Nº 387 Edição Brasil
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ESPECIAL: AS MELHORES CIDADES PARA FAZER NEGÓCIOS
BRASIL brasil.americaeconomia.com
Nº 387 MAIO/2010 R$ 8,90
VIVA O POPULARMERCADO DE CARROS COMPACTOS IMPULSIONA NOVO
CICLO DE INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS NO BRASIL
SOFT POWERINFLUÊNCIA DO BRASIL NO EXTERIOR MEXICANO NA NETA ESTRATÉGIA DE SLIM NA TV PAGA BM&FBOVESPAUMA PLATAFORMA REGIONAL
NegóciosSony Ericsson
Novos celulares para sair da má fase
Locaweb nas nuvens
Negócios na América Latina
TV a cabo
O que o mexicano Slim quer na NET?
Capa – Setor Automotivo
Projetos bilionários de investimento
A virada do Sul
Como as têxteis voltaram ao lucro
Entrevista
Fabio Hering – presidente da Cia. Hering
Rumo ao Oriente
A experiência brasileira na Índia
Pão de Açúcar x Casas Bahia
Revisão de acordo gera incertezas
1820242834363842
SeçõesPortal
Carta ao Leitor
Cartas
Índice de Empresas
Pistas
Negócio Fechado
Movimentos
Opinião – John C. Edmunds
I-biz
Clics & Chips
Linha Direta
1011121213144476788082
DebatesLogística reversa
Aumento do consumo requer legislação
Soft power
A infl uência internacional do Brasil
Arbitragem internacional
Empresários defendem-se da América Latina
Nova presidente
Os desafi os de Laura Chinchilla, da Costa Rica
Democracia vertical
As lições que a China tem para dar
5660646668
FinançasPlataforma de negócios
BM&FBovespa quer projeção internacional72
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NESTA EDIÇÃO
ESPECIAL Ranking das melhores cidades para fazer negócios na AL50
Ilustração de capa: Julio Ramos
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O CALIBRE 1904 MC É O RESULTADO DE UM SÉCULO DE PAIXÃO E BUSCA DA EXCELÊNCIA
TÉCNICA PELA CARTIER. INTEGRANDO UM MECANISMO AUTOMÁTICO CRIADO,
DESENVOLVIDO E FABRICADO PELA MAISON, O RELÓGIO CALIBRE DE CARTIER ELEVA A
TRADIÇÃO RELOJOEIRA A UM PATAMAR MAIS EXIGENTE DE SOFISTICAÇÃO E PERFEIÇÃO.
1904 MC MOVIMENTO MANUFACTURE
BOUTIQUE CARTIER
RUA HADDOCK LOBO, 1567 - SÃO PAULO - TEL. (11) 3081 0051
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BERGERSON 0800 643 8999 (PR, SC) • CRISTOVAM JOALHEIROS (17) 3234 2402 (SP) • DRYZUN 0300 115 0100 (SP)
FRATTINA JOALHEIROS (11) 3062 3244 (SP) • GRIFITH (61) 3361 5848 (DF) • MERITUM (19) 3251 7761 (SP) • NATAN (81) 3467 5097 (PE)
SARA JÓIAS (21) 3202 4500 (RJ, RS) • TALENTO JÓIAS (31) 3071 4600 (MG) • TÂNIA JÓIAS (85) 3244 0065 (CE)
10 AméricaEconomia Maio, 2010
LEIA NO PORTALEDIÇÃO: AINÁ VIETRO ([email protected])
brasil.americaeconomia.com
PORTAL
Siga o site da AméricaEconomia no Twitter: twitter.com/AEBrasil
MERCOSUL TERÁ LIVRE COMÉRCIO COM O EGITONos próximos meses, o Brasil e demais integrantes do Mercosul – Argentina, Paraguai e Uruguai – devem iniciar um acordo de livre comércio com o Egito. Acompanhado de empresários que visitaram o país em meados de abril, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, disse que a intenção é fortalecer o comércio para enfrentar a concorrência da Ásia e da Europa. A assinatura do convênio deve acontecer durante a reunião de cúpula entre os presidentes dos quatro países do Mercosul, em julho.
BB PAGA US$ 480 MILHÕES POR BANCO PATAGONIA O Banco do Brasil está fi ncando suas garras no exterior. Prova disso é que, no dia 21 de abril, anunciou a compra de 366.825.016 ações ou 51% do argentino Banco Patagonia, ao preço de US$ 1,3076 cada uma. O total da transação foi de US$ 480 milhões. Caso o acordo seja aprovado, será feita uma OPA (ofer-ta pública de ações) na Argentina dos papéis remanscentes do Patagonia. Segundo o comunicado enviado ao mercado, o Patagonia tinha US$ 2,57 bilhões em ativos no fi m de 2009. Já o Banco do Brasil fechou o ano passado com US$ 407,11 bilhões.
A América Latina está engordando a um ritmo alarmante, ame-
açando colapsar o sistema público de saúde nas próximas
décadas. Reportagem exclusiva de AméricaEconomia.com
mostra que essa ameaça afeta a maioria dos países, so-
bretudo o México. Para exemplifi car o avanço das conse-
quências da obesidade, em 1993, cerca de 7% da popula-
ção sofria de diabetes; em 2000, eram 10%; em 2009, esse
percentual foi para 15%. O Ministério da Saúde mexicano estima que, em
cinco anos, mais de 30% da população sofrerá de algum tipo de diabe-
tes. A reportagem indica os custos dessa evolução em vários países e as
pressões feitas às empresas do setor alimentício para que se envolvam na
batalha em favor de uma alimentação de melhor qualidade.
CONTINENTE OBESO
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UMA RELAÇÃO DELICADAPeter Hakim (foto), presidente do Diálogo Interamericano e conselheiro editorial de Améri-caEconomia Internacional, ana-lisa em artigo exclusivo como a maior integração entre Brasil e México, responsáveis por quase dois terços da econo-mia da América La-tina, poderia im-pulsionar toda a rede de acor-dos comerciais já existentes na região.
Maio, 2010 AméricaEconomia 11
CARTA AO LEITOR
QUANTO MENOR, MELHOR
O Brasil começou 2010 acelerando forte. Se a afi rmação não é
unanimidade, a indústria automotiva, pelo menos, não tem
do que se queixar. No primeiro trimestre, o país superou a Alema-
nha em número de licenciamentos de veículos leves: foram 750
mil, contra 670 mil no país que é símbolo mundial desse segmento.
Com isso, conquistamos outro posto: o de quarto maior mercado
de automóveis do mundo, atrás apenas de China, Estados Unidos
e Japão. E, segundo analistas do setor, por pouco tempo: estudos
apontam que, se a economia brasileira mantiver o atual ritmo de
crescimento, abocanharemos o terceiro lugar em 2016.
Em nossa reportagem de capa, mostramos o ciclo de investi-
mentos bilionários por parte de fabricantes e fornecedores de au-
topeças, o crescimento espantoso da participação das montadoras
asiáticas no mercado brasileiro e a aposta cada vez maior do setor
em veículos compactos, que já representam quase 80% do market
share nacional.
Seguindo a trilha dos investimentos no Brasil e na América
Latina, trazemos, com exclusividade, um estudo da AméricaEco-
nomia Intelligence que traça um mapa das melhores cidades para
fazer negócios. Para nossa surpresa, a pesquisa revelou que, quan-
do o assunto é o poder de atrair negócios e investimentos, nem
sempre as maiores levam vantagem.
A queda de braço entre a família Klein e o megaempresário
Abilio Diniz; uma entrevista com Fabio Hering, que comanda uma
das empresas têxteis mais tradicionais do país, a Cia. Hering; os
desafi os da nova presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla; e os
riscos e as virtudes da infl uência internacional do Brasil são outros
assuntos desta edição.
Boa leitura.
José Roberto Maluf
ASSINATURAS Central de AtendimentoTel: 55 11 3038-1493, de 2a a 6a feira, das 8h às 20h. Site: www.assineamericaeconomia.com.br. E-mail: [email protected] Cartas: Rua Butantã, 500 – 2o andar – CEP 05424-000 – São Paulo/SP
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PUBLISHERJosé Roberto Maluf
CONTEÚDODiretora de Redação Tatiana EngelbrechtEditora Executiva Solange MonteiroDiretora de Arte/Projeto Gráfi co Janaína DinizRepórteres Graziele Dal-Bó e Roberta PregnacaEditora do Site Ainá VietroRevisão Assertiva Produções EditoriaisProdução Gráfi ca Eduardo KepplerInfografi a Anna Luiza Aragão Colaborador Andre Carvalho (assistente de arte)
COMERCIALIZAÇÃOGerente de Publicidade Sidney EspósitoExecutivos de ContasNagibe José Adaime – [email protected]ério Ferreira – [email protected]
MARKETINGMarcia Leonardi, Elisangela Silva, Rafael Borsanelli
ADMINISTRATIVO/FINANCEIRODiretor Executivo Eduardo ColturatoGerente Financeiro Edison Arduino
PROJETOS ESPECIAISTania Macena
CIRCULAÇÃOGabriela Beraldo
Pré-impressão First PressPeriodicidade Mensal (Maio de 2010)CTP, impressão e acabamento IBEP Gráfi ca
Circulação auditada por
SPRING EDITORA-PRODUTORARua Ferreira de Araújo, 202, 7o andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666Site: www.springcom.com.brE-mail: [email protected]
AMÉRICAECONOMIA INTERNACIONALDiretor Elias Selman CarranzaVice-presidente Executiva Gloria Landabur C.Diretora Internacional de Marketing Mica Selman Diretor Editorial Felipe Aldunate M.Editores Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco e Víctor Herrero (Santiago), Karen Correa (Guaiaquil)Diretor de Arte Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografi a Miguel CandiaDiretor de Circulação Marcial DelcortoGerente de Produção Constanza del Río Moreno
AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE(Estudos e Projetos Especiais)Diretor Jaime Contreras SoriaCoordenadora Geral Daniela GonzálezPesquisador Sênior Andrés AlmeidaAnalista Paulina Saavedra
AMÉRICAECONOMIA.COMDiretor de Estratégia Digital Rodrigo GuaiquilEditor Lino Solis de OvandoWebmaster José Fuentes
ESCRITÓRIOSBuenos Aires +5411 4383-8410 Cidade do México +5255 5254-2400 Costa Rica +506 225-6861Lima +511 610-7272 Miami +305 648-9071 Panamá +507 271-5327Santiago +562 290-9400 Uruguai +5982 901-9052
Chairman Robert R. Paradise
BRASILbrasil.americaeconomia.com
12 AméricaEconomia Maio, 2010
CARTAS ÍNDICE DE EMPRESAS
Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem. NEGÓCIO VERDEGostei muito da reportagem sobre compen-
sação de emissões de carbono em eventos,
(“Pegadas Lucrativas”, AméricaEconomia No
384, fevereiro, 2010). Ajuda a conscientizar
as empresas de que existem meios de cuidar
do meio ambiente. Mesmo que seja inevitá-
vel a emissão, é importante divulgar que há
empresários focados em compensar os da-
nos causados pela poluição, e ainda lucrar
com isso. Um bom exemplo de economia
sustentável. VALDINEI MARCOS DA SILVA – SANTA CATARINA, BRASIL
MUITO OTIMISMO?Interessante o especial sobre as projeções de
diretores de fi nanças para o fi nanciamento
de suas empresas (“Em Busca do Capital”,
AméricaEconomia No 385, março, 2010). É
estimulante ler esses líderes bem informa-
dos sobre o que está se passando. Entretan-
to, chama a atenção o excesso de otimismo,
talvez porque falem em nome de empresas
especialmente bem-sucedidas e que, geral-
mente, têm acesso a recursos mesmo em
meio a crises profundas. PABLO CARDENAL – BUENOS AIRES, ARGENTINA
COPO MEIO CHEIOEscrevo para pedir um favor: falar ao mundo
que o México não é um país com problemas
da forma com que se diz. O México é um país
cheio de oportunidades, que teve sérias difi -
culdades em 2009, mas que tem enfrentado
seus problemas com resultados que melho-
ram seu potencial de crescimento. Há uma
tendência global em falar mal do México e
ressaltar apenas o que há de ruim. O Méxi-
co é um país bonito, agradável, onde se pode
trabalhar seriamente, tal como tenho feito
com minha empresa nos últimos 15 anos.
AARON CONNELLY – CIDADE DO MÉXICO, MÉXICO
Cartas para a redação: [email protected]
3M 50
Acer 47
Adidas 47, 50
Advent 14
AmBev 14
Anchor Ethanol 79
Apple 18
ArcelorMittal 44
Arla Foods 79
Arnold & Porter 65
Asus 47
Ativa 27
AviChina 30
Bain Consulting 34
Banco Banif 26
Banco do Brasil 10, 73
Banco Votorantim 73
Bethia 13
BM&FBovespa 72
Bosch 30
Boston Scientifi c 51
Bradesco 73
BrandAnalytics 33
Brasfanta 14
BTG Pactual 73
Café Punta del Cielo 46
Casas Bahia 42
Caterpillar 50
Celfi n Capital 13
Chadbourne & Parke 64
Chery 30
Citibank 73
Citroën 30
Claro 25
ConocoPhillips 64
Converge Com. 25
CSM Worldwide 29
Curtis Mallet 65
Dafra Motos 41
Dalila 34
De Smet Ballestra 79
Dell 19, 47, 50, 58
Delphi 30
Demarest e Almeida 54
Descarte Certo 59
Diálogo Interamericano 61
Dimension Data 15
EBX 13
Effa Motors 30
Embratel 25
Energy for Industry 79
Essencis 59
Facebook 82
Falabella 13
Fiat 29
Financial Times 82
FLC Plásticos 15
Foley Hoag 65
Fonterra 79
Ford 29
Foursquare 82
Freshfi elds B. Deringer 64
Gartner 18, 47
Gateway 18
Gayosso 46
General Motors 29
Gerdau 39
Globo 24
Goldman Sachs 26
Google 18,82
Grupo Caoa 30
Grupo Impacta 40
Grupo Kalyani 40
GVT 26, 53
Harbin Motor 30
Heineken 50
Hering 36, 34
HP 47
HSBC 73
HTC 18
Huawei 19
Hyundai 29
IBM 18, 69
IDC 20
Itaú Unibanco 59, 73
JAC 30
Kerton Group 18
Kia 30
LAN 13
Lancaster 34
Larcomar 15
Leader 42
Lean Institute Brasil 29
Lenovo 47
LG 18, 41
Lifan 30
LinkedIn 82
Lloyd’s 53
Locaweb 20
Magenta 15
Mangels 15
Marcopolo 39
Marfrig 15
Medoro 15
MEO Australia 15
Microsoft 19
Mitel 13
Mixxer 42
Motorola 18
NET 24
Nike 47
Nokia 18
Occidental Petroleum 64
Oi 26
Panasonic 80
Panda Security 15
PanDigital 80
Pão de Açúcar 42
Parque Arauco 15
Petrobras 15
Philips 15
Pininfarina 30
Portugal Telecom 27
Prada Assessoria 32
PwC 51
Procter & Gamble 50
Protiviti Brasil 42
Pyramid Research 18
Realty Corporation 42
Renault-Nissan 32
Renner 42
Samsung 18
Sancor 79
Santander 73
Schlumberg 53
SHC 30
SKY 26
SLW Corretora 42
Sony Ericsson 18
Sony 80
TAM 13
Tata Motors 39
Tecnoworld 80
Telecom Itália 27
Telefônica 26
Telmex 25
TIM 27
Toshiba 47
Toyota 29
TVS 41
Twitter 82
Vale 15
Vivo 27
Volkswagen 29
WEG 39
ZTE Corp. 19
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Maio, 2010 AméricaEconomia 13
PISTAS
DECLÍNIO MARCADO
PUBLICAMOS Em 2009, as exportações de etanol
caíram, e a expectativa é a de que, até o fi m do ano,
a redução nas vendas internacionais seja de 20%,
sobretudo pela forte queda nas compras dos EUA.
(“Otimismo Verde”, AméricaEconomia No 378, agos-
to, 2009)
O NOVO Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), esse declínio nas exportações de etanol não dará trégua tão cedo. A Unica anunciou uma estimativa de queda na temporada 2010/2011 (abril/março) para o menor nível desde 2003/2004, entre os produtores da região centro-sul, que repre-sentam 90% da produção de cana do Brasil. Para a safra 2010/2011, a Unica prevê exportações de 1,8 bilhão de litros, contra 2,75 bilhões na de 2009/2010. Segundo a organização, os motivos para tal projeção são o câmbio desfavorável e a queda nas vendas para os EUA e a Índia.
MAIS UM X
PUBLICAMOS Foram muitos os que desconfi aram ao ver Eike Batista entrar nos
segmentos de petróleo e geração de energia, para ser mais um em meio a
dezenas de projetos desses setores. Parecia um novo arroubo na carteira do
grupo EBX, que abrange outros empreendimentos tão desconexos como
uma mineradora, turismo náutico e um restaurante chinês. (“O Filho do Sol”,
AméricaEconomia No 385, março, 2010)
O NOVO O grupo EBX inclui mais um setor em seu amplo leque de atu-ação. Assinou um memorando de intenções para a formação de uma jointventure com a canadense Mitel, para atacar no setor de telecomunicações. A ideia é fabricar no Brasil telefones IP e sistemas de vídeo para segurança.
TUDO EM CASA
PUBLICAMOS A TAM posicionou-se como uma das
candidatas à compra da participação na chilena LAN
que o presidente recém-eleito Sebastián Piñera se
comprometeu a vender antes de sua posse. Para is-
so, entretanto, a TAM tinha um páreo duro: a família
Cueto, que já detinha 25% da LAN. (“Voando Alto”,
AméricaEconomia No 385, março, 2010)
O NOVO Com um certo atraso, no fi nal de março, Piñera conseguiu concluir a venda dos 26% que pos-suía na companhia aérea LAN. Entre as compradoras estiveram o grupo empresarial da família Cueto, o grupo Bethia – da família Solari, donos da rede vare-jista chilena Falabella – e a corretora Celfi n Capital, também do Chile. A venda para a Bethia gerou polê-mica, pois, para concretizar a operação, Piñera pri-meiro vendeu a empresa Axxion – por meio da qual administrava as ações da LAN – em bolsa, evitando arrematar diretamente as ações da companhia, eco-nomizando o pagamento de impostos.
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SOMAR FORÇASPUBLICAMOS Os recursos do Fundo da Amazônia serão aplicados exclusivamente sob a forma de fi nancia-mentos não reembolsáveis. “Nossa expectativa é a de que o volume de doações para o fundo cresça muito”, diz Guilherme Accioly, gerente do Departamento de Gestão do Fundo, do Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econômico e Social (BNDES). (“Capital Verde”, AméricaEconomia No 383, janeiro, 2010)
O NOVO O Ministério do Meio Ambiente afi rmou que o BNDES está negociando com 12 países futuras doações ao Fundo da Amazônia, que hoje conta apenas com a Noruega como doadora. Não foram divulgados os países inte-ressados. Criado para promover projetos de prevenção e combate ao desmatamento e para a conservação e o uso sustentável das fl orestas no Bioma Amazônico, o Fundo contava, no começo deste ano, com uma carteira de 50 projetos, cinco dos quais já aprovados.
14 AméricaEconomia Maio, 2010
NEGÓCIO FECHADO
ADVENT INTERNATIONAL Aempresa norte-americana de private equity anunciou, em abril, o término da captação do Latin American Priva-te Equity V (LAPEF V), com um valor total de US$ 1,65 bilhão. Segundo comunicado distribuído à imprensa, as empresas dos segmentos de servi-ços fi nanceiros, serviços em aeropor-tos, varejo, educação e serviços espe-cializados serão os targets do LAPEF V. O valor de cada investimento será de US$ 50 milhões a US$ 200 mi-lhões, em empresas avaliadas entre US$ 50 milhões e US$ 750 milhões. “Do total desse fundo, mais de 50% serão aplicados em empresas brasi-leiras”, adiantou, no comunicado, Pa-trice Etlin, sócio da Advent e respon-sável pelos investimentos no Brasil.VALOR: US$ 1,65 BILHÃO
BRASFANTA O grupo brasileiro que atua em segmentos como nu-trição especial, bebidas inovadoras,
AMBEVA companhia de bebidas investirá até R$ 2 bilhões no Brasil em 2010, com o objetivo de elevar a capaci-dade produtiva de suas fá-bricas entre 10% e 15%. Os recursos serão destinados a unidades localizadas em 13 estados. De acordo com a AmBev, o investimento leva em conta o cenário fa-vorável da economia e está condicionado à manuten-ção das atuais alíquotas de impostos federais para o setor de bebidas.
