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Resiliência Médica Defesa natural contra o estresse pág. 16 Legislação Norma Técnica em SST é aprovada pág. 4 Artigo A nova ISO 26000 pág. 11 no ambiente de trabalho NR-17 completa 20 anos e é tema de discussão entre especialistas Págs. 6 e 7 Ergonomia Ano XXIII • Dezembro • 2010 Jornal da ANAMT Associação Nacional de Medicina do Trabalho www.anamt.org.br Impresso Especial 9912226452/2008-DR/GT ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE MEDICINA DO TRABALHO CORREIOS

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Resiliência Médica

Defesa natural contra o estresse

pág. 16

Legislação

Norma Técnica em SST é aprovada

pág. 4

Artigo

A nova ISO 26000

pág. 11

no ambiente de trabalhoNR-17 completa 20 anos e é tema de discussão entre especialistas

Págs. 6 e 7

no ambiente de trabalhoErgonomia

Ano XXIII • Dezembro • 2010

J o r n a l d a

ANAMTAssociação Nacional de Medicina do Trabalho www.anamt.org.br

Impresso Especial

9912226452/2008-DR/GT

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE MEDICINA DO TRABALHO

CORREIOS

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Jornal da ANAMT2 Dezembro 2010

Um ano de conquistas

O Jornal da Anamt é uma publicação trimestral, de circulação nacional, distribuída a seus associados. Os textos assinados não representam necessariamente a opinião da Anamt, sendo seu conteúdo de inteira responsabilidade dos autores. Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias publicadas neste jornal sem a autorização da Anamt.

Ano XXIII • Dezembro de 2010Jornal da ANAMT Uma publicação da

Associação Nacional de Medicina do Trabalho

Dr. Carlos Campos

m e n s a g e m d o p r e s i d e n t e

Cartas para a redação

Edifício Offi ce Flamboyant • Av. Dep. Jamel Cecílio, 3.310, sala 610 – Jardim Goiás – CEP: 74810-100 – Goiânia/GO • Telefax: (62) [email protected] • www.anamt.org.br

EXPEDIENTE

Dr. Carlos Campos

Em 2010, trabalhamos intensa-mente junto a órgão públicos e en-

tidades parceiras para conquistar avanços importantes na área de SST. Participando das principais discussões legislativas e sociais, reafirmamos o papel da Anamt como referência nacional em saúde dos trabalhadores. Como premissa fundamental, consolidamos o nosso pa-pel mobilizador em torno de uma agenda política forte no que tange à Saúde e a Segurança no Trabalho.

A participação da Anamt no V Congresso Brasileiro de Higiene Ocupacional, realizado em outubro, é um exemplo do protagonismo exercido por nossa associa-ção. Junto a outras instituições da área de SST, assina-mos e aprovamos uma moção que propõe a atualização da Norma Regulamentar nº 15, fundamental para garan-tir a saúde e segurança do trabalhador.

Em setembro, estivemos presentes no XV Congre-so Nacional de Salud en el Trabajo. No evento, reali-zado na cidade mexicana Ixtapa Zihuatanejo, tivemos oportunidade de trocar experiências com profissio-nais da área de SST provenientes de todas as partes do mundo.

A partir da participação pró-ativa em encontros in-ternacionais, fomos convidados para auxiliar a Comissão Organizadora do 30º Congresso da International Com-mission on Occupational Health (ICOH) na divulgação do evento, que será realizado em 2012 na cidade de Mon-

terrey, no México. Gradualmente, estamos sendo reco-nhecidos como ponto de referência internacional.

Todas as atividades que desenvolvemos nos últimos meses se refletem, naturalmente, nesta edição do Jornal da Anamt. Nas páginas que se seguem, o leitor encon-trará um pequeno resumo das preocupações que nor-teiam nossas atividades, desde o envolvimento com as discussões do poder legislativo até a atenção às tendên-cias culturais do mercado de trabalho. Como denomi-nador comum a todos os textos, a preocupação de zelar pela garantia da Saúde e Segurança no ambiente de tra-balho brasileiro.

Finalmente, agradeço a todos o excelente trabalho realizado e exprimo meus votos de que, em 2011, con-tinuemos a avançar em prol da qualidade de vida dos trabalhadores — nosso maior compromisso.

Presidente Dr. Carlos Campos • Diretora de Divulgação Dra. Marcia BandiniProdução Editorial Cajá – Agência de Comunicação

Jornalista responsável Bruno Chuairi (Mtb 18.296/84/40V) • Fotos: Hidden/Stock.Xchng (capa), Júlio Palmeirão/Stock.Xchng e Carlos Chavez/ Stock.Xchng (p. 3), Carl Dwyer/ Stock.Xchng (p.14)

Projeto Gráfi co e Diagramação Paulo Carvalho • Impressão Poligráfi cawww.caja.com.br • [email protected]

Gradualmente, estamos sendo reconhecidos como ponto de

referência internacional

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l e g i s l a ç ã o

O projeto de lei nº 7557/10, apre-sentado pelo deputado federal Ed-mar Moreira (PR-MG), propõe que os operadores de telemarketi ng sejam obrigados a submeter seus funcio-nários a exames periódicos de audio-metria, e prevê um dia de folga para a realização do procedimento. O texto tem sido contestado por pesquisado-res e médicos, que afi rmam não ha-ver justi fi cati vas para a proposta.

O otorrinolaringologista Everar-do Costa, membro do Comitê Na-cional de Ruído e Conservação Au-ditiva pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia, não acredita que as condições atuais de trabalho dos funcionários de telemarketing possam causar problemas auditi-vos. Para o médico, as disposições legais e a qualidade dos equipa-mentos são o bastante para impe-dir, em princípio, que exista qual-quer tipo de problema auditivo com os operadores.

Legalmente, o anexo I da Norma Regulamentar nº 15, publicada pelo Ministério do Trabalho, define que o limite de tolerância para ruído con-

Projeto de Lei propõe que empresas de telemarketi ng realizem audiometria

Dr. Everardo Costa afi rma que as

disposições legais vigentes são o bastante para

proteger a saúde do trabalhador

A proposta será ana-lisada em caráter con-clusivo pelas comis-sões da Câmara dos Deputados e não precisará ser vota-da pelo Plenário. No momento, o texto está em dis-cussão na Comis-são de Seguridade Social e Família.

tínuo e intermitente permitido é de 85 dBA (decibéis) para oito horas de trabalho. Os níveis equivalentes nos headphones utilizados no Brasil, por sua vez, não ultrapassam os 75 dBA. O Dr. Everardo completa: “À luz da legislação vigente, esses trabalha-dores não estariam obrigados a se submeter a exames audiométricos para fins preventivos, já que não es-tão em risco.”

A concessão de um dia de folga para a realização do teste também vai de encontro às leis. Segundo a portaria nº 19 do Ministério do Tra-balho, apenas os exames audiomé-tricos referenciais devem ser feitos em repouso auditivo prévio de 14 horas. Os subsequentes podem ser feitos em horário de trabalho.

O Dr. Everardo reforça a ausência de dados que comprovem a relação entre o uso contínuo de fones por teleatendentes e a perda de audi-ção: “A recomendação — e não a obrigação legal — para que se façam exames audiométricos em operado-res é mais para salvaguarda do que para prevenção”.

Dezembro 2010 3Jornal da ANAMT

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Depois de dois anos de trabalho, a norma sobre Gestão de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) foi aprovada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O texto, elaborado com participação ativa da Anamt, tem como fi-nalidade fornecer às organizações os requisitos necessários para a implantação eficaz de Sistemas de Gestão de SST.

A norma, publicada no dia 1º de dezembro, foi ideali-zada para ser aplicada por empresas de todos os portes. A discussão do documento levou em consideração as dife-renças culturais entre as regiões e os conhecimentos técni-cos relacionados à SST, bem como as dimensões continen-tais do país.

O Dr. Leonídio Ribeiro, engenheiro de segurança, associado da Anamt e coordenador da comissão que elaborou o texto, acredita que a aprovação do projeto é um marco para o setor. “A norma reforça a posição do nosso país como referência na área de prevenção de acidentes. O primeiro grande marco

Melhoria contínuaABNT aprova Norma Técnica em Saúde e Segurança do Trabalho que especifica requisitos para implantação de Sistemas de Gestão no setor

aconteceu em 1972, com a regulamentação do Serviço Espe-cializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), que tornou o Brasil o 1º do mundo a ter um serviço conjunto de SST”, comemora.

Baseada no modelo de sistema de gestão do tipo PEVA – Planejamento, Execução, Verificação e Ação —, a norma des-creve um processo de melhoria contínua. De acordo com as disposições do documento, “o sucesso do sistema depende do compromisso de todos os níveis e funções da organização, e es-pecialmente da alta administração”.

O Dr. Leonídio ressalta: “A organização, qualquer que seja seu tipo ou modelo, não pode se esquivar do fato de que atua num ambiente altamente competitivo. Por isso, é fundamental existir internamente uma cultura de SST que possa melhorar a produtividade e contribuir para uma utili-zação mais eficaz dos recursos”.

