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Cadernos do IDN Julho de 2009 Nº 3 II Série Agostinho Paiva da Cunha Conhecer o Islão Nos dias de hoje somos constantemente bombardeados com notícias relevantes referentes ao mundo islâmico, as quais comportam uma miríade de termos e conceitos que escapam na sua quase totalidade à maioria dos leitores ou dos ouvintes. Mais ainda, esta falta de um conhecimento mais aprofundado sobre certas questões que nos são alheias tem originado muitas vezes, no mundo ocidental, percepções e juízos de valor pouco correctos sobre outras civilizações, o que por sua vez tem levado a mal entendidos e a crispações que poderiam facilmente ser obviados com um olhar mais atento sobre as realidades em questão... Instituto da Defesa Nacional

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Cadernos do IDNJulho de 2009

Nº 3 II Série

Agostinho Paiva da Cunha

Conhecer o Islão

Nos dias de hoje somos constantemente bombardeados

com notícias relevantes referentes ao mundo islâmico, as

quais comportam uma miríade de termos e conceitos que

escapam na sua quase totalidade à maioria dos leitores ou

dos ouvintes. Mais ainda, esta falta de um conhecimento

mais aprofundado sobre certas questões que nos são

alheias tem originado muitas vezes, no mundo ocidental,

percepções e juízos de valor pouco correctos sobre outras

civilizações, o que por sua vez tem levado a mal entendidos

e a crispações que poderiam facilmente ser obviados com

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Os Cadernos do IDN II Série resultam de eventos promovidos pelo Instituto da Defesa Nacional, contribuindo para o debate sobre questões nacionais e internacionais. As perspectivas são da responsabilidade dos autores não reflectindo necessariamente uma posição institucional do Instituto da Defesa Nacional sobre as mesmas.

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“Living together in peace has proved tragically difficult. We must try harder to bring shared values to life. With knowledge and leadership, we can live up to the best of all our traditions, and ensure human dignity for all. “1

BAN KI-MOON

“Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso”2

Nos dias de hoje somos constantemente bombardeados com notícias relevantes referentes ao mundo islâmico, as quais comportam uma miríade de termos e conceitos que escapam na sua quase totalidade à maioria dos leitores ou dos ouvintes. Mais ainda, esta falta de um conhecimento mais aprofundado sobre certas questões que nos são alheias tem originado muitas vezes, no mundo ocidental, percepções e juízos de valor pouco correctos sobre outras civilizações, o que por sua vez tem levado a mal entendidos e a crispações que poderiam facilmente ser obviados com um olhar mais atento sobre as realidades em questão.

O Islão actual, ao contrário das culturas ocidentais, encontra-se arreigado nas suas tradições próprias e mantém como característica intrínseca a não separação da vida pública e privada do cidadão, ou melhor dizendo, do crente muçulmano, continuando a abraçar um conceito de sociedade que é essencialmente teocrático, onde não existe uma separação clara entre a religião e o direito. O Islão, visto pelos crentes muçulmanos simultaneamente como um modo de vida e uma religião, inclui instruções que se relacionam com todos os aspectos da actividade humana, ideal que inspira o próprio Direito islâmico. Assim, na sociedade islâmica, o termo Direito encontra-se imbuído de um significado muito mais amplo do que o utilizado pelo ocidente moderno e secularizado, pois engloba imperativos legais e morais, contrapondo-se à natural distinção ocidental entre o temporal e o espiritual.

Esta diferente forma de ver o mundo não é contudo motivo para a legitimação de um xenofobismo ocidental crescente, nem representa, na sua essência, uma tendência para o extremismo violento, não sendo sinónimo de radicalismo como muitas vezes é percebido pelas culturas ocidentais que demasiadas vezes o exploram para satisfação de interesses próprios, sejam eles políticos, estratégicos ou de controlo de recursos.

Considerando ser fundamental um conhecimento mínimo dos valores perfilhados por cada interveniente na cena internacional e, em linha com a perspectiva das democracias liberais, a aceitação das respectivas diferenças, decidi empreender este trabalho não só como uma forma de ajudar o leitor a arrumar as ideias, mas também como mais um contributo para o bom entendimento entre os povos, caminho que em minha opinião considero ser o mais adequado para a verdadeira manutenção da paz internacional. Através de uma explicação prática realço os motivos que originam e sustentam algumas das posições e dos entendimentos do Islão, procurando desfazer preconceitos e desmistificar as crenças que usualmente envolvem o Islamismo e que, quase invariavelmente, implicam também o seu relacionamento com as actividades radicais violentas.

1 Discurso do Secretário-geral da ONU à Assembleia-geral durante o encontro “High-Level Meeting on Culture of Peace”, em 12 de Novembro de 2008. 2 Frase com que começam todos os capítulos do Alcorão.

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Não reclamando o presente trabalho ser uma narrativa abrangente ou um estudo aprofundado sobre o Islamismo, mais do que uma história detalhada ou um manual científico é uma reflexão temática que contem um resumo de termos e conceitos coligidos sobre esta religião, somente uma caracterização geral e uma sistematização da nebulosa das suas interpretações. Pretende-se desta forma habilitar o leitor, em apenas meia dúzia de páginas, com o conhecimento elementar dos aspectos conceptuais mais relevantes, os principais marcos e ritos, e os mais importantes movimentos e seitas existentes no Islão, enquadrando-os no ambiente onde se situam e relacionando-os com o actual sistema internacional.

Sublinha-se ainda que o presente ensaio constitui uma tentativa de análise imparcial e desapaixonada, um trabalho interpretativo com a intenção de objectivar os conceitos numa perspectiva prática de compreensão dos seus aspectos, que de alguma forma contradiz teorias mais dramáticas como as do “Choque das Civilizações”, de Samuel P. Huntington.

Inclui-se, adicionalmente, um périplo pelo mundo islâmico, com uma descrição sumária da situação vivida em alguns dos países onde a presença do Islão é significativa, essencialmente os que de alguma forma têm evidenciado movimentos ou actividades fundamentalistas, pelas repercussões que podem ter no contexto da segurança regional e internacional.

Termino com uma breve explanação sobre as classificações geográficas mais comuns ligadas ao Islamismo e aos

“orientes”, e com um glossário de termos do Islão, como instrumentos para uma melhor orientação do leitor menos familiarizado com estas designações específicas.

Espero, assim, que o presente manual seja um útil guia prático e um contributo para o esclarecimento do leitor comum,

que possibilite a introdução e o melhor entendimento básico sobre o Islão e, ainda que de forma mais ou menos abreviada, permita aguçar a curiosidade do leitor para um aprofundamento posterior sobre a matéria.

Agostinho Paiva da Cunha

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1. Principais termos do Islão

O Islão ou islamismo é uma religião monoteísta que surgiu no século VII na Península Arábica, baseada nos ensinamentos religiosos do profeta Maomé3 e numa escritura sagrada, o Alcorão. O monoteísmo é a ideia central do Islão, que advoga a crença num Deus único e omnipotente (Alá). Resumidamente, para o Islão, Deus criou o Universo e compete-lhe também mantê-lo. Aliás, Deus desempenha quatro funções fundamentais no Universo e na humanidade: criação, sustentação, orientação e julgamento, que se conclui com o dia do Juízo Final, no qual a humanidade será reunida e todos os indivíduos serão julgados de acordo com seus actos. A natureza, por sua vez, está subordinada ao homem, que a pode explorar e dela beneficiar. O objectivo humano último consiste porém em existir para o “serviço de Deus”.

O termo Islão (em árabe al-islām) deriva da quarta forma verbal da raiz slm, aslama, e significa "submissão" (a Deus), ideia que inspira o fundamento desta religião – o crente (muçulmano) aceita render-se ou submeter-se à vontade de Alá.

A palavra Alá (em árabe Allāh ou Allah: “Deus”) designa o único e verdadeiro Deus do Islão. A palavra Allah é uma contracção de Al-ilāh, ou seja, “o Deus”, sendo a sua tradução mais correcta de “Deus”, com maiúsculas, dado que se refere ao Deus único. A palavra “deus” com minúsculas, que se refere a qualquer outra divindade, é ilāh (no plural ilāhāt).4

O termo Muçulmano deriva da palavra muslim (pl. muslimún), particípio activo do verbo aslama, designando "aquele que se submete" ou, textualmente, “submisso”. O muçulmano submete-se ao Corão (ou Alcorão) e à palavra de Alá, ou seja, à vontade de Deus. Há ainda quem defenda5 que sendo Muslim uma derivação do verbo aslama, palavra especializada no árabe moderno com o sentido de “se tornar muçulmano”, ou “converter-se ao Islamismo”, de facto, a verdadeira etimologia da raiz implicaria uma diferença subtil: a raiz slm tem um significado primordial de “ausência de contestação”, daí o sentido bem conhecido da palavra salâm - “paz”, “saúde” - e, no hebraico (língua próxima) - shalom; assim, o verbo derivado aslama deveria significar “pôr-se de paz com” ou “fazer a paz”, em vez de meramente submisso. Em conformidade, num sentido mais abrangente, o muçulmano seria, portanto, aquele que se põe de paz com Deus e que coloca a existência de Deus e o seu poder acima de tudo.

Em textos mais antigos os muçulmanos podem ser também designados como "maometanos", termo que tem vindo a cair em desuso porque implica, incorrectamente, que os muçulmanos adoram Maomé, o que torna este termo ofensivo para muitos. Durante a Idade Média, nas lendas e narrativas populares cristãs, os muçulmanos podiam igualmente ser designados como “sarracenos”, especialmente os da Síria e da Palestina, ou ainda por “mouros”, embora este último termo designasse mais concretamente os muçulmanos berberes, naturais do Magreb, que se encontravam na Península Ibérica.

O Alcorão ou Corão (em árabe Qur'an) significa literalmente “recitação” ou “livro” e contém a palavra de Alá. Os muçulmanos acreditam que Maomé recebeu estes ensinamentos por intermédio do anjo Gabriel (Jibreel), o arcanjo da revelação, através de revelações que ocorreram entre 610 e 632 d.C. Os muçulmanos acreditam assim que Deus, e não o Profeta, é o autor destas revelações e, por isso, o Alcorão é infalível. Apesar desta diferenciação, Maomé é para os muçulmanos a encarnação da perfeição de Deus no homem e um exemplo a seguir6. Maomé recitou depois as revelações aos seus companheiros, que as memorizaram e se diz terem escrito em materiais que tinham na altura à disposição (folhas de palmeira, omoplatas de camelo, pedras, etc.). De acordo com a tradição islâmica, Maomé era analfabeto, pelo que as revelações a Maomé só posteriormente foram reunidas pelos seus companheiros e seguidores em forma de livro, o qual se estima ter sido composto entre 650 e 656 d.C., durante o califado de Otman. 7

O Alcorão descreve as origens do Universo, o Homem e as suas relações com o Criador. Define ainda leis para a sociedade, moral, economia e muitos outros temas, tendo sido escrito com o intuito de ser recitado e memorizado. Para os muçulmanos o Alcorão é a palavra sagrada e imutável de Deus que fornece as respostas acerca das suas necessidades humanas diárias, tanto espirituais como materiais.

3 Abū al-Qāsim Muhammad (Maomé), considerado o último profeta de Deus e fundador do Islão. Nasceu na cidade de Meca, no ano 570 d.C. e pertencia a um ramo pobre de uma das mais notáveis famílias do seu país, a tribo beduína Coraixita (Quraysh; “ tubarão”), dos Banu Hāshim, pertencente ao clã Ashemita (ou Haxemita). 4 “Allah” - Encyclopaedia Britannica, 2007. 5 Segundo Paulo Mendes Pinto, em “Re-ligare”, Religião, Sociedade e Cultura - blog dos Docentes e Investigadores da área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona (Lisboa). 6 Segundo transcrição de David Bukey no seu livro “From Muhammad to Bin Landen” (p.13), o próprio Maomé encorajaria esta tendência dizendo “nenhum de vocês terá fé até me amar mais que a sua fé, os seus filhos e toda a humanidade”. 7 “Hadith collections”, Compendium of Muslim Texts - University of Southern California.

Agostinho Paiva da Cunha Coronel

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O Alcorão está estruturado em 114 capítulos chamados suras e cada sura está subdividida em versículos denominados ayat8. Os capítulos possuem tamanho desigual (o menor possui apenas 3 versículos e o mais longo 286 versículos) e estão dispostos aproximadamente de acordo com o seu tamanho e não de acordo com a ordem cronológica da sua revelação. Considera-se que 92 capítulos foram revelados ao Profeta em Meca e 22 em Medina (Yatrib), cidade onde o Profeta se refugiou quando perseguido e onde viria a falecer no ano 632 d.C., com 62 anos9.

2. Os pilares do Islão

O Islão ensina seis crenças principais:

• A crença em Alá, único Deus existente;

• A crença nos Anjos10, seres criados por Alá;

• A crença nos Livros Sagrados, entre os quais se encontram a Tora, os Salmos e o Evangelho11. O Alcorão é o último e o

mais completo livro sagrado, constituindo a colectânea dos ensinamentos revelados por Alá ao profeta Maomé;

• A crença em vários profetas enviados à humanidade12, dos quais Maomé é o último;

• A crença no dia do Julgamento Final, no qual as acções de cada pessoa serão avaliadas;

• A crença na predestinação: Alá tudo sabe e possui o poder de decidir sobre cada pessoa.

A mensagem central do Islão caracteriza-se pela sua simplicidade. Para atingir a salvação basta acreditar num único Deus (Alá), rezar cinco vezes por dia, submeter-se ao jejum anual no mês do Ramadão, pagar dádivas rituais e efectuar uma vez na vida uma peregrinação à cidade de Meca.

8 Ayah (pl. Ayat) – este termo designa literalmente “sinal” ou “milagre”, mas na sua utilização mais comum esta palavra refere-se a cada um dos 6.236 versículos do Alcorão. 9 Em “Jesus e Maomé, Profetas de Deus!”, Rui Palmela, novaera-alvorecer.net. 10 Os Anjos foram criados por Alá a partir da luz e desempenham diversos papéis, entre os quais o anúncio da revelação divina aos profetas; protegem e vigiam ainda os seres humanos, registando todas as suas acções. 11 A revelação dada a Abraão perdeu-se (o livro de Ibrahim), a lei dada a Moisés foi a Tora (Taura), a David foram dados os Salmos (o Zabûr) e a Jesus o Evangelho (o Injil). 12 Os muçulmanos acreditam que Deus usou os profetas para revelar as escrituras aos homens. Acreditam ainda em todos os profetas cristãos e judeus, incluindo Adão, Noé, Abraão, Ismael, Isaac, Jacob, José, Job, Salomão, Elias, João Batista e Jesus.

Kaaba em Meca

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Os 5 pilares do Islão (arkan al-Islam) são pois os 5 deveres básicos de cada muçulmano:

1º - A recitação e aceitação do credo (em árabe Chahada ou Shahada: o testemunho ou afirmação de fé) - A profissão de fé consiste numa frase que deve ser dita com a máxima sinceridade, através da qual cada muçulmano atesta que não há outro deus senão Alá e Maomé é seu servo e mensageiro. De acordo com a maioria das escolas islâmicas, para se converter ao Islão é necessário proclamar três vezes a Shahada perante duas testemunhas: “Achadu ala ilaha ila Allah. Achadu ana Mohammad Rassululah” – “Testemunho que não há outra divindade senão Alá. Testemunho que Maomé é seu profeta mensageiro”. Os muçulmanos xiitas têm por costume acrescentar ainda "e Ali ibn Abi Talib é amigo de Deus"13. Esta frase também é dita quando se chama à oração (em árabe azan ou esan).

2º - Orar cinco vezes ao longo do dia (em árabe Salat ou Salah) - A palavra salat significa "santificar". Assim, o segundo pilar do Islão consiste na santificação e glorificação de Deus através da prática da oração, que deve ser efectuada cinco vezes por dia, em períodos concretos. Esses períodos não correspondem a horas, mas a etapas do curso do sol. Durante a oração os muçulmanos olham em direcção à Caaba14, em Meca. Antes de cada oração comunitária é feita uma chamada pública pelo muezim, a partir do minarete da mesquita.

O dia sagrado dos Muçulmanos é a sexta-feira (jummâ) - o Profeta Adão foi enviado ao mundo numa sexta-feira, o Profeta Moisés atravessou o rio Nilo numa sexta-feira, a primeira revelação do Corão a Maomé foi feita numa sexta-feira e está previsto que o Dia do Julgamento Final terá lugar igualmente numa sexta-feira. Os Muçulmanos juntam-se todas as sextas-feiras nas Mesquitas, depois do meio-dia, para a oração congregacional de jummâ, onde o Imã (dirigente do culto islâmico) faz o sermão (khutba) e dirige a oração congregacional.

3º - Pagar tributo (em árabe Zakat ou Zakah) - A contribuição de purificação é um tributo religioso, muitas vezes impropriamente traduzido como esmola, e significa, literalmente, "crescer" ou "aumentar": "recebe, de seus bens, uma caridade, que os purifica e os engrandece" (Alcorão 9:103). O seu pagamento é anual e obrigatório para todos os muçulmanos. De uma maneira geral o zakat incide sobre 2,5% da riqueza de cada muçulmano, que pode escolher a altura do ano mais adequada para o pagar, embora muitos optem por fazê-lo no mês sagrado do Ramadão. Este tributo será depois distribuído pelos pobres, em dinheiro ou em espécie.

4º - Observar o jejum no Ramadão (em árabe Saum ou Siya) – O Ramadão é o nono mês do calendário islâmico durante o qual os muçulmanos praticam o seu jejum ritual (saum), o quarto pilar do Islão. Sendo o calendário islâmico lunar15, o Ramadão não é celebrado cada ano na mesma data, podendo passar por todas as estações do ano.

13 Ali ibn Abi Talib pode ainda aparecer graficado como Ali ben Abu Talib (600 a 661 d.C.) e foi o quarto Califa sucessor de Maomé. Nasceu em Meca onde o seu pai, Abu Talib, era um tio do Profeta. Ali foi adoptado por Maomé e educado ao seu cuidado (ver à frente o Islão Sunita e Xiita). 14 A Caaba ou Kaaba (também conhecida como Ka'bah ou Kabah) é uma construção reverenciada pelos muçulmanos na mesquita sagrada de Al Masjid Al-Haram, em Meca, sendo considerada como o lugar mais sagrado do mundo. A Caaba é uma construção cúbica de 15 metros de altura, cercada por muros, e está coberta permanentemente por uma manta escura com bordados dourados que é regularmente substituída. A Caaba é o local de adoração que Deus teria ordenado a Abraão e Ismael para construírem, há aproximadamente 4.000 anos. Foi feita em pedra e, muitos acreditam, foi o local original de um santuário estabelecido por Adão. Deus teria ordenado depois a Abraão para convocar toda a humanidade para visitar o local e quando os peregrinos lá vão recitam "Eis - nos aqui, ó Senhor!", em reposta a essa convocação. 15 O calendário islâmico baseia-se no ciclo lunar que mede o ano pelas 12 revoluções completas da Lua em torno da Terra, sendo, em média, 11 dias menor do que o ano solar. Foi introduzido pela primeira vez no ano 638 d.C. pelo segundo califa Umar ibn al-Khattab (592-644 d.C.). Tornando-se necessário racionalizar os vários sistemas de datas usados naquela época, Umar consultou os seus conselheiros sobre qual seria a melhor data de início da nova cronologia muçulmana e, finalmente, foi acordado que o acontecimento de referência mais adequado para o calendário islâmico era a Hégira - era muçulmana que tem como início a fuga de Maomé, de Meca para Medina. Para a data do início do calendário muçulmano foi escolhido, com base no ano lunar (contando-se para trás) o primeiro dia, do primeiro mês (1° de Muharram) do ano da Hégira. O 1° Muharram, do ano 1 AH., corresponde portanto ao dia 16 de Julho do ano 622 da era cristã. O calendário islâmico, dentro da era muçulmana, é normalmente abreviado pela letra H. ou AH., derivado do latim Anno Hegirae.

