Nº 382 Edição Brasil

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ESPECIAL: NEGÓCIOS DE CARBONO NA AMÉRICA LATINA BRASIL www.americaeconomia.com.br N o 382 DEZ./2009 R$ 8,90 ONDE INVESTIR EM 2010 N º 382 Dezembro/2009 AméricaEconomia EMPRESAS DE CIMENTO APOSTAM ALTO PAPEL E CELULOSE: BRASIL NA MIRA DE ESTRANGEIROS MERCADO DE DÓLARES NA VENEZUELA ONDE INVESTIR EM 2010

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AméricaEconomia: Revista de Economia e Negócios Latino-americana

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ESPECIAL: NEGÓCIOS DE CARBONO NA AMÉRICA LATINA

BRASIL www.americaeconomia.com.br

No 382 DEZ./2009 R$ 8,90

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EMPRESAS DE CIMENTO APOSTAM ALTO

PAPEL E CELULOSE: BRASIL NA MIRA DE ESTRANGEIROS MERCADO DE DÓLARES

NA VENEZUELA

ONDE INVESTIREM 2010

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6 AméricaEconomia Dezembro, 2009

NESTA EDIÇÃO

Ilustração de Capa SAMUEL CASAL

Onde investir em 2010 na América Latina20

CAPA

Negócios Cimento

Ano de investimentos e aquisições

México sem ressaca

Queda no consumo de tequila

Papel e celulose

Brasileiras são alvo de compra

Grupo Wong

O mapa de investimentos no Peru

Locadoras de carros

Revisão de modelo

Arconvert

Em busca da competitividade

Pesquisa clínica

Mercado em crescimento

28313234363840

Seções Carta ao leitor

Portal

Cartas

Índice de empresas

Pistas

Negócio fechado

Movimentos

I-biz

Interfaces

Clics & chips

Visões

Raio X

Capital aberto

Opinião

Linha direta

81011111213147476777879808182

Debates Linha do tempo

Os fatos que marcaram o ano

Reeleição na Bolívia

Desafi os para Evo Morales

5460

Finanças Pela integração

Chile, Peru e Colômbia querem unir suas bolsas

Dualidade cambial

Venezuela lucra com arbitragem de moedas

Governança corporativa

Injeção de efi ciência nos hospitais

646670

ESPECIAL Mercado de carbono

Trilha verde

Os negócios além-Kyoto

Entrevista

Jacques Marcovitch

4450

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8 AméricaEconomia Dezembro, 2009

CARTA AO LEITOR

RETROSPECTIVA DO FUTURO

“Um problema sempre é criado na expansão, mas se revela na re-

tração.” Quando disse essa frase, não faz muito tempo, o presidente do

Banco Central, Henrique Meirelles, não estava preocupado com a crise.

Convidado a um evento para fazer uma retrospectiva de 2009, como é

comum nessa época do ano, Meirelles quis falar para o Brasil de 2010.

Afi nal, apesar de ter sido um período em que todos os empresários

permaneceram em estado de alerta, e em que nem todos conseguiram

equilibrar ou recuperar sua operação no mesmo ritmo – nesta edição,

há exemplos que refl etem essa dinâmica desigual: da indústria auto-

motiva, com aquecimento nas vendas de carros, à de papel e celulose,

cuja queda da demanda e do preço a obrigou a engavetar projetos –,

o Brasil reagiu. Cumpriu com folga a profecia dos economistas: foi o

último a entrar e o primeiro a sair da crise econômica.

E aumentou sua projeção internacional. “O momento que o Brasil

vive ajuda a transmitir exemplos concretos que podem inspirar outros

países, especialmente os emergentes”, diz Jacques Marcovitch, ex-rei-

tor da USP, em entrevista na qual avalia a posição do Brasil no debate

global sobre as mudanças climáticas.

Na América Latina, a liderança do país se refl ete no aumento da

presença de empresários brasileiros dispostos a investir na região, tal

como demonstra nossa reportagem de capa, dinamizando a economia

de um continente que cada vez mais se inquieta e discute as formas e

os benefícios de pensar integrado.

Por isso, naquele momento em que Meirelles se dirigiu à platéia, não

quis falar sobre os problemas da crise, mas sobre os que estão implícitos

no crescimento. Mesmo com a dispersão inerente a um ano de eleição

presidencial, 2010 promete ser memorável para o país no que se refere

à retomada do crédito e à atração de investimentos. “É fácil ser compla-

cente em momentos de expansão acelerada”, disse Meirelles, alertando

para o real e complexo desafi o que o Brasil tem a partir de agora: tirar

lições do sucesso para não ter de aprendê-las com o fracasso.

E é sobre esse desafi o que queremos debater com você, leitor, hoje

e em 2010.

Boas festas e até janeiro.

José Roberto MalufPublisher

PUBLISHERJosé Roberto Maluf

CONTEÚDODiretora de Redação Tatiana EngelbrechtEditora Executiva Solange MonteiroDiretora de Arte/Projeto Gráfi co Janaína DinizEditor do Site Marcelo GalliRevisão Daltony Nóbrega e Bia PeineProdução Gráfi ca Eduardo KepplerInfografi a Rodrigo Damati

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MARKETINGElisangela Silva, Rafael Borsanelli, Marcia Leonardi

ADMINISTRATIVO/FINANCEIRODiretor Executivo Eduardo ColturatoGerente Financeiro Edison Arduino

Pré-impressão First PressPeriodicidade Mensal (Dezembro de 2009)CTP, impressão e acabamento IBEP Gráfi ca

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AMÉRICAECONOMIA INTERNACIONALDiretor Elias Selman CarranzaVice-Presidente Executiva Gloria Landabur C.Diretora Internacional de Marketing Mica Selman Diretor Editorial Felipe Aldunate M.Editor Adjunto Rodrigo LaraEditores Adriana Méndez (Cidade do México), Antonio María Delgado (Miami), Eduardo Thomson (Santiago), Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco (Santiago), Karen Correa (Guaiaquil)Diretor de Arte Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografi a Miguel CandiaDiretor de Projetos, MBA.americaeconomia.com.br Marcelo Silva SymmesDiretor de Circulação Marcial DelcortoGerente de Produção Constanza del Río Moreno

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AMÉRICAECONOMIA.COMDiretor de Estratégia Digital Rodrigo GuaiquilEditor Lino Solis de OvandoWebmaster José Fuentes

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Chairman Robert R. Paradise

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www.americaeconomia.com.br

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10 AméricaEconomia Dezembro, 2009

LEIA NO PORTALEDIÇÃO: MARCELO GALLI ([email protected])

Para Alicia Bárcena, secretária-executiva da Comissão Eco-

nômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a crise eco-

nômica demonstrou que o Estado tem de se fortalecer e

retomar seu papel estratégico no planejamento de longo

prazo dos países da região. “Isso fi cou evidente com o fi nan-

ciamento: os bancos centrais reduziram as taxas de juros,

mas os bancos privados não reagiram de imediato porque

têm de acumular e economizar. Quem garantiu crédito ao

sistema nesse período? Os bancos públicos”, diz a economis-

ta mexicana à AméricaEconomia. Alicia também defende

maior integração entre as nações latino-americanas para

melhorar sua participação na economia internacional.

A SOLIDÃO DOS CEOs Os executivos precisam reconhecer as diferenças entre estratégia e gestão para que não se sintam sozinhos na hora de tomar decisões, cobrar seus subordinados ou serem cobrados pela alta direção das empresas. Essa é a recomendação de Alexandre Fialho, diretor no Brasil da consultoria de gestão de negócios Hay Group. “Não se trata de termos estratégia ou gestão na agenda dos presidentes, mas sim ambas”, diz. Para isso, questões desse tipo devem ser discutidas separadamente. “São as questões psicológicas, sociológicas e antropológicas de uma organização que unem esses mundos sem que a gente perceba”, explica.

ROBÔS LATINOSA automação industrial na América Latina re-gistrou crescimento signifi cativo nos últimos anos devido ao desenvolvimento econômi-co do Brasil, da Colômbia e do Chile. Porém, a crise freou este avanço, principalmente nos mercados de mineração e siderurgia e papel e celulose. De acordo com José Otávio Ma-tiazzo, organizador da feira Brasil Automation ISA 2009, os projetos da Petrobras e da Vale no Brasil, a retomada de investimentos em mine-ração no Chile e a instalação de novas indús-trias na Colômbia podem reativar o setor na América do Sul.

www.americaeconomia.com.br

ACCOR INAUGURA HOTEL NA AL A francesa Accor inaugurou em Rosário, na Argentina, seu primeiro hotel Pullman na América Latina. Especializado no público corporativo, o hotel teve investimento de US$ 34 milhões. A Accor afi rma que o próximo destino do Pullman na região é Ciudad del Este, no Paraguai, com inauguração prevista para 2012. O grupo tem como meta a instalação de 300 hotéis dessa bandeira em todo o mundo até 2015.

CEPAL DEFENDE PAPEL DO ESTADO

Siga o site da AméricaEconomia no Twitter: twitter.com/AEBrasil

PORTAL

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Dezembro, 2009 AméricaEconomia 11

CARTAS ÍNDICE DE EMPRESAS

Os números referem-se à primeira vez que as empresas são citadas.

Em relação à reportagem sobre a fusão da

Avianca com a Taca (“Gigante em Forma-

ção”, AméricaEconomia n° 381, novembro,

2009), é preciso lembrar que todas as com-

panhias aéreas sul-americanas juntas so-

mam menos vendas que uma estrangeira

como American Airlines ou United. Há mui-

to espaço para mais consolidações. FRACISCO SILVA – SÃO PAULO, BRASIL

MULTILATERAIS EM DÚVIDAInteressante a reportagem sobre o futu-

ro do multilateralismo na América Latina

(“Assim Não Dá”, AméricaEconomia n° 379,

setembro, 2009). É verdade que os planos

de Obama se chocaram com a realidade

latino-americana. É preciso estar atento

ao que se passa com a OEA. Dá a sensação

de que seu secretário-geral, José Miguel In-

zulsa, tem se preocupado mais em ganhar

votos para uma reeleição (buscando os

mesmos apoios que lhe permitiram eleger-

se pela primeira vez) do que em gerar um

esquema realista para a superação da crise

em Honduras. Desse jeito, não há multila-

teralismo que aguente. FERNANDO RODRÍGUEZ – SAN JOSÉ, COSTA RICA

PRESENTE INSEGURO Vivo em Caracas. Estou de acordo com o que

vocês destacam na reportagem “Panama-

zuela”(AméricaEconomia n° 380, novembro,

2009). A insegurança, a meu ver, é um

dos principais problemas que temos. Os

policiais são os principais delinquentes. O

governo se encarregou de dar armamento

aos grupos socialistas ligados ao governo,

um erro que hoje nos mostra suas graves

consequências. Este país se converteu em

um povo sem lei. Migrar para outro país re-

almente é considerado uma opção, já que

a melhora aqui é muito incerta. MOISÉS ALE-JANDRO – CARACAS, VENEZUELA

GIGANTE LATINA

Cartas para a redação: [email protected]

AccorAgrosuperAll ConsultingAlpargatasAmerican Int. GroupAracruzArconvert BrasilArpentaArqBravo Motor Co.ArtecolaAT KearneyAthon GroupBacardiBaker MackenzieBanco da VenezuelaBanco de CréditoBanco Est. Esp. SantoBanco ItaúBanco VotorantimBancolombiaBando do BrasilBanescoBertinBimboBradescoBrasil Telecom (BrT)BrasilFoodsBresciaBrüderBTGCamargo CorrêaCamino RealCapitalCaricement AntillesCazadoresCelfi nCementos ArgosCementos ArtigasCementos AvellanedaCementos CólonCementos LimaCementos PacasmayoCementos Portland V.CemexCencosudCF IndustriesChevronCinemarkCitigroupCMPCColpatriaCompañía de ChocolateComp. SuramericanacomScoreCondensaConsulting HouseCopecCorp ResearchCorfi colombianaCorporación EWCorredores AsociadosCosanCredicorpCRO International PPDCRO Venn Life S. C.CSM AutoDasaDiageoDomar Limited

1044292155

32, 46 382674207571314757265558542554265825571356297156

21, 28, 54311729314728282829

26, 282628

25, 28, 5725, 34

1812473032132525

13, 18131612332534251226414175713129

293113576813

25, 554835353513641312

25, 471432133271314675131316252525343825382554322910

28, 577540707557412575771315253420301358616131265525282528362813

135831484171322932474877137648484675

46, 7113, 55

31562966563155

10, 12, 48, 585834581371753054565713573158154682771333751345227582

22, 3331567775

21, 3328

10, 5454333175

28, 321815

Domar LimitedDon JulioDow CorningDuratexEcoanalíticaEconópticasEcopetrolEcosystem Marketp.Emp. Agroin. PramongaEmp. Azuc. AndahuasiEmp. Azuc. El IngenioEndesa EspañaEquity Research DeskEvercore Mex. Cap. Part.Exxon FemsaFiat do BrasilFibriaFinabankFit ResearchFleuryFortune BrandsGEQ ChileGlobal InsightGlobe Speciality MetalsGMOGOLGrumaGrupo AlfaGrupo AvalGrupo Sup. Wong (GSW)Grupo FedrigoniGrupo Financiero IxeGrupo GaforGrupo MéxicoGrupo VotorantimGuaíbaHaiti Cement HoldingHay GroupHolcimHondaHospital AC CamargoHospital de SentaraHyundaiIBIICON Clinical ResearchIM TrustIndia BajajIntelInterbolsaIntercontinental GroupInversiones ArgosIrradiaItautecIXEJaverJBOJindal Steel & PowerJindal Steel Bolívia (JSB)José CuervoKallpa SecuritiesKNOCLa PolarLafargeLANLLX AçuLocalizaLoma NegraLouis Dreyfus

LuxxotticaMarfrigMariachiMasisaMDS Pharma Serv.MedialMelhoramentosMélonMelpaperMGM InnovaMiranda Y AmadoMotorolaMultiópticas Int.Napa Wine CompanyNatsourceNaturaNew Carbon FinanceNissan-RenaultOdontoprevOiOlmecaPactualPanamá Cement Hold.PDVSAPerdigãoPernord RicardPetro Tech PeruanaPetrobrasPilgrim’sPlaza NortePorto SeguroProfuturoQualicorpRenaultRinkerRio TintoSadiaSantanderSantelisa ValeSatipelSauzaSeara AlimentosSiglaSocialCarbonSofi telSonySouthern Cross GroupStora EnsoStrategy AnalyticsSun PlanetSuzano Papel e CeluloseTallardTata MotorsTenarisTendências Consult.Tequila TepatitlánTernium DisdorTIMToyotaTrench, Rossi e Wat.UnilandValeVBC EnergiaVeracelViuda de RomeroVolkswagenVotorantimWebsenseWizard

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12 AméricaEconomia Dezembro, 2009

PISTAS

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MAIS UMA FATIA PUBLICAMOS A compra dos ativos da Exxon no Chile garantiu à Petrobras 9% de um mercado de US$ 12 bilhões em vendas por ano. É pouco perto dos 65% da líder Copec, mas é um começo. E há oportunidades de exportação de gás e etanol. (“Além da Cordilheira”, AméricaEconomia Nº 381, novembro, 2009)

O NOVO A Petrobras voltou a atacar no mercado chileno. No começo de novembro, anunciou um acordo para comprar os ativos da norte-americana Chevron no país, por US$ 12 milhões. O acordo inclui uma fábrica de lu-brifi cantes em Santiago com capacidade de produção de 15,9 mil metros cúbicos ao ano. Na mesma época, o presidente do Peru, Alan García, anunciou uma desco-berta de gás de até 5 trilhões de pés cúbicos em lote da Petrobras – de onde futuramente a empresa poderá exportar ao Chile.

SEM FRONTEIRAS PUBLICAMOS Hoje o BNDES tornou-se um dos atores mais relevantes no processo de expansão latino-americana das em-presas brasileiras. Para se ter uma ideia, os projetos aprovados e em análise para exportações na região já somam US$ 15,6 bilhões. (“Expansão Regional”, AméricaEconomia Nº 381, novembro, 2009)

O NOVO No começo de novembro, o presidente Lula e o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, inauguraram uma subsidiária do banco em Londres. Segundo Coutinho, com o BNDES Limited, o banco aumentará sua visibilidade junto à comunidade fi nanceira internacional e poderá auxiliar as empresas brasileiras em processo de internacionalização. Coutinho afi rmou ainda que a instituição po-derá administrar os recursos provenientes do pré-sal em Londres, pois o Brasil receberá um fl uxo signifi cativo de capital nos próximos anos, e uma parte não deverá ser internalizada para evitar fl utuações indevidas no câmbio.

LÍQUIDO E CERTO PUBLICAMOS Para aumentar as exportações de etanol, há outro obstáculo a ser derrubado: a falta de

segurança no fornecimento. Para o ex-ministro Roberto Rodrigues, “o Brasil precisa ter uma defi nição de longo prazo do que será produzido”. (“Otimismo Verde”, AméricaEconomia Nº 378, agosto, 2009)

O NOVO O diretor comercial do grupo Cosan, Mark Lyra, declarou à mídia que as ex-portações de etanol cairão no período 2009/2010 para cerca de 3 bilhões de litros,

contra 4,5 bilhões em 2008/2009. Além da intensidade das chuvas, o executivo apontou como motivo dessa queda a preferência das usinas por produzir açúcar,

devido ao alto preço da commodity.

SEM APOIO PUBLICAMOS Se Lugo vencer as eleições no Paraguai, “terá seus projetos limitados, terá de saber negociar e chegar a consensos para con-quistar acordos: certamente o Congresso será muito diversifi cado”, diz a socióloga Milda Riva-rola. “E a cidadania está cansada de um aparelho estatal que se caracteriza pela mentalidade de pilhagem, onde reinam privilégios e nepotis-mo.” O resultado? Uma inefi ciência devastadora. (“Paraguai em seu Labirinto”, AméricaEconomia Nº 356, março, 2008)

O NOVO A falta de consenso no Paraguai es-tá dando pano para a manga. No começo de novembro, o presidente Fernando Lugo mudou a cúpula das Forças Armadas – pela quarta vez em 15 meses. Tal iniciativa foi identifi cada como uma reação ao temor de um possível golpe de Estado e uma forma de distrair a atenção da opinião pública das pressões dentro do Congresso. Ultima-mente, a oposição tem acusado assessores de Lugo de envolvimento em casos de corrupção e chegou a avaliar o pedido de impeachment contra o presidente.

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Dezembro, 2009 AméricaEconomia 13

NEGÓCIO FECHADO

COLPATRIA O grupo fi nanceiro co-lombiano adquiriu por US$ 260 milhões a Crédito Fácil Condensa, uma fi lial de créditos de consumo da geradora elétrica local Condensa, por sua vez fi lial da Ende-sa España. A Condensa tomou a decisão de vender a carteira de seu programa “Crédito Fácil” porque seu rápido cresci-mento, segundo alguns analistas, estava saindo de controle, especialmente com o aumento da morosidade. VALOR: US$ 260 MILHÕES

________________________________

COMSCORE A empresa de medição de Internet comScore acertou a compra da empresa chilena Certifi ca, que tem es-critórios no México, no Brasil, na Argentina, na Colômbia e no Peru. A Certifíca, fundada em 2000, dedica-se à auditoria de tráfego na internet. A comScore disse que a aqui-sição, cujos termos fi nanceiros não foram revelados, permitirá à empresa melhorar sua presença na América Latina. VALOR: NÃO REVELADO

________________________________

DOW CORNING A empresa especia-lizada em soluções e produtos de silicone comprou duas plantas de produtos de silicone da Globe Speciality Metals, nos Estados Unidos e no Brasil, por US$ 175 milhões. A operação inclui a planta Globe Metais Indústria e Comércio, localizada no estado do Pará. VALOR: US$ 175 MILHÕES

________________________________

INTERBOLSA A empresa colombiana de serviços fi nanceiros e também a maior corretora de valores do país fi nalmente concretiza sua entrada no Brasil por meio da compra da corretora Finabank, pela qual pagará US$ 21 milhões. Embora exis-ta um acordo de compra desde 2007, ele se concretizou somente agora, ao obter a autorização dos reguladores no Brasil. A In-terbolsa espera que sua operação no mer-cado brasileiro eventualmente se torne maior do que sua operação colombiana. VALOR: US$ 21 MILHÕES

JAVER A construtora mexicana aceitou vender uma participação majoritária aos fundos de capital privado Southern Cross Group e Evercore Mexico Capital Partners. Os termos fi nanceiros do acordo não fo-ram divulgados. A Javer planeja construir 17,5 mil casas no México até o fi nal de 2009 e conta com terras sufi cientes para construir outras 100 mil.VALOR: NÃO REVELADO

________________________________

LUXOTTICA A empresa voltada à fa-bricação e distribuição de moda, luxo e se-tor ótico adquiriu 40% da propriedade da Multiópticas Internacional, que no Chile opera a GMO, Sun Planet e Econópticas. A

transação, avaliada em aproximadamente 40 milhões de euros, marca o ingresso da Luxottica nos negócios de varejo ótico na América Latina. A aquisição cobre as mais de 400 lojas da Multiópticas no Chile (197), no Peru (100), no Equador (36) e na Colômbia (70). VALOR: 40 MILHÕES DE EUROS

________________________________

OI Recebeu uma linha de crédito fi -nanceira de R$ 4,4 bilhões do banco de desenvolvimento BNDES. Segundo infor-mou o banco, os recursos vão fi nanciar os planos de investimento das quatro empresas do grupo entre 2009 e 2010. São elas: Brasil Telecom (BrT) Fixa, Brasil Telecom Móvel, Oi Fixa e Oi Móvel. VALOR: R$ 4,4 BILHÕES

________________________________

PROFUTURO A empresa mexicana administradora de fundos de pensão (afo-re) Profuturo anunciou a compra, por um montante não divulgado, das operações de previdência do Bank of Nova Scotia no México, a Scotia Afore. Com a aquisição, a Profuturo será a quarta maior afore do México. No fi nal de setembro, a Profuturo tinha US$ 8,6 bilhões em ativos de baixa administração, enquanto a Scotia tinha somente US$ 258 milhões. VALOR: NÃO REVELADO

LOUIS DREYFUSA companhia francesa se converteu no segundo maior produtor de etanol do mundo com a compra, por US$ 460 milhões, da brasileira Santelisa Vale. A Dreyfus unirá sua fi lial brasileira Louis Dreyfus Com-modities Bioenergia com a Santelisa, o que resultará na criação da LDC-SEV, que vai operar 13 plantas de etanol e terá capacidade de moagem de 40 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano.

VALOR: US$ 460 MILHÕES

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14 AméricaEconomia Dezembro, 2009

MOVIMENTOS

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Daqui a cinco anos, quando o mundo recuperar o nível de

produção de carros registrado em 2008, os Brics (Brasil, Rús-

sia, Índia e China) se destacarão no mercado mundial. “Para

se ter uma ideia dessa evolução, em 2001 esses países re-

presentavam 9,8% da produção mundial e, em 2009, salta-

rão para 27,8%”, disse Cledorvino Belini (foto), presidente da

Fiat do Brasil, em reunião do Grupo de Jovens Líderes Em-

presariais (JLide), realizado em São Paulo, em novembro.

No entanto, Belini destacou que, apesar de ter centros de

desenvolvimento avançados, matriz energética limpa e ca-

deia produtiva integrada, há um gargalo que pode minar a

competitividade do Brasil: a falta de engenheiros. “Enquan-

to em 2008 o Brasil formou 43 mil engenheiros, a Rússia for-

mou 440 mil, a Índia, 430 mil, e a China, 1,7 milhão”, disse.

O presidente da Fiat também defendeu uma reforma fi scal

para combater a alta carga tributária, “que faz com que um

mesmo carro seja 40% mais caro no Brasil em relação à Ar-

gentina” e alertou para o efeito da valorização do real nas

exportações do setor. “Em 2005, o Brasil exportou 897 mil

veículos e tinha um saldo de 800 mil veículos a seu favor na

balança comercial. Este ano, vamos empatar, o que é crítico

para ganhar escala”, afi rmou. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

PROCURAM-SEENGENHEIROS

Page 15: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 15

APAGÃO DE INVESTIMENTO Dessa vez não foi por falta de geração, mas o ble-

caute que deixou mais de um terço dos brasileiros

sem luz em novembro se soma a uma longa lista de

interrupções no serviço elétrico na América Latina.

Especialistas calculam que seria necessário investir

US$ 10 bilhões só para abastecer os 20% da popu-

lação que ainda não tem acesso à luz elétrica na

região, sem contar a demanda proveniente do

crescimento populacional e das economias

nas áreas que já são servidas de eletrici-

dade. “Não é um estado de crise, mas

muitos países latino-americanos vi-

vem uma situação de emergência”,

diz Ruy Varela, presidente da con-

sultoria argentina Sigla. “As reser-

vas do sistema não são sufi cien-

tes para fazer frente tanto a con-

tingências climáticas e técnicas

quanto ao crescimento do consu-

mo, que está acima dos níveis espe-

rados.” Curiosamente, quem mais pa-

dece são dois dos maiores exportadores

de petróleo da região: Venezuela e Equa-

dor. A Venezuela – que nos últimos dez anos

registrou aumento de sua demanda de 12 mil

MW para 17 mil MW – vem sofrendo diversas in-

terrupções de abastecimento de energia elétrica. Já

o Equador chegou a decretar estado de urgência

por 60 dias, depois de uma queda alarmante do ní-

vel das reservas de água da central hidroelétrica de

Paute, a maior do país. ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI

PARA CHINÊS LER “In God We Trust”. Frases como essa, estampada na nota de dólar e tão corrente na vida do norte-americano,

estarão proibidas no material didático que a escola de idiomas Wizard levará para a China, onde em janeiro abrirá

sua primeira unidade, na cidade de Tianjin, em parceria com o Intercontinental Group. “A autoridade censurou

qualquer menção sobre sexo, política e Deus”, conta Carlos Martins, presidente da empresa com sede em Campi-

nas. A expectativa é abrir outras nove unidades ainda em 2010 no país e negociar a entrada no sistema público de

ensino em Tianjin. “Isso signifi cará 70 escolas e 84 mil alunos”, diz Martins. Este ano, a Wizard ainda expandiu sua

rede para o México, “onde tivemos acidentes de percurso com a gripe suína, que implicou cancelamento de aulas

e um receio posterior que desaqueceu a demanda”, e para a Colômbia, onde a primeira escola foi inaugurada em

novembro. “Para 2010, esperamos negociar a operação de franquias na América Central”, diz o executivo. A em-

presa fechará este ano com faturamento de US$ 1,1 bilhão, 24% a mais que em 2008. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

OS MAIORESCONSUMIDORESDE ENERGIA

VENEZUELA3.175

MÉXICO1.993

EQUADOR759

BRASIL2.060

(KWH/PER CAPITA)Fonte Agência Internacional de Energia

CHILE3.207

COLÔMBIA923

PERU899

ARGENTINA2.620

Page 16: Nº 382 Edição Brasil

16 AméricaEconomia Dezembro, 2009

MOVIMENTOS

BALANÇA DA DESIGUALDADE As mulheres são metade da população mundial e

grandes motores da atividade econômica como con-

sumidoras, empregadas e empregadoras. Mas a igual-

dade de condições no trabalho ainda está longe de

chegar para elas, e na América Latina não é diferente.