VALOR: R$ 2 BILHÕES
Maio, 2010 AméricaEconomia 15
Abumohor – comprou o Larcomar, um dos mais conhecidos centros co-merciais de Lima, do grupo peruano Grana e Montero (G&M). O valor da operação foi de US$ 36 milhões. VALOR: US$ 36 MILHÕES
PETROBRAS O grupo brasileiro ad-quiriu, por meio de sua subsidiária in-tegral Petrobras Internacional Bras-petro, 50% de participação no bloco exploratório WA-360-P, localizado na bacia australiana de North Carnar-von, junto da empresa MEO Australia Ltd. O valor da aquisição é de US$ 39 milhões. O bloco cobre uma área de 1,2 mil quilômetros quadrados e tem profundidade de água máxima de 500 metros, localizado próximo à região de descobertas de gás. VALOR: US$ 39 MILHÕES
PHILIPS A companhia anunciou a aquisição da Tecso Informática, em-presa com sede no Rio de Janeiro focada em sistemas de gestão para a área de saúde. De acordo com a Philips, a compra tem como objetivo complementar e ampliar o portfólio da divisão de Healthcare (cuidados com a saúde) da Philips do Brasil. VALOR: NÃO REVELADO
VALE A área de logística do grupo brasileiro investirá cerca de R$ 60 mi-lhões neste ano no desenvolvimento e na aplicação de tecnologias ino-vadoras em suas ferrovias de carga pesada (heavy haul), nas estradas de ferro Vitória a Minas (EFVM) e Carajás (EFC), e nos portos. Entre os principais aportes estão novos equipamentos para operação de locomotivas por meio de comando remoto e uma tecnologia inédita entre as ferrovias brasileiras, que auxilia nas operações em trechos de aclive.VALOR: R$ 60 MILHÕES
jas de frango e um abatedouro pa-ra produção de produtos in natura(inteiro e cortes), no município de Jaciara, no Mato Grosso. A unidade terá capacidade de abate diária de 200 mil aves, elevando a produção da companhia para 2,6 milhões de aves por dia no Brasil. O prazo pa-ra a conclusão do projeto é de três anos, com investimento previsto de R$ 150 milhões.VALOR: R$ 150 MILHÕES
MEDORO RESOURCES A minera-dora canadense planeja investir en-tre US$ 30 milhões e US$ 40 milhões nos próximos dois anos para explo-rar uma mina de ouro no noroeste da Colômbia, por meio da Frontino Gold Mines. A Medoro recentemente comprou a Frontino, em uma transa-ção avaliada em US$ 200 milhões. VALOR: ATÉ US$ 40 MILHÕES
PANDA SECURITY A desenvol-vedora de soluções de segurança, fundada em 1990, comprou sua ope-ração brasileira que, até o momento, vinha atuando no modelo de distri-buição exclusiva. Com a incorpora-ção, a empresa passa a contar com 13 subsidiárias em diferentes países, incluindo Áustria, Alemanha, Bélgi-ca, China, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Japão, Suécia, Inglaterra e EUA. Os sócios da distribuidora pas-sam a integrar o quadro da Panda Security do Brasil, respondendo pe-lo comando estratégico e executivo da operação. A Panda Security conta com 56 escritórios distribuídos por todo o mundo e centrais nos EUA (Califórnia) e Europa (Espanha).VALOR: NÃO REVELADO
PARQUE ARAUCO O grupo chi-leno, que opera centros comerciais – controlado pelas famílias Said e
laminados e software de gestão, comprou a empresa Locomotiva, da São Paulo Alpargatas, por R$ 43 mi-lhões. Segundo comunicado, com a aquisição, o Brasfanta – controlador da empresa FLC Plásticos – passa a ser líder do mercado de lonas e o se-gundo no mercado de laminados.VALOR: R$ 43 MILHÕES
DIMENSION DATA A sul-africana Dimension Data, provedora de servi-ços e soluções na área de tecnologia da informação, comprou participação de 51% na Magenta Computación, um integrador de sistemas com sede em Santiago, por uma quantia não revelada. A transação permite à Di-mension Data aumentar sua presença global no mercado latino-americano. O nome da companhia adquirida mu-dou para Dimension Data Chile. VALOR: NÃO REVELADO
MANGELS A fabricante de rodas de alumínio com sede em São Paulo planeja investir cerca de R$ 382,2 mi-lhões entre 2010 e 2014 nas divisões de rodas e cilindros, entre outras. O aporte está alinhado com as pers-pectivas de crescimento do Brasil para os próximos anos, em espe-cial de setores nos quais a Mangels tem participação. De acordo com a empresa, a cada ano a administra-ção revisará e defi nirá o montante de investimento a ser realizado no exercício seguinte, levando em con-sideração a capacidade fi nanceira da companhia e as condições ma-croeconômicas vigentes.VALOR: R$ 382,2 MILHÕES
MARFRIG Por meio de sua sub-sidiária Seara Alimentos, a empresa alimentícia fi rmou um protocolo de intenções com o governo de Mato Grosso para a construção de gran-Fo
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18 AméricaEconomia Maio, 2010
SINAL CORTADOSony Ericsson aposta em uma nova família de celulares para sair de sua má fase. A estratégia parece trazer mais riscos que acertos
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AFP
N o momento em que a fabricante de celulares Sony
Ericsson luta para emergir de um ano marcado por
uma forte queda nas vendas, no lucro e na partici-
pação de mercado, o novo presidente executivo da compa-
nhia, Bert Nordberg, demonstra um otimismo que parece
desproporcional ao cenário que lhe espera.
“Achamos que temos vantagem frente à concorrência”,
diz o executivo sueco, de 53 anos, tirando de uma sacola
os aparelhos celulares recém-lançados para apresentá-los.
“Agora, contamos com o portfólio correto”, completa.
Em 2009, a Sony Ericsson registrou perdas líquidas de
US$ 1,12 bilhão e queda de 40% nas vendas. A empresa ainda
mantém o quarto lugar em participação de mercado mun-
dial, com quase 4,5% das vendas, ainda que muito atrás da
Nokia (39%), da Samsung (21,1%) e da LG Eletronics (10,4%),
segundo dados do Interactive Data Corporation (IDC). Na
América Latina, também está em quarto lugar, com market
share de 10%, segundo a empresa de pesquisas Pyramid Rese-
arch. No Brasil, entretanto, fechou 2009 em quinto lugar, com
apenas 7,4% de mercado – uma queda considerável, frente
aos 11,1% de 2008, segundo dados do Gartner.
Nordberg, que assumiu, em outubro do ano passado, a li-
derança da companhia, aposta que a nova gama de celulares
– cinco no total: Vivaz, Vivaz Pro, X10, X10 mini e X10 mini
pro – será sufi cientemente atraente para garantir a volta do
crescimento e da rentabilidade. Uma jogada arriscada, em
uma indústria em que a concorrência é cada vez mais in-
tensa e na qual os produtos
tendem a se diferenciar
cada vez menos. Para o
sueco, entretanto, ter
os produtos corretos
é garantir que me-
tade da batalha já
esteja ganha. E ci-
ta o exemplo do
iPhone, da Ap-
ple. “Você pode
sair do nada,
ser um total
desconhecido da
ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI
Em problemas
2009Variação
sobre 2008
Unidades vendidas
Preço médio por aparelho
Vendas
57,1 mi
US$ 160
US$ 6,78 bi
-41,0%
2,6%
-39,6%
Números da Sony
Fonte : Sony Ericsson
indústria, mas, se tiver o portfólio que os consumidores que-
rem, pode mudar o jogo rapidamente.”
Chama a atenção o fato de o executivo citar um de seus
rivais mais fortes, já que, diferentemente da Apple, os lan-
çamentos da Sony Ericsson não têm causado tanto frisson.
Segundo a empresa, entretanto, o objetivo desses modelos
– lançados em fevereiro no Congresso Mundial de Celulares,
em Barcelona, e que chegam progressivamente ao mercado
latino-americano no segundo trimestre – é atender a deman-
da dos consumidores por aparelhos de design atraente, oferta
abundante de aplicativos, boa capacidade de gravar vídeo e
fácil acesso a redes sociais.
TODOS IGUAISSegundo Derek Kerton, analista da Kerton Group, consulto-
ria de Telecomunicações com sede em San José, Califórnia,
os telefones da Sony Ericsson efetivamente estão entre os
melhores lançamentos recentes. “O problema é que não há
muita diferença entre esses aparelhos e os melhores lança-
mentos de concorrentes como Motorola e HTC”, diz. Ou seja: a
crescente semelhança entre os celulares quanto a tamanho,
sistema operacional, funcionalidade e aplicações ameaça
derrubar a estratégia da Sony Ericsson.
A maior parte dos fabricantes, por exemplo, está optando
pelo sistema operacional Android, do Google, que vem sendo
apontado como a melhor resposta da indústria frente à expe-
riência do usuário brindada pelo iPhone, da Apple.
Kerton compara o atual cenário dos aparelhos celu-
lares ao dos computadores pessoais no começo dos anos
1990, quando as margens de fabricantes como IBM, Ga-
1
NEGÓCIOS TELECOMUNICAÇÕES
Maio, 2010 AméricaEconomia 19
BERT NORDBERG, PRESIDENTE
DA SONY ERICSSON:
ESTRATÉGIA ACERTADA
OU EXCESSO DE OTIMISMO?
2
Mercado brasileiro de celularesPrincipais fabricantes
Fonte : Gartner
Nokia LG Eletronics
Motorola Samsung SonyEricsson
2008Vendas consumidor final
(em milhões de unidades)
Percentualde mercado34,3
18,8
32,6
22,5
18,5
13,4
23,9
14,84
16,39
10,216,08 3,34
4,968,98
2009Vendas consumidor final
(em milhões de unidades)
Percentualde mercado
11,43
8,415,31
10,4
11,1
7,4
teway e Dell reduziram-se con-
sideravelmente porque todos
usavam componentes comuns
e o mesmo sistema operacio-
nal, o Windows, da Microsoft.
Norberg discorda dessa
“comoditização” e afi rma que
a companhia aprendeu que
os telefones têm de oferecer
novidades constantemente
para a marca ganhar a lealda-
de dos usuários. Além das con-
vicções do executivo, o certo é
que uma menor diferenciação
no mercado obrigaria os fabri-
cantes a partir para a frente
que mais lhes dói: o preço.
Nesse campo, a Sony Erics-
son parece contar com certa
margem de manobra. Nos úl-
timos anos, a empresa empre-
endeu uma forte redução de
gastos, incluindo o fechamen-
to de instalações nos EUA, na
Suécia e na Índia e a demis-
são de ao menos 3,6 mil em-
pregados. O próprio Nordberg
aponta que a empresa estaria
disposta a comprar essa briga.
“Nossa estratégia é produzir
aparelhos com maior funcio-
nalidade a preços mais baixos”, afi rmou.
O problema é que, nesse campo, falta boa concorrência. A
empresa está focada no segmento de aparelhos voltados ao
público de renda média e média-alta, com preços em torno
de US$ 160, em 2009. Por baixo, está sendo pressionada pelas
companhias chinesas Huawei e ZTE Corp., que, segundo ana-
listas, nos próximos anos, poderão desbancar a Sony Ericsson
e a norte-americana Motorola. E, de cima, a pressão vem da
Apple, com o sucesso de vendas do iPhone. Segundo o Gartner,
a Apple já conta com 17% do mercado global de smartphones.
Segundo Nordberg, ainda restaria uma cartada para sua
empresa: o aporte da japonesa Sony, quando o assunto é en-
tretenimento. “Estamos nos afastando do conceito de ser uma
companhia tecnológica para nos aproximarmos do conceito
de uma de entretenimento”, diz, afi rmando que o objetivo de
seus aparelhos é sempre melhorar a experiência do usuário.
“Queremos que as pessoas sorriam, e aparelhos com alto grau
de funcionalidade as ajudam a fazê-lo”, diz.
Agora, resta esperar para ver se o mercado comprará o
sorriso desse sueco.
20 AméricaEconomia Maio, 2010
LÁ VAI A NUVEM
Locaweb expande operações na América Latina e quer ganhar o mercado mexicano com serviços de cloudcomputing
SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
MAUTNER: APOSTA EM PARCERIAS COM
FORNECEDORES PARA GANHAR CLIENTES
A grande vantagem das em-
presas de serviços online é a
de não ter fronteiras físicas
que limitem seu mercado. Para a Loca-
web, que oferece hospedagem de sites
e prestação de serviços de tecnologia,
entretanto, a tentação dessa facilidade
inicial não foi sufi ciente para acelerar
seus planos de internacionalização.
Só depois de 11 anos é que ela decidiu
anunciar formalmente sua entrada no
mercado externo, em setembro de 2009,
com estrutura e metas defi nidas. “Nos-
so foco é a América Latina, e queremos
que a operação na região represente 5%
do nosso faturamento até 2012”, conta
Henrique Macedo, gerente de Produtos
Internacionais da empresa.
Para acompanhar o crescimento
tanto no mercado externo quanto no
interno, a Locaweb fortaleceu sua es-
trutura, num processo que culminou Foto
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m de
Am
érica
Econ
omia
sobr
e fot
o de D
ivulga
ção
NEGÓCIOS TI
na inauguração, no ano passado, de
um novo data center em São Paulo, cuja
capacidade total é de 25 mil servido-
res. “A ocupação se dará em módulos e
acho que, no ritmo de crescimento que
vimos registrando, poderá nos aten-
der tranquilamente até 2015 ou 2016”,
diz Gilberto Mautner, presidente da
Locaweb. No ano passado, a empresa
também abriu um centro técnico em
Miami (EUA) e outro, de serviços de su-
Maio, 2010 AméricaEconomia 21
porte, em Montevidéu (Uruguai), com o
objetivo de atender clientes de língua
espanhola em todo o continente ame-
ricano. O investimento foi de cerca de
US$ 1 milhão. “Agora temos uma plata-
forma inicial para poder atender esses
mercados”, afi rma Macedo, destacando
que a empresa espera ver o break even
dessa operação até o fi nal de 2010.
A escolha das duas cidades foi cui-
dadosamente estudada. “Por estar no
Mercosul, Montevidéu apresenta uma
série de facilidades, como no desloca-
mento de pessoas e na forma de admi-
nistrar; além disso, lá existem zonas
francas de serviços, onde podemos nos
estabelecer com um custo bem menor
do que, por exemplo, na Argentina,
inclusive do ponto de vista de salários”,
conta Macedo. Já a eleição de Miami se
deu por ser um “ponto de interconexão
dos países latino-americanos”.
ESTRATÉGIA MARIACHINeste primeiro momento, a Locaweb
dá sinais de ter especial interesse pelo
mercado mexicano, com destaque para
a oferta de serviços de cloud computing
– conceito de computação em nuvem
que permite o acesso a processamento,
armazenamento e softwares através da
internet –, que oferece no Brasil desde
2008, e conta com 3 mil clientes. Neste
ano, o serviço foi oferecido no mercado
internacional. “No México, nenhuma
empresa ainda se estabeleceu como lí-
der ou referência em cloud. O momento
é de conhecer o produto, descobrir para
que serve. E estamos investindo nisso”,
diz Macedo.
E como fazer para ganhar a confi an-
ça de clientes com um serviço pouco
conhecido e uma marca ainda menos fa-
mosa? Segundo Mautner, a empresa pri-
vilegiará a estratégia que a consolidou
no Brasil: parcerias com agências, web-
designers, consultorias e empresas que
desenvolvem soluções digitais, sobretu-
do, para pequenas e médias empresas.
“Temos mais de 14 mil desenvolvedores
parceiros no Brasil; é um sistema que
funciona bem”, afi rma o empresário.
Tal estratégia parece casar muito
bem com o conceito de cloud service, já
que, além de possibilitar agilidade na
expansão de um sistema de armazena-
gem ou de aplicações, este permite um
serviço de custo inicial reduzido, possi-
bilitando a contratação por empresas
menores. “É um conceito que virtualiza
a capacidade de armazenamento, pre-
cifi ca o software como um serviço e per-
mite a cobrança de forma mais granu-
lar, por operação”, diz Reinaldo Roveri,
gerente de Pesquisa da consultoria IDC
Brasil, especializada em TI. Segundo
Roveri, atualmente, o cloud computing
movimenta cerca de US$ 17 bilhões no
mundo, “e a estimativa é de que chegue
a US$ 44 bilhões até 2013, representan-
do entre 25% e 30% da receita total do
setor de TI”, completa Roveri.
Essa elasticidade que permite ofe-
recer um custo inicial baixo e expandir
conforme a demanda é muito bem es-
pelhada na oferta e no perfi l de público
da Locaweb. “Para cloud services, temos
tíquetes que vão de R$ 59 a clientes com
vários servidores e milhares de reais
por mês”, diz Mautner. Dos cerca de 200
mil clientes que a empresa tem, 70%
são pequenos negócios, que colabora-
ram para a Locaweb fechar 2009 com
uma receita bruta de R$ 131 milhões,
crescimento de 28% em relação a 2008
e margem Ebitda de 38,1%. “Quando, no
México, na Argentina, falamos do por-
te da Locaweb, as pessoas fi cam espan-
tadas com uma empresa que tem 200
mil clientes”, diz Mautner, confiante
no potencial de crescimento de seu ne-
gócio na região. Entre outros números
expressivos colecionados pela empresa
estão 2,3 milhões de contas de e-mail,
meio milhão em domínios, 320 mil
sites e 4,67 mil lojas virtuais.
Mautner afi rma que, por enquan-
to, não há planos de aquisições fora
do Brasil. “Não as descartamos, mas
hoje não existe um player mais conso-
lidado nesses países, nem em termos
de market share, nem de qualidade”,
diz. “Talvez o maior seja a Telmex (do
México), mas esta não tem uma oferta
nem próxima do que a gente faz no
Brasil, pois é algo mais arcaico e mais
caro”, defi ne, destacando que a opção
de uma estratégia menos agressiva
tampouco se deve à falta de capital. No
fi nal de 2008, a empresa cancelou uma
oferta pública de ações, por conta do
acirramento da crise fi nanceira mun-
dial. “Pretendemos retomar esse plano
de colocação assim que as condições
de mercado melhorarem”, diz. “Mas a
Locaweb é tranquila quando se trata de
capital, e não o faremos se as condições
não forem boas”, diz.
70%dos clientes da
Locaweb são
pequenas empresas
24 AméricaEconomia Maio, 2010
TODOS LIGADOS
VERÓNICA GOYZUETA, DE SÃO PAULO
A paixão dos brasileiros pelo
futebol está intimamente
ligada à TV e ao seu desen-
volvimento tecnológico. As Copas do
Mundo sempre se converteram em um
grande empurrão para a TV se popu-
larizar no país, já que essa é a oportu-
nidade escolhida por fabricantes de
aparelhos, bem como pelas emissoras,
para lançar novidades. Foi assim com
NEGÓCIOS TV A CABO
Depois de anos de estagnação, a TV paga desponta no Brasil em um jogo de alianças no qual o mexicano Carlos Slim pode levar vantagem
a transmissão ao vivo, a TV em cores, a
TV digital e o LCD. Esse último já alcan-
çou 50 milhões de unidades no Brasil,
mais do que o dobro do registrado em
domicílios do México, por exemplo.
Para a Copa de 2010, sediada na
África do Sul, a novidade esperada é a
transmissão em 3D para clientes de TV
por assinatura. Mas pode ser que ela
não vingue.
A NET Serviços, maior empresa bra-
sileira de TV a cabo, já tem a tecnologia
disponível e a apresentou em even-
tos como o Carnaval e a Fórmula Indy,
em locais restritos. A inviabilidade da
operação se justifi ca por dois fatores:
falta de patrocinadores dispostos a de-
sembolsar um alto valor destinado à
TV Globo – que tem direitos de trans-
missão – e baixa penetração da TV por
Maio, 2010 AméricaEconomia 25
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es
irrisória se comparada a vizinhos como
Colômbia, com 75%, ou Argentina, onde
63% das TVs estão ligadas em canais
pagos. A média sul-americana é de ape-
nas 25% porque é puxada para baixo
pelo resultado do Brasil.
O dado parece estranho em um
país adepto a novidades tecnológicas,
invadido por celulares e redes sociais.
“Foi uma mistura de fatores específi cos
do Brasil com questões regulatórias. A
TV aberta tinha altos índices de audi-
ência e um público satisfeito. Houve
demora no processo de regulamenta-
ção, e só no fi nal dos anos 1990 as nor-
mas fi caram prontas. E houve também
uma série de crises financeiras que
limitaram a adesão de assinantes”, ex-
plica Samuel Possebon, autor do livro
TV por Assinatura, 20 anos de Evolução
e diretor da Converge Comunicações,
grupo editorial especializado no mer-
cado de comunicação e TI.
PACOTE MEXICANOA situação, no entanto, começou a mu-
dar em 2005, quando as operadoras
passaram a focar em produtos desen-
volvidos para a classe C, sobretudo com
a oferta de pacotes de serviços, junta-
mente com telefonia e banda larga. Um
dos responsáveis por essa tendência é
o mexicano Carlos Slim, que, por meio
da Telmex, tem 49% das ações da NET
(os 51% restantes pertencem à Globo-
par) e é dono da empresa de telefonia
Embratel. A presença de Slim nas duas
companhias permitiu uma aliança que
tem sido a grande vantagem da NET no
mercado. Com a Embratel, a NET conse-
guiu colocar TV, telefonia e banda larga
no mesmo cabo. O resultado? Em 2009,
a NET registrou participação de 50% no
mercado de cabo, 25% no de banda lar-
ga e 6% em telefonia fi xa. Para manter
essa aliança vencedora, a NET trocou,
em dezembro, seu contrato de uso de
capacidade de rede da Embratel, que
era de curto prazo, por outro, de longo
prazo e irrevogável.
Com isso, as ações da NET subiram
51% no ano passado, considerado ruim
para o setor de telefonia na Bolsa, graças
a uma melhora considerável em seu
lucro, de R$ 20 milhões em 2008 para R$
736 milhões em 2009. Já o novo contrato
com a Embratel deve elevar a margem
Ebitda (sigla em inglês para lucro antes
de juros, impostos, depreciação e amor-
tização) de 27% para 29%, segundo um
relatório da empresa.
A expectativa agora é a de que a
NET aproveite a Claro, operadora ce-
assinatura no Brasil, considerando que
TV se paga com anunciantes e/ou assi-
nantes. Pois é, apesar de ter o maior nú-
mero de aparelhos da América Latina, o
número de domicílios que pagam para
assistir à TV é de pouco mais de 10%,
o mais baixo da região. Desde 1988,
quando saíram as primeiras licenças,
o Brasil tem vivido uma estagnação na
área, tendo hoje uma penetração ainda
1
26 AméricaEconomia Maio, 2010
sofrer com essa concorrência em fun-
ção do alto custo da sua infraestrutura.
“A TV paga é um negócio de escala”,
ressalta Pardellas. “O mercado de DTH
tem crescido muito porque o processo
é muito mais simples. Praticamente
todas as empresas têm entrado”, con-
fi rma Possebon, da Converge. Isso faz
também com que o mercado de DTH
seja mais fragmentado, observa Par-
dellas. No cabo, a NET é líder, com mais
de 50%, mas isso representa apenas 93
entre mais de 5,6 mil municípios, dos
quais só 272 têm TV a cabo, enquanto
o satélite não tem limites. Foi por isso
que o Goldman Sachs rebaixou o rating
da empresa no meio de abril e a tirou da
sua carteira de recomendações, provo-
cando uma queda brusca das ações na
Bovespa, de 4,1%, no dia do anúncio.
Para ganhar corpo, a NET tem re-
corrido ao seu caixa e saído às compras.
“Alguns elementos para o nosso cres-
cimento acelerado são a conquista de
clientes e a compra de empresas, que
trazem clientes e licenças”, diz Elek Jr.,
destacando que o plano de aquisições
continua fi rme. A empresa optou por
comprar enquanto a Agência Nacional
de Telecomunicações (Anatel) não libe-
ra novas concessões de TV paga, o que
não deve acontecer tão cedo. “A Anatel
tem arcabouço pronto para fazer licita-
ções de concessão, nada impediria que
o fi zesse, mas a dúvida sobre a partici-
pação das empresas de telecomunica-
ções faz com que adie o assunto”, diz
Possebon. O último leilão aconteceu
em 2000.
ABERTO A ESTRANGEIROSOutra defi nição para a atuação das em-
presas de telefonia na área é o Projeto de
Lei 29, que está emperrado no Congresso
e com poucas chances de ser aprovado
em ano de eleição, acredita Possebon. No
projeto, está previsto que estrangeiros
podem ter o controle de uma empresa de
TV paga, ponto que abriria caminho para
Slim tomar o controle da NET das mãos
do Grupo Globo. Atualmente, a Telmex
tem 49%. Mas, segundo o acordo, caso a
lei seja aprovada, ela passa a ter 51%.
lular de Slim no Brasil, para entrar no
mercado móvel. “É muito interessante
para a oferta da NET dar mobilidade
aos seus clientes e oferecer banda larga
móvel. Temos um assinante muito di-
nâmico, e faz sentido facilitar essa ofer-
ta”, diz João Elek Jr., diretor Financeiro e
de Relações com os Investidores da NET,
afirmando que a parceria é possível,
pode acontecer e não existe restrição
regulatória para isso.
TUDO PARA CRESCERAs apostas da NET e de Slim fazem
sentido em um mercado com gran-
de potencial de crescimento em
TV paga e banda larga. “Hoje, temos
um ritmo de crescimento bastan-
te consistente e constante, com taxas
superiores a 20% todos os anos”, diz Pos-
sebon, que acha que a TV paga não é
mais um produto de alto luxo no Brasil.