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O Ramadão é um mês sagrado, período de renovação da fé, da prática mais intensa da caridade e vivência profunda da fraternidade e dos valores da vida familiar. Neste período pede-se ao crente uma maior proximidade aos valores sagrados, leitura mais assídua do Alcorão, frequência à mesquita, correcção pessoal e auto domínio. O jejum é observado durante todo o mês, do nascer ao pôr-do-sol e aplica-se também ao fumo e às relações sexuais (o crente deve não só abster-se delas, como também não pensar nelas).

Para além destes preceitos específicos do Ramadão, tanto o homem como a mulher são comandados no Alcorão a aderir permanentemente às directrizes Islâmicas do comportamento e da forma de vestir discretas. Isto inclui não só o uso de vestimentas modestas (características dos muçulmanos), assim como a necessidade de que homens e mulheres que não tenham laços familiares não se reúnam sozinhos ou construam amizades uns com os outros fora do casamento (ver Alcorão 24:31). Se o homem e a mulher tiverem de interagir por qualquer motivo (por exemplo no mercado), ambos são comandados a baixar o olhar e a absterem-se de namoros e conversas desnecessárias. Um homem que se sinta atraído por uma mulher, que não a sua esposa, é comandado a evitar aquela mulher e ir para casa ter com a esposa, enquanto que ao homem não casado é recomendado o jejum, como forma de supressão do desejo sexual. O casamento realizado numa idade ainda muito jovem é altamente recomendado, tanto para homens como para mulheres, como meio de completar a fé e como solução para o lidar com as inúmeras tentações que poderiam conduzir ao pecado16. Acrescem ainda a estas instituições a permanentemente proibição do consumo de álcool e de carne de porco.

5º - Fazer a peregrinação a Meca (em árabe Hajj ou Hadj), se tiver condições financeiras para tal. É o último dos cinco Pilares do Islão17, sendo obrigatória pelo menos uma vez na vida para todo o muçulmano adulto, desde que disponha de meios económicos e goze de saúde. O Hajj só pode ser efectuado uma vez por ano, no Mês da Peregrinação (Dhu al-Hijja), ou seja, no último mês do calendário muçulmano, entre o 8º e o 12º ou 13º dia.

No Islão não existe uma autoridade oficial que decida se uma pessoa é aceite ou excluída da comunidade de crentes (a Umma ou Ummah). O Islão é aberto a todos, independentemente da sua raça, idade, género ou crenças prévias. É pois suficiente acreditar na doutrina central do Islão, acto que é formalizado pela recitação da shahada, o enunciado de profissão de fé, sem o qual uma pessoa não pode verdadeiramente ser considerada muçulmana.

3. A jurisprudência islâmica

As duas fontes fundamentais da doutrina e da prática islâmicas são o Alcorão, a escritura sagrada, e a Suna18, os exemplos do profeta. A Suna é conhecida graças aos Ahadith19, que são narrações acerca da vida do profeta e do que ele aprovava, que chegaram até nós graças a uma cadeia de transmissão oral a partir dos Companheiros de Maomé (Sahaba – o consenso dos companheiros do profeta). Uma terceira fonte de jurisprudência, já secundária, é o itjihad raciocínio individual), ao qual se recorre quando não há respostas claras no Alcorão ou na Suna sobre um dado tema. Neste caso o jurista raciocina por analogia (qiyas - casos análogos) para encontrar a solução para o problema em estudo. A quarta e última fonte de jurisprudência é a Ijma (consenso da Umma) ou Maslaha al Mursalah (benefícios), os quais não são porém amplamente aceites pelas diversas escolas de pensamento Islâmico20. Existem ainda algumas práticas, igualmente chamadas de Sharia, que têm raízes nos costumes locais (Al-urf).

16 Em “Comunidade Islâmica na Web”, myCIW.org. 17 Alguns grupos kharijitas existentes na Idade Média consideravam a jihad como o sexto pilar do Islão. Actualmente, alguns grupos do xiismo ismaelita entendem como sexto pilar do Islão a "fidelidade ao Imã". 18 Suna ou Sunnah é a vida do Profeta Maomé. Literalmente, o termo significa “caminho percorrido” contudo, o significado de “prática habitual” passou a imperar, indicando as palavras e actos específicos da vida do Profeta. 19 Hadith (pl. Ahadith) é o corpo de leis, lendas e histórias sobre a vida de Maomé (Suna) que incluem a sua biografia (sira) e os próprios dizeres e opiniões do Profeta, nos quais ele justificou as suas escolhas ou ofereceu conselhos. Ou seja, enquanto a Suna é o caminho ou feitos do Profeta, durante a sua vida, as Ahadith são a colecção das suas narrações, opiniões e aprovações, durante o mesmo período. As colecções Hadith de Sahih Bukhari e Sahih Muslim são consideradas pelos sunitas como as mais importantes. Para além destes dois livros, os Sunitas reconhecem ainda 4 outros livros como autênticos (não tão importantes como os de Bukhari e de Muslim) e todos juntos formam os chamados "Seis Livros" ou também “Kutubi-Sittah”. 20 e 21 Em “Termos Básicos em Jurisprudência Islâmica” - TeachIslam.com

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O corpo das leis religiosas muçulmanas, encontradas no Corão e na Suna, muitas vezes descritas como a lei islâmica, chama-se Sharia ou Xariá (também graficada como Charia, Shari'a, Shariah ou Syariah) e é a base do Islão, comandando a vida pública e privada de qualquer muçulmano. Ao contrário da cultura ocidental, no Islão não existe uma separação clara entre a religião e o direito. Todas as leis são religiosas e são baseadas ou nas escrituras sagradas ou nas opiniões de líderes religiosos. Em conformidade, o Islão é visto pelos crentes simultaneamente como um modo de vida e uma religião, que inclui instruções que se relacionam com todos os aspectos da actividade humana, sejam eles políticos, sociais, financeiros, legais, militares ou inter pessoais. O conceito islâmico de sociedade é assim teocrático, sendo que o objectivo de todos os muçulmanos é o "governo de Deus na Terra". A filosofia social islâmica baseia-se na crença de que todas as esferas da vida constituem uma unidade indivisível que deve estar imbuída dos valores islâmicos. Este ideal inspira o Direito islâmico (sharia) e, por isso, na sociedade islâmica, o termo Direito tem um significado muito mais amplo do que no Ocidente moderno e secularizado, pois engloba imperativos morais e legais. Para verdadeiramente perceber a conduta dos países muçulmanos é pois importante ter em atenção que a distinção ocidental entre o espiritual e o temporal é, em teoria, alheia ao Islão. Tal pressuposto é categoricamente deduzido, por exemplo, em ilações como as do sociólogo Ernest Gellner, no seu livro “Pós-modernismo, razão e religião” (1992), no qual refere especificamente que o Islão contraria a tendência para a secularização, presente nas restantes grandes civilizações. Apesar destas divergências, o Islão é a religião que mais cresce no mundo e coabita com iniciativas como a da República turca, bem como as de outros países islâmicos, que têm feito um apreciável esforço para a laicização do Estado.

As normas da Sharia para o dia-a-dia são cinco: as prescritas (Fard), recomendadas (Mandub), permissíveis (Mubah), não recomendadas (Makruh) e as ilícitas ou proibidas (Haram). A distinção entre elas é se a sua prática ou não-prática é recompensada, não recompensada, punida ou não punida. A norma prescrita (fard) também se refere quanto à sua obrigatoriedade (wajib), compulsoriedade (muhattam) ou necessidade (lazim). 21

A Sharia antiga tinha um carácter muito mais flexível do que aquele hoje associado com a jurisprudência islâmica (fiqh), e muitos académicos muçulmanos acreditam que devia ser renovada e que os juristas clássicos deveriam perder o seu actual estatuto prestigiado. Esta alteração implicaria a necessidade de formular uma nova fiqh, que fosse praticável no mundo moderno, como a proposta pelos defensores da islamização do conhecimento. Este movimento, não pretendendo alterar os pontos fundamentais do Islão, tenta evitar más interpretações e libertar o caminho para a renovação do estatuto do mundo islâmico, como um centro de pensamento moderno e de liberdade21.

A Fiqh22 é a metodologia utilizada para converter em legislação aplicável as normas do Corão e da Suna. Conhecida como “jurisprudência islâmica”, é sinónimo literal de "compreensão" ou "conhecimento" (linguisticamente Fiqh significa ter conhecimento em algo) e é constituída pelas decisões dos académicos islâmicos que dirigem as vidas dos muçulmanos. Como termo de jurisprudência, a Fiqh pode assumir dois significados distintos: ter conhecimento das regras da Sharia, que são extraídas das fontes legisladoras, ou, todas as leis islâmicas, sendo esta última definição praticamente sinónima ao termo Sharia. O conceito de Fiqh e Sharia como sinónimos não é unânime entre os estudiosos muçulmanos, acreditando a maioria que existem diferenças, como resumidamente realça Bilal Philips23:

• Sharia é o corpo das leis reveladas, encontradas no Corão e na Suna, enquanto Fiqh é o corpo de leis deduzidas da

Sharia para cobrir situações específicas não directamente tratadas nas leis da Sharia.

• A Sharia é fixa e imutável, enquanto Fiqh muda de acordo com as circunstâncias sob as quais ela é aplicada.

• Na sua maioria, as leis da Sharia são gerais e determinam princípios básicos. Em contraste, as leis de Fiqh tendem a ser

específicas, demonstrando como os princípios básicos da Sharia devem ser aplicados em determinadas circunstâncias.

21 Ver, por exemplo, o artigo “A Maneira Islâmica de Islamização” do Dr. Ahmad Shafaat publicado em primeira-mão no magazine islâmico"Al-Ummah" (1985). 22 Desenvolvido nas “Hadith collections” - Compendium of Muslim Texts - University of Southern California. 23 No livro "Evolution of Fiqh", publicado pela International Islamic Publishing House (p.2).

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A Fiqh pode ser dividida em duas partes: o estudo das fontes da lei e da metodologia (usul al-fiqh, raízes da lei) e as regras práticas ou normas legais (furu' al-fiqh, ramos da lei). A diversidade de fontes da jurisprudência islâmica e das suas possíveis interpretações leva-nos a aprofundar e especificar aqui o significado do termo “Usul Al Fiqh”, que designa a ciência da fonte e metodologia na Jurisprudência Islâmica, ou seja, a metodologia de extracção da fiqh. O conceito de Usul al Fiqh é pois comparável à metodologia da condução de uma experiência científica, sendo o conhecimento dessa metodologia o meio que capacita uma pessoa deduzir normas islâmicas das fontes legisladoras no Islão.

A colecção de princípios relacionados com a Usul al Fiqh é grande. Sendo necessário o domínio de diversas áreas para a sua dedução, realçam-se especialmente as seguintes: 24

• Conhecer a Língua Árabe: A importância de compreender a estruturação gramatical e léxico da língua árabe para compreender o correcto significado, por exemplo, de um Ayah (versículo do Alcorão) ou de um Hadith, para poder fazer a sua correcta interpretação. Um exemplo prático disto mesmo é, quando não se tem o pleno domínio da gramática árabe para interpretação das fontes legisladoras, dificilmente se poder dizer (deduzir) se um determinado acto é pecado (haram) ou apenas não recomendado (makruh).

• Interpretar os textos do Corão e da Suna: A menos que os textos do Corão e da Suna sejam correctamente compreendidos, nenhuma regra pode ser deduzida deles. O estilo do Alcorão é alusivo e elíptico, com gramática e vocabulário difíceis. Igual a outras escrituras, está sujeito a diferentes interpretações25. O árabe em que está escrito o Alcorão distingue-se de qualquer variante idiomática árabe. É uma mescla de prosa e poesia sem métrica, difundida entre os beduínos para veicular uma literatura essencialmente oral. O Alcorão foi recitado nesta língua e a sua redução à palavra escrita (cujas regras gramaticais começaram a ser fixadas por filólogos apenas no século VIII), gerou o árabe literário clássico, que se tornou a língua oficial, embora inúmeros dialectos sejam falados no mundo islâmico. A estrutura linguística do Corão e da Suna varia ainda de estilo para estilo, conforme quem as escreveu, sendo alguns exemplos desses estilos os seguintes: texto especulativo (Thanniy), texto definitivo (Qatai), texto geral (Amm), texto específico (Khass), texto literal (Haqiqi) e texto metafórico (Hajazzi). A diferenciação destes estilos é pois um importante tópico no Usul al Fiqh.

• Fontes Legisladoras: Outro aspecto essencial que envolve a interpretação destes textos gira em torno da ab-rogação das suas regras. O estudo da delicada ab-rogação de regras do Corão e da Suna envolve a sua relação com outros Ayahs ou Ahadith, e como reconciliar as diferenças entre ambos. É pois necessário conhecer todas as fontes de jurisprudência e ter a capacidade não só de as interpretar, como também de as relacionar entre si.

• Normas da Sharia: conhecer as normas para o dia-a-dia, ou seja, quais as prescritas, recomendadas, permissíveis, não recomendadas e proibidas, mas avaliando-as dentro do contexto em que ocorrem. Para a aplicação de qualquer norma é necessário o conhecimento da situação, da regra e do método. Por exemplo, um princípio geral no Islão é que a mão de um ladrão deve ser cortada. No entanto, se a pessoa rouba comida estando faminto, este princípio geral não é aplicado nesta situação particular. Consequentemente, o conhecimento de “como” e “onde” aplicar as leis são obrigatórios.

Face ao descrito anteriormente, apercebemo-nos da miríade de gradações e de conceitos muito semelhantes que podem existir no Islão. Em virtude de não haver uma estrutura clerical definida, que de alguma forma decida quais as interpretações correctas da Fiqh, podem ocorrer diferentes interpretações que são igualmente válidas, originando diferentes correntes e escolas de pensamento. O Islão sunita subdivide-se basicamente em quatro grandes escolas ortodoxas de jurisprudência (maddhabs), enquanto os kharijitas e os xiitas têm os seus próprios sistemas de jurisprudência (ver à frente o capítulo sobre os Ramos do Islão).

24 Em “Termos Básicos em Jurisprudência Islâmica” - TeachIslam.com 25 A interpretação do Alcorão (tafsir) é um campo de investigação que vem desde a época da codificação do texto até nossos dias. Foram escritos numerosos livros sobre o tema e existem numerosos comentários atribuídos a estudiosos, principalmente nos três primeiros séculos do islamismo, mas o trabalho mais importante de tafsir pertence a Al-Tabari, falecido no ano 923 d.C. Al-Tabari analisa cada verso do Alcorão e oferece diversas opiniões de estudiosos da época em relação à sua vocalização, gramática, léxico, interpretação ética, moral e relação do texto com a vida de Maomé. A tradição do tafsir reflecte muitas vezes as divergências e tendências do islamismo onde a própria natureza dúbia do texto corânico favorece essas interpretações divergentes. A interpretação xiita de alguns versos difere radicalmente da interpretação sunita, por exemplo, e nos últimos tempos, tanto os modernistas reformistas como os fundamentalistas têm interpretado os textos de maneira que se adapte aos respectivos pontos de vista.

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Embora não exista no Islão uma estrutura clerical semelhante à das correspondentes igrejas cristãs, existe contudo um conjunto de pessoas que são reconhecidas e aceites pelo seu conhecimento da religião e da lei islâmica, denominadas ulemá (em árabe Âlim, pl. Ulemá; sábio): podem ser professores, religiosos, juristas, juízes, imãs, ayatollahs, etc. e são geralmente referidos como um grupo monolítico de intelectuais guardiães da "ortodoxia".

Por sua vez, os académicos que se destacam pelo seu conhecimento da lei islâmica recebem o título de Mufti26, sendo os responsáveis pela emissão de pareceres - fatawa27- sobre determinadas questões da lei islâmica e, em teoria, estes pareceres só devem ser seguidos pela pessoa que os solicitou. Não existindo no Islão uma estrutura clerical central, não há também unanimidade quanto às interpretações ou métodos para determinar quem pode emitir fatawa, o que leva alguns académicos a queixarem-se que demasiadas pessoas se sintam hoje qualificadas para tal. No Irão e noutras partes da Ásia refere-se ainda o termo Mullah, palavra que deriva do termo árabe mawla e significa "mestre", sendo usada como título de respeito quer por figuras religiosas quer por juristas.

Califa significa literalmente "representante", podendo, em alguns casos, ser o "Sucessor do Profeta" pois provem do verbo khalafa, cujo significado é "suceder" ou "vir atrás". É o título que foi inicialmente usado por Abu Bakr, o sogro de Maomé, quando o sucedeu como o primeiro líder da comunidade muçulmana, a Umma, em 632. Os primeiros quatro califas são conhecidos como os "Califas Correctamente Guiados" (al-Khulufa al-Rashidun) e o detentor deste título clamava a soberania sobre todos os muçulmanos28. A partir daí as cisões no grupo acentuaram-se, especialmente entre Fatimidas e Abássidas29. No seguimento destes conflitos, outros líderes muçulmanos reivindicaram o título de califa, mas com a sua progressiva derrota o califado Otomano foi crescentemente afirmando-se como o califado principal, sendo considerado, até à Primeira Guerra Mundial, a maior e mais poderosa entidade política islâmica. O título de califa deixou de existir quando a República da Turquia aboliu o Império Otomano, em 1924.

A comunidade muçulmana é liderada pelo Imã (em árabe imame, imam ou imâm; pl. a'imma), designação que pode ter uma variedade de conotações que necessitam ser cuidadosamente distinguidas. Derivando do vocábulo árabe com o significado de "chefiar" ou "conduzir a oração", o Imã tem como primeiro e mais comum sinónimo, o de líder da prece. Não tendo o Islão uma autoridade oficial, o Imã responsável da mesquita não é ordenado, podendo qualquer homem muçulmano dirigir a oração na sua ausência. Nos primórdios da história islâmica o título de Imã estava associado ao de califa, mas actualmente tem sido usado simplesmente como título de respeito, como por exemplo pelo falecido Khomeini, que preferia ser tratado por Imã e não por Ayatollah. Para os xiitas, o imã é o herdeiro continuador da missão espiritual do Profeta e é muito mais poderoso do que o califa sunita. Para os sunitas, o Imã é apenas um chefe civil e político, sem autoridade espiritual em especial.

26 O mufti serve de ponte entre a jurisprudência pura e o Islão actual e pode, ou não, ter o título de "qadi" (juiz). 27 Fatwa (plural "fatawa") - Termo usado na lei islâmica para indicar um julgamento ou deliberação legal formal efectuada por um especialista em lei religiosa, sobre um assunto específico. Normalmente, uma fatwa é emitida a pedido de um indivíduo ou de um juiz, de modo a esclarecer uma questão onde a fiqh é pouco clara. 28 O Período dos Quatro Califas, que se seguiu à morte de Maomé, é quando se começa a formar o Império Islâmico propriamente dito e os califas eram considerados simultaneamente Malik (rei) e Imã (líder religioso). 29 As origens da dinastia Fatímida situam-se no ismailismo, uma corrente do islão xiita (ver à frente o Islão Sunita e Xiita). Os membros da dinastia Fatímida alegavam ser descendentes de Fátima az-Zahra (Meca 606-Medina 632), filha do profeta Maomé, e do seu marido Ali ibn Abi Talib.