O último relatório de desigualdade de gêneros elabo-

rado pelo Fórum Econômico Mundial indica que, no

Brasil, entre outros países como Colômbia e México,

essa diferença se acentuou no último ano. Já Equa-

dor, Argentina e Costa Rica são os que apresentam o

melhor cenário para as mulheres quanto ao acesso

a oportunidades e remuneração em relação aos ho-

mens que exercem ou pleiteiam um mesmo cargo. O

Paraguai, apesar de ainda manter baixa classifi cação, é

o que mais avançou, ganhando 34 posições. FERNANDA ARAYA , DE SANTIAGO

Foto

DIV

ULG

ÃO

2009POSIÇÃO

PAÍS

Equador

Argentina

Costa Rica

Cuba

Panamá

Peru

Uruguai

Chile

Paraguai

Venezuela

Brasil

Bolívia

México

23

24

27

29

43

44

57

64

66

69

82

83

99

35

24

32

25

34

48

54

65

100

59

73

80

97

QUEM SÃO OS MENOS DESIGUAISRanking aponta, em ordem decrescente, país com mais equilíbrio de gêneros na AL

Colômbia 56 50

Fonte Índice 2009 de Disparidade entre Gêneros do Fórum Econômico Mundial

2008POSIÇÃO

MERCADO DECOLA O mercado brasileiro de aviação deve dobrar

de tamanho nos próximos anos. A afi rmação

é do presidente da companhia aérea GOL,

Constantino Júnior (foto), que em novembro

participou de um almoço de relacionamen-

to promovido pela Consulting House, em

São Paulo. Tal otimismo se deve, segundo o

executivo, a três fatores: à infl ação estável,

aos juros controlados e ao aumento do po-

der aquisitivo da população de baixa renda.

No começo de novembro, a GOL havia anun-

ciado a revisão para cima de sua estimativa

de crescimento no mercado doméstico em

2009, de 2% a 4% para 10% a 14%. Constan-

tino, entretanto, demonstrou preocupação

com a melhora da infraestrutura aeroportu-

ária para sustentar tal expansão. “Com toda

essa expectativa, precisamos evitar um novo

colapso”, declarou, refe-

rindo-se à crise nos

aeroportos do fi nal

de 2006, quando

muitos passageiros

tiveram de cance-

lar suas férias por

não poder embar-

car. GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO

Page 17: Nº 382 Edição Brasil

LOMBRIGAS CERVEJEIRAS Não é novidade a preocupação das empresas em fo-

mentar políticas em favor do meio ambiente. Mas a

opção da fabricante artesanal de cerveja Capital para

tornar sua produção mais limpa é, ao menos, curio-

sa. A empresa chilena implementou em sua recém-

inaugurada fábrica um sistema desenvolvido pela

Universidade do Chile que usa minhocas na limpeza

de resíduos, batizado de Sistema Tohá. “Os resíduos

da produção passam para uma piscina cheia desses

vermes de terra, que os comem e produzem húmus”,

diz Álvaro Artiagoitía (foto), gerente geral da empre-

sa. “Uma vez por ano, o húmus será retirado e usado

para adubar terras.” A nova fábrica da empresa levou

um ano para ser construída, demandou US$ 600 mil

em investimentos e terá capacidade de produzir cer-

ca de 250 mil litros por ano. Em 2009, a Capital estima

faturar US$ 283 mil. “Esperamos dobrar essa cifra em

2010”, diz Artiagoitía. MATÍAS RODO Y., DE SANTIAGOFoto

MIG

UEL

CA

ND

IA

Page 18: Nº 382 Edição Brasil

18 AméricaEconomia Dezembro, 2009

MOVIMENTOS

FERTILIZANTE MAIS BARATO Anualmente, a América Latina importa cerca de 2 milhões de toneladas métri-

cas de fertilizantes da Europa e da Ásia. Esse dado não passou despercebido

pela companhia norte-americana CF Industries, que anunciou que, em 2010,

construirá uma fábrica de fertilizantes em Marcona, ao sul de Lima. A planta terá

investimentos de US$ 2 bilhões e deverá entrar em operação em 2013, com ca-

pacidade de produção de 1,3 milhão de toneladas de ureia. A notícia agradou

os agricultores peruanos, que consomem cerca de 350 mil toneladas métricas

de fertilizantes ao ano. Segundo Ismael Benavides (foto), ex-ministro de Agri-

cultura e principal assessor da CF Industries no país, o preço dos fertilizantes

fabricados no Peru poderá ser até 40% mais baixo do que o da ureia importada,

sobretudo devido à redução no custo de frete. FERNANDO CHEVARRÍA LEÓN , DE LIMA

ESCAPADINHA VIRTUAL Hoje quem trabalha em frente ao computador difi cilmente resiste à tentação de intercalar o trabalho

com uma revisada no email pessoal. Segundo pesquisa realizada pela empresa Websense com ge-

rentes e profi ssionais de TI, os chefes costumam achar que esse tempo é maior que o declarado por

seus funcionários. Na média latino-americana, os gerentes declaram que esse tempo é de 64 minutos,

enquanto os funcionários afi rmam que é de 23 minutos. Os empregados mexicanos são os que de-

claram gastar mais tempo nesse tipo de

navegacão (84 minutos). E os chefes brasi-

leiros são os mais otimistas quanto às “es-

capadas” de seus funcionários, afi rmando

serem de apenas 23 minutos diários. Entre

os sites mais visitados, segundo a empre-

sa ComScore, estão os de notícias (88%),

seguidos pelos de bancos (84%) e sites de

email (66%). CAROLINA FUENTES, DE SANTIAGO

OS MAIS ACESSADOSARGENTINA

BRASIL

MÉXICO

Google sites

Google sites

Microsoft sites

Microsoft sites

Microsoft sites

Google sites

Facebook

UOL

Yahoo! Sites

CUIDADO, OLHA O CHEFE! Países onde o uso de internet em horário comercial para fins pessoais mais aumenta

AUMENTO EM RELAÇÃO AO DECLARADO EM 2008

NÚMERO DE USUÁRIOS

Argentina Brasil México

29% 22% 14%

11 milhões13 milhões

31 milhões

Fonte ComScore

Fonte ComScore

Foto

PED

RO C

ARD

ENA

S

Page 19: Nº 382 Edição Brasil
Page 20: Nº 382 Edição Brasil

20 AméricaEconomia Dezembro, 2009

OPORTUNIDADES AQUI AO LADO

Com o otimismo de empresários e um mercado fi nanceiro que se fortalece, a América Latina está na agenda brasileira de investimentos para 2010

O champanhe da virada para 2010 promete ser mais

refrescante para Claudio Vita, vice-presidente Comercial

Nacional e Internacional da Itautec. Apesar de a sombra da

crise ter pairado sobre a cabeça dos empresários durante este

ano em todo o mundo, a empresa fechará 2009 sem maiores

solavancos. “Vamos superar os resultados de 2008. E 2010

será ainda melhor”, diz. A confi ança de Vita se justifi ca. Além

das projeções positivas para o Brasil, boa parte dos outros

países em que a Itautec opera – sete, do total de dez – está na

América Latina. “Os sinais já existentes sobre as economias

da região só favorecem as nossas expectativas de expandir

nos mercados vizinhos”, diz.

Depois do freio temporário provocado pela crise econômi-

ca mundial em 2009, a tendência é a de que os investimentos

diretos das multinacionais brasileiras na América Latina

sejam retomados em 2010. A primeira razão é a melhoria das

condições macroeconômicas: enquanto neste ano o Produto

Interno Bruto (PIB) da região cairá entre 1,5% e 1,8%, para

o próximo espera-se crescimento entre 3,5% e 4% – um de-

sempenho dentro da média mundial, segundo previsões da

Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), órgão da

Organização das Nações Unidas. O fato de essa recuperação

ter sido iniciada nos últimos seis meses melhora o ânimo

das empresas, neste momento voltadas à recomposição de

ganhos e consolidação das operações atuais.

“Países de economias mais maduras estão perdendo

parte de sua importância, e não somos os únicos que estamos

olhando mais para a América Latina”, diz Eduardo Kunst,

presidente da Artecola, do setor químico. A empresa, presente

em cinco países latino-americanos – que representaram 45%

Ilust

raçã

o S

AM

UEL

CA

SAL

NEGÓCIOS ONDE INVESTIR EM 2010

PROJETOS EM MARCHA: O INVESTIMENTO DIRETOLILIANA LAVORATTI, DE SÃO PAULO

Page 21: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 21

da receita da com-

panhia em 2008 –,

afi rma ter vários

projetos novos

para a região. Es-

te ano, anunciou

um investimento

no Chile de R$ 5

milhões até 2015

para expansão da

produção, com o

qual espera au-

mentar as vendas

no país em 148%.

“Também temos

interesse na Co-

lômbia, um dos últimos países em que iniciamos uma ope-

ração própria, mas com grande potencial”, afi rma Kunst, que

estima fechar o ano com receita total de R$ 400 milhões.

Chile, ao lado de Peru, México e Colômbia – países com

grau de investimento na região, juntamente com o Brasil –,

estão em trajetória favorável para receber os projetos das

multinacionais brasileiras. Com exceção do México, onde a

recuperação vem sendo mais lenta por sua dependência da

economia dos Estados Unidos, eles devem repetir em 2010

o crescimento observado a partir de julho deste ano (entre

4% e 5%); a infl ação está sob controle, a situação externa é

relativamente confortável pelo fl uxo de capitais externos, e o

fi nanciamento da dívida pública está equacionado.

“Não há muita alternativa, o empresariado brasileiro vai

para esses quatro países. No geral, o sistema jurídico dessas

ESTIMATIVAS MACROECONÔMICASPARA A AMÉRICA LATINA

Argentina

Brasil

Chile

Colômbia

México

Peru

2011*

3,0

4,8

4,6

4,3

3,5

5,1

Crescimento do PIB (%)

2008

6,8

5,1

3,2

2,4

1,3

9,8

2009*

0,8

0,5

-1,3

0,1

-6,8

1,0

2010*

2,2

5,3

3,7

3,0

3,0

3,8

Fonte Global Economic Weekly, do Bank of America Merrill Lynch e governos dos países* Projeção / ** Os dados dos governos variam ao longo do ano. Os apresentados são os mais recentes

Taxa básica de juros (%)

2008

19,80

13,75

8,25

9,50

8,25

6,50

2009*

12,50

8,75

0,50

4,00

4,50

1,25

2010*

11,50

8,75

4,00

6,00

5,50

3,50

2011*

9,00

8,75

6,00

7,00

6,00

5,50

Argentina

Brasil

Chile

Colômbia

México

Peru

Fonte Global Economic Weekly, do Bank of America Merrill Lynch e governos dos países* Projeção / ** Os dados dos governos variam ao longo do ano. Os apresentados são os mais recentes

nações é amigo do investimento estrangeiro. Embora exis-

tam problemas do narcotráfi co na Colômbia, são economias

que avançaram, inclusive na política de atração de capitais

externos”, afi rma Nazir Takiedine, sócio do Trench, Rossi e

Watanabe, escritório de advocacia com atuação nas áreas de

fusões e aquisições, direito bancário e fi nanceiro, que atende

investidores do Brasil e de outros 39 países. “Sobretudo se

Brasil, Chile, México e Peru crescerem, os demais pegarão

carona”, afi rma.

QUEM DEMANDA CAUTELA Já Argentina e Venezuela, segundo Takiedine, ficam em

segundo plano. No caso da Argentina, mesmo com a relação

sinérgica que muitos setores identifi cam entre o país e o

Brasil e dos últimos anúncios de investimentos de empresas

que já operam no vizinho, como a Alpargatas (aquisição da

operação completa da Alpargatas Argentina) e a Camargo

Corrêa (expansão da produção da Loma Negra). “Argentina e

Venezuela se encontram em situação ruim do ponto de vista

do investimento direto, tanto em termos de atratividade

do mercado quanto do grau de confi ança”, afi rma Frederico

Turolla, diretor da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos

de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica) e

economista-sócio da Pezco Pesquisa e Consultoria, especiali-

zada em infraestrutura.

Para o diretor da Itautec, a preocupação na Argentina é “a

taxa de juros fora do padrão regional, que obriga as operações

de multinacionais lá instaladas a serem autossustentáveis,

dado o alto custo do crédito de capital de giro e a excessiva

burocracia”. Kunst, da Artecola, também revela precaução. “De

todas as nossas operações, lá é onde estamos mais atentos. A

situação econômica não está bem resolvida, e a questão políti-

ca é muito complexa”, diz. “Também buscamos crescimento na

Argentina – afi nal, é preciso estar nesse mercado de todas as

formas –, mas mais moderado em relação aos outros países.”

VITA, DA ITAUTEC: SINAIS FAVORÁVEIS

Foto

DIV

ULG

ÃO

Page 22: Nº 382 Edição Brasil

22 AméricaEconomia Dezembro, 2009

Já o mercado da Venezuela é atendido pela Itautec por

Miami desde que a brasileira comprou uma distribuidora de

produtos de informática da norte-americana Tallard. Como o

governo do presidente Hugo Chávez prega o boicote ao con-

sumo de bens e serviços norte-americanos, os consumidores

acham mais confortável adquirir produtos fabricados nos

Estados Unidos de uma distribuidora brasileira, por se tratar

de uma aquisição indireta. “Nós compramos da IBM, e os

venezuelanos compram da Itautec. E não temos nenhuma

queixa dos resultados obtidos até agora”, conta Vita.

DÉFICIT, EUA E OUTROS RISCOSNesse cenário em geral promissor, um ponto de incerteza

recai sobre os défi cits fi scais do México e especialmente do

Brasil, neste caso devido às eleições presidenciais do próximo

ano. “O mais provável é que a menor solidez fi scal das duas

principais economias do continente comprometa um pouco o

crescimento, mas mesmo assim os quatro mercados mais re-

levantes do ponto de vista de investimentos estrangeiros di-

retos, inclusive de empresas brasileiras internacionalizadas,

permanecerão atraindo capitais tanto em portfólio quanto

na ampliação de suas atividades”, afi rma Turolla.

Outro fator que acabará benefi ciando indiretamente os

latino-americanos como destino de novos projetos de empre-

sas brasileiras é a dúvida que paira sobre o ritmo de recupe-

ração dos Estados Uni-

dos. “Quem concentrar

esforços no mercado

norte-americano terá

muita difi culdade, por-

que a demanda vai de-

morar muito para retor-

nar a níveis razoáveis”,

afirma o ex-ministro

da Fazenda Mailson da

Nóbrega, sócio da Ten-

dências Consultoria. Na

opinião de Nóbrega, a

economia mundial, es-

pecialmente a dos EUA

e de algumas nações da

Europa, terá um longo e

frágil período até voltar

à situação normal. Os prognósticos não são muito favoráveis.

“Existe um processo de desalavancagem que ainda pode

demorar a acabar. As famílias estão reduzindo o seu endivi-

damento, e o resultado disso é menos demanda por crédito e

menos consumo”, explica. Os bancos ainda não retomaram

sua capacidade na oferta de crédito, cujo cenário é de con-

tração. O desemprego ainda pode chegar a níveis mais altos

do que os atuais, as empresas não concluíram o processo de

ajuste, e o mercado de imóveis está demorando em retornar

ao eixo. “A dívida pública deve chegar a 100% do PIB dentro

de quatro a cinco anos, e isso infl uenciará negativamente as

decisões de investimento. Os Estados Unidos terão de lidar

com essa situação, ou via aumento de tributação ou via al-

gum nível de infl ação. Tudo isso já infl uencia visões de curto

prazo”, completa Nóbrega.

GRANDE COMPRADORA posição privilegiada do Brasil dentro da região também

abre espaço para que “tenhamos muitas notícias de compa-

nhias nacionais adquirindo empresas no exterior a preços

favoráveis enquanto a economia não estiver completamente

recuperada”, enfatiza Nazir Takiedine. Prova do poder de

capitalização das empresas que operam no Brasil é o volume

recorde de remessas de lucros e dividendos ao exterior das

multinacionais que estão no país. Em 2008, estas enviaram

US$ 35,6 bilhões para suas matrizes. Este ano, serão cerca de

US$ 29 bilhões, volume ainda elevado para um ano de crise.

“Neste momento, não resta alternativa às brasileiras

capitalizadas pela força do mercado doméstico a não ser

avançar nos vizinhos da América Latina. As companhias vão

colocar seus recursos onde existir um porto mais seguro e

onde os sistemas político, jurídico e institucional inspirarem

mais confi ança”, diz o advogado.

Além da operação direta no continente, Takiedine aponta

a infl uência do Brasil também como um centro irradiador de

investimentos para os demais países da região. Segundo ele,

as empresas brasileiras com sócios estrangeiros buscam cada

vez mais novos horizontes na América Latina. “Asiáticos e

norte-americanos que colocaram seu dinheiro em empresas

brasileiras, de agora em diante, vão aplicar os resultados a

partir do Brasil, que está se tornando o quartel-general para

atuação no restante do continente”, esclarece.

Na avaliação de Luis Afonso Lima, presidente da Sobeet,

este é um movimento de longo prazo, que terá continuidade

independentemente da conjuntura no curto prazo. “Compa-

NEGÓCIOS ONDE INVESTIR EM 2010

Fonte Global Economic Weekly, do Bank of America Merrill Lynch e governos dos países* Projeção / ** Os dados dos governos variam ao longo do ano. Os apresentados são os mais recentes

Argentina

Brasil

Chile

Colômbia

México

Peru

Inflação (%)

2008

8,6

5,7

8,7

7,0

5,1

5,8

2009*

6,0

4,9

1,6

4,5

5,4

3,1

2010*

6,7

4,1

1,4

3,9

3,9

1,4

2011*

8,0

4,4

3,6

5,0

4,2

2,6

KUNST, DA ARTECOLA: NOVOS PLANOS

Foto

DIV

ULG

ÃO

Page 23: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 23

SAÍDAS DE INVESTIMENTOS BRASILEIROS DIRETOS

TOTAL GERAL 11.921 17 .310 100,0 5.812 100,0

JAN - SET ANO % JAN - SET %

2008 2009

Distribuição por país* (US$ milhões)

Peru

Argentina

México

Panamá

Uruguai

Chile

Bolívia

Colômbia

* Não inclui investimentos em bens e imóveis. Inclui investimentos, por empresa, acima de US$ 1 milhão. Fonte Banco Central do Brasil

26

485

30

11

108

495

3

173

26

620

54

3.079

483

547

3

173

0,1

3,6

0,3

17,8

2,8

3,2

0,0

1,0

151

150

82

31

29

20

12

8

2,6

2,6

1,4

0,5

0,5

0,3

0,2

0,1

Venezuela – 183 1,1 1 0,0

rados aos asiáticos, estamos apenas

engatinhando. O potencial de cresci-

mento adicional dos fl uxos de inves-

timentos brasileiros no exterior, seja

na América Latina ou em qualquer

outra região do mundo, é maior do

que se observa hoje”, ressalta. Portan-

to, deve permanecer a tendência de

aumento da participação de países

emergentes que são origem de inves-

timentos diretos.

Segundo o executivo da Sobe-

et, entre os fatores que difi cultam a

maior internacionalização de em-

presas brasileiras está a carência de tratados de bitributação

e de investimento entre os países da América Latina. Entre

os 24 países com os quais o Brasil mantém tratados de bitri-

butação, apenas Argentina e Equador são latino-americanos.

Além disso, Lima destaca a necessidade do desenvolvimento

de uma política de fi nanciamento da internacionalização das

empresas brasileiras.

A Sobeet ainda faz outra ressalva: a economia mundial

crescerá menos nos próximos anos do que em anos anteriores.

Isso afeta demanda, preços, crédito e planos de investimento,

inclusive de empresas brasileiras. “A crise proporciona oportu-

nidades, mas também difi culdades. A recuperação dos fl uxos

de investimentos não será imediata. Algumas economias po-

dem até ganhar, mas a maioria perde

investimentos”, relativiza.

O volume de projetos que foram

postergados e já estão sendo tira-

dos da gaveta poderá surpreender.

“Quando um ou dois grandes países

derem demonstração de estar efe-

tivamente saindo da crise, como o

Brasil, os diques serão abertos para

a avalanche de projetos represados

nos últimos 12 meses”, enfatiza Mar-

co Bassi, presidente do grupo HDI,

empresa do setor de TI que iniciou

sua internacionalização em 1990.

Quem concorda com esse prognóstico é Jorge Ramos,

vice-presidente para a América do Sul da International

Society of Automation (ISA), entidade que reúne executi-

vos especializados em automação. “Além do Brasil – com o

pré-sal e as grandes obras de infraestrutura voltadas para a

Copa do Mundo e as Olimpíadas –, Colômbia e Chile é onde se

veem maiores planos para 2010 em diante. Vários projetos de

mineração estão sendo retomados no Chile, pois a demanda

mundial pelas commodities minerais cresceu. Na Colômbia,

o capital estrangeiro começa a estimular reformas de refi na-

rias e a construção de usinas de alumínio”, diz.

Assim, otimismo é o lema para 2010. “As oportunidades

existem, e algumas não podem ser adiadas”, conclui Ramos.

TUROLLA, DA SOBEET: O RISCO DO DÉFICIT

Foto

DIV

ULG

ÃO

Page 24: Nº 382 Edição Brasil

24 AméricaEconomia Dezembro, 2009

VERÔNICA GOYZUETA, DE SÃO PAULO

Há pouco mais de um ano, o mundo parou para ver a

derrocada dos bancos dos EUA e o inevitável cataclismo

financeiro global. Na América Latina, entretanto, o mer-

cado fi nanceiro resistiu ao golpe. Apesar de o tamanho da

gigante brasileira BM&FBovespa fazer sombra aos volumes

movimentados nas outras bolsas da região, quem parou para

observar o desempenho destas encontrou boas surpresas. O

principal destaque foi a Bolsa de Lima (BVL), que teve uma va-

lorização de 132% no seu índice geral desde janeiro deste ano.

O segundo melhor desempenho foi o da Bovespa, com 106,1%

de rentabilidade no ano. E até a bolsa argentina, que foi à lona

com as notícias de Wall Street, viu seu valor dobrar em 2009.

As principais bolsas registraram crescimento acima de três

dígitos de várias de suas ações estrela.

QUER DIVERSIFICAR?ATENÇÃO ÀS BOLSAS LATINAS

NEGÓCIOS ONDE INVESTIR EM 2010

BOLSA DE SANTIAGO: RECUPERAÇÃO REGISTRADA EM OUTUBRO PODE INDICAR UM BOM 2010

Como isso aconteceu? “Em geral, nos ciclos econômicos

liderados pelas fi nanças, pode ocorrer nos momentos de re-

tração e recuperação um descompasso entre a dinâmica dos

ativos fi nanceiros e a da economia real”, explica Marcos An-

tonio Macedo Cintra, diretor adjunto de Cooperação Técnica

e Políticas Internacionais do Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (Ipea). Cintra identifi ca a reação desses mercados a

partir de março. “Os mercados fi nanceiros buscaram ante-

cipar – alguns estimam com seis meses – o movimento da

economia real”, diz.

O especialista acha que a região foi privilegiada por ope-

rações de carry trade – em que se toma recursos emprestados

em moedas de mercados com juros baixos para aplicá-los em

moedas e ativos de países com riscos e juros mais elevados.

Foto

JA

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LASE

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IMA

GES

Page 25: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 25

Ações mais valorizadas em 2009

México - IPCComer Mexicana: 232%

Grupo Mexico: 236%

Grupo Alfa: 155%

Fonte Infosel Financiero / Entre janeiro e novembro

ONDE APOSTARCarlos Ponce, diretor de análise do Grupo Financiero Ixe, na

Cidade do México, afi rma que a bolsa mexicana foi a que

mais sofreu com a crise internacional, devido a sua proxi-

midade com o mercado americano. Entretanto, o analista

afi rma que observando o movimento dos últimos 24 meses,

pode-se dizer que o mercado teve bom desempenho. “Há

companhias que ainda apresentam um retrocesso importan-

te”, diz Ponce, que identifi ca potencial de crescimento entre as

empresas exportadoras, como Grupo México, Gruma, Grupo

Alfa, Bimbo, Femsa e Cemex.

Um estudo coordenado por Ponce identifi ca que 39,6%

das vendas das empresas que compõem o índice mexicano, o

IPC, são exportações. “Isso signifi ca que, se a recuperação dos

Estados Unidos for antecipada para 2010, e se esta se traduzir

verdadeiramente em uma maior demanda de produtos, tais

empresas poderão melhorar seus resultados no próximo

ano”, diz. Mesmo otimista, Ponce aposta em um crescimento

de apenas 13% para o IPC de 2010, subindo dos atuais 30.800

pontos para 34.800 pontos.

No Chile, a Bolsa de Santiago ultrapassou seu máximo

histórico em outubro, com o IPSA cotado a 3.512 pontos,

“indicando uma recuperação que proporcionará uma ope-

Ações mais valorizadas em 2009

Chile - IPSAEmpresas Iansa: 232%

Comercial Siglo XXI SA (La Polar): 147%

CAP S.A.: 110%

Fonte Bolsa de Comércio de Santiago / Entre janeiro e novembro

Compañía de Chocolates e Compañía Suramericana. Entre

as ações tradicionais, a analista prevê um bom desempenho

de Corfi colombiana, Bancolombia, e de holdings como Grupo

Aval e Inversiones Argos, que controla a produtora de cimen-

to Argos. “É uma companhia que tem surpreendido. Eles

compraram empresas nos últimos três anos a preços muito

bons (veja matéria à pág. 28) e no ano que vem devem colher

os resultados”, comenta. Sobre a petrolífera Ecopetrol, a ação

mais negociada da bolsa colombiana, Castro disse que ela

Ações mais valorizadas em 2009

Argentina - MervalBanco Macro S.A.: 199%

Banco Hipotecario: 172%

Grupo Galicia: 160%

Fonte Bolsa de Comércio de Buenos de Aires / Entre janeiro e novembro

ração dentro da normalidade para 2010”, diz Alvaro Pipino,

economista-chefe da IM Trust. Entre as ações recomendadas

por Pipino está a da companhia aérea LAN, “que irá retomar a

demanda perdida tanto no setor de passageiros quanto no de

carga, o mais afetado, podendo alcançar um EBITDA recorde

e uma valorização das ações estimada por nós em cerca de

33%”, afi rma. O analista também destaca os papéis das gran-

des companhias do varejo, como La Polar e Cencosud, “que

têm planos de potencializar sua presença em outros países da

região, além de recuperar o fôlego na atividade de crédito ao

consumidor, responsável pelas maiores margens no negócio

dessas empresas”, diz.