Atualmente, o país tem quase 8
milhões de assinantes e espaço para
crescer não apenas em grandes cida-
des – como São Paulo, onde a pene-
tração atualmente é de 19% –, como
também em cidades do Nordeste, onde
a renda vem aumentando, e a TV paga
quase não existe. Recife, por exemplo,
tem uma penetração de apenas 3%, se-
NEGÓCIOS TV A CABO
gundo dados da Associação Brasileira
de TV por Assinatura (ABTA).
Na competição, que promete ser
acirrada, estão, além da NET e da SKY
(da Globo e do Grupo Murdoch), gran-
des empresas de telefonia, como Te-
lefônica, Embratel (também de Slim)
Oi e GVT, que acaba de ser comprada
pela francesa Vivendi. As empresas de
telefonia têm uma vantagem sobre a
NET, que opera na TV a cabo, pois têm
à disposição tecnologias com potencial
de disseminação mais rápida, como o
DTH (via satélite) e o IPTV (TV de proto-
colo Internet).
Para Alex Pardellas, analista do
Banco Banif, a NET, que é a empresa
mais competitiva no momento, pode
Aprovação de
projeto de lei
poderá permitir
a participação
majoritária da
Telmex na NET,
reduzindo o poder
da Globo
Foto
s: 2 -
SXC;
3 - J
osep
h Eid/
AFP
é a penetração da TV
a cabo na cidade de
São Paulo
19 %
2
Maio, 2010 AméricaEconomia 27
As especulações fi cam por conta de
quanto pode custar esses 2%, mas Pos-
sebon não vê nenhuma possibilidade
de entraves entre os sócios. “A Globo
já tem uma defi nição muito clara do
que quer na TV paga: uma presença na
área de conteúdo com a Globosat. Seu
foco vai ser na oferta de conteúdo”, diz
o especialista. “E hoje a NET vale mais
do que valia em 2004. Isso, do ponto de
vista fi nanceiro, é bom para ambos”, diz
Possebon. É importante lembrar que es-
se acordo aconteceu quando a Globo en-
frentava sérios problemas fi nanceiros
com a NET. A empresa tinha suspendi-
do o pagamento da sua dívida, em 2002,
e a Telmex entrou na renegociação.
O principal concorrente da NET no
mercado de TV paga e banda larga é
a espanhola Telefônica, que vem de
um ano difícil. A Anatel suspendeu a
venda dos serviços da empresa por três
meses, depois de registrar problemas
na banda larga. Segundo um relatório
da corretora Fator, a empresa pode ter
perdido R$ 12 milhões em vendas e pelo
menos 70 mil clientes por mês para a
concorrência, sem contar os danos à
sua imagem. Segundo um relatório da
Ativa, outra desvantagem da Telefônica
é que ela estaria “amarrada” para con-
correr na oferta móvel porque divide o
controle da operadora celular Vivo com
a Portugal Telecom, que tem planos de
assumir a totalidade da empresa. Já os
espanhóis andam em conversas para
uma fusão com a Telecom Itália, na
qual fi cariam com a TIM no Brasil.
Independentemente de trocas de
ações, fusões e leis, a NET está em van-
tagem no Brasil graças à ousadia de
Carlos Slim. “O Slim já está com as qua-
tro patas no Brasil”, brinca Pardellas,
do Banif. Seja o que acontecer daqui
para a frente, ele já entrou nos setores
de TV paga, internet, telefonia e celular
no Brasil. Com o apetite que o magnata
mexicano demonstra ter, poucos duvi-
dam que ele não consiga.
O MEXICANO CARLOS SLIM: OUSADIA DO
MAGNATA FEZ A NET GANHAR MERCADO
3
34 AméricaEconomia Maio, 2010
POPULAR DO FUTUROBrasil se torna o quarto maior mercado de automóveis do mundo e impulsiona novo ciclo de investimentos bilionários no país. A demanda anual pode superar os 5 milhões de veículos em 2016
O motor do mercado brasileiro
nunca roncou tão alto como
em 2010. Os resultados das
vendas de automóveis no primeiro tri-
mestre do ano indicam que o país supe-
rou a Alemanha – que registrou 670 mil
licenciamentos de veículos leves no pe-
ríodo, contra 750 mil no Brasil. Com isso,
NEGÓCIOS CAPA
o Brasil já pode ser considerado como o
quarto maior mercado de automóveis
do mundo, atrás apenas de China, EUA e
Japão. Para este ano, a perspectiva é a de
alcançar quase 3,5 milhões de veículos
vendidos, o dobro de 2005 e um avanço
de mais de 8% em relação a 2009. Até
2016, e se a rotação da economia conti-
nuar alta como está, o Brasil deve supe-
rar o Japão e registrar a terceira posição,
com uma demanda que pode chegar a
5 milhões de veículos. E tem tudo para
saltar da atual posição de sexto maior
produtor de veículos do mundo para
quinto, ou mesmo quarto, disputando o
posto com Coreia do Sul e Alemanha.
1
POR GIULIANO AGMONT, DE SÃO PAULO
Maio, 2010 AméricaEconomia 35
carros compactos e seus derivados, que
respondem por quase 80% do market
share nacional. Hoje, as 20
plantas das 14 montado-
ras do Brasil têm capaci-
dade instalada de cerca de
4 milhões de veículos por
ano. Segundo a Anfavea
(Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos
Automotores), em quatro
anos, o país terá condições
de produzir 6 milhões de
veículos. Nesse período,
de 2010 a 2013, somente o
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econô-
mico e Social) planeja inje-
tar cerca de US$ 17 bilhões
para empreendimentos
da indústria automobilís-
tica, com destaque para as
novas unidades das asiáti-
cas Toyota e Hyundai, em
Sorocaba e Piracicaba, no
interior de São Paulo, além da expansão
das fábricas das quatro líderes de mer-
cado, que também dispõem de recursos
de suas matrizes: Fiat, Volkswagen, Ge-
neral Motors e Ford.
Esta nova realidade pressiona a pro-
dução das montadoras e impulsiona um
novo ciclo de investimentos bilionários
por parte de fabricantes e fornecedores
de autopeças, com foco, sobretudo, em Foto
: 1 -
Divu
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Gon
zalez 2
JAIME ARDILA, DA GM: RENOVAÇÃO
DE PORTFÓLIO NO PAÍS
FORTALECIDOAssim como em outros países emer-
gentes, o setor automotivo brasileiro
saiu da crise melhor do que entrou.
Além da solidez dos alicerces macroe-
conômicos construídos nesta última
década e meia, contribuíram para a
retomada das vendas as medidas anti-
cíclicas adotadas pelo governo, como a
redução do IPI (Imposto sobre Produtos
Industrializados) e a oferta de crédito
por intermédio de bancos públicos. E,
também, o esforço da indústria auto-
mobilística em repassar os benefícios
para o consumidor. Para o consultor
Paulo Cardamone, vice-presidente da
CSM Worldwide, a disponibilidade de
crédito, associada à queda de juros,
ainda que insufi ciente, permitiu o cres-
cimento contínuo desse mercado desde
2002. “A oferta de fi nanciamentos hoje
é dez vezes maior do que era em 2000, o
que refl ete a confi ança do mercado.”
O professor José Roberto Ferro, presi-
dente do Lean Institute Brasil, acrescen-
ta a essa conta a distribuição de renda, a
queda da infl ação, o aumento do empre-
go e o crescimento do PIB. “O Brasil tem
mais gente com recursos para comprar
produtos novos e melhores.”
34 AméricaEconomia Maio, 2010
NEGÓCIOS CAPA
Foto
: 3 -
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CLEDORVINO BELINI, DA FIAT: VOCAÇÃO
BRASILEIRA PARA OS COMPACTOS
3
ASIÁTICOS NO RETROVISORAs montadoras asiáticas crescem no retrovisor dos quatro principais fabricantes de veículos do Brasil: Volkswagen, Fiat, GM e Ford. Elas pro-metem abocanhar 20% do mercado da América do Sul nos próximos dez anos. Primeiro, vieram os japoneses, que hoje têm como principais repre-sentantes a Honda e a Toyota. Depois, foi a vez dos coreanos, que ainda devem fazer bastante barulho no país com as marcas Hyundai e Kia. Agora, são os chineses que prometem invadir o mercado. Pelo menos dez marcas podem ter veículos à venda no país nos próximos dois anos.
A estratégia inicial da maioria das empresas é a de importar o veículo no modelo CKD (kits para serem montados no país em que os veículos são vendidos). Com pouco mais de dez anos de existência e quase 2 milhões de veículos produzidos, a Chery lançou, no ano passado, um utilitário esportivo produzido no Uruguai, acaba de colocar mais dois modelos importados no mercado e promete inaugurar uma fábrica no país até 2012. “Fabricaremos um compacto de R$19 mil, com freios ABS e duplo airbag de série, e um sedã completo. Teremos capacidade de pro-duzir de 150 a 200 mil veículos por ano”, diz Luis Curi, presidente da Chery do Brasil. “Nossa meta é a de atingir 7% do mercado em 2018, chegando aos 350 mil carros vendidos.”
Os chineses sabem que o grande desafi o no Brasil, além de entender a lógica fi scal e tributária, é o de vencer o preconceito contra a qualidade de seus produtos. Eles afi rmam que trarão a “Nova China” para o país, que faz computadores, TVs e celulares. Também garantem que estão escorados nos mesmos estúdios de design e fornecedores dos principais players mundiais, como Pininfarina, Bosch e Delphi. “Sabemos que não podemos errar. Nossos carros têm de satisfazer o consumidor”, reconhe-ce Curi, que garante ter conversado com 43 concessionárias para ofere-cer suporte pós-venda e promete um centro de desenvolvimento tecno-lógico no Brasil. “Já temos motores fl ex desenvolvidos pela Chery.”
Outra empresa que promete agitar o mercado é a JAC. Até o fi m deste ano, o Grupo SHC, de Sérgio Habib, ex-presidente da Citroën, importará três modelos e não descarta construir uma fábrica no Brasil. Completam a lista três parceiras do Grupo Effa Motors: a AviChina, a Harbin Hafei (que vai montar uma van e um comercial leve em Manaus) e a Lifan, além da Great Wall, trazida pela CN Auto e a BYD, que negocia com o Grupo Caoa.
Levando em conta que a taxa de
motorização do país é de um carro para
cada 7,9 habitantes, é possível entender
por que o mercado brasileiro se tornou
tão atraente para as grandes compa-
nhias, a exemplo dos demais Bric – Rús-
sia, Índia e China. Na prática, fi ca evi-
dente que esses países vão ditar o ritmo
de crescimento e desenvolvimento do
setor, já que mercados maduros como
Japão e EUA têm quase um carro por
habitante. “Essas economias renovam
sua frota, mas não têm margem para
crescer”, avalia Sérgio Reze, presidente
da Fenabrave (Federação Nacional da
Distribuição de Veículos Automotores).
Estima-se que o percentual de bra-
sileiros em condições de comprar um
carro novo saltou de 10% para 15% nos
últimos anos – o Brasil tem quase 200
milhões de habitantes, e uma frota
inferior a 30 milhões de carros. “Até
2015, teremos de 20 a 30 milhões de
novos consumidores da classe C”, ava-
lia Jackson Schneider, ex-presidente
da Anfavea (Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos Automotores).
Esse impulso, dizem os analistas,
deve fazer com que a América do Sul,
que hoje responde por cerca de 7% do
mercado mundial, aumente essa par-
ticipação em pelo menos 1% ao ano na
próxima década. Reforça essa expec-
tativa o fato de a Argentina também
viver um bom momento de vendas
de veículos, embora isso se deva mais
Maio, 2010 AméricaEconomia 35
à busca pela segurança patrimonial
diante da alta da infl ação.
EXPANSÃO À VISTAA maior carteira de investimentos no
Brasil é da Volkswagen, que programa
injetar R$ 6,2 bilhões no país até 2014.
Cerca de 40% desse montante será des-
tinado às três unidades de produção de
São Paulo, e o restante, para desenvol-
vimento de novos produtos. Com pouco
mais de 15% do total, o Brasil é
o terceiro mercado da mon-
tadora alemã, que pre-
tende tomar a lide-
rança mundial da
Toyota até 2018. A
italiana Fiat, que
detém a liderança
de veículos leves
no Brasil desde
2001 e acaba de
apresentar o novo
Uno, não havia divul-
gado seus investimentos
para a América Latina até o
fechamento desta edição. Mas a empre-
sa desembolsou R$ 5 bilhões entre 2008
e este ano para ampliar sua capacidade
de produção de 700 mil para 800 mil
veículos por ano no Brasil. Consideran-
do a planta de Córdoba, na Argentina, a
Fiat tem capacidade instalada para fa-
bricar 1 milhão de veículos por ano na
região. “O Brasil detém 33% das vendas
e 20% do faturamento do Grupo Fiat, o
que demonstra a vocação do país para
carros compactos, com valor agregado
mais baixo”, diz Cledorvino Belini, pre-
sidente da Fiat do Brasil e responsável
pelo Grupo Fiat na América Latina, e
recém-empossado presidente da Fena-
brave. O executivo não confi rma, mas
está praticamente certo que a Fiat vai
produzir o Cinquecento na unidade da
Chrysler no México.
A General Motors manteve inal-
terado seu cronograma de in-
vestimentos no país, de R$
5 bilhões para o período
entre 2008 e 2012,
com liberação anu-
al de R$ 1 bilhão. O
mercado brasilei-
ro é o terceiro mais
importante para a
GM, atrás de EUA e
China. Já a marca
Chevrolet tem o se-
gundo maior mercado
global no Brasil, perdendo
apenas para o norte-america-
no. “Esses investimentos nos permi-
tirão ampliar a capacidade produtiva
e renovar o portfólio de veículos para
atender essa demanda”, estima Jaime
Ardila, presidente da General Motors
do Brasil e Mercosul.
A Ford também anunciou um apor-
te bilionário para o Brasil. Em visita ao
país no início do ano, Alan Mulally,
novo presidente mundial e CEO da
companhia, anunciou um
aumento de R$ 4 bilhões
para R$ 4,5 bilhões no pe-
ríodo de 2011 a 2015 em
infraestrutura no país, de
um total de R$ 5,5 bilhões
previsto para a América
do Sul. “Implantaremos
no Brasil plataformas de
veículos globais, e apos-
tamos em um crescimen-
to desse mercado acima
do PIB”, disse Mulally, na
capital paulista.
GLOBAL COMPACTOOs carros globais são uma
tendência irrefreável do setor automobi-
lístico. As montadoras cada vez mais vão
investir em soluções que atendam dife-
rentes mercados. No Brasil, parece ine-
vitável que os fabricantes invistam no
nicho do carro compacto para aproveitar
o lastro de mercado. As quatro grandes já
fazem isso: brigam nessa categoria o Gol,
da Volks; o Fiesta e o Ka, da Ford; o Palio
e o Uno, da Fiat; e o Corsa e o Celta, da
GM. Toyota e Hyundai, que devem estar
produzindo até 2013, prometem lançar
modelos compactos também. “Mas é
preciso incrementar o conteúdo tecno-
lógico nos carros para o Brasil atingir os
patamares internacionais de exigência.
Estamos muito defasados em questões
como segurança e emissão de CO2”, aler-
ta Paulo Cardamone, da CSM.
Maior montadora do mundo, a
Toyota ainda tem participação rela-
tivamente tímida no Brasil. Isso de-
monstra a cautela e a cadência com que
os japoneses exploram seus mercados,
bem como a prioridade global dada pe-
la matriz. Nos últimos anos, os gastos
da Toyota se concentraram em outros
países, e só agora a equipe de enge-
nharia da empresa está livre para se
dedicar mais ao Brasil. “Paralelamente,
os dirigentes da montadora esperavam
o Corolla ser líder de sua categoria no
país e bater a Honda, assim como já
acontecia com a Hilux, para justifi-
car o investimento. Em 2009, o Corolla
superou pela primeira vez o Honda
6,2bilhões de reais é a
previsão de investimento
da Volks
34 AméricaEconomia Maio, 2010
da Assessoria mostra que o excesso
de capacidade de produção global,
associado à rápida apreciação cam-
bial do Real, impõe desafios sig-
nifi cativos à competitividade das
empresas. O chamado Custo Brasil,
que envolve principalmente buro-
cracia, infraestrutura, juros e carga
tributária, precisa cair para dar
condições de igualdade aos fabri-
cantes instalados no país. O capital
também é muito caro, difi cultando
empréstimos. Assim como os cus-
tos de matéria-prima.
“O fato de o mercado estar bem
não signifi ca que a indústria tam-
bém esteja”, pondera Letícia Costa,
responsável pelo estudo. O setor de
autopeças, por exemplo, terá um
déficit entre importação e ex-
portação de R$ 3,5 bilhões,
podendo chegar a R$ 4
bilhões em 2011. “O
faturamento do
setor é o mesmo
há décadas”, diz
Arnaldo Frederico
Meschnark, presi-
dente da Sindiforja
(Sindicato Nacio-
nal das Indústrias
de Forjaria). A falta de
mão de obra especializada
é outro drama vivido por esse
setor, que responde por mais de 25% do
PIB industrial do país e cerca de 5 a 10%
do PIB geral.
Tal cenário, além de criar gargalos
pontuais diante de picos de deman-
da, pode enfraquecer o setor manu-
fatureiro e estimular a montagem de
carros com peças produzidas fora do
país, limitando a capacidade da ca-
deia produtiva, responsável por levar
a matéria-prima aos chamados “sis-
temistas” e às montadoras. Por isso, o
mercado aposta, e espera, que entrem
na agenda do próximo governo bra-
sileiro, além das reformas política e
tributária, investimentos em infraes-
trutura e mais medidas de estímulo ao
crédito, sem que a euforia em torno do
pré-sal inviabilize esse processo.
NEGÓCIOS CAPA
Civic e criou condições para a vinda
dos investimentos”, explica o consultor
José Roberto Ferro, apesar do problema
relacionado com o recall do modelo (ver
box na página ao lado).
O motor é outro quesito importan-
te. Mais da metade dos automóveis
emplacados hoje no país é 1.0 litro. Os
outros 50% são versões principalmente
1.4 e 1.6, e a minoria, 2.0 ou mais. Os
modelos fl ex, que permitem abasteci-
mento com gasolina ou álcool, repre-
sentam mais uma tendência. Cerca de
90% dos veículos vendidos no país têm
motor fl ex, e já respondem por mais de
30% da frota. Ou seja, todos os fabrican-
tes que exploram o mercado brasileiro
precisam oferecer carros com motor bi-
combustível, inclusive pelo apelo eco-
lógico. Justamente por isso, os motores
elétricos ainda são no Brasil, bem como
na maior parte do mundo, muito mais
tendência do que realidade.
Uma das primeiras propostas que
parecem mais consistentes quanto aos
carros movidos a eletricidade partiu da
aliança Renault-Nissan. O grupo franco-
nipônico anunciou uma parceria com
a Prefeitura de São Paulo para estudar
a viabilidade de utilização de veículos
elétricos na capital paulista. A ideia é
avaliar, entre outros itens, a infraes-
trutura para implanta-
ção da rede de recarga
dos veículos, além
do modelo mais
indicado para o
projeto. A Renault-
Nissan deve lan-
çar seu primeiro
veículo elétrico, o
Leaf, ainda neste ano
nos mercados dos EUA e
do Japão. Caso o projeto em
São Paulo vingue, o prefeito
Gilberto Kassab prometeu encomendar
um lote de carros elétricos à CET (Com-
panhia de Engenharia de Tráfego). “A
viabilidade do carro elétrico no Brasil de-
pende de incentivos públicos”, defendeu
o CEO da aliança Renault-Nissan, Carlos
Ghosn, em evento da comunidade liba-
nesa, realizado na capital paulista, em
abril. “Já temos acordos com cerca de 50
governos no mundo todo”, afi rmou.
TERRENO ACIDENTADOO otimismo em torno do Brasil é notó-
rio. Mas o motor desse mercado pode
começar a falhar se alguns reparos não
forem feitos. As barreiras à competi-
tividade fora dos portões das fábricas
podem jogar água no reservatório de
óleo do setor. Um estudo feito pela Pra-
90%dos carros
vendidos no Brasil são fl ex
Maio, 2010 AméricaEconomia 35
A ONDA DE RECALL A Toyota protagonizou o maior recall da história da indústria automobilística e defl a-grou uma onda de convocações para repa-ros de defeitos de fábrica também por parte de outras montadoras. A empresa japonesa já teve de retirar das ruas para consertos mais de 8 milhões de veículos, quantidade superior à que vendeu no ano passado em todo o mundo.
Tudo começou com um alerta emitido pelo órgão de controle de segurança veicular nos EUA sobre um problema nos tapetes de alguns modelos, que virou uma bola de neve até se constatar que a falha era no pedal. No Brasil, as consequências para a empresa, que sempre foi reconhecida pela qualidade de seus carros, foram ainda mais graves. O Ministério Público de Minas Gerais proibiu a venda do Corolla no estado até que a fabricante trocasse os tapetes dos carros em circula-ção. Como resposta, a fabricante tomou a iniciativa de realizar uma campanha de “chamamento preventivo”. “A medida pode ter sido considerada drástica, mas é um alerta para que as empresas comecem a se mexer quando for preciso anunciar um recall”, avalia Eduardo Tomiya, diretor da consultoria de gestão de marcas BrandAnalytics. Ele lembra o caso do Fox, que gerou repercussão em 2008, quando alguns proprietários tiveram os dedos das mãos arrancados ao abaixar o banco traseiro do veículo. “Na época, a Volkswagen disse que os clientes deveriam ter lido o manual, e se eximiu da culpa, o que não deveria ter acontecido”, diz Tomiya. Neste caso, o analista afi rma que o melhor a fazer é ser transparente com o consumidor, expli-cando as causas do problema e o que a empresa está fazendo para resolvê-lo.
Mas o movimento de recalls foi além de Toyota e Volks. A Honda promoveu um deles no início deste ano, em quase meio milhão de veículos em todo o mundo, para reparos nos sistemas de airbags. Na se-quência, GM e Nissan também anunciaram seus recalls.A primeira convocou donos de mais de 1 milhão de ve-
ículos Chevrolet e Pontiac, nos EUA, Canadá e México, para consertar problemas no sistema de direção. E a se-gunda fez um chamamento envolvendo cerca de meio milhão de carros para reparar problemas no pedal de freio e no medidor de tanque de combustível.
No Brasil, o Ministério da Justiça determinou, no iní-cio deste ano, que a Fiat fi zesse o recall do modelo Stilo, que estaria causando acidentes por desprendimento da roda traseira. A montadora convocou pelo menos 50 mil veículos fabricados entre 2004 e 2008.
Segundo Tomiya, é difícil mensurar com exatidão de que forma essa onda impactou no orçamento das montadoras, já que ela ocorreu justamente em um mo-mento aquecido para o setor no Brasil, mas ele garante que “um erro como esse pode colocar em risco todo o investimento em marketing de uma empresa”.