Enquanto xiitas, opunham-se ao califado sunita dos Abássidas (750-1258) - a segunda dinastia de califas - fundada por Abu al-Abbas al-Saffa, descendente de Abbas, tio do profeta Maomé. Esta dinastia muçulmana do Oriente transferiu a capital da Síria para o Iraque e foi a mais famosa e a mais duradoura do Islão, tendo sido composta por 37 califas. O seu apogeu verificou-se durante o reinado de Harun al-Rashid (786-809), o califa das “Mil e Uma Noites”. Os Abássidas tinham sucedido aos Omíadas - o primeiro califado ou Dinastia Umayyad - que durou apenas 90 anos (661-750) e esta mudança constituiu uma importante alteração na essência da composição do califado, que levou o centro do Império Muçulmano de Damasco para Bagdad. Segundo, por exemplo, Nagib Dahdah (em “Évolution de la Nation Libanaise”, p. 81), “o novo império muçulmano foi incontestavelmente árabe até à queda dos Omíadas de Damasco” o que se justifica pelo novo califado Abássida ser formado essencialmente por muçulmanos não árabes, oriundos principalmente da Pérsia.

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De acordo com o Xiismo o Imã exerce 3 funções principais: governar a comunidade islâmica, explicar as ciências religiosas e a lei, e ser líder espiritual para levar os Homens ao entendimento do significado interior das coisas. Por causa destas funções o Imã não pode ser eleito por uma assembleia pública e, como guia espiritual, recebe a sua autoridade apenas do “alto”, isto é, cada Imã é apontado através da designação do Imã que o antecedeu por “comando Divino”. O Imã deve ocupar-se com os assuntos mundanos diários, bem como com o mundo espiritual, ou seja, as suas funções são ao mesmo tempo humanas e cósmicas30.

Ayatollah ou Aiatolá - literalmente "o Sinal de Deus" - é o título atribuído no século XX, por aclamação popular e pelos seus pares, aos académicos xiitas que alcançaram eminência, geralmente no campo da jurisprudência ou da teologia islâmica. Depois da revolução iraniana de 1979 aumentou muito o número dos que se consideram “ayatollahs”, mas apenas alguns deles (talvez menos do que dez) ostentam o título de Ayatollah al-Uzma – “o Maior Sinal de Deus”. Destes, o mais conhecido era o Ayatollah Khomeini, que detinha também o título de Marji’ al-Taqlid 31 ou “fonte de imitação”. O grau abaixo de Ayatollah é Hujjat I-Islam.

(Al-) Mahdi - literalmente, "aquele que é correctamente guiado"- é uma outra figura com profundo significado no Islão e também um título frequentemente reclamado por vários líderes na história islâmica. O seu “poder justo” é prenúncio da aproximação do fim dos tempos. Sunitas e xiitas aderem ambos à crença no Mahdi, embora o xiismo tenha desenvolvido uma doutrina mais profunda neste âmbito.

4. Ramos do Islão

Existem várias correntes no Islão, cada uma com diferenças ao nível legal e teológico. Os maiores ramos são o Islão sunita e o Islão xiita, que aceitam diferentes colecções de Hadith como genuínas. Para perceber realmente o significado destas divisões devemos começar por lançar um breve olhar para a origem e para a história daquilo que é hoje o Islão.

Maomé revolucionou verdadeiramente o mundo árabe, que transformou de um conjunto anárquico de tribos beduínas politeístas, onde a religião era pouco importante na vida política e social, numa unidade cultural em que a ideia de religião (islâmica) é o único poder que interessa, o único critério de identidade e de lealdade do grupo32. O profeta Maomé faleceu contudo em 632 sem deixar claro quem deveria ser o seu sucessor na liderança da nova comunidade muçulmana, a Umma. Após a sua morte, as antigas inimizades tornaram-se uma vez mais evidentes – a comunidade muçulmana de Medina era então composta por quatro grupos principais: os Mhajirin, muçulmanos de Meca que tinham acompanhado Maomé por ocasião da Hégira33; os Ansar, cidadãos de Medina que tinham recebido os muçulmanos de Meca e lutado com eles; os partidários de Ali, que defendiam que o sucessor de Maomé deveria ser alguém da família Ashemita34, no caso, Ali ibn Abi Talib, genro e primo do Profeta; e os Omíadas, pertencentes à aristocracia de Meca, cujo líder do clã era Abu Sufyan. Todos estes grupos, de uma forma ou outra, achavam-se os legítimos sucessores do Profeta.

30 Em “Islão: Sunitas e Xiitas”, TeachIslam.com 31 Maraji al-Taqlid (singular Marji' al-Taqlid) ou fontes de Imitação. É a maior autoridade em religião e lei no Islão Xiita. Este é o epíteto que caracteriza os ayatollahs com a patente de Ayatollah al-Uzma. Um único ou supremo Marji' chama-se Marji' al-Taqlid al-Mutlaq. Este título era usado por exemplo pelo Ayattolah Khomeini no Irão, mas o seu sucessor, Ali Khamenei, ainda não conseguiu ser aclamado como tal. 32 Em “From Muhammad to Bin Landen”, David Bukey, 2008 (p.15) 33 Hégira (Hijra) - era muçulmana com início em 622 d.C. - fuga de Maomé de Meca para Medina. 34 Ashemita ou Haxemita, de Meca, invoca a sua descendência de Hashim, bisavô do profeta Maomé. Este termo é, actualmente, conotado mais directamente com a família real do reino da Jordânia.

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Sem ter deixado nenhum filho homem e não tendo o Profeta determinado explicitamente a forma da sua sucessão, segundo a tradição, a escolha deveria ser feita em função da experiência, sabedoria e prestígio. Assim, Abu Bakr (632-634), companheiro do profeta e um dos primeiros convertidos ao Islão, foi o eleito como califa "representante", função que desempenhou apenas durante dois anos. Para outros o sucessor deveria ter sido Ali, primo de Maomé e casado com a sua filha Fátima, mas era ainda um jovem. Esta primeira sucessão, se não totalmente consensual, não constituiu uma verdadeira oposição à escolha de Abu Bakr, que após a morte de Maomé teve a difícil tarefa de reunificar as tribos de beduínos que entretanto tinham abandonado o Islão e ainda de acalmar os que entendiam não lhe deverem lealdade. Para além disso, vários homens apresentavam-se como profetas e geravam ainda maior agitação. A revolta destes beduínos ficou conhecida como Ridda (apostasia35) e foi solucionada por Abu Bakr pela conjugação da diplomacia e do recurso à força militar.

Uma vez unificada a Arábia, Omar (Umar ibn al-Khattab, 634-644), o segundo califa, nomeado por Abu Bakr para o suceder antes da sua morte, concentrou-se na expansão do Islão para fora da península36. As suas primeiras conquistas territoriais ocorreram na Síria, com a tomada da cidade de Damasco (635) e depois Jerusalém (638). Ao mesmo tempo, as forças islâmicas avançavam para Este, em direcção à Mesopotâmia e à Pérsia, mas também para Oeste, conquistando Alexandria em 642.

Após a morte de Omar, em 644, assassinado por um cristão persa, foi eleito seu sucessor Otman (Uthman ibn Affan, 644-656), um genro do profeta, que continuou a obra de expansão territorial naquilo que era então o império bizantino. Ao contrário dos anteriores califas, Otman não tinha o apoio de Ali e nomeou o seu primo Muawiyah (Muawiyah ibn Abu Sufyan, 602-680) como governador da Síria, o que na altura foi interpretado como um acto de nepotismo - ambos pertenciam ao clã Omíada de Meca, que tinha tido em Abu Sufyan (pai de Muawiyah) um dos inimigos mais ferozes de Maomé. Em 656, Otman morre assassinado.

Após o assassinato de Otman ocorreu novamente uma grande disputa em torno de quem deveria ser o novo califa. Para alguns, essa honra deveria recair sobre Ali, como aliás sempre tinham defendido; para outros, o califa deveria ser Muawiyah, primo de Otman. Escolheram porém Ali (656-661), que foi finalmente eleito, tornando-se o quarto Califa e o último dos califas “correctamente guiados”37. A questão não foi contudo pacífica e Muawiyah contestou a sua eleição, o que originou uma guerra civil entre os partidários das duas facções. Em 657 as forças de Ali e Muawiyah enfrentam-se na Batalha de Siffin, mas nenhum dos lados se sagrou vencedor. Ali concordou então com uma arbitragem proposta por Muawiyah, uma espécie de julgamento para decidir a vitória na batalha e se a sua ascensão ao poder era legítima.

Uma parte dos apoiantes de Ali entendeu porém que ele procedeu incorrectamente ao aceitar a arbitragem e retirou-se, dando origem à primeira cisão no Islão, a dos Kharijitas. Outro partido permaneceu fiel a Ali e às suas pretensões ao califado e deu origem aos Xiitas.

Ali foi assassinado por um kharijita em Kufa, em 661, e Muawiyah, aproveitando-se da situação, apodera-se finalmente do califado, pugnando pela sua transformação de electivo em hereditário e inaugurando em si uma nova dinastia. Tem então início a dinastia sunita Omíada (661-750), que transfere a sede do califado da Arábia para Damasco, na Síria. Sob o signo desta dinastia a propagação muçulmana prosseguiu com uma rapidez espantosa, sendo marcada por uma segunda vaga de expansão territorial: a ocidente - o Magreb é conquistado entre 669 e 710 e a Península Ibérica em 711 - mas as conquistas avançam também a oriente. Em menos de cem anos, o império muçulmano estendia-se já do rio Indo à Península Ibérica.

35 Em algumas interpretações do Islão a conversão de muçulmanos a outras religiões é proibida e chamada de apostasia. Na teologia muçulmana, a apostasia corresponde a um crime de traição, à traição do seu próprio país. A penalidade inclui o ostracismo ou mesmo a pena capital, caso sejam habitantes ou tenham vivido num "Estado Islâmico" e forem considerados inimigos do Estado. 36 Do ponto de vista estratégico, cultural e económico, Omar foi um califa muito eficiente. Promoveu a expansão do Islão para além da península arábica e ordenou a construção de três cidades que serviriam de bases militares - Kufa, ao sul da antiga Babilónia; Basra, também chamada Basorah, ambas no Iraque, e Fostat, a primeira capital árabe no Egipto, actual Cairo. Com a finalidade militar de defender e controlar a região, eram também utilizadas socialmente como pólos de islamização da região. Foi igualmente Omar quem organizou o calendário Muçulmano, que é ainda hoje seguido, e organizou as finanças do império criando o balanço (a diferença entre o receita e a despesa). Organizou também administrativamente os territórios conquistados sob as ordens de um Wali, general e governador, assistido por um Amir, responsável pela receita de cada uma das regiões conquistadas. 37 Apesar destas disputas, os primeiros quatro califas - os chamados quatro califas “correctamente guiados” ou “virtuosos” - são considerados como tendo vivido tão perto do Profeta que os seus exemplos, bem como o de Maomé, são comummente aceites como autoridade na Suna.

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Os partidários de Ali (shiat Ali, ou seja, xiitas) acreditavam porém que o primeiro califa foi um usurpador que retirou a Ali o seu legítimo direito à liderança, sendo esta crença justificada em Ahadith interpretados como reveladores de que, quando Maomé se encontrava ausente, ele nomeava Ali como líder momentâneo da comunidade. Enquanto viveram os elementos que gozaram da intimidade de Maomé o seu califado foi aceite pelos muçulmanos e coube-lhes pelo processo de eleição mas, com a morte de Ali, como referido, reacenderam-se as discussões em torno do direito de sucessão e ainda sobre o conteúdo de algumas das interpretações dogmáticas do Alcorão.

A questão do direito de Ali suceder a Maomé dividiu o Islão até aos dias de hoje, entre:

• Sunitas: partidários dos califas abássidas, descendentes de Abbas, tio do Profeta, que acham que Maomé não designou um sucessor e implicitamente comandou os muçulmanos a escolher o líder que julgassem mais apropriado através do voto. Justificam a sua legitimidade apoiados na tradição e nos juristas que sustentam que o califado pertenceria aos que fossem considerados dignos pelo consenso da comunidade.

• Xiitas: partidários de Ali, casado com a filha de Maomé, e seguidores da disciplina e liderança. Entendem que Maomé nomeou Ali publicamente e julgam que a questão da liderança não é para ser debatida, argumentando que só os descendentes directos do Profeta são os verdadeiros imãs - guias infalíveis na sua interpretação do Alcorão e da Suna graças ao conhecimento secreto que lhes foi dado por Deus.

Fonte – USA Federal Government

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O Islão sunita e xiita reflectem igualmente diferentes respostas muçulmanas às revelações divinas: os sunitas preocupam-se mais com a vida interior e os xiitas com a exterior. Os sunitas mostram-se pois mais preocupados em criar e preservar estruturas de sociedade em que a comunidade possa cumprir as suas responsabilidades perante Deus, enquanto os xiitas, que começaram pelo martírio de Ali e do seu filho Hussein, sempre estiveram conscientes do sofrimento e da alienação que fazem parte da condição humana e procuram respostas para uma interpretação mais exotérica do Corão e da Sharia. Os dois ramos distinguem-se ainda em certas questões jurídicas e até nos rituais mas, no fundo, a diferença entre ambos não é muito grande - a divergência principal diz verdadeiramente respeito à natureza da chefia.

4.1. O Islão sunita

Os Sunitas são o grupo muçulmano que constitui a maioria da comunidade islâmica mundial, compreendendo actualmente quase 90% de todos os muçulmanos. A maioria dos sunitas acredita que o seu nome deriva da palavra Suna, que se refere aos preceitos baseados nos ensinamentos de Maomé e nos dos primeiros quatro califas “correctamente guiados”. Os sunitas são assim os seguidores do Corão e da Suna, tal como é relatada pelos companheiros de Maomé (sahaba) nos livros de Ahadith. Outros afirmam que o termo significa apenas "caminho moderado”, referindo-se à ideia de que o sunismo toma uma posição mais neutra do que outras correntes dissidentes, que têm sido percebidas como mais extremadas, como é o caso de algumas seitas xiitas ou dos Karidjitas.

A posição dos sunitas poderá ser resumida da seguinte forma: ninguém poderia suceder a Maomé na sua natureza e qualidade de Profeta, dado que o Corão, que determina a revelação da vontade divina, declarou Maomé como o "último dos profetas". O sucessor de Maomé seria então apenas um guardião do legado profético; seria um califa, com uma autoridade subordinada como líder dos crentes, com responsabilidade pela administração dos assuntos da comunidade, em obediência ao Corão e aos precedentes profetas. Pelo processo do consenso (ijma), a comunidade escolheria o seu líder entre os homens que fossem membros da tribo Coraixita, a que Maomé pertencera. Os Sunitas também acreditam que a comunidade islâmica (a Umma) se manteria unida sob a autoridade dos califas, que conservariam o governo pela lei e persuasão. A tendência sunita tem sido assim acomodar-se às diferenças de opinião das minorias e confirmar o consenso da comunidade no que se refere a assuntos doutrinais.

Fonte: Geocities.com

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Dentro da teologia Sunita desenvolveram-se diversos matizes interpretativos, que se dividem em quatro escolas ortodoxas de jurisprudência (maddhabs de Fiqh). Estas escolas de teologia sunitas tomam o nome dos seus fundadores - Imã Abu Hanifah, Imã Malik, Imã Shafi'i e Imã Hanbal - e guardam a sua raiz e origem na única escola Xiita Jafarita (Jafari), estabelecida pelo Imã Jaafar Ibn Mohammad (as-Sadiq) em meados do século VI. As escolas sunitas, embora partilhem a maioria das suas decisões, diferem nas Ahadith particulares que aceitam como autênticas de Maomé e o peso que dão à analogia ou à razão (qiyas) em decidir perante questões não respondidas no Corão ou na Suna38.

A escola Hanafita, considerada a mais antiga, nasceu em Kufa39 e é assim chamada por ter sido criada pelo persa Nu'man ibn Thabit conhecido como Abu Hanifah (80-150 AH.). Abu Hanifah viveu 52 anos sob o governo Omíada, mas não concordando com este governo e acreditando que o direito ao califado pertencia aos filhos de Ali, teria emitido um fatwa em apoio à revolução dos Alawi40, liderada por Zaid ibn Ali Ibn Hussein, defendendo mesmo o pagamento de Zakat àqueles revolucionários41. Os Abássidas ainda tentaram obter o seu apoio e al-Mansur (o segundo califa Abássida) ofereceu-lhe a posição de juiz, mas Abu Hanifah recusou, optando por manter-se independente e, em virtude da troca de correspondência alegando a sua recusa, foi preso e chicoteado, acabando por morrer na prisão.

Abu Hanifah foi um dos que menos aceitou basear os regimes legais inteiramente no Corão ou nos Ahadith, aconselhando, por exemplo, a que os duros castigos corânicos (Hadd) fossem aplicados muito raramente e apenas para servirem de exemplo. Baseando-se essencialmente na “opinião” e na “analogia”, Abu Hanifah trabalhava em função de casos para formular doutrinas e a sua metodologia apesar de aceite pelos califas Abássidas, foi refutada pelos Imãs das outras escolas (Maliki, Hambal e Jaafar). A escola Hanafita é considerada a mais liberal das escolas do pensamento Islâmico e, apesar de inicialmente contestada, tornou-se na lei maioritária entre os muçulmanos. Hoje, quase 55% dos muçulmanos sunitas são Hanafitas, com forte presença na Ásia Central e do Sul, na Turquia, nos Balcãs e também na China, Índia, Paquistão e Irão.

38 Ver, por exemplo, “Hadith collections” - Compendium of Muslim Texts - University of Southern Califórnia, ou em “Arressala” – Centro Islâmico do Brasil. 39 Kufa: cidade iraquiana a 170 km a sul de Bagdad e a cerca de 10 km nordeste de Najaf. 40 Os Alawitas são hoje um grupo étnico-religioso proeminente na Síria (ver mais à frente o Islão xiita). 41 Em “ O Islão e as escolas de jurisprudência” por Al Musawi - Arressala – Centro Islâmico do Brasil.

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A escola Malikita, igualmente uma das primeiras, foi fundada em Medina pelo árabe Maliki ibn Anãs (93-179 AH.). Maliki estudou com Ulema como o Imã Jaafar As-Sadiq e alcançou fama como sábio durante o período Omíada. Depois da queda desta dinastia e da ascensão dos Abássidas, tal como fez Abu Hanifah, Maliki emitiu uma fatwa contra o apoio exigido a Al-Mansur, proclamando cooperação à revolução liderada por Mohammad Ibn Abdillah Ibn al-Hassan, o que lhe valeu a prisão e a tortura. O pensamento de Maliki altera o direito alegado pelos califas Omíadas de fazer leis sem referências ao Corão, reforçando a importância da hadith (tradição oral) e a importância dos ensinamentos dos 4 “califas correctamente guiados”. Escreveu a este respeito o livro Al-Mu’watta e deste modo a sua Fiqh propagou-se, especialmente pelo norte da África e na Andaluzia.

A escola Shafiita foi a terceira escola de jurisprudência islâmica, a maior e mais importante durante o período dos Abássidas. Foi fundada em Bagdad pelo árabe Mohammad Idris al-Shafi’i (150-204 AH.). Shafi’i instruiu-se também com vários ulama de seu tempo, tais como Muslim al Makhzumi e Maliki Ibn Anãs da escola Malikita. Após a morte de Maliki, Shafi’i exerceu funções oficiais no Iémen, mas durante o governo de Al-Rashíd, em 178 AH., foi também acusado de apoio aos Alawitas sendo levado a julgamento em Bagdad. Shafi escapou da prisão e viajou para o Egipto onde se estabeleceu e desenvolveu a sua Fiqh, que se propagou por diversos países, encontrando-se hoje na África oriental, Médio Oriente, Indonésia, Malásia e Filipinas. A escola Shafiita defende que o conhecimento perfeito da sharia só pode ser conseguido através da revelação do Corão ou em precedentes de inspiração divina do profeta Maomé (Suna), através de relatos autênticos de Ahadith. A razão humana seria apenas usada como excepção, nos casos em que não se aplicasse a revelação divina.