Para mais detalhes, acesse o site www.abntcatalogo.com.br

A partir de setembro, as 684.650 empresas que não tiveram acidentes ou concessão de benefício acidentá-rio nos anos de 2007 e 2008 tiveram a alíquota do seguro acidente redu-zida pela metade. A medida estava prevista na resolução 1.316/2010, aprovada em maio de 2010 pelo Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS). A partir de 2011, as empresas que forem flagradas pela fiscalização omitindo notificação de acidente ou doença de trabalho te-rão a alíquota dobrada.

As novas regras do Fator Aciden-tário Previdenciário (FAP), elabora-das para incentivar a melhora das

condições de saúde e segurança do trabalhador, irão manter o desconto de 25% para as empresas com au-mento na alíquota de contribuição. A ideia é incentivar o investimento na proteção dos funcionários. As em-presas que apresentarem óbito ou invalidez permanente não terão di-reito ao benefício.

Segundo o Ministério da Previdên-cia Social, as empresas tiveram um aumento na carga tributária por conta da alíquota do FAP. As estatísticas in-dicam que houve, entre 2003 e 2010, um aumento de 200% nos afastamen-tos classificados como acidente de trabalho, causando um aumento do

recolhimento do Seguro de Acidentes de Trabalho (SAT). A média é de mil mortes e oito mil aposentadorias por invalidez permanente por ano.

Criado em 2003, o FAP foi refor-mulado em 2009 pelo CNPS para que pudesse ser aplicado em 2011. O objetivo do governo é estimular o investimento na saúde e segu-rança do trabalhador. Com a nova metodologia, serão recalculadas as alíquotas de tarifação individual de 952.561 empresas. As que apresen-tarem menor índice de acidente te-rão descontos nas tarifas. Por outro lado, aquelas que tiveram aumento de incidentes pagarão mais.

Regras beneficiam empresas livres de acidentesMedida estimula investimento na saúde e segurança do trabalhador

Jornal da ANAMT4 Dezembro 2010

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Dezembro 2010 5

f e d e r a d a s

Há estimativas de que, no mundo, faltem hoje quatro milhões de profissionais de saúde. Essa é a trágica realidade das populações de países pobres e ricos. No Brasil, proclamado emergente e dito au-tossuficiente, há centenas de municípios e milhares de brasileiros desassistidos, apesar de dispormos de mais de 340 mil médicos em atividade.

Predomina nesse contexto a péssima qualidade do ambiente de trabalho, prejudicando o desempe-nho e afastando dele os profissionais. Esse é, sem dúvida, um dos mais graves problemas de saúde do mundo de hoje. Quais são as intervenções neces-sárias para qualificar positivamente o ambiente de trabalho? Reconhecimento profissional, gerencia-mento de Recursos Humanos e estruturas de apoio.

Surpreende que, apesar do acúmulo de evidên-cias nesse campo, as autoridades encarregadas de geri-lo continuem a ignorar as soluções e insistam em propostas vazias, gastando precioso tempo, energia e dinheiro público tentando legitimá-las.

Vem delas apenas programas desgastados como a importação de profissionais do exterior, serviço social obrigatório, descaracterização do escopo das profissões e transferência de responsabilidades sem correspondente qualificação, farta distribuição de diplomas tentando distribuir profissionais por trans-bordamento, limitando as alternativas a tangê-los ao que julgam ser a prioridade do momento...

A lista de despautérios é longa e, infelizmen-te, não se limita às brevemente citadas acima. Até quando nos deixaremos assim mal conduzir? Até quando nossa sociedade tolerará a falta de serie-dade e competência no trato de assuntos que lhe dizem respeito tão de perto?

José Luiz Gomes do Amaral Presidente da Associação Médica Brasileira

A Estalagem das Minas Gerais, um dos mais ricos pa-trimônios da humanidade, foi palco da 24ª Jornada da Associação Mineira de Medicina do Trabalho (Amimt), entre os dias 28 e 30 de outubro. O evento reuniu 290 especialistas de MT na cidade de Ouro Preto para debater questões relevantes à especialidade médica.

Com o tema “A ciência e o contencioso na práti ca da me-dicina do trabalho”, o encontro teve como objeti vo apresen-tar atualizações e discuti r resultados de estudos e metodo-logias da Medicina do Trabalho. Além disso, proporcionou uma troca de experiências, debates e outras ati vidades que visam ao fortalecimento e integração dos parti cipantes.

Membros da Associação Nacional de Medicina do Traba-lho (Anamt) de diversos estados contribuíram para a Jornada com palestras. Entre os temas abordados, estavam o Con-gresso da Anamt de 2010, que aconteceu em maio na cidade de Gramado; o Cálculo do Fator Acidentário de Prevenção; e a doença mental em decorrência de assédio moral.

A Jornada da Amimt é um evento tradicional em Mi-nas Gerais. Na edição de 2009, foi ati ngido o recorde de 350 parti cipantes. Além de contemplar assuntos de inte-resse dos profi ssionais da área de segurança e saúde do trabalho, o evento é também uma oportunidade de reali-zar um intercâmbio de experiências.

A qualifi cação do ambiente de trabalho

Jornada mineiraEvento da federada Anamt de Minas Gerais discutiu atualizações na medicina do trabalho através de palestras e debates

Presidente da Anamt, o Dr. Carlos Campos parti cipou da abertura do evento ao lado da presidente da federada de Minas Gerais, Dra. Walneia Moreira

Jornal da ANAMT

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Jornal da ANAMT6 Dezembro 2010

Em 1989 o Ministério do Trabalho convocou toda a sociedade

civil para que organizasse seminários e debates onde se

pudessem colher sugestões para a melhoria de todas as Normas

Regulamentadoras.

Redação fi nal da NR-17 completa 20 anos

c a p a

No mês de novembro, a redação final da Norma Re-gulamentar 17 completou 20 anos de existência. Publi-cada em 1990 por meio da portaria 3751, a norma foi a primeira a incluir uma dinâmica social no processo de sua formulação ao ser levada para consulta pública. A NR-17 trata de ergonomia e representa uma ampliação dos artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Ela descreve melhor os aspectos do mobiliário e da área de trabalho, definindo, por exemplo, o ajuste da altura para os assentos de acordo com a estatura do emprega-do e a natureza da função exercida.

Essas e outras exigências da norma visam estabele-cer parâmetros que permitam a adaptação das condi-ções de trabalho às características psicológicas e físicas do funcionário. As mudanças proporcionam maior con-forto, segurança e um desempenho mais eficiente dos trabalhadores. Porém as modificações ainda são encara-das pelas empresas como obrigação onerosa.

Qualidade de vidaOs profissionais da área de ergonomia trabalham

para desfazer o preconceito existente sobre o tema na cultura empresarial. Os especialistas garantem que in-vestir na saúde e conforto do trabalhador é essencial para o sucesso de empresas que se planejam em longo prazo e desejam competir no mercado globalizado.

Para a Dra. Lys Esther Rocha, diretora do Centro de Estudos Avançados em Medicina do Trabalho da Anamt, nos últimos 20 anos a ergonomia tem sido incorporada nas empresas diante de situações específicas, seja por diagnóstico de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/DORT) ou por necessidade de reestru-turação da produção. “O que cresceu nos últimos anos foi a participação dos trabalhadores através dos Comitês

Norma, que assegura obrigatoriedade da implantação de medidas ergonômicas, ajuda a proteger integridade física e psicológica do trabalhador

de Ergonomia das empresas para modificar situações de trabalho”, explica.

Segundo o Dr. Hudson Couto, especialista em Me-dicina do Trabalho, a implantação de um plano de er-gonomia é fundamental para preservar a qualidade de vida dos trabalhadores. “Quando encaramos os desafios existentes para a realização do trabalho, buscando e corrigindo as situações causadoras de afastamento, de dor, de desconforto, de dificuldade e de fadiga excessi-va, melhoramos enormemente a qualidade de vida dos trabalhadores.”

Processos eficientesO planejamento, fator crucial no desenvolvimento

das empresas, deverá conter itens importantes da ergo-nomia. Para ele, a preocupação já existe e deve se inten-sificar nos próximos anos: “A questão ergonômica estará relacionada à reestruturação produtiva de uma empre-sa, assim como a organização do trabalho e da gestão, a qualidade de vida no trabalho e a saúde mental serão tratados como pontos estratégicos nas relações de tra-balho”, ressaltou.

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c a p a

Para otimizar o investimento, existem estudos que indicam os processos mais eficientes para incorporar a ergonomia no cotidiano das empresas. Além disso, o fortalecimento dos cursos de formação especializada e a contratação de profissionais qualificados podem contri-buir para minimizar os gastos.

“Se a ergonomia tem um custo, não praticá-la apre-senta um gasto ainda mais elevado. Isso é demonstrado através de números de absenteísmo médico, acidentes do trabalho por más condições ergonômicas, processos de reparação pelo dano e pelos custos envolvidos na “saia justa” dos TACs assinados com o Ministério Público do Trabalho — todos eventos de altíssimo custo”, argu-menta Dr. Hudson.