Os analistas reconhecem que as imposições do mer-cado obrigam as montadoras a trabalhar no limite. Isso leva a altas taxas de lançamento de veículos, redução do tempo de desenvolvimento de produtos e emprego de tecnologias cada vez mais novas. Do outro lado, a pressão dos consumidores e a rapidez com que as in-formações circulam na internet tornam a cobrança em torno das normas de segurança cada vez maior. “Está mais difícil omitir problemas”, diz o consultor José Ro-berto Ferro, do Lean Institute. “Mas é um procedimento normal feito pelo setor, que é aceito pelo mercado e continuará acontecendo.” Segundo ele, o segredo para não criar problemas mais graves de imagem é dar res-postas rápidas e proporcionais ao impacto causado por eventuais defeitos de fábrica, algo que passou a ser feito por muitas montadoras depois que a Toyota não o fez.
(Colaborou Graziele Dal-Bó)
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34 AméricaEconomia Maio, 2010
FÁBRICA DA
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VIRADA DA HERING: INVESTIMENTO
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NEGÓCIOS TÊXTIL
Veja como três empresas da cadeia têxtil brasileira conseguiram reinventar seu negócio
para combater o declínio das vendas
MÁRCIA VAISMAN, DE FLORIANÓPOLIS
H ering, Dalila e Lancaster são
companhias que têm mais
em comum do que a locali-
zação em Santa Catarina. Em meados
desta década, as três – respectivamen-
te, uma confecção, uma fabricante de
malhas em rolo e uma estamparia –
passavam por uma fase ruim, com dí-
vidas e estagnação nas vendas. Graças
a um processo de reinvenção de seus
negócios, as semelhanças entre elas
não param por aí: todas se recupera-
ram e crescem mais de 20% ao ano.
Dos três casos, a intervenção mais
forte parece ter acontecido na centená-
ria Hering. Até 2005, ela era uma em-
presa endividada. Um estudo realizado
com 1,8 mil pessoas, em vários estados
brasileiros, tampouco apontou um bom
diagnóstico para a marca: era pouco
conhecida fora de São Paulo e Santa
Catarina, e seu produto era considerado
caro e sem apelo de moda. Ou seja: pa-
recia o fi m dos dias da camiseta branca
da etiqueta com dois peixinhos.
Depois de registrar prejuízo de
R$ 17,7 milhões em 2004, a empresa
passou a renegociar suas dívidas, in-
cluindo US$ 76 milhões dos títulos
negociados no exterior e um passivo
junto ao BNDES, abriu mão do controle
acionário para capitalizar a companhia
e mergulhou em um agressivo plano de
negócios, com ajuda da Bain Company
Consulting. “Digo que 2007 foi o ano da
transpiração, pois partimos para uma
estratégia de tirar o fôlego”, lembra o
presidente da companhia, Fábio Hering
(veja entrevista na pág. 36).
Com o valor arrecadado, a empresa
foi para o ataque: aumentou o núme-
ro de lojas de 151 para 276, a maioria
franqueada, investiu em peças de mo-
da e muita publicidade e estudou um
reajuste de preço em seus produtos
que, em alguns casos, chegou a uma
redução de 30%.“Tornamos os produ-
tos mais acessíveis, agregando valor
sem reduzir a margem de lucro”, conta
Hering.
Maio, 2010 AméricaEconomia 35
ANDRÉ KLEIN, DA DALILA: SOLUÇÃO ESTAVA
EM APRIMORAR CRIAÇÃO E MARKETING
A margem de lucro, positiva há cin-
co anos consecutivos, tem como base a
maior escala de produção. Mas se enga-
na quem pensa que a camiseta Hering
foi deixada de lado. A diferença está na
valorização de todas as outras peças
e na preocupação em reduzir o tempo
entre cada lançamento. “Há seis cole-
ções por ano, e, a cada duas semanas,
produtos novos estão nas vitrines”, diz
Gracila Camargo, analista de Relações
com Investidores da Hering.
A mudança não parou por aí. A
empresa, que tinha 12 marcas em seu
portfólio e concentrava parte de sua
produção para atender marcas inter-
nacionais, como Zara, Armani e GAP,
abandonou o private label e enxugou
sua carteira. Hoje, a Hering mantém
apenas quatro marcas: Hering, Dzarm
– para jovens –, PUC e Hering Kids, am-
bas focadas no público infantil.
Para fechar seu plano de negócios, a
companhia também retraiu sua atuação
no exterior: abandonou operações como
a que tinha no Oriente Médio e hoje se
concentra exclusivamente na América
Latina – nas lojas que possui no Uruguai
(5), Venezuela (4), Paraguai (3), Bolívia (2),
além de uma nas Antilhas Holandesas –,
onde quer concentrar seu foco ao menos
pelos próximos três anos.
NOVAS ESTRATÉGIASA busca de valor agregado não foi a so-
lução encontrada apenas quando o foco
direto estava no consumidor fi nal. Isso é
o que mostraram a Lancaster Benefi cia-
mentos Têxteis e a Dalila Têxtil, que, por
meio do programa Santa Catarina Moda
Contemporânea, que atualmente reúne
16 empresas, puderam trocar experi-
ências com outras parceiras do setor e
elaborar sua estratégia de recuperação.
No caso da estamparia e tinturaria
Lancaster, o pulo do gato foi substituir o
puro sistema de venda de hora/máqui-
na para as empresas de confecção, que
chegavam com seus próprios desenhos,
por outro que implicou a contratação de
designers próprios, que também passa-
ram a se envolver no desenvolvimento
de estampas. “Agora, nosso grupo pensa
os conceitos e as tendências de estampas
e cores ao lado da equipe de desenvol-
vimento dos nossos clientes”, comenta
André Luiz Lobe, um dos diretores da
empresa. Hoje, a Lancaster é a única
de seu segmento a patrocinar desfi les
da São Paulo Fashion Week, como os
de Alexandre Herchcovitch e Ronaldo
Fraga. O resultado dessa mudança? Uma
companhia que, apesar de não revelar
faturamento, cresce por volta de 20% ao
ano. “Há apenas cinco anos, não apre-
sentávamos crescimento, e hoje arrisco
dizer que somos a maior estamparia do
Brasil voltada a terceiros. Hoje eu ganho
vendendo moda”, enfatiza o diretor.
Na Dalila, que fabrica tecidos em
rolo para as confecções, a falta de rumo
na busca de um diferencial também
era evidente quatro anos atrás, refl e-
tindo diretamente nos resultados da
empresa. “Sempre pensamos em tra-
balhar com produtos diferenciados,
mas não sabíamos como. Fugíamos
das commodities, mas nosso produto
não tinha uma identidade”, afi rma o
presidente da empresa, André Klein da
Silva. Na inquietude de seus 26 anos, o
empresário afi rma que só encontrou
solução quando passou a investir em
melhorias na área de criação e marke-
ting, além de mudanças na gestão in-
dustrial para atender ao nível de servi-
ço desejado por esse mercado. Hoje em
dia, a Dalila desenvolve coleções, fala
de tendências e mostra o resultado em
desfi les itinerantes pelo país. Isso é raro
no segmento de atuação de malharia
em rolo. “Quando passamos a vender
informação de moda, tivemos um salto
nas nossas receitas”, diz. A empresa,
que faturou R$ 106 milhões em 2009,
espera crescer 40% ao ano e planeja,
até 2013, estar entre as cinco maiores
malharias do Brasil.
2
Mudança de hábitoantes depoisempresa
Hering Foco commodity e private label para o exterior
fortalecimento de marca própriae conceito de valor agregado com redução de preço
Funcionários 5.000
produto sem diferenciação
400
melhoria em criação e marketing e equipe de vendas
produçãohora/máquina
diferenciaçãode produto
540
250 315
6.000
acima de 30%–
acima de 40%–
20%–
Projeção de crescimento
Foco
Funcionários
Projeção de crescimento
Foco
Funcionários
Projeção de crescimento
Dalila
Lancaster
36 AméricaEconomia Maio, 2010
POTENCIAL RENOVADO
Foto
: Divu
lgaçã
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NEGÓCIOS ENTREVISTA
AméricaEconomia Quais foram os principais desafi os no processo de reestruturação da empresa? Fabio Hering Nas últimas duas déca-
das, tivemos de sair do modelo de in-
dústria para o de uma gestão focada em
negócios, no varejo e na construção das
nossas marcas próprias. Isso criou as ba-
ses para um modelo de crescimento que
vem tendo sucesso há alguns anos.
AE Há alguns anos, o senhor admitiu que a transição demorou mais do que o esperado. O que motivou isso? Hering Do fi m da década de 1990 até
2005, vivíamos um ambiente macroeco-
nômico no Brasil que não permitia que a
empresa crescesse. O custo do capital era
elevado, e tínhamos dívidas. Passado o
pior momento, o país fi cou mais estável
e foi apresentando boa perspectiva de
crescimento. Desde 2007, conseguimos
pensar em um plano de negócios para
voltar a crescer agressivamente.
Prestes a completar 130 anos, a Cia. Hering passou por diversas fases e muitos
desafi os. Ficou endividada, perdeu mercado e demorou a encontrar seu foco de
atuação. Com o passar dos anos, seu produto de prateleira, a camiseta básica,
foi perdendo atratividade. Atrelada a problemas macroeconômicos, a empresa
afundou-se em dívidas e teve seu faturamento encolhido em cerca de 50%. Em
2005, entretanto, uma nova estratégia colocou a Hering em outro patamar. Basta
ver os números. Seu faturamento atingiu a marca de R$ 877 milhões em 2009, com
crescimento de 39,4% em vendas e ebitda de R$ 154 milhões. “Ainda há oportuni-
dades interessantes no mercado”, diz o presidente da empresa, Fabio Hering, em
entrevista à AmericaEconomia.
MARCIA VAISMAN, DE FLORIANÓPOLIS
FOTO: PATRICK RODRIGUES
AE Qual o resultado registrado? Hering Há dez trimestres crescemos
mais de 20%, e ainda há muito potencial
para atuarmos nesse mercado.
AE Quais são as novas estratégias de mercado da Hering para vencer o prazo das metas estabelecidas pela consultoria que vocês contrataram? Hering Até 2012, pretendemos estar
com 405 lojas Hering no país (hoje são
276), fora as multimarcas e as outras
que trabalhamos, como Dzarm, PUC
e Hering Kids. A partir daí, queremos
desenvolver um plano de negócios para
cada marca, já que nos concentramos
inicialmente na Hering, que era a mais
conhecida do consumidor. Paralela-
mente, podem surgir oportunidades
interessantes. Não estou falando que
pretendemos adquirir novas empresas,
mas estamos atentos ao movimento do
mercado. Tudo vai depender da oportu-
nidade e do momento.
Maio, 2010 AméricaEconomia 37
Foto
: Divu
lgaçã
o
AE Vocês decidiram encerrar a pro-dução para as marcas estrangeiras e investir nas próprias. Foi uma deci-são acertada? Hering Ninguém constrói uma prote-
ção de suas mercadorias com marcas de
terceiros. Nos últimos 15 anos, atuamos
fortemente em private labels porque a
economia interna era difícil, os juros,
altos, e havia forte oscilação na moeda
estrangeira. Por isso, essa era uma al-
ternativa de sobrevivência. A partir de
2005, o cenário mudou, e resolvemos
concentrar nosso esforço nas marcas
próprias, construindo uma base sólida
no mercado doméstico e no exterior.
AE Por que vocês fecharam lojas no Hemisfério Norte e resolveram investir, inicialmente, apenas na América Latina? Hering Por causa da crise fi nanceira,
e até porque não era nosso target. Em
contrapartida, a Hering já é conhecida
na maior parte da América Latina. Já
temos uma boa operação no Paraguai,
no Uruguai e na Venezuela. Estamos
expandindo para Argentina, Chile e
Peru, onde já estivemos no passado.
Concentraremos nossa atuação, pelos
próximos três anos, na América Latina.
Pode haver outra expansão, mas esse
agora não é o nosso foco.
38 AméricaEconomia Maio, 2010
TRILHA AO LESTE
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NEGÓCIOS BRICS
Maio, 2010 AméricaEconomia 39
Empresas brasileiras que se instalaram na Índia colhem os frutos da aposta em custos competitivos e acesso a mercados asiáticos
ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO
TERRITÓRIO INDIANO OFERECE
DIFERENCIAIS COMPETITIVOS
PARA COMPANHIAS DO BRASIL
A distância de milhares de qui-
lômetros, as diferenças cul-
turais e o fuso horário não
foram empecilhos para algumas em-
presas brasileiras que, nesta década,
fi ncaram o pé na Índia para expandir
seus negócios, de olho no potencial
de crescimento do mercado asiático.
Hoje, o resultado de companhias como
Gerdau, WEG e Marcopolo, algumas
das principais brasileiras presentes no
país, justifi cam inclusive novos planos
e anúncios de investimentos.
Ruben Bisi, diretor de Operações
Internacionais da fabricante de ônibus
Marcopolo, com sede no Rio Grande
do Sul, aponta que os fatores de atra-
tividade da Índia não repousam ape-
nas naquele país. “O que está aconte-
cendo é que o Brasil está perdendo a
competitividade, não só para a Índia,
em função do custo Brasil”, afi rma. A
empresa atua naquele mercado por
meio de uma joint venture com a Tata
Motors, em duas unidades já em ope-
ração e com expectativa de produzir
aproximadamente 14 mil ônibus em
2010. “Em termos de produção, as duas
fábricas representarão, neste ano, em
torno de 30% do nosso volume”, afi rma
o executivo. O investimento total nas
duas fábricas foi de US$ 66 milhões,
sendo que o aporte da Marcopolo foi
equivalente à metade do valor, incluin-
do recursos próprios e fi nanciamento.
Além da valorização do Real, que
prejudica as exportações a partir do
Brasil, as empresas ainda apontam a
mão de obra qualifi cada, custos reduzi-
dos de frete e de logística e uma proxi-
midade com clientes situados na Ásia
como outras vantagens importantes.
“Com as fábricas da Índia, queremos
avançar no Oriente Médio, para o sul
da Ásia e para os vizinhos da Índia, co-
mo Paquistão e Sri Lanka”, afi rma Bisi.
PLANO DE VOOPara chegar a esse mercado, entretan-
to, não bastou arrumar as malas e par-
tir: as companhias dedicaram anos de
estudo para obter sucesso. Foi o caso da
WEG, fabricante de equipamentos elé-
40 AméricaEconomia Maio, 2010
tricos e geradores, com sede em Santa
Catarina. “Avaliou-se comprar uma
empresa, para termos uma operação
industrial na Índia”, destaca Sergio
Luis Marsiglia Sobreira, diretor de Ope-
rações da WEG na Índia. “Depois de
avaliar várias opções, optamos desen-
volver um projeto novo, começando
do zero.”
A WEG planeja investir entre US$
65 milhões e US$ 70 milhões em uma
unidade fabril que produzirá motores
e geradores de média e alta tensão na
Índia, com previsão de iniciar operação
no segundo semestre de 2010. A uni-
dade terá capacidade de produzir mais
de 300 motores ou geradores por ano.
“Existe uma vantagem imediata, que
é a de estar próximo ao mercado. Você
encurta o prazo de entrega e simplifi ca
o processo de logística”, diz Sobreira.
Há também o caso de empresas
que escolhem a rota traçada pela Mar-
copolo, trabalhando em conjunto com
empresas locais. A Faculdade Impacta
de Tecnologia (FIT), instituição de en-
sino especializada na área de tecno-
logia da informação e pertencente ao
Grupo Impacta, sediada em São Paulo,
firmou, em 2007, uma parceria com
a faculdade indiana PSG College of
Technology para a utilização da ferra-
menta Virtual Classroom Impacta (ou
classe virtual Impacta). De acordo com
o presidente do grupo, Célio Antunes,
a Impacta, atualmente, trabalha na
adaptação dessa tecnologia na PSG,
que permitirá aos seus alunos acessar
em um ambiente virtual o conteúdo
de aulas presenciais.
“Se somarmos investimentos em
carga horária, no trabalho com os pro-
fessores e na adaptação da tecnologia,
esse valor deve alcançar aproximada-
A Índia atraiu
empresas brasileiras
sobretudo nas áreas
de siderurgia,
transporte, educação
e infraestrutura
mente R$ 500 mil”, afi rma o presidente
do grupo, que faturou R$ 40 milhões no
ano passado e está de olho em novos
mercados para crescer. “Essa tecnologia
poderá ser implementada em qualquer
lugar do mundo, não só na Índia.”
Outro exemplo, de peso, é o do gru-
po Gerdau, que possui operações em
mais de dez países e capacidade insta-
lada superior a 20 milhões de toneladas
de aço. A empresa fechou uma joint
venture, em 2007, com o Grupo Kalyani,
para operar uma planta siderúrgica
naquele país. “A Índia foi eleita pela
Gerdau para ser a porta de entrada no
continente asiático por se tratar de um
mercado extremamente promissor,
principalmente pelo enorme potencial
de crescimento no consumo de aço”,
afirmou André Gerdau Johannpeter,
CEO da companhia.
ACIMA, RUBEN BISI, DA MARCOPOLO. À DIREITA,
O PRESIDENTE DA TVS, HARDIP SINGH GOINDI, E
O PRESIDENTE DA DAFRA, CRESO FRANCO
NEGÓCIOS BRICS
2
3
Maio, 2010 AméricaEconomia 41
A Gerdau planeja desembolsar,
no total de suas operações, R$ 9,5 bi-
lhões, entre 2010 e 2014. “Na Índia,
estão sendo realizados R$ 88 milhões
em investimentos neste ano”, diz o
CEO. O aporte será para um laminador
com capacidade instalada de 300 mil
toneladas, voltado à produção de aços
especiais e vergalhões. A previsão é de
que o equipamento entre em operação
em 2011.
Bisi, da Marcopolo, destaca a impor-
tância de chegar a um novo território
com o apoio de um parceiro local. “Eu
diria que uma joint venture facilita mui-
to, pois deixamos de ser vistos como um
estrangeiro chegando, mas como sócio
de uma empresa local. Portanto, somos
muito mais bem recebidos. A velocidade
como as coisas acontecem é completa-
mente diferente do que se estivéssemos
sozinho. Diria que é uma questão de
dividir um pouco o lucro, mas também
dividir um pouco o risco”, diz.
PRÓXIMOS PASSOSO território indiano deve continuar na
rota de empresas brasileiras que bus-
cam diferenciais competitivos e custos
atraentes. “A Índia é um país que tem,
assim como o Brasil, necessidade de de-
senvolver sua infraestrutura para con-
tinuar crescendo, como estradas, portos,
aeroportos, energia elétrica, indústria
de aço, cimento, óleo e gás, todas as áre-
as que têm potencial de crescimento”,
diz Sobreira, da WEG.
“Os investimentos programados já
demonstram nossa intenção de expan-
são no país”, afi rma Johannpeter, CEO
da Gerdau. “A dinâmica de crescimento
dos mercados indiano e asiático como
um todo determinará os investimentos
adicionais a serem realizados na Índia.
Entretanto, não estamos planejando
realizar novas aquisições no país.”
Apesar do avanço das empresas
brasileiras, alguns executivos acham
que o apetite das empresas indianas
para investir no Brasil é maior do que
o das empresas brasileiras de se ins-
talar na Índia. “O interesse é muito
forte, principalmente em setores como
açúcar e minério”, afi rma Roberto Pa-
ranhos do Rio Branco, presidente da
Câmara de Comércio Brasil-Índia.
ANDRÉ GERDAU JOHANNPETER: A GERDAU
TEM OPERAÇÃO NA ÍNDIA DESDE 2007
CAMINHO INVERSO
Empresas indianas enxergam o potencial do mercado brasileiro. A fabri-
cante de motocicletas TVS Motor Company fechou uma parceria com
a brasileira Dafra Motos para a fabricação do modelo Apache RTR 150.
“Houve um investimento de cerca de US$ 1 milhão, tendo em vista que
o investimento mais pesado já foi feito durante o processo de implanta-
ção das linhas de montagem da Dafra em Manaus”, afi rma Creso Franco,
presidente da Dafra. “A fabricação de produtos TVS em nossa fábrica vai
nos proporcionar contato com novas tecnologias, tanto em processos
quanto em produtos, e nos levará a um excelente patamar em pesquisa
e desenvolvimento.”
Já o Instituto de Pesquisa & Desenvolvimento Brisa, com sede em Brasília,
é outro exemplo de sinergia entre os dois países do Bric (grupo de países
emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China). Realizou um inter-
câmbio com engenheiros indianos para trabalhar em projetos de adap-
tação de produtos para o mercado local para a fabricante de eletrônicos
LG. Os engenheiros fi caram no Brasil entre janeiro e julho de 2007 e, de
acordo com Katia Argolo de Castro, diretora de Operações do instituto,
a experiência foi positiva e pode se repetida. “Os indianos são pessoas
extremamente interessadas e dedicadas. São também muito técnicos e
sistemáticos, têm um método de trabalho que visa à melhor qualidade
do que se está fazendo,” diz.
O certo é que, independentemente
do destino, o fl uxo de investimento di-
reto que sai da Índia para outros países
tem registrado um crescimento signifi -
cativo nos últimos anos, indicando um
forte impulso de internacionalização
das empresas do país. Segundo estudo
do Ipea (Instituto de Pesquisa Econô-
mica Aplicada), divulgado em abril,
o investimento estrangeiro direto da
Índia saiu de um fl uxo médio de US$
1,7 bilhão ao ano, entre 2000 e 2005,
para mais de US$ 16 bilhões anuais
entre 2006 e 2008.
“Os brasileiros sempre foram mais
tímidos para serem internacionais”, diz
Rio Branco, afi rmando que a Índia deve
receber investimentos pesados na área
de infraestrutura, o que amplia o inte-
resse de empresas estrangeiras.
De qualquer forma, enquanto os
indianos estudam nosso mercado,
as empresas brasileiras já estão co-
lhendo os frutos de ter chegado antes
à Índia, acumulando experiência na
bagagem que levam em seu processo
de internacionalização.
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42 AméricaEconomia Maio, 2010
CLIMA DE INCERTEZADecisão da Casas Bahia de rever acordo com o Pão de Açúcar gera impacto negativo no mercado
ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO
MICHEL KLEIN, DA CASAS BAHIA (À
ESQUERDA), E ABILIO DINIZ, DO PÃO DE
AÇÚCAR: EM BUSCA DO FINAL FELIZ Foto
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NEGÓCIOS VAREJO
A nalistas de mercado foram
pegos de surpresa em mea-
dos de abril, quando a Casas
Bahia solicitou ao Grupo Pão de Açúcar
a revisão do acordo de fusão entre as
duas companhias, divulgado no fi nal de
2009. Um assunto que parecia encerrado
e não demandaria outro esforço de Abi-
lio Diniz, do Pão de Açúcar, Michel Klein,
da Casas Bahia, advogados e assessores
para encontrar um novo ponto fi nal.
Até o fechamento desta edição, Pão
de Açúcar e Casas Bahia não tinham
manifestado uma decisão. “Do ponto de
vista econômico, isso não faz sentido”,
afi rma Eugenio Foganholo, diretor da
Mixxer, consultoria especializada em
varejo e bens de consumo. “Parece mais
uma jogada de negociação (da Casas
Bahia) do que qualquer outra coisa.”
Apesar das incertezas sobre o rumo das
conversas, o diretor da Mixxer achava,
em meados de abril, que a fusão seguiria
em frente. “Tenho a impressão de que a
chance de haver continuidade dessa
compra é muito grande, pois os custos
envolvidos em uma rescisão, para todas
as partes, e a repercussão no mercado,
seriam extremamente negativas”.