Nos séculos que precederam o aparecimento do Império Otomano a escola Shafiita era a dominante no Islão. Foi apenas no período dos sultanatos Otomanos, no início do séc. XVI, que esta escola foi substituída pela Hanafita, a quem foi dada autoridade judicial em Constantinopla, enquanto na Ásia Central a supremacia passava para o Xiismo duodecimano (12 imãs), como resultado da revolta Safawid, liderada por Shah Ismail, em 1501.42

Finalmente, a escola Hanbalita, de longe a mais fundamentalista das quatro, foi também fundada em Bagdad pelo árabe Ahmad ibn Hanbal (164-241 AH.), um jurista para quem a Sharia se deveria basear exclusivamente no Corão e na Suna. A sua grande contribuição para a teologia islâmica é uma colecção de cinquenta mil tradições, conhecidas por “Musnadul”43. A despeito da importância do seu trabalho, a escola Hanbalita não recolheu a popularidade das restantes escolas sunitas de direito e os seguidores de Hanbal foram considerados como reaccionários e incomodativos pela sua relutância em dar opiniões pessoais sobre questões de direito, pela rejeição da analogia, a fanática intolerância a pontos de vista diferentes dos seus e o hábito da exclusão dos adversários do sistema judicial e do poder. A sua impopularidade levou mesmo à ocorrência periódica de combates e de perseguições contra si.

Existem ainda três movimentos estabelecidas dentro do sunismo: o Barelvi (também graficado como Barelwi ou Berailvi), que é um movimento sufista44 hanafita indiano, com origem no Imã Ahmed Raza Khan (1856-1921) de Bareilly, Rohilkhand, Índia; o Deobandi45, movimento sufista revivalista, também da escola hanafita indiana, e o Wahhabi, movimento conservador reformista, fundado por Muhammad ibn Abd al Wahhab no século XVIII, na Arábia Saudita, que segue a escola hanbalita. É a escola dominante na Arábia Saudita e Qatar.

42 No séc. XV e XVI nasceram 3 grandes impérios que tinham como religião oficial o Islão: o Império Otomano no Médio Oriente, Balcãs e Norte de África; o Império Safávida (1502-1736) na Pérsia (Irão) e o Império Mongol na Índia. Baber invadiu a Índia e na batalha de Panipat fez-se senhor do Punjab estabelecendo um novo Império Mongol na Índia, conhecido pelo nome de Império Mogol (nome persa para Mongol). 43 Em Believe, “Overview of World Religions Project”, Bülent Þenay. 44 Sufismo ou misticismo islâmico (ver à frente Outras Correntes do Islão). 45 Deobandi: cidade indiana a norte de Deli cuja madraça adoptou uma interpretação literal e austera do Islão e onde se situa a escola Darul Uloom Deoband.

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Ou seja, podemos esquematicamente subdividir o Islão sunita em:

• Malikitas

• Hanafitas o Barelvi o Deobandi

• Shafiitas

• Hanbalitas o Wahhabi

Importa aqui realçar que o Wahhabismo tem vindo a obter uma influência cada vez maior no mundo islâmico, devido ao financiamento saudita a diversas mesquitas e madraris46 noutros países. Antes do wahhabismo a relação entre sunitas e xiitas era mais muito próxima que hoje, tendo sido o sexto Imã xiista (Jaafar As-Sadiq) mestre de Maliki e Hanifah, os fundadores de duas das escolas sunitas. Foi ainda entre os xiitas que surgiu a estruturação das universidades, gerando produção intelectual e aproximação cultural entre Xiitas e Sunitas.

Os sunitas não são unânimes quanto às suas visões dos xiitas, embora pareçam estar de acordo que as diferenças entre xiitas e sunitas não são comparáveis às que existem entre as diferentes escolas de Fiqh sunita. Uma pequena minoria sunita acredita porém que os xiitas, especificamente os Jafaryia ou dos doze, podem ser considerados como uma "quinta maddhab" do Islão. A prestigiosa Universidade Al-Azhar47, no Egipto, por exemplo, chegou mesmo a emitir um decreto apoiando este ponto de vista, o qual foi todavia amplamente condenado por académicos sunitas em todo o mundo. A maioria dos sunitas considera o xiismo como um grupo rebelde, mas apesar disso dentro do Islão. Por outro lado, grupos radicais como a Nação do Islão, Ahmadiyya, Zikris e outros48 são considerados como hereges e apóstatas ou desertores pela maioria dos sunitas e, por isso, fora do Islão.

4.2. O Islão xiita

Xiita é um termo colectivo que se refere a várias seitas muçulmanas e que, no seu todo, constituem apenas cerca de 10% do mundo islâmico. Os demais muçulmanos, como vimos, são sunitas.

Os xiitas são os partidários de Ali (shiat Ali), primo e genro de Maomé, além de quarto califa da comunidade islâmica. 49

O movimento xiita começou por Ali reclamar o poder para si, alegando que a sucessão de Maomé deveria seguir uma linha de sangue, em contrapartida ao pensamento sunita, para quem bastava o candidato a líder ser um exemplo a seguir e repetir a suna do profeta, ou seja, o seu comportamento. Os xiitas consideram o islamismo que praticam como a mais pura representação da religião original de Maomé e acreditam que o líder da comunidade muçulmana - o Imã - deve ser um descendente de Ali e de sua esposa Fátima, sendo ainda obrigatório que cada muçulmano siga um Marja (Fonte de Imitação) vivo. Existem vários Marjas xiitas vivos hoje, como o Aiatolá Khamenei, Aiatolá Ali al-Sistani, Aiatolá Fazil Linkarani, Aiatolá Sadiq Sherazi, Aiatolá Fadlullah, etc.

46 Madrasa (plural "madaris") - Escola ou lugar de ensino, normalmente ligada ou associada a uma mesquita. 47 A Universidade de Al-Azhar, localizada no Cairo, é também uma mesquita. Foi fundada como escola de teologia na dinastia dos Fatímidas, em 988, sendo a segunda mais antiga universidade do mundo. Al-Azhar - literalmente "O Brilhante" ou "O Radiante" - tem como nome completo al-Jami al-Azhar (A Mesquita Radiante). Foi criada inicialmente como um bastião da doutrina ismaelita, mas tornou-se um reduto da ortodoxia sunita com os Ayúbidas, dinastia que precedeu os Mamelucos e cujo nome deriva do curdo Ayyub, pai do famoso Saladino. 48 Ver à frente o capítulo sobre “o fundamentalismo islâmico” 49 Na imagem, à volta de Alá aparece o profeta Maomé juntamente com Ali, Fátima Zahra, Hasan e Hussain (os segundo e terceiro Imãs xiitas).

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Resumidamente pode-se afirmar que são quatro os princípios de diferenciação normalmente aceites pelos xiitas50:

• Ali foi eleito por Deus como Imã e chefe justo do mundo;

• Todos os imãs têm que descender de Ali;

• A existência do universo depende da presença de um imã vivo;

• Ali e seus descendentes possuem qualidades sobre-humanas, reconhecidas pelos outros muçulmanos apenas nos

profetas.

Os xiitas reinaram no mundo muçulmano especialmente com os Fatímidas no Cairo (909-1171), e na Pérsia com os Safávidas (1502-1736), onde impuseram o xiísmo como forma de se libertarem do império otomano sunita. Os muçulmanos xiitas estão hoje espalhados por todas as partes do mundo, mas alguns países têm uma concentração particularmente forte de xiitas: o Irão é quase totalmente xiita e no Iraque quase dois terços da população é xiita. Encontram-se também grandes concentrações de xiitas no Bahrein (70%), em Oman (75%), no Azerbeijão (70%), no Líbano (40%), no Iémen (30%), nos Emiratos Árabes Unidos (15%), na Síria e na Turquia. Os Xiitas constituem igualmente minorias importantes no Paquistão e na Índia. Entre as comunidades islâmicas que residem no Ocidente também é possível encontrar minorias xiitas.

O Islão xiita contemporâneo pode ser subdividido em três ramos principais: os xiitas dos Doze Imãs (duodécimos), os ismaelitas e os zaiditas. As três seitas possuem posições distintas sobre a questão da autoridade religiosa, embora os duodécimos e os ismaelitas compartilhem quase a mesma teoria, atribuindo qualidades hereditárias e milagrosas aos seus imãs. Todos estes grupos estão de acordo em relação à legitimidade dos quatro primeiros Califas, porém, discordam em relação aos seguintes.

Os xiitas dos Doze Imãs (também designados Ithna Asharites, duodécimos ou imamitas), formam o maior grupo dentro do xiismo e reconhecem uma linha de 12 imãs sucessivos, o último dos quais estaria ainda vivo, apesar de se ter “ocultado” no ano 874 d.C.51

50 Segundo o resumo da Loja maçónica AGDGADU: benemérita Loja António João Nº 5 51 Muhammad al-Mahdi, “o Guia” e 12º Imã encontra-se escondido e crê-se que regressará no fim do mundo.

Source: Thinkhard.org - Where Sunni and Shia live

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À semelhança do ismaelismo, o imã oculto é capaz de enviar mensagens a fiéis escolhidos e alguns xiitas iranianos acreditam que o falecido Aiatolá Khomeini teria recebido inspiração directamente deste 12º e último Imã. Como os duodécimos perderam todo o contacto com um imã real desde o séc. IX, escolhem os seus imãs entre os religiosos que, tradicionalmente, sejam sábios na literatura e instruções do profeta. Os imãs superiores (Aiatolá ou marja al-taqlid) gozam ainda de uma autoridade maior que os juristas ismaelitas e zaiditas.

Estes Imãs são vistos como sucessores directos corporais e espirituais do profeta, escolhidos por Deus e inspirados divinamente. São considerados infalíveis, juntamente com o Profeta Maomé e Fátima (chamados de “Os 14 Infalíveis”).

Os 12 Imãs do Islão xiita são52:

1. Imã Ali ibn Abi Talib, "O Príncipe dos Crentes" (Ali Al-Ameeril Mo’mineen)

2. Imã Al-Hassan Ibn Ali, "Al-Mujtaba" (Hassan Al-Mujtaba)

3. Imã Al-Hussein Ibn Ali, "Senhor dos Mártires" (Husain As-Shaheed)

4. Imã Ali Ibn Al-Hussein, "Formosura dos Devotos"(Zain-ul-Abideen)

5. Imã Mohammad Ibn Ali, "O Erudito" (Muhammad Al-Baqir)

6. Imã Jaafar Ibn Mohammad, "O Verídico"(Ja’far As-Saadiq)

7. Imã Mussa Ibn Jaafar, "O Silencioso" (Musa Al-Kazim)

8. Imã Ali Ibn Mussa, "A Aprovação" (Ali Ar-Reza)

9. Imã Mohammad Ibn Ali, "O Generoso" (Muhammad Al-Taqi)

10. Imã Ali Ibn Mohammad, "O Orientador" (Ali Al-Naqi)

11. Imã Al-Hassan Ibn Ali, "Nascido em Ascar" (Hasan Al-Askari)

12. Imã Mohammad Ibn Al-Hassan, "O Guia” (Muhammad Al-Mahdi)

A maioria dos xiitas acredita que Muhammad Al-Baquir (o quinto califa), filho de Ali e neto de Hussein, era o imã legítimo, enquanto que uma minoria reconheceu antes seu irmão, Zayd bin Ali (80-122 A.H.), sendo por isso os seus seguidores conhecidos como zaiditas, ou dos cinco. Para os dissidentes zaiditas, o verdadeiro xiita é qualquer muçulmano que siga as regras dos descendentes de Ali e Fátima e seja culto, piedoso e activo no meio político. Os zaiditas são uma seita xiita praticamente limitada ao Iémen, que embora sendo maioritária no noroeste do país é porém minoritária no conjunto do Iémen, que é de maioria sunita.

Entretanto, os xiitas que não reconheceram Zayd como imã permaneceram unidos durante algum tempo sob a orientação de Jaafar as-Saadiq (702-765), o sexto imã, que foi um grande erudito e que é também tido em consideração pelos teólogos sunitas, dando o seu nome à principal escola xiita de Fiqh, que se chama de jafarita por sua causa. A escola Jafarita de Fiqh é a lei no sistema dos xiitas dos Doze Imãs, podendo mesmo o termo Jafari ser usado como sinónimo “dos Doze” ou “duodécimos”, reflectindo a plena integração entre o direito e a teologia neste credo. Desta forma, em muitos textos e livros, Jafari e Xiismo dos Doze não se distinguem, apresentando-se como uma só orientação53.

A Fiqh de Jafari é ligeiramente diferente da utilizada nas escolas sunitas por não se empregarem qiyas, mas utilizar o intelecto, caql. Outra diferença é que não se usam os mesmos ahadith. Muitos ahadith sunitas são excluídos devido a serem atribuídos a inimigos do Xiismo, como é o caso dos Ahadith de Aisha, para além da rica colecção dos ahadith relacionados com os imãs, que por definição, no xiismo, são seres guiados por Deus e não poderiam cometer pecados (err).

52 Em http://www.shia.org/infalibles.htm 53 Tore Kjeilen em “Sharia”, Encyclopedia of the Orient, LexicOrient (1996-2007)

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Após o assassinato de Jaafar ocorreu uma nova cisão no grupo. Para os ismaelitas (dos sete), Jaafar nomeou como seu sucessor o filho mais velho Mohammed bin Ismael (721-765), como era costume e tradição até então. Contudo, Ismael morreu três anos antes do pai ou, segundo os ismaelitas, escondeu-se por ordem do pai para evitar a perseguição, pelo que muitos se voltaram então para o filho mais novo, Musa al-Kazim (746-799), tendo a linha sucessória dos imãs continuado com ele e com os seus descendentes. De qualquer das formas, os dissidentes fiéis seguidores de Ismael deram origem a um novo ramo, mais tarde conhecidos como ismaelitas, ou “dos sete”.

Os ismaelitas crêem que Ismael foi o último imã, bruscamente subtraído do mundo apesar de poder revelar-se a alguns iluminados. Este “sétimo” ocultou-se no século VIII, tendo a sua linha sido reiniciada apenas dois séculos depois. A teologia dos ismaelitas caracteriza-se por uma teoria cíclica da história centrada no número 7, número que assume um importante significado na crença de Ismael e na cosmologia. Já sob a liderança de Agha Khan, destacam ainda a necessidade de distinguir no Alcorão entre conteúdos que são eternamente válidos e os que, por outro lado, se referem a algo temporalmente condicionado. Assim, os Ismaelitas consideram somente os conteúdos eternamente válidos como universalmente obrigatórios.

Os ismaelitas tornaram-se poderosos no século X no Norte de África, fundando na Tunísia a dinastia dos Fatímidas (909-1171), que em 969 conquistou a Síria e o Egipto (onde criam a Universidade de Al-Azhar). As suas posteriores ramificações em Nizariah e a ligação aos Assassiyun valeram-lhe a fama de ser uma facção radical dentro do xiismo. Presentemente liderados por Karim Aga Khan IV (o 49º Imã Ismaelita), os ismaelitas voltaram-se para o desenvolvimento social e para os projectos culturais. Estão subdivididos em vários grupos espalhados pelo mundo inteiro, incluindo Portugal, mas concentram-se sobretudo no sub continente indiano e na África Oriental, contando com o importante contributo da Fundação Aga Khan e do Trust for Culture, mas incluindo muitas outras áreas na chamada Aga Khan Development Network.

Quanto à distribuição dos vários sub ramos do Islão Xiita, pode-se afirmar que existem hoje dois grandes grupos de crentes: a maioria, cerca de 80% dos xiitas, está localizada sobretudo no Irão e Iraque e é imamita, seguidora da versão "dos doze". O termo Xiita é assim muitas vezes tido como um equivalente ao “dos doze”. O outro grupo significativo no xiismo é o ismaelita, ou "dos sete". Os dos 7 e os dos 12 diferem essencialmente quanto aos direitos de sucessão após a morte de Maomé, mas concordam em quase tudo o resto, incluindo que os Sunitas usurparam a devida autoridade dos descendentes familiares de Maomé. Ambas as seitas xiitas acreditam que o último Imã (quer tenha sido o 7º ou o 12º) foi escondido em vida por Deus, mas divergem quanto ao que irá acontecer quando esse Imã regressar. Uns acreditam que o último Imã será acompanhado pelo profeta Jesus (Isa) e que irá revelar a mensagem do Islão à humanidade, enquanto outros reservam esse título especificamente para Jesus.

Existem ainda outros grupos minoritários que surgiram do xiismo, tais como os Caridjitas, hoje mais comummente conhecidos como muçulmanos Ibadistas.

Os Kharijitas ou Caridjitas (em árabe khawarij, "os que cindiram") foram o primeiro ramo a formar-se no Islão durante o cisma de 656-661 entre Ali e Muawiyah, sobre quem deveria ser o califa. Consideravam que qualquer homem, independentemente da sua origem familiar, poderia ser líder da comunidade islâmica, opondo-se às polémicas de sucessão entre sunitas e xiitas. Inicialmente partidários de Ali na contenda, rejeitaram as suas pretensões em 657, opondo-se depois igualmente às de Muawiyah. A primeira secessão foi a de um grupo de soldados de Ali na Batalha de Siffin, onde rejeitaram qualquer forma de arbitragem, alegando que o juízo final pertencia unicamente a Alá. A eles juntaram-se mais tarde outros dissidentes e foram estes que deram aos kharijitas o seu nome.

O kharijismo, cujas crenças não são uniformes, dividiram-se em várias sub-seitas, sendo algumas fanáticas e exclusivistas. Os descendentes modernos dos kharijitas são os Ibaditas, os únicos sobreviventes no mundo contemporâneo, cujo nome devem ao seu alegado fundador Abd Allah Ibad at-Tamīmī, um líder kharijita do século VII, embora alguns afirmem que o verdadeiro fundador tenha sido Jabir ibn Zaid al-'Azdi de Nizwa, Oman.

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Os actuais ibaditas, apesar de conservadores, representam uma facção mais moderada do Islão kharijita, do qual se demarcam, e vivem essencialmente no sultanato de Omã, no Golfo Pérsico, com pequenos núcleos presentes na África Oriental e do Norte, na Argélia (oásis de Mzab), na ilha tunisina de Jerba e em Zanzibar.