Mudança de visãoJá o Dr. Fausto Mascia, professor de ergonomia em siste-

mas de produção da Escola Politécnica da USP, acredita que o maior desafi o é mudar a visão que associa a ergonomia apenas às áreas de recursos humanos e de saúde. “Por conta das demandas existentes, ou seja, dentro de um contexto de evolução permanente das empresas, houve um momento em que a ergonomia teve maior visibilidade em ações de melhoria de situações de trabalho existentes”, pondera.

No entanto, Dr. Fausto argumenta que é “necessário estender as possibilidades de ação da ergonomia, e isto será possível na medida em que esta for vista como uma área que está diretamente asso-ciada à produção”. Tal maneira de ver a er-gonomia pode favorecer o planejamento de ações ainda na fase de desenvolvimen-

to de projetos e, nesse sentido, antecipar os possíveis problemas ou dificuldades que se apresentarão para os trabalhadores ao realizar a sua atividade.

NR-17: mais de 20 anosA publicação da Portaria N.º 3214, de 1978, estabe-

leceu as Normas Regulamentadoras relati vas ao Capítulo V da CLT de Segurança e Medicina do Trabalho, entre as quais, a NR-17. Inicialmente, a medida abrangia: o levan-tamento, transporte e descarga de materiais; disposições sobre as bancadas, mesas, escrivaninhas, painéis e sobre os assentos ajustáveis.

No entanto, o conceito clássico da Saúde Ocupacional ainda se mostrava pouco compatí vel com a realidade dos trabalhadores. Em 1989 o Ministério do Trabalho convo-cou toda a sociedade civil para que organizasse seminá-rios e debates onde se pudessem colher sugestões para a melhoria de todas as Normas Regulamentadoras. O texto fi nal publicado na Portaria N.º 3751, de 1990, representa o resultado de uma negociação triparti te com a parti cipa-ção de representantes dos empregadores, dos trabalha-dores e do Ministério do Trabalho.

Em 2001, foi elaborado um Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora 17 que serviu para auxiliar na ação dos Auditores Fiscais do Trabalho e dos profissio-

nais de Segurança e Saúde do Trabalhador nas em-presas. Recentemente, a norma recebeu novos

anexos, elaborados a partir de Comissões Tripartites e Consultas Públicas à so-

ciedade via site do Ministério do Trabalho e Emprego.

Dezembro 2010 7Jornal da ANAMT

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Jornal da ANAMT8 Dezembro 2010

e n t r e v i s t a

Presidente da Fundacentro desde maio de 2010, o médico Eduardo de Azeredo Costa comanda uma das instituiçõesbrasileiras mais importantes da área de saúde e segurança no trabalho. Presente em 11 estados e no Distrito Federal, a Fundação tem como objetivo produzir e difundir conhecimentos que contribuam para a promoção da segurança e saúde dos trabalhadores, considerando o desenvolvimento sustentável, o crescimento econômico, a equidade social e a proteção do meio ambiente.

A NR-17 foi elaborada há 20 anos. Existe uma discussão de métodos no campo da ergonomia entre os que defendem uma abordagem mais focada no trabalhador e aque-les que acreditam que o foco deve estar nos processos ou ambientes de trabalho. Como o senhor enten-de esta divergência entre a huma-nização e a racionalidade absoluta?Eduardo de Azeredo Costa — Enten-demos que tanto os processos de trabalho devem ser avaliados como também os ambientes de trabalho, oferecendo ao trabalhador o máxi-mo de conforto, segurança e eficiên-cia. Este trinômio é o que a ergono-mia procura oferecer ao trabalhador. Naturalmente, com o decorrer dos anos, novos procedimentos e mu-danças vão ocorrendo e devem ser incorporados à NR-17 respeitando o tripartidarismo.

É possível pensar que existe uma abordagem diferenciada no país, uma “ergonomia brasileira”?Eduardo — Sim, é possível. Aqui na Fundacentro existem trabalhos vol-tados exclusivamente para a ergo-nomia brasileira, como é o caso do projeto de revitalização das casas de farinha, idealizado pela instituição.A ergonomia brasileira vem crescendo aos poucos e sendo conhecida. Outro exemplo é o trabalho que está sendo desenvolvido nas indústrias de con-fecção, couro e calçado. Inteiramente brasileiro, o projeto está tendo como resultados a redução dos afastamen-tos e o aumento da produção.

Profissionais de diferentes forma-ções atuam como ergonomistas no Brasil. Como a Fundacentro enten-de este tipo de prática? Existe al-gum plano estratégico para capaci-

tar profissionais em ergonomia?Eduardo — De fato a ergonomia é um campo multidisciplinar que en-volve conhecimentos da engenharia, medicina, psicologia, arquitetura, designer e outras. Para cada estu-do de campo em particular existem profissionais que são mais especia-lizados e/ou experientes que podem dar sua contribuição de forma mais conclusiva devido à sua formação profissional básica.

Qual a importância da NR-17 na discussão dos fatores psicossociais no trabalho? O senhor acredita que o Brasil já lida bem com a questão destes fatores psicossociais e com a questão da saúde mental no tra-balho?Eduardo — Os fatores psicossociais no trabalho vêm sendo estudados há muitos anos. Existem vários pro-

Ergonomia: gestão integrada

Presidente da Fundacentro desde maio de 2010, o médico Eduardo de Azeredo Costa comanda uma das instituições

segurança no trabalho. Presente em 11 estados e no

produzir e difundir conhecimentos que contribuam

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Dezembro 2010 9Jornal da ANAMT

e n t r e v i s t a

blemas é lógico, como existem, na nossa sociedade, problemas men-tais associados ao desemprego. A empresa deve criar um ambiente propício ao relacionamento de seus trabalhadores, bem como o apoio social para que enfrente as dificul-dades do campo laboral e social.

De acordo com estudo publicado pela International Stress Manage-ment Association Brasil, sete em cada dez trabalhadores brasileiros sofrem de estresse. Em sua opi-nião, o que pode ser feito para me-lhorar as condições de saúde men-tal dos trabalhadores e reduzir os transtornos mentais relacionados ao trabalho?Eduardo — Devem ser estudados os problemas, as causas e procuradas soluções para reduzir os transtornos mentais relacionados ao trabalho. Isso leva algum tempo, pois vão sur-gindo novos fatos que demandam novos estudos para buscar soluções.

Muito se discute no país sobre a necessidade de desenvolver mais as competências de profissionais de Saúde e Segurança no Traba-lho, tanto técnicas como de gestão. Como a Fundacentro pode contri-buir para isso?Eduardo — Buscando oferecer toda a logísti ca e infraestrutura para o desenvolvimento na práti ca de pro-fi ssionais mais preparados em suas competências profi ssionais para ofe-recer técnicas e condutas que melho-rem a SST. Não devemos dissociar a prescrição da gestão operati va para a implementação de medidas, sua avaliação e ajustes permanentes, tra-balho que consideraríamos de espe-cialistas em SST. Isso é o que se dá no terreno, nas unidades produti vas em-presariais. Ademais a problemáti ca a nível regional, setorial ou nacional

requer um outro ti po de gestão. Para tanto estamos preparando um curso de pós-graduação em Segurança e Saúde no Trabalho. É bem claro que a tônica deve ser o preparo para a discussão e formulação de políti cas e para a gestão em SST. Pela formação básica de origem e disciplinas optati -vas, pode se investi r em subespecia-lidades, mas essa pós-graduação não pode se limitar a preparar "especia-listas" – seria um equívoco.

A vontade política nem sempre acompanha as descobertas médi-cas. No caso do uso do amianto, estudos garantem que o composto é prejudicial à saúde dos trabalha-dores. Por outro lado, o Brasil é um dos maiores produtores de amian-to do mundo. Como vencer o lobby das empresas que utilizam amianto e transformar as pressões sindicais e sociais em leis efetivas que prote-jam a saúde do trabalhador?Eduardo — À medida em que vão apa-recendo novas descobertas, os gover-nos e a sociedade vão tomando novas medidas de saúde e segurança para solucionar os problemas de modo a melhorar a saúde do trabalhador. A busca de inovação tecnológica, de modo geral, visa assegurar competi -ti vidade empresarial pelo lançamento de novos produtos ou através da redu-ção dos custos da produção. Sempre que não se conseguir asso-ciar um maior rendimento industrial direto com uma substi tuição de ma-teriais visando a uma maior segu-rança e saúde no trabalho, haverá difi culdades para implantá-la. Mui-tos produtos que ti nham o amianto como matéria-prima na fabricação já estão sendo substi tuídos. As caixas d´agua e telhas, por exemplo, que antes eram fabricadas em amianto, agora são de plásti co ou cimento. De qualquer modo, um bom estí mulo

para a empresa investi r em inovação é criar os constrangimentos legais e criar as oportunidades para que se possam oferecer maior saúde e segu-rança a seus trabalhadores.

A questão da Gestão Integrada em SST tem sido debatida em even-tos de várias classes profissionais. Como o senhor acredita que é pos-sível fazer uma gestão integrada de SST considerando o atual cenário legal e social de nosso país?Eduardo — Sinceramente, correndo o risco de ser mal interpretado, não existe gestão desintegrada. A gestão visa obter resultados, com ganhos sociais. Pode haver em certas cir-cunstâncias objetivos limitados ou de curto prazo. De outro lado, toda gestão é social. É preciso ter clareza sobre quem são os envolvidos e que grupos devem ser os beneficiários. As ações desencadeadas sim preci-sam ser coerentes e integradas. No nosso campo essas ações procuram ir ao encontro de melhores condi-ções de trabalho e emprego, anseio das classes trabalhadoras.