Acordos de fusões e aquisições, se-
gundo analistas, podem ser desfeitos
quando uma das partes se sente em
desvantagem ou quando ocorre uma
mudança das condições de mercado
vigentes, como a crise fi nanceira mun-
dial, que abalou os mercados e mexeu
com o capital de diversas companhias.
“Às vezes, acontece de empresas desfa-
zerem um acordo. Não é normal, mas
acontece”, afi rma Cauê Pinheiro, ana-
lista de varejo da SLW Corretora.
Pinheiro cita o caso da Lojas Renner,
que, em 2008, anunciou a aquisição da
rede varejista Leader, com atuação no
Nordeste e Sudeste do Brasil. Meses
depois, a Renner alegou alteração no
cenário econômico-fi nanceiro brasilei-
ro e mundial para desistir da compra.
No caso da fusão entre Pão de Açú-
car e Casas Bahia, o analista é otimista,
mas, cauteloso. “Acho que há chances
de ser desfeito, mas aposto numa mu-
dança das condições do acordo, que
fi que melhor para a Casas Bahia.”
CAPITAL HUMANOAlguns especialistas alertam que, em
casos de grandes fusões e aquisições,
as empresas devem ter cuidado es-
pecial não somente com ganhos ope-
racionais, melhor competitividade e
acesso a novos mercados. “Os proces-
sos de due dilligence, de forma geral,
têm um foco muito grande na área
financeira e nos aspectos mercado-
lógicos. E muitas vezes não dão uma
atenção especial a aspectos culturais,
que estão associados a essas empresas.
Porque, no fi nal, quem vai fazer a di-
ferença são as pessoas”, diz Waldemir
Bulla, sócio-diretor da Protiviti Brasil,
consultoria especializada em geren-
ciamento de riscos, auditoria interna e
governança corporativa.
Uma rescisão do contrato teria im-
pacto negativo para os dois lados, di-
zem analistas. O mercado espera ansio-
so que o resultado dessas negociações
devolva o sorriso que os presidentes
de Pão de Açúcar e Casas Bahia estam-
pavam no rosto no dia do anúncio da
fusão de seus ativos.
44 AméricaEconomia Maio, 2010
MOVIMENTOS
O otimismo está estampado nos olhos de Lakshmi
Mittal (foto), CEO da ArcelorMittal, siderúrgica com
sede em Luxemburgo que produziu 73,2 milhões
de toneladas de aço bruto no ano passado. Ou seja,
aproximadamente 8% da produção mundial. “Ve-
mos recuperação em mercados como Argentina
e México. Mas não estamos vendo isso no México
como vemos no Brasil,” disse à AméricaEconomia o
principal executivo da empresa, durante visita a São
Paulo, em meados de abril.
Somente no Brasil, a ArcelorMittal tem planos de
desembolsar cerca de US$ 5 bilhões em até quatro
anos, com foco no incremento da produção de aço
e de minério de ferro. A siderúrgica planeja aumen-
tar a produção de suas minas brasileiras, que foi de
4 milhões de toneladas em 2009, para 5 milhões
de toneladas neste ano. A meta é a de alcan-
çar 15 milhões de toneladas de minério de
ferro até 2015. A ArcelorMittal tem como
objetivo global aumentar a sua autossu-
fi ciência nessa matéria-prima de 64%
em 2009 para 75% em 2015. ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO
FÉ DE AÇO
1
Maio, 2010 AméricaEconomia 45
COM GELO, POR FAVORA crise econômica não foi sufi ciente para matar o
hábito de degustar um bom uísque. As exportações
dessa bebida representaram uma injeção de US$ 5
bilhões na economia do Reino Unido em 2009, recor-
de histórico quando se trata desse destilado. O Brasil
foi um dos mercados emergentes que registraram
maior aumento de consumo, 44%, totalizando US$
93 milhões em vendas. O México, apesar da crise,
incrementou seu consumo em 25%, com vendas de
US$ 65 milhões. Entretanto, nenhum país latino-ame-
ricano superou a Venezuela, onde, apesar das voláteis
condições da economia, o consumo de uísque cres-
ceu 73%, totalizan-
do um mercado de
US$ 173,7 milhões.
Com esse resulta-
do, o país tornou-se
o único da região a
fi gurar nos destinos
“top 10” das destila-
rias escocesas. Talvez
a revolução bolivaria-
na seja mais fácil de
engolir com um bom
scotch. FELIPE ALDUNATE M., DE SANTIAGO
Consumo sem ressaca
Consumo 2009(US$ milhões)
Variação (% anual)
EUA 627,0 13
França 610,1 13
10 principais destinos de uísque escocês por valor de exportações
Fonte: Scotch Whisky Association e AméricaEconomia
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Espanha 473,7 -53
Cingapura 251,3 -94
Grécia 195,5 155
Venezuela 173,7 736
Coreia do Sul 168,8 -247
África do Sul 162,3 78
Alemanha 154,8 -79
Taiwan 127,5 1410
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REDE SÍSMICAQuando a terra começa a tremer por todo o pla-
neta, a computação em rede pode se transfor-
mar em uma grande arma. É o que defendem
Elizabeth Cochran, da Universidade da Califór-
nia, e Jesse Lawrence, da Universidade de Stan-
ford. Eles dirigem a Quake Catcher Network
(QCN, rede de captação de terremotos), iniciati-
va que busca desenvolver a maior rede sísmica
do mundo. A ideia é simples. A maior parte dos
computadores portáteis modernos tem um
sensor interno, desenhado originalmente para
proteger o disco rígido em caso de queda ou
sacudida violenta. Os sismólogos podem usar
esse sensor para detectar e medir terremotos.
No site da QCN pode-se fazer o download gra-
tuito de um software que mede as vibrações
da Terra e transmitir esses dados via internet à
central da QCN. Os desktops não têm esses sen-
sores, mas a QCN distribuiu sensores sísmicos,
os chamados acelerômetros, que se conectam
a esses computadores por meio de USB. Atual-
mente, essa rede conta com 1.660 voluntários
em todo o mundo. Os esforços da QCN se con-
centram, agora, no Chile, onde cem acelerôme-
tros foram distribuídos entre voluntários para
analisar as réplicas do terremoto de 8,8 graus
do dia 27 de fevereiro, que ainda sacodem o
país. “Não só poderemos ter estatísticas para
entender como se produzem os sismos, como
também dar alertas com mais antecedência”,
diz Cochran, de Aguas Saladas, na fronteira do
México com os Estados Unidos, epicentro de
um terremoto de 7,2 graus no começo de abril.
JUAN PABLO DALMASSO, DE CÓRDOBA
46 AméricaEconomia Maio, 2010
MOVIMENTOS
FUI AO CONGRESSO E LEMBREI-ME DE VOCÊ A Câmara dos Deputados quer acabar
com a máxima de que política no país só
traz más lembranças. Por isso, inaugurou,
no fi nal de março, uma lojinha de suveni-
res que comercializa, entre os mimos tu-
rísticos de Brasília, produtos com a marca
da Casa. Responsável pelo espaço, Mônica
Rebello diz que o movimento tem surpre-
endido. “Recebo uma média de 200 pes-
soas por dia, e as vendas vão de vento em
popa.” Mônica foi a vencedora de um pre-
gão para escolher quem comandaria o es-
tabelecimento e paga R$ 600 por mês de
aluguel à Câmara. Ela conta que os itens
preferidos da clientela – formada por tu-
ristas, servidores e até manifestantes que
chegam de outras cidades para protestar
em frente ao Congresso – são cartões-pos-
tais, canetas, camisetas e a coleção que co-
memora os 50 anos de Brasília, composta
por canecas, ímãs e caixas ilustrados com
fotos antigas da cidade. Ao contrário do
expediente dos parlamentares, a lojinha
abre de segunda a segunda, inclusive nos
feriados. GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
LÁGRIMAS E CAFEZINHO No México, um velório sem café não é velório. Segundo a
Gayosso, uma das principais agências funerárias do país, pa-
rentes são apenas 10% da frequência em um evento assim,
enquanto 90% passam apenas para socializar. Com base nes-
sa estatística, a Gayosso associou-se à rede de cafeterias que
leva o sugestivo nome de Café Punta del Cielo (Ponta do Céu)
para realizar velórios em cafés adaptados. “Os velórios têm
um componente social e, para isso, é necessário um lugar
próprio”, diz o mexicano Pablo González Cid (foto), funda-
dor da rede. Das sete cafeterias-velório que pretende instalar,
três já estão prontas, oferecendo o serviço 24 horas. Mas nem
tudo é luto nos planos do empresário. Para 2010, ele ainda
planeja expandir sua rede tradicional para a Ásia, onde abriu
recentemente uma cafeteria, em Hong Kong. “Assim como
Juan Valdez é o máximo representante do café colombiano,
nós aspiramos ser embaixadores do bom café mexicano”, diz
González, que já conta com uma loja franqueada em Madri e
planeja, em breve, chegar aos Estados Unidos. DAVID SANTA CRUZ, DA CIDADE DO MÉXICO
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Maio, 2010 AméricaEconomia 47
NO ATAQUE A Adidas domina o time do Real Madri; a Nike, o do Barcelona. A Adidas
ataca com a Argentina; a Nike, com o Brasil. Cada jogo é também
uma disputa comercial entre as duas maiores companhias de arti-
gos esportivos do mundo. A norte-americana Nike é a líder
de mercado, com US$ 19,17 bilhões em vendas em
2009, seguida pela alemã, com cerca de US$ 15
bilhões. A Adidas reconhece que não vem de
uma boa campanha. “O ano passado foi di-
fícil”, diz o alemão Herbert Hainer, CEO da
empresa, sobre a queda de
10% nas vendas e de 60% no
lucro operacional em 2009.
A única região que salvou a
companhia foi a América La-
tina. “Aí, crescemos 19%, com
vendas de 1 bilhão de euros”, diz
Karl-Heinz Maurath, vice-presiden-
te da Adidas para a América Latina.
Em ano de Copa do Mundo, a empresa
está otimista. “Como patrocinadores
ofi ciais, fornecedores e licenciado-
res, seremos a marca mais visível
durante a Copa”, afi rma Maurath. A
Adidas vestirá 12 seleções, entre
as quais também
estão a do Mé-
xico e a do Pa-
raguai. FELIPE ALDUNATE M., DE SANTIAGO
PC NA MODA A indústria de PCs tem 30 anos, mas segue vendendo 1 milhão de unidades diárias em todo o mundo. As
vendas em nível mundial cresceram 27,4% durante o primeiro trimestre de 2010, chegando a 84,3 milhões
de unidades, de acordo com a consultoria Gartner. A América Latina recebeu 7,2 milhões dessas máquinas,
um aumento de 35,4%, superado somente pelos 36,9% alcançados pela Ásia. “Foi um resultado um pouco
abaixo do esperado”, diz Mikako Kitagawa, analista da Gartner. Em nível global, a HP segue como a empresa
que mais vende no planeta, com 18,2% do mercado, seguida por Acer, Dell e Lenovo. A grande surpresa é a
Asus, companhia taiwanesa que superou a Toshiba, ocupando o quinto lugar. FELIPE ALDUNATE M., DE SANTIAGO
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44 AméricaEconomia Maio, 2010
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MOVIMENTOS
HORAS A FIO Os complexos regimes tributários dos países
latino-americanos são uma dor de cabeça
para as empresas. Segundo dados do BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento),
a América Latina é a segunda região do mun-
do em tempo gasto para preparar os paga-
mentos de impostos, superada apenas pela
Ásia Central. As empresas latino-americanas
dedicam, em média, 320 horas por ano para
preparar suas declarações tributárias, contra
177 horas em mecados de renda alta, como
os Estados Unidos e a Europa Ocidental. O
mais lento é o Brasil: em média, uma empresa
gasta 2,6 mil horas para administrar questões
relativas a impostos. VÍCTOR HERRERO, DE SANTIAGOBOM, MAS AINDA É POUCO Brasil e China assinaram, em abril, acordos para per-
mitir as exportações brasileiras de folhas de tabaco
e carne bovina ao país. Bom sinal? “Considerando
que os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) têm hoje as
economias mais dinâmicas do mundo pós-crise, isso
pode trazer ganhos a médio e longo prazos”, diz Rafa-
el de Sá Marques, presidente da Associação dos Ana-
listas de Comércio Exterior, sem demonstrar otimis-
mo. “Passou da hora de termos escritórios avançados
de comércio exterior, como fazem os grandes países
exportadores”, afi rma, dando como exemplo os EUA,
“que separaram a condução de sua política comercial
do Departamento de Estado (equivalente ao nosso Itamaraty) em 1962, quando criaram o United States
Trade Representative – USTR”, aumentando, dessa
forma, a efi ciência dos programas de promoção de
exportações. ROBERTA PREGNACA, DE SÃO PAULO
Contabilidade infernalTempo requerido para efetuar os pagamentos de impostos em 2007
0 500 1000 1500 2000 2500
horas anuaisu
Brasil
Venezuela
Equador
México
Argentina
Peru
Chile
Colômbia
Costa Rica
PRESIDENTE LULA E HU JINTAO, PRESIDENTE DA CHINA
7
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50 AméricaEconomia Maio, 2010
O VALOR DAS PEQUENASRanking das Melhores Cidades para Fazer Negócios da América Latina destaca as capitais e os municípios cujo poder de atração se encontra nas vantagens de não ser grande
AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE
N ão foi fácil para a gigante
norte-americana Procter &
Gamble (P&G) escolher para
onde levar a matriz de suas operações
na América Latina quando decidiu tirá-
la de Caracas, na Venezuela, em busca
de um ambiente de negócios mais aco-
lhedor. A companhia pesquisou as 12
cidades latino-americanas onde tem
operações – entre elas, São Paulo, Cida-
de do México e Buenos Aires, capitais de
seus maiores mercados na região. A es-
colha fi nal, entretanto, recaiu na relati-
vamente pequena Cidade do Panamá.
“A Cidade do Panamá tem uma lo-
calização estratégica e facilidades em
infraestrutura que permitem um rápi-
do acesso a vários pontos da América
Latina de forma direta”, diz Alejandra
Cobb, gerente de relações externas da
P&G. Alejandra ainda aponta os incen-
tivos fiscais e uma política migrató-
ria favorável como outras vantagens,
confirmando a eficácia das políticas
públicas panamenhas na atração de
investimento estrangeiro direto (IED),
que, em 2009, representou 10% do PIB
do país. E a P&G não está só: Caterpillar,
Adidas, Heineken, Dell e 3M estão en-
tre as multinacionais que decidiram
fi ncar os pés por lá.
Esse interesse de empresas inter-
nacionais em buscar cidades menores
ESPECIAL CIDADES
CIDADE DO PANAMÁ E CURITIBA (À DIREITA):
ESFORÇOS PARA ATRAIR INVESTIMENTOS e os esforços destas
em atraí-las levaram
a AméricaEconomia
Intelligence a desen-
volver o ranking deste
ano sob outro ponto
de vista: modifi cou-se
a metodologia que de-
fi ne o Índice de Com-
petitividade Urbana
(Icur), para reduzir a
distância entre gran-
des e pequenas na
hora de avaliar sua
competitividade.
Tal exercício foi
um dos fatores que
provocaram alguns
movimentos de des-
taque na lista, e não
apenas para a Cidade
do Panamá, que saiu
do 11º lugar no ano
passado para o sétimo
neste ano. São Paulo,
reiteradas vezes líder
do ranking, caiu para
a terceira posição. E
o Rio de Janeiro, em
12º em 2009, passou
para o quinto lugar, à
frente de Buenos Ai-
res (em sexto).
Maio, 2010 AméricaEconomia 51
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OFERTA URBANASegundo a urbanista da Universidade
de Columbia, Saskia Sassen, essa ten-
dência mundial de busca por cidades
menores se dá por um fator que ela
chama de “diferenciação especializa-
da”, em que “as cidades melhoram em
competitividade ao defi nir seu lugar
no mercado global”. Isso implica que,
para melhorar sua oferta urbana, essas
cidades médias não necessitam chegar
a um tamanho pantagruélico. Trata-se
de uma estratégia similar, diz Saskia, à
adotada por cidades como Copenhague
(Dinamarca), Zurique (Suíça) e Chon-
gqing (China).
No caso da Cidade do Panamá, Jai-
me Bocanegra, executivo da Pricewa-
terhouseCoopers, destaca que a equação
competitiva se dá “pela oferta de infra-
estrutura típica de uma urbe, com a van-
tagem de ser um município pequeno e
fácil de administrar”. Algo que depende
de dedicação para um bom planejamen-
to urbano, como é o caso de Curitiba. Seu
ex-prefeito, Beto Richa, destaca o esforço
realizado pelo urbanista e também ex-
prefeito Jaime Lerner, para desenvol-
ver um “conceito de sustentabilidade
integral, que contempla as dimensões
social, econômica e ambiental”.
Outro exemplo de destaque é a
mexicana Monterrey, que não
se inibiu diante do tamanho
da Cidade do México e, com
uma estratégia sustentável,
conseguiu transformar sua
proximidade com os Estados
Unidos em vantagem compe-
titiva para atrair negócios e
empresas multinacionais. Ho-
je, entretanto, a cidade sofre
com os efeitos da violência e
do narcotráfi co, o que a fez per-
der posições no ranking (de 10º
para 12º).
PERDAS E GANHOSMas não é apenas o tamanho
que justifica algumas mudan-
ças no ranking. A mais notória é a volta
de Miami – que, apesar de não ser lati-
no-americana, sempre foi considerada
neste estudo por concentrar muitos he-
adquarters de multinacionais para suas
operações na região – ao primeiro lugar
da lista. Suas vantagens em termos de
qualidade de vida e entretenimento
continuam presentes, além de sua loca-
lização privilegiada e conectividade –
por exemplo, com a melhor oferta aérea
entre as cidades do ranking. A novidade
neste ano é a valorização desses atribu-
tos, já que o custo relativo de operar a
partir dessa cidade foi reduzido forte-
mente em decorrência da queda do pre-
ço dos imóveis e da desvalorização do
dólar em relação à maioria das moedas
latino-americanas. Entretanto, a cidade
ainda tem como ponto negativo as res-
trições à entrada de estrangeiros, não
apenas em relação à obtenção de vistos
de trabalho como também para viagens
de negócios rotineiras. Exemplo notório
dessa difi culdade é o caso da empresa
norte-americana Boston Scientifi c, de
produtos médicos, que decidiu instalar-
se na Costa Rica (nona do ranking).
Santiago está em segundo lugar.
As vantagens da cidade estão na quali-
dade de vida, em seu marco econômico
e político, em sua infraestrutura e em
seu sistema tributário simples e previ-
sível, além do baixo custo em relação a
52 AméricaEconomia Maio, 2010
ESPECIAL CIDADES
outras metrópoles, sobretudo quando
se trata de mão de obra e bens imobi-
liários. Mesmo depois do terremoto de
fevereiro, ainda ainda são mantidos
projetos para a construção de edifícios
corporativos entre os mais altos da
América Latina. Entretanto, Santiago
ainda é percebida como uma cidade
chata, provinciana, estressada e poluí-
da, fatores que devem ser trabalhados
pelo país. Em pesquisa feita com lei-
tores de AméricaEconomia para este
especial, a pior classifi cação da cidade
é quando se trata de recomendá-la pa-
ra ser visitada.
São Paulo fica em terceiro lugar,
mas continua superando todas as ou-
tras do continente quando se trata de
seu potencial de negócios e serviços
corporativos. E tudo indica que não de-
morará a retomar a liderança geral. Os
investimentos projetados para melho-
rar a infraestrutura logística da cidade
para a Copa do Mundo de 2014 (veja
pág. 55), se concretizados, serão um
grande aporte em um dos segmentos
que mais prejudicam a capital pau-
lista: a capacidade de deslocamento
das pessoas, por conta dos grandes e
constantes congestionamentos.
A infraestrutura para eventos
olímpicos internacionais é outro fator
positivo e que ajudou a cidade do Rio
de Janeiro a ganhar muitas posições
em relação ao ranking de 2009, fi cando
Maio, 2010 AméricaEconomia 53
pela primeira vez à frente de Buenos
Aires. Enquanto a Argentina se conso-
me em um contexto político que preju-
dica a atração de investimentos, com
constantes ameaças de expropriação e
mudanças nas regras do jogo – como a
intervenção do governo argentino no
Banco Central – o Rio de Janeiro tem
profi ssionalizado sua equipe e sua for-
ma de desenvolver projetos, fator que
foi fundamental para ganhar o posto
de sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
Veja metodologia em brasil.americaeconomia.com
Copa e Olimpíada, além da explo-
ração do pré-sal, são sopa no mel para
as empresas que estão em busca de
bons projetos de investimento. Alguns
exemplos são a chegada ao Rio de Ja-
neiro da empresa inglesa de seguros
Lloyd’s, em 2009, e neste ano, o anúncio
da aterrissagem da francesa Schlum-
berg, de tecnologia. Sem contar a força
da própria Petrobras.
Felipe Góes, secretário de Desen-
volvimento do Rio de Janeiro, admite
que o principal problema da cidade
ainda é a violência. Entretanto, afi rma
que “essa tendência está se reverten-
do”, citando a política de ocupação pa-
cífi ca das favelas. Nessa disputa, o que
não falta é torcida a favor do principal
cartão-postal do país.
54 AméricaEconomia Maio, 2010
ESPECIAL CIDADES
O FATOR FUTEBOL
A corrida, agora, é contra o re-
lógio. Mas o resultado pode-
rá valer a pena. Todas as oito
cidades brasileiras que participam do
ranking de cidades de AméricaEcono-
mia estão entre as 12 escolhidas para
sediar a Copa do Mundo de 2014. Ape-
sar do atraso na tomada de decisões,
elas esperam ganhar, como herança,
um impulso em sua infraestrutura.
“Até poderemos tapar os últimos bu-
racos 15 minutos antes do apito inicial,
mas ainda dá tempo”, diz a advogada
Tatiana Campello Lopes, do Demarest
e Almeida, no Rio de Janeiro. De acordo
com um estudo realizado pelo escritório,
se conseguirem concretizar os projetos
atualmente listados para receber os jo-
gos da Copa, essas cidades terão atraído
mais de R$ 70 bilhões em investimentos.
Uma cifra invejável para um período de
apenas quatro anos. E isso sem contar o
aporte que deverá chegar das redes de
hotéis, numa estimativa de criação de
mais de 30 mil leitos adicionais.
Antes de considerar a partida ga-
nha, entretanto, todas essas cidades
terão de suar a camisa. Os projetos se
concentram, sobretudo, em três áreas:
aeroportuária, transporte terrestre e
estádios. E em todas há problemas por
resolver. No caso dos estádios, a Fifa
(Federação Internacional de Futebol) já
adiou o prazo de início dos trabalhos
de reforma e construção, e até o dia 3
de maio os projetos deverão começar.
Ainda que o caso mais midiático te-
nham sido os problemas encontrados
no projeto do estádio do Morumbi, em
São Paulo, até meados de abril o estádio
do Maracanã, no Rio – cuja reforma
deverá ser realizada através de uma PPP
(Parceria Público-Privada), com prazo
de 30 anos – , ainda não tinha edital de
licitação. No caso do Arena, no Recife,
tampouco se havia chegado a um acor-
do para sua construção, faltando até li-
cenças ambientais, o que poderá fazer a
cidade optar por um plano B, de reforma
de estádios antigos.