Source: The Gulf 2000 project – Map collections - columbia.edu/images/maps

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Considerando os diversos movimentos dentro dos grandes grupos Xiitas, podemos representar esquematicamente as suas principais ramificações da seguinte forma54:

• Dos doze - Ithna-Ashari o Usuli

o Akhbari

o Shayki

• Dos sete - Ismaelitas o Alawi

o Bohra

Dawoodi

Sulaimani

o Drusos

o Khoja

• Dos cinco - Zaiditas • Kharijitas / Ibaditas

A escola de direito Usuli constitui a maioria “dos Doze” e é um pouco mais liberal que o seu grupo rival, o mais pequeno Akhbari, de quem difere na amplitude da utilização da ijtihad (interpretação pelo raciocínio individual). O termo “usuli” (fundamentalista) existe no Islão há séculos mas, no seu sentido mais tradicional, designa apenas os académicos da ilm al-usul, a “ciência dos fundamentos”, que se dedica ao estudo da fiqh (jurisprudência islâmica). O movimento Shayki, por sua vez, fundado por Shaykh Ahmad-i-Ahsa'i (f. 1825 d.C.) e pelo seu sucessor Siyyid Kazim-i-Rashti (f. em 1844 d.C.), difere dos restantes essencialmente no que respeita às práticas da religião (furu). A escola Shayki é particularmente forte no Paquistão.55

Os Alawitas ou Alauítas são um grupo étnico-religioso do Médio Oriente com forte domínio nas estruturas políticas, hoje proeminente na Síria, onde constituem cerca de 10% da população. A seita Alauíta, apareceu no séc. XIII como um grupo dissidente da ala síria dos Assassiyun (ismaelitas Nizariah) e a sua origem está envolta em lendas e mistério. Tendo integrado doutrinas de outras religiões, em particular do judaísmo e cristianismo, numa altura em que estes floresciam no Crescente Fértil, os Alawis celebram, por exemplo, o Natal, a Páscoa e a Epifania. É assim uma seita que se identifica abertamente com alguns aspectos da teologia cristã, mas que segue igualmente a tradição essencial dos xiitas iranianos. Os Alawitas não devem ser confundidos com os Alevitas, que embora partilhem a mesma etimologia são uma minoria religiosa da Turquia, do ramo do xiismo duodécimo, nem com a dinastia alauíta que governa Marrocos.56

Os Drusos são considerados ser uma seita religiosa secreta e uma das muitas sub-seitas dos ismaelitas Assassiyun, tal como os Alawitas. São uma comunidade árabe semi-islâmica, extraordinariamente unida, que vive essencialmente nas montanhas sírias e libanesas, mas também em Israel, na Turquia e na Jordânia, depois de terem sido expulsos do Cairo pelos ismaelitas, que os consideravam hereges. Os Drusos crêem na “tanasukh”, uma transmigração da alma; sempre que um Druso “desencarna”, nasce outro Druso para o substituir (a alma do moribundo entra no corpo de uma criança que está a vir ao mundo). A religião drusa permanece hoje extremamente fechada, não sendo considerados verdadeiramente muçulmanos pela maioria dos seus pares na região.57

54 Mais detalhes em http://www.globalsecurity.org/military/intro/islam 55 Usuli – mais detalhes em http://www.shaikhsiddiqui.com/akhbari.html 56 Alauítas – mais detalhes em http://www.muslimhope.com/Alawites.htm 57 Drusos – mais detalhes em http://portaldoespirito.com.br/portal/artigos/apaiva/os-drusos.html

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Os Bohra (também graficado como Bohara or Vohra) são uma comunidade xiita ismaelita de Gujarat, na Índia ocidental, cujo nome deriva do Gujarati - vohorvu or vyavahar – que significa "comércio". Esta seita veio depois a dividir-

se em diversas sub seitas que formaram os Jafari Bohras, Dawoodi, Sulaymani, Aliyah e ainda outros grupos menos conhecidos. Os seus maiores ramos são actualmente os Dawoodi e os Sulaymani.58

Por fim os Khoja, são um grupo étnico da Índia e Paquistão, também seguidores de Agha Khan e conhecidos por descenderem de uma casta hindu de comerciantes."Khoja" é a forma usada na Índia para o termo Persa "Khwajah", que significa cavalheiro, respeitável ou homem rico. Os Khojas são hoje a maior casta muçulmana comerciante da Índia ocidental.59

Existem ainda outras formas de organizar os ramos do Islão, como a referida na figura seguinte (fonte: As Religiões do Mundo, Círculo de Leitores), que embora muitas vezes sejam esclarecedoras, são talvez menos representativas das principais ramificações sunitas e xiitas.

Para além das diferentes representações, podemos encontrar ainda uma série de grupos radicais, que são considerados

como expressões violentas do Islão (com versões tão diferentes como a dos Assassiyun e as suas derivações, ou a Nação do Islão) e Ahmadiyya, ou Zikris, cujos desvios nas crenças os tornam não considerados como tal pelos outros muçulmanos, que os vêm antes como manifestações hereges e como renegados ou desertores e, por isso, fora do Islão. Ainda assim referem-se sumariamente estes movimentos:

Ahmadiyya ou Qadiyanism é um movimento religioso (com representação em Portugal) fundado em 1889 por Mirza Ghulam Ahmad (1835-1908), em Qadiyan, Punjab. O movimento Ahmadiyya tem sido frequentemente perseguido por outros muçulmanos desde que Ghulam Ahmad alegou ser o Mahdi, ou o Prometido Messias. Os Ahmadis acreditam que Jesus ressuscitou da morte na cruz e foi para Srinagar (Índia) onde morreu e foi enterrado. O Ahmadiyya dividiu-se em dois grupos: os qadiyanis, que acreditavam em Ghulam Ahmad como um Profeta (Nabi), e os lahoris, que acreditavam ser um Mujadid (Renovador da fé). A cede do Ahmadiyya funciona em Rabwah, no Paquistão.60

Os Zikris são uma derivação Sunita Hanafita que se concentra na província de Balochistão, uma província do Paquistão, e que se estima ter mais de 750.000 seguidores. Baseia-se nos ensinamentos de Nur Pak, um auto proclamado Mahdi do séc. XV, e a sua prática religiosa é muito diferente da original muçulmana. Acredita-se que os Zikris foram para o Balochistão em busca de um local seguro para se fixarem e, como resultado do seu isolamento, desenvolveram práticas que são

58 Bohras – mais detalhes em http://archive.mumineen.org/publications/oup/bohras.html 59 Khoja – mais detalhes em http://www.everyculture.com/South-Asia/Khoja.html 60 Ahmadiyya – ver mais detalhes em http://www.encyclopedia.com/doc/1E1-Ahmadiyy.html

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consideradas desvios para a maioria dos muçulmanos. O nome de Zikri vem do árabe “dhikr” que se pronuncia “Zikr” em Farsi (Persa) e em Urdu, e que se refere a tributo ou culto (normalmente a Alá).61

Assassiyun são uma seita secreta militante dos xiitas ismaelitas, fiéis ao "Assass" ou "fundamento" da fé, e terão sido, provavelmente, os primeiros suicidas do Islão. Alguns julgam ver naquele termo a origem da palavra "assassin" (assassino). O grão-mestre desta seita medieval que existiu durante 166 anos (séc. XII e XIII) foi Hassan Sabbah (1045-1124), que no seu castelo de Alamut, a Noroeste do Irão, defendia não bastar matar os inimigos - "Não somos homicidas mas executores. Devemos agir em público, para servir de exemplo. Matamos um homem, aterrorizamos outros cem mil. Todavia, não basta executar e aterrorizar, é igualmente indispensável saber morrer. Morrer é mais importante do que matar. Matamos para nos defendermos, morremos para converter, para conquistar. Conquistar é o nosso objectivo; defendermo-nos é apenas um meio".62 Os assassínios levados a cabo pelos seguidores de Hassan pareciam tão irreais que no Ocidente lhes chamavam de "haschichiyun", ou seja, fumadores de haxixe (termo usado sobretudo para os insultar), mas outros garantem que as únicas drogas tomadas pelos Assassiyun eram apenas a fé inabalável e a vontade de sacrifício.63

A Nação do Islão é uma organização racista afro-americana, fundada em 1930, em Detroit, Michigan, EUA, e os seus membros são chamados de Muçulmanos Pretos (Black Muslims). A Nação do Islão condena o termo “Negro”, que considera associado à escravidão, e adopta a palavra “Black”- preto. Condena também a miscigenação racial e defende a separação entre pretos e brancos através da divisão dos EUA e a criação de um país preto independente. Entre as suas doutrinas está a crença de que os pretos foram a criação original de Deus, que possuem uma natureza distinta da do homem branco e que ressuscitarão primeiro. Acreditam que Deus se manifestou como Farad, no início do séc. XX, e que durante quatro anos ensinou pessoalmente Elijah Muhammad (inicialmente chamado de Elias Poole, o seu líder até 1975). Acreditam também que Farad é o mesmo Cristo e o mesmo Mahdi cujo retorno estava prometido.

Malcolm Little (conhecido como Malcolm X)64 converteu-se à Nação do Islão, mas rompeu com ela posteriormente. Wallace D. Muhammad, filho de Elijah Muhammad e seu sucessor após a morte do pai, conduziu o movimento para o Islamismo sunita, mudando o nome da Nação do Islão para World Community of Islam in the West (Comunidade Mundial do Islão no Ocidente) e, depois, para American Muslim Mission (Missão Muçulmana Americana). Muitos seguidores de Elijah Muhammad mantiveram-se porém fiéis aos seus ensinamentos e, comandados pelo dissidente Louis Farrakhan, retomaram a denominação inicial de Nação do Islão.65

4.3. Outras correntes do Islão

Além dos sunitas e xiitas, como vimos, existem outras divisões do islamismo e, dentro delas, uma quase infinidade de seitas e movimentos que se autonomizaram e agregaram ao longo dos tempos. Algumas destas surgem no início do Islão e outras são cisões e dissidências mais recentes, mas todos esses grupos aceitam Alá como deus único, reconhecem Maomé como fundador do Islamismo e aceitam o Alcorão como livro sagrado. As diferenças, por seu lado, estão essencialmente na aceitação ou não da Suna como texto sagrado, no grau de observância das regras do Corão e na aceitação das interpretações emitidas pelos académicos e juristas. Referem-se de seguida alguns conhecidos movimentos ligados ao Islão, que pelas suas particularidades não podem verdadeiramente ser reconhecidos como ramos ou divisões.

O sufismo é uma corrente mística e contemplativa do Islão. A palavra sufi deriva de uma roupa de lã que era muito usada pela população pobre e também pelos ascetas que deram origem a essa facção. Os praticantes do sufismo, conhecidos como sufis ou sufistas, procuram uma relação directa com Deus através de cânticos, música e danças, lidando com os aspectos mais espirituais da religião. O Sufismo não tem assim o carácter político das outras correntes islâmicas. Nos seus preceitos islâmicos mesclam-se elementos do Budismo, do Hinduísmo e até da religião grega antiga e do Cristianismo.

61 Zikris – ver mais em http://www.shaikhsiddiqui.com/zikri.html 62 Em “livro de estilo”, Margarida Santos Lopes, Publico, dicionario-islao.html 63 Em http://ismaili.net/mirrors/1alamut/alamut.html 64 Martin Luther King e Malcolm X divergiam nos conceitos: King defendia uma "resistência pacífica" pelos pretos e Malcolm defendia a separação das raças, independência económica e um Estado autónomo. 65 Nation of Islam – ver mais em http://www.discoverthenetworks.org/groupProfile.asp?grpid=6600

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O termo “sufismo” é utilizado para descrever um vasto grupo de correntes e práticas, que embora sendo considerado por alguns um ramo separado do Islão, para a maioria, os sufis podem ser encarados como sunitas ou xiitas. A distinção a fazer aqui é que as escolas de pensamento (madhabs) consideram os aspectos "legais" do Islão, enquanto que o Sufismo lida mais com os aspectos espirituais, tal como a sinceridade da fé ou a luta contra o próprio ego66. As ordens sufis (Tariqas) podem, desta forma, estar associadas quer ao islão sunita, quer ao xiita, ou ainda a uma combinação de várias correntes. O pensamento sufi parece ter nascido no Médio Oriente, no séc. VIII, mas encontra-se actualmente difundido por todo o mundo, por vezes com forte influência em países com vasto número de crentes, como na Indonésia, hoje uma das nações com maior número de muçulmanos onde o Islão foi introduzido através de ordens sufis.

Salafismo é um termo normalmente usado para descrever o pensamento fundamentalista islâmico, que significa literalmente “predecessor” ou “primeira geração”. Tem como origem um movimento reformista surgido no Egipto nos finais do século XIX, cujas correntes (salafitas sunitas) pregam o retorno à sociedade original, a do profeta Maomé. A sua influência é expressa principalmente através dos Imãs formados pela Universidade Islâmica de Medina, na Arábia Saudita, e a sua força e ideologia difundiram-se, contribuindo para o movimento da chamada "re-islamização da Umma". Sendo muito fluido, o salafismo pode compreender três tendências principais: os reformistas, os tradicionalistas e os jihadistas. Os jihadistas, os mais radicais deste movimento, encontram-se em vários países, oferecendo muitas vezes refúgio para os militantes da Al-Qaeda, expulsos do Afeganistão.

Com frequência faz-se confusão entre o wahhabismo e o salafismo, ambos com origem na Arábia Saudita, sendo os dois termos usados, erradamente, de modo indistinto. Os salafitas, mesmo que conservadores, interpretam e reflectem sobre os textos, acreditam na ciência e na tecnologia, são activos socialmente e querem difundir o islamismo pela sociedade, enquanto os wahhabitas se apoiam na leitura literal do Corão, recomendada pela escola hanbalita.

A Jihad, às vezes referida como Jahad, Jehad, Jihaad, Jiaad, Djihad, ou Cihad, não é propriamente um movimento mas sim um conceito da religião islâmica. A palavra Jihad (da raiz árabe Ja-Ha-Da) é um substantivo que pode ser traduzido como uma luta ou acto de “esforço” empreendido na causa de Deus, mediante vontade pessoal, para se buscar e conquistar a fé perfeita, sendo conhecida, nesta forma, por “Jihad interna” ou “Jihad Maior”. Ou seja, é a luta do indivíduo consigo mesmo pelo domínio de sua idoneidade moral, uma jihad espiritual contra os seus próprios pecados. Existe contudo uma outra forma - a “Jihad Menor” – que se refere, para uns, ao esforço que o muçulmano deve fazer no intuito de levar a mensagem do Islão aos que não têm consciência da mesma e, para outros, como forma de levar a mensagem também até aqueles que não se submetem a Deus e à Paz. Há assim os que interpretam a “Jihad menor” como sendo uma forma permitida de guerra, com o intuito de expandir a área de influência do Islão. Alguns grupos acham que este conceito tem aplicação não apenas à defesa física dos muçulmanos, mas também à reclamação de terra que em tempos pertenceu a muçulmanos ou à protecção do Islão contra aquilo que eles vêem como influências que "corrompem" a vida muçulmana.

A explicação quanto às duas formas de Jihad não está presente no Alcorão, mas sim nos ensinamentos do Profeta Maomé. Aquele que segue a Jihad é conhecido como Mujahid e, de acordo com as formas mais comuns do Islão, se uma pessoa morre em Jihad é enviada directamente para o paraíso sem quaisquer punições pelos seus pecados.

Ao contrário do que muitos pensam, jihad não significa exactamente "Guerra Santa" (nome dado pelos ocidentais às lutas religiosas na Idade Média), muito embora a sua tradução mais normal seja essa. A noção de jihad como “guerra santa” contra os infiéis do Islão contrapõe-se à noção de Da’wah, como meio de persuasão e de convicção para adesão ao Islão, uma vez que literalmente significa “fazer convite” e é considerada uma obrigação para todo o muçulmano.

66 Sufismo – ver mais detalhes por exemplo em http://www.britannica.com/EBchecked/topic/571823/Sufism

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5. O fundamentalismo islâmico

O fenómeno do fundamentalismo islâmico, a que alguns chamam “islamismo” e de “islamista”, é uma forma de oportunismo político de alguns grupos, que se aproveitam da noção de Jihad, desvirtuando o Islão para o tornar num factor de acção política em proveito próprio. Um dos objectivos do fundamentalismo islâmico, tal como é normalmente definido, consiste na tomada de controlo do Estado para implementar o sistema islamista, ou seja, que abrigue e coordene todos os aspectos de uma sociedade através da sharia islâmica. Na sua essência, o fundamentalismo islâmico parece porém indicar apenas o desejo de regresso a um Islão "ideal", talvez o da era de Rashidun, epíteto aplicado à era dos quatro "Califas Correctamente Guiados" (al-Khulufa al-Rashidun), que governaram a comunidade dos crentes após a morte do profeta Maomé. Muitos fundamentalistas islâmicos acreditam que o Islão da era moderna, bem como os chamados "Estados islâmicos", foram corrompidos, pelo que desejam regressar ao "verdadeiro" Islão, sem quaisquer compromissos com o secularismo, o que frequentemente gera incompreensão e hostilidades em relação ao Ocidente.

A origem do fundamentalismo Islâmico parece, historicamente, não representar uma ameaça directa para os interesses Ocidentais, tendo sido na maior parte das ocasiões explorado de modo a servir interesses particulares, nomeadamente corporativos, como por exemplo para o controlo do petróleo ou de interesses estratégicos geográficos específicos. Há quem considere que a origem da oposição directa ao Ocidente pode ter começado com as cruzadas ou, em alternativa, apenas com o ressentimento do mundo islâmico face ao colonialismo ocidental do início do século passado.

Em acréscimo aos problemas surgidos naquele período, existe ainda um certo número de políticas ocidentais mais recentes, em especial as americanas, que são frequentemente citadas pelos movimentos islamitas como origem do actual fundamentalismo islâmico, tais como as tentativas de incorporar os países islâmicos em alianças contra a União Soviética, durante a Guerra-fria; intervenções políticas como o golpe de estado para restaurar o Xá, organizado pela CIA em 1953, depois do governo nacionalista liderado por Mohammed Mossadegh ter tomado o poder no Irão; o apoio político e militar ocidental a Israel contra o mundo árabe; e/ou o apoio ocidental a governos não-representativos.67

Nesta linha, a Al-Qaeda declarou a Jihad contra os EUA por causa da sua ocupação de territórios muçulmanos em geral e da Arábia Saudita em particular, tendo sida emitida uma fatwa que impõe ser dever de cada muçulmano matar americanos, civis e militares, sempre que possível. Nesta sequência declaram ainda vivamente que as suas acções são apenas uma retaliação contra os “crimes do infiéis”, a sua “ocupação” e “terrorismo”. Ou seja, a sua acção é justificada apenas como uma retribuição, uma vez que se consideram serem as próprias vítimas, que agem contra a opressão e ocupação estrangeiras68.

Por fim, muitos intelectuais citam as falhas dos próprios governos como uma das principais razões para esses actos: “Esses lançadores de bombas e selvagens”, escreve o jornalista egípcio Muhammad Hassanein Haykal69, “são o resultado de governos quase inimaginavelmente corruptos e medíocres” ou “one of the leading sources of instability and political-economic distortion in the Arab world is the unchecked use of state power, combined with the state’s whimsical ability to use the rule of law for its own political ends.”70

67 “Islão: Sunitas e Xiitas” – TeachIslam.com. 68 “From Muhammad to Bin Laden”, David Bukey, (p. 249 e 250). 69 New York Times Magazine, November 21, 1993. 70 “A View from the Arab World,” Rami Khouri, Jordan Times, July 5, 2000.

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O uso de tácticas violentas, habitual no fenómeno do fundamentalismo islâmico, tem porém causado um grande debate interno no mundo islâmico. Não existe qualquer justificação nas escrituras nem na jurisprudência islâmicas para matanças indiscriminadas ou assassinatos de cidadãos locais ou estrangeiros, tanto por muçulmanos sunitas como xiitas. Os terroristas e radicais de hoje, com a sua visão unilateral, citam assim o Corão apenas nos trechos em que se convoca a luta e não nos versos em que se prega a paz e o entendimento. Pode-se afirmar, então, que os actos violentos indiscriminadamente perpetrados contra civis não são islâmicos de origem.

De facto, a violência radical, qualquer que seja a sua origem, mais do que um problema islâmico, parece ser um fenómeno global. Grupos radicais, religiosos ou não, frequentemente florescem em ambientes não-democráticos onde a injustiça, repressão ou a imposta influência estrangeira são consideradas como as características dominantes da ordem existente. Mesmo em ambientes democráticos podem existir grupos radicais que usam conceitos como o de Jihad, ou se escondem atrás de organizações como a Al-Qaeda, como justificação para os seus actos de vingança e para legitimação da uma actuação assassina, como forma de expressarem a frustração contra humilhações, discriminações ou injustiças entretanto sofridas.