"A empresa deve criar um ambiente propício ao relacionamento de seus trabalhadores, bem como o apoio social para que en-frentem as difi culdades do campo laboral e social."

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Jornal da ANAMT10 Dezembro 2010

"Proibição do amianto é questão de tempo"

Proibida em 63 países, a utilização do amianto na indústria é tema de intensa discussão no Brasil. Considerando que o material é cance-rígeno, organizações sociais, ambientalistas e

associações de vítimas trabalham para proibir definiti-vamente o uso do minério em território nacional. Atu-almente quatro estados da federação proíbem a pro-dução, o transporte, a comercialização e a utilização do amianto: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambu-co e São Paulo.

A fundadora da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea) e coordenadora da Rede Virtual-Cidadã pelo Banimento do Amianto para a América Latina, Fernanda Giannasi, reafirma a importância da participação social para o avanço da questão. “Leis, po-demos ter no Brasil todo, mas, sem a organização da sociedade para fiscalizá-las, elas ficam só no papel.”

Comissão recomenda proibiçãoPara desestimular a produção do amianto, que é de

difícil destinação final, foi aprovada no CONAMA a Reso-lução 348 em 2004. O texto determina que materiais que contenham o amianto devem ser descartados em aterros para lixo perigoso: “A medida, que encarece a cadeia pro-dutiva da construção civil, ajuda a desestimular o uso de produtos contendo a fibra mineral onde ela ainda é per-mitida”, explicou Fernanda.

Em maio deste ano, um grupo de trabalho da Comis-são de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara Federal dos Deputados divulgou extenso re-latório, defendendo a proibição definitiva da produção, da utilização e da comercialização do amianto.

A proposta para proibir o uso do amianto se baseia em estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS), que classificam o material como cancerígeno, e sem li-mites seguros de exposição.

De acordo com os dados mais recentes1 publicados pela OMS, cerca de 125 milhões de trabalhadores em

todo o mundo encontram-se expostos, no ambiente de trabalho, ao amianto, e, aproximadamente, 107 mil pessoas morrem a cada ano das diversas doenças a ele atribuídas. No Brasil, segundo dados das indústrias, a estimativa indica que cerca de 270 mil trabalhadores estão expostos ao amianto em diversas atividades, in-cluindo comércio e transporte.

Brasil: 3º maior produtorNa defesa da manutenção da exploração e utiliza-

ção do mineral, as indústrias se apoiam em pressupos-tos econômicos. O principal deles é que o Brasil é o terceiro maior produtor e exportador do minério e que sua mina em Goiás (Minaçu) é uma das mais seguras e modernas do mundo.

Alegam também que o uso da fibra mineral em te-lhas e caixas d’água se limita a entre 7% e 10% no produ-to acabado e que não há comprovação de contaminação de trabalhadores depois de terem sido adotadas medi-das técnicas de segurança a partir da década de 1980.

Prazo para a substituição do amiantoFernanda acredita que, devido às dificuldades de

emplacar uma lei federal, a curto prazo, será necessá-rio retomar o trabalho nas esferas municipais e estadu-ais. “A proibição é inevitável. É uma questão de tempo. O mercado já decidiu e a indústria já tem a tecnologia da substituição desenvolvida.” Para a especialista, o trabalho agora é incentivar a migração para o uso de produtos livres de amianto.

Os fabricantes de fibrocimento isentos de amianto defendem através da Associação Brasileira das Indústrias e Distribuidores de Produtos de Fibrocimento (Abifibro) que seja estipulado um prazo para a substituição do amianto por outros produtos. Já os representantes dos trabalhadores da mina de amianto de Minaçu (GO) lutam para que a recomendação não ganhe força, já que nenhu-ma alternativa ao trabalho com amianto lhes é oferecida.

Especialista no assunto, Fernanda Giannasi ressalta a importância da fiscalização da sociedade e incentiva o uso de produtos livres de amianto

1 In http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs343/en/index.html

n o t í c i a s

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Dezembro 2010 11Jornal da ANAMT

a r t i g o

Após cerca de cinco anos de in-tenso trabalho, com destaque para as importantes contribuições brasi-leiras e suecas na Organização Inter-nacional de Normalização (ISO), foi aprovada a nova Norma 26000 da ISO, sobre “Diretrizes de Responsabi-lidade Social”, cujo lançamento mun-dial se deu no início de novembro de 2010, em Genebra.

Diferentemente das outras nor-mas ISO, inclusive as relacionadas com as áreas de atuação do campo da Saúde Ocupacional, da Saúde Ambiental e da Gestão da Qualidade (Norma OHSAS 18001, Norma ISO 14001 e Norma ISO 9001), a nova Norma ISO 26000, sobre Responsa-bilidade Social, é lançada com o pro-pósito de se constituir numa diretriz orientadora da atuação de empresas e organizações, porém de caráter e adesão voluntários, não acompanha-dos de certificação.

Com efeito, o trabalho prepara-tório em direção à Norma ISO 2600 sobre “Diretrizes de Responsabili-dade Social” envolveu cerca de 450 especialistas de 99 países, além de 200 observadores e 42 organiza-ções regionais e internacionais com relevância para o tema, como, por exemplo, a Organização Internacio-nal do Trabalho (OIT) e a Organiza-ção Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, além da representação ofi-cial por meio da ABNT, participou o Instituto Ethos de Responsabilida-de Social. As delegações nacionais incluíram múltiplas “partes interes-sadas” (stakeholders) da sociedade, tais como trabalhadores, consumi-dores, empregadores, Governo,

A nova ISO 26000 e a SST

ONGs e outras, ampliando assim o leque de entendimento, consenso e legitimidade.

Escopo da “Responsabilidade So-cial” e Nova Inserção da SST

Um dos principais avanços trazidos pela construção coletiva da Norma ISO 26000 e assim também esperado na adoção efetiva pelas organizações é a ampliação do escopo do que é “res-ponsabilidade social”. Segundo a Nor-ma, o centro do escopo é constituído por sete áreas, que pela primeira vez estão juntas, e são reconhecidas como expressão concreta do exercício de “responsabilidade social” empresarial, a saber: direitos humanos, práticas trabalhistas, meio ambiente, práticas operacionais justas, questões dos con-sumidores, envolvimento e desenvol-vimento da comunidade e governança organizacional.

Em relação à Saúde e Segurança do Trabalho, é importante destacar que ela aparece de forma indireta, em vários tópicos do conteúdo da Norma, mas tem visibilidade elevada e específica no tópico “práticas tra-balhistas” (“labour practices”). Com efeito, após a conceituação do ob-jeto da “Saúde e Segurança do Tra-balho” (item 6.4.6.1. da Norma), há um elenco de cerca de 19 ações que deveriam ser desenvolvidas por or-ganizações “socialmente responsá-veis”, muitas delas bem avançadas, quando comparadas com as práticas ainda comuns na maioria das empre-sas, em nosso país e em outras par-tes do mundo.

Assim, percebe-se que os pata-mares de referência conceitual e prática da SST, além de superarem

a antiga vinculação exclusiva com a área do “Trabalho” (expressa no caso brasileiro pela CLT e pelas NRs), e até o vínculo com os campos da “Previdência Social” e da “Saú-de”, Saúde e Segurança do Trabalho, se relaciona horizontalmente com o “Meio Ambiente”, com o “Direito do Consumidor”, com a “Governança Corporativa Ética” com a “Partici-pação e Desenvolvimento da Comu-nidade” e, principalmente, com os “Direitos Humanos”, compondo os pilares básicos da “Responsabilida-de Social”.

Trata-se de inegável sinal de avan-ço da sociedade, dado, também, que mais stakeholders – para além da an-tiga formatação “tripartite” (governo, trabalhadores e empregadores) – se juntam para tentar renovar o mun-do do trabalho, construir melhores condições e ambientes de trabalho, e assim, juntos, buscar melhores con-dições de vida e saúde dos trabalha-dores. Estamos felizes por ver e viver esta possibilidade de construção co-letiva de um mundo melhor!

*Dr. René Mendes - Médico especialista em Saúde Pública e em Medicina do Trabalho,

ex-presidente da Anamt e Professor do Department of Environmental Health Sciences da

Universidade Johns Hopkins (Baltimore, EUA).

René Mendes*

"A ISO 26000 é um inegável sinal de avanço da sociedade."

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Jornal da ANAMT12 Dezembro 2010

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Novo site é a última fase de projeto que reformulou a

logomarca da instituição e o design do Jornal da Anamt

A Anamt lançou, em dezembro de 2010, seu novo Portal insti tucional. Com o objeti vo de consolidar a Associação como referência em Segurança e Saúde do Tra-balhador, o novo espaço virtual oferece informação e facilidades para associados e interessados em SST. Além do conteúdo, atualizado e organizado por temas, o de-sign arejado e claro facilita a leitura.