“Preocupa-nos que aconteça o mes-
mo que nos Jogos Pan-americanos,
quando, em decorrência do atraso no
calendário, muitas obras foram contra-
tadas com dispensa dos processos lici-
tatórios, para serem completadas em
tempo”, diz Bruno Drago, que também
integra o grupo do Demarest e Almeida
que estuda os eventos esportivos rela-
cionados à Copa e à Olimpíada.
No caso dos aeroportos, a história
se repete: todos demandam reformas,
mas a maioria ainda carece até do edi-
tal de licitação. Bem como o tão acla-
mado projeto do trem-bala. “Diversas
audiências públicas foram realizadas
para ajustes no edital a fi m de evitar
que nenhuma proposta seja apresen-
tada, o que representaria um fracasso
completo para o governo”, diz Drago.
O momento político de eleições pre-
sidenciais também contribui para o
atraso. E, antes mesmo da Copa, os Jo-
gos Militares, no próximo ano e a Copa
das Confederações, em 2013, serão bons
termômetros da reação. “É importante
que os projetos sejam sustentáveis em
todos os sentidos, evitando-se a criação
de grandes elefante brancos”, diz Tatia-
na, apostando numa virada no que já
parece ser os 45 minutos do segundo
tempo. Mas, para as cidades, tanto co-
mo para o futebol, o que importa, no
fi m, é o resultado.
ESTÁDIO DO MARACANÃ, NO RIO:
A REFORMA DEVERÁ SER VIA
PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA
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Maio, 2010 AméricaEconomia 55
Pricipais oportunidadesde investimentos nas cidades-sede dos jogos da Copa
Reformas, expansões e modernizações em aeroportos; valores estimados
Belo HorizonteAeroportuário• Pampulha - R$ 7 mi.Transporte terrestre• Metrô - R$ 3,4 bi.• Terminal de passageiros Aeroporto e Confins -R$ 342,3 mi.
• BRTs (Bus Rapid Transit) - valor não estimado Estádios• Gov. Magalhães Pinto - R$ 300 mi.Hotelaria• 600 leitos adicionais
Construções, expansões, reformas e modernizações em vias e meios de
transporte terrestres; valores estimados
Construções, expansões, reformas e modernizações em estádios e arredores; valores estimados
Obras relacionadas à infraestrutura de saneamento básico
Construções, expansão do setor hoteleiro, feita em número de leitos adicionais; não
inclui previsão de investimentosFonte: Demarest & Almeida
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Legenda
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1
2
7
8
RecifeAeroportuário• Guararapes - R$ 8,7 mi.Transporte terrestre• Projeto VLT (veículo leve sobre trilhos) ou VLP (veículo leve sobre pneus) - Valor não estimado• Rua Gomes Taborda e construção do viaduto BR 101 - R$ 85,3 mi.
• Av. Beira Rio - R$ 52 mi.Estádios• Arena São Lourenço - R$ 500 mi.Hotelaria• 2,5 mil leitos adicionaisSaneamento• Drenagem e saneamento - R$ 346 mi.• Etapas 2 e 3 da Vila Mangue Z. Sul - R$ 331 mi.
8
SalvadorAeroportuário• Luis Eduardo Magalhães – valor não estimadoTransporte terrestre• Linha 2 do Metrô - R$ 200 mi.• Acessibilidade nas estações do Metrô - R$ 200 mi.
• Trem suburbano - R$ 300 mi.• Via expressa Bahia de Todos os Santos - R$ 550 mi. Estádios• Olavo Mangabeira – Fonte Nova – R$ 550 mi.Hotelaria• 5 mil leitos adicionais
7
3
4
5
6
Porto Alegre Aeroportuário• Salgado Filho - R$ 250 mi.Transporte terrestre• Linha 2 do Metrô - R$ 2,5 bi.• Projeto de transporte público Portais da Cidade - US$ 210 mi.
• Projeto cais Mauá - R$ 500 mi.• Rodovia RS 010 - R$ 350 mi.Estádios• José Pinheiro Borda - Beira Rio - R$ 130 mi.Hotelaria• 3 mil leitos adicionais
6
CuritibaAeroportuário• Afonso Pena - R$ 222 mi.Transporte terrestre• Metrô - R$ 2 bi.• Mobilidade urbana -R$ 205,6 mi.Estádios• Conclusão do Joaquim
Américo Guimarães (Arena da Baixada) - R$ 138,3 mi.• Infraestrutura do entorno • Arena da Baixada - R$ 204 mi.Hotelaria• 2 mil leitos adicionais
5
BrasíliaAeroportuário• Juscelino Kubitschek - R$ 300 mi.Transporte terrestre• VLT (veículo leve sobre trilhos) - R$ 1,3 bi.
• Metrô - R$ 600 mi.• Rede viária - R$ 2 bi.Estádios• Mané Garrincha - R$ 600 mi.Hotelaria• 10 mil leitos adicionais
4
São PauloAeroportuário• Gov. André Fco. Montoro - Guarulhos - R$ 1,65 bi. • Congonhas - valor não estimadoTransporte terrestre• Mobilidade urbana - R$ 33,4 bi.
• Linha 4 do Metrô - R$ 4,7 bi.• 61,4 km de rodovias, ligando o Rodoanel à Av. Papa João 23 - R$ 4,4 bi.Estádios• Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi) - R$ 250 mi.
3
2
Rio de JaneiroAeroportuário• Tom Jobim - R$ 818,9 mi.• Santos Dumont - R$ 152,2 mi.Transporte terrestre• Trem de Alta Velocidade (TAV) até Campinas (SP) - Valor não estimado• Corredor expresso de ônibus - R$ 750 mi.
• Linha 3 do Metrô - R$ 1,3 bi.• Linha 4 do Metrô - R$ 2,7 bi.• Arco Metropolitano –R$ 965 mi. Estádios• Jornalista Mário Filho (Maracanã) - R$ 430 mi.Hotelaria• 8 mil leitos adicionais
1
56 AméricaEconomia Maio, 2010
GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
DEBATES RECICLAGEM
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o
Q uando, no fi nal do ano passado, a geladeira de Rena-
ta Melillo parou de funcionar, e ela decidiu comprar
uma nova, a empresária paulistana deparou-se com
um grande dilema: o que fazer com a geladeira quebrada?
Passá-la adiante parecia impossível, pois o eletrodoméstico
já tinha mais de 20 anos. Jogar em lixo comum, para Renata,
estava fora de cogitação. Contatar a fabricante tampouco
poderia ajudar, afi nal, não há lei que a obrigue a comprome-
ter-se com a logística do produto depois de vendido. O jeito,
então, foi recorrer a uma empresa especializada nesse tipo
de serviço, ao custo de R$ 150. “Quando me disseram o preço,
cheguei a titubear, achei meio ilógico pagar para descartar
algo, mas a consciência falou mais alto”, conta Renata.
Com a economia em crescimento, o nível de renda fami-
liar dos brasileiros seguindo o mesmo caminho ascendente e
alguns incentivos fi scais, casos como o de Renata se repetem
cada vez mais no país. Segundo estudo do Programa das Na-
ções Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) realizado com 11
países emergentes, o Brasil já lidera, por exemplo, o descarte
Aumento do consumo de bens duráveis torna ainda mais urgente a aprovação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos
O VELHONÃO ESPERA
DEBATES RECICLAGEM
Maio, 2010 AméricaEconomia 57
Foto
: Divu
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RENATA MELILLO: R$ 150 PARA SE DESFAZER
DA GELADEIRA VELHA
de computadores, com 0,5 kg de lixo eletrônico per capita ao
ano. Quando se trata de aparelhos de TV, o Brasil só perde
para o México, que registra 0,9 kg, empatando em segundo
lugar com a China, com 0,7 kg per capita ao ano.
Esse aumento de produção de resíduos conta com um agra-
vante: nem todos estão dispostos a pensar duas vezes ao botar
a mão no bolso, como Renata, para pensar em uma destinação
correta, deixando claro o problema trazido pela falta de uma
política pública que determine de quem é a responsabilidade
pelos produtos descartados. Sobretudo quando se trata daque-
les que contêm materiais nocivos ao meio ambiente.
RESPOSTA LENTAO único projeto de lei que pretende reverter essa situação,
a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), tramita há
exatos 19 anos no Congresso. Neste ano, entretanto, ganhou
um sinal positivo. O texto, que responsabiliza fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes pelo ciclo de
vida dos produtos, foi aprovado em março pela Câmara dos
Deputados e, agora, espera o voto dos senadores.
“Antes de entrarmos no período eleitoral, em junho, essa
questão deve estar resolvida, com a lei aprovada”, aposta o
deputado federal Arnaldo Jardim, coordenador do grupo de
trabalho suprapartidário responsável pela apresentação da
proposta da PNRS na Câmara.
Somado aos consecutivos recordes de vendas registra-
dos pelo varejo brasileiro, o ciclo cada vez mais curto dos
produtos – nem tanto o de utilidade real, mas o mercadoló-
gico – gera um agravante adicional. Enquanto, em 2005, um
celular era usado por um ano, em média, hoje, ele tem uma
vida útil de menos de seis meses. “A cada novidade lançada
no mercado, outras cinco estão na fi la de espera”, diz o pre-
sidente do Conselho de Logística Reversa do Brasil (CLRB),
Paulo Roberto Leite.
A NOVA REGRASe a PNRS for aprovada, porém, objetos como lâmpadas, ge-
ladeiras, pilhas, baterias e eletrônicos deverão ser retirados
do mercado, quando não forem mais ser utilizados, por meio
da logística reversa pós-consumo, sistema em que o setor
produtivo é responsável pelo processo de coleta e reaprovei-
tamento ou destinação fi nal dos materiais.
Na avaliação de especialistas, esse modelo, similar ao
usado em alguns países europeus, é o ideal também para o
Brasil, mesmo que as fabricantes tenham que embutir esse
custo no preço fi nal dos produtos. “A quantia será proporcio-
nal à difi culdade de se equacionar o descarte, mas, ainda sim,
é a melhor solução dentre todas”, acredita Leite, do CLRB.
Foto
: Éric
o Hille
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58 AméricaEconomia Maio, 2010
privado e uma consultoria de conceito
urbanístico. O plano é coordenar, em
uma área de 8 milhões de metros qua-
drados, situada ao lado do aeroporto
de Viracopos, em Campinas, a insta-
lação de empresas que se complemen-
tem em sua cadeia de suprimentos.
Mas o país ainda tem um lon-
go caminho pela frente para alcan-
çar o nível da Europa, considerada
benchmarking em logística reversa.
“Enquanto no Brasil apenas 15% dos
itens plásticos retornam, na Europa,
esse índice é de 50%”, afi rma Leite, do CLRB. De tudo o que é
levado ao mercado, apenas 10% faz o caminho inverso depois
de utilizado.
INICIATIVAS ISOLADASEnquanto a legislação segue em compasso de espera, algu-
mas iniciativas isoladas começam a aparecer.
Uma das empresas que já estão aplicando esse concei-
to é a fabricante de computadores norte-americana Dell.
SIMBIOSE AMBIENTALSegundo Orlando Fontes Lima Jú-
nior, coordenador do Laboratório de
Aprendizagem em Logística e Trans-
portes (Lalt) da Unicamp, uma forma
de equalizar o custo desse caminho
inverso – que muitas vezes pode ser
mais alto do que a própria operação
direta – é promover uma simbiose
ambiental, por meio das chamadas
plataformas logísticas, transforman-
do a despesa em receita.
Mas como fazer isso? Para expli-
car, o professor da Unicamp cita o exemplo de Kalundborg,
uma comunidade com cerca de 20 mil habitantes, a 135 km
de Copenhague, na Dinamarca. “Naquele local, nos anos
1980, os empresários se mobilizaram para implantar noções
de complementaridade nas cadeias de suprimento. O que era
resíduo de uma empresa, acabou se tornando insumo para
outra, e isso tem funcionado muito bem lá.”
No Brasil, um projeto semelhante começa a tomar forma,
graças a uma parceria entre a Unicamp, um empreendedor
15%dos produtos de
plástico são reciclados, no Brasil. Na Europa, esse
percentual é de 50%
PROGRAMA DE RECICLAGEM GRATUITA DA DELL: BRASIL FOI O PIONEIRO NA AMÉRICA LATINA
DEBATES RECICLAGEMDEBATES RECICLAGEM
Foto
: 1 -
Divu
lgaçã
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1
Maio, 2010 AméricaEconomia 59
O que prevê a Política Nacional dos Resíduos Sólidos
Responsabiliza fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes pelo ciclo de vida dos produtos e sua destinação correta.
Incentiva a adoção, o desenvolvimento e o aprimoramento de tecnologias ambientalmente saudáveis como forma de minimizar impactos ambientais.
Dá preferência, nas aquisições governamentais, a produtos recicláveis e reciclados.
Incentiva a integração dos catadores de materiais recicláveis nas ações que envolvam o fluxo de resíduos sólidos.
Proíbe o lançamento de rejeitos no mar, nos rios ou no solo.
Proíbe a importação de resíduos sólidos e rejeitos cujas características causem danos ao meio ambiente, ainda que para tratamento, reforma, reúso, reutilização ou recuperação.
Prevê que o poder público deverá estabelecer a coleta seletiva, implantar sistema de compostagem (transformação de resíduos sólidos orgânicos em adubo) e dar destino final ambientalmente adequado aos resíduos da limpeza urbana (varredura das ruas).
Os municípios que implantarem a coleta com a participação de associações e cooperativas de catadores terão prioridade no acesso a recursos da União em linhas de crédito.
No programa de reciclagem de equipamentos da marca, o
cliente entra no site da empresa e agenda uma data para o
recolhimento do produto pela unidade logística da compa-
nhia, que o encaminha para uma empresa de reciclagem
gratuitamente. O Brasil, onde o projeto começou em 2006, foi
pioneiro nessa iniciativa na América Latina. Hoje, Colômbia
e México também participam do programa na região. Mes-
mo sem indicar o quanto é investido no projeto, a gerente
de Conformidade Ambiental da Dell para a América Latina,
Cíntia Gates, garante que o processo não interfere no preço
dos eletrônicos.
“Os custos para nós são elevados, sim, mas estamos mais
preocupados com a parte social”, afi rma Cíntia, reconhecen-
do que a América Latina ainda carece de uma cultura mais
forte em reciclagem.
A Garantech, empresa do grupo Itaú Unibanco com
67% do mercado de garantia estendida no país, começou a
implantar a iniciativa no fi nal de 2009. “Temos 50 ecopon-
tos, distribuídos nas cerca de 3 mil assistências técnicas
parceiras. Nesses locais, espalhados em São Paulo, região do
ABC e Guarulhos, o cliente pode descartar celulares, pilhas e
baterias sem custo”, explica o superintendente da empresa,
Eduardo Marchiori Eckersdorff. De dezembro a março, foram
recolhidos 200 quilos de materiais eletrônicos, e a meta é que
esse volume cresça, no médio prazo, para 1 tonelada/mês.
Do outro lado do balcão, algumas empresas já começam
a ver a aprovação da Política Nacional dos
Resíduos Sólidos como oportunidade de
negócio. É o caso da Descarte Certo, cria-
da no ano passado pelos sócios Ernesto
Watanabe e Lucio Di Domenico. Se o foco,
até agora, tem sido a pessoa física – que
paga de R$ 9 a R$ 139 para contratar os
serviços da empresa –, com a entrada em
vigor da PNRS, a rota incluirá também o
setor produtivo.
“Já estamos buscando parcerias com
algumas fabricantes de eletroeletrônicos
e operadoras de celular”, afi rma Watana-
be, sem revelar o nome das companhias.
O objetivo dos sócios é fechar esse pri-
meiro ano com um faturamento de R$ 5
milhões, e parte disso deve vir do novo
modelo de negócio.
Hoje, a Descarte Certo recolhe 82
produtos, de 23 categorias, que contem-
plam desde pilhas e baterias até geladei-
ras e televisores.
Foi pensando no potencial de cresci-
mento do setor que a Essencis Soluções
Ambientais instituiu, há um ano, uma
unidade voltada à Manufatura Rever-
sa. Segundo o superintendente da área,
Roberto Lopes, a empresa trabalha fazendo a
reciclagem de produtos como pilhas, bate-
rias, lâmpadas fl uorescentes e eletro-
eletrônicos para 15 fabricantes e já
pensa em estender o serviço para
o consumidor fi nal.
“O brasileiro co-
meça a ter um grau
de conscientiza-
ção satisfatório, e
isso indica um mer-
cado interessante
para o futuro”, acre-
dita Lopes.
Os exemplos de
empresas e consu-
midores que têm
se atentado pa-
ra a necessidade
de reciclagem se
multiplicam pe-
lo país. O que fal-
ta, agora, é fechar
esse elo com uma
legislação que deixe
as regras bem claras.
2
60 AméricaEconomia Maio, 2010
PODER EM XEQUE
Infl uência internacional do Brasil se intensifi ca, mas há quem questione as bases que a sustentam
RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES
PRESIDENTE DO LÍBANO, MICHEL
SLEIMAN (À ESQUERDA), COM O
MINISTRO DO DESENVOLVIMENTO,
MIGUEL JORGE: DIPLOMACIA “SOFT”
DEBATES RELAÇÕES EXTERIORES
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N os últimos anos, mais do que
nunca, o Brasil tem projeta-
do ao mundo a imagem de
uma sociedade produtiva, feliz e po-
tencialmente sustentável. Graças a
fatores como bem-sucedidas reformas
econômicas e financeiras, empresas
que se internacionalizam, uma bolsa
de valores cuja capitalização só é su-
perada no continente americano pela
Bolsa de Nova York, pela Nasdaq e pela
Bolsa de Toronto, políticas sociais e um
crescimento constante que favoreceu
o fortalecimento de uma classe média
massiva em um país de 190 milhões de
habitantes, o Brasil tornou-se uma das
mais importantes potências emergen-
tes do mundo, com voz ativa em muitos
fóruns internacionais.
Mas alguns podem se perguntar:
por que a Indonésia, por exemplo, que
tem um crescimento semelhante e é
mais populosa, não recebe o mesmo
tratamento? A diferença, apontam os
analistas, é que o Brasil, hoje, é o país
onde muitos gostariam de estar: reúne
as características de um líder confi á-
vel em políticas de meio ambiente, ao
mesmo tempo que se apresenta como
potência petrolífera, com belezas na-
turais, pessoas alegres, além de ser um
grande defensor de um mundo multi-
polar equilibrado.
Essas características, que marcam
a infl uência internacional do país, são
alguns dos ingredientes aspiracionais
que formam o recheio do soft power
(poder brando), expressão cunhada pe-
lo norte-americano Joseph Nye, no fi nal
dos anos 1980, para descrever o poder
de persuasão de um país em nível in-
ternacional a partir de seus atrativos
culturais, em detrimento do uso de in-
centivos econômicos ou do poderio mi-
litar, ou hard power (poder duro).
Em visita a São Paulo, em abril, o
próprio professor da Kennedy School
of Government, da Universidade de
Harvard, reconheceu o “soft power bra-
sileiro”, afi rmando que “hoje, se leva
o Brasil muito mais a sério do que há
20 anos, sobretudo pelo fato de o país
focar-se em um desenvolvimento es-
1
Maio, 2010 AméricaEconomia 61
JOSEPH NYE, CRIADOR DO CONCEITO
DO “PODER BRANDO”: HOJE O
BRASIL É LEVADO MAIS A SÉRIO
truturado”. E chegou a declarar que a
China não estaria preparada para ser
potência exatamente pela ausência do
poder de coerção da cultura desse país.
“Não sei o que é soft ou hard, mas a
estatura do Brasil cresce à medida que
sua infl uência aumenta, e sua infl uên-
cia cresce com sua estatura”, diz Peter
Hakim, presidente emérito do Diálogo
Interamericano, centro de estudos com
sede em Washington. Entretanto, o que
inquieta parte dos observadores, em
um momento em que o Brasil começa
a dar novos passos – como o acordo
de cooperação militar com os Estados
Unidos –, e à beira de eleições presi-
denciais que poderão mudar a linha
adotada pelo presidente Lula para a po-
lítica internacional do país, é se o uso
desse soft power será sufi ciente para
consolidar e fortalecer o papel do país
no tabuleiro de decisões internacionais
daqui para a frente.
PODER DE PERSUASÃOO conceito de soft e hard
power gera debates desde
que foi criado por Nye. Para
muitos, a parte “soft”, por
não poder ser medida com
exatidão – como o PIB de
uma país ou a quantidade
de aviões de combate que
este possui –, o torna impre-
ciso, quase inútil. Mas tam-
pouco o hard power pode se
traduzir automaticamente
em maior infl uência nos as-
suntos globais. O Paquistão,
por exemplo, possui armas
nucleares e uma grande po-
pulação, mas seu poder de
pressão é quase zero.
Para o brasileiro Paulo
Sotero, diretor do Instituto
Brasil da Escola de Assun-
tos Públicos e Internacio-
nais Woodrow Wilson, da
Universidade de Princeton,
o Brasil é – e precisa ser –
intensivo em seu soft po-
wer. “O potencial do Brasil
para infl uir nos resultados
internacionais provavelmente será de-
terminado mais pela capacidade das
elites do país de identifi car e aprovei-
tar os ativos de valor associados à sua
estabilidade e à governabilidade de-
mocrática do que por qualquer outro
ativo de poder duro”, escreveu em um
paper acadêmico intitulado “Brasil: ser
ou não ser um Bric?”. Sotero aponta que,
ao ritmo em que está, o Brasil a duras
penas chegaria a ter o peso militar da
França ou da Itália até 2040 ou 2050 e
que, por isso, tem de apostar em outro
tipo de persuasão.
O FATOR EUAPara analistas internacionais, a ausên-
cia de confl itos bélicos, seu tradicional
pragmatismo diplomático e o apoio a
um multilateralismo conformam valo-
res dos quais hoje o Brasil se aproveita.
“É uma herança que capitaliza o Brasil,
diferentemente da Argentina, que, no
âmbito internacional, tem sofrido uma
descapitalização permanente, bem co-
mo do México, que era reconhecido co-
mo promessa, devido a sua condição de
ponte para os EUA, mas isso acabou”, diz
Juan Toklatián, professor da Universida-
de Torquato di Tella, na Argentina.
Os observadores questionam a
capacidade do Brasil em manter sua
política externa focada em ser “ami-
go de todos”. “O Brasil precisa decidir
qual é a sua posição estratégica”, diz
Rodrigo Álvarez, analista de Brasil da
Flacso (Faculdade Latino-Americana de
Ciências Sociais), no Chile. Ele lembra
que a posição de Lula frente à questão
nuclear do Irã demonstra a intenção
do país em participar dos
temas mais confl itantes em
escala global, contrariando
potências como os EUA. Para
Toklatián, a tentativa do Bra-
sil de participar de assuntos
do Oriente Médio sem ter o
poder “hard” das armas e do
dinheiro poderá trazer con-
sequências negativas. “Pode
acontecer o mesmo que com
o ex-presidente argentino
Carlos Menen, que, nos anos
1990, tentou mediar um
confl ito na América Latina,
e o resultado foi descrédito
e dois atentados em Buenos
Aires”, diz.