Já na Colômbia, 2010 será o ano das holdings, segundo

Johanna Castro, analista sênior da Corredores Asociados, em

Bogotá. Johanna diz que as ações da bolsa colombiana estão

valorizadas e alcançaram máximas históricas, mas muitas

delas têm apenas cinco anos no mercado. “É uma bolsa muito

jovem”, diz, alertando para o potencial de empresas como

Cintra ainda estima que a recuperação econômica nos países

desenvolvidos será mais lenta do que se esperava. Esse fato,

aliado às perspectivas de crescimento de 3,1% para América

Latina em 2010, segundo dados da Cepal, pode fazer com que

as bolsas latinas ganhem novo impulso. “Entretanto, como

este ano a valorização já foi muito acentuada, nos próximos

meses ela pode ser um pouco menos exuberante”, diz. “Sobre-

tudo se os países avançarem nas medidas de contenção dos

fl uxos de capitais externos, a fi m de conter possíveis bolhas

de ativos”, afi rma Cintra. O governo brasileiro, por exemplo,

introduziu o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de

2% nas transações com moedas estrangeiras. No México,

há uma tendência de aumentar impostos em setores como

telecomunicações, bebidas alcoólicas e jogos, mas ao mesmo

tempo o governo está incentivando a entrada de fundos de

pensão no mercado.

Page 26: Nº 382 Edição Brasil

26 AméricaEconomia Dezembro, 2009

NEGÓCIOS ONDE INVESTIR EM 2010

Ações mais valorizadas em 2009

Peru - IGBVLAndahuasi: 305%

Volcan: 278%

Morococha: 197%

Fonte Bolsa de Valores de Lima / Entre janeiro e novembro

depende do comportamento do mercado de petróleo ou de

novas descobertas. “Mas é uma ação obrigatória na carteira

de quem quiser correr risco na Colômbia.”

No Peru, Alberto Arispe, gerente geral de Kallpa Securities

Sociedad Agente de Bolsa, em Lima, acha que o crescimento

da bolsa de valores deve continuar apoiado nas mineradoras,

que compõem 74% do índice. “A Bolsa de Valores de Lima é

infl uenciada pelo movimento do preço das commodities, e

o mercado está otimista. O cobre, por exemplo, deve crescer

bastante”, diz. Arispe, que foi diretor da BVL, afi rma que as

ações dos bancos peruanos estão baratas devido ao retorno

sobre o patrimônio que registram atualmente. Por isso, reco-

menda as ações do Credicorp, holding do Banco de Crédito. O

analista ainda destaca as ações de Cementos Lima e Cemen-

tos Pacasmayo. Arispe acha que há grande espaço para um

crescimento da BVL, em função dos bons fundamentos da

economia peruana e do potencial de acesso de novos consu-

midores ao mercado nos próximos anos.

Entretanto, independentemente do bom desempenho

das suas ações, a grande notícia para as bolsas de Lima,

Colômbia e Chile é seu processo de integração, iniciado em

novembro com a assinatura de um acordo (veja matéria à pág.

64). Com essa união, as bolsas ganham uma participação de

22% na região, cerca de 560 papéis e mais diversifi cação. Hoje,

dois terços da BVL são formados por mineradoras, 50% do ín-

dice colombiano é concentrado no setor energético, e a bolsa

de Santiago se destaca nos setores de serviços e industrial.

Essa integração poderá refl etir-se na região e tirar o bri-

lho da bolsa da Argentina, cujo comportamento para 2010

será difícil de avaliar, segundo Rodolfo Acosta, analista da

corredora de bolsa Arpenta, em Buenos Aires. Para Acosta,

o principal problema para a bolsa argentina é a posição de

confronto do atual governo com setores importantes da eco-

nomia, como o agropecuário, criando um efeito negativo em

empresas do setor de alimentos. Já as de serviços sofrem com

a falta de reajustes tarifários. “É um emaranhado de coisas

que atentam contra o desenvolvimento, e isso se refl ete no

Merval”, diz o analista, para quem qualquer avaliação para

2010 vai depender de mudanças no Congresso, em março. “O

próximo ano da bolsa será de muita futurologia”, brinca. No

entanto, Acosta tende a recomendar papéis do setor fi nancei-

ro, de petrolíferas e de empresas vinculadas à construção.

Com relação ao mercado venezuelano, o destaque fi ca

para a impressionante valorização do Banesco, de 13.500%

desde janeiro. Johanna Castro, da Corredores Asociados,

atribui essa forte alta a boatos sobre sua venda. O Banesco,

no entanto, é uma exceção dentro das ações da bolsa ve-

nezuelana, onde, à diferença dos outros mercados latinos,

as valorizações máximas difi cilmente ultrapassaram 70%

desde janeiro. “Não é fácil investir em um país onde há in-

certezas e riscos operacionais”, diz Johanna. Panorama que

não será diferente em 2010.

Ações mais valorizadas em 2009

Venezuela - BVCBanesco: 13.536%

Banco Nacional de Crédito: 72%

Banco Venezolano de Crédito: 63%

Fonte Reuters / Entre janeiro e novembro

COBRE SUSTENTA O CRESCIMENTO DA BOLSA DE LIMA

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Page 28: Nº 382 Edição Brasil

28 AméricaEconomia Dezembro, 2009

ALICERCEEXPANDIDOApesar de um ano fraco, empresas do setor de cimento apostam alto no crescimento da demanda no Brasil e no restante da América Latina

CAROLINA FUENTES, DE SANTIAGO, E GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO

O ano de 2009 não foi bom para os

grandes fabricantes de cimento. Com

investimentos em infraestrutura e

construção estancados em diversos

países desde o agravamento da crise fi -

nanceira mundial, as empresas do setor

viram seus números encolherem.

A francesa Lafarge, maior fabrican-

te do mundo, registrou queda de 49%

nas vendas no primeiro semestre do

ano em relação ao mesmo período de

2008. A sueca Holcim teve de fechar

fábricas no fi nal do ano passado. E a

mexicana Cemex registrou queda mé-

dia de 27% nas vendas nos mais de 50

países em que opera.

Mesmo assim, o potencial de cres-

cimento futuro com a recuperação eco-

nômica da América Latina movimenta

o cenário. Na região, a tendência é de

que as locais ganhem mercado. Algu-

mas que já estão em pleno bote são a

colombiana Cementos Argos e a peru-

ana Cementos Lima, além das brasilei-

ras Votorantim e Camargo Corrêa, que

ampliam participação nos mercados

vizinhos e se fortalecem em seu país.

No Brasil, ainda que a elimina-

ção do Imposto sobre Produtos Indus-

trializados (IPI) não tenha provocado

o resultado esperado nas vendas de

cimento, o ano foi recheado de novi-

dades. A líder nacional Votorantim

– que também opera nos EUA, Cana-

dá, Bolívia e Chile – fez em novembro

uma oferta de 135 milhões de euros

para a aquisição dos ativos da Uniland,

subsidiária da Cementos Portland Val-

derrivas, que inclui 50% das ações da

Cementos Avellaneda (Argentina) e

50% da Cementos Artigas (Uruguai).

“Acabamos de sair de uma crise, pe-

ríodo em que as empresas ainda não

recuperaram seu valor real. É melhor

comprar agora”, diz Alcides Leite, pro-

fessor de Economia da Trevisan Escola

de Negócios. Para Leite, a estratégia da

empresa de Antônio Ermírio de Moraes

foi acertada. “Com o câmbio favorável, o

preço fi ca mais atrativo, e as empresas

brasileiras têm capital para isso. Este é

o momento para expandir.”

NEGÓCIOS CIMENTO

No Brasil, a Votorantim aumentou

sua participação de mercado este ano,

acumulando 45% do total produzido,

graças à entrada em operação de uma

nova planta em Porto Velho (RO), com

capacidade de 750 mil toneladas, e ou-

tra em Xambioá (TO), com capacidade

de 1 milhão de toneladas, que será inau-

gurada em dezembro. As fábricas fazem

parte de um plano de expansão de R$ 2

bilhões iniciado em 2007, cuja meta é

alcançar uma produção de 39 milhões

de toneladas em 2011. “A Votorantim

está preparada para atender à demanda

futura”, diz José Otávio de Carvalho,

vice-presidente executivo do Sindicato

Nacional da Indústria do Cimento.

Já a Camargo Corrêa Cimentos (CCC)

e a LLX Açu fi rmaram um acordo para

a criação de uma fábrica de cimento

no complexo do porto do Açu, no lito-

ral do estado do Rio. O grupo também

anunciou um investimento de US$ 108

milhões para expandir sua capacidade

de produção na argentina Loma Negra,

comprada em 2005. A Loma Negra de-

Os destaques regionaisProdução 2008 (milhões de toneladas)

Cementos Argos(Colômbia)

Cementos Lima(Peru)

Cemex (México)

11,6

2,97

95,50

Fonte As empresas / Inclui produção em operações no exterior

Page 29: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 29

tém 45% do mercado local e teve uma

produção de 5,5 milhões de toneladas

de cimento em 2008.

Para analistas, a sede de investimen-

to da Camargo Corrêa indica que a com-

panhia é forte candidata a fazer aquisi-

ções dentro do Brasil. “Como é um setor

que exige investimento alto e regras de

economia de escala, é natural um pro-

cesso de fusões e aquisições em um mo-

mento como o atual”, diz Leite, indicando

que o Brasil pode viver novamente uma

onda de fusões e aquisições, como acon-

teceu em meados dos anos 1990, quan-

do dez grupos tomaram a dianteira do

mercado. Tendência que inclusive está

chamando a atenção do Cade (Conselho

Administrativo de Defesa Econômica),

num cenário em que o próprio processo

de aquecimento da demanda – que se

intensifi cará com as obras para a Copa

e as Olimpíadas – naturalmente tende

a pressionar os preços do insumo para

cima. “Claro que os órgãos de fi scalização

devem fi car atentos aos processos, mas

sob a lógica da efi ciência econômica isso

é factível”, defende.

Já para Simone Escudêro, diretora de

estudos de mercado da All Consulting,

a presença de gargalos como a falta de

cimento no mercado interno em 2008

dá brecha para empresas estrangeiras

buscarem oportunidades no Brasil e

acirrarem a concorrência. “Uma coisa

é certa: o setor será benefi ciado com os

projetos previstos no Brasil, garantindo

boas perspectivas no mercado interno

para os próximos quatro anos”, diz.

No restante da América Latina, o

foco está nas empresas locais. A colom-

biana Cementos Argos, que detém 51%

do mercado de seu país e é o sexto pro-

dutor de concreto nos EUA, aposta agora

no crescimento na América Central e

no Caribe. Como parte dessa estratégia,

no último semestre comprou a partici-

pação da Holcim na Panama Cement

Holding, somando 98,86% da sociedade

nesse país. Na República Dominicana,

depois de adquirir 50% do capital da

Domar Limited, negociou a compra de

70% de participação da Cementos Colón.

Também comprou 50% do capital social

da Haiti Cement Holding, no Haiti, e

se associou à Caricement Antilles, pro-

prietária de terminais para embarque

de cimento nas ilhas Saint Maarten, St.

Thomas, Dominica e Antigua. Com essa

investida, a colombiana já se converteu

no quarto maior produtor de cimento da

América Latina. “Daqui até 2015, os pro-

jetos de infraestrutura nos permitirão

continuar crescendo”, diz José Alberto

Vélez, presidente da Cementos Argos.

INVESTIMENTOS POTENTESNo Peru, a atenção se concentra na

Cementos Lima. “Acho que ela estará

entre os ganhadores da região nos pró-

ximos anos”, diz Stephen Trent, ana-

lista do banco Citigroup. Prova disso é

que, enquanto Holcim, Cemex e Lafarge

amargam resultados negativos, a em-

presa de Lima aumentou suas vendas

em 9,5% no primeiro semestre de 2009

em relação ao mesmo período de 2008,

graças à demanda local. “Há uma longa

lista de projetos de infraestrutura que

devem sair no próximo ano”, diz Walter

Piazza, presidente da Câmara Peruana

da Construção. Um dos maiores inves-

timentos previstos é uma planta de

cobre em Toromocho, na região central

do país, de US$ 2 bilhões.

No Peru, ainda vale destacar o gru-

po Brescia, que em meados deste ano

comprou 84,2% das ações da empre-

sa chilena de cimentos Melón, então

AUMENTO DO CONSUMO DE CIMENTO ESTÁ

FORTEMENTE ATRELADO AO CRESCIMENTO DO PIB

45%do mercado argentino

é dominado pela Camargo Corrêa,

através da Loma Negra

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30 AméricaEconomia Dezembro, 2009

NEGÓCIOS CIMENTO

VOTORANTIM:

EXPANSÃO NO

BRASIL E NO

EXTERIOR

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ÃO

do grupo Lafarge, ganhando 34% do

mercado local. Segundo analistas do

setor, a intenção do grupo Brescia com

a compra é exportar cimento ao Peru,

para satisfazer a demanda do setor de

construção que, segundo Piazza, “pode-

rá crescer 6% em 2010”.

Já a mexicana Cemex se concentra

em recuperar-se da infeliz investida

na compra da australiana Rinker em

2007, que resultou em um forte endivi-

damento e em um aumento de sua ex-

posição no mercado norte-americano.

“A empresa foi muito prejudicada”, diz

Patricio Rivera, analista do grupo IXE.

Em outubro, a Cemex anunciou a venda

de seus ativos na Austrália para a Hol-

cim, por US$ 1,7 bilhão, o que lhe per-

mitiu reestruturar os vencimentos de

sua dívida até 2014. No fechamento do

terceiro trimestre, a dívida líquida da

companhia era de US$ 17 bilhões. “Mas

acho que a partir do primeiro trimes-

tre de 2010 as operações da Cemex na

América do Norte voltarão a fi nanciar

seu crescimento”, diz Rivera.

Frente a esse cenário, fi ca a pergun-

ta se o mercado responderá à altura

das expectativas das empresas latino-

americanas. “Não há dúvida de que a

demanda por cimento vai se recupe-

rar”, diz Trent, do Citigroup, sem deixar

de questionar o ritmo dessa recupera-

ção, bem como sua magnitude. Como o

aumento do consumo de cimento está

muito atrelado ao crescimento do PIB,

Trent diz que é complexo garantir um

prognóstico para a região – ainda que,

por enquanto, ele seja positivo.

Produção em 2008 (milhões de toneladas) *Principais grupos no Brasil

Votorantim João Santos Cimpor Camargo Corrêa Holcim Lafarge Ciplan Itambé Outros

* Refere-se apenas à produção no Brasil

21,32

6,444,7 4,63 3,99 3,42

1,39 1,244,74

** Dados contabilizados até outubro/2009

Consumo no Brasil(milhões de toneladas)

Fonte Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC)

2004 2005 2006 2007 2008 2009**

35,7337,60

41,02

45,09

51,48

33,36

COM AS MÃOS NA MASSA

Page 31: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 31

RESSACA DA CRISEPequenas produtoras de tequila sofrem com imposto alto e queda do consumo mexicano

ADRIANA MÉNDEZ, CIDADE DO MÉXICO

CULTIVO DE AGAVE: COLHEITA EM RISCO

DEVIDO À BAIXA DEMANDA POR TEQUILA

É um dia de calor e Eduardo Morales

olha desconsolado o campo cultivado.

“É uma pena, mas muitas dessas plan-

tas irão apodrecer aí. Não vale a pena

colher”, comenta o gerente de vendas da

Tequila Tepatitlán. Este ano, a empresa

já teve de descartar 50% do agave culti-

vado, com o qual fabrica a bebida desti-

lada mais popular do país. Com queda

de 40% nas vendas, reduziu sua pro-

dução de 1 mil para 500 litros ao mês,

demitiu oito de seus 20 funcionários e

agora busca uma saída para sobreviver.

A Tepatitlán é uma das centenas

de pequenos e médios produtores de

tequila que até o ano passado traba-

lhavam tranquilamente para atender

apenas o mercado mexicano. Mas os

efeitos da crise econômica, somados à

falta de uma política de estímulo a essa

indústria e a uma forte carga fi scal, têm

deixado poucas alternativas de recupe-

ração para essas empresas.

“Está claro que esse cenário bene-

fi cia apenas quem produz em escala e

pode exportar, já que tem isenção do Im-

posto Especial sobre Produção e Serviços

(Ieps), de 53% sobre o preço do produto”,

diz Ciro Ríos Lara, diretor de uma asso-

ciação de produtores. “Se isso continuar

assim, os peixes grandes abocanharão

os pequenos.” No caso da Tequila Tepa-

titlán, Morales conta que, descontados

os gastos com impostos, folha de paga-

mento e matéria-prima, “fi camos com

apenas 10 pesos mexicanos de cada gar-

rafa que vendemos a 100 pesos”.

80%das exportações

de tequila vão para os Estados Unidos

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OTO

NEGÓCIOS BEBIDAS

DIVERSIDADE E MERCADOA margem de manobra das grandes

companhias do setor também está no

portfolio diversifi cado de produtos, que

lhes permite equilibrar perdas e ganhos.

“Assim, quando as vendas de tequila ca-

em, as de rum ou vodka provavelmente

podem aumentar”, diz Luis Félix, diretor

geral da José Cuervo, que sozinha detém

35% do mercado mundial de tequila.

Com exceção da José Cuervo, atual-

mente as principais marcas de tequila

mexicana estão nas mãos de estrangei-

ros. A Sauza é da norte-americana For-

tune Brands; Viuda de Romero, Mariachi

e Olmeca, da francesa Pernod Ricard;

Cazadores e Camino Real, da Bacardi; e

a Don Julio, da inglesa Diageo. E a ten-

dência, segundo Félix, é de consolidação.

Segundo o Conselho Regulador da Te-

quila (CRT), hoje o México conta com 150

produtores formais de tequila, dos quais

apenas 40 têm presença no exterior.

Mesmo com a maior competitivida-

de das grandes, Ramón González Figue-

roa, diretor do CRT, defende que as boas

marcas pequenas têm chances no mer-

cado externo. “É preciso agressividade”,

diz, dando como alternativa a formação

de alianças estratégicas com redes in-

ternacionais de restaurantes e hotéis.

Para Juan Cazados Arreigotia, presiden-

te da Câmara Nacional da Indústria da

Tequila (CNIT), há espaço sobretudo em

mercados emergentes. “Só o potencial

da China é de 4,5 bilhões de litros ao ano.

Para se ter uma ideia, aos EUA vendemos

1,62 bilhão de litros, que representam

80% de nossas exportações.” No Brasil,

segundo dados do IWSR (International

Wine and Spirit Record), o mercado não

chega a 1 milhão de litros.

Para Arreigotia, na falta de apoio do

governo local, os produtores mexicanos

não devem temer as alianças e investi-

mentos estrangeiros. “Ainda que seja

nossa bebida ícone, somente aqueles

que compreenderem que a tequila tem

de se transformar em uma bebida in-

ternacional é que sobreviverão.”

Page 32: Nº 382 Edição Brasil

32 AméricaEconomia Dezembro, 2009

CENTRONO

DASATENÇÕES

Em situação debilitada, empresas brasileiras do setor de papel e celulose viraram alvo fácil da chilena CMPC. Outras estrangeiras virão?

JUAN PABLO RIOSECO, DE SANTIAGO, E SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

PLANTAÇÃO DE EUCALIPTO DA SUZANO:

UMA DAS MAIORES DO BRASIL

Apesar de contar com condições

ideais de clima, disponibilidade de ter-

ras, o melhor rendimento e o maior

giro de fl oresta de eucalipto do mun-

do, as empresas do setor de papel e

celulose do Brasil não tiveram como

se blindar das difi culdades do ano de

2009. O coquetel nocivo formado pela

desvalorização do real, pela queda da

demanda e dos preços internacionais

e pelos altos estoques fez as empresas

colocarem seus planos de investimen-

tos em banho-maria e torcer por uma

rápida recuperação.

Esse, entretanto, foi o quadro ide-

al para a CMPC – empresa chilena do

grupo do empresário Eliodoro Matte,

que até então operava no Brasil apenas

como importadora –, passar pelo país

com seu carrinho de compras. A pri-

meira aquisição foi em abril, da Melho-

ramentos Papéis, por R$ 400 milhões

– dos quais a Melpaper, controladora da

empresa, levou apenas R$ 120 milhões,

sendo o restante absorvido pelo paga-

mento de dívidas.

Depois foi a vez de a CMPC tirar a

unidade gaúcha Guaíba das mãos da

Fibria – fusão da Aracruz com a Voto-

rantim Papel e Celulose que resultou na

maior fabricante de celulose do mundo,

com receita líquida de R$ 6 bilhões e

uma dívida líquida ainda mais astro-

nômica, de R$ 12 bilhões, parte dela

resultado do jogo da Aracruz com de-

rivativos fi nanceiros denominados em

dólares. “Apesar de a CMPC também ter

sido afetada pela crise, ela tem uma po-

NEGÓCIOS PAPEL E CELULOSE

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sição de caixa importante e boa capa-

cidade de envididamento”, diz Hernán

Guerrero, analista da FIT Research, em

Santiago. “Em momentos de crise, as

empresas em melhor condição fi nan-

ceira ganham vantagem para agir.”

A Guaíba custou US$ 1,43 bilhão à

CMPC e aumentou a capacidade total

0,2%do território brasileiro

é ocupado por eucalipto industrial

Page 33: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 33

MAIS EFICIENTES

País Rotação (anos)

Brasil

Chile

7

10 - 12

Atual

Rendimento (m³ hectare/ano)

41

25

Potencial

70

30

Produtividade em florestas de eucalipto*

Fonte Pöyry/*Números para espécies de celulose fibra curta

ELIODORO MATTE, DA CMPC:

AQUISIÇÕES BRASILEIRAS

GARANTEM EXPANSÃO

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da empresa para 2,6 milhões de tone-

ladas anuais de celulose, transforman-

do-se na terceira maior produtora no

mundo, depois da própria Fibria e de

outra chilena, a Arauco. “O Brasil é uma

plataforma para incrementar de forma

efi ciente nossa capacidade de produ-

ção de celulose de fi bra curta”, afi rma

por email o secretário geral da CMPC,

Gonzalo García, à AméricaEconomia. Os

ativos também compreendem uma fá-

brica de papel com capacidade para 600

mil toneladas, 212 hectares de fl orestas

e licenças já aprovadas para um projeto

de expansão.

O potencial dessa compra não para

por aí. Com planos de investir outros

US$ 1,5 bilhão na construção de uma no-

va fábrica para a Guaíba – que, por con-

trato, não poderá operar antes de 2014

–, a CMPC poderá aumentar em outros

1,3 milhão de toneladas sua produção,

concorrendo ao segundo lugar entre os

produtores mundiais. “A celulose é uma

commodity global, e o objetivo de nossa

operação brasileira é integrá-la a nossa

rede de fornecimento de fi bra a clientes

em 40 países”, diz García. “A produção

de papéis para impressão (com a Me-

lhoramentos) é pequena, e manterá seu

foco no mercado doméstico do Brasil.”

PRENÚNCIO DE NOVAS COMPRAS?O plano do Grupo Matte faz todo o sen-

tido. No Chile, praticamente não resta

nenhum metro quadrado de plantação

de árvores para cultivo industrial que

já não pertença a uma das grandes

companhias do setor; na Argentina, os

problemas políticos vividos pelo país

afastam investimentos, e o Uruguai

é muito pequeno para ser destino de

grandes expansões.

A pouca disponibilidade de terras

e o aumento de restrições da atividade

fl orestal em todo o mundo seriam en-

tão o prenúncio da chegada de novos

compradores estrangeiros ao Brasil?

Sim e não, segundo Rudolf Gabrich,

professor da Fundação Dom Cabral. “Da

atual produção de celulose, 82% já estão

concentrados nas mãos das cinco prin-

cipais companhias (Fibria, Suzano, Kla-

De qualquer forma, a recuperação

da demanda e do preço da celulose

apontam para uma retomada do fôlego

das empresas no Brasil. “Os preços já

estão se estabilizando – a fi bra curta

já chegou a US$ 700 a tonelada, depois

de valer US$ 500 no começo do ano. A

Fibria já está trabalhando para redu-

zir seu endividamento, e as restantes

estão bem paradas para investir”, diz

Bruno Resende, analista da Tendências

Consultoria. Entre os investimentos,

destaca-se para a expansão da cultura

de eucalipto da Veracel – formada pela

Fibria e pela sueco-fi nlandesa Stora En-

so –, congelada no início do ano. À Stora

Enso, por sua vez, não faltará oportu-

nidade no Brasil, sobretudo depois de

conseguir regularizar, este ano, os 45,7

mil hectares que havia comprado entre

2004 e 2005 no sul do país. “O mercado

voltará a se aquecer”, aposta Resende.

bin, Cenibra e International Paper), e se-

rá difícil ver algum novo movimento”,

diz. “Já no caso das fabricantes de papel,

há mais fragmentação, e é aí onde as

empresas estrangeiras podem entrar,

buscando uma porta que, posterior-

mente, lhes dê acesso à matéria-prima,

com a compra de terrenos para cultivo

do eucalipto.” Segundo a Associação

Brasileira de Papel e Celulose (Bracelpa),

atualmente apenas 0,2% do território

brasileiro é ocupado por florestas de

eucalipto para uso industrial.

Da própria CMPC, segundo analis-

tas, não sairia nenhuma outra propos-

ta. “Eles tiveram de captar US$ 1 bilhão

para os atuais investimentos no Brasil

e não têm costume de assumir muita

dívida”, diz Cristina Acle, chefe de es-

tudos da Corp Research, em Santiago.

Outros interessados, segundo analis-

tas, poderiam chegar da China – país

cuja participação das importações de

celulose brasileira aumentou de 18%

entre janeiro e setembro de 2008 para

33% no mesmo período de 2009.

Page 34: Nº 382 Edição Brasil

34 AméricaEconomia Dezembro, 2009

WONG 2.0

Depois de abandonar o setor varejista do qual era ícone, grupo peruano foca novos

projetos e indica a trilha dos bons negócios no país

FERNANDO CHEVARRÍA LEÓN, DE LIMA

NEGÓCIOS PERU

As férias mais longas do peruano

Efraín Wong foram no final de 2007.

Com US$ 500 milhões no bolso depois

da venda do Grupo de Supermercados

Wong (GSW) para o chileno Cencosud,

ele e seus irmãos decidiram descansar.

“Essa pausa só durou três meses, pois

quisemos continuar nos negócios”, con-

ta Efraín, penúltimo dos seis fi lhos de

Erasmo Wong Chiang.

Hoje, em um bunker de 60 mil me-

tros quadrados no bairro limenho de La

Molina, onde funciona a Corporación

EW, os Wong reúnem executivos e téc-

nicos para avaliar novas alternativas

de investimento. Esses estudos já resul-

taram em uma variedade de negócios e

refl etem os setores de maior potencial

de crescimento do país. “A estratégia do

grupo de focar-se no mercado local já é

importante por si só”, diz o advogado

Mauricio Olaya, em Lima. “Antes, os em-

presários vendiam suas operações para

investir no exterior, pois não confi avam

na estabilidade econômica do país.”

Um desses novos negócios é o imo-

biliário. Em julho, os Wong lançaram

em Lima o Plaza Norte, maior centro

comercial do país, com investimento de

US$ 100 milhões. Em dezembro, inau-

gurarão um terminal rodoviário dentro

do shopping – o primeiro da cidade,

eliminando o estigma que Lima trazia

de ser a única capital sul-americana

que não contava com um. “A rodoviária

será uma âncora fortíssima para o mo-

vimento do shopping”, diz Efraín.

Os supermercados, negócio do qual

a família se tornou um ícone no Peru

(ver quadro), desta vez fi caram de fora.