O método usado para a produção de conteúdo também foi reformulado. Pen-sando na grande quantidade de informa-ção que o profissional recebe diariamen-te, a Anamt adequou os textos do Portal à linguagem da rede de computadores, primando pela objetividade e concisão. A atualização do site também será um pon-to forte. A ideia é transformar o portal em um ponto de referência para os profissio-nais da área.

O presidente da Anamt, Dr. Carlos Campos, explica que a modernização dos produtos de comunicação institucional fortalece e amplia o diálogo com a socie-

Site novo em 2011

dade. Para ele, “fortalecer a identidade visual é essencial para assegurar um dos nossos principais papéis, que é represen-tar o médico do trabalho em todo o país e influenciar o debate sobre SST”.

A diretora de divulgação, Dra. Marcia Bandini, completa: “A intenção é escla-recer, em linguagem simples e direta, porque cinco mil médicos do trabalho se reúnem em torno da Associação. Assim, nosso objetivo é mostrar que a luta por melhores condições de saúde e seguran-ça para o trabalhador está longe de ser apenas nossa”.

O processo de modernização visual da Anamt foi iniciado com a apresenta-ção da nova logomarca durante o 14º Congresso da Anamt, que aconteceu em maio na cidade de Gramado. Em segui-da, o Jornal da Anamt teve seu projeto gráfico modernizado. Já na edição de ju-nho, a publicação exibiu nova cor, com-binando com a logo, além de referências gráficas suavizadas.

Acesse o novo portal em www.anamt.org.br

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Dezembro 2010 13Jornal da ANAMT

Com o objetivo de contribuir para a pro-teção da saúde dos profissionais que traba-lham à distância, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicou, neste ano, o livro Offshoring and Working Conditions in Remote Work. O trabalho, que é o primeiro do gênero a incluir o Brasil como objeto de estudo, pre-tende ser um primeiro passo na elaboração de medidas para proteger a saúde e a segu-rança dos trabalhadores do setor.

Segundo o coeditor da publicação, Jon Messenger, é necessário desenvolver um novo planejamento dos processos de trabalho, em particular nos call centers, e incentivar o diálogo social na indústria, o que beneficiaria tanto trabalhadores como empregadores. Ele acredita que, mesmo não sendo possível conhecer as condições de trabalho em toda a indústria BPO (Business Process Outsourcing) do país, ficará mais entender as ca-racterísticas do setor.

A pesquisa, que incluiu estudos de casos em quatro importantes países de “destino” – Argentina, Brasil, Índia e Filipinas –, analisou o trabalho à distância, seu impacto nos mercados laborais e o comportamento da força de tra-balho. Segundo o pesquisador, a indústria BPO pode ser dividida em dois amplos setores: serviços de voz, como call centers, e serviços de gestão, que incluem serviços financeiros, de contabilidade, processamento de dados e administração, e desenvolvimento de recursos humanos.

Messenger identifica problemas especialmente nos serviços de call center. Com a pesada carga de trabalho, os procedimentos monitorados, o sistema de metas e a rotina monótona, essas empresas criam condições que aumen-tam o risco de estresse e colocam o setor entre os recor-distas de abandono de emprego. Em algumas empresas a taxa de rotatividade pode alcançar, anualmente, os 100%.

O estudo identificou, ainda, diferenças entre o mer-cado brasileiro e o de outros países. No Brasil, as em-

Trabalho à distância é tema de livro lançado pela OITPesquisador da OIT defende políticas para a proteção da saúde dos profissionais que trabalham à distância

presas de BPO servem primordialmente ao mercado interno, diferentemente de países anglófonos, como a Índia e as Filipinas que prestam serviços internacionais em tempo-real. Nos outros três países estudados, o tra-balho noturno – calculado sobre a diferença do fuso horário entre os clientes e as centrais de atendimento – é prática comum.

No livro, algumas conclusões fogem de ideias consolidadas. O deslocamento e a sub-contratação feitas por empresas de países de-senvolvidos em países em desenvolvimento

estão criando empregos de qualidade razoável segundo os critérios locais. O salário de trabalhadores BPO na Ín-dia é, em geral, 53% maior do que os de trabalhadores da mesma idade em outras indústrias. Em São Paulo, o cenário não é tão positivo. O salário de um operador de telemarketing simples é de R$ 558, enquanto os profissio-nais bilíngues e trilíngues têm salários que variam entre R$ 800 e R$1.000.

O estudo indicou ainda o perfil dos trabalhadores nesta indústria. No Brasil, os funcionários de call centers têm en-tre 18 e 25 anos, cursaram o segundo grau e falam, normal-mente, apenas o português. As mulheres detêm a maior participação na força de trabalho em três dos quatro países estudados. A média geral é de 60% de presença feminina na indústria de BPO. No Brasil, este índice sobe para 75%.

Para Messenger, estudar o tema é fundamental para captar as tendências da indústria, e incentivar a elabora-ção de políticas que defendam a saúde dos trabalhadores do setor. “O governo brasileiro adotou uma legislação que melhora as condições de trabalho no segmento de call center, mas ainda há muito a ser feito.”

Referência: Messenger, Jon C.; Ghosheh, Naj. Offshoring and Working Conditions in Remote Work. 1ª ed. Palgrave Macmillan, 4 Jun 2010, 304 pp.

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Jornal da ANAMT14 Dezembro 2010

Médicos estão entre os profissionais que mais sofrem com o distúrbio

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Síndrome de Burnout causa prejuízo de 4,5% do PIB

Pesquisa publicada pelo International Stress Manage-ment Association Brasil (ISMA) revela que sete em cada dez trabalhadores brasileiros sofrem de algum tipo de estresse e que 30% destes apresentam nível crônico, si-tuação conhecida como Síndrome de Burnout. O estudo estima que o problema provoca um prejuízo de aproxima-damente 4,5% do PIB nacional.

As principais características apresentadas pelos pro-fissionais afetados pelo Burnout são exaustão, irritabili-dade, falta de atenção, ineficiência e depressão. Do to-tal, 93% se sentem incapacitados para trabalhar e 89% sofrem de presenteísmo: estão no local de trabalho, mas não são eficientes.

Desafios para o Médico do TrabalhoPara o Dr. Carlos Campos, presidente da Anamt, mais

do que cumprir a lei, é necessário entender a saúde do trabalhador como um modelo de gestão: “Ainda persiste a visão reativa de obedecer e atender às obrigações le-gais pertinentes à área de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). É importante internalizar, como modelo de gestão, a saúde e a segurança no trabalho como um valor agrega-do aos princípios e metas da empresas”.

Segundo dados da Organização Internacional do Tra-balho (OIT), a depressão será a doença mais comum do mundo em 2030, o que deverá gerar custos para as em-presas. O Dr. Carlos ressalta: “O cenário já é preocupante; 70% das pessoas economicamente ativas possuem algum tipo de sequela, como doenças crônicas, depressão, obe-sidade e LER/DORT”.

O presidente da Comissão Técnica de Saúde Mental e Trabalho da Anamt, Dr. Duílio Antero de Camargo, res-salta que a produtividade da empresa pode cair, já que é difícil identificar no início um profissional que sofra da Síndrome de Burnout: “Os sintomas iniciais muitas vezes não são característicos e o tratamento depende das ne-cessidades individuais do portador”.

O Dr. Duílio alerta ainda sobre o fato de que, se os sintomas apresentados forem muito intensos, o traba-lhador poderá requisitar o afastamento do trabalho, o que é previsto na lei: “Se os sintomas forem muito in-tensos, o trabalhador poderá ser afastado do trabalho pelo médico assistente, como previsto na lei. O processo se dá através de atestado médico, e, após o 15º dia, o paciente é encaminhado à perícia médica do INSS”.

Treinar bons chefes: solução imediataRelatório apresentado pelo National Institute for He-

alth and Clinical Excellence, da Inglaterra, apontou que a postura negativa dos chefes pode acentuar o crescimen-to de problemas mentais no ambiente de trabalho. Na pesquisa, centenas de voluntários foram avaliados, e o resultado indicou que ¼ acreditava que a própria situa-ção mental era moderada ou ruim.

A partir das avaliações escritas, a equipe de pesquisado-res descobriu que um comentário positivo do chefe depois de um trabalho bem-feito, aliado a horários mais flexíveis e mais dias de folga como recompensa pela produtividade poderia reduzir em 30% os casos de estresse, de depressão e da Síndrome de Burnout entre os funcionários.

Síndrome recenteEm 1974, o pesquisador Freunderberger observou a

alteração de humor e a queda da motivação de profissio-nais de saúde que trabalhavam com ele. A nova síndro-me se caracterizava por comportamentos agressivos e irritadiços, e, diferentemente do estresse convencional, o Burnout provocava atitudes grosseiras que contamina-vam os que estavam por perto.

Entre as categorias de profissionais que mais sofrem com o Burnout, estão os profissionais de saúde, de edu-cação e de segurança. Em comum, o ritmo de trabalho, as horas extras e as contínuas cobranças são fatores que ajudam a desencadear a síndrome.