Em sua apresentação na
Faap (Fundação Armando
Alvares Penteado), em São
Paulo, Nye afi rmou que es-
perava que, no caso do Irã, o
Brasil “usasse seu soft power
Alguns observadores
questionam
se o Brasil pode
manter-se
eternamente como
amigo de todos
2
62 AméricaEconomia Maio, 2010
DEBATES RELAÇÕES EXTERIORES
para convencer as gerações mais jovens
de iranianos de que a posse de armas
nucleares não atrairá os vizinhos”.
Para Khatchik DerGhougassian,
professor de Relações Internacionais
da Universidade de San Andrés, na Ar-
gentina, esse episódio indica que o país
ainda não determinou algo fundamen-
tal para seu posicionamento interna-
cional: como será a relação com os EUA.
“O Brasil ainda não defi niu se quer ter
uma relação com Washington à la Ín-
dia, com uma aliança mais ampla e
forte, ou algo diferente”, diz. Sotero, da
Universidade de Princeton, entretanto,
aposta que o destino do Brasil será ao
lado dos EUA como potência ocidental.
Um sinal disso poderia, inclusive, ser
a recente aproximação, em abril, com
um acordo de cooperação militar fi r-
mado entre os dois países.
PROBLEMAS NO BAIRROApesar desse impasse, os analistas es-
trangeiros apontam que o Brasil ainda
tem uma tarefa básica, não necessaria-
mente mais simples, para resolver: a
de exercer essa mesma infl uência que
prega em âmbito global na vizinhança.
“Na maioria dos países latino-america-
nos, o Brasil ainda precisa de muita di-
plomacia e boa vontade – apesar de sua
habilidade para reduzir tensões, como
a gerada entre Bolívia e Paraguai no
ano passado, ter demonstrado o talen-
to diplomático real do país”, diz Peter
Hakim, do Diálogo Interamericano.
O contraponto, nesse caso, foi a
ação brasileira no golpe de Estado em
Honduras. O governo apostou todas as
suas fi chas na restituição do presidente
Manuel Zelaya, que, por sua vez, acredi-
tou no poder de infl uência do Brasil ao
refugiar-se em sua embaixada. Apesar
de conseguir alinhar o apoio dos países
sul-americanos no repúdio ao golpe, o
país não foi capaz de infl uir de forma
signifi cativa nos acontecimentos.
“O Brasil precisa primeiro conso-
lidar-se na América do Sul, criar con-
senso regional”, opina o professor
DerGhougassian. “Nessa esfera, o país
está cada vez mais retraído, e suas con-
quistas são magras”, diz Toklatián, da
Universidade Torquato di Tella. “Não
conseguiu eleger seus candidatos ao
BID (Banco Interamericano de Desen-
volvimento) nem à OMC (Organização
Mundial do Comércio), tampouco in-
fl uir na Venezuela.”
Para os analistas, o Brasil pode cul-
par esse avanço tímido aos vizinhos
“mal-agradecidos”, mas eles destacam
que esse resultado está muito mais re-
lacionado à personalidade política do
país. “Para convencer os países, é preci-
so tirar dinheiro do bolso, pois toda in-
tegração implica ceder soberania, e isso
tem seu custo”, afirma DerGhougas-
sian. Ou seja, investir em hard power.
A correção ou não desse rumo, en-
tretanto, agora dependerá da estraté-
gia de política internacional escolhida
pelo sucessor do presidente Lula. Seja
ela dura ou branda.
MINISTRO DA DEFESA,
NELSON JOBIM (À
ESQUERDA), E ROBERT
GATES, SECRETÁRIO DE
DEFESA DOS EUA,
APÓS A ASSINATURA
DE ACORDO DE
COOPERAÇÃO MILITAR
Foto
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DoD/
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llen
3
o destino dos dinâmicos
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Marcelo Bermúdez | Vice-presidente Sênior | Banco
64 AméricaEconomia Maio, 2010
BUSCAM-SE ADVOGADOS
Nesta década, a América Latina converteu-se na Meca das arbitragens
ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI
D urante o auge das privati-
zações na década de 1990,
as incursões de empresas
estrangeiras à América Latina eram
comparadas a uma versão moderna
da legendária busca do Eldorado. Na
época, a região mostrava que tinha
muito a oferecer às transnacionais. Os
governos da região esticavam tapetes
vermelhos para atrair investimentos
estrangeiros, e seus mercados subex-
plorados prometiam gerar fortunas.
Entretanto, agora que o Consenso
de Washington parece ter perdido o
crédito, tais companhias estrangei-
ras se destinam a desempenhar outro
papel histórico em alguns países: o de
agentes indesejados do colonialismo,
em uma contenda de emancipação
cujas escaramuças são defendidas por
advogados em renhidas negociações.
As expropriações e as súbitas mu-
danças de regras nas concessões con-
verteram a América Latina em Meca da
arbitragem internacional. Hoje em dia,
a região domina os casos de quebra de
acordos de investimentos estrangeiros,
abarcando mais de 50% do total que
se encontrava registrado em 2009 no
Centro Internacional para Arbitragem
de Disputas sobre Investimentos (Ciadi),
órgão do Banco Mundial para a resolu-
ção de confl itos comerciais. Um percen-
tual alto demais para uma região que re-
presenta apenas
10% da economia
mundial. “Dei-
xou de ser o regis-
tro de dois ou três
casos anuais pa-
ra chegar a 30 no-
vos por ano”, diz
Ignacio Suárez
Anzorena, sócio
do escritório de
advogados Chadbourne & Parke LLP. O
recrudescimento dessa tendência tam-
bém é claramente visível nos montantes
que estão em jogo. “Durante os anos
1990, esses casos envolviam milhões
de dólares. Hoje, são comuns os casos de
centenas de milhões e até bilhões”, diz.
DEBATES ARBITRAGEM
Foto
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oto
O fenômeno é liderado por países
vinculados à Alternativa Bolivariana
para as Américas (Alba), que contratam
sofi sticados escritórios de Washington,
Londres, Paris e Nova York para garantir
sua defesa em gigantescas demandas,
como a que a ConocoPhillips acionou
contra a Venezuela por causa da expro-
priação de seus
ativos petrolí-
feros, ou a que a
Occidental Petro-
leum moveu con-
tra o Equador.
Nigel Blacka-
by, sócio do escri-
tório de advoga-
dos Freshfields
Bruckhaus De-
ringer, em Washington, alerta, entre-
tanto, que o aluvião de casos começou
na primeira metade desta década, com
a Argentina, depois que as medidas
adotadas pelo governo no marco da
crise econômica de 2001 levaram de-
zenas de empresas estrangeiras a apre-
14acordos de proteção de
investimento esperam
por aprovação no Brasil
Maio, 2010 AméricaEconomia 65
sentar reclamações ante o Ciadi. Tais
empresas foram atingidas sobretudo
pela pesificação forçada das tarifas
dos serviços públicos, que antes eram
fi xadas em dólares. Isso levou muitas
empresas a mover processos contra
o país. O ruído foi tamanho que, para
alguns analistas, infl uenciou – além
de outros fatores, como conflitos de
cláusulas com a legislação brasileira
– o Brasil a prorrogar a ratifi cação de
acordos de promoção e proteção ao
investimento (APPIs), o que legitima-
ria o uso de fóruns como o Ciadi para
a resolução de problemas do gênero.
Atualmente, apesar de ser considerado
um país atraente para a entrada de in-
vestimentos estrangeiros, o Brasil não
conta com a aprovação pelo Congresso
Nacional de nenhum dos 14 APPIs que
tem assinados.
PROFISSIONALIZAÇÃOPara Paolo Di Rosa, sócio do
escritório Arnold & Porter, a
busca pelos tratados de proteção
dos investimentos estrangeiros
se intensifi ca porque, “historica-
mente, uma empresa tinha que
acudir aos tribunais nacionais do
país pertinente, onde geralmente o
juízo se prolongava indefi nidamente,
e onde a empresa sentia que não podia
receber um tratamento justo, já que os
tribunais pertenciam ao país cujo Esta-
do era a parte contrária no caso”, diz.
Blackaby concorda que a arbitra-
gem é um dos poucos mecanismos que
os estrangeiros têm para se defender
das nacionalizações. “A triste realida-
de é que é impossível conseguir in-
dependência judicial na Venezuela, e
tampouco na Bolívia”, diz o advogado.
“A ideia de que um juiz de primeira
instância decida contra o governo,
nesses países, é uma ilusão.”
Isso não quer dizer, po-
rém, que estejam desarma-
dos nessa luta. Um advogado
especializado, que pediu ano-
nimato, afi rma que países como
a Venezuela se tornaram muito
hábeis no manejo desses processos. As-
sessorada por escritórios como Arnold
& Porter, Curtis Mallet e Foley Hoag, a
Venezuela conseguiu desativar muitas
demandas antes que chegassem for-
malmente à etapa da arbitragem. “Não
são muitos os casos que chegam a uma
arbitragem propriamente dita”, diz o
advogado. “Seja porque são resolvidos
antes, seja por causa de uma conduta
estratégica do Estado que, devido à as-
sessoria de bons advogados internacio-
nais, consegue que investidores acei-
tem um acordo não muito conveniente
para eles.” Esses acordos, geralmente,
têm sabor de ultimato, sob um formato
de “pegar ou largar”, jogando com a
intenção dessas empresas de operar no
país para lhes obrigar a renunciar aos
seus direitos.
O impacto que essas ações estão
tomando sobre a confi ança dos inves-
tidores é palpável. As empresas que
optam por investir nos países da re-
gião, sobretudo os da Alba, o fazem
somente quando as promessas de lucro
potencial superam os riscos que impli-
cam estar lá. “Estão mais conscientes
da importância de administrar o risco
político e incluí-lo nos custos de desen-
volvimento de um projeto”, diz Suárez,
da Chadbourne & Parke LLP.
0
30
60
90
120
Fonte: Ciadi; dados referentes a outubro de 2009
no de casos
Triste domínioProcessos de arbitragem abertos no Ciad
Méx
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66 AméricaEconomia Maio, 2010
Principal desafi o da nova presidente da Costa Rica será descolar-se da imagem autoritária do homem que a levou ao poder
YENIFER MÁRQUEZ GONZÁLEZ, DA COSTA RICA
O costa-riquenho Oscar Arias,
Prêmio Nobel da Paz em 1987,
é grande amigo das palavras.
Desde o dia 7 de fevereiro, quando Lau-
ra Chinchilla foi eleita presidente da
Costa Rica, Arias não poupou elogios
para apresentar sua sucessora. “Nela se
funde a melhor relação de prudência,
paciência, humildade, responsabilida-
de e valentia”, disse, certa vez, sobre a
sua companheira do Partido Liberação
Nacional (PLN), o mais antigo do país.
Se, por um lado, essa parece ser
uma forte credencial para Laura, cuja
posse será no dia 8 de maio, por outro,
a nova presidente sabe que um de seus
maiores desafi os será o de desgarrar-se
da infl uência de seu antecessor, sobre-
tudo quando se trata de dar uma vira-
da na situação econômica do país.
Os números indicam tal necessida-
de. O desemprego em alta refl ete-se no
aumento da informalidade no mercado
de trabalho, que chega a 35,7%, segundo
a Organização Internacional do Traba-
lho (OIT). Em 2009, o défi cit comercial
do país foi de US$ 2,7 bilhões, ou 10% do
PIB costa-riquenho. O défi cit fi scal do
governo chegou a 3,5%, devido à queda
na arrecadação e à ampliação do gasto
público para frear os efeitos da crise.
Tal cenário faz urgir o projeto de
DEBATES COSTA RICA
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reforma fi scal que fi cou parado no go-
verno de Arias, entre outros motivos,
por sua difi culdade em negociar com
a oposição. Apesar de ter ganhado com
47% dos votos, Laura não conseguiu re-
plicar essa maioria no Congresso, onde
seu partido conseguiu apenas 24 das
57 cadeiras. Para analistas, esse é um
sinal de que Laura não poderá repetir a
característica autoritária cunhada por
Arias. “Ela terá que passar da política
da imposição para a da construção de
consensos democráticos”, diz o cientis-
ta social Alberto Cortés, da Universida-
de da Costa Rica.
ALÉM DAS PROMESSASPor enquanto, os únicos sinais dados
por Laura em seus discursos indicam
a continuidade da linha escolhida por
Arias, ao menos nos assuntos relativos
à promoção do livre-comércio – o país
negocia tratados comerciais com a Chi-
na e Cingapura – e quanto à atração de
investimento estrangeiro direto, funda-
mental para acelerar a recuperação do
país frente à pior recessão registrada em
27 anos. A nova presidente também deu
sinais de apoio à privatização dos seto-
res de eletricidade e telecomunicações
do país, temas que, na administração
Arias, geraram polêmica e divisão entre
os costa-riquenhos. “Mas o maior desa-
fi o que temos é o de combater a crimi-
nalidade, a violência e o narcotráfi co”,
afi rmou Laura depois de eleita, desta-
cando que “a América Central pode ser o
último campo de batalha da guerra que
vivem Colômbia e México”.
Entre as eleições e a posse, a nova
presidente demonstrou buscar o di-
álogo entre diferentes blocos sociais
e políticos. Mas só agora, a partir de
maio, é que ela poderá provar se conse-
guirá desnublar o horizonte dos costa-
riquenhos, seja ou não sob a sombra
de Arias.
COM A BÊNÇÃO DE ARIAS
A NOVA PRESIDENTE,
LAURA CHINCHILLA,
E OSCAR ARIAS:
NECESSIDADE DE
CONSENSO
68 AméricaEconomia Maio, 2010
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DEMOCRACIA VERTICAL
DEBATES VISÕES
Maio, 2010 AméricaEconomia 69
Autores de China – Megatendênciasafi rmam que o ocidente ignora a diversifi cação e a experiência de um sistema político e econômico alternativo vividas pelo gigante asiático
À ESQUERDA, PARLAMENTO CHINÊS: ESPAÇO PARA UMA
“ZONA LIVRE DE POLÍTICA”. ACIMA, DORIS E JOHN NAISBITT
“N os últimos 30 anos, a
China se transformou
no laboratório em gran-
de escala mais incrível que alguém já
viu. É uma sequência de tentativa e erro,
tentativa e erro. Se algo não funciona, é
jogado longe. Se funciona, é multiplica-
do.” A afi rmação de John Naisbitt soa ta-
xativa, destoando dos matizes e meios-
tons da manhã de outono em Buenos
Aires, onde conversou com AméricaE-
conomia. Por trás da convicção desse
norte-americano, ex-executivo da IBM,
estão 43 anos de viagens frequentes ao
país asiático, onde atualmente vive par-
te do ano, encabeçando o Naisbitt China
Institute, instalado na Universidade de
Tianjin, no noroeste da China.
Sentada ao seu lado, Doris Naisbitt,
mulher de John, vai além. “A China está
desenvolvendo um sistema econômico
e social totalmente novo, que será uma
alternativa à democracia ocidental”,
diz. Essa ideia provocadora faz parte do
livro China – Megatendências, que John
e Doris acabam de publicar e que, por
enquanto, está disponível apenas em
chinês, inglês e alemão.
John faz parte da honorável e sem-
pre polêmica tradição dos futuristas
high profi le, que inclui personagens tão
fascinantes e criticados como Herman
Kahn, conhecido por suas análises
sobre as prováveis consequências de
uma guerra nuclear, e Ray Kurzweil,
inventor e futurista envolvido com
inteligência artifi cial. Trata-se de uma
profi ssão de risco, já que o futuro é um
animal tão indócil. Entretanto, mais do
que buscar uma fotografi a detalhada
dele, John Naisbitt busca identifi car as
tendências que lhe darão forma.
NOVO MODELOAssim, quando fala de Pequim, uma das
mensagens deixadas por John é a de que
os chineses não estão a caminho de se
converter em uma democracia liberal
bipartidária. Segundo ele, a China busca
uma “democracia vertical”. E qual é a
diferença? “No ocidente, todo o sistema
depende do movimento das eleições, en-
quanto na China a interação se dá entre
conselhos, uma democracia consultiva
orientada por resultados”, diz.
Nos Estados Unidos, não faltam crí-
ticos ferrenhos ao casal Naisbitt por es-
te considerar o sistema chinês estável
e positivo, alegando que John e Doris
simplesmente adornam o que é uma
ditadura sem divisão real de poderes.
Já cientistas políticos como Robert John
Barros e Adam Przeworski defendem
que “um governo (autocrático) pode
seguir regras, mesmo se os poderes re-
partidos que se vigiam uns aos outros
não forem institucionais: é sufi ciente
que cada um deles tenha poder real”.
A existência desses grupos é regis-
trada pelos Naisbitt como uma “Zona
Livre de Política”. Trata-se de tirar, mo-
mentaneamente, um tema importan-
te do debate diário e imediato para
buscar sua solução a partir de outras
perspectivas, por meio da discussão
nesses conselhos. No ocidente, para
além da questão dos partidos políticos,
lembram os Naisbitt, os lobbies empre-
sariais difi cultam ainda mais a exis-
tência de ações como essa. “Se, aqui no
ocidente, continuarmos dizendo que
isso não é possível de fazer, seguiremos
bloqueando reformas e fi caremos cada
vez mais para trás. Mas poderíamos
consegui-lo”, defende Doris.
Caso essa instância apartidária
consiga manter-se estável e resolver
confl itos, Doris e John salientam que
tal fato pode atrair o interesse e ser imi-
tado por pequenos países em desen-
volvimento. “Esses países interessados
têm como perfi l o fato de trabalhar sob
RODRIGO LARA SERRANO,
DE BUENOS AIRES
2
70 AméricaEconomia Maio, 2010
DEBATES VISÕES
o modelo ocidental por várias décadas,
com programas de ajuda, e seus PIBs
não melhoram; ao passo que a China
de 30 anos atrás era uma nação pau-
pérrima, diferentemente do potencial
que tem hoje”, afi rma Doris.
IDADE DOURADADe qualquer forma, os Naisbitt identi-
fi cam mudanças progressivas no pa-
ís, segundo eles, rumo a uma maior
flexibilidade e sofisticação. “Por um
lado, os profi ssionais mais jovens que-
rem fazer as coisas para satisfazer a
população e manter a economia em
crescimento”, diz John. “Por outro lado,
hoje os chineses não querem apenas
a continuidade do crescimento, mas
também a sofi sticação da comunica-
ção, e as lideranças governamentais
estão de acordo em mudar as formas
de comunicação entre as diferentes
camadas da estrutura sociopolítica.”
Parte dessa mudança, segundo
Doris, vem de um boom do jornalis-
mo. “Monitoramos os jornais locais em
todas as províncias chinesas, e pos-
so dizer que hoje se vive uma idade
dourada na mídia local”, afi rma. “Ao
observar esses jornais, percebe-se coi-
sas interessantíssimas. Por exemplo,
nos editoriais e nas matérias, os temas
mais importantes hoje são corrupção
e meio ambiente.” A pesquisadora diz
que esses jornalistas, em geral, são
“jovens de vinte e poucos anos e, na
maioria, mulheres, a maioria bilíngues
e acadêmicas. Mas, o mais importante,
com desejo de escrever sobre o que está
passando no país”.
LIÇÃO PARA O BRASILE o que o Brasil poderia aprender com
a China? “Todos podem aprender algo
com a China. Basta observar o que eles
estão fazendo”, diz John. Doris dá um
exemplo: “Eles sabem que, para susten-
tar o crescimento econômico, têm de
passar a um nível mais alto de produ-
ção, no caminho de uma nação inova-
dora, criando um entorno que propicie e
sustente essa meta”. Segundo Doris, não
é o governo quem consegue consolidar
tal projeto, “mas é ele quem cria o am-
biente para que isso se desenvolva”.
Para Doris, seria como “se no Brasil
os diferentes setores políticos se unis-
sem para chegar a um acordo sobre
assuntos importantes”. Uma forma de
consegui-lo, para ela, seria com a cria-
ção de algo parecido com a “Zona Livre
de Política”. John, nesse ponto, chega a
ser crítico ao país: “O Brasil não é capaz
de realizar as reformas que poderiam
alavancar seu potencial; o governo Lu-
la chegou a mexer em poucas coisas
por aqui ou ali, mas nada foi defi nidor.
E o mesmo acontece na Índia”.
Não satisfeito com a observação,
o futurólogo chega a apontar a des-
coberta de petróleo no pré-sal como
uma desgraça. “Para mim, isso é o pior
que poderia ter acontecido ao Brasil.
Disse isso certa vez em um seminário
e houve um grande silêncio. Mas o
que acontecerá? Agora os governantes
poderão pensar: por que se preocu-
par com reformas se o petróleo nos
garante o dinheiro? E dessa forma o
Brasil irá prorrogar ainda mais essas
mudanças essenciais.”
CHAVES DO COMÉRCIOQuanto às possibilidades de negócio
entre Brasil e China, John acha que “os
chineses pensam mais no Brasil do que
os brasileiros na China”. Para ele, “essa
é uma grande oportunidade para a
América do Sul, pois eles precisam de
muitos recursos naturais, e a região os
tem para oferecer”.
Para quem tem planos de rumar
ao oriente para vender seus produtos,
Doris dá três conselhos, segundo ela, es-
senciais: “Primeiro, é importante enten-
der a diversidade da China; seu projeto
e seu tempo podem ser equivocados em
uma região, mas perfeitos para outra”,
diz. “O segundo, é que você precisará – e
terá – um sócio chinês. E, em terceiro
lugar, saber diferenciar que, enquanto a
mente ocidental se foca nos detalhes de
um contrato, os chineses privilegiam a
moldura. Eles costumam dizer que um
contrato emoldura o bosque, mas deixa
crescer as árvores”, conclui. Foto
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CHINA’S MEGATRENDS –
THE 8 PILLARS OF A NEW SOCIETY
JOHN E DORIS NAISBITT
EDITORA HARPER BUSINESS
2010 – R$ 68
MÍDIA CHINESA: CORRUPÇÃO E MEIO AMBIENTE SÃO TEMAS DE DESTAQUE
3
72 AméricaEconomia Maio, 2010
ELO REGIONAL
Iniciativa busca transformar o Brasil em plataforma de negócios da América Latina
ANA BORGES, DE SÃO PAULO
A tualmente, a América Latina tem se transformado
em fonte de interesse para investidores europeus,
asiáticos e norte-americanos, certo? Sim. Apesar
disso, tanto o mercado de capitais brasileiro quanto outros
da região sofrem de um problema: muitos têm relações dire-
tas com centros internacionais, mas não mantêm o mesmo
vínculo entre si. Ou seja, um investidor chileno que deseja
aplicar em ações brasileiras, por exemplo, poderá escolher
outras praças globais, como a de Nova York, para concluir
sua operação. O resultado é o aumento dos custos e dos riscos
nesses processos, além de uma redução da expressividade e
da dinâmica dos negócios latino-americanos.