Apesar da tentativa de desmistificação desta noção, a Jihad é actualmente o principal pretexto e fonte de terrorismo no mundo, inspirando uma campanha generalizada de violência pelos auto proclamados “grupos jihadistas”. As organizações, grupos e movimentos considerados islamitas radicais mais conhecidos actualmente, são os seguintes:

• Al-Qaeda – Exército Islâmico para a Libertação dos Lugares Santos - organização internacional fundada por Osama bin Laden, Abdullah Azzam e Muhammad Atef;

• Frente Internacional Islâmica para a Jihad contra Judeus e Cruzados (IIFJ) – movimento internacional que reúne sob o mesmo comando operacional diversas organizações terroristas, incluindo as Egípcias Islamic Jihad, Jamaat-ul-Jihad e Gama'a al-Islamiya; as Paquistanesas Jamiat-ul-Ulema-e-Pakistan, Lashkar-i-Taiba, Sipah-e-Sahaba e Harkat-ul-Mujahideen; e o Movimento Jihad do Bangladesh;

• Laskar Jihad - responsável pela morte de mais de 10.000 Cristãos na Indonésia;

• Abu Sayyaf Group (ASG) e Moro Islamic Liberation Front (MILF) – Filipinas;

• Jemaah Islamiyah (JI) – a quem se atribui o atentado de Bali; baseado na Indonésia, opera em todo o Sudeste asiático – Índia, Paquistão, Bangladesh, Sri Lanka e Caxemira.

• Jamaat-e-Islami– o mais antigo partido religioso no Paquistão.

• Harakat ul-Jihad-i-Islami (HUJI) – Movimento terrorista Paquistanês, causa líder na violência em Caxemira e com afiliação em Bangladesh;

• Talibãs – movimento de etnia Pashtu, Afeganistão;

• Hezbollah – organização de resistência contra Israel e os interesses dos EUA, Líbano;

• Hamas (Harakat al-Muqawamah al-Islamiyyah) – partido político-religioso sunita Palestiniano - actuação na margem Ocidental do Rio Jordão e Faixa de Gaza;

• Palestinian Islamic Jihad ou apenas Islamic Jihad - considerado o maior grupo terrorista anti-Israelita de todos;

• Yemeni Islamic Jihad - afiliado terrorista da Al-Qaeda no Iémen;

• Egyptian Islamic Jihad - organização que matou Anwar El-Sadat em 1981;

• Grupo Islâmico Armado (GIA), Frente Islâmica de Salvação (FIS) e Grupo Salafista para a Prédica e o Combate (GSPC) - Argélia.

• Grupo de Combate Islâmico Líbio (GCIL).

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Segundo o periódico L’Osservatore Romano - jornal oficial da Santa Sé - publicado em Março de 200871, dados oriundos do levantamento estatístico de 2006 que visava analisar a distribuição dos credos religiosos pela população mundial, indicam que pela primeira vez o Islão é a maior religião do mundo. O resultado confirma que os muçulmanos constituem cerca de 19,6% da população mundial, contra 17,4% dos católicos. Conforme o coordenador do estudo, Monsenhor Vittorio Formenti, o número de muçulmanos no mundo inteiro é de aproximadamente 1,3 biliões de pessoas, contra 1,13 biliões de católicos, mas se forem levados em consideração as ramificações cristãs não católicas (ortodoxos, protestantes, episcopais e evangélicos) o número sobe para 2 biliões de crentes, ou seja, cerca de 33% da população mundial, mantendo o cristianismo a liderança do ranking mundial.

Destes 1,3 biliões de crentes muçulmanos (dados estatísticos de 2006), quase um quinto da população do planeta,

apenas cerca de 18% vive no mundo árabe, apesar de nestes países a percentagem de muçulmanos ser muito elevada.

71 http://www.estadao.com.br/internacional/not_int148346,0.htm

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Ser árabe não pode ser assim confundido com ser muçulmano, pois existem, por exemplo, mais de 100 milhões de muçulmanos na Índia (embora a maioria da população daquele país seja hinduísta), mais de 50 milhões na China e mais de 4 milhões nos Estados Unidos. Um quinto dos muçulmanos encontra-se espalhado pela África subsariana e cerca de 30% vive na Ásia (no Paquistão, Índia e Bangladesh, sendo a maior comunidade nacional a da Indonésia). Existem ainda significativas populações islâmicas na Ásia Central e na Rússia.

Actualmente, o Islão é a religião que mais cresce no mundo, com uma taxa estimada em cerca de 16% a mais de fiéis cada ano, e essa tendência não mudou depois do 11 de Setembro de 2001. Em 1973 haviam 36 países com uma maioria muçulmana no planeta e trinta anos depois, em 2003, eles eram já 47. Dados de 2008 referem um total de 1,5 biliões de crentes.

Os Estados Unidos, por exemplo, são hoje o lar de mais de 4 milhões de muçulmanos, cinco vezes mais do que em 1970. Cerca de metade deles são negros. Há 30 anos, a França tinha apenas 11 mesquitas e hoje são mais de 1 000. No início da década de 70, a Inglaterra continha 3 000 muçulmanos. Agora, são mais de 1 milhão. O Brasil é um outro exemplo onde o número de seguidores de Maomé também cresce com rapidez. Há 40 anos, o país tinha uma única mesquita e hoje são 52, frequentadas por cerca de 2 milhões de fiéis. Acresce ainda que há 10 anos atrás os muçulmanos no país eram todos

descendentes de imigrantes árabes mas, actualmente, milhares de brasileiros estão convertidos ao Islão.72

Source: Global Mapping International - gmi.org/images/oht_sets/islam Source: CIA World Factbook

72 Em Islamnet.eu - Pelo Islão e pela União – A expansão do Islão

Fonte: islamnet.eu/a-expancao-do-islao

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Todavia, o Anuário do Vaticano afirma que a proporção da população de católicos do mundo é razoavelmente

estável e que a percentagem de muçulmanos tem vindo a aumentar essencialmente por causa da imigração e das altas taxas de natalidade neste grupo. Enquanto na Europa o secularismo das sociedades ocidentais desenvolvidas e as baixas taxas de natalidade contribuem para o declínio consistente da população católica, a imigração de grandes contingentes populacionais de regiões próximas, como da África Subsariana, Magreb e Médio Oriente aumentam drasticamente o número de muçulmanos em países historicamente cristãos como a França, Espanha e a Alemanha. Acresce também que, por razões étnicas e religiosas, esses indivíduos apresentam normalmente índices muito baixos de inserção nas sociedades, quase sempre com ocupações de menor nível social, remunerados com baixos salários e vivendo em condições de vida precárias. Ou seja, somam-se factores como a religião, etnia e ocupação para que estes indivíduos se situem à margem da participação nos grandes movimentos de reivindicação e nas sociedades onde se encontram, optando muitas vezes pelo isolamento e pelo uso de meios violentos como forma de chamar a atenção para sua situação desprezada.

Os muçulmanos na Europa, por seu lado, enfrentam um aumento da chamada “islamofobia” ocidental, que se traduz em ataques violentos, discriminação no emprego ou dificuldades no acesso ao mercado da habitação, conforme refere o estudo organizado pelo Observatório Europeu do Racismo e da Xenofobia (EUMC)73. Neste estudo pede-se às autoridades europeias um reforço urgente das suas políticas de integração, pormenorizando as muitas divisões entre a maioria dos cidadãos da UE e os cerca de 13 milhões de muçulmanos que residem na União (cerca de 3,5% dos habitantes do conjunto das então 25 nações). O documento procura ainda apresentar uma perspectiva básica das complexidades que bloqueiam os esforços para ultrapassar as diferenças.

Estaremos então efectivamente perante um “choque de civilizações”? Retomemos a ideia inicial de Samuel Huntington sobre o assunto, escrito originalmente num artigo para a revista Foreign Affairs74, publicado na edição do verão de 1993, onde defende: “a fonte fundamental de conflito nesse novo mundo não será essencialmente ideológica ou essencialmente económica. As grandes divisões na humanidade e a fonte predominante de conflito serão de ordem cultural. Os Estados-nação continuarão a ser os agentes mais poderosos nos acontecimentos globais, mas os principais conflitos ocorrerão entre nações e grupos de diferentes civilizações. O choque de civilizações dominará a política global. As linhas de cisão entre as civilizações serão as linhas de batalha do futuro”. Contudo, tal conclusão não explica, por exemplo, as tensões que aparecem dentro da mesma civilização, não explica os acordos entre as civilizações, não explica as mudanças que intervêm no tempo e muito menos explica as mais recentes crises mundiais.

Tanto a sua visão fatalista como a celebração do “fim da história”, defendida por Francis Fukuyama (outro funcionário do Departamento de Estado), teoria que readaptou para comemorar a vitória capitalista e liberal sobre o socialismo existente, para devaneio dos financeiros de Wall Street, operadores das Bolsas de Valores de New York e Londres, diplomatas e políticos de Washington, mas também do mundo ocidental e dos governantes de potencias emergentes do Terceiro Mundo, mostraram-se totalmente inadaptadas. Enganaram-se e iludiram-nos com um suposto e incontornável processo de unificação e “globalização” financeira e cultural do mundo, que não chegou nem virá a ocorrer.

Observando os factos actuais e na linha da velha Realpolitik constatamos que Huntington construiu um sistema civilizacional com base numa situação momentânea e esse sistema parece pois não colar a todos os factos contemporâneos, pelo que não funciona nem é uma boa forma de compreender o mundo. A civilização mundial existe sob a forma de diferentes culturas que muitas vezes se têm unido para proteger a ética, a liberdade e o respeito mútuo. Assim, parece que o verdadeiro choque é o que opõe o mundo civilizado ao não civilizado, o entendimento e a compreensão aos radicais, violentos e selvagens.

Fukuyama, por sua vez, não imaginou que a verdadeira história contemporânea estaria ainda para começar, nem que se viria a assistir à queda do velho ideal da economia liberal (bastião dos EUA) com a consagração do recente intervencionismo deliberado e generalizado nas economias internas, ou a defesa/admissão da aceitabilidade pelas democracias liberais de soluções que passam por “ditaduras controladas”, como por exemplo para o governo do Iraque ou do Afeganistão.

73 “Racismo e Xenofobia nos Estados-membros da EU”, Relatório anual 2006, UEMC (European Monitoring Centre on Racism and Xenophobia).

74 Este texto fez tanto sucesso e despertou tanta polémica que levou o seu autor a ampliá-lo num volumoso livro de 367 páginas publicado em primeira-mão pela Simon & Shuster em 1996.

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Em vez de secularização parece estarmos a assistir ao retorno e revitalização da religião e ao reforço dos laços não só das nações mas também dos tribais e familiares entre os membros da mesma civilização ou entre civilizações. Retomando o lema da “globalização”, segundo o qual é preciso “pensar globalmente e agir localmente”, Huntington defende que a “política local é política de etnia, enquanto a política mundial é política de civilização”. Este caminho não tem estado contudo a produzir uma civilização universal nem a contribuir de forma evidente para a ocidentalização das sociedades não-ocidentais. É claro que o mundo ocidental actual ainda está forte, poderoso e bem armado, mas a sua influência relativa está em declínio, seja pela expansão económica, política e militar das sociedades asiáticas, seja pela continuada explosão demográfica de religiões como o Islão. Por fim, apesar de muitas das chamadas sociedades não-ocidentais quererem veementemente abraçar a modernização, rejeitam a ocidentalização ou, pelo menos, a forma como é feita a sua imposição, que desvaloriza as particularidades e características das sociedades que pretende transformar, contradizendo os princípios nos quais teoricamente se deveriam basear, ou seja, no liberalismo e democracia.

Voltando ao nosso tema central, poderemos concluir que desde o princípio dos tempos as pessoas olham para as religiões como uma forma para explicar o mundo à sua volta e o universo escondido ou inexplicável, para além do seu entendimento e alcance. As religiões formam ainda o núcleo de diversas culturas e sociedades e definem muitas vezes o modo como os seus seguidores entendem o mundo, oferecendo aos seus aderentes uma estrutura consistente de organização ética, moral e social que lhes permite integrarem-se correctamente na sociedade em que vivem. Num mundo cada vez mais interdependente compreender o papel da religião numa cultura específica pode ajudar-nos a compreender melhor os outros, mas seguramente também a nós próprios.

Neste contexto importa pois não só restringir o estudo do que é o Islão aos seus conceitos básicos e referir como se

distribui e cresce no mundo mas também, adicionalmente, observar como se integra nas diferentes sociedade. Efectua-se assim, de seguida, um périplo pelo actual mundo islâmico, fazendo uma breve referência à sua distribuição demográfica (religiosa), acompanhada de uma descrição sumária da situação vivida em cada um dos países onde a presença do Islão é significativa75, essencialmente aqueles que de alguma forma tem evidenciado movimentos ou actividades fundamentalistas, pelas repercussões que podem ter no âmbito da segurança internacional.76

75 Fontes: Departamento de Estado (EUA), CIA World Factbook (estimativas de Julho 2008) e BBC Brasil.com

76 Acresce igualmente uma breve referência à situação vivida nos EUA, Brasil e Portugal, não pela evidência específica de uma presença islâmica significativa mas pela

sua possível relação com o interesse nacional.

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Monarquia

Arábia Saudita

População - 28 146 656, incluindo 5 576 076 não-nacionais - 100% muçulmanos: 95% sunitas e 5% muçulmanos xiitas.

A Arábia Saudita, onde se situam Meca e Medina, as duas cidades mais sagradas do Islão, tem um papel central no mundo muçulmano, mantendo uma acepção altamente ortodoxa da lei islâmica. O wahabismo, com a sua interpretação conservadora do islamismo sunita, tem sido um dos fundamentos para a legitimação da Família Real e há quem afirme que a forma como este é ensinado nas universidades e nas suas mesquitas dá sustentação ideológica aos grupos radicais islâmicos em todo o mundo.

O governo saudita tem sido igualmente criticado pelas contínuas violações dos direitos humanos e enfrenta, actualmente, uma série de ataques de militantes armados que se opõem à Família Real. As autoridades sauditas afirmam que esses ataques estão ligados à rede Al-Qaeda.

Osama Bin Laden, por exemplo, nasceu numa proeminente família saudita, bem como 15 dos 19 suspeitos de realizarem os atentados suicidas de 11 de Setembro eram sauditas.

República

Líbano

População - 3 971 941 – 68% muçulmanos: 41% xiitas e 27% muçulmanos sunitas; 16% cristãos maronitas, 7% drusos, 5% ortodoxos gregos e 3% católicos, outros 1,3%

O Líbano tem um curioso sistema de governo que reflecte a composição religiosa do país: o presidente é sempre um cristão maronita, o primeiro-ministro é muçulmano sunita e o presidente do Parlamento é xiita. Os partidos da maioria parlamentar (muçulmanos sunitas e cristãos maronitas) têm o apoio dos países ocidentais e da Arábia Saudita, enquanto que a oposição (muçulmana xiita) é protegida pelo Irão e pela Síria.

Tirando vantagem da falta de autoridade central no país, alguns dos mais ferozes actos anti ocidentais e anti israelitas têm sido executados por grupos políticos xiitas no Líbano, onde o governo central entrou em colapso depois da guerra civil (1975). A luta levou então à intervenção da Síria, de Israel e de forças americanas. Movimentos radicais xiitas como o Hezbollah (“Partido de Deus”) floresceram no período seguinte a 1982, depois da intervenção militar ocidental no Líbano, quando tropas israelitas expulsaram a OLP de Beirute e forças de paz americanas foram enviadas, retirando-se logo depois, em 1984. O Líbano atrai a ira dos EUA ao recusar-se combater e desarmar o Hezbollah, que o considera uma organização terrorista. O governo libanês, por sua vez, alega que o Hezbollah é um movimento legítimo de resistência e uma importante organização política.

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República sob domínio militar

Síria

População – 19 747 586, mais cerca de 40 000 sírios que vivem nos Montes Golan (20 000 Árabes, 18 000 Drusos e 2 000 Alawitas), ocupados por Israel (20.000 Israelitas): Sunitas 74%, outros muçulmanos, incluindo Alawitas e Drusos 16%, Cristãos 10%, Judeus (pequenas comunidades).

A Síria uniu-se ao Egipto em 1958 para formar a República Árabe Unida. Em Setembro de 1961 as duas entidades separaram-se e foi restabelecida a República Árabe da Síria. Em 1970, Hafiz al-ASAD, membro do partido Socialista Bath, e a minoria Alawita tomaram o poder num golpe de estado sangrento, mas que trouxe a estabilidade política ao país. Durante a guerra Israelo-árabe de 1967 a Síria perdeu os Montes Golan para Israel, ocupados na Guerra dos Seis Dias e anexados depois por Israel, em 1981. Nos anos 90 os dois países mantiveram ocasionalmente conversações sobre a sua devolução, mas as negociações de paz entre a Síria e Israel foram rompidas em Janeiro de 2000 quando o governo de Damasco exigiu a sua devolução.

Após a morte do Presidente al-ASAD, a sucessão pelo filho - Bashar al-ASAD - só foi aprovada em referendo no ano de 2000. As tropas Sírias estacionadas desde 1976 no Líbano, com funções de peacekeeping, foram finalmente retiradas em 2005. A Síria abriga actualmente os quartéis-generais do Hamas, do Hezbollah e de outros grupos radicais palestinianos comprometidos com a destruição de Israel.

ex-Território ocupado

Palestina

População - Cisjordânia (West Bank): 2 407 681; Faixa de Gaza: 1 500 202 - estima-se que 90% dos palestinianos são muçulmanos e drusos, sendo os restantes cristãos.

Ex-território ocupado pelos Israelitas, agora sob o controlo da Autoridade Palestiniana, a partir de Ramalah. A proporção de cristãos nos territórios ocupados diminuiu cerca de 30% em relação à população total de há 10 anos. Acredita-se que muitos partiram por causa da vida difícil nas áreas palestinas e pela crescente islamização do movimento nacionalista palestiniano. Quer a sociedade quer o movimento nacionalista são historicamente seculares, mas com o crescimento do Hamas e da Jihad Islâmica o pensamento e a política islamista têm vindo a tornar-se dominantes.

Os grupos radicais armados do Hamas, Jihad Islâmica e Brigada dos Mártires de Al-Aqsa lideram os ataques contra israelitas nos territórios ocupados e em Israel. Desses grupos, o Hamas oferece ainda serviços sociais aos palestinianos, tornando-se uma verdadeira estrutura alternativa à actuação da Autoridade Palestiniana.

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Monarquia constitucional

Jordânia

População - 6 198 677: muçulmanos sunitas 92%, cristãos (na maioria ortodoxos gregos) 6%, outros 2% (comunidades xiitas e drusas).

A Família Real Jordana - os Hashemitas - governam o país desde a independência, em 1946, e a sua legitimidade tem por base o seu status de descendentes directos de Maomé. A Jordânia é uma sociedade conservadora e amplamente tribal que o rei Abdullah está a tentar modernizar. Foram efectuadas eleições para o governo e parlamento, mas persistem costumes antigos, como o recurso à morte para limpar a honra.

O Hamas tinha uma forte presença na Jordânia até ao final da década de 90, causando grande atrito com Israel. O rei Abdullah fechou contudo o quartel-general do Hamas e expulsou os seus líderes da Jordânia, resolvendo a situação. Egipto

População – 81 713 520: 90% muçulmanos (a maioria é sunita - menos de 1% de muçulmanos xiitas), 9% cristãos, 1% outros.

República

Egipto

População – 81 713 520: 90% muçulmanos (a maioria é sunita - menos de 1% de muçulmanos xiitas), 9% cristãos, 1% outros. A população cristã habita sobretudo no sul do país e nas cidades do Cairo e de Alexandria. A maioria destes cristãos pertence à Igreja Ortodoxa Copta.

No Egipto encontra-se a mesquita e universidade Al-Azhar, uma das instituições mais importantes para os muçulmanos sunitas. O sistema judicial é secular, mas as leis de família e de casamento são primordialmente baseadas nas leis religiosas islâmicas (sharia). Grupos de defesa dos direitos civis dizem que essa área da lei e os costumes sociais tradicionais discriminam e oprimem as mulheres e a minoria copta.

Os principais grupos radicais do Egipto são os Gamaa Islamiya e Jihad Islâmico, mas ambos mantêm uma trégua no país. Alegadamente, parte do Jihad Islâmico tem actualmente estreitas ligações com a rede Al-Qaeda. Um outro grupo religioso muito popular no Egipto é a Irmandade Muçulmana, que é ilegal como partido, embora as suas actividades sejam toleradas na maior parte do tempo por não pregar a violência armada.