Em novembro, fontes do mercado indi-

cavam a intenção dos Wong de vender

até os 2,5% das ações da Cencosud con-

quistados na negociação com a chilena,

por US$ 200 milhões.

No setor da pesca, a Corporación

EW já é um dos maiores exportadores

de anchovas do país, e até 2011 planeja

investir em novas fábricas para con-

gelamento do produto. No fi nanceiro,

o grupo possui a caixa rural Prymera,

que espera converter em uma fi nancei-

ra e, no longo prazo, em um banco.

CHEIO DE ENERGIAEntretanto, de todas as iniciativas da

família, nenhuma parece cobrir a apos-

ta que os irmãos Wong estão fazendo

no setor energético. Recentemente, a

Corporação EW comprou 66% das ações

da empresa Irradia, que desenvolve um

projeto para distribuição de gás natural

comprimido (GNC), com início de ativi-

dades previsto para maio de 2010.

Segundo Ramón Duggan, gerente

geral da Irradia, esse projeto tem duas

etapas de investimento. A primeira,

de US$ 20 milhões, será para garantir

a distribuição de 400 mil metros cú-

bicos de GNC, e uma segunda para a

construção de cerca de cem postos de

distribuição de gás, o que a converterá

na maior rede do país.

Foto

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EFRAÍN: INTERESSE DECLARADO

PELO SETOR ENERGÉTICO

100milhões de dólares

é o investimento no maior centro

comercial do Peru

Page 35: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 35

O FATOR NACIONALISMO A família Wong anunciou a ven-da de suas redes de supermercados à companhia Cencosud, do empresário chileno-alemão Horst Paulmann, em dezembro de 2007. Naquele ano, o grupo chileno já havia comprado a brasilei-ra GBarbosa, por US$ 430 milhões, e feito uma associação com a francesa Casino Guichard para entrar no mercado colombiano. A força dos negócios e da marca Wong que atraiu Paulmann – 48 lojas, 10 mil funcionários e vendas de US$ 900 milhões ao ano –, entretanto, pesou contra a Cencosud no início de suas operações no Peru. A venda das duas redes de supermercados mais famosas do país (Wong e Metro) fez afl orar a rivalidade

de parte dos peruanos com o vizinho, provocando mani-festações contra o que cha-maram de “invasão chilena”. A antipatia inicial chegou a tal ponto que, no tradicional desfi le promovido pela rede em comemoração às Festas Pátrias de 2008 (foto), o Gru-po de Supermercados Wong teve de abandonar a tradi-ção de levar a bandeira do Peru à frente do corso.

“Isso é importante porque o país es-

tá crescendo, e nos interessa também o

setor hidroelétrico”, diz Efraín, sem dar

detalhes sobre seus planos nesse seg-

mento. Luis Wakabayashi, diretor da

área de Mercado da Universidade Esan,

em Lima, destaca que a Corporación

também tem grande potencial para en-

trar no mercado do etanol, já que conta

com dois engenhos de açúcar. “Assim,

o grupo pode desenvolver tanto a área

agroindustrial quanto a energética”,

diz. Segundo Efraín, o grupo já exporta

parte da produção de açúcar e pretende

desenvolver novos engenhos.

Para Yohana Mendoza, gerente ge-

ral da Dvalor Consultoria, o caminho

traçado pelos Wong – que estão juntos

em todos os negócios, com 20% para ca-

da um dos irmãos homens – demonstra

amadurecimento corporativo. “Hoje

eles deixaram de ser uma empresa fa-

miliar para ser uma família empresá-

ria, com aguda visão estratégica”, diz o

consultor. Por isso, quando quiser pes-

quisar quais são os negócios promisso-

res no Peru, vale a pena acompanhar os

próximos passos dos Wong.

Empresa Setor

Plaza Norte Administração de centros comerciais

Irradia Distribuição de GNC

Inversiones Prisco Pesca

Caja Prymera Financeiro

Empresa Azucarera Andahuasi Açúcar

Empresa Azucarera El Ingenio Açúcar

Empresa Agroindustrial Pramonga Açúcar

Consorcio Alcoholero del Norte Álcool

Inversiones Fortunia Operação de máquinas caça-níqueis

Multidiversión Operação de máquinas caça-níqueis

Gelán Construtora

PRINCIPAIS EMPRESAS DA CORPORACIÓN EW

Foto

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Page 36: Nº 382 Edição Brasil

36 AméricaEconomia Dezembro, 2009

PARADAOBRIGATÓRIALocaliza acompanha os números magros do setor de aluguel de carros no Brasil para este ano, mas espera crescer a partir de 2010

SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

A redução do IPI (Imposto sobre

Produtos Industrializados) para compra

de zero-quilômetros que este ano fez

a alegria de montadoras e de muitos

motoristas ávidos por um carro novo foi

uma injeção de ânimo na economia bra-

sileira. Calcula-se que, sem o benefício

fi scal, seriam vendidos cerca de 300 mil

carros a menos em 2009.

Mas a medida do governo não foi

positiva para todos. Que o diga a in-

dústria de aluguel de automóveis. Res-

ponsável por cerca de 11,5% do total de

compras de carros no Brasil, movimen-

tando quase R$ 10 bilhões ao ano, as lo-

cadoras viram seus ativos se desvalori-

zarem na mesma medida que a redução

dos preços dos carros usados.

“Até a crise, a revenda fazia parte do

negócio de muitas locadoras”, diz João

João Cláudio Bourge, presidente execu-

tivo da Associação Brasileira das Loca-

doras de Automóveis (Abla). Segundo

Bourge, o mercado brasileiro de carros

usados era mais valorizado que a média

mundial, o que gerava EBITDA (lucro

antes de juros, impostos, depreciação

e amortização) para as empresas. “O

desconto que recebiam das montadoras

por comprar em escala compensava

a desvalorização de mercado na hora

da revenda, o que garantia ao menos

atingir o break even”, afi rma.

“Vivemos uma situação atípica, não

é do core business gerar EBTIDA em

seminovos. Foi bom, mas não podemos

contar com isso”, diz Roberto Mendes,

diretor de Finanças e Relações com o In-

vestidor da Localiza. A empresa minei-

ra, maior operadora do Brasil, com 22%

NEGÓCIOS LOCAÇÃO

de mercado, registrou queda de 8,9%

na receita líquida nos nove primeiros

meses do ano. Enquanto a receita líqui-

da de aluguel registrou crescimento de

2,4%, somando R$ 440,8 milhões, a da

venda de seminovos caiu 32%, totali-

zando R$ 422 milhões. A depreciação de

veículos, que nos primeiros nove meses

de 2008 tinha sido de R$ 18,3 milhões,

11,5%é quanto o segmento de locação representa nas vendas totais de

carros no Brasil

Page 37: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 37

O SETOR DE LOCAÇÃO DE AUTOMÓVEIS NO BRASIL

Fonte Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (Abla); dados de 2008

Faturamento anualR$ 3,9 bilhões

1.893Número de locadoras

Frota318.865(automóveis)

Usuários16,2 milhões

subiu para R$ 62,3 milhões este ano,

com uma margem EBTIDA de 2,5%, con-

tra 7,6% no mesmo período de 2008 – no

ano de 2004, por exemplo, essa margem

chegou a 14,6%.

A reação da Localiza foi aumentar os

preços de locação de 7% para 9%. “Há dez

anos não reajustávamos as tarifas”, diz

Mendes, informando que essa é a única

mudança dentro dos planos da empresa.

“Mesmo com o fi m da redução do IPI,

estimamos que o mercado de usados

maior taxa de utilização e uma menor

depreciação dos carros”, recomendando

a ação da empresa no longo prazo.

CHANCE PARA OS COMPETITIVOS“O fato é que, com essa mudança de ce-

nário, as locadoras terão de ser compe-

titivas, pois não haverá mais como es-

conder inefi cácias”, diz Bourge, da Abla,

lembrando o excesso de fragmentação

do mercado brasileiro de locadoras.

Para se ter uma ideia, enquanto no

mercado dos Estados Unidos seis com-

panhias dominam 93% do mercado de

locação, no Brasil quatro operadores

detém 40%, enquanto os 60% restantes

estão divididos entre outras 1,9 mil

empresas. “Os que sobreviverem, en-

tretanto, terão a seu favor um mercado

com boa expectativa de crescimento,

sobretudo devido às perspectivas de

aquecimento do turismo e dos projetos

de infraestrutura no país, com a apro-

ximação da Copa do Mundo de 2014 e

das Olimpíadas.”

Mandes, da Localiza, demonstra

esse potencial, lembrando a relação di-

reta que o mercado de locação tem com

o crescimento do PIB. “De 2004 a 2008,

a Localiza registrou um crescimento

médio de 30,8% ao ano, enquanto nesse

período a média de aumento do PIB

foi de 4,4%. Se observar a elasticida-

de, nosso crescimento é de, em média,

sete vezes o do PIB”, diz, “o que nos faz

pensar em bons resultados para 2010,

já que se estima um crescimento entre

4,8% e 5% do Brasil.”

E como se preparar para essa ex-

pansão? Segundo Mendes, aumentan-

do o número de agências no mesmo

ritmo de antes de 2008, de 24% ao ano,

e a frota. “Hoje aquisições já não fazem

parte da nossa estratégia. Nossa dis-

tribuição já é maior que a do segundo,

terceiro e quarto operadores somados;

então, a possibilidade de que um con-

corrente esteja em algum lugar que não

estamos é remota”, diz.

O executivo também destaca a im-

portância das franquias Localiza em

oito países da América do Sul. “Mais do

que o lucro com royalties, essas opera-

ções nos garantem trânsito de reservas,

gerando negócios aqui a partir de ou-

tros países”, fi naliza.

FROTA DA LOCALIZA: DESVALORIZAÇÃO COM

O BENEFÍCIO FISCAL PARA O CARRO ZERO

Foto

DIV

ULG

ÃO

não voltará ao que era antes, mas essa

medida foi suficiente para equilibrar

nossa operação”, diz, indicando que a Lo-

caliza espera um crescimento “próximo

de zero” para este ano.

Mesmo com números magros, ana-

listas ainda apontam a Localiza como

um bom modelo dentro do setor. No

começo do ano, mesmo depois de re-

gistrar perdas de R$ 29,8 milhões no

quarto trimestre de 2007, a empresa

contava com a recomendação quase

unânime do mercado, e suas ações es-

tiveram acima da média do iBovespa.

Renato Prado, analista do Banco Fator,

apontou no relatório sobre o balanço do

terceiro trimestre da Localiza que “con-

tinuamos acreditando na capacidade

da empresa de gerenciar a frota e o mix

de veículos para se benefi ciar de uma

Page 38: Nº 382 Edição Brasil

38 AméricaEconomia Dezembro, 2009

Em busca de produtos mais competitivos, Gafor inaugura fábrica de autoadesivos no interior de São Paulo em parceria com empresa italiana

SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO

Era 2008 e algo inquietava os exe-

cutivos da operação de distribuição e

logística do Grupo Gafor, com sede em

Jundiaí, interior de São Paulo. Os auto-

adesivos que eles revendiam do grupo

italiano Fedrigoni no Brasil e Argentina

tinham grande potencial de vendas,

mas pouca competitividade. “São produ-

tos de boa qualidade, mas prejudicados

pelos custos que implicam a zona do

euro e as tarifas de importação”, conta

Silvio Fagundes, acionista do grupo. “E

isso nos limitava a trabalhar com nichos

diferenciados, que demandam pouco

volume.” Representantes da Gafor então

viajaram para a Itália e expuseram seu

raciocínio lógico: se o mercado e a maté-

ria-prima estão no Brasil, com produção

mais barata, por que importar? E volta-

ram com uma sociedade para instalar a

primeira unidade fabril da italiana fora

da Europa, criando a Arconvert Brasil.

NEGÓCIOS JOINT VENTURE

Foto

DIV

ULG

ÃO

MÁQUINA LAMINADORA: CAPACIDADE DE PRODUÇÃO DE 90 MILHÕES DE METROS QUADRADOS AO ANO

Dez meses, 28 contêineres e vários

intercâmbios de técnicos alemães, ita-

lianos e brasileiros depois, em novembro

a Gafor pôs em funcionamento a princi-

pal máquina da planta: uma laminado-

ra de fabricação alemã de 56 metros de

comprimento e 6 metros de altura, com

capacidade de produção de 90 milhões

de metros quadrados ao ano e com a

qual pretendem fabricar cinco produtos

diferentes, que vão do papel couché aos

VAPORA TODO

Page 39: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 39

Foto

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RSI

térmicos usados na identifi cação de ali-

mentos congelados, bem como adesivos

em PVC. Foram R$ 50 milhões de inves-

timento, com participação de 40% da

Gafor e 60% do Fedrigoni.

Os executivos não divulgam a ex-

pectativa de produção no primeiro ano

de operações, mas calculam um fatura-

mento de R$ 100 milhões em 2010 e já

fazem planos de montar outra máqui-

na igual em dois ou três anos e dobrar o

volume produzido. Mercado, garantem,

é o que não falta. “Ainda usamos muito

do tradicional rótulo de papel com co-

la”, diz Fagundes. “Para se ter uma ideia,

o consumo de autoadesivo no Brasil é

de 2,5 metros quadrados per capita; na

Europa, são 14 metros quadrados. Ou

seja, ainda demoraremos muito para

chegar ao patamar europeu.” Para Ser-

gio Tosolini, diretor geral da Artconvert

na Itália, essa substituição será cada

vez maior, já que “os rótulos autoadesi-

vos garantem maior valor agregado a

um produto”.

Roberto Restivo, diretor geral da

nova empresa, dá outro exemplo pa-

ra justificar seu otimismo. “O cresci-

mento no Brasil é de cerca de 12% ao

ano. Contando que o mercado de au-

toadesivos aqui é de 550 milhões, isso

representaria dois terços da produção

de uma máquina”, afirma. Quanto à

redução de custos, o executivo não dá

um número fechado, mas apresenta os

elementos do cálculo. “Só de imposto

de importação que deixamos de pagar,

são de 12% a 16%. Temos matéria-prima

mais barata, pois, dos insumos usados,

só importamos silicone. Além disso,

existe o custo intrínseco da logística e a

disponibilidade de tempo que o cliente

ROBERTO RESTIVO, ENTRE SÉRGIO MAGGI E O ITALIANO SÉRGIO TOSOLINI: PLANOS

PARA O MERCADO ARGENTINO E EXPANSÃO PARA O CHILE, A COLÔMBIA E O EQUADOR

12%é o crescimento

anual do mercado de autoadesivos no Brasil

precisava ter, pois nosso prazo com im-

portação não era menor que 45 dias.”

Os principais segmentos-alvo da

empresa no país são as gráficas que

atendem às indústrias cosmética, de ali-

mentos e farmacêutica. Na Argentina, o

foco é o setor vinícola – ponto positivo

para a empresa, já que essa indústria

não tem sofrido sinais de crise. Suas

exportações têm registrado aumento,

sobretudo para os EUA (de 35% em valor

e 36% em volume no primeiro semestre

de 2009), dando continuidade a uma

expansão que em 2008 posicionou o

país como o fornecedor mais dinâmico

da indústria vinícola mundial. “E, numa

segunda etapa, buscaremos outros mer-

cados sul-americanos, como Colômbia,

Chile e Equador. Como conhecemos bem

a logística da região, acredito que sabere-

mos como entrar nesses países de forma

competitiva”, diz Restivo.

Page 40: Nº 382 Edição Brasil

40 AméricaEconomia Dezembro, 2009

MERCADOCom baixos custos e alta qualidade profi ssional, a América Latina abre caminho na indústria de ensaios clínicos

ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI, E SOLANGE

MONTEIRO, DE SÃO PAULO FOTOS FABIANO ACCORSI

NEGÓCIOS SAÚDE

APROVADO

Para Tatiana Iafuso, o lançamento

comercial de um novo medicamento

pode ter o gostinho de vitória compar-

tilhada. Como coordenadora do Cen-

tro de Pesquisa Clínica do Hospital AC

Camargo, em São Paulo, ela acompa-

nha estudos clínicos encomendados

por várias companhias farmacêuticas

e não esconde sua alegria quando um

remédio chega às prateleiras. “Esse

processo nos permite conhecer novas

tecnologias e faz com que o médico

acompanhe a evolução de um medi-

camento e saiba como aplicá-lo”, diz.

Há oito anos trabalhando no Cen-

tro de Pesquisa, Tatiana afi rma que o

interesse de empresas internacionais

em centros de excelência brasileiros

para a execução de pesquisas clíni-

cas com medicamentos tem crescido.

“Hoje, entre estudos ativos e acompa-

nhamentos, são cerca de 30 só aqui no

AC Camargo”, afi rma.

Especialistas indicam que esse po-

der de atração do Brasil tem se replica-

do em outros países da América Latina,

sobretudo no México e na Argentina. O TATIANA: PESQUISAS AJUDAM A

CONHECER NOVAS TECNOLOGIAS

Page 41: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 41

DIFERENTEMENTE DOS EUA, PACIENTES LATINO-AMERICANOS QUE SE SUBMETEM A UMA

PESQUISA CLÍNICA TÊM RELAÇÃO MAIS ESTREITA COM O MÉDICO RESPONSÁVEL PELO ESTUDO

Jose Luis Viramontes, que lidera

as operações de desenvolvimento de

remédios no México, América Central

e Caribe para a CRO Internacional PPD

Inc., afirma que o potencial de cres-

cimento dos centros médicos que se

dedicam a realizar esse tipo de experi-

ência na região é enorme. “Mais de 80%

da população vive em áreas altamente

urbanizadas”, afi rma Viramontes, res-

saltando que a densidade de ensaios

na região é extremamente baixa: 6,2

centros por milhão de pessoas, em com-

paração com os 29 do Reino Unido e os

120 dos EUA.

Marlene Llópiz, diretora regional

para América Latina da CRO Venn Life

Sciences Clinical, afi rma que a realiza-

ção de um ensaio clínico varia de país

para país, mas que, em geral, custa en-

tre 28% e 32% menos que conduzi-lo nos

Estados Unidos. Contudo, a pesquisado-

ra é rápida em ressaltar que esse menor

preço não quer dizer que a qualidade

do serviço seja menor. “A qualidade do

profi ssional é equivalente à obtida nos

Estados Unidos.” E, o melhor, “com uma

relação de confi ança entre o médico e o

paciente que quase não se vê nos EUA e

que garante a retenção e melhor resul-

tado fi nal”.

que concordam porque acreditam que

o tratamento experimental poderá aju-

dá-las em uma doença são informadas

de que não há garantias.

A legislação brasileira não permite

pagar a um paciente que aceite partici-

par de uma pesquisa clínica. “Mesmo

porque temos de garantir uma bolsa que

cubra o tratamento inteiro, ou seja, não

podemos derivar um paciente submeti-

do a um estudo clínico para fazer qual-

quer atendimento através do SUS (Siste-

ma Único de Saúde) ou de seu plano de

saúde”, explica Ta-

tiana. E mesmo com

a demora maior que

a média para a apro-

vação de um plano

de pesquisa clínica

contratado por uma

empresa estrangei-

ra, a demanda não

estanca. “No Brasil,

a média é de nove

meses, enquanto na

Argentina esse tempo é de três meses

e nos EUA, de 45 dias”, diz Tatiana. “O

Brasil costuma ser o último a entrar, mas

sempre cumpre o target, pois tem pacien-

tes dispostos a se submeter à pesquisa e

centros de excelência dedicados a isso.”

motivo? Segundo Silvia Zieher, diretora

de Operações Clínicas na América Lati-

na da MDS Pharma Services, os Estados

Unidos estão se tornando um terreno

pouco fértil para as pesquisas clínicas.

As dificuldades em conseguir e reter

pacientes, os crescentes custos para a

realização dos estudos e o aumento dos

trâmites burocráticos estão levando as

empresas farmacêuticas a buscarem

alternativas fora do país. “Além disso,

em países como os EUA, os pacientes

costumam ser recrutados de forma im-

pessoal. Na América Latina, as pessoas

que participam dos ensaios são conduzi-

das pela mão por seus próprios médicos

de confi ança”, diz Silvia.

Devido a esse cenário, executivos

de CROs (Contract Research Organiza-

tions) que operam na região estimam

que a América Latina tem potencial

para duplicar, em questão de três ou

quatro anos, os 4,5 mil ensaios clínicos

que vinha realizando ao fi nal de 2008,

segundo números do Instituto Nacio-

nal de Saúde dos Estados Unidos. Esses

ensaios, que poderiam signifi car recei-

tas de mais de US$ 1 milhão, são reali-

zados sobretudo em fases avançadas.

TENDÊNCIA RECENTE“Esse interesse é uma tendência re-

cente, que começou a crescer há mais

ou menos cinco anos”, afirma Pablo

Hammerschmidt, diretor regional de

Operações Clínicas

para América Lati-

na da ICON Clinical

Research. Segundo

Hammerschmidt,

que trabalha em

Buenos A ires, a

ICON vinha regis-

trando entre 35%

e 50% de aumento

anual na demanda

por pesquisas clí-

nicas na região, sendo 2009 a única

exceção – com redução desse ritmo de

crescimento para 10%.

Segundo os especialistas, as mo-

tivações das pessoas que participam

dessas experiências são variadas. E as

4,5mil pesquisas

clínicas foram feitas na América Latina

em 2008

Page 42: Nº 382 Edição Brasil

America do Norte Intra-Latam Europa Ásia África Oriente Médio CEI (Comunidade dos Estados Independentes)

O padrão das mudanças dos mercados de exportação da Latam.Fonte: Estatística Comercial Internacional da OMC 2008

2000

2003

2007

Os padrões de comércio globais mudaram de modo signifi cativo nos últimos anos. Uma das mudanças mais notáveis foi o crescimento do comércio entre a América Latina e a Ásia que superou o crescimento comercial entre todas as outras regiões do mundo. Este novo corredor comercial entre a América Latina e Ásia é o resultado natural da vantagem comparativa. A América Latina tem abundância de vários materiais brutos – tais como produtos agrícolas, de energia e de mineração – que atendem as fortes demandas emergentes da Ásia, enquanto que a Ásia emergente é um produtor de baixo custo de produtos manufaturados como eletrônicos, têxteis e de vestimentas, para os quais a América Latina é um mercado estável e crescente.

Este novo corredor comercial se desenvolveu ao passo quea China está entre os cinco maiores destinos de exportação para quase todos os maiores países da América Latina, e a China é uma das cinco maiores fontes de importação em todos os maiores países da América Latina. Em 2008, a China importou um total de US$38,4 bilhões da Argentina, Brasil, Chile e Peru, de acordo com nossos cálculos. Como uma das 5 maiores fontes de importação para a Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru em 2008, a China exportou US$72,9 bilhões para esses países.

O Novo Corredor Comercial América Latina-Ásia

De fato, os dados comerciais mensais mais recentes do Brasil mostraram que a China é o maior cliente do Brasil, ultrapassando os Estados Unidos, que cairam para a posição número 2. Durante todo o ano de 2008, o Brasil exportou US$20 bilhões de bens para a China e importou US$16,4 bilhões de acordo com os dados da Comtrade das Nações Unidas. Enquanto os números comerciais com a China são impressionantes em qualquer defi nição, é importante notar que não é somente a China. A Coréia do Sul e o Japão também são parceiros comerciais importantes da maioria dos países da América Latina. Isto também é um desenvolvimento relativamente recente e o padrão de mercadorias comercializadas é similar àquelas comercializadas com a China. Um segundo desenvolvimento relacionado é a mutante composição dos destinos de exportação da América Latina nos últimos anos. Ocorreu uma mudança clara da América do Norte (Estados Unidos e Canadá) para a Ásia e outras economias emergentes. As Estatísticas Comerciais Internacionais da OMC para 2008 – os últimos números defi nidos consistentemente entre os países – mostram a natureza da mudança dos padrões de exportação da América Latina. A América do Norte permanece o mercado de exportação predominante em 2007, com

uma porcentagem de 30% das exportações. Contudo, esta porcentagem caiu quase 39% do total em 2000.

O declínio da porcentagem da América do Norte é o refl exo do aumento da porcentagem das exportações da América Latina destinadas a outros mercados emergentes. As exportações para a Ásia em uma porcentagem total de exportações aumentou consideravelmente de 9,7% em 2000 para 16% em 2007. As exportações para a China em particular cresceram numa margem anual média de mais de 20% entre 2000 e 2007. A composição das exportações da América Latina também mudou para outras regiões emergentes como a África, o Oriente Médio e a CEI mas com peso um pouco menor do que no caso da Ásia. A presença da América Latina como um participante signifi cativo no mercado global é relativamente nova. Enquanto que o mercado fi nanceiro dos preços das commodities é um fator presente, a maioria das economias na região se tornou mais abertas ao comércio nos últimos anos. Isto é o resultado de muitas coisas, incluindo as taxas de câmbio que estão mais fl exíveis. A mudança para uma base de comércio mais diversifi cada para a Ásia também reduz a confi ança em um número limitado de mercados de exportação,

Page 43: Nº 382 Edição Brasil

e signifi ca que as economias estão mais fl exíveis à redução econômica dos países principais.

Um outro testemunho da importância do crescimento do comércio entre a América Latina e a Ásia é o número crescente de acordos comerciais entre as duas regiões. O Chile é sem dúvida o líder na América Latina, assinando acordos com a Malásia, Japão, China, Cingapura, Coréia e Índia. O Peru assinou um acordo comercial com a Cingapura em maio de 2008 e com a China em abril de 2009. Existe também um acordo comercial entre a união alfandegária do Mercosul (Brasil, Argentina e Uruguai) com a Índia.

Este aumento de demanda pelos serviços especializados do Standard Chartered para mercados de materiais brutos e commodities na América Latina combinam com a demanda da América Latina por produtos manufaturados da Ásia. Esperamos que essa ligação comercial continue a crescer e a posicionar o nosso negócio de modo apropriado para ajudar nossos clientes. Em particular, o Standard Chartered está levando seu conhecimento de comércio global, mercados locais e de pesquisa para os mercados emergentes a fi m de facilitar esses fl uxos de mercado e de servir os clientes corporativos e institucionais na América Latina e no resto da rede de conexões do Standard Chartered.

Douglas Smith é atualmente o Douglas Smith é atualmente o Regional Head of Research do Regional Head of Research do Standard Chartered para as Standard Chartered para as Américas, em Nova York. Com Américas, em Nova York. Com sede em Londres, o Standard sede em Londres, o Standard Chartered PLC está na Bolsa de Chartered PLC está na Bolsa de Valores de Londres e de Hong Valores de Londres e de Hong Kong e entre as 25 empresas Kong e entre as 25 empresas mais importantes de acordo mais importantes de acordo com o FTSE-100, na área de com o FTSE-100, na área de capitalização de mercados. capitalização de mercados. O banco possui um histórico O banco possui um histórico de mais de 150 anos na área de mais de 150 anos na área bancária, e tem uma rede de bancária, e tem uma rede de negócios mundial com mais de negócios mundial com mais de 1.700 fi liais em 70 países, na 1.700 fi liais em 70 países, na região Ásia Pacífi co, Sul da Ásia, região Ásia Pacífi co, Sul da Ásia, Oriente Médio, África, Reino Oriente Médio, África, Reino Unido e Américas. Unido e Américas.