Uma iniciativa, entretanto, está tomando forma para
unir os países da região em um polo de negócios por meio
do Brasil. Ela se chama Brain (Brasil Investimentos & Negó- Foto
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naína
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FINANÇAS MERCADO DE CAPITAIS
cios) e é encabeçada pelas entidades do mercado fi nanceiro
brasileiro: BM&FBovespa, Febraban (Federação Brasileira de
Bancos) e Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos
Mercados Financeiros e de Capitais). “Muitos negócios com
ativos brasileiros ou latino-americanos que hoje são reali-
zados em Londres e Nova York poderão ser realizados aqui”,
afi rma o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto.
A organização institucionaliza o Projeto Ômega, criado
há cerca de dois anos para, entre outros objetivos, tornar São
Paulo uma praça fi nanceira de porte semelhante às de cen-
tros como Hong Kong e Cingapura.
Tudo começou em 2008, quando o Brasil obteve o invest-
ment grade, e as três entidades fundadoras viram a oportuni-
dade de lançar um esforço mais ambicioso. A Brain é multis-
setorial, pois trata de projetos em todas as áreas que possam
Maio, 2010 AméricaEconomia 73
das commodities. A canalização de recursos
para uma praça regional permitiria viabi-
lizar um sonho antigo da BM&FBovespa:
tornar-se a referência mundial para a
formação desses preços. “Somos um dos
maiores exportadores de commodities
do mundo, mas os preços hoje são de-
fi nidos em Chicago”, diz o presidente
da Bolsa.
PROJETOSA Brain estreia com cerca de 80 projetos,
que serão discutidos entre entidades
setoriais, empresas e órgãos do governo
brasileiro. As ações estão agregadas em
três grandes frentes. A primeira consiste
em consolidar o Brasil como centro de ne-
gócios da América Latina, apoiar a expansão
de empresas “multilatinas” e criar um marco
regulatório regional.
A segunda frente é desenvolver o relaciona-
mento desse centro de negócios globalmente. Para
isso, será necessário melhorar a infraestrutura do país,
reforçar o comércio exterior e simplifi car a legislação
cambial. “Queremos preparar o Brasil para ser um polo, e
isso é complexo. Estamos construindo o longo prazo”, defi ne
Pedro Guerra, vice-presidente da Anbima. O terceiro passo é
reforçar a competitividade brasileira.
Entre as propostas listadas, destacam-se a redução da
burocracia para trânsito internacional de capitais e o en-
quadramento mais fl exível das aplicações dos fundos de
pensão. “A questão não é a redução da carga tributária, mas a
simplifi cação dos processos. A desburocratização das regras,
maior clareza e a estabilidade já implicam redução de cus-
tos”, explica Oliveira Júnior, diretor da Brain.
Guerra lembra que não há nada que impeça o capi-
tal latino-americano de ingressar no Brasil, mas que esse
processo poderia
ser mais fáci l .
“Existem certas
assimetrias que
podem ser solu-
cionadas”, diz .
Entre elas, está a
forma pela qual
é tributada a in-
dústria de fundos
de renda variável
e a compra direta de ações. Enquanto os investidores de fun-
dos pagam impostos sobre os ganhos, o mesmo não ocorre
quando aplicam diretamente no mercado acionário.
As ideias vêm sendo discutidas com o governo desde o
início. O raciocínio é o de que, tendo a participação estatal, as
80projetos já estão
listados na Brain para
serem discutidos
promover um ambiente de negócios atraente. “A ideia é ser a
plataforma de negócios da América Latina”, disse o presiden-
te da Anbima, Marcelo Giufrida, durante o lançamento da
organização, em abril, na capital paulista.
VANTAGENS MÚLTIPLASOs criadores da iniciativa não poupam palavras na hora de
enumerar os benefícios que ela pode gerar. “Com a criação de
um polo regional, há o aumento do volume de negócios e mais
transparência”, explica o executivo responsável por levar a
ideia da Brain adiante, Paulo Oliveira Júnior. Antes de assu-
mir o posto de diretor-geral da organização, Oliveira Júnior
ocupava a diretoria de Novos Negócios da BM&FBovespa.
Outro exemplo de como a falta de união prejudica os
negócios dos países latino-americanos é a formação do preço
74 AméricaEconomia Maio, 2010
propostas ganham musculatura para serem implementadas
com mais celeridade, inclusive as que dependerem de apro-
vação legislativa. De acordo com o presidente da Febraban,
Fabio Barbosa, a execução do projeto é de longo prazo (entre
cinco e dez anos) e, por isso, o objetivo não é tratar de ques-
tões pontuais ou fazer com que o governo federal dê maior
agilidade às modifi cações regulatórias.
Os criadores da Brain também estabeleceram algumas
diretrizes iniciais. Uma delas é o comprometimento fi nan-
ceiro dos candidatos a sócios. Quem quiser participar deve
contribuir com R$ 1 milhão anualmente por pelo menos três
anos. Por isso, o orçamento da Brain para 2010 conta com R$
12 milhões. Além das três entidades iniciais que encabeça-
ram a iniciativa, a Brain conta com outros dez associados
(Bradesco, BTG Pactual, Cetip, Citibank, Itaú Unibanco, HSBC,
Fecomercio, Santander, Banco Votorantim e Banco do Brasil).
Entidades de outros setores da economia, como da indústria,
representada pela Fiesp (Federação das Indústrias do Esta-
do de São Pau-
lo) e pela Firjan
(Federação das
Indústrias do
Estado do Rio de
Janeiro), mos-
traram simpa-
tia pela iniciati-
va. Além de 12
associados que
contribuem com
R$ 1 m i l hão,
haverá outras
duas categorias
de sócios, que
aportarão valo-
res menores.
FINANCAS MERCADO DE CAPITAIS
POLO FINANCEIROA transformação do Brasil em um polo de negócios interna-
cionais terá como duas de suas principais consequências o
aumento da liquidez no mercado fi nanceiro e a redução do
custo de captação de recursos por parte das empresas. “Cerca
de 70% das operações com ações e 90% dos negócios com de-
rivativos na América Latina são feitos no Brasil. Com a Brain,
teremos um grande crescimento”, afi rma Oliveira. Segundo
o executivo, a América Latina está sub-representada quando
o assunto é in-
vestimentos no
Brasil. Do total do
volume de ações
ne go c i a do n a
BM&FBovespa,
um terço é reali-
zado por estran-
geiros. Essa parte
está dividida da
seguinte forma:
50% são investidores norte-americanos, 30% vêm de paraísos
fi scais e da Europa, e o restante são asiáticos (maior parte) e
latino-americanos.
Para concretizar esse projeto, segundo o diretor da Brain,
já estão em andamento negociações com os reguladores dos
mercados fi nanceiros do Chile, Argentina, México e Peru,
além das bolsas locais e dos bancos. A iniciativa não é sim-
ples, pois requer investimentos em tecnologia e mudanças
regulatórias nos diversos países. A BM&FBovespa tem bus-
cado acordos para formar uma rede que ligará São Paulo aos
mercados desses quatro países. As conversas com o Chile são
as mais adiantadas, e um acordo com o país deve sair ainda
neste semestre.
Uma das primeiras ações da Brain será a de criar condi-
ções especiais para que as empresas brasileiras consigam fa-
zer a dupla listagem de papel, ou seja,
negociar na bolsa brasileira e tam-
bém em uma estrangeira. O caminho
inverso será estimulado. Para isso, o
presidente da BM&FBovespa, Edemir
Pinto, afi rmou que os reguladores dos
diversos países, em especial os asiáti-
cos, serão procurados. A ideia é evitar
que as companhias tenham os custos
de listagem duplicados. “Vamos faci-
litar o acesso a capital com um custo
menor, viabilizando o crescimento
das empresas”, diz.
EDEMIR PINTO (FOTO MENOR), QUER
FACILITAR O ACESSO AO CAPITAL. PAULO
OLIVEIRA JÚNIOR (À ESQUERDA) DIZ QUE
DESBUROCRATIZAR REDUZ CUSTOS
12milhões de reais
é o orçamento da Brain para 2010
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76 AméricaEconomia Maio, 2010
OPINIÃO
VANTAGEMILUSÓRIA
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N os últimos nove anos, a economia peruana re-
gistrou um rápido crescimento. Mesmo em 2009,
quando o mundo inteiro lutou para sobreviver à
crise fi nanceira, o país cresceu 1,1%. Os peruanos estão feli-
zes com tal sucesso, mas ainda não sabem explicá-lo muito
bem, dando motivos ingênuos e superfi ciais.
Alguns justifi cam esse resultado apenas como um perí-
odo de preços altos das commodities que exportam. Eles têm
um profundo ceticismo sobre as instituições econômicas do
país. Não conseguem esquecer a época da grande fi la do pão,
quando seu dinheiro muitas vezes não era sufi ciente para
comprar carne.
Quando lhes perguntam qual governo tem mais res-
ponsabilidade na transformação, alguns citam o de Alberto
Fujimori. Com alguma insistência, pode-se tirar deles algum
crédito a Alejandro Toledo, e quase raivosamente sai um re-
conhecimento de que o segundo governo de Alan García foi
muito melhor que o primeiro.
Para um visitante estrangeiro, é especialmente notório
o fato de os peruanos nunca mencionarem a melhoria de
seu sistema financeiro. Quando são questionados, cau-
telosamente, reconhecem que parece
funcionar melhor do que antes. Os mais
jovens, às vezes, admitem a possibilida-
de de o dinheiro de seu fundo de pensão
ser sufi ciente para lhes sustentar quan-
do se aposentarem.
Tais jovens inclusive se surpreendem ao saber que o valor
total dos fundos de pensão peruanos aumentou de US$ 3,62
bilhões, no fi nal de 2001, para US$ 22,9 bilhões, em setembro
de 2009. Nesse mesmo período, o número de afi liados ao sis-
tema passou de 2,4 milhões para 4,4 milhões, e o montante
médio por afi liado subiu de US$ 1.509 para US$ 5.226.
Essas cifras ainda são tímidas se comparadas às do Chile.
Com uma população pouco maior que a metade da do Peru,
o sistema chileno registrava, em setembro de 2009, quase o
dobro de afi liados que o seu vizinho, e o montante médio de
ativos fi nanceiros por afi liado era de US$ 12.529.
Nos últimos tempos, houve uma interessante modifi ca-
ção da forma como os chilenos passaram a avaliar a econo-
mia de seu país e a do Peru. Os chilenos sempre criticaram
a estratégia adotada por seu próprio governo, os defeitos
dos fundos de pensão e desprezavam a economia peruana.
Enquanto isso, não perceberam o rápido crescimento do
vizinho. Entretanto, a partir de 2007, o nível de autocrítica
passou a ser maior, e o de desprezo ao Peru, menor. Como um
atleta que lidera uma corrida e nota que seu concorrente está
se aproximando, os chilenos começaram a se preocupar com
o risco de a economia peruana um dia ultrapassar a sua. Suas
apreensões aumentaram ainda mais quando o valor de seus
fundos de pensão minguou e a economia estancou.
Já os peruanos continuaram temendo e admirando o
sucesso chileno, e não pareciam tão conscientes de que sua
própria economia crescia mais rapidamente do que a chilena.
Ao contrário, se preocupavam com que os chilenos, tirando
vantagem de sua superioridade fi nanceira, pudessem conti-
nuar comprando grandes companhias
no Peru. Ainda não se viam como um
rival econômico do vizinho.
Agora, o Chile precisa se recupe-
rar do que, provavelmente, foi o maior
desastre natural de sua história, o pior
terremoto desde 1960. Desastres naturais dessa magnitude
são tão severos que levam para longe a fachada de unidade,
harmonia e civilidade que as sociedades constroem tão
cuidadosa e diligentemente durante os períodos de prosperi-
dade. Os desastres sempre revelam o grau de coesão de uma
sociedade, divisões escondidas, preconceitos arraigados.
Agora, enquanto o Chile se foca em sua recuperação, as
pessoas de fora da região podem pensar que o Peru aproveita-
rá a vantagem que o destino lhe deu e irá superar e economia
chilena. Mas isso seria uma conclusão superfi cial, pois vejo
que o Chile logo poderá se fortalecer novamente, com uma
onda de crescimento e inovação.
JOHN C. EDMUNDS é doutor em Administração pela Universidade de Harvard, professor do Babson College e coautor de Wealth by Association.
Os peruanos
continuam temendo
o sucesso chileno
78 AméricaEconomia Maio, 2010
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NOVO ETANOL
Maio, 2010 AméricaEconomia 79
A indústria láctea da Argentina descobriu que seus resíduos servem como matéria-prima para produzir álcool combustível. O desafi o é conseguir escala e rentabilidade
U m desperdício. Isso era o que pensava um grupo
de produtores argentinos ao ver que cada quilo
de queijo fabricado por eles representava 9 litros
de soro lácteo que eram jogados fora. Só uma pequena parte
desse resíduo se destinava à alimentação de suínos; o res-
tante era simplesmente descartado, podendo contaminar
a água. Em 2009, entretanto, uma equipe de cientistas de
Córdoba, liderada pelo pesquisador Pablo Rodríguez, resolveu
mudar o fi nal dessa história. Converteu cada 37 litros do resí-
duo em 1 litro de etanol. E, como uma espécie de bônus track,
também conseguiu gerar 1 quilo de dióxido de carbono e 35
litros de água limpa.
Caso consiga gerar escala a preço competitivo, essa
estratégia poderá transformar o setor de laticínios em um
importante fornecedor de bio-
combustível. A notícia dos pes-
quisadores soou como música
aos ouvidos de Tulio Del Bono,
secretário de Ciência e Tecno-
logia da província de Córdoba.
A média de produção anual de
litros de soro lácteo desse setor
no território argentino é de 3,8
bilhões, o que significaria um
potencial de fabricação de 102 milhões de litros de etanol.
“Poderíamos atender mais de 50% da demanda interna de
etanol sem destruir um hectare de bosque nativo ou de
cultivo alimentar, nem aumentar um centavo do preço do
açúcar”, diz Del Bono.
Tendo como base os preços do etanol fi xados pelo gover-
no argentino, a tecnologia poderia gerar um negócio de US$
70 milhões ao ano onde antes só havia o mau cheiro exalado
do soro. Com esses números em mãos, Del Bono convidou o
governo federal da Argentina a investir, junto com Córdoba,
US$ 215 mil em uma planta piloto para testar sua viabilidade
econômica e, só então, abrir o projeto ao setor privado.
OUTROS TESTES Iniciativas como essas estão se multiplicando na América do
Sul. A Universidade do Norte do Paraná, em Londrina, mon-
tou uma destilaria semelhante à de Córdoba. O coordenador
do projeto, Hélio Suguimoto, está tão otimista que afi rma
JUAN PABLO DALMASSO, DE CÓRDOBA
que o processamento industrial de resíduos lácteos poderá
ser mais econômico que o processamento da cana-de-açúcar.
Nada mal para um país que gera 5 bilhões de litros de soro de
leite ao ano.
No Chile, a Universidade Tecnológica Metropolitana
acaba de lançar um projeto de US$ 270 mil para fazer sua
própria planta piloto de transformação de resíduo de leite. A
iniciativa, que conta com fi nanciamento da agência alemã
de desenvolvimento sustentável GTZ e da ONG britânica
GVEP International, está de olho no 1,3 milhão de toneladas
de soro de leite que este país gera anualmente. Contudo, nem
todos estão otimistas. “Até agora, o único etanol competiti-
vo é o feito a partir da cana-de-açúcar”, assegura Juan José
Gonzalez, que trabalha no escritório argentino da empresa
belga De Smet Ballestra, líder mundial em tecnologias para
a indústria de biocombustíveis. “Fizemos contas e os núme-
ros não batem porque o rendimento é baixo e os custos de
logística, altos.” Segundo González, isso motivou a De Smet
Ballestra a descartar um projeto semelhante na Áustria, on-
de está seu centro de pesquisa e desenvolvimento.
Richard Ling, economista do Departamento de Agricul-
tura dos Estados Unidos, calcula que a viabilidade econômica
do etanol do leite depende de um ajuste na integração dos
processos. As escalas, segundo ele, não deveriam ser meno-
res do que uma produção diária de 60 mil litros de etanol.
Como exemplo, ele conta a ex-
periência da Nova Zelândia. A
empresa neozelandesa Fonter-
ra, maior fornecedora mundial
de produtos lácteos, criou, em
2007, a Anchor Ethanol Ltda.,
companhia que conta com duas
plantas capazes de produzir 19
milhões de litros de etanol obti-
do do soro lácteo por ano.
O caso da Fonterra não é bem-sucedido somente por
causa de sua escala. O segredo também está na integração
de processos, como colocar plantas processadoras em fontes
de energia geotérmica. Isso lhes permite “enfrentar um pro-
cesso energético intensivo, como é o destilado, a um baixo
custo”, diz David Reid, analista da Energy for Industry, con-
sultoria neozelandesa especializada em energia, com sede
em Oakland.
Em abril, a empresa láctea argentina Sancor, em socieda-
de com a sueco-dinamarquesa Arla Foods, começou a proces-
sar 2,7 toneladas de soro diárias para extração de proteínas,
cujo valor pode superar os US$ 8 mil por tonelada. Somar
a fabricação de etanol seria um passo natural, ainda que a
companhia, por enquanto, negue o interesse.
Mas Del Bono não desanima. “É muito provável que hoje
não sejamos competitivos. Mas a regra de ouro é não des-
cartar uma tecnologia por conta dos preços atuais, já que as
variáveis podem mudar”, afi rma.
O soro obtido com a
fabricação de lácteos da
Argentina possibilitaria
produzir cerca de 102 milhões
de litros de etanol por ano
80 AméricaEconomia Maio, 2010
CLICS & CHIPS
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ção
NETBOOK RECICLADOA Sony lançou no Brasil o Vaio W Eco, que
se diferencia por causar menos impacto
ambiental. O novo mininotebook tem
80% das peças plásticas feitas com
material reciclado, a partir de CDs e DVDs
descartados. Já o manual de instruções
é eletrônico, reduzindo o consumo de
papel. O produto está disponível na
cor branca, tem tela de 10,1 polegadas,
memória de 2 GB e disco rígido de 320
GB, com bluetooth e wi-fi integrados, e
bateria de até 3,5 horas de duração. O
preço sugerido é de R$ 2.099.
www.sony.com.br/vaioeco
NOVA NA FAMÍLIA
A Panasonic do Brasil traz ao mercado a primeira
câmera da linha Lumix 2010, a FP1. Entre os
diferenciais estão o design ultrafi no, tampa frontal
deslizante e conectividade com o YouTube.
O modelo conta com 12.1 megapixels e visor LCD
de 2,7 polegadas, com a função Intelligent LCD,
que detecta as condições de iluminação e controla
o nível de brilho. O valor sugerido é de R$ 699.
www.panasonic.com.br
SCANNER MINIATURAO One-Touch Scanner é um scanner de
fotos fabricado pela PanDigital, com
apenas 16 cm de largura, 300 gramas e
portátil, que é capaz de reproduzir fotos
em alta resolução sem a necessidade de
conexão a um computador. O One-Touch
vem acompanhado de adaptador de
energia, cabo USB e cartão de memória.
O preço sugerido é de R$ 399.
www.tecnoworld.com.br
TODOS OS MESES NAS BANCAS OU NA SUA CASA. ASSINE: WWW.REVISTAESPN.COM.BR OU LIGUE (11) 3512-9492.
A DE LERwww.springcom.com.br
REVISTA
82 AméricaEconomia Maio, 2010
LINHA DIRETA
REDES GEOSSOCIAIS?RODRIGO GUAYQUIL, DE SANTIAGO
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Q uando achava que já tinha dominado as redes
sociais, com uma bonita página da empresa no
Facebook e no LinkedIn e fi nalmente consegui con-
fi gurar o Twitter para atualizar notícias minuto a minuto
em consonância com nosso site, aparece um geek, com seu
iPhone, e pergunta:
- Você ainda não conhece o Foursquare?
Um frio me percorre a espinha. Há algumas semanas não
leio o TechCrunch e meu Google Reader tem mais de 6 mil
feeds em negrito, sem ler. Forço a memória para resgatar algo
relacionado a esse nome, e solto uma frase de efeito, para não
fi car mal na fi ta:
- Ah, essa rede social que se atualiza por telefone? Claro
que conheço, mas ainda não se pode usá-la no Chile.
Bola fora. O garoto ri. Placar: Nativo digital 1 x Imigrante 0.
Dez minutos de pesquisa depois, fi quei sabendo que: 1) des-
de janeiro o Foursquare está disponível no mundo inteiro e;
2) esse serviço não é apenas mais uma redezinha em que
se preenche um perfi l: trata-se de uma mistura de jogo, rede
social e guia de cidades.
Entro no Wikipédia, que tinha sido atualizado no dia an-
terior, e aprendo que o Foursquare é uma rede “geossocial” e
que, dentro dela, fazer check-in é ter passe livre para localizar
amigos, ganhar pontos e condecorações e até se transformar
no mayor de um bar ou qualquer outro antro: algo como o
primeiro a chegar e o último a sair.
Viajo a Buenos Aires e descarrego no Blackberry da em-
presa o aplicativo do Foursquare para provar a novidade do
ano. Tal como senti em relação ao Twitter, há três anos, o re-
sultado foi imediato: uma epifania. Percebo que estou diante
de uma dessas tecnologias disruptivas que podem mudar
completamente a forma de fazer marketing e negócios, ou
simplesmente a forma de interagir com os amigos.
Como o aplicativo utiliza o GPS do telefone, ou triangula
as antenas de telefonia, consegue identifi car o
ponto exato da cidade em que uma pessoa está
e indica restaurantes, bares, cinemas, teatros e
outros serviços disponíveis nas redondezas.
Penso que não terei mais de andar com o
jornal da cidade ou o pesado guia turístico, pois
outros usuários já deixaram pistas sobre o que
fazer e em que lugar, e recomendam o que comer
e o que evitar.
Assim, fi ca óbvio prognosticar que o marke-
ting urbano não será mais o mesmo. De volta
a Santiago, leio que, nos Estados Unidos e na
Europa, cafés e restaurantes dão descontos e
presentes aos que fazem check-in no Foursquare.
Já o jornal Financial Times trabalha conjunta-
mente com o Foursquare para oferecer assina-
turas gratuitas àqueles que façam check-in em
lugares selecionados, como cafés universitários
e escolas de negócios.
Quem se interessa em explorar essa nova rede
precisa de um aparelho iPhone, Android, webOS,
BlackBerry ou Windows Mobile, independente-
mente de este ter GPS. Depois, deve baixar a apli-
cação no site (www.foursquare.com), criar uma
conta e começar a dizer ao mundo onde está. A
graça é que quem acessa depois do horário comer-
cial ganha mais pontos, o que pode se converter
em uma boa desculpa para um happy hour:
- É que estou provando uma nova tecnologia
para a empresa, meu amor…
Atingir a entrega de duas mil unidades do Falcon é mais do que apenas uma celebração de êxito. É uma confi rmação de que todas as qualidades que temos desenvolvido desde 1963 são essenciais para um voo excelente. A força das tecnologias dos aviões de caça. A capacidade intelectual da liderança informática. A disciplina
da engenharia apaixonada. Tudo isto faz com que as máquinas de negócios de elevado desempenho dos Falcons atuais sejam mais econômicas e ecológicas do que qualquer outra na sua classe. Para conhecer a história completa, visite a nossa “Visita histórica interativa da Falcon” em falconjet.com/tour.
E N G I N E E R E D W I T H P A S S I O N
2000º
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