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Democracia parlamentar

Iraque

População - 28 221 180: 97% muçulmanos; xiitas 60%-65%, muçulmanos sunitas 32%-37%, cristãos ou outros 3%. Saddam Husayn governou o Iraque através do partido laico Baath e a expressão política islamista, que não a autorizada pelo Estado, era então severamente reprimida.

Em Agosto de 1990 o Iraque invade o Kuwait mas é expulso por uma coligação de forças liderada pelos EUA (I Guerra do Golfo). Após a libertação do Kuwait, o Conselho de Segurança da ONU requereu que o Iraque desmantelasse todas as armas de destruição massiva bem como os seus mísseis de longo alcance, permitindo a sua verificação através de inspecções da ONU. A continuada desobediência das sucessivas resoluções e a infundada suspeita da existência de armas de destruição em massa levou à II Guerra do Golfo, pela invasão do Iraque em 2003, novamente por uma coligação de forças liderada pelos EUA que depôs o regime de Saddam Husayn.

Actualmente os EUA alegam que o Ansar al-Islam, um grupo com base no norte do Iraque, tem ligações com a rede Al-Qaeda e está ainda activo no país. Alguns grupos xiitas indicaram que podem também pegar em armas contra a ocupação dos EUA e da Grã-Bretanha.

Irão

População – 65 875 224: muçulmanos 98%; xiitas 89%, sunitas 9%, adeptos do zoroastrismo, judeus, cristãos e bahaístas 2%.

Conhecido como Pérsia até 1935, o Irão tornou-se numa república islamista depois da revolução de 79. Eclesiásticos xiitas não eleitos detêm o controle político máximo da República, embora o parlamento e o presidente sejam eleitos. Nos últimos anos, o Irão viveu uma luta política em que os conservadores usaram o seu controle sobre o sistema judiciário para combater a oposição e restringir as medidas reformistas do ex-presidente Khatami. Em 2005 foi eleito o actual presidente, Ahmadi Nejad, que é considerado um radical.

O Irão encontra-se na lista dos EUA de países que patrocinam o terrorismo, por ter ligações estreitas com organizações como o Hezbollah e não interromperem o seu programa nuclear e de enriquecimento de urânio.

República teocrática

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República Islâmica

Afeganistão

População – 32 738 376: muçulmanos sunitas 84%, xiitas 15%, outros 1%.

Ahmad Shah Durrani unificou as tribos Pashtun e fundou o Afeganistão em 1947. Desde a invasão russa, em 1979, o país tem sido a origem de muito do radicalismo islâmico armado no mundo. Mujahideens treinados no Afeganistão saíram para lutar em todo o mundo, especialmente na Argélia e na Chechénia. Na década de 90, depois de anos de caos, emergiu o controlo Taliban, formado por afegãos que estudaram em escolas islamistas no Paquistão e que criaram um regime islâmico altamente puritano, conservador e repressivo, mas que trouxe alguma ordem ao país até a ofensiva liderada pelos EUA em 2001. Alegadamente, o Afeganistão abrigava a rede terrorista da Al-Qaeda e os seus campos de treino.

A heterogénea população afegã dedica-se basicamente à agricultura, em especial de ópio, sendo o Afeganistão, hoje, o maior produtor do mundo. O tráfego de droga é uma das maiores fontes de instabilidade na região, que os Taliban e outros grupos antigovernamentais instigam para manter os seus negócios ilegais; a corrupção generalizada tem impedido ainda os esforços da luta internacional anti-droga no país, que é muito vulnerável à lavagem de dinheiro através de redes financeiras informais. Hamid KARZAI tornou-se em 2004 o primeiro presidente democraticamente eleito e a Assembleia Nacional foi inaugurada um ano depois.

República Federal

Paquistão

População -172 800 048: muçulmanos 95%; sunitas 75%, xiitas 20%, cristãos, hindus e outros 5%.

O Paquistão foi criado como Estado muçulmano depois da declarada independência da Índia, em 1947. Persiste a tensão entre o Paquistão e a Índia por causa da província de Caxemira, disputa que despertou temores de uma corrida ao armamento na região, pois tanto o Paquistão quanto a Índia podem fabricar armas nucleares. O Paquistão é acusado de apoiar grupos islamistas que combatem as forças indianas em Caxemira, para além de enfrentar a violência sectária entre sunitas e xiitas.

As forças de segurança paquistanesas tinham laços estreitos com o regime Taliban no Afeganistão até ao regime ter sido derrubado pela ofensiva liderada pelos EUA. Acredita-se que alguns membros dos Taliban e da Al-Qaeda procuraram depois refúgio no Paquistão. A resignação do presidente Pervez Musharraf levou em Setembro de 2008 à eleição de Asif ZARDARI (viúvo de Benazir BHUTTO), que está a combater o extremismo islâmico e advoga um Estado islâmico mais liberal.

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República federal

Índia

População – 1 147 995 904: Hindus 80.5%, muçulmanos 13.4%, Cristãos 2.3%, Sikh 1.9%, outros 2% (dados do censo de 2001).

Os cerca de 14% dos indianos muçulmanos, perfazem um total de 120 milhões de pessoas.

A constituição indiana prevê liberdade religiosa para todas as fés e crenças, mas tensões regionais e de castas continuam a perturbar o país, por vezes ameaçando a sua normal postura democrática e secular e motivando ondas sangrentas de violência.

Em 1992 houve um conflito generalizado entre hindus e muçulmanos, depois de extremistas hindus demolirem a mesquita de Babri, em Ayodhya. Em 2002, um comboio transportando hindus que voltavam de uma peregrinação foi igualmente incendiado em Gujarat. Pelo menos 1.000 pessoas (a maioria muçulmanos), morreram nos dois meses seguintes quando multidões de hindus clamaram por vingança. Mais recentemente ocorreram uma série de atentados sangrentos em Bombaim, que colocaram a capital em Estado de Sítio.

República

Indonésia

População - 237 512 352: muçulmanos 86%, cristãos protestantes 5%, católicos romanos 3%, hindus 2%, budistas 1%, outros 3% (dados do censo de 2000).

A Indonésia é a nação muçulmana mais populosa do mundo (com cerca de 204 milhões de muçulmanos), mas tem uma constituição secular. Grupos moderados islâmicos têm-se oposto aos pedidos para a incorporação das leis islâmicas nas leis do Estado.

Vários grupos radicais islamitas operam na Indonésia e estão dispostos a usar de violência. Acredita-se que o mais conhecido desses grupos, o Jemaah Islamiah, tenha ligações com a rede Al-Qaeda. Este grupo foi o responsabilizado pelo atentado à bomba em Bali. Dos grupos activos, alguns propõem um Estado islâmico na Indonésia, enquanto outros apenas fazem campanha para a imposição das leis islâmicas (sharia).

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República popular

Argélia

População – 33 769 668: muçulmanos sunitas 99%, cristãos e judeus 1%.

Desde 1991 que o quotidiano na Argélia tem sido dominado pela luta entre o governo, apoiado pelos militares, e militantes islamistas. Naquele ano, a Frente de Salvação Islâmica estava na iminência de vencer as eleições gerais e a segunda volta foi anulada com o receio do país deixar de ser secularizado. Esta acção iniciou uma campanha sangrenta que causou a morte de dezenas de milhar de pessoas no país.

Em 1999 o exército colocou fraudulentamente na presidência Abdelaziz BOUTEFLIKAO, que foi depois reeleito em 2004. O governo tem executado uma política de erradicação dos grupos islamitas armados, que querem continuar o conflito, enquanto oferece amnistia aos que se desejam desarmar. O principal grupo islamita armado (GIA) encontra-se praticamente disperso e alguns líderes islâmicos foram libertados da cadeia. O Grupo Salafista para a Oração e Combate (GSPC), que se acredita ter ligações com a rede Al-Qaeda, está contudo ainda activo.

Autocracia popular

Líbia

População – 6 173 579: muçulmanos sunitas 97%, outros 3%. Após o golpe militar de 1969, o Coronel Muammar al-QADHAFI tomou o poder e impôs um sistema político próprio - a Terceira Teoria Universal - que combina o socialismo com o islamismo e as praticas tribais, através de uma “democracia popular” (Jamahiriya), ou seja, um estado autoritário, governado pela população através de concelhos populares locais.

Nos anos 80 e 90, com base nos lucros do petróleo, QADHAFI promoveu a sua teoria revolucionária fora da Líbia, apoiando grupos radicais e terroristas. Em 1992 as sanções da ONU promoveram o isolamento do regime que finalmente decidiu, em 2003, renunciar ao terrorismo e suspender as suas actividades no desenvolvimento de armas de destruição massiva. Em 2006 os EUA retiraram a Líbia da lista dos países promotores do terrorismo e, em 2007, o país foi eleito como membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para o período 2008-2009.

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Acordo de Paz

Sudão

População – 40 218 456: sunitas 70%, crenças locais 25%, cristãos 5%.

O Sudão tem um governo islamista no poder desde 1989, depois do golpe militar apoiado pela Frente Nacional Islâmica. O país foi de seguida devastado por 20 anos de guerra civil entre o governo muçulmano, no norte, e os cristãos e animistas no sul. Em 2005 as partes assinaram o Comprehensive Peace Agreement (CPA) e criaram um governo de unidade nacional, estando previstas eleições gerais para 2009. Um outro conflito deflagrou no Darfur, em 2003. Desde Janeiro de 2008 a ONU conduz a operação de peacekeeeping da UA no Darfur.

Osama Bin Laden tinha a sua base no Sudão nos finais dos anos 90, até que recebeu um pedido para deixar o país, transferindo-se para o Afeganistão. A ideologia islamita do governo sudanês tem oferecido abrigo e apoio a grupos islâmicos radicais na região. Desde 2001, o Sudão tenta sair do isolamento internacional procurando realizar conversações para pôr fim à guerra civil e coopera com os serviços de informações dos EUA.

Governo de transição

Somália

População: 9 558 666 (estimativa do Departamento de Estado dos EUA com base no censo de 1975, considerando já os refugiados e as populações nómadas): muçulmanos sunitas 100%.

Depois da deposição do presidente Siad Barre, em 1991, a Somália não voltou a ter um governo central eficaz. Os combates entre senhores da guerra rivais e a sua inabilidade em lidar com a fome e as epidemias levaram já à morte cerca de um milhão de pessoas. O governo de transição, estabelecido em 2000, controlava apenas partes da capital e só em 2006 uma peculiar coligação de eclesiásticos, líderes de negócios e milícias dos tribunais populares Islâmicos (Council of Islamic Courts - CIC) derrotaram em Mogadishu os senhores da guerra, tomando controlo da capital. Em 2004, Abdullahi YUSUF Ahmed foi eleito presidente do Governo Federal de Transição.

As autoridades americanas acreditam que o grupo radical islâmico al-Ittihad al-Islamiya, sedeado na Somália, pode ter realizado os ataques de 2002 contra turistas israelitas em Mombaça, no Quénia, e terá ligações com a rede Al-Qaeda. As suas costas são ainda campo de acção generalizada da pirataria, que se crê estar sedeada na península da Puntelândia, donde partem os ataques entre o golfo de Aden e o Oceano Índico.

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República

Albânia

População – 3 619 778: muçulmanos 70%, cristãos ortodoxos albaneses 20%, católicos romanos 10%.

Viveu sob um pesado regime comunista, primeiro relacionado com a URSS, até 1960, e depois, com o governo de Enver Hoxha com as suas tendências maoistas (até à ruptura com Deng Xiaoping). A Albânia ficou num total isolamento até 1985, altura em que Hoxha morre. Em 1991, efectuaram-se as primeiras eleições multipartidárias.

Em 1967 as autoridades comunistas anunciaram que todos os locais de culto - 2.169 igrejas, mesquitas, conventos e outros - seriam fechados e todas as práticas religiosas proibidas. A prática religiosa só voltou a ser legal de novo em 1991. Pela constituição albanesa de 1998, não há religião oficial na Albânia.

Acredita-se que grande parte da actividade de contrabando na região, especialmente a que envolve as ligações com o Kosovo, tenha origem na Albânia.

República Auto proclamada

Kosovo

População - 2 126 708 (est. 2007 - fonte: UNMIK): 92% muçulmanos (88% albaneses, 3% muçulmanos eslavos, 1% de origem turca), 6% sérvios ortodoxos, 2% ciganos.

A resolução UNSCR 1244 (de 1999) colocou o Kosovo sob administração (governo) da UNMIK (UN Interim Administration Mission in Kosovo) até decisão sobre o seu futuro, ao mesmo tempo que garantia a integridade territorial da Sérvia. Em 2001 a UNMIK estabelece o PISG (Provisional Institutions of Self-Government) e começam-se a desenvolver negociações entre uma autonomia significativa defendida pelos Sérvios e a independência total defendida pelos Albaneses. O malogro destas negociações terminou com a auto proclamada independência desta província da Sérvia, pela Assembleia, em 17 de Fevereiro de 2008, à revelia do estabelecido na UNSCR 1244.

Durante e depois da NATO ter assumido o controle do Kosovo e a administração das Nações Unidas ter começado em 1999, cerca de 360.000 não-albaneses (essencialmente Sérvios) deixaram a província e cerca de 200.000 Albaneses voltaram ao país. A maioria muçulmana Albanesa tem perseguido e tentado destruir a herança cultural e religiosa da Sérvia na região, controlando quase todo o território, com excepção de uma pequena parte a norte do rio Ibar.

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República constitucional da Rússia

Chechénia

População: Maioria muçulmana, com uma pequena minoria cristã (não existem estatísticas detalhadas disponíveis).

A república independentista russa da Chechénia foi destruída após anos de guerra civil entre separatistas e forças do governo Russo. Desde a desintegração da URSS o islamismo teve grande crescimento na região, chegando mesmo a tornar-se a religião do Estado (a sharia incorporou as leis do Estado quando as forças russas foram temporariamente expulsas).

Os comandantes separatistas chechenos mais radicais afirmam que a sua luta é uma Jihad, sendo financiados com recursos estrangeiros, especialmente por organizações militantes islamitas da Arábia Saudita. O governo russo qualificou a luta contra os rebeldes como parte da “guerra contra o terrorismo” dos EUA, responsabilizando-os por atentados à bomba contra alvos civis e pelo cerco a um teatro em Moscovo, em Outubro de 2002.

República

Turquia

População – 71 892 808: muçulmanos 99,8% (na maioria, sunitas), outros - 0,2% (a maioria cristãos e judeus)

A Turquia foi fundada em 1923, após a queda do império Otomano. Actualmente, a Turquia é constitucionalmente um Estado secular, e as Forças Armadas são o seu guardião. Os militares depuseram governos civis em 1960, 1971 e 1980, mantendo um papel dominante durante esses períodos. Mais recentemente os militares têm-se mantido fora do poder, apesar de em 1997 terem estado por detrás da remoção do primeiro governo islamista do país.

A Turquia é governada pelo Partido da Justiça e Desenvolvimento, que embora tenha raízes islamistas se apresenta como conservador (tipo partido democrata-cristão europeu) e a contradição entre a constituição (estritamente secular) e a população muçulmana levou a algumas restrições à liberdade religiosa, como por exemplo a proibição de que mulheres usem lenços na cabeça nas escolas do governo.

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República federal

Brasil

População – 196 342 592: católicos romanos 73%; cristãos evangélicos 15%; espiritualistas 1.3%, outros 1.8%, sem religião 7.4%. Muçulmanos - cerca de 27 milhões (Fonte: IBGE, Censo de 2000)

Depois de centenas de anos sob domínio português, o Brasil tornou-se independente em 1822 e numa República em 1889.

Apesar das diversas afirmações efectuadas por agentes de informações dos EUA e de Israel, o governo brasileiro nunca admitiu a existência de células terroristas na região Sul do país, na chamada Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai), nem a sua existência foi ainda provada. Contudo, a área de Foz do rio Iguaçu é um dos lugares de maior concentração de muçulmanos do país e tem sido apontada, desde os atentados de 11 de Setembro, como um provável local de presença de militantes islamitas.

Diz-se que Osama Bin Laden teria visitado aquela região em 1995 para fazer palestras e que Khalid Shaikh Mohammed (o 3º na cadeia de comando da Al-Qaeda), teria também passado pelo Brasil. Em 2002 o Departamento de Estado americano anunciou a disponibilização de 1 milhão de dólares para que os 3 países adoptassem medidas antiterroristas naquela região.

República Federal

Estados Unidos da América

População – 303 824 640: Protestantes 51.3%, Católicos Romanos 23.9%, Mórmon 1.7%, outros Cristãos 1.6%, Judeus 1.7%, Budistas 0.7%, Muçulmanos 0.6%, outros 2.5%, não especificados/afiliados 12.1%, agnósticos 4%.

Antiga colónia Britânica, tornou-se independente em 1776, tendo sido reconhecido como Estados Unidos da América pelo Tratado de Paris em 1783. Com 80% de brancos, 12.9% negros e 4.4% de asiáticos, existem actualmente quase 5 milhões de americanos muçulmanos. A maioria destes muçulmanos é imigrante (77,6%,) mas estima-se que 22,4% tenham já nascido nos EUA.

Estima-se que aproximadamente existam 2.000 mesquitas nos EUA e o islamismo é uma das religiões que mais crescem no país, crendo-se que em breve possa superar os judeus, tornando-se na segunda maior crença, depois do cristianismo. Os Estados Unidos têm sido palco de violentos ataques extremistas sendo o último da Al Qaeda, em Setembro de 2001.

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Portugal

Portugal População – 10 676 910: Católicos Romanos 84.5%, outros Cristãos 2.2%, outros 0.3%,

desconhecidos 9%, agnósticos 3.9% (censo de 2001). Em Portugal existe igualmente uma pequena comunidade muçulmana, que celebrou o seu

40º aniversário em Lisboa, em 23 de Junho de 2008. São na sua maioria naturais das antigas colónias portuguesas, nomeadamente de Moçambique e da Guiné-Bissau, que se fixaram no país após a independência daqueles territórios. Estima-se que a comunidade de muçulmanos em Portugal ronde os 35 mil, sendo actualmente presidida por Abdool Karim Vakil.

A comunidade islâmica de Lisboa foi oficialmente reconhecida em 1968 e concentra-se

sobretudo na zona de Lisboa e arredores (Odivelas e Laranjeiro), embora existam importantes comunidades no Porto, Coimbra e no Algarve. A grande maioria dos muçulmanos em Portugal é sunita mas o Islão xiita ismaelita também está presente. Estima-se que existam cerca de 8 mil ismaelitas em Portugal, tendo a sua sede no Centro Ismaili de Lisboa, construído pela Fundação Aga Khan. Em 1985 a grande mesquita central de Lisboa foi finalmente inaugurada. A Mesquita Central de Lisboa é a principal mesquita da comunidade islâmica portuguesa e à semelhança da generalidade das mesquitas, nela podem ser distinguidas quatro áreas: a entrada, a sala de orações (sobre a qual se ergue uma cúpula), a madraça (escola islâmica) e o minarete. O actual imã da mesquita de Lisboa é o Sheik David Munir. Em 1991 foi inaugurada a mesquita de Coimbra, no bairro de Santa Apolónia e existe ainda a mesquita do Laranjeiro e de Odivelas. Mais de 10 mesquitas provisórias e locais de culto estão espalhados por Lisboa e pelo país. Três casas para a cultura e educação islâmicas são igualmente frequentadas por muçulmanos adultos e crianças. Representantes das instituições governamentais portuguesas sempre aceitaram os convites para participar nas cerimónias.

A conservadora "Voz Islâmica em Portugal", o jornal Al-Furqán, editado desde 1981, publica monografias e panfletos sobre assuntos islâmicos e, mais recentemente, organizou feiras de livros. Em 1989, Valy Mamede fundou o Centro Português de Estudos Islâmicos, em Lisboa, e existe ainda uma associação para a educação islâmica.