Doug trabalha no banco desde Doug trabalha no banco desde 2002 e é especialista na América 2002 e é especialista na América Latina bem como representa a Latina bem como representa a equipe de Pesquisa Global para equipe de Pesquisa Global para as Américas. Antes de fazer as Américas. Antes de fazer parte do quadro de funcionários parte do quadro de funcionários do Standard Chartered, trabalhou do Standard Chartered, trabalhou por dois anos na IDEAglobal por dois anos na IDEAglobal em Nova York, onde construiu e em Nova York, onde construiu e gerenciou a equipe de Estratégia gerenciou a equipe de Estratégia para a América Latina, incluindo para a América Latina, incluindo estrategistas de renda fi xa, estrategistas de renda fi xa, estrategistas monetários e estrategistas monetários e

Douglas SmithRegional Head of Research, the Americas

economistas. De 1998 a 2000, Doug economistas. De 1998 a 2000, Doug trabalhou no US Treasury (Tesouro trabalhou no US Treasury (Tesouro Nacional dos Estados Unidos) como Nacional dos Estados Unidos) como economista internacional sênior para economista internacional sênior para a América Latina. Foi conselheiro a América Latina. Foi conselheiro do Secretário do Tesouro Bob Rubin do Secretário do Tesouro Bob Rubin e em seguida de Larry Summers e em seguida de Larry Summers durante a crise fi nanceira no Brasil, na durante a crise fi nanceira no Brasil, na propagação do mercado fi nanceiro e propagação do mercado fi nanceiro e da resposta do FMI. da resposta do FMI.

Doug é PhD em Economia Doug é PhD em Economia pela Columbia University e fez pela Columbia University e fez especializações em macroeconomia especializações em macroeconomia e econometria internacional. Participa e econometria internacional. Participa ativamente em atividades do ativamente em atividades do Conselho de Relações Exteriores, Conselho de Relações Exteriores, do Conselho das Américas e da do Conselho das Américas e da Sociedade Asiática, onde discursou Sociedade Asiática, onde discursou em painéis especializados sobre em painéis especializados sobre economia. Tem publicações economia. Tem publicações no Journal of Development no Journal of Development Economics (Jornal de Economia de Economics (Jornal de Economia de Desenvolvimento), é mundialmente Desenvolvimento), é mundialmente conhecido como um especialista conhecido como um especialista nos mercados fi nanceiros do Brasil nos mercados fi nanceiros do Brasil e já foi comentarista em programas e já foi comentarista em programas como Lou Dobbs, CNN, Bloomberg e como Lou Dobbs, CNN, Bloomberg e CNBC. CNBC.

Page 44: Nº 382 Edição Brasil

44 AméricaEconomia Dezembro, 2009

EDUARDO THOMSON, DE SANTIAGO. COLABOROU GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO

ESPECIAL MERCADO DE CARBONO

TRILHAVERDEEmpresas impulsionam cada vez mais o mercado voluntário de bônus de carbono na expectativa de uma boa notícia vinda de Copenhague

A companhia chilena Agrosuper é

uma gigante da área de alimentação.

Processa mensalmente 60 mil de tone-

ladas de frangos e suínos. Para conter

o mau cheiro e a emanação de gás me-

tano derivados do chorume produzido

na criação de porcos, a Agrosuper de-

senvolveu um sistema de biodigesto-

res e plantas de tratamento de lamas

ativadas que reduz em 80% a emissão

de gases do efeito estufa (GEE).

O sistema permitiu à empresa

emitir créditos de carbono (conheci-

dos como RCE, ou Certified Emission

Reductions), cuja unidade representa 1

tonelada equivalente de dióxido de car-

bono (CO2), comprados por companhias

que buscam compensar suas próprias

emissões, e tornou a Agrosuper uma re-

ferência pela inovação de seu modelo.

Apesar desse sucesso, Carlos An-

drés Vives, subgerente de Assuntos

Corporativos da empresa, admite que a

expansão dos projetos ambientais está

em banho-maria. “Temos planos para

o norte do Chile, onde pretendemos

aumentar a produção de suínos, mas

estamos esperando para ver como será

a recuperação da crise e o resultado da

Cúpula de Copenhague.”

A posição da Agrosuper refl ete a de

muitas empresas envolvidas em inicia-

tivas de redução dos gases causadores

do efeito estufa, que aguardam com ex-

pectativa a cúpula mundial do clima,

que acontecerá de 7 a 18 de dezembro,

na capital da Dinamarca. A esperança

dos empresários é de que se possa al-

cançar um acordo ao estilo “Kyoto-2”,

ou pelo menos a base para um novo

modelo global nos próximos anos.

Isso porque, apesar de ter conse-

guido constituir um mercado de bônus

de carbono, está claro que o setor pro-

dutivo que investe necessita de uma

referencia jurídica clara. “Se forem de-

terminadas metas em escala global,

veremos as empresas investindo em

inovação tecnológica, como já aconte-

ceu no caso do Protocolo de Montreal,

em vigor desde 1989 e que estimulou o

setor privado a reconverter os sistemas

de refrigeração, reduzindo a emissão

de gases que destroem a camada de

ozônio”, afirma Jacques Marcovitch,

ex-reitor da USP e especialista no tema

(veja entrevista à pág. 52). “Infelizmen-

te, o empresariado, que é o motor des-

sa transformação, acaba participando

do debate apenas como ouvinte”, diz

Marina Grossi, diretora do Conselho

Empresarial Brasileiro para o Desenvol-

vimento Sustentável (CEBDS).

Esse compasso de espera, entre-

tanto, está longe de signifi car paralisia.

Cada vez mais as empresas se dedicam

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Page 45: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 45

a fazer o inventário das emissões de

dióxido de carbono de suas operações e

a buscar formas de mitigá-las.

O mercado voluntário de carbono

– aquele que não se rege pelas regras do

Mecanismo de Desenvolvimento Lim-

po (MDL), isto é, as bases estabelecidas

no Protocolo de Kyoto – assinado em

1997 e em vigor desde fevereiro de 2005

–, mas no qual as empresas podem

participar voluntariamente, neutrali-

zando suas emissões de gases do efeito

estufa, está crescendo em número e

volume de transações. Por exemplo, o

número de empresas participantes no

projeto conhecido como Carbon Disclo-

sure Project (Relatório de Informações

sobre Carbono, CDP na sigla em inglês)

duplicou de 2008 para 2009, passando

de 1,4 mil para mais de 3 mil.

Na somatória de iniciativas, o Brasil

está na dianteira: é o terceiro país do

mundo em número de projetos de não

emissão de carbono em aprovação pela

ONU (Organização das Nações Unidas),

atrás de China e Índia. Dos 1.836 que

estão na mesa do Conselho Consultivo

do sistema MDL, 164 têm origem bra-

sileira. “Levando em conta que temos

uma matriz energética muito limpa,

o terceiro lugar é muito bom”, afi rma

Marina, do CEBDS.

Algumas empresas já perceberam

que o mercado de carbono é de vital im-

portância, seja para ganhar dinheiro,

para não perder mercados, ou mesmo

como um recurso de imagem pública.

E se sua empresa ainda acha que isso

é apenas uma “moda”, é provável que

dentro de poucos anos ela seja obrigada

pelo governo a adotá-la, pois, mais cedo

ou mais tarde, todos os países do mun-

do (inclusive a América Latina) terão de

ter suas metas de redução de emissões.

A pergunta é quando e quanto.

NEBULOSIDADE PARCIALO mercado de carbono não é fácil de

compreender à primeira vista. O Pro-

tocolo de Kyoto lançou os alicerces so-

bre os quais países mais poluidores

se comprometeram a reduzir em 5,2%

suas emissões de gases de efeito estufa

até 2012 (usando 1990 como ano-base),

com o objetivo de frear o processo de

aquecimento global.

Para isso, implantou-se um siste-

ma de transações cap-and-trade, que

estabelece metas de redução para os

países, e um sistema para empresas e

fundos dos países desenvolvidos com-

prarem créditos de carbono registrados

no MDL. Esses títulos são emitidos para

projetos de energia renovável, captura

de gás ou reconversão de instalações de

combustíveis mais limpos, como forma

de o mundo desenvolvido fi nanciar a

passagem dos países em desenvolvi-

mento para novas formas de energia.

A União Europeia quis assumir a

liderança na questão das mudanças cli-

máticas. Além do MDL, em 2005 pôs em

funcionamento o sistema EU ETS (Euro-

pean Union Emission Trading Scheme)

que é, atualmente, o principal mercado

para os créditos de carbono no mundo,

SUZANO PAPEL E CELULOSE Uma das maiores produtoras in-

tegradas de celulose e papel da América Latina, há seis anos mede seus

inventários de emissões de GEE (Gases do Efeito Estufa). Entre 2006 e

2007, vendeu créditos de carbono por 15 mil toneladas equivalentes

de CO2 na Chicago Climate Exchange. Diariamente, a empresa planta

220 mil mudas de eucalipto. Sua área fl orestal absorve 3,8 vezes mais

toneladas de carbono do que a empresa emite na produção, de acor-

do com o Inventário de Emissões de 2007. Em 2008, a empresa emitiu

792 mil toneladas de carbono, e as fl orestas plantadas de eucalipto

poderão “sequestrar” mais de 3,3 milhões de toneladas de carbono.

PLANTAS DE TRATAMENTO DA AGROSUPER: MODELO RECONHECIDO PELA INOVAÇÃO

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Page 46: Nº 382 Edição Brasil

46 AméricaEconomia Dezembro, 2009

ESPECIAL MERCADO DE CARBONO

com 4,5 mil empresas e 12,5 mil fontes

de emissão obrigadas a cumprir as me-

tas de redução. “Este mercado concen-

tra aproximadamente 70% do volume

de transações de créditos de carbono,

enquanto Kyoto representa 25%”, diz o

especialista Arturo Brandt, senior Pro-

ject Manager da GEQ Chile. Em termos

de volume negociado em 2008, o ETS

movimentou cerca de US$ 94,9 bilhões,

enquanto Kyoto representou aproxima-

damente US$ 21,7 bilhões.

Para descobrir onde estão os 5%

restantes, é preciso lembrar que o maior

emissor de gases do efeito estufa do

mundo, os Estados Unidos, na época

com George Bush na presidência, nunca

ratifi caram Kyoto, deixando de fora o

funcionamento do MDL.

Isso explica por que, de certa forma,

um dos mais importantes atores no

surgimento de um mercado voluntário

para compensar

as emissões te-

nham sido os pró-

prios EUA.

De fato, um

dos pr i nc ipa is

mercados para a

transação de cré-

ditos de carbono é

o Chicago Climate

Exchange, no qual

muitas empresas latino-americanas,

tais como as brasileiras Suzano e Ara-

cruz, do setor de papel e celulose, têm

negociado créditos.

De acordo com um estudo realizado

pela consultoria New Carbon Finance

sobre o volume do mercado voluntário,

o montante total de transações em 2008

foi de apenas US$ 705 milhões, apesar

de um aumento de quase 110% em re-

lação aos US$ 335 milhões registrados

em 2007. Cerca de 50% desse

valor correspondia a opera-

ções no mercado de Chicago

e a outra metade estava re-

lacionada a operações over-

the-counter, isto é, fora dos

mercados estabelecidos.

Um montante ínfimo

se comparado a outros mer-

cados de carbono, mas que

representa uma

grande oportu-

nidade. A parti-

cipação da Amé-

rica Latina ainda

é tímida – em

2008, apenas 4%

das transações

se or iginaram

na região –, mas

crescente.

Entre os exemplos de quem aposta

no mercado voluntário está Stefano

Merlin, diretor da consultoria ambien-

tal brasileira SocialCarbon, uma joint

venture entre a europeia CantorCO2e

e o Instituto Ecológico do Brasil. Ele ex-

plica que o mercado voluntário, embora

muito menor do que o de MDL ou de

ETS, oferece muito mais oportunidades

em termos de velocidade de execução.

“Em média, o processo de um projeto

que pretende emitir VERs (Voluntary

Emission Reductions) pode levar cerca

de oito meses, enquanto o de MDL pode

demorar vários anos”, diz. Para que um

projeto de energia renovável seja apro-

vado pelo MDL, tem de receber o aval

de uma autoridade nacional creditada

pelas Nações Unidas e pelo painel da

organização. Isso pode levar dois ou três

anos, encarecendo o processo.

A Agrosuper já

sentiu na pele os efei-

tos desses atrasos.

“Ainda estamos no

processo de avalia-

ção de projetos que

estão prontos para

emitir CERs (Redução

de Emissões Certifi ca-

das) daqui a dois ou

três anos”, diz Carlos

Andres Vives. “Mas o

gargalo diante da co-

missão que aprova o

MDL é enorme.” Emitir

instrumentos no mer-

cado voluntário seria

a solução? “Esse mer-

cado ainda tem muito

o que amadurecer e

melhorar”, responde.

ODONTOPREV A empresa brasi-

leira de serviços odontológicos come-

çou a medir suas emissões em 2007.

Naquele ano, o resultado foi de 237,9

toneladas equivalentes de CO2. Em

2008, por meio da conscientização de

seus funcionários e executivos, elas ca-

íram para 217,8 toneladas. O projeto de

neutralização de carbono teve início

com o plantio de 1.262 árvores e con-

tou com um investimento de R$ 45 mil.

Segundo a operadora odontológica, a

importância do uso consciente da água

e da ação de plantar é disseminada aos

colaboradores e cirurgiões dentistas de

sua rede credenciada.

110%foi o aumento

do montante de transações no

mercado voluntário

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Page 47: Nº 382 Edição Brasil

O consenso é que este é um mer-

cado recém-nascido. “Os projetos de

redução de carbono para o mercado

voluntário na América Latina ainda

são escassos, mas, à medida que haja

mais consciência na empresas e nos

governos sobre a necessidade de se fa-

zer uma transição para uma econo-

mia com baixa emissão de carbono, o

mercado voluntário vai se tornar mais

importante, por conta das travas que o

MDL pode apresentar”, comenta o ad-

vogado Marcelo Slonimsky, da empresa

Baker Mackenzie, em Buenos Aires.

O colombiano Marco Monroy, pre-

sidente da consultoria ambiental MGM

Innova, concorda: “Ainda estamos no

início da conscientização das empresas.

Além disso, a crise fez com que esse fos-

se um tema secundário, mas cada vez

veremos mais interesse na necessidade

de reduzir ou compensar as emissões

no mercado voluntário”, comenta.

Uma atração do mercado volun-

tário over-the-counter (OTC) é uma di-

ferença entre os compradores com o

MDL e os ETS, ou mesmo com a bolsa

de Chicago. Um comprador do mercado

de complacência está atrás do carbono,

aquele que o permita cumprir as metas

que as autoridades lhe fi xam.

Em contrapartida, no mercado vo-

luntário OTC, os compradores estão

mais interessados nas características

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 47

COMPRAR A CAUSAHá pessoas que estão trabalhando pa-

ra que esse amadurecimento ocorra.

Recentemente, a Fundación Chile, uma

entidade público-privada, e a empresa

chilena de serviços fi nanceiros Celfi n

anunciaram a criação de uma bolsa de

carbonos no Chile. Prevista para entrar

em operação em 2010, sua intenção é

oferecer uma plataforma estável, com

sistemas de medição e validação pro-

vados para empresas que querem com-

prar créditos de carbono no mercado

voluntário e, se possível, também atrair

players de outros países da região. “Le-

vando-se em conta apenas as empresas

chilenas, estimamos um volume de ne-

gócios anual de cerca de US$ 4 bilhões

em 2040”, explica Aldo Cerda, diretor de

Meio Ambiente da Fundación Chile. “Se

conseguirmos atrair empresas de fora

do país, o potencial será ilimitado.”

A pioneira nesse tipo de iniciativa

foi a BM&FBovespa, de São Paulo, que

criou um sistema eletrônico de registro

de projetos de desenvolvimento lim-

po cujo primeiro leilão aconteceu em

setembro de 2007, com a negociação

de créditos correspondentes a 808.450

RCEs gerados pelo aterro sanitário Ban-

deirantes, da Prefeitura de São Paulo.

O exemplo da brasileira, entretanto,

indica que o desenvolvimento de ações

como essa nem sempre corre na mes-

ma velocidade que as expectativas do

mercado. Hoje, o Banco de Projetos da

BM&FBovespa conta apenas com qua-

tro projetos cadastrados. A iniciativa da

instituição brasileira é ampla e permite

o registro de intenções de compra de

investidores que estão selecionando

projetos nos quais investir.

FEMSA As medidas da me-

xicana incluem a geração pró-

pria de eletricidade e vapor na

divisão Cervejaria Cuauhtémoc

Moctezuma, o que reduziu em

10% a emissão de GEE no ano de

2007. Já a divisão de bebidas Co-

ca-Cola Femsa conseguiu man-

ter estáveis suas emissões de

GEE de 2004 a 2007, apesar de

ter aumentato a produção em

11%. Em 2008, investiu US$ 22,8

milhões em novos projetos de

efi ciência energética.

CINEMARK A cadeia de

salas de cinema mexicana co-

meçou em 2008 um programa

de efi ciência energética que

inclui a troca do sistema de

ar-condicionado, dos letreiros

de iluminação neon por LEDs

e uso efi ciente da água. Suas

emissões de GEE caíram de

16.280 toneladas equivalentes

de CO2 em 2007 para 14.839

no ano passado.

Page 48: Nº 382 Edição Brasil

48 AméricaEconomia Dezembro, 2009

ESPECIAL MERCADO DE CARBONO

sociais ou ambientais do projeto que

estão fi nanciando. Querem saber, por

exemplo, se o projeto, além de reduzir

emissões de carbono, permite melhorar

o nível de vida da comunidade local.

Consequentemente, isso pode se refl etir

no preço que o comprador está disposto

a pagar, explica Merlin, da SocialCar-

bon. Realmente, a SocialCarbon tem

desenvolvido sua própria metodologia

de avaliação dos projetos que incorpo-

ram um aspecto social, além da mera

a emissão de CO2. Entre seus clientes

estão Natura, Petrobras, Greenpeace e

Banco Mundial.

Por exemplo, o preço do crédito de

carbono “Kyoto” é perto de 20 euros. Na

bolsa de Chicago, ele pode ser inferior

MIRANDA Y AMADO A empresa de advogados perua-

na mediu seus vestígios de carbo-

no de 2007 e 2008. De 330,9 tone-

ladas de CO2 em 2007, subiu para

370,9 em 2008, mas explica que

isso se deveu a um aumento de

pessoal de 50%. Neutralizou seus

vestígios de carbono correspon-

dentes a 2008 comprando cré-

ditos de uma pequena central hi-

drelétrica do Brasil.

MASISA É a pioneira en-

tre as empresas chilenas na

Chicago Climate Exchange

e cumpriu com folga a meta

de reduzir suas emissões de

GEE em 6% para 2010. Além

disso, investiu na instalação

de fontes de energia à base

de biomassa em vez de

combustíveis fósseis. Possui

créditos de carbono certi-

fi cados que até agora não

foram vendidos.

a US$ 0,15 – isto porque, de acordo com

Aldo Cerda, da FundaciónChile, a meto-

dologia que esta bolsa tem usado para

aceitar projetos tem sido amplamente

criticada por não ser “adicional”, ou

seja, são créditos emitidos relacionados

a projetos que foram desenvolvidos

de qualquer maneira, inclusive sem

uma emissão de VERs e, portanto, não

são valorizados pelos potenciais com-

pradores. Em vez disso, de acordo com

um estudo da New Carbon Finance

e Ecosystem Marketplace, o preço do

VER no mercado OTC, em 2008, variou

entre US$ 1,20 e US$ 46,90 por tonelada

equivalente de CO2. Com essa variação,

não se pode dizer que estamos frente a

uma commodity.

Para os especialistas do setor, além

da melhora da imagem e da responsa-

bilidade social corporativa, há outros

benefícios em investir no mercado de

carbono. Seja para uma empresa que

mensura seu inventário ou que este-

ja considerando emitir VERs, ambos

os processos levam a melhorias na

eficiência energética e na vantagem

competitiva, explica o hondurenho

Jorge Barrigh, diretor para América

Latina da administradora de fundos

de investimento NatSource. “As em-

presas têm em suas mãos um ativo

ambiental que não tinham há apenas

cinco anos”, explica. “É um ativo po-

deroso e que, adicionalmente, pode

impulsionar uma melhora nos fl uxos

de caixa dos projetos, atrair novas tec-

nologias e incentivar o crescimento de

áreas de conhecimento novas.” Barrigh

acrescenta que, segundo um estudo

do Banco Mundial, um dólar investido

em fi nanças de carbono alavanca mais

US$ 3,80 de investimento. E quem quer

melhor motivo que esse para trabalhar

em prol da sustentabilidade?

4%é a participação da América Latina no

mercado voluntário

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Page 49: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 49

CONTA IMPRECISAA brasileira Heloísa Schneider, especialista em agronegócios da Cepal, fez uma

experiência pessoal. Entrou em várias calculadoras de carbono na Internet, si-

tes que calculam as emissões de dióxido de carbono, desde as tarefas rotineiras

até as de um evento corporativo. Essas calculadoras oferecem a possibilidade de

comprar offsets, créditos de carbono no mercado voluntário, cujo dinheiro vai

para o desenvolvimento de projetos ambientais.

“Usei várias calculadoras para um mesmo assunto: uma suposta viagem de ne-

gócios”, comenta, “mas a diferença de informações solicitadas era abismal. Em

uma calculadora, simplesmente me perguntaram a origem e o destino do voo,

enquanto em outras me pediam o número do voo, o modelo do avião e que

combustível usa, em que classe eu iria viajar, quantas malas eu iria levar. O resulta-

do foram cifras de emissões de carbono completamente diferentes!” E eram sites

que cobravam pelo serviço.

Ninguém está dizendo que o mercado voluntário é perfeito. Mas tem potencial

de melhorar e institucionalizar-se. Primeiro, é preciso padronizar metodologias

de emissão e verifi cação, tanto do inventário de emissão de gases das empresas

quanto das medições dos projetos que desejam emitir créditos de carbono.

QUESTÃO DE QUERER Gary Hufbauer, economista do Peterson Institute for International Economics,

um think tank em Washington D.C., estudou o mercado de carbono e seu efeito

no comércio internacional. “Não tenho dúvidas de que os mercados de carbono

crescerão em todo o mundo, não importa o que aconteça em Copenhague”,

comenta ele, que acredita que a decolagem defi nitiva não virá até que haja me-

lhor padronização das metodologias de medição. “Um recente estudo da Orga-

nização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) contabilizou

mais de 20 metodologias de medição de inventários de carbono, com resultados

completamente diferentes.”

Aqueles que apostam que o próprio mercado pode corrigir esse tipo de erro

apontam o fato de que, em 2008, uma das normas mais usadas para calcular emis-

sões de VERs, o Voluntary Carbon Standard (VCS), detinha 48% do mercado. “Em

2009, a participação do mercado de VCS superou os 96%”, explica Merlin, da So-

cialCarbon, de São Paulo. Com relação à medição de inventários de carbono, ele

afi rma que a metodologia mais imponente é a do Green House Gas Protocol, ou

GHG Protocol. Outro também utilizado é o PAS 2050, desenvolvido pelo governo

do Reino Unido e pela organização público-privada CarbonTrust. Pode ser que

não sejam as melhores formas, mas são as que a maioria está começando a usar.

Não basta estar atento para que as medições estejam bem-feitas. Um estudo

do Financial Times, de 2007, revelou que foram gastos milhões em projetos que

têm, no fi nal das contas, pouco ou nenhum benefício ambiental. Em alguns ca-

sos, paga-se por emissões que não se concretizam. O Financial Times mencio-

na que o banco HSBC, por exemplo, que neutralizou suas emissões de carbono

em 2005, preferiu evitar o mercado e fi nanciar diretamente o desenvolvimento

de um projeto.

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50 AméricaEconomia Dezembro, 2009

VERÓNICA GOYZUETA, DE SÃO PAULO

FOTOS: FABIANO ACCORSI

ESPECIAL ENTREVISTA

AméricaEconomia A decisão da Chi-na e dos EUA de adiar um acordo para 2010 tornou a reunião de Copenha-gue um fracasso antecipado? Jacques Marcovitch De um lado, te-

mos o G-20 e, do outro, uma tentativa

dos EUA e da China de se constituírem

no foco de deliberação da agenda mun-

dial. É lastimável que não tenhamos a

possibilidade de chegar a um acordo

quantitativo agora, mas, se isso implica

em um avanço mais ousado do lado

norte-americano, sairemos ganhando.

Outro aspecto que os países emergen-

tes devem analisar é se essa legisla-

ção não geraria um intervencionismo

O ex-reitor da Universidade de São

Paulo Jacques Marcovitch já pensava

sobre o pós-Kyoto antes mesmo de o

Protocolo entrar em vigor, em 2005.

Doutor em Administração pela FEA

(Faculdade de Economia, Administra-

ção e Contabilidade da Universidade

de São Paulo), Senior Adviser do World

Economic Fórum para a América Latina

e autor de Para Mudar o Futuro – Mu-

danças Climáticas, Políticas Públicas

e Estratégias Empresariais, ele defen-

de maior protagonismo do Brasil no

debate ambiental e sobre o clima e

afirma que é impossível pensar em

um projeto de redução de emissões

de carbono que não esteja atrelado à

evolução tecnológica.

AMBIENTAL

BRASILNA OFENSIVA

Page 51: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 51

cretos que podem inspirar outros países,

especialmente os emergentes.

AE Questiona-se a construção de termoelétricas. Isso desvia o Brasil da geração de energias limpas?Marcovitch O projeto de desenvolvi-

mento brasileiro demandará uma ex-

pansão da oferta, mas ainda subestima

a capacidade de elevar a efi ciência ener-

gética. Qualquer projeto a longo prazo,

entretanto, tem a ver com evolução tec-

nológica. Acredito que, à medida que as

metas forem determinadas, evoluiremos

rapidamente em direção a tecnologias

novas e limpas, porque o setor produtivo

precisa de uma referência jurídica clara.

Se o Brasil assumir esses resultados (de

36,1% a 38,9% de redução nas emissões) e

se forem determinadas metas em escala

global, deveremos ver o setor produtivo

investindo pesadamente em inovação

tecnológica, como já aconteceu no caso

do protocolo de Montreal, que estimulou

o setor privado a reconverter os sistemas

de refrigeração, reduzindo a emissão de

gases que destroem a camada de ozônio.

AE Uma hora o governo quer que o Brasil seja líder em energias limpas, e na outra, uma potência petrolífera. Não é um discurso esquizofrênico?Marcovitch A Noruega é uma socieda-

de bem consciente deste duplo objetivo:

preocupação ambiental e prospecção de

energias fósseis. A resposta está no uso

dos recursos financeiros decorrentes

do comércio de petróleo para fi nanciar

inovações orientadas ao sequestro de

carbono ou sua reinjeção no mesmo

local de onde esse petróleo foi retirado.

AE É possível cumprir as propostas feitas pelo Brasil?Marcovitch Sim. Obviamente elas en-

volvem articulações. O setor de siderur-

gia, que corresponde a 0,4% do que foi

anunciado, pode alcançar essa meta.