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Com quase três anos de antecedência, a Anamt já iniciou os preparativos para a organização do 15º Congresso da As-sociação Nacional de Medicina do Trabalho. O evento acon-tecerá em São Paulo, entre os dias 1º e 6 de maio de 2013.

Em outubro, foi realizada a primeira reunião do even-to e ficou definido os Comitês Executivo, Organizador e Científico que serão responsáveis por toda a organização do congresso. Em novembro, na cidade de São Paulo, uma comissão fez visitas a três prováveis locais onde poderá ser realizado o evento.

Tradicionalmente, os Congressos da Associação são trienais e, durante sua realização, ocorre a posse da nova diretoria, além de seminários e encontros. Na 14ª edição do evento, em maio de 2010, foram realizados o I Encontro Ítalo-Brasileiro de Medicina do Trabalho; o VIII Seminário

Associação se prepara para o 15º CongressoNacional de Perícias Médicas Trabalhistas da Anamt; o I En-contro Científico de Residentes e Estudantes da Graduação e Pós-Graduação em Medicina do Trabalho e Saúde do Tra-balhador; e a 1ª Mostra de Cinema Anamt.

O 14º Congresso da Anamt promoveu a prática da inter-disciplinaridade, reunindo em Gramado-RS médicos do traba-lho e outros profissionais da área de Saúde e Segurança no Trabalho e Meio Ambiente no Trabalho. Mais de dois mil con-ferencistas debateram os desafios da promoção e da inclusão social na saúde do trabalhador — tema central do encontro.

De acordo com o presidente da Anamt, Dr. Carlos Cam-pos, o sucesso do congresso de Gramado servirá como parâ-metro para o evento de 2013, em São Paulo: “A expectativa é abrir espaço para ideias e temas inovadores, valorizando aqueles que mais agradaram aos congressistas em 2010”.

O presidente da Anamt, Dr. Carlos Campos, e o diretor científico, Dr. Zuher Handar, participaram do XV Congreso Nacional de Salud en el Trabajo, organi-zado pela Federação Nacional de Saúde Ocupacional do México (Fenastac). O evento reuniu no mês de setembro, na cidade de Ixtapa Zihuatanejo, professo-res e especialistas de diversas nacionali-dades para abordar temas relacionados à Segurança e à Saúde no Trabalho.

A participação da Associação no encontro foi marcada pelos simpósios “Competencias del Médico del Trabajo en el Siglo XXI” e “Sistemas de Gesti-ón de Riesgos en el Trabajo en Brasil”, ministrados, respectivamente, pelos Drs. Handar e Campos. Para a Anamt, a participação de sua diretoria e de seus associados em eventos internacionais da área é de extrema importância, na medida em que permite a troca de ex-

Eventos internacionais na pauta da Anamt

Presença Anamt. “O Congresso é muito importante para o México e para toda a América Latina. É a segunda vez em dez anos que o encontro é realizado na nos-sa região. Por isso, precisamos nos unir e construir uma saúde ocupacional cada vez mais forte no México e em toda a América Latina”, frisou o Dr. Zuher Handar.

De acordo com o presidente da Anamt o Congresso “vai impactar e muito a saúde dos trabalhadores em todo o mundo porque nos trará conhe-cimento e aprimoramento de saberes para aplicarmos em nosso trabalho”. O Dr. Carlos adiantou que a Anamt pre-tende proporcionar alguns incentivos a diretores e associados que participa-rem do evento, principalmente àqueles que contribuírem com a apresentação de trabalhos científicos. A programação do evento pode ser acessada através do site www.icohcongress2012.org

periências e a colaboração científica entre diversos países.

30º Congresso da ICOHEntre os dias 18 e 23 de março de

2012, a cidade de Monterrey, no Mé-xico, sediará o 30º Congresso da Inter-national Commission on Occupational Health (ICOH) — entidade internacio-nal de Medicina do Trabalho. O pre-sidente da Comissão Organizadora do Evento, Dr. Jorge Morales, convidou a Anamt para participar dos preparativos do congresso, tendo como principal compromisso incentivar a participação das associações latino-americanas da área de SST no evento.

Com este objetivo, está previsto para novembro de 2011, no Rio de Janeiro, a realização de um encontro com todos os secretários nacionais da ICOH dos paí-ses latino-americanos, durante o Fórum

Membros da diretoria da Associação participaram de encontro no México e farão parte dos preparativos do evento da ICOH em 2012

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Dezembro 2010 15Jornal da ANAMT

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Jornal da ANAMT16 Dezembro 2010

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Resiliência: a defesa natural contra o estresseHouaiss: resiliência é a propriedade

que alguns corpos apresentam de re-tornar à forma original após terem sido submeti dos a uma deformação elásti ca

A defi nição do dicionário dá uma ideia de como a resiliência funciona no psicológico do ser humano. O es-tresse diário pode alterar temporaria-mente o comportamento, que voltará ao normal depois de algum tempo. O problema surge quando o profi ssional perde ou não tem capacidade de recu-peração. A discussão do assunto inte-ressa, especialmente, à classe médica, profi ssão que tem a adversidade e o estresse como roti na.

De acordo com a Dra. Vera Lucia Zaher, médica do trabalho e psicó-loga, é importante considerar que o termo é novo para a categoria médi-ca, mas que as questões relacionadas ao trabalho médico e à complexa in-terface com a sociedade sempre exis-ti ram. “Não importa muito o nome que uti lizamos; o importante é que a preocupação com o trabalho médico e as consequências para a saúde são assuntos atuais estudados por pes-quisadores há várias décadas.”

A psicóloga Débora Glina, expli-ca a resiliência como uma busca de processos mais adequados para lidar com a incerteza e com as situações novas. Para ela, um indivíduo resi-liente uti liza de forma competente suas habilidades, e é pró-ati vo na resolução de problemas específi cos: “Nosso esforço para fazer face às exi-gências internas ou externas pode fazer uso de característi cas como: a percepção positi va das experiências, o comportamento adaptati vo e, prin-cipalmente, o desenvolvimento da tolerância diante da incerteza”.

Com o objetivo de estudar e discutir o tema, a Associação Mé-dica Brasileira (AMB) organizou, em 2010, o primeiro Seminário Inter-nacional de Resiliência Médica. O evento, realizado em Brasília, teve como objetivo orientar os presentes sobre o processo de identificação daqueles que precisam de ajuda psi-cológica para enfrentar os constan-tes desafios da profissão.

44% dos médicos sofrem de depressãoUm dos fatos estruturais que de-

terminam o alto nível de estresse da classe médica é o défi cit de quatro milhões de profi ssionais de saúde em todo o mundo. No Brasil, a média se aproxima da encontrada nos EUA, contabilizando um médico para cada 578 habitantes. O problema, no caso brasileiro, não é a quanti dade, mas a distribuição. As regiões Sul e Sudeste juntas abrigam, segundo pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM), 72% dos profi ssionais de todo o país.

Pesquisadores ressaltam a im-portância de identificar os médicos que não consigam lidar com as di-ficuldades inerentes à profissão. Só nos EUA, entre 250 e 400 médicos suicidam-se anualmente. No Brasil, uma pesquisa do CFM indicou que 44% dos médicos sofrem de depres-são ou ansiedade, e 57% têm estafa e desânimo com o emprego.

Os estudos sobre suicídio de mé-dicos no Brasil são difí ceis de ser elaborados. Uma das difi culdades encontradas é ter acesso a esta no-ti fi cação nos atestados de óbitos. A Dra. Vera, entretanto, diz que no meio profi ssional o problema é recor-rente: “Muito é dito e ouvido nas fa-culdades de medicina sobre colegas

que se suicidaram, e sabidamente há vários casos de médicos afastados por questões que envolvem a esfera psíquica correlacionada ao trabalho”.

Fortalecendo a resiliênciaEntre os fatores que podem po-

tencializar problemas psicológicos nos profi ssionais de saúde, estão: baixa remuneração, alta responsabilidade que envolve questões de vida e mor-te humana, e a infl uência de terceiros opinando e forçando condutas inade-quadas. O estresse causado por estas questões podem levar à depressão, ao Burnout e ao alcoolismo. A Dra. Débo-ra alerta sobre o fato de que o estres-se pode causar a patologia, que, por sua vez, aumenta o estresse.

Para fortalecer a resiliência e mi-nimizar o impacto do alto nível de estresse, os profi ssionais podem usar algumas estratégias comportamen-tais. Dentro do ambiente de traba-lho, é recomendável que os médicos comparti lhem experiências com os colegas, e usem o humor. No ambien-te familiar, é importante dedicar-se à família, fazer exercícios fí sicos e desli-gar-se mentalmente do trabalho.

Além do estresse inerente à pro-fi ssão médica, o preconceito contra o ato de buscar ajuda transforma a questão em um tabu. Para a Dra. Dé-bora, a negação é o pior que pode acontecer a um profi ssional: “Sem o reconhecimento da existência do problema, não há busca de ajuda”. A psicóloga cita também outros senti -mentos comuns na categoria, como o medo de apresentar-se fraco dian-te dos outros, de transformar-se em paciente e, não menos importante, a falta de tempo, que inviabiliza a pro-cura de ajuda.