Fotos: Mesquita de Lisboa

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6. Designações geográficas dos diferentes Orientes

Para o mundo globalizado de hoje é premente um conhecimento recíproco profundo entre o Oriente e o Ocidente. O ponto de partida para este conhecimento deve ser uma demarcação clara do que sejam os três Orientes e o Ocidente nas suas unidades e oposições.

O Próximo Oriente ou Oriente próximo compreende a região da Ásia próxima ao mar Mediterrâneo, a oeste do rio Eufrates, incluindo a Síria, Líbano, Palestina e Iraque, conhecida como sendo um verdadeiro barril de pólvora pelo complexo e explosivo clima político da região. O Próximo Oriente é constituído basicamente pela cultura árabe, mas nem sempre foi assim. No passado, inúmeras culturas coexistiram nesse mesmo espaço: a cultura suméria, a egípcia, a assiro-babilónica, persa, a judaica, a greco-romana, a greco-bizantina etc. Hoje estão de volta à Palestina os judeus, rompendo o antigo equilíbrio existente.

Segundo Guénon77, por exemplo, o Próximo Oriente é bastante mais amplo, começando nos confins da Europa e estendendo-se tanto pela parte da Ásia mais próxima da Europa, como por toda a África do Norte - apesar das populações berberes Norte Africanas não se confundirem com árabes, dado possuírem uma unidade própria, para além de serem muçulmanos são habitualmente considerados árabes na sua essência. Neste sentido, a sua definição mais cultural que geográfica parece aproximar-se do actual conceito de Médio Oriente.

Neste contexto assinale-se que muitas vezes se confunde Próximo Oriente com o Médio Oriente - ver no mapa abaixo uma representação dos três Orientes claramente distintos.

77 René Guénon, «Introduction Générale a l’étude des Doctrines hindoues », p. 53-65. Paris, Ed. Véga, 1964.

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O Médio Oriente (em árabe, ash-sharq-al-awsat) é um termo que se refere a uma área geográfica mais ampla mas de forma pouco específica, sem uma definição de fronteiras precisas, à volta das partes leste e sul do Mar Mediterrâneo, um território que se estende desde o Mediterrâneo até ao Golfo Pérsico. O Médio Oriente é assim uma sub-região que engloba partes da Europa (parte da Turquia está na Europa e o país é considerado por alguns como sendo europeu), mas sobretudo da Ásia e uma pequena parte da África Setentrional.

No Médio Oriente considera-se geralmente incluir a Arábia Saudita, Bahrein, Chipre, Egipto, Emirados Árabes

Unidos, Iémen, Israel, Irão, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Palestina (que inclui a Cisjordânia e a Faixa de Gaza), Omã, Qatar, Síria e Turquia. Destes, os únicos países não totalmente asiáticos são o Egipto (que tem a Península do Sinai na Ásia, mas é maioritariamente africano) e a Turquia (maioritariamente asiático, mas com a Trácia incluída na Europa). O Afeganistão e Paquistão são considerados parte inter seccional entre o Subcontinente Indiano e a Ásia Central, raramente parte do Oriente Médio.

Na figura podemos observar igualmente aquilo a que se costuma chamar o Grande Médio Oriente. Os países do Magreb (Argélia, Líbia, Marrocos e Tunísia) são frequentemente associados ao Médio Oriente devido às ligações históricas, culturais e religiosas (são países islâmicos), tal como o Sudão, a Somália e a Mauritânia que têm também este tipo de ligações. A Turquia e Chipre, apesar de geograficamente próximos, são normalmente considerados mais adjacentes da Europa.

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O Magreb é identificado geralmente com a África do Norte e engloba a região deste continente acima do deserto do Saara - está limitado pelo Mar Mediterrâneo a norte, pelo Oceano Atlântico a oeste, pelo Golfo de Gabés a leste e pelo Saara a sul.

O Magreb abrange, em sentido estrito, Marrocos, o Sahara Ocidental, Argélia e Tunísia (Pequeno Magreb ou Magreb Central). O Grande Magreb inclui também a Mauritânia e a Líbia (na época Romana era conhecido como África menor).

A palavra Magreb provém do árabe Mahrib ou Maghrib que significa "lugar onde se põe o sol", ou seja, a região que estava mais a ocidente do mundo islâmico, opondo-se ao termo “Iémen” (que significa "direita") ou ao conceito de Mashrek ("nascente" ou “oriente”).

O Mashriq ou Mashreq é um conceito geográfico e, por vezes, também cultural, que em árabe significa Oriente, designando a parte oriental do Mundo Árabe que se estende desde o Egipto até ao Iraque e inclui a Península Arábica. Fazem parte do Mashreq todos os países árabes a Este da Líbia, sendo este país tradicionalmente considerado um território de transição, englobado dentro do Magreb (é membro da União do Magreb Árabe).

A União Europeia costuma referir-se ao Mashrek de uma forma mais limitada, formado apenas pelo Egipto, Jordânia, Líbano, Autoridade Palestiniana e Síria.

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O Crescente Fértil é uma região do Médio Oriente compreendendo Israel, Cisjordânia e Líbano, bem como partes da Jordânia, Síria, Iraque, Egipto e do sudeste da Turquia. O termo « Crescente Fértil » foi concebido pelo arqueólogo James Henry Breasted, da Universidade de Chicago, no início dos anos 1900, que o usou em referência ao arco formado pelas diferentes zonas se assemelhar a uma Lua crescente e ser muito produtivo, em virtude de ser irrigado pelos rios Jordão, Eufrates, Tigre e pelo Nilo.

É a chamada "meia-lua fértil" ou "Crescente Fértil", dentro do

qual está também a Palestina. Esta zona estende-se assim pelas planícies aluviais do Nilo, continuando pela margem leste do Mediterrâneo, em torno do norte do deserto sírio e através da Península Arábica e da Mesopotâmia, até o Golfo Pérsico.

O Sahel, proveniente do árabe sahil (que significa “costa” ou “fronteira”), é a região da África situada entre o deserto do Saara e as terras mais férteis a sul. Este termo designa assim uma região geográfica de transição, caracterizada pela vegetação de savana, que apesar de receber uma fraca precipitação anual (entre 250 a 900 mm/ano) tem boas potencialidades para a agricultura, sendo protegida por uma “cintura verde” constituída por uma flora altamente diversificada que a protege dos ventos do Saara.

Apesar destas condições, a grande seca no Sahel dura há já três décadas, fazendo parte de uma fase fria ligada ao modo de circulação rápido da chamada “circulação geral da atmosfera”, que se verifica desde os anos 1975/76. Essa alteração provocou uma migração para Sul das estruturas da “pluviogenesis” no continente Africano e é a responsável pela fome e consequente pressão imigratória clandestina com origem naqueles países.

Normalmente incluem-se no Sahel o Senegal, Mauritânia, Mali, Burkina-Faso, Níger, a parte norte da Nigéria, o Chade, Sudão, Etiópia, Eritreia, Djibouti e a Somália.

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O Extremo Oriente, ou Ásia oriental, é uma sub-região da Ásia. O Extremo Oriente constitui-se pelo universo da cultura chinesa, estendendo-se do Vietname à Coreia. O Japão também se encontra geralmente incluído, apesar deter uma cultura própria, com elementos bem característicos e diferenciados. Este mundo do Extremo Oriente possui uma unidade racial bem mais acentuada que os outros Orientes, tendo principalmente a língua escrita chinesa comum a unificá-lo como cultura. Apesar da sua unidade racial, aqui coexistem diferentes agregados religiosos, principalmente Budistas, Hindus e Muçulmanos.

Fazem específicamente parte do Extremo Oriente a China (embora as suas províncias do Tibete, Qinghai e Xinjiang fiquem na Ásia Central), Japão, Coreia do Norte, Coreia do Sul e Taiwan.

São ainda muitas vezes considerados parte do Extremo Oriente a Mongólia (frequentemente considerada parte da Ásia Central) e o Vietname, mas também, de uma forma mais alargada, todo o Sudeste Asiático (que engloba uma parte do continente, incluindo a Indochina e uma grande quantidade de ilhas), o extremo leste da Rússia e a Oceânia.

Vivem no Extremo Oriente mais de 1 500 milhões de habitantes, ou seja, cerca de 40% de todos os asiáticos e um quarto da população do mundo, o que faz desta região um dos locais mais populosos do planeta.

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7. Vocabulário do Islão

• adab: palavra que conjuga vários significados relacionados com ética, polidez e a literatura no seu sentido mais nobre;

• adhân; adhan ou esan: chamada para a oração;

• adl: justiça;

• akhira: a crença no além; o outro mundo, após a morte;

• âlim, ulemá (pl): sábio;

• Allâh, Allah ou Alá: Deus. O termo é usado com o mesmo sentido pelos cristãos de língua árabe;

• chahâda ou shahada: testemunho, profissão de fé (um dos cinco pilares do Islão);

• chaïkh, cheikh, cheik, Sheik ou Xeque: ancião, chefe;

• charî‘a, charia, sharia, xaria: lei, código jurídico tradicional das sociedades muçulmanas, corpo das leis religiosas muçulmanas;

• chî‘a, chiita, xiita, chiismo, xiismo: uma das correntes do Islão (literalmente significa “disciplina”);

• chourâ: tomada de decisão num conselho consultivo ou senado;

• fana: extinção, aniquilação;

• fard ou fardh: norma prescrita, aquilo a que a religião obriga. Orar, por exemplo, é fard. Este termo é o antónimo de harém ; pode ser complementado quanto à sua obrigatoriedade (wajib), compulsoriedade (muhattam) ou necessidade (lazim);

• fatwâ ou fatawa (pl.): parecer jurídico emanado pelo mufti (um jurista muçulmano), de acordo com a fiqh - não é obrigatoriamente uma sentença de morte, como se pode pensar a partir de algumas notícias veiculadas pelos meios de comunicação social ocidentais ;

• fiqh: conjunto de leis islâmicas; direito islâmico;

• fitra: natureza das coisas e, mais especificamente do homem; predisposição inata do homem para se dedicar ao conhecimento, à justiça, à beleza, etc.;

• hadj: a peregrinação a Meca (Makkah), um dos cinco pilares do Islão;

• hadîth ou Ahadith (pl.): palavras e actos do Profeta Maomé, consideradas como um exemplo a seguir pelos fiéis islâmicos;

• hâfiz: pessoa que conhece de cor todos os versículos do Corão;

• hanîf: "o verdadeiro crente", aquele que crê na fé pura ou ortodoxia;

• harêm, harém: aquilo que é defendido pela religião, proibido, tabu;

• hijâb: traje das mulheres que professam o islamismo, para cumprir os preceitos de "decência" e modéstia do Islão; pode variar consoante os preceitos regionais;

• hijra, hégira: emigração do profeta Maomé e dos seus companheiros de Meca para Medina ;

• houdoud: limites que separam o que é permitido/direitos (alāl, halâl) do que é proibido (harém, harém). Está relacionado com a punição devida a quem ultrapassa esses limites;

• ihrâm: preparação ritual para a peregrinação; veste branca ostentada por aqueles que cumprem a pequena ou a grande peregrinação;

• ijma: consenso dos ulemá ou da umma no seu todo, a respeito de questões morais, religiosas ou jurídicas, não contempladas no Corão ou nos ahadith ;

• ilm: a obrigação que o muçulmano tem de adquirir conhecimento (ciência) ;

• imâm, imam ou imã: vocábulo que nem em árabe é alvo de um consenso, variando consoante os ramos do islamismo. O seu sentido original é o do homem que dirige as preces na mesquita; pode ser, no entanto, também, um líder religioso. Literalmente : “aquele que está à frente“);

• Islam ou Islão: Submissão. O muçulmano está submetido à lei islâmica;

• isnâd: a cadeia de pessoas que transmitem um hadith ;

• isrâ: a viagem nocturna do profeta Maomé ;

• istisla : “o que parece apropriado” ; método de resolução de problemas jurídicos que se apoia no interesse geral, quando os textos religiosos são omissos ou insuficientes para indicar uma solução;

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• jâhiliyya: o paganismo, a barbárie; a época antes da fundação do Islão;

• jihâd: luta ou acto de “esforço” pessoal empreendido na causa de Deus, guerra justa encetada pela causa do Islão;

• kâfir: os infiéis, que não professam o islamismo;

• khalîfa, califa: sucessor do profeta, que nomeia e guia (ao mesmo tempo que é aconselhado pelos ulemá);

• koufr: descrença, apostasia, rejeição da fé islâmica;

• maddhab: escola (e corrente intelectual) de pensamento jurídico, relacionada com a fé e a religião;

• madrasa, madraris (pl.): em sentido lato: escola de ensino superior; em sentido restrito: escola corânica;

• mahdi: homem guiado por Alá ; entre os Xiitas, é uma figura escatológica próxima do Messias hebreu;

• makruh: acto não recomendado (norma da Sharia); • mandub: norma recomendada, (norma da Sharia); • masjid, mesquita: local comum de oração;

• mihrâb: nicho aberto em todas as mesquitas de forma a apontar para Meca;

• minbar: púlpito de uma mesquita, de onde se elevam as orações;

• mi‘râj: ascensão de Maomé aos céus; literalmente : “escada”;

• mubah: acto permissível (norma da Sharia);

• muslim, muçulmano: textualmente, “submisso”. O muçulmano submete-se ao Corão, a palavra de Alá;

• qiyâs: analogia, parecer jurídico ou religioso feito por analogia com as regras já conhecidas;

• salah: a oração, um dos cinco pilares do Islão ;

• saum: o jejum do mês do Ramadão, um dos cinco pilares do Islão ;

• sufî, sufismo: corrente mística do Islão (literalmente : “lã” da capa que os sufis envergam);

• suna: a segunda fonte da doutrina dos muçulmanos. A Suna é o exemplo do profeta ou a tradição da comunidade, transmitida pelos ahadiths;

• sunita, sunismo: “o exemplo”; corrente maioritária no Islão ;

• tafsîr: exegese ou interpretação do Corão ;

• taqlîd: imitação ou respeito (sem pôr em causa) pelos preceitos do direito islâmico;

• tajwîd: a forma considerada correcta de ler o Corão: usando a pronúncia e o estilo de leitura que se crê aproximar da forma como este foi revelado a Maomé;

• tarîqa: “caminho que se deve seguir”. Confraria de místicos sufis;

• tartîl: a forma lenta do tajwîd;

• tawhîd: monoteísmo, fé na unicidade de Deus;

• umma: a comunidade dos crentes; "a nação islâmica";

• umra: peregrinação não obrigatória (não faz parte dos cinco pilares do Islão);

• urf: Costume. Uma das características pretendidas durante a islamização: a aceitação dos costumes dos locais conquistados ;

• wadat al wujoud: unicidade da existência de Deus (Alá);

• zakāt, zakat ou zakah: o tributo obrigatório, a caridade, um dos cinco pilares do Islão. Significa, literalmente, "crescer" ou "aumentar".

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Fontes

Encyclopædia Britannica, 2007

encyclopedie.snyke.com – enciclopédia livre - Islão

The World Culture Encyclopedia – colectânea de artigos

Encyclopedia of the Orient - LexicOrient

The Columbia Encyclopedia - Sixth Edition

The 2008 World factbook - CIA

globalsecurity.org – Reliable Military News and Military Information – Introduction to Islam

Público – Livro de Estilo - O Islão de A a Z – por Margarida Santos Lopes

Netprof.pt – O Mundo Muçulmano – Clube dos professores portugueses na Internet

Hadith collections - Compendium of Muslim Texts - University of Southern California

Islam And Modernity - A World without Transcendence - Islamic Perspectives on Modernity by Parvez Manzoor

Resources for Studying Islam - "Islam, Islamic Studies, Arabic, and Religion" website of Professor Alan Godlas,

Department of Islamic Studies, University of Georgia

myCIW.org - Comunidade Islâmica da Web

Sunni Path – The Online Islamic Academy -a resource especially for the Hanafi and Shafi'i schools of Sunni Islam

IslamReligion.com – Website of the Cooperative Office for Dawah in Rawdah

joaobosco.wordpress.com – ciências da religião – o islamismo

Islamworld.net - a large collection of sources and articles by different authors

Islam and the Muslim World - Jewish Virtual Library - Islam analysis

Al-sunnah.com - Islam for beginners

BBC,Brasil.com – O Islamismo no Mundo

Links: Islam in Western Europe

Shia.org – Shia website

Syria’s Alawis and Shi‘ism – “Shi‘ism, Resistance, and Revolution”, Martin Kramer

Sociedade Beneficente Muçulmana – “Islam” e “calendário muçulmano” - sbmrj.org.br

Islão: Sunitas e Xiitas - TeachIslam.com

Termos Básicos em Jurisprudência Islâmica - TeachIslam.com

O Islão e as escolas de jurisprudência - Arresala - Centro Islâmico do Brasil

Jesus e Maomé, Profetas de Deus! - Rui Palmela, novaera-alvorecer.net

Hanbaliyyah - BELIEVE Religious Information Source - mb-soft.com

Central-mosque.com

A Guide to the political left - discoverthenetworks.org

CDI – Centre for Defence Information Terrorism - cdi.org

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Livros

”Évolution de la Nation Libanaise”, Nagib Dahdah, Ed. Les Cahiers de l’Est, 1949

“Introduction generále à l’étude des Doctrines hindoue”, René Guénon, Editions Véga, Paris, 1964.

“Evolution of Fiqh”, Bilal Philips, Ed. International Islamic Publishing House, 1988

“Source Methodology In Islamic Jurisprudence: Methodology for Research and Knowledge” , Taha Jabir Al 'Alwani , Ed.

The International Institute of Islamic Thought, Virginia, 1990

“A Popular Dictionary of Islam”, Ian Richardson Netton, Ed. Curzon Press, Londres, 1992

“Pós-modernismo, razão e religião”, Ernest André Gellner, Ed. Piaget, Lisboa, 1992

“Islam and Democracy: Religion, Politics, and Power in the Middle East”, Timothy D. Sisk, Ed. United States Institute of

Peace (USIP), Washington, D.C., Press Books, November 1992

“As Religiões do Mundo”, Círculo de Leitores, Ed. Lion Publishing, Lisboa, 1993

“O Choque de Civilizações e a recomposição da ordem mundial”, Samuel P. Huntington, trad. de M. H. C. Cortes, Rio de

Janeiro, Ed. Objetiva, 1997

“From Muhammad to Bin Laden”, David Bukay, Ed. Transaction Publishers, New Jersey, 2008

Relatórios, artigos e blogs

Civil Democratic Islam: Partners, Resources, and Strategies - a RAND report on modernizing Islam - National Security

Research Division.

Racismo e Xenofobia nos Estados-membros da UE – tendências, desenvolvimentos e boas práticas - Relatório Anual 2006

do Observatório Europeu do Racismo e da Xenofobia (EUMC)

"Ijtihad: Reinterpreting Islamic Principles for the Twenty-first Century” Report on the US Institute of Peace and the

Center for the Study of Islam and Democracy cosponsored workshop, 19 Março 2004

A Maneira Islâmica de Islamização - Islamic prespectives - Dr. Ahmad Shafaat no magazine "Al-Ummah", 1985.

Islam and Democracy in the Middle East: the impact of religious orientations on attitudes toward democracy in four Arab

countries, Mark Tessler, Comparative Politics 34 (April 2002): 337-354

Re-ligare - Religião, Sociedade e Cultura. Blog dos Docentes e Investigadores da área de Ciência das Religiões da

Universidade Lusófona (Lisboa).

Ciência x religião – Islamismo - http://cienciaxreligiao.blogspot.com/2008/02/islamismo.html

O capitalista de risco do Terceiro Mundo – Executive Digest nº 57 – Management – Liderança, Julho 1999

O Plano Aga Khan – Revista Visão, 06 de Abril de 2006

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