Cada setor tem condições de alcançá-la

(agropecuária 6%, energia 6%). Talvez

o mais difícil seja a redução do desma-

tamento (20,9%), porque envolve uma

disfarçado, sob o pretexto de que eles

não são sufi cientemente redutores da

emissão de carbono.

AE Com a decisão dos EUA e da China, surge a oportunidade para uma lide-rança brasileira em Copenhague?Marcovitch O Brasil está na ofen-

siva. Depende da transformação dos

números anunciados em lei. No caso

do município e do estado de São Paulo,

por exemplo, isso já aconteceu. Agora

cabe ao governo federal fazer o mesmo.

Assim, o Brasil passará a assumir uma

posição de liderança.

AE Uma liderança do Brasil em Cope-nhague pode ser positiva?Marcovitch O Brasil, por sua extensão

geográfi ca e pelos seus recursos naturais,

além de sua posição no Environmental

Performance Index (EPI), mostra que

tem responsabilidades e pode assumir o

papel de uma potência ambiental, fazer

parte do clube de países que têm muito

a dizer sobre o futuro do planeta.

AE Líderes como Gordon Brown e Nicolas Sarkozy têm cobrado a parti-cipação do presidente Lula no COP-15. Qual é a importância disso?Marcovitch A fi gura do Brasil é a fi gura

do presidente. O Brasil tem 16 anos de

estabilidade econômica, se afi rmou na

crise fi nanceira de 2008 e mostrou que

é capaz de gerenciar melhor seu sistema

fi nanceiro. Na dimensão social, melho-

rou seu índice de distribuição de renda.

Há uma terceira dimensão, a ambiental,

em que o país também se destacou, es-

pecialmente após a Conferência Rio 92,

da ONU. Mesmo que continue deixando

a desejar, a ação ambiental é pioneira

em muitos aspectos, e as organizações

civis têm se mobilizado para colocar

essa questão como prioritária na pauta

das políticas públicas. O fato de o Brasil

viver esse momento, somado à trajetória

do presidente Lula – que tem consegui-

do se comunicar com a opinião pública

internacional -–, ajuda a transmitir não

tanto uma retórica, mas exemplos con-

Page 52: Nº 382 Edição Brasil

52 AméricaEconomia Dezembro, 2009

presença do Estado na Amazônia, e isso

não depende de uma vontade, nem do

governo, nem de setores organizados.

Ela ocorre através de atores menos orga-

nizados, e por isso é muito mais difícil.

AE Iniciativas como cálculo de emis-sões e reciclagem mostram que as empresas estão respondendo à de-manda por um desenvolvimento sus-tentável. O setor privado está mais adiantado que os governos?Marcovitch Sim e não. Todo modelo

de inovação mostra que há 10% de uma

comunidade que é mais inovadora. Te-

mos estudado isso no projeto Mudar

o Futuro, da USP. É uma minoria que

está na frente, geralmente de grandes

empresas que dependem do mercado

internacional e de exportações. Entre-

tanto, a grande maioria está mais pre-

ocupada em agir sem perspectiva de

longo prazo. São essas empresas que

levaram entidades como a FIESP e a CNI

a assumir posições mais conservadoras,

dizendo que, enquanto os países mais

desenvolvidos não assumirem suas

metas, o Brasil não deveria assumir

compromissos mais ousados. Ou seja,

algumas empresas mostram o cami-

nho, mas a maioria entrará na curva de

aprendizagem muito mais tarde.

AE Com a possível candidatura de Marina Silva, a eleição presidencial de 2010 está colocando o debate sobre meio ambiente numa posição privile-giada. O que o senhor acha disso?Marcovitch Evidentemente, todos os

partidos estão tratando dessa questão,

mas o fato de Marina Silva ter se mobili-

zado elevou a pauta. Houve uma mudan-

ça, e a prova é que tanto Dilma Rousseff

quanto José Serra incluíram esse tema

entre suas prioridades, também infl uen-

ciados pela agenda internacional. Tenho

a impressão que, desde os atentados de

11 de setembro de 2001, passamos a viver

várias agendas fragmentadoras. Assim,

hoje, a única agenda agregadora, em que

todos os países sentem que devem sentar

juntos, é a ambiental e a do clima.

Algumas empresas mostram o caminho (da inovação), mas a maioria

entra na curva de aprendizagem muito mais tarde

Page 53: Nº 382 Edição Brasil

já nas bancas

CIELOÉ O CARA

USAIN BOLTBIA E BRANCA

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Page 54: Nº 382 Edição Brasil

54 AméricaEconomia Dezembro, 2009

O ANO DA RECESSÃO

JANEIROOBAMA SUPERSTARBarack Obama se torna o 44º presidente dos Estados Unidos, reunin-do uma multidão que acompanhou a posse do primeiro mandatário negro do país. Apesar da fascinação mundial por Obama – que em outu-bro refletiu-se em sua vitória como Prêmio No-bel da Paz – no âmbito doméstico, o presidente teve de enfrentar proble-mas que não se resolvem apenas com carisma. O mais grave: a reforma do sistema de saúde.

NEGÓCIOS DO MÊS

• O Grupo Camargo Corrêa compra do Grupo Votorantim 50% da VBC Energia

por US$ 1,1 bilhão.

• A Vale adquire a mina de ferro Corumbá da Rio Tinto por US$ 750 milhões.

• O Banco do Brasil compra 50% do Banco Votorantim por US$ 1,84 bilhão.

CUBA: A REVOLUÇÃO PERMANENTEHá 50 anos, a Revolução Cubana prometia

trazer novos ares à América Latina. Hoje,

seus mesmos líderes, agora octagenários,

são os que defendem a ausência de mu-

danças em Cuba. E comemoram um even-

to que a maioria da população da ilha não

viveu, se considerarmos que no Censo de

2002 somente 14,7% dos cubanos tinham

mais de 60 anos.

A crise econômica cria

pânico nos mercados,

mas AméricaEconomia

mostra a oportunidade

para os valentes que

decidem aproveitar o

momento de desvalo-

rização de ativos para

ir às compras.

DEBATES LINHA DO TEMPO

Nas próximas páginas, a equipe de AméricaEconomia – com

a ajuda do serviço de informação fi nanceira mergermarket.com,

do grupo Financial Times, destaca alguns dos fatos e negócios que

marcaram o ano na América Latina.

A ideia é apresentar acontecimentos que, por um lado, resumam

2009 – que, certamente, fi cará marcado como o ano da grande

recessão – e, por outro, joguem sobre esse período a luz clara da rele-

vância, que costuma ser um bom indicador do futuro.

Page 55: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 55

FEVEREIRO MARÇO

ESPIONAGEM Descobrem-se escutas telefônicas ilegais de órgãos de segurança do governo colombiano a juízes, fi scais e políticos de oposição, além de funcionários do governo e jornalistas. Uma políti-ca de segurança a qual-quer custo?

ETERNAMENTE CHÁVEZ?O presidente venezuelano obtém apoio de 54,9% da população para reformar a Constituição do país e garantir-se no poder por mais sete anos. Também conquista o direito à reeleição indefi nida. Com isso, a oposição demonstra sua incapacidade de se unir em um projeto alternativo.

VITÓRIA DA ESQUERDAMauricio Funes, da Frente Farabundo Martí para a Li-bertação Nacional (FMLN), é eleito presidente de El Salva-dor. Funes arrebata a hege-monia do Arena, tradicional partido de direita, e mantém uma política de aproximação com o Brasil.

PROTECIONISMO ARGENTINOO governo argentino dá mais um passo em sua escalada protecionista contra o Brasil, intensifi cando a apli-cação de licenças não-automáticas – aumentando o número de produtos atingidos pela medida e o tempo para liberação de carga na aduana. Entre os setores mais prejudicados estão os de móveis, calçados e têxteis.Em represália, no mês de outubro, o governo brasileiro passou a impor as mesmas licenças a produtos ar-gentinos – sobretudo a alimentos perecíveis, que fi caram bloqueados na fronteira entre os países.

BRASIL AJUDA NA LIBERAÇÃO DE REFÉNS DAS FARCO governo brasileiro conquista um ponto a favor ao conseguir –

com o apoio da Cruz Vermelha Internacional e do grupo Colom-

bianos pela Paz – a libertação do deputado Sigfredo López e de

outros quatro reféns das Farc (Forças Armadas Revolucionárias

da Colômbia) sequestrados em 2002. A liberação ainda signi-

fi cou um golpe à diplomacia do presidente Hugo Chávez, que

fi cou de fora da conversa em termos humanitários.

DOW JONES DESABAPela primeira vez desde

1997, o índice Dow Jones

Industrial cai abaixo dos

7 mil pontos, depois que

a seguradora American

International Group Inc.

divulgou perda trimestral

de US$ 61,7 bilhões. O mer-

cado dos EUA só voltou a

se recuperar em outubro,

graças aos sinais de que os

EUA saíam da recessão.

A ARGENTINA SE DESPEDE DO HOMEM DA TRANSIÇÃORaúl Alfonsín, primeiro presidente democrático argentino depois

do período ditatorial, morre aos 82 anos. Apesar de não ter con-

cluído seu mandato, submerso

em uma crise de governabilida-

de, Alfonsín conquistou grande

apreço e prestígio. Mesmo com

a transcendência moral con-

quistada por ele, seu partido

(União Cívica Radical) não con-

seguiu tirar o peronismo do ei-

xo da política argentina – tarefa

que tampouco Fernando de la

Rúa conseguiu realizar.

América-

Economia

mostra os

passos da

empresa

de te le -

c o m O i

em busca

da compe-

titividade e sua possível entrada

no mercado regional.

O desmata-

m e n t o d a

A m a z ô n i a

não acontece

somente na

parte brasilei-

ra da fl oresta.

AméricaEconomia alerta para

a necessidade de se criar uma

política regional para o tema.

NEGÓCIOS DO MÊS

• O Banco do Brasil anuncia a compra de Banco do Estado do

Espírito Santo por cerca de US$ 1,2 bilhão.

• A Ecopetrol e a KNOC compram a Petro Tech Peruana por

US$ 900 milhões.

Page 56: Nº 382 Edição Brasil

56 AméricaEconomia Dezembro, 2009

ABRIL MAIO

A AméricaEconomia

analisa quem está

mais forte e bem-

posicionado frente

à crise econômica:

as multinacionais ou

as multilatinas.

São Paulo é novamente eleita a

melhor cidade para fazer negócios

na América Latina pelo ranking da

AméricaEconomia.

MÉXICO: CAEM NARCOS, MAS NÃO O TRÁFICOO governo mexicano consegue prender

narcotraficantes de peso, como Vicente

Carrillo (foto) e Héctor Manuel Oyarzabal.

Entretanto, o narcotráfi co não acaba: se re-

ordena em torno de novas redes e líderes.

PERU: LEVIATÃ CONDENADOO ex-presidente peruano Al-

berto Fujimori, que dominou o

país nos anos 90, é condenado

a 25 anos de prisão por crimes

de lesa humanidade pelos

massacres de Barrios Altos e La

Cantuta, que deixaram 25 mor-

tos em 1991 e 1992, bem como

pelo sequestro de um jornalista

e um empresário em 1992. O VÍDEO DA GUATEMALACaiu como bomba o vídeo

do advogado Sergio Rosen-

berg no qual acusa o Presi-

dente de Guatemala, Álvaro

Colom, de sua morte poucos

dias depois da gravação. Mas

Colon resistiu ao escândalo.

PANAMÁ ELEGE MARTINELLIApesar do crescimento, da amplia-

ção do Canal do Panamá e da po-

pularidade do presidente Martín

Torrijos, a social democracia não

conseguiu manter-se no poder:

perde as eleições para o milionário

de centro-direita Ricardo Martinelli,

que promete metrô na capital e

portos para receber cruzeiros.

NEGÓCIOS DO MÊS

• BTG fecha a compra do banco UBS Pactual por

US$ 2,5 bilhões.

NEGÓCIOS DO MÊS

• Perdigão e Sadia anunciam sua fusão, formando a empresa

Brasil Foods, operação avaliada em US$ 3,5 bilhões.

• A Venezuela nacionaliza a argentina Ternium-Sidor,

oferecendo indenização de US$ 1,97 bilhão.

O MEDO DA GRIPEUm novo vírus da gripe, popular-mente chamada de gripe suína, ou gripe A (H1N1), começa a ame-drontar o mundo. No México, país onde a doença foi identifi cada, es-colas da Cidade do México e de ou-tros estados foram fechadas. Além disso, eventos públicos, inclusive missas e partidas de futebol, foram cancelados. Cerca de 70% dos ba-res e restaurantes da capital tam-bém permaneceram sem funcio-nar. Na Argentina, o vírus colapsou

o sistema de saúde, ajudado por uma epide-mia de den-

gue. PELO DIÁLOGOEm seu primeiro gesto dirigido à América Latina, Barack Obama nomeou o chileno Arturo Valenzuela como subsecretário de As-suntos Hemisféricos Ociden-tais. A escolha foi interpreta-da como relevante para uma agenda de diálogo mais ativa que a da administra-ção de George W. Bush. Mas a nomeação não pôde ser concretizada até novembro, devido à oposição do sena-dor republicano Jim DeMint, que a bloqueou devido à posição de Obama no tema de Cuba e Honduras.

DEBATES LINHA DO TEMPO

Page 57: Nº 382 Edição Brasil

58 AméricaEconomia Dezembro, 2009

AGOSTO SETEMBRO

SAÍDA DE MARINA SILVA DO PTDepois de 30 anos no Partido dos Tra-

balhadores, Marina Silva pede desliga-

mento para se fi liar ao Partido Verde

(PV). Embora tenha alegado que a saída

estava ligada a sua vontade de lutar pe-

lo desenvolvimento sustentável e pelo

meio ambiente, cogita-se que ela teria

trocado de partido para se candidatar à

Presidência nas eleições de 2010.

ZELAYA NÃO SE RENDEO presidente deposto de Hon-

duras, Manuel Zelaya (foto),

se infi ltra no país, refugiando-

se na embaixada do Brasil em

Tegucigalpa. Dessa forma, o

Brasil assume um papel, dese-

jado ou não, de importância

nas negociações. Houve um

acordo para que Zelaya voltas-

se ao poder antes das eleições,

que depois caiu.

POLÊMICO “PAZ SEM FRONTEIRAS EM HAVANA”Poucas vezes um show é motivo de polêmica, mas o da Paz sem

Fronteiras, realizado em Havana, soou como um apoio declarado

ao regime regime cubano. Quem mais sofreu críticas – em parti-

cular de Miami – foi o cantor colombiano Juanes.

NEGÓCIOS DO MÊS

• Banco Itaú transfere sua carteira

de seguros a uma joint venture

com a seguradora Porto Seguro.

A operação foi avaliada em US$

850 milhões.

NEGÓCIOS DO MÊS

• JBS acorda a fusão com a empresa de carne Bertin, por meio

de uma troca de ações, e compra a Pilgrim’s, dos EUA.

• Marfrig compra a Seara Alimentos por US$ 900 milhões.

QUEREM QUE EU SAIA?Na Cúpula da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), em Quito, a maioria dos países critica a Colômbia devido aos planos de instalação de bases norte-americanas no país, o que foi respondido pelo ministro da Defesa colombiano, Gabriel Silva, com uma ameaça de saída do grupo.

ANTES DEVEDOR, AGORA CREDORO Brasil segue seu caminho para ser um peso pesado no mundo político e eco-nômico. O presidente Lula declara que o país passará a ser um credor líquido do Fundo Monetário Internacional e que está disposto a injetar US$ 10 bilhões na entidade multilateral. “Antes, nos diziam o que deveríamos fazer, mas agora nós estamos dizendo ao FMI o que se deve fazer”, afi rmou Lula, na ocasião.

A América Central

foi duramente gol-

peada pela crise. A

AméricaEconomia

vai além ao revelar

os perigos sociais

e políticos que

ameaçam a esta-

bilidade democrá-

tica da região.

Acaba o multilateralis-

mo na política exterior

dos EUA. É a aposta da

AméricaEconomia, que,

agora, prevê uma pos-

tura mais unilateral em

seu tratamento de cola-

boração com diferentes

países da região.

MARCO REGULATÓRIO DO PRÉ-SALO presidente Lula apresenta o novo mar-

co regulatório do pré-sal. Entre outras

coisas, as regras preveem um sistema

de partilha de produção entre a União

e as empresas ganhadoras das licita-

ções para as áreas do pré-sal e regiões

estratégicas. A Petrobras, presidida por

Sérgio Gabrielli (foto), teria direito à par-

ticipação mínima em cada consórcio.

Em novembro, é aprovada na Câmara

dos Deputados a criação da Petrosal,

estatal responsável pelos contratos de

exploração e de comercialização de

petróleo e gás natural do pré-sal.

DEBATES LINHA DO TEMPO

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Page 58: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 59

OUTUBRO NOVEMBRO

RIO GANHA O DIREITO DE ORGANIZAR OS JOGOS OLÍMPICOSO Rio de Janeiro deixou para trás Tóquio, Madri, Chicago e Lon-

dres e venceu como sede das Olimpíadas de 2016. Quando Lula

e Pelé receberam a

notícia, se abraça-

ram como crianças.

De quebra, o Brasil

ganhou o direito de

mostrar-se ao mun-

do como a potência

emergente que é.

APAGÃO MEXICANO O presidente

Felipe Calderón ordenou a liquida-

ção da elétrica estatal Luz y Fuerza

del Centro, devido à sua “compro-

vada inefi ciência” e por enormes

perdas ao fi sco. Outras fontes atri-

buem a decisão do governo como

parte de um plano para debilitar o

Sindicato Mexicano de Eletricistas.

ELO LATINO-AMERICANOO presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, visita o Brasil,

acompanhado de uma comitiva de empresários. A chegada de

Ahmadinejad

foi precedida de

manifestações

civis contra o

líder. No encon-

tro, Lula defen-

deu o direito do

Irã de desenvol-

ver seu progra-

ma nuclear.

EXPLODIU A PONTEEm um ato que promete volatili-

zar ainda mais as relações entre

Venezuela e Colômbia, autori-

dades colombianas acusam pes-

soas uniformizadas de explodir

uma ponte pênsil que conecta

os dois países. No momento, não

está claro se eram soldados do

exército venezuelano, mas cer-

tamente é algo de que a região

não precisa.

UM EX TUPAMARU NO PODERJosé “Pepe” Mujica obteve o primeiro lu-gar nas eleições presidenciais uruguaias, mas não votos sufi cientes para ganhar no primeiro turno. Deverá enfrentar em um escrutínio o ex-presidente Luis Al-berto Lacalle. Mujica, um ex-guerrilheiro tupamaru, liderou a transformação do grupo em uma força legítima.

A MUDANÇA CLIMÁTICA PODE ESPERAREra de se esperar que a Cúpula de Copenhague sobre mudanças climáticas não resultasse em acordos sobre limites de emissão, devido à difi culdade de conciliar as posturas de Estados Unidos e China. Mas os líderes do go-verno aproveitaram um encontro anterior para ofi cializar que, em Cope-nhague, não se fi rmará um grande acordo “pós-Kyoto”, mas as bases para um acordo maior em anos posteriores. Obama disse que é importante mostrar algum tipo de avanço na Cúpula, ainda que não se saiba qual. Ao que tudo indica, os defensores do meio ambiente continuarão esperando pelos Estados Unidos.

A fusão Itaú-Unibanco

cria o maior banco da

América Latina e um

player global, como

indica o Ranking de

Maiores e Melhores

Bancos da AméricaE-

conomia.

AméricaEconomia

mostra o cresci-

mento da infl uên-

cia do BNDES co-

mo fi nanciador da

expansão de em-

presas brasileiras

na América Latina .

Foto

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RUZ

ABR

Page 59: Nº 382 Edição Brasil

60 AméricaEconomia Dezembro, 2009

O DESAFIO DE

Se conquistar a reeleição em 6 de dezembro, o presidente da Bolívia terá de enfrentar os desafi os da industrialização e de legitimar reformas institucionais

RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES

Se poucas pessoas que foram à Bolívia experimentaram

seus “vinhos de altitude”, produzidos a 2,5 mil metros do

nível do mar na região de Tarija, a probabilidade de que

tenham provado o “leite de altitude” pode ser ainda mais

remota. A produção de leite nos arredores de La Paz, feita por

2,3 mil famílias, é relativamente nova. Por preconceito, não

se costuma associar o gado bovino às altitudes, mas este se-

tor registrou uma melhoria efetiva e

silenciosa nos últimos anos, graças

à ajuda de entidades como a CAF

(Corporação Andina de Fomento) e

a Embaixada da Holanda, por meio

da construção de estábulos, salas

de ordenha e aprimoramento das

técnicas de irrigação e armazena-

mento da forragem.

Certamente, não será o sucesso

da produção dessas vacas que fará o

presidente Evo Morales conquistar

um novo mandato nas eleições de dezembro. Esse exemplo,

entretanto, refl ete que a combinação efetiva de planos so-

ciais antes inexistentes (de aposentadoria e alimentação,

por exemplo), tranquilidade macroeconômica e o impacto

de uma ajuda internacional crescente, que oscilou entre US$

600 milhões e US$ 800 milhões anuais entre 2007 e 2009,

pode fazer a diferença. Afi nal, essa mescla resultou em uma

fórmula efi ciente para sustentar o nível de atividade e fazer

EVO

com que o país escapasse dos efeitos da crise global, com uma

estimativa ofi cial de crescimento de 4% para este ano.

Não obstante, se confi rmarem vitória frente ao principal

candidato da oposição Manfred Reyes Villa, do PPB (Plano

Progresso para a Bolívia), tanto Morales quanto seu partido, o

MAS (Movimento ao Socialismo), enfrentarão novos dilemas a

partir de 2010. Os dois maiores serão resistir à tentação de mes-

clar o Estado central com o programa

de governo, a burocracia partidária

e a fi gura de Morales, e não respon-

der às expectativas de industrializar

parcialmente suas matérias-primas,

devido a uma capacidade de investi-

mento e gestão insufi cientes.

VALOR AGREGADOEmbora essa última pareça ser uma

tarefa difícil, dado o imenso atraso

relativo e a ausência de técnicos

competentes, analistas apontam que a Bolívia tem um bom

potencial para industrializar-se. “O país conta com controles

macroeconômicos melhores que a Venezuela”, diz Enrique

García, presidente da CAF. A infl ação mensal foi de 0,11% em

setembro passado (com um acumulado de -0,09% de janeiro

a setembro). Isso em um contexto de crescimento econômico,

com reservas crescentes no Banco Central (US$ 8,45 bilhões

em setembro).

DEBATES ELEIÇÕES

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17,3%foi quanto o investimento estrangeiro representou

no PIB da Bolívia em 2008

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Dezembro, 2009 AméricaEconomia 61

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AN

TON

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Entretanto, a Bolívia ainda sofre a barreira de atração

do investimento. Ainda que em 2008 o país tenha mostrado

certa recuperação desse índice, com o investimento represen-

tando 17,3% do PIB, “a média entre 2000 e 2008 não supera

14% do PIB”, indica García, para quem o país tem uma brecha

que deveria ser coberta pelo setor privado.

Um primeiro sinal positivo será dado se o governo de

Morales conseguir concretizar os planos da Jindal Steel

Bolívia (JSB), fi lial local da indiana Jindal Steel & Power, que

está construindo três plantas de processamento de ferro

em El Mutún, Santa Cruz, com um investimento de US$ 800

milhões até 2012 – de um total de US$ 2,1 bilhões que inclui

uma termoelétrica, com inauguração estimada para 2013.

diz que a oposição é mais uma junção de grupos com uma

liderança sujeita a discussão. “A tendência é que ela se frag-

mente muito mais, pois não existe a ideia de acordo”, diz.

O ponto é que o governo necessita aprovar, nos seis pri-

meiros meses deste segundo mandato, cinco leis orgânicas

para as quais não basta a maioria simples. Entre elas, a refor-

ma do Código Eleitoral e a Lei Marco de Autonomias.

Analistas como David Scout Palmer, professor de Relações

Internacionais e Ciências Políticas da Universidade de Boston,

pensam que existe “uma progressiva desinstitucionalização

política na Bolívia, que sai de uma combinação do populismo

personalista de Morales e de uma nova interpretação da de-

mocracia que privilegia a nomeação de pessoal no Executivo”.

Mas talvez Morales tenha uma carta na manga. Houve

uma renovação completa dos candidatos de seu partido ao

Congresso. “Não está se repetindo nem um só parlamentar,

enquanto na oposição 80% deles já vêm de um mandato

anterior”, diz Cordeiro. E também se fala de uma renovação

total de ministros.

Assim, mais do que uma reprise, um próximo mandato

de Morales promete surpresas.

MOBILIZAÇÕES CIVIS: ARTIFÍCIO QUE DEVERIA SER EVITADO POR MORALES EM UM PRÓXIMO MANDATO

FALTA CONSENSOJá no âmbito político, se reeleito, Morales deverá aguçar sua

visão de longo prazo, para evitar os riscos inerentes à sua vi-

tória. Um deles são os enfrentamentos sociais. Os adversários

do MAS criticam o uso de mobilizações civis, acusando estas

de serem um método pouco democrático. Já no Congresso,

analistas veem pouca possibilidade de construir consensos.

Carlos Cordero, diretor do Centro de Estudos Democráticos,

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64 AméricaEconomia Dezembro, 2009

FORÇA FINANCEIRAChile, Colômbia e Peru querem unifi car suas bolsas para concorrer com a BM&FBovespa e formar a terceira maior da região JUAN PABLO RIOSECO E MATÍAS RODO, DE SANTIAGO

NAHIL HIRSH, JORGE CASTAÑO E GUILLERMO LARRAÍN: UNIDAS, BOLSAS SOMAM CAPITALIZAÇÃO DE US$ 360 BILHÕES

FINANÇAS BOLSAS

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Você consegue imaginar uma bolsa de valores sul-ameri-

cana que faça frente à BM&FBovespa? Impossível. Mas nada

impede de aproveitar o impulso de um vizinho forte para

crescer também. Essa é a ideia de Chile, Peru e Colômbia, que

anunciaram a intenção de se unir e criar o terceiro maior mer-

cado fi nanceiro da América Latina, depois de Brasil e México.

Em novembro, os superintendentes de valores dos três

países se reuniram em Santiago para assinar um acordo sobre

o tema. No mais puro estilo Euronext, eles querem começar

equiparando aspectos normativos e permitindo maior fl exi-

bilidade aos operadores. A meta é chegar, até o fi m de 2010, a

“pelo menos uma etapa preliminar de integração, na qual os

intermediários de um país possam atuar como operadores

diretos ou remotos na bolsa dos outros dois”, afi rma Guillermo

Larraín, superintendente de Valores e Seguros do Chile.

No longo prazo, o objetivo é chegar a uma integração to-

tal, na qual um peruano, por exemplo, possa comprar ações

do Chile ou da Colômbia diretamente de seu país. Isso poderia

mudar o cenário fi nanceiro da América Latina. Esse mercado

fi caria atrás apenas da BM&FBovespa e da Bolsa de Valores

do México. Os três países andinos somariam uma capitaliza-

ção superior a US$ 360 bilhões (comparado à de US$ 1 trilhão

do Brasil e de US$ 400 bilhões do México) e teriam uma oferta

de mais de 560 ações.