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No V Congresso Brasileiro de Higiene Ocupacional e XVII Encontro Brasileiro de Higienistas Ocupacionais, re-alizado em São Paulo no mês de outubro, foi aprovada uma moção propondo a atualização da Norma Regula-mentar nº 15. Congressistas, a diretoria da Associação Brasileira de Higiene Ocupacional (ABHO) e instituições da área de SST assinaram o documento, pedindo urgên-cia na revisão da norma, que reúne ferramentas para avaliação e controle dos agentes de risco nas empresas.

De acordo com a moção, a norma – praticamente inalterada há 32 anos – não protege os trabalhadores de forma adequada, sendo urgente revisá-la, “dando-lhe atualidade e capacidade para a proteção da saúde do trabalhador, sem a distorção que ora ocorre, pois nela nem todos estão igualmente protegidos”.

O Congresso discutiu a relação da NR15 com a va-lorização da higiene ocupacional perante o crescimento econômico. Também foram abordadas as implicações de uma legislação desatualizada nos aspectos dos critérios de preservação da saúde dos trabalhadores e do con-

Entidades pedem atualização da NR 15

trole dos riscos ambientais no trabalho. A abertura do encontro contou com a presença do Dr. Carlos Campos, presidente da Associação Nacional de Medicina do Tra-balho (Anamt), uma das entidades signatárias da moção.

O ex-presidente da Anamt Dr. René Mendes apre-sentou a palestra “O desenvolvimento econômico acentuado e os desafios na prevenção dos riscos ocu-pacionais”. Nela, demonstrou a necessidade de um olhar diferenciado para as questões da prevenção das doenças ocupacionais, com base no acentuado desen-volvimento econômico em que se encontra o Brasil.

A moção solicita a criação de um Grupo Técnico Espe-cial na Comissão Tripartite Paritária Permanente (CTPP), do Ministério do Trabalho e Emprego, com a participa-ção dos especialistas da ABHO e das entidades signatá-rias, a fim de organizar e conduzir o processo de revisão.

Da esquerda para a direita: Diretor 2º tesoureiro do SINTESP, René Alves Cavalcanti; 1º Secretário do Conselho Regional de Química, Lauro PereiraDias; Presidente da ABHO, José Manuel Gana Soto; Diretor Técnico da Fundacentro, Jófilo Moreira Lima Júnior; Presidente da Anamt, Dr. Carlos Campos; Diretor de Educação e Saúde da FETICOM-SP, Robinson Leme.

Foi dado o primeiro passo para a criação da Comissão de Ética Médica no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Goiás. A proposta, idealizada pelo Núcleo Executivo da Anamt e elabora-da pela Câmara Técnica de Medicina do Trabalho do CRM-GO, foi entregue ao presidente do TRT-GO, desembargador Gentil Pio, em reunião realizada no dia 8 de novembro.

A comissão terá como objetivos cui-dar da realização das perícias médicas, fiscalizar o cumprimento do Código de Ética Médica e garantir a qualidade da produção da prova pericial.

No encontro, a Anamt foi repre-sentada pelo diretor de Título de Espe-cialista, Dr. João Anastácio Dias, e pela

TRT de Goiás terá Comissão de Ética Médicadiretora administrativa adjunta, Dra. Camila Santos. Também estiveram presentes o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), Salomão Rodrigues, e o coordenador das Câmaras Técnicas do CRM de Goiás, Bragmar Emílio.

Para o Dr. Dias, a reunião foi um sucesso: “Avançamos em temas que são preocupações da Anamt, como a qualidade das perícias, a autonomia do exercício profissional médico, o ple-no cumprimento do Código de Ética Médica e das demais Normas e Reso-luções do CFM/CRM”. O Dr. Salomão, por sua vez, ressaltou que a criação da comissão teve como base os termos da Resolução CFM 1657/2002

De acordo com A Dra. Camila, a reu-nião entre representantes da Anamt, membros do CRM e o presidente do TRT para tratar da atuação dos peritos mé-dicos na justiça do trabalho foi o marco inicial da criação da Comissão de Ética Médica. “Esta Comissão irá contribuir para o aprimoramento dos laudos peri-ciais, auxiliando o juízo, de forma ética e científica, no julgamento de alegações pertinentes à seara médica”, analisou.

Para o Desembargador, a Comissão poderá ser um instrumento de valoriza-ção dos peritos que cumprem com efi-ciência as suas atribuições, além de pro-porcionar aos magistrados a intervenção da Comissão quando houver anormali-dade no desempenho das atividades.

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espaço do associado

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Dormir depois do almoço pode aumentar produti vidade

Jornal da ANAMT

A sesta, elemento fundamental em algumas culturas, deixou de ser um tabu no universo empresarial moderno para tornar-se uma práti ca recomen-dada e saudável. A constatação é am-parada por diversos estudos que, em série, são divulgados por importantes universidades do mundo. Entre os be-nefí cios da soneca, estão a melhora da capacidade mental e de aprendizagem e o aumento da produti vidade.

De acordo com a Dr. Frida Marina Fischer, presidente da Comissão Técni-ca de Organização do Trabalho da Ana-mt, dormir brevemente após o almoço pode aumentar não só a produti vida-de, mas também a qualidade de vida do empregado: “Os cochilos diminuem a sonolência, ati vando o estado de alerta, o que melhora sensivelmente o desempenho no trabalho”.

Para as pessoas que trabalham no turno da noite ou em plantões longos, o cochilo auxilia a reduzir a fadiga e a sonolência. De acordo com Fischer, “usualmente sente-se muito sono durante a noite, quando estamos tra-balhando num período em que deve-ríamos estar repousando”. Dessa forma, mesmo no período noturno, a práti ca surte efeitos positi vos para o profi ssional.

Em arti go cientí fi co sobre o tema, a especialista analisou as condições ambientais e organizacio-nais do cochilo e a importância deste durante o trabalho noturno entre os profi ssionais de enfermagem. “O co-chilo, além de melhorar o estado de

alerta durante o expediente, contribui para compensar a reduzida duração do sono noturno”, explicou.

No entanto, os relatos das 20 par-ti cipantes da pesquisa realizada pela médica do trabalho reforçam que, para obter benefí cios sati sfatórios dos cochilos, também é importante que sejam implementadas condições ade-quadas para tal. Segundo elas, apesar da permissão para o cochilo, não havia espaço e poltronas disponíveis para to-dos na sala desti nada ao descanso.

A Universidade de Harvard aposta na aliança entre as práti cas modernas e a sesta. De acordo com os resultados de suas pesquisas, os indivíduos que não descansam perdem, no fi m da tar-de, 52% de percepção visual. Aqueles que cochilam por meia hora, por volta das 14h, voltam a ter a mesma capaci-dade apresentada no fi nal da manhã. E, fi nalmente, os trabalhadores que podem dormir por uma hora completa à tarde voltam a ter a mesma capacida-de que ti nham no começo do dia.

O trabalho tenta ainda elaborar um método e uma justi fi cati va para o

hábito. Os pesquisadores indicam que fechar os olhos simplesmente não fun-ciona; é preciso buscar o sono profun-do. Os que apoiam este hábito justi fi -cam que o padrão natural do homem seria sempre dormir no começo da tar-de, se não fossem as pressões do mun-do moderno. E fi nalizam com um dado novo: mesmo em países que não têm a cultura da sesta, pode-se esti mar que pelo menos 20% da população dorme durante um período da tarde.

Em comum, os estudos tomam como base os ciclos biológicos. Segun-do a cronobiologia — ciência que estu-da os ritmos e os fenômenos fí sicos e bioquímicos periódicos que ocorrem nos seres vivos — após o almoço toda a energia do corpo humano fi ca con-centrada na digestão dos alimentos, o que leva a uma diminuição do ritmo intelectual e fí sico. Os cienti stas da área, percebendo a sesta como peça fundamental para o aumento da pro-duti vidade das empresas, bati zaram a práti ca de power nap ou soneca ener-gizante.

No ambiente profi ssional, as em-presas se dividem no momen-

to de determinar a sone-ca como práti ca ofi cial. Na Espanha e nos países hispano-americanos, a

cultura local ainda luta com a globalização para manter o

hábito da siesta. Nos EUA, algu-mas corporações – principalmente

ligadas às novas tecnologias – já ado-taram a ideia. E no Brasil a práti ca co-meça a ser levada em consideração.

A sesta ganha apoio de pesquisadores e começa a ser aceito no mercado

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a g e n d a

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Como se associar?Conheça todos os benefícios de se associar e preencha a proposta on-line: http://www.anamt.org.br/associar.php

espaço do associadoSe eu for morar em uma cidade em que não exista médico do trabalho morador local, e o serviço de saúde ocupacio-nal da prefeitura, do hospital e do comércio forem feitos por terceirizadas de outras localidades, existe alguma legislação que obrigue estes estabelecimentos a direcionarem o serviço para mim médico do trabalho morador?

