brasileira Augusta (1847), A

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Lágrima de um Caeté (1849), Dedicação de uma amiga (1850), Páginas de uma vida obscura – um passeio ao aqueduto carioca- pranto filial (1854), Itinerário de uma viagem à Alemanha (1857), Cintilações de uma alma Brasileira (1859), entre outros.

Nísia faleceu na França, em 1885. Três anos depois, foi editado um livro com cartas enviadas a ela por Auguste Comte, Sete Cartas Inéditas de Auguste Comte à Nísia Floresta.

A obra A lágrima de Caeté é um poema de 712 versos e traz os posicionamentos da autora em relação ao indígena. Nísia poderia ser considerada como representante do romantismo brasileiro, por apresentar características presentes nesta escola literária, como o elogio à natureza e a exaltação dos valores indígenas. O diferencial deste poema, comparado aos demais escritores românticos, como José de Alencar, por exemplo, em Iracema ou O Guarani, é que Nísia não traz a visão do índio-herói que luta, mas sim, o índio derrotado e inconformado com a opressão da sua raça pelo branco invasor.

Nesta obra, Nísia Floresta retrata com tamanha compaixão a dor do indígena. Ela trata da perda de identidade dos índios, que os autores românticos tentavam esconder.

Como viajou muito pela Europa, escrevia suas impressões de lugares que ia conhecendo, através de relatos de viagem, escritos em forma de diário ou de cartas aos parentes distantes. Observava os tipos humanos e os descrevia com sensibilidade. Fazia suas descrições com riquezas de detalhes e falava sobre as bibliotecas, os parques, os museus, igrejas, etc. Tais memórias tiveram uma inusitada importância no Romantismo Brasileiro – pela valorização da natureza e de paisagens exuberantes.

“É triste ver-se, querer-se bem, para deixar-se logo em seguida! São, assim, no entanto, as ligações de turistas! Meu espírito ama as viagens, meu ser físico nelas se compraz, mas meu coração nunca será viajante.” (NÍSIA FLORESTA).

Atualmente, na novela Lado a Lado – transmitida pela Rede Globo – há uma personagem chamada Laura, que foi inspirada, entre outras, na figura de Nísia Floresta.

Referências:

PRIORE, Mary Del. (organizadora). História das mulheres no Brasil, São Paulo, Editora Contexto, 2006.

FLORESTA, Nísia. Opúsculo humanitário, São Paulo, Editora Atual, 1989.

CASTRO, Luciana Martins. “A contribuição de Nísia Floresta para a educação feminina”, 2010.

www.projetomemoria.com.br

http://www.editoramulheres.com.br/cartasnisia.htm

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