O potencial é evidente. São mercados pouco líquidos den-

tro de economias com grandes perspectivas de crescimento,

sobretudo no Peru. “É o passo que todas as bolsas devem dar”,

afi rma Bernardo Mariano, sócio da empresa de análise de

mercado Equity Research Desk, de Nova York. “Elas vão se

transformar em um concorrente muito mais interessante na

região.” Rolf Lüders, economista da Universidade Católica do

Chile, diz que a iniciativa deve baixar os custos de operação.

“Isso poderia aumentar as transações e as novas emissões,

que nos três mercados têm níveis baixos”, afi rma.

A meta é que a integração atraia mais fl uxos de capital,

de diversos lugares do mundo. “Se tivermos sucesso, vamos

ganhar em liquidez”, diz Nahil Hirsh, presidente da Comis-

são Nacional Supervisora de Empresas e Valores do Peru, a

Conasev. “Para nossos próprios investidores, será mais fácil

adquirir valores dos outros dois países; o conceito de recipro-

cidade aqui é fundamental.” Para Jorge Castaño Gutiérrez,

diretor de Intermediários de Valores e Outros Agentes da

Superintendência Financeira da Colômbia, a mudança será

forte. “A liquidez se duplicará ou triplicará em alguns casos,

o que favorecerá muito o acesso a uma melhor estratégia de

diversifi cação de carteiras”, afi rma.

JOSÉ ANTONIO MARTÍNEZ GERENTE GERAL DA BOLSA DE COMÉRCIO DE SANTIAGO

“O projeto exige a participação e a colaboração tanto das institui-ções do setor público quanto do privado, das bolsas e de depósi-tos de valores partes do acordo. Para isso, as equipes técnicas cor-respondentes já estão trabalhan-do, e existe um apoio do mais alto nível em todas as entidades para que o projeto seja um sucesso.”

Page 63: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 65

já existem. Os especialistas lembram que, antes de conversar

com Peru e Chile, a bolsa colombiana andou fl ertando com a

do Panamá.

Também haverá aqueles que fi carão para trás. O caso

mais grave poderá ser o da Bolsa de Buenos Aires. Esta, que

por muito tempo manteve-se na segunda posição entre as

maiores da região, despencaria vertiginosamente para o

sexto lugar. Sua opção? Aliar-se ao Brasil, embora até agora

não tenha conseguido avançar nesse sentido dentro do

Mercosul. E os mercados centro-americanos deveriam, pela

lógica, estabelecer pontes com o México. Diferentes jogadas

para um novo tabuleiro de investimentos que já começou a

ser desenhado na América Latina.

Fonte World Federation of Exchanges

CAPITALIZAÇÃO DAS BOLSAS LATINO-AMERICANAS NO FECHAMENTO DE CADA ANO

BM&FBOVESPA

Colombia SE *

Lima SE

Mexican Exchange

Santiago SE

Buenos Aires SE

(em US$ bilhões)

* Dados a partir de 2003 / ** Dados de junho de 2009

2001 2003 2005 2007 2009**

186

226

474

1.369

911

126122

239

397

265

5687

136

213

195

3335

47

5734

14

50101

111

914 24

69

ETAPASO próximo passo desse projeto será uma reunião nos dias

14 e 15 de janeiro em Lima, quando equipes de trabalho

mistas começarão a discutir cerca de 18 questões específi cas.

“Enfatizaremos agora as modifi cações no âmbito normativo

que podemos realizar nas três instituições para favorecer

o processo de integração”, diz Larraín. A princípio, nada

complicado. O que poderia ser um entrave são as mudanças

legislativas que em algum momento precisarão ser aplicadas.

“Isso pode levar tranquilamente um ano”, afi rma Mariano, da

Equity Resarch Desk, recordando experiências semelhantes

na América Latina. “Por exemplo, Argentina e Brasil assina-

ram um acordo como parte do Mercosul na década passada

que nunca foi implementado”, afi rma. “Mas não acredito que

algo assim ocorra neste caso”.

Os reguladores reconhecem a questão. Para Nahil Hirsh,

a sensibilização dos congressos é uma tarefa a qual os supe-

rintendentes e suas contrapartes do setor privado deverão

começar a se dedicar desde já. “É importante que isso seja

tratado também como uma questão nacional”, afi rma. De

qualquer forma, joga a favor o ânimo dos países por refor-

mar. “Mudanças legais estão sendo realizadas no Peru desde

o ano passado: foram modifi cadas recentemente as leis do

mercado de valores e dos fundos de investimento.” No cam-

po normativo, o aspecto-chave será o acesso aos mercados

por parte dos intermediários. “Devemos ter a tranquilidade

de que serão mantidos os padrões que existem hoje para in-

vestimento em nossos mercados”, afi rma Castaño. O mesmo

deve ocorrer no caso de proteção aos investidores, transpa-

rência e eliminação de más práticas. “Quando houver a inte-

gração, esses aspectos também serão internacionalizados.”

O fato é que o nascimento desse novo ator poderá mu-

dar a dinâmica dos mercados regionais. “Com três opções

fortes, a tendência é de que os outros mercados se tornem

irrelevantes”, afi rma Mariano, o que os pressionará a se unir

a um desses três, se quiserem ganhar importância. Avanços

ROBERTO HOYLE PRESIDENTE DA BOLSA DE VALORES DE LIMA “A bolsa peruana tem foco naoferta de títulos relacionados à mineração; a bolsa colombiana, nos hidrocarbonetos e no setor bancário; e a bolsa chilena, em energia, comércio e serviços. Em um segundo passo, a integração dos mercados de renda fi xa tam-bém será vantajosa, dada a am-plitude dos mercados de renda fi xa colombiano e chileno.”

JUAN PABLO CÓRDOBA PRESIDENTE DA BOLSA DE VALORES DA COLÔMBIA

“Temos plataformas de nego-ciação facilmente integráveis. A ideia é que o investidor lo-cal não tenha de fazer nada diferente para ter acesso a seu mercado e, ao mesmo tem-po, ao dos outros dois países. Com a integração, ganhare-mos massa crítica.”

Page 64: Nº 382 Edição Brasil

66 AméricaEconomia Dezembro, 2009

Através da arbitragem de moedas e da colaboração do governo, a indústria fi nanceira venezuelana consegue lucros históricos, mas acumula riscos

FELIPE ALDUNATE M., DE CARACAS

FINANÇAS VENEZUELA

Basta aterrissar no aeroporto de Ca-

racas para entender grande parte das

distorções da economia venezuelana.

Tudo começa ao passar por uma das

casas de câmbio localizadas junto às

esteiras de bagagem, que trocam os dó-

lares dos turistas pela taxa ofi cial: 2,15

bolívares fortes (Bs.F.) por unidade da

moeda norte-americana. “Na verdade,

é 1,98 bolívar, porque temos comissão”,

afi rma o jovem venezuelano que aten-

de do outro lado do vidro e que realiza

o trâmite burocrático: anota os dados

do turista, faz cópia do passaporte, pre-

enche alguns formulários e recolhe as

impressões digitais dos polegares das

duas mãos em dois documentos dife-

rentes, junto com a assinatura. Após

dez minutos, o turista enfi m consegue

concluir a missão: trocar US$ 100 por

198 bolívares.

Entretanto, essa troca de dinheiro

pode ser muito mais simples e rentá-

vel quando se recorre a mecanismos

alternativos presentes no mesmo aero-

porto. Taxistas, guardas e até o ofi cial

que carimba o passaporte de entrada

oferecem uma taxa mais interessante:

5 bolívares por dólar, e o trâmite dura

apenas 15 segundos.

A diferença de taxas entre o dólar

ofi cial e o paralelo gera negócios rentá-

veis para aqueles que podem comprar

pela taxa ofi cial e vender no mercado

paralelo; e o que é conveniente no mer-

cado informal torna-se ainda melhor

para o mercado financeiro da Vene-

zuela. Nos últimos anos, o mercado de-

senvolveu um sofi sticado mecanismo

para arbitrar taxas de câmbio ofi ciais e

paralelas, em um sistema do qual parti-

cipam corretoras, bancos e até o gover-

no. Embora Hugo Chávez e seu ministro

da Fazenda, Alí Rodríguez, critiquem

ferozmente essas atividades de especu-

lação, as instituições que eles presidem,

incluindo a petrolífera estatal PDVSA –

responsável por 97% da entrada de divi-

sas no país –, criaram um esquema que

permite lucros extraordinários a suas

instituições e aos agentes fi nanceiros,

às custas de um alto endividamento

público. Além disso, tal atividade au-

menta o risco sistemático da indústria

fi nanceira venezuelana, que reinveste

seus lucros em ativos cada vez mais

caros e menos sustentáveis.

MERCADO DUALA arbitragem cambial não é novidade

na América Latina. Era a regra nas eco-

nomias da região há algumas décadas,

quando o normal era ter taxas de câm-

bio fi xas para desestimular a fuga de

capitais, a especulação contra a moeda

e outros objetivos menos claros.

O caso venezuelano, entretanto,

tem uma peculiaridade. Desde que o

governo fi xou o valor do dólar, em fe-

vereiro de 2002, criou-se um mercado

duplo: um para certos importadores

de bens prioritários, como alimentos e

E O BOLÍVARENTRE O DÓLAR

Page 65: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 67

HUGO CHÁVEZ TRANSFORMOU

O PAÍS NO MAIOR EMISSOR DE

DÍVIDAS ENTRE OS EMERGENTES

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bens de capital, e também para quem

tem bons contatos políticos, que podem

comprar divisas ao preço ofi cial através

de uma instituição chamada Cadivi;

e outro paralelo, que funciona através

das instituições financeiras que tro-

cam valores denominados em dólares

e bolívares – e não a moeda em si, o que

seria ilegal –, a uma taxa de câmbio

chamada taxa de permuta.

As empresas que precisam de dóla-

res para operar – multinacionais e im-

portadoras – recorrem a esse mercado

de permuta dominado por corretoras

de ações, casas de câmbio e, em menor

grau, bancos comerciais. “Os bancos

demoraram mais para entrar nesse

mercado porque é uma zona cinza da

economia”, afi rma o diretor-executivo

de uma das maiores corretoras de ações

de Caracas, que não quis revelar seu

nome. Diferentes estimativas indicam

que esse mercado soma cerca de US$

100 milhões diariamente e está cres-

cendo. Para os intermediários, os lucros

são simples de observar: entre 0,05 e

0,1 bolívar por dólar trocado, segundo

operadores da indústria. Isso explica o

aumento do número de casas de câm-

bio hoje em Caracas, bem como o de

corretoras de ações com posto na Bolsa

de Caracas que estão ativas – um total

de 64 –, apesar de quase não haver tran-

sações de ações no mercado acionário.

PDVSA, O NOVO BANCO CENTRALEsse mercado de permuta precisa de

dólares, função da qual o próprio go-

verno e a petrolífera estatal, a PDVSA,

encarregaram-se. A forma de intervir

é através da emissão de papéis deno-

minados em dólares, mas que podem

ser comprados em bolívares no mer-

cado local. Isso permite aos agentes

financeiros comprar papéis e depois

revendê-los, geralmente a um investi-

dor estrangeiro ou a uma pessoa física

que esteja saindo de viagem, em dóla-

res. Esse papel do governo, contudo, é

Page 66: Nº 382 Edição Brasil

68 AméricaEconomia Dezembro, 2009

comprado com um prêmio sobre o valor

nominal e vendido com uma taxa de

desconto ao investidor estrangeiro. Na

jogada, ganham o emissor, que, graças

ao prêmio, recebe mais dinheiro do

que registra em seus passivos (gerando

um lucro contábil extraordinário), o

investidor fi nal, que recebe um papel

venezuelano em dólares com altíssi-

mo rendimento, e o intermediário, que

conseguiu transformar seus bolívares

em dólares e com isso pode alimentar

o mercado de dólares de permuta, cuja

taxa é semelhante àquela que se pode

encontrar no aeroporto.

GRANDE EMISSORAO governo proíbe informações sobre

esse tipo de câmbio. Mas, assim co-

mo a indústria se encarregou de gerar

um mecanismo de informação não ofi -

cial para difundir a cotação da moeda

norte-americana (como o site bonos-

venezuela.blogspot.com), o governo se

preocupa em fornecer os bônus que

permitam o intercâmbio de moedas,

tanto que a Venezuela se transformou

no país emergente que mais emitiu

dívidas este ano em todo o mundo.

Assim como tudo na Venezuela de

hoje, o sistema carece de transparên-

cia. A Bolsa de Caracas não respondeu

as perguntas enviadas sobre o tema,

nem a Associação Bancária. Há aqueles

que reconhecem méritos no mecanis-

mo. “É uma maneira criativa de obter

fi nanciamento

barato e drenar

o mercado com

dólares, sem ne-

cessidade de des-

valorização, o que

geraria mais in-

fl ação em função

da grande quan-

tidade de produ-

tos importados

consumidos no

país”, afi rma um

alto executivo de um conhecido ban-

co comercial venezuelano, que pediu

anonimato. “Não vai funcionar para

sempre, mas por ora está bom.” Os ban-

FINANÇAS VENEZUELA

cos de fato estão se be-

neficiando, pois, para

estimular a demanda

por bônus, o governo

lhes permite adquirir

esses ativos denomi-

nados em dólares sem

que contem no limite

de 30% do patrimô-

nio para reservas em

moeda estrangeira. O

bom rendimento des-

ses papéis explica em

grande parte os bons

resultados obtidos pe-

los bancos venezuela-

nos no último ano.

O rápido aumento

da dívida venezuelana

não é tema de preocu-

pação no momento. “A

dívida pública, segun-

do o governo, está em

24,3% do PIB, mas isso

se calculamos pela ta-

xa oficial; se ajustar-

mos o valor pelos dife-

rentes tipos de câmbio,

a dívida chega a 29,8%

do PIB”, afi rma Asdrúbal Oliveros, dire-

tor da empresa de análise Ecoanalítica.

“No fi m de 2010, o governo diz que a

dívida será de 37,4% do PIB; nós acre-

ditamos que será de 44,3%.” Segundo

Oliveros, apesar do crescimento da dí-

vida, não há riscos de inadimplência

nos pagamentos

até 2012, o que

sempre esta rá

c o n d i c i o n a d o

pelo preço do pe-

tróleo cru, diante

do qual há mar-

gem para operar.

A notícia é ainda

melhor para os

investidores es-

trangeiros, que

encontraram nos

papéis da PDVSA, por exemplo, rendi-

mentos de até 15% ao ano em dólares.

É preciso estar atento ao risco que

isso pode acrescentar à incerteza já

estabelecida em operar na Venezuela.

A dualidade do mercado cambial e a

participação de empresas do governo

nele geram distorções preocupantes.

“A PDVSA é o novo Banco Central; gera

os dólares da economia e intervém no

mercado cambial”, afirma José Guer-

ra, diretor da escola de Economia da

faculdade de Ciências Econômicas da

Universidade Central da Venezuela e

ex-economista-chefe do Banco Central

da Venezuela (BCV). “O Banco Central

verdadeiro está encolhido.” Essa opi-

nião ganhou novas vozes com a recente

reforma no Banco Central da Venezue-

la, que agora pode comprar papéis da

PDVSA, apesar de sua tradição de não

fi nanciar instituições do governo.

Hoje, com cada emissão de seus

petrobônus, como são conhecidos no

mercado, a PDVSA gera lucros extra-

ordinários pelo prêmio com que seus

papéis são comprados em bolívares, o

que oculta seus problemas operacio-

44,3%do PIB pode ser a dívida pública

da Venezuela no fi nal de 2010

ALÍ RODRÍGUEZ: GOVERNO BATE E DEPOIS ASSOPRA

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Page 67: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 69

nais. Do outro lado, as empresas que

fazem sua contabilidade em bolívares,

mas precisam de dólares, devem regis-

trar prejuízos por

cada intercâmbio

de divisas, pela

necessidade de

contabilizá-lo pe-

lo câmbio ofi cial,

apesar de precisa-

rem comprá-lo a

um câmbio maior.

“É uma enorme

dor de cabeça pa-

ra as empresas

privadas, muitas das quais fazem ma-

labarismos para evitar a quebra contá-

bil”, afi rma um especialista fi nanceiro

que gerencia uma operadora de papéis

com sede em Caracas e no Panamá.

À obscuridade contábil soma-se

a ca rênc ia de

outros ativos fi-

nanceiros, além

do dólar, dentro

do sistema. “Não

existem instru-

mentos que per-

mitam proteger-

se contra a infl a-

ção, que este ano

chegará a 27%”,

afirma um ex-

operador de corretora de ações. Alguns

temem que isso esteja criando uma

caixa de Pandora, com passivos fi nan-

27%é a infl ação estimada

para a Venezuela este ano

ceiros respaldados por ativos que são

apenas artifícios criados pela pouca

transparência do mercado. As infor-

mações nesse mercado são tão escassas

que é pouco provável que as autorida-

des fi nanceiras conheçam a qualidade

dos ativos apresentados.

Alguns, conscientes dessa insus-

tentabilidade, procuram resguardo em

outros mercados, como o do Panamá,

que tem andado cheio de dólares vene-

zuelanos – e venezuelanos. Mas os atra-

tivos do jogo cambial são altos. É prová-

vel que as autoridades precisem tomar

medidas para resolver a questão, como

uma desvalorização, uma formalização

do mercado de permuta ou uma combi-

nação de ambas que desative a bomba.

Porém, até lá, a economia continuará

tendo lucros e prejuízos por atividades

de arbitragem e que levam os agentes

econômicos, assim como o rapaz do

aeroporto, a preferir realizar operações

especulativas antes de pegar seu táxi e

ir em busca de passageiros.

SEDE DA PDVSA: A PETROLÍFERA SE ENCARREGA DE DAR UMA MÃOZINHA AO MERCADO DE PERMUTA DE DÓLARES

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Page 68: Nº 382 Edição Brasil

70 AméricaEconomia Dezembro, 2009

INJEÇÃO DEEFICIÊNCIAEmpresas do setor de saúde ganham com práticas de governança corporativa

MÁRCIA VAISMAN, DE SÃO PAULO

FOTOS: CALÉ

Nos últimos cinco anos, o Hospital

de Sentara, em Norfolk, no estado norte-

americano da Virgínia, reduziu em 95%

a incidência de pneumonias e aumentou

a efi cácia no atendimento a pacientes

graves, encurtando seu tempo de inter-

nação em 65% dos casos. A fórmula para

chegar a esses números não dependeu

apenas do avanço da medicina ou da

qualidade do corpo médico. O remédio,

nesse caso, veio da intervenção direta na

gestão do hospital. Com a adoção de prá-

ticas de governança corporativa – trans-

parência, responsabilidade corporativa

e cuidado na prestação de contas –, o

Sentara tornou o controle de qualidade

de sua operação mais efi caz. E seus pa-

cientes lucraram com isso.

Os Estados Unidos lideram o ranking

dessas práticas. Segundo o presidente

do American College of Healthcare Exe-

cutives, Thomas Dolan, o raciocínio é

simples: se um paciente toma o remédio

errado, ele fi ca mais doente e permanece

mais tempo no hospital. Por causa desse

engano, gera custos ao sistema. Já uma

gestão efi ciente melhora a qualidade dos

gastos. “Esse princípio refere-se a empre-

sas de quaisquer segmentos”, diz o médi-

co, que esteve presente no 36º Congresso

Mundial de Hospitais (IHF-Rio 2009),

promovido em meados de novembro, no

Rio de Janeiro, pela Federação Interna-

cional de Hospitais em parceria com a

Confederação Nacional de Saúde.

FINANÇAS GOVERNANÇA

JOÃO ALCEU

AMOROSO LIMA,

DO QUALICORP:

PLANOS MAIS

COMPETITIVOS

Page 69: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 71

Para os norte-americanos, esse

assunto tornou-se uma preocupação

constante, principalmente após o agra-

vamento da crise fi nanceira, em 2008.

Os EUA gastam US$ 2 trilhões em saúde

por ano. Recente pesquisa aponta que

15% desse montante destina-se a pro-

ver assistência a pessoas que não pre-

cisam de cuidados médicos. “Por isso, o

Brasil faz bem mirando a esse exemplo,

pois pode aprender e não cometer os

mesmos erros que nós”, diz Dolan.

SÓ CRESCIMENTOO Brasil, como líder de governança cor-

porativa na América Latina, também

já vê os resultados dessa tendência no

setor da saúde. Em 2004, a Dasa (Diag-

nósticos da América) foi a primeira

prestadora de serviços brasileira a abrir

seu capital nos moldes do Novo Merca-

do. Segundo o vice-presidente médico,

Luiz Gastão Rosenfeld, desde que criou

uma Sociedade Anônima, em 1999, até

abrir o capital e pulverizá-lo, a empresa

apresenta crescimento médio acumu-

lado de 30%. “Hoje, nosso Conselho de

Administração detém apenas 0,46%

das ações do grupo.”

O segredo dessa boa gestão, afi rma

Rosenfeld, é ter pessoas com conhe-

cimento administrativo trabalhando

com os especialistas da área. Presente

em 12 estados brasileiros e no Distrito

Federal, a Dasa registrou uma receita

bruta, no terceiro trimestre, de R$ 400,3

milhões ante R$ 333,9 milhões no mes-

mo período do ano passado. “Não senti-

mos a crise”, revela Rosenfeld.

De acordo com o Instituto Brasilei-

ro de Governança Corporativa (IBGC),

é crescente a preocupação por parte

de hospitais, clínicas e cooperativas

de saúde em melhorar as práticas de

governança corporativa. “O número de

alunos que atendemos provenientes do

setor da saúde tem aumentado muito

nos últimos anos, e eles se tornam mul-

tiplicadores”, explica Heloísa Dedicks,

diretora executiva do IBGC.

Quatro empresas brasileiras estão

seguindo os passos da Dasa: Medial,

Odontoprev, Fleury e Qualicorp. Há 12

anos no mercado, o grupo Qualicorp

prepara-se para abrir capital com base

nos princípios do Novo Mercado. No

ano passado, a empresa recebeu aporte

fi nanceiro não revelado do private equi-

ty norte-americano General Atlantic.

Em meados de 2009, o grupo adquiriu

a corretora de seguros empresariais

Brüder e o Athon Group, especializado

em gestão de saúde.

Todas essas ações, segundo a em-

presa, possibilitaram maior poder de

negociação, além da oferta de planos

a preços mais competitivos. “Também

pudemos monitorar pacientes crônicos

de modo mais efi caz”, afi rma João Alceu

Amoroso Lima, presidente do grupo

Qualicorp. Sem revelar o faturamento,

Lima afi rma que a empresa vem cres-

cendo entre 25% e 28% ao ano.

O executivo acha, entretanto, que o

sistema de saúde brasileiro ainda pensa

em governança corporativa como algo

atrelado às grandes empresas. “Isso é

um erro, porque somente com gestão

competente e demonstrações de resul-

tados é que as empresas podem ganhar

poder de barganha e não depender tan-

to dos recursos do governo”, conclui.

GOVERNANÇA PÚBLICAO estado e o município de São Paulo

também estão buscando melhorar a

gestão de seus hospitais por meio de

contratos com organizações sociais. É

uma iniciativa pioneira. São entida-

des sem fins lucrativos, que passam

a administrar essas instituições com

foco em metas e resultados. Na capital,

quatro hospitais já estão funcionando

sob esse conceito, entre eles o de MBoi

Mirim e o de Cidade Tiradentes.

O modelo é similar ao praticado na

região da Catalunha, na Espanha, e que

já cobre hoje 40% dos hospitais públicos

e privados. “A gestão profi ssionalizada

é sempre relevante, principalmente em

uma instituição pública, porque muitas

vezes o diretor administra pensando no

foco político, e isso não ocorre quando

os pilares da governança corporativa

são instaurados em uma corporação.

Com esses princípios, todos ganham”,

diz Boi Ruiz Garcia, presidente da União

Catalã de Hospitais, que foi um dos pa-

lestrantes do IHF-Rio 2009, que reuniu

150 palestrantes de 70 países e teve um

saldo de 2 mil participantes.

300bilhões de dólares é quanto os EUA

podem economizar em saúde

THOMAS DOLAN: GESTÃO EFICAZ

MELHORA QUALIDADE DOS GASTOS

Page 70: Nº 382 Edição Brasil

complexo wtc hotel sheraton - piso c - av. nações unidas nº 12.559 - são paulo - sp - brasil - 55 [11] 3043 8001 www.clubasaopaulo.com.br

alguns chamam de evento, mas aqui é um show a parte

de segunda a quarta a melhor casa noturna de

são paulo abre suas portas para realizar seu

evento social ou corporativo.

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Page 71: Nº 382 Edição Brasil

74 AméricaEconomia Dezembro, 2009

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BOM EBARATO

As montadoras vivem uma corrida tecnológica para chegar ao automóvel de baixo custo, embora às vezes isso signifi que voltar a antigas práticas

JUAN PABLO DALMASSO, DE BUENOS AIRES

O ARGENTINO APA: CROSSOVER POR MENOS DE US$ 10 MIL

Para o argentino Miguel Angel Bravo, inovação, design e

carros sempre andam juntos. Ainda mais agora, que ele em-

barcou em um desafi o no qual não quer dar marcha-a-ré.

Tudo começou em 2006, quando o empresário apresentou

o NachOne, um carro-conceito que serve tanto para lazer

quanto para competições. Em 2008, criou a empresa ArqBra-

vo Motor Company, com o apoio de 130 microinvestidores.

Em ritmo acelerado, em meados deste ano Bravo fez outra

aposta: o Auto Popular Argentino, APA. Um crossover que

pode chegar ao mercado a um preço inferior aos US$ 10 mil.

Page 72: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 75

NANO, DA TATA:

EMPRESA QUER MERCADO

LATINO-AMERICANO

E se o projeto for um su-

cesso? “A ideia é expandir

por meio de franquias

para as quais forne-

ceremos modelo e

ferramental. Já te-

mos negociações

para o desenvol-

vimento des-

se sistema na

Guatemala, no

México e no

Uruguai”, afir-

ma o empresário.

Os analistas, porém,

são céticos quanto a esse tipo de proje-

to. “No Brasil também há estudos semelhan-

tes, mas que dificilmente evoluirão. O varejo

depende de preço somado à escala, e vender é difícil”, diz

Cardamone, da CSM Auto.

INVASÃO ASIÁTICA Exceto pela Honda, aumenta o número de marcas dispos-

tas a brigar por esse mercado, entre elas Hyundai, Toyota e

Volkswagen. A Tata Motors já declarou seu interesse pela

América Latina, e Carlos Ghosn, diretor da Renault, anunciou

que fará uma forte aposta nos automóveis de baixo custo,

para alcançar 20% do mercado brasileiro.

A Nissan-Renault trabalha junto à fabricante de motos

India Bajaj no desenvolvimento de um concorrente direto do

Nano, cuja produção começará na Ásia em 2012 e logo depois

será incorporada à fábrica brasileira para atender o mercado

latino-americano. “Fabricar automó-

veis de baixo custo é algo que chineses

e indianos sabem fazer melhor do que

ninguém,” disse Ghosn, da Renault.