Dr. Fabio Morais Barros, associado de Sorocaba – SP

Pelo descrito nas NR, as empresas podem, sim, contratar Médicos do Trabalho de outra localidade. E estes, como coordenadores, se assim o quiserem, podem indicar médicos de outras especiali-dades para serem examinadores, segundo atual interpretação da legislação pelas Delegacias do Trabalho. As empresas não podem contratar médicos do município, que sejam de outras especiali-dades, para cumprir o trabalho de Medicina Ocupacional como coordenadores de PCMSO, alegando a falta de especialista, uma vez que agora você já é residente. Neste caso, você terá a prer-rogati va do atendimento.

Dr. Vinício C. Moreira; Diretor de Éti ca e Defesa Profi ssional ANAMT

Gostaria de saber se sou obrigado legalmente a aceitar atestado de 15 (quinze) dias emiti do por psicólogo.

Dr. Marco Antonio Gonçalves, associado de São Paulo – SP

Só são considerados como passíveis de abono os atestados emiti dos por médico ou cirurgião denti sta, por incapacidade para o trabalho do empregado. Mesmo nestes casos há prer-rogati va do Médico do Trabalho da empresa, estabelecida pelo CFM, de, após examinar o empregado, poder alterar o número de dias, assumindo então a responsabilidade por tal antecipa-ção ou prorrogação. Qualquer outro abono por: psicólogos, fi -sioterapeutas, enfermeiros de PSF, ou quaisquer outros profi s-sionais, são feitos apenas por mera liberalidade das empresas, caso assim queiram proceder.Ressalvo que quem aceita ou recusa o atestado é o emprega-dor e não o médico, o qual apenas atua como consultor da em-presa para a necessidade ou não daquele abono.

Dr. Vinício C. Moreira; Diretor de Éti ca e Defesa Profi ssional ANAMT

SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE TUR-NOS DE TRABALHO

Discuti r as novas tendências na organiza-ção dos turnos de trabalho. Este é o tema do 20° ‘Internati onal Symposium on Shift work and Working Times’, que acontece entre os dias 28 de junho e 1° de julho de 2011 em Estocolmo, na Suécia. O evento bienal possui uma tradição de mais de 30 anos na discussão sobre os turnos e o tempo de trabalho.

Os responsáveis pela organização são os membros da Working Time Society e do comi-tê cientí fi co de turnos e horários de trabalho da Comissão Internacional de Saúde Ocupa-cional (ICOH). As inscrições para parti cipar do simpósio serão abertas no dia 10 de janeiro e irão até 31 de março de 2011.

Mais detalhes sobre o simpósio no site www.shift work2011.se.

EXPO EMERGÊNCIA E EXPO PROTEÇÃONos dias 10, 11 e 12 de agosto de 2011, o

pavilhão verde do Expo Center Norte, em São Paulo, sediará a Expo Proteção e a Expo Emer-gência. Os eventos, sobre saúde e segurança do trabalho, e sobre resgate e emergência, servem como pano de fundo para promover a aproximação entre fornecedores, profi ssionais e trabalhadores.

Em sua quinta edição, a Expo Emergên-cia contará com uma amostra de produtos, equipamentos e serviços, além de progra-mação técnica e apresentações de resgate e emergência. A feira é voltada para profis-sionais e empresas do setor, atendimento pré-hospitalar, bombeiros militares e civis, membros da defesa civil, e especialistas em emergência química.

Já na Expo Proteção serão apresentadas as potencialidades econômicas do setor. O en-contro será um espaço para o conhecimento e a atualização profi ssional, por meio de semi-nários, workshops, palestras técnicas e cursos.

Outras informações no endereço eletrôni-co www.protecaoeventos.com.br.

Jornal da ANAMT

Page 20: no ambiente de trabalho

Jornal da ANAMT20 Dezembro 2010

SANOFI - PASTEURi n f o r m e p u b l i c i t á r i o

Dra. Lucia Ferro Bricks

Referências bibliográficas

Vacina pneumocócica para asmáticosEm setembro de 2010, o Comitê Assessor em Práticas de

Imunização dos Estados Unidos (ACIP) publicou as novas re-comendações para uso da vacina polissacarídica-23 valente (Pn23), enfatizando que asmáticos e fumantes com mais de 19 anos devem ser incluídos nos grupos de risco para doença pneumocócica invasiva.1

Em recente publicação da revista Thorax, Klemets et al.2 (2010), demonstraram, através dos resultados de um estudo caso-controle, com base populacional, que as doenças pneumocócicas invasivas (DPI) são significativa-mente mais frequentes em asmáticos, em comparação com não asmáticos.

Os autores analisaram dados de 1.282 pacientes com DPI identificados nos anos de 1995 a 2002 e de 12.785 controles sem asma, com idade entre 18 e 49 anos. A asma foi classifica-da como grave, ou de alto risco, por ser motivo de hospitaliza-ção nos últimos 12 meses, e como de baixo risco nos casos em que o paciente não tivesse sido hospitalizado no último ano, mesmo que fizesse uso contínuo de medicação.

No total, 7,1% dos pacientes com DPI e 2,5% dos contro-les tinham diagnóstico de asma. A asma de baixo risco foi mais frequente, sendo identificada em 6,0% dos casos e 2,4% dos controles, e a asma de alto risco foi 10 vezes mais frequente nos pacientes com DPI (1,1%) do que no grupo controle (0,1%).

Após ajustar os fatores de risco para outras variáveis independentes, os autores concluíram que as DPI foram significativamente mais frequentes em asmáticos, tanto naqueles com asma de alto risco (OR = 12; IC95%: 5,4-28,0) como nos controles com asma de baixo risco (OR= 2,8; IC95%: 2,1 – 3,6).

Recomendações do ACIP para uso da vacina polissacarídica 23-valente em adultos (> de 19 anos) 1

• A vacina Pn23 deve ser administrada em adultos com idade entre 19-64 anos, com condições médicas crôni-cas ou imunodeprimidos, incluindo asmáticos;

• A vacina Pn23 deve ser administrada a fumantes com idade entre 19-64 anos;

• O uso rotineiro da vacina Pn23 não é recomendado para os nativos do Alasca ou índios da América com menos de 65 anos, salvo se tiverem indicações médi-cas. No entanto, em determinadas situações, as auto-ridades públicas de saúde podem recomendar a vaci-na Pn23 a nativos do Alasca e índios americanos com idades entre 50-64 anos que vivem em áreas onde o risco de doença pneumocócica é maior;

• Todas as pessoas com 65 anos ou mais devem ser va-cinadas com a vacina Pn23. Aqueles que já receberam uma dose da vacina Pn23 antes dos 65 anos por qual-quer indicação devem receber outra dose da vacina após 65 anos de idade, se pelo menos 5 anos se passa-ram desde a sua dose anterior. Aqueles que recebem a primeira dose da vacina Pn23 após 65 anos deverão receber apenas uma dose;

• Uma segunda dose da vacina Pn23 é recomenda cinco anos após a primeira dose para pessoas com idade 19-64 anos com asplenia anatômica ou imunocomprometidos.

Os resultados deste estudo confirmam que:

1. A asma é condição de alta prevalência em adultos jovens; 2. As DPI são muito mais frequentes em asmáticos do que em pessoas não asmáticas.Adicionalmente, foi feita a análise da cobertura propiciada

pela vacina Pn23 e pelas vacinas conjugadas contendo 7, 10 e 13 sorotipos, que atualmente são licenciadas para crianças. Enquanto a vacina Pn23 cobre, aproximadamente, 90% dos sorotipos causadores de DPI, as vacinas conjugadas cobrem, no máximo, 76,1% dos sorotipos identificados como causado-res de DPI em adultos.

Pneumococos causadores de infecções invasivas em adul-tos de 18 a 49 anos de idade com ou sem asma, Finlândia 1995-20022

Asma N=81 (7,7%)

Sem asma N=975 (92,3)

Total N=1056

Sorotipos cobertos pelas vacinas7 valente 44 (54,3) 468 (48,0) 512 (48,5)10 valente 59 (72,8) 610 (62,6) 669 (66,3)13 valente 64 (79,0) 740 (75,9) 804 (76,1)23 valente* 78 (96,3) 903 (92,6) 981 (92,9)23 valente** 73 (90,1) 855 (87,7) 928 (87,9)

*Todos os sorotipos incluídos na vacina Pn23

** Não incluindo os sorogrupos 10, 11, 12, 15, 17 e 33 que não foram subme-

tidos à sorotipagem.

Embora haja controvérsias sobre o papel da vacina po-lissacarídica 23-valente na prevenção de todas as formas de pneumonia, sabe-se que ela é efetiva contra DPI, particular-mente, em indivíduos jovens. As DPI apresentam altas taxas de morbidade e letalidade, sendo fundamental orientar adul-tos com asma sobre os benefícios da vacina polissacarídica, conforme recomenda o ACIP.

1 Centers for Disease Control and Prevention (CDC); Advisory Committee on Immunization Practices. Updated recommendations for prevention of invasive pneumococcal disease among adults using the 23-valent pneumococcal polysaccharide vaccine (PPSV23). MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2010 Sep 3;59(34):1102-6.2 KLEMETS P, Lyytikäinen O, Ruutu P, Ollgren J, Kaijalainen T, Leinonen M, et al. "Risk of invasive pneumococcal infections among working age adults with asthma". Thorax. 2010 Aug; 65(8): 698-702.