Alguns especialistas, como o inglês

Ian Riches, diretor de Global Automo-

tive Practice da consultora StrategyA-

nalytics, acham que, embora o Brasil

seja um grande player no segmento de

veículos acima de US$ 5 mil, difi cilmen-

te conseguirá competir abaixo dessa

linha. “Levando em conta que a renda

per capita do brasileiro é o dobro da dos

asiáticos, o custo inicial já é signifi cativamente maior”, diz.

Assim, mais do que um carro mais barato, tudo indica

que a preocupação dos brasileiros é saber a condição das es-

tradas e se terão lugar para estacionar.

500mil carros ao ano

é a demanda mundial estimada

pela CSM Auto

O primeiro protótipo deve

ficar pronto no primeiro

semestre de 2010, e a pri-

meira série de produção, em

dois anos mais.

Como Bravo cumprirá essa meta? “Seguindo um

caminho diferente do da indústria automotiva em geral”,

diz. “Enquanto esta caminhou para a terceirização, nós te-

mos uma integração vertical que vai desde o ferramental até

o computador de bordo, exceto pela motorização e transmis-

são, que são fornecidas pela Fiat Powertrain Technologies.”

Qualquer semelhança com Henry Ford é mera coinci-

dência. O projeto de Bravo é a convergência da corrida pelo

automóvel de baixo custo iniciada pela Renault com o Logan,

com preço abaixo dos US$ 8 mil, e que a Ratam Tata potencia-

lizou com o Tata Nano, de US$ 2,5 mil. “Com a atual estrutura

de produtos, apenas 15% dos latino-americanos têm acesso a

um automóvel”, afi rma Guido Vildozo, analista da consulto-

ria Global Insight, em Boston.

Paulo Cardamone, vice-presidente para a América Latina

da consultora CSM Auto, de Campinas, calcula que as novas

categorias têm um mercado potencial de 500 mil automóveis

ao ano. Para a consultoria AT Kearney, essa demanda supe-

raria 1 milhão de unidades em 2020, dentro de um mercado

mundial de 17 milhões de carros. “As

premissas da Ford para chegar ao Ford T,

mais engenharia e menos custo, estão

na ordem do dia”, diz Dan Oxyer, analis-

ta da AT Kearney em Michigan.

O APA voltará ao esquema chassi-

carroceria abandonado pela indústria

há 30 anos, quando foi desenvolvida a

carroceria autoportante. O plano dos ar-

gentinos é desenvolver gadgets e recur-

sos de forma modular, para que o clien-

te possa comprá-los no supermercado, e

inclui a comercialização pela internet.

O serviço pós-venda será feito por franquias semirreboques

que atenderão o cliente em domicílio. “Temos de levar em

conta que nosso plano de negócios envolve, no máximo, 30

mil vendas por ano”, diz Bravo.

Page 73: Nº 382 Edição Brasil

76 AméricaEconomia Dezembro, 2009

INTERFACES

ADOLFO WATERHOUSE

Um economista europeu do século 19, tão querido como odiado,

disse certa vez que a humanidade só conseguia reagir aos problemas

graves que surgiam em seu caminho quando os elementos práticos e

reais para solucioná-los já existiam ou estavam prestes a surgir.

Essa é uma teoria impactante, mas falsa. A história humana está

repleta de rompimentos provocados por problemas perfeitamente

identifi cáveis, mas insolúveis pela sociedade afetada.

Entre os que nos ameaçam no futuro próximo está o do abaste-

cimento energético: necessitamos cada vez mais de uma fonte de

energia barata, abundante, que não polua e seja fácil de administrar.

Nos últimos meses, alguns projetos interessantes saíram à luz. Um

deles é o de Gerald Watt, professor de química da Brigham Young

University (BYU). Ele e seu grupo de pesquisadores apresentaram

uma resposta, sem dúvida extraordinária, para a substituição dos

catalisadores de platina (insumo tão caro como escasso) nas pilhas a

combustível, que produzem eletricidade a partir de oxigênio e hidro-

gênio em seu interior, não poluindo o ambiente. Decidiram usar um

herbicida em vez de metal. E funcionou!

No modelo de Watt – que é tataraneto do inventor do motor a va-

por, James Watt – usa-se um herbicida comercial barato para quebrar

moléculas de açúcar (e outros carboidratos). Com uma taxa de con-

versão de açúcar em energia de 29%, o avanço do modelo é promissor.

“Demonstramos que se pode aproveitar muito da glicose”, comenta

Dean Wheeler, membro da equipe de Watt. “Agora buscamos obter

maior densidade energética para que essa tecnologia seja comer-

cialmente interessante.” É certo que os herbicidas são fabricados a

partir do petróleo, mas sua proporção ínfi ma no processo o tornaria

rentável do mesmo jeito, inclusive a partir do petróleo cru.

Outro avanço promissor nesse mesmo caminho foi dado em uma

demonstração prática realizada na vinícola Napa Wine Company, em

Oakville, Califórnia. Lá, ao invés de platina ou herbicida, a catálise

é realizada por uma bactéria. Trata-se de um par de eletrodos (um

anodo de carvão e um catodo de aço inoxidável). Quando a água da

lavagem da uva, dos excedentes da fabricação do vinho e da limpeza

do lugar entra na pilha a combustível, a bactéria converte os resíduos

em uma pequena corrente elétrica, e esta, através da eletrólise no

catodo de aço, separa o hidrogênio do restante dos elementos. Não

é um avanço fundamental, mas a pilha demonstra o poder de gerar

energia em fábricas que produzem muito resíduo e cuja construção

já estaria amortizada.

Assim, na corrida para encontrar uma resposta energética apli-

cável universalmente, a velocidade ganha importância. Um novo

sistema rentável e prático talvez demore para fi car pronto, caso nossa

civilização esgote os recursos tradicionais antes do tempo. Ou se a

inovação correta não for privilegiada.

CONECTE-O AOAÇUCAREIRO

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raçã

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Page 74: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 77

CLICS & CHIPS

FINA NAVEGAÇÃOO VAIO X, primeiro laptop com TV digital lançado no Brasil, começa a ser

vendido neste fi m de ano por R$ 6.999. Segundo a Sony, o aparelho é o mais

fi no do mundo, com 1,39 centímetro de espessura e peso de 760 gramas. A

bateria tem duração de até 6 horas. Sai de fábrica com processador Intel de

1,86 GHz e sistema operacional Windows 7 Home Premium. A tela, de 11,1

polegadas, tem formato Real Widescreen, que permite assistir a fi lmes

sem as tradicionais faixas pretas acima e abaixo da imagem.

www.sonystyle.com.br

RUMO CERTOA Motorola lançou no mercado brasileiro seu primeiro celular com o navegador

do Google Android 2.0, o Milestone, que será vendido pela operadora TIM.

O monitor de alta resolução (400 mil pixels) facilita a visualização de mapas graças

à maior nitidez da imagem. O sistema CrystalTalk Plus proporciona a eliminação de

ruídos de fundo e de interferências no áudio da conversa. Preço sugerido: R$ 1.999.

www.motorola.com.br

PLANO BA YikeBike é ideal para escapar do trânsito e da falta de

estacionamento nas grandes cidades brasileiras. Feito o

trajeto, é possível dobrar a bicicleta, levá-la debaixo do

braço e deixá-la descansando no escritório.

A bicicleta é elétrica e tem autonomia

de 10 quilômetros. Desenhada

e montada na Nova Zelândia,

custa US$ 5,2 mil.

www.yikebike.com

Page 75: Nº 382 Edição Brasil

78 AméricaEconomia Dezembro, 2009

VISÕES

BATALHA INÚTIL

No livro, você afi rma que nem o consumo nem a vio-lência haviam aumenta-do tanto no México para justifi car o início da atual guerra contra as drogas. Qual é, então, a razão para essa guerra? Em novembro de 2006, Cal-

derón pensou que chegava

à Presidência tão limitado

pelo fraco resultado eleitoral,

pelas acusações de fraude –

todas elas, em nossa opinião,

falsas –, que precisava dar

um golpe certeiro. E o que lhe

ocorreu foi colocar o Exército

na luta contra o narcotráfi co

para mostrar que tinha con-

trole das Forças Armadas.

Seria relativamente simples

colocar o Exército, limpar um

pouco a área e depois sair.

Não foi o que aconteceu.

Quais são as perspectivas de resolução com a proxi-midade dos três anos de mandato? O que o presidente Calderón

pode fazer é ir baixando o perfi l da guerra contra o narcotráfi co

dentro do conjunto das atividades governamentais. Insistir

mais na economia. Insistir mais no emprego. Insistir mais na

luta contra os monopólios e pela concorrência. Insistir mais nas

reformas institucionais de que o México necessita desespera-

damente. Então, quase por omissão, a importância da guerra

vai diminuindo, pois não há como ganhá-la dessa forma.

Isso não poderia afetar o Exército mexicano como instituição? Não é uma ideia excelente,

mas é melhor do que conti-

nuar expondo-o a todo tipo

de desgaste, como proble-

mas de imagem. Porque as

pessoas apoiam a guerra

enquanto ela é algo abstra-

to. Isto é, os habitantes do

Distrito Federal apoiam a

guerra em Ciudad Juárez,

mas os moradores de Ciudad

Juárez não apoiam a guerra

em Ciudad Juárez.

Um saldo positivo de to-da essa guerra falida con-tra as drogas poderia ser a criação de uma polícia nacional unifi cada de me-lhor qualidade? Isso é o que várias pessoas

como eu propõem há anos.

O problema que temos aqui

é duplo: precisamos de pes-

soas treinadas, formadas,

mas também é necessário

criar condições legais e po-

líticas com os municípios e os estados. Não adianta ter 100

mil agentes da Polícia Federal ao invés de 25 mil se há 400

mil guardas municipais e estaduais corruptos. É preciso

avançar pouco a pouco, ter um processo substitutivo. Isso

não vai acontecer enquanto não houver efetivo sufi ciente, e

não haverá efetivo sufi ciente enquanto não houver condições

políticas para tanto.

Desde que Felipe Calderón assumiu a Presidência do México, em 2006, a guerra con-

tra o narcotráfi co deixou 15 mil mortos no país. Para o ex-chanceler mexicano Jorge G.

Castañeda, a estratégia do governo tem sido inútil. Em seu recém-lançado livro El Narco:

La Guerra Fallida (O Narcotráfi co, a Guerra Falida), em coautoria com Rubén Aguilar V.,

Castañeda defende que a elite política mexicana só conseguirá um avanço duradouro

contra todos os crimes se criar uma polícia nacional unifi cada. Castañeda falou sobre

esse tema em entrevista à AméricaEconomia.

EL NARCO: LA GUERRA FALLIDA

Rubén Aguilar V. e Jorge G. Castañeda

Ano: 2009 Punto de Lectura 143 páginas

Page 76: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 79

RAIO X

NA LÍNGUA DOCRESCIMENTOMéxico busca no bom desempenho brasileiro as respostas para sair da crise

EDUARDO THOMSON, DA CIDADE DO MÉXICO

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raçã

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Nunca se falou tanto do Brasil no México. E não é só

porque o país será sede da Copa do Mundo e das Olimpíadas.

A comparação entre os dois países tem sido recorrente na

conversa dos mexicanos, já que este ano o destino das duas

maiores economias da América Latina tomou caminhos

opostos. O México, que fi cou com o pior lado, atravessa uma

das crises econômicas mais graves dos últimos tempos, com

projeções de contração econômica de 7% para 2009, e busca no

bom desempenho brasileiro respostas para se recuperar.

Em recente evento na capital mexicana, analistas levan-

taram alguns pontos que diferenciam o México do Brasil

e também do Chile. Segundo Justine Thody, diretora para

América Latina do The Economist Intelligence Unit (EIU),

uma diferença primordial, e que deixa o México em pior

posição, é a escassez de crédito, já que o desenvolvimento das

empresas pequenas e o estímulo ao consumo demandam

fi nanciamento. O país registra uma baixíssima arrecadação

fi scal – de apenas 10% do PIB, contra cerca de 35% no Brasil e

20% no Chile.

“Dessa forma, o principal motor para o crescimento do

México continuará apagado em 2010”, disse Justine. O gover-

no fez alguns esforços para diversifi car as exportações, como

melhorar o valor agregado e diversifi car os destinos, mas isso

ainda não foi sufi ciente, segundo a economista.

A dúvida que resta é se o governo de Felipe Calderón

poderá concretizar as reformas estruturais necessárias pa-

ra impulsionar o crescimento econômico ou se se transfor-

mará em mais um lame duck – expressão usada para indicar

um governo que perde força no fi nal de seu mandato. Enri-

que Peña Nieto, governador do estado do México e um dos

nomes mais cotados como candidato às próximas eleições

presidenciais pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI),

da oposição, tem declarado que seu partido não assumirá a

corresponsabilidade da atual situação. E afi rmações como

essa darão a Calderón a possibilidade de culpar a oposição

pela falta de avanço em temas importantes.

Mas nem tudo são más notícias. No fi nal de outubro, o

Senado mexicano aprovou uma versão diluída da reforma

fi scal, incluindo um aumento do imposto de valor agregado

(IVA) de 15% para 16%, e de 28% para 30% no caso do imposto

de renda, a partir de 2010. Tais iniciativas têm como objetivo

fortalecer as fi nanças e reduzir a alta dependência que o país

tem da receita do petróleo – pontos que as agências de clas-

sifi cação têm indicado como fatores de risco que poderiam

implicar uma revisão, para baixo, do rating do país.

Além disso, ainda que timidamente, no terceiro trimestre

o país registrou um crescimento próximo dos 3% em relação

aos meses anteriores. O Banco do México tem mantido a taxa

básica de juros (4,5%), e já se fala em um possível aumento

em 2010 devido a pressões infl acionárias produzidas pelo

orçamento fi scal.

Resta saber se a incipiente recuperação econômica se

transformará em pretexto para Calderón evitar novos esfor-

ços e aprovar outras reformas. De qualquer maneira, os atle-

tas mexicanos já começaram a estudar português.

QUADRO MACROECONÔMICO DO MÉXICO

População (milhões)

PIB (var.%)

PIB per capita (US$)

PIB por PPC (US$)

Inflação (%)

Desemprego (%)

Remessas (milhões US$)

Saldo Comercial (milhões US$)Fontes FMI, Banco do México, Cepal, Projeções AE Intelligence

102,05

4,20

6.698

10.111

4,70

3,92

16.730

-8.811

2004

103,09

3,00

7.447

10.626

4,00

3,60

20.284

-7.587

2005

104,14

4,80

8.066

11.369

3,60

3,61

23.742

-6.133

2006

105,20

3,80

9.693

14.159

4,00

3,20

23.970

-11.189

2007

108,50

1,35

10.200

14.534

5,10

3,70

25.145

-31.183

2008

109,60

-7,34

8.040

13.542

5,40

4,00

11.078

-

2009(e)

110,68

3,26

8.753

14.056

3,50

-

-

-

2010(e)

* primeiro semestre de 2009 / (e) = Estimativa

*

Page 77: Nº 382 Edição Brasil

80 AméricaEconomia Dezembro, 2009

CAPITAL ABERTO

O CUSTO DE REGULARA América Latina deve pensar duas vezes antes de seguir as novas regulamentações para o mercado fi nanceiro debatidas nos Estados Unidos

GONZALO ISLAS E MAURICIO VILLENA, UNIVERSIDADE ADOLFO IBÁÑEZ, CHILE

A análise histórica das crises econômicas nos mostra

uma série de padrões que se repetem. Um deles é que, depois

de uma crise, surgem novas iniciativas de regular o mercado

fi nanceiro. No caso dos EUA, por exemplo, a criação do banco

central (FED – Federal Reserve) foi uma consequência direta

do pânico bancário de 1907. Já a Securities and Exchange

Commission (SEC, a CVM norte-americana) e grande parte da

estrutura regulatória atual foram estabelecidas em resposta

à crise de 1929.

Mas a história também nos mostra o impacto negativo

dessas regulamentações. O exemplo mais claro é o caso da

América Latina depois da Grande Depressão. Por isso, o pro-

jeto de reforma de arquitetura fi nanceira que hoje é debatido

nos EUA deve ser analisado com cautela. Entre as propostas

incluídas no projeto, destaca-se a criação de uma autoridade

para cuidar da crise de solvência das instituições fi nancei-

ras de grande porte. Além disso, seriam criadas uma nova

agência reguladora orientada à proteção dos consumidores e

novas regulamentações para as transações de instrumentos

derivativos e para as instituições classifi cadoras de risco.

Qual pode ser o impacto dessas mudanças na América

Fonte “Financial Regulatory Reform: A New Foundation”, Department of the Treasury, 2009

NOVO PÂNICO, NOVAS REGRASAs respostas regulatórias depois de cada crise financeira

1857Pânico bancário no Reino Unido

Reforma do Bank of England;

eliminação de subsídios

1907Pânico bancário nos EUA

1913Criação do Federal Reserve (FED)

1980Crise financeiranos EUA

1989Resolution Trust Corporation

Glass-Stengall Act e Seguro Federal de Depósitos

Securities and Exchange Comission

1929Quebra da Bolsa de Nova York e Grande Depressão

1933

1934

Latina? A experiência da Lei Sarbanes-Oxley (lei de responsa-

bilidade fi scal instaurada depois do escândalo corporativo da

Enron) nos mostra que novas regras podem gerar custos de im-

plementação maiores do que o estimado, tais como os custos

monetários associados à atualização de sistemas de informa-

ção, desenvolvimento de controles internos das companhias e

auditorias externas. Isso poderia limitar o acesso de empresas

latino-americanas ao mercado dos Estados Unidos e provocar

a migração de negócios a outros centros fi nanceiros.

Assim, uma recomendação às autoridades é que se adote

uma visão crítica sobre as lições da crise para a América Lati-

na e como estas se diferenciam das que são válidas para o ca-

so dos EUA e da Europa. De fato, é irreal pensar que podemos

prevenir as crises com o simples apelo às mudanças regula-

tórias. Por exemplo, a proposta norte-americana não dá uma

resposta clara ao problema gerado pela existência de várias

agências reguladoras com sobreposição de atribuições.

Talvez, ao invés de apelar somente à ampliação de marcos

regulatórios e à intervenção estatal na indústria fi nanceira,

este seja o momento de defender a melhoria dos padrões éti-

cos e o cumprimento do marco regulatório que já existe.

Page 78: Nº 382 Edição Brasil

Dezembro, 2009 AméricaEconomia 81

OPINIÃO

Em janeiro, Barack Obama cumprirá

o primeiro ano como presidente dos Es-

tados Unidos. É, portanto, um momento

apropriado para revisar sua política para

a América Latina. Quais foram as metas

do governo de Obama para a região?

Foram bem-sucedidas? Estas duas dúvi-

das podem ser respondidas revisando a

postura geral de Obama frente à política

exterior dos Estados Unidos.

A política exterior de Obama pode

ser resumida como um esforço para

reverter ou desfazer o que, segundo

ele, foram as falidas políticas do gover-

no de Bush. Como candidato, Obama

criticou ferrenhamente a guerra no

Iraque, fundamentando que os EUA es-

tavam combatendo na guerra equivo-

cada (a do Afeganistão era a “correta”)

e prometeu trazer as tropas de volta.

Também optou pelo uso de políticas

“brandas” e por criar algumas pontes

de comunicação com ditadores e go-

vernos não democráticos, como Coreia

do Norte, Irã, Venezuela e Cuba. Obama

ainda qualifi cou como pouco efetivo o

unilateralismo de Bush, favorecendo

soluções multilaterais aos problemas

de política exterior.

O presidente dos EUA decidiu dar

um passo atrás na política de “mu-

dança de regime”, em particular, nos

planos de seu antecessor de impor a

democracia em regimes autoritários.

E, depois da crise econômica, passou

a questionar a sabedoria de promover

economias de mercado e novos acordos

de livre comércio. Após um ano como

presidente, Obama começou a reavaliar

algumas de suas ideias de política ex-

terior, modifi cando-as a ponto de lem-

brarem políticas passadas, incluindo o

governo de seu antecessor.

Obama ainda mantém seu obje-

tivo de retirar-se do Iraque, mas em

um processo mais gradual. De ser a

guerra “correta”, o Afeganistão pas-

sou a ser uma guerra problemática,

e o presidente não pode decidir (pelo

menos enquanto escrevo esta coluna)

se envia ou não mais tropas. Sua pos-

tura com ditadores no Irã e na Coreia

do Norte não deu resultados positivos.

Hugo Chávez ainda critica o império

dos Estados Unidos e continua se in-

trometendo nos assuntos de seus vizi-

nhos, por exemplo, ao colocar um avião

à disposição do presidente deposto de

Honduras. E os esforços para fl exibilizar

a política frente a Cuba foram recebidos

novamente por este com críticas frente

ao embargo dos Estados Unidos.

Os esforços multilaterais tampouco

tiveram sucesso. O governo de Obama

inicialmente somou-se a seus vizinhos

latino-americanos ao criticar o golpe de

Estado contra Ze-

laya em Honduras,

cortar a ajuda ao

governo de fato de

Micheletti e insis-

tir no rápido retor-

no de Zelaya ao po-

der. O ponto morto

que se seguiu só

foi interrompido quando o governo de

Obama decidiu, unilateralmente, ne-

gociar um acordo que permitiu às insti-

tuições políticas hondurenhas decidir o

futuro de Zelaya, restabelecer os canais

de ajuda e reconhecer os resultados das

próximas eleições, sem se importar se

para isso Zelaya tinha sido restituído

ou não. Se não houve progressos nos

tratados de livre comércio com Pana-

má e Colômbia, houve uma troca no

sistema democrático, ao responder às

críticas cubanas de que agora liberar

o sistema político só depende deles. Os

Estados Unidos estão falando em ter-

mos mais duros com Chávez, e seguem

trabalhando com México e Colômbia

em temas de segurança.

Se tudo isso refl ete uma política

exterior concreta para a América La-

tina, é um tema de debate. Também é

questionável se o governo de Obama

pode ou deveria ter uma política exte-

rior para a América Latina. Mas talvez

seja o momento, como recentemente

propôs Hillary Clinton, de apertar o

botão “reiniciar”.

Os Estados Unidos acabam de con-

fi rmar Arturo Valenzuela, um chileno-

norte-americano com vasta experiência

na região, como seu novo subsecretário

para assuntos com o Hemisfério Oci-

dental. Uruguai,

Chile e, potencial-

mente, Colômbia

terão novos presi-

dentes em breve,

e outras eleições

v irão em 2010.

Esperemos que es-

sas trocas tragam

novas ideias e iniciativas. E, quem sa-

be desta vez, os governos amigos na

América Latina sejam mais ativos no

momento de propor e estruturar polí-

ticas hemisféricas que incluam maior

cooperação com os Estados Unidos do

que no passado.

PERDIDOANO

A política exterior de Obama se

assemelha cada vez mais à de Bush

SUSAN KAUFMAN PURCELL é diretora do Centro de Política Hemisférica da Universidade de Miami

Page 79: Nº 382 Edição Brasil

82 AméricaEconomia Dezembro, 2009

LINHA DIRETA

Estávamos reunidos em um dos salões do Sofi tel de Bue-

nos Aires, atentos às explicações de Alberto Franicevich sobre

o perfi l da “geração Y”. “Eles nasceram entre 1980 e 2000, e seu

comportamento é muito diferente do das gerações anteriores”,

diz o professor do IAE Business School da Universidade Aus-

tral. Daniel Sierra, diretor do caderno de empregos do jornal La

Nación, confi rma. “Se eles têm um trabalho, mas desejam pas-

sar três meses no Brasil, simplesmente renunciam e se vão.”

Mas como o sistema pode permitir semelhante heresia

sem enviá-los à fogueira da condenação moral ou do desem-

prego permanente?

O que se passa é que “eles preferem os desafi os à estabili-

dade, o projeto em si à empresa onde o realizam e, para eles, a

qualidade de vida é mais importante que o dinheiro”. Frente

a tal argumento, como não ser compreensivo? Além de tudo,

depois das férias, em vez de migrar para a concorrência, eles

se entregam aos braços de alguma organização não governa-

mental que busca melhorar ou salvar o mundo. Deus! Não se

tratará de uma nova safra de garotos que se indignam porque

há gente passando fome no mundo? “Não, eles não são anár-

quicos”, me tranquiliza Serra. “Aceitam a autoridade que vem

do conhecimento e da destreza, e não da hierarquia.”

A companhia Tenaris, titã mundial do aço, está especial-

mente atenta aos “Y”. Horacio Gergero, porta-voz do sistema

de capacitação da empresa, diz que os membros dessa geração

“amam aprender e aprendem ativamente, mas não conse-

guem ultrapassar 20 minutos de atenção quando se trata de

uma aula no modelo tradicional”.

Ao que parece, chateiam-se facilmente. Mas isso, segundo

Gergero, é compensado pelo prazer que

sentem em percorrer e conhecer todos os

setores da companhia. Claro que estão

felizes com o e-learning e, para que pudes-

sem expressar seu potencial ao máximo,

a companhia decidiu abrir a possibilidade

“de que eles desenhassem sua própria

carreira e não uma que fosse imposta por

seus chefes”.

Sierra reconhece que eles podem tirar

mais de um gerente do sério por seu costu-

me de jogar nas horas de trabalho e deitar-

se nos sofás para falar da próxima viagem

às vinícolas da Nova Zelândia, mas são

perdoados porque “são muito inovado-

res, tech-savy, inclusivos, multitasking”.

E provavelmente – ainda que nenhum

empresário jamais reconheça – porque

não estão preocupados com seus direitos

trabalhistas.

A verdade é que a geração “Y” talvez

não esteja forçando uma adaptação das

empresas, mas seja exatamente o perfi l de pessoa que estas

requerem hoje. Se damos razão a Richard Sennett, entretan-

to, não se trata de um bom tipo de pessoas: “a mobilidade

mental as impede de se envolverem a fundo; a capacidade se

concentra na técnica operacional, um exercício de resolução

de problemas mais do que a descoberta de problemas”, o que

signifi ca que “uma pessoa acaba se desentendendo com a

realidade que esteja além de seu controle pessoal”.

Vistos dessa forma, os “Y” seriam incapazes de abraçar um

compromisso profi ssional, já que “o compromisso implica iso-

lamento, abstenção de possibilidades devido à concentração

em uma coisa só”. Somente se é livre, diz, cortando-se laços,

“em particular os que se formaram com o tempo”. É como

acontece com os adolescentes: cheios de vida borbulhante e

compromissos apenas exploratórios.

A apresentação está acabando. Começa a sessão de per-

guntas. O primeiro que levanta a mão dispara: “Será que eles

não são assim porque não têm fi lhos? Aposto que, quando os

tiverem, começarão a se preocupar com o dinheiro, o plano de

carreira e um bom sistema previdenciário”.

ESSA ESTRANHA

GERAÇÃO“Y”

RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES

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Page 80: Nº 382 Edição Brasil

Nossa mais importante entrega? Um futuro melhor.Na atual economia global, idéias e produtos são compartilhados e as oportunidades surgem mais rápido que nunca. A FedEx ajuda a garantir

que a geração seguinte esteja pronta para um começo promissor ao conectar pessoas, bens e informação ao redor do mundo,

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009

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