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No Brasil, a extração de rochas ornamentais, como o mármore, aumenta expressivamente
a fim de atender a demanda da construção civil e exportações. Por não serem
degradáveis, resíduos oriundos do corte de mármore geram impactos negativos, como
por exemplo, o assoreamento de rios e poluição visual. Portanto, para diminuir esses
efeitos prejudiciais foram processados, via extrusão, compósitos constituídos por resíduos
de mármore e o polímero polipropileno (PP). O objetivo desse projeto é avaliar as
propriedades mecânicas (resistência ao impacto e à flexão) e de alterabilidade (exposição
à névoa salina, umidade e raios UV) de compósitos feitos por esses materiais. Nesse
sentido, utilizou-se 0, 5, 10, 20, 30, 40, 50, 60 e 70% em massa de resíduo de mármore.
Resultados preliminares indicaram acentuadas resistências à alterabilidade. Quando
comparado ao PP puro, os compósitos apresentaram um aumento bastante expressivo na
resistência ao impacto e à flexão, principalmente nos compósitos com teores
compreendidos entre 20 e 60% em massa de mármore. Conclui-se a viabilidade de
utilização de resíduos de mármore em compósitos de polipropileno, podendo-se sugerir
sua aplicação em produtos ecologicamente e economicamente viáveis, como por
exemplo, pisos, tijolos, bancos, mesas, eletrodutos, cercas, limitador de vagas para carros
e aviões, corrimãos, etc.
SUMÁRIO
1. Introdução 1
1.1. Histórico 1
1.1.1. das Rochas 1
1.1.2. da Indústria de Rochas Ornamentais 1
1.1.3. dos Plásticos Aditivados com Cargas Minerais 2
1.2. Mercado Externo 3
1.3. Mercado Interno 4
1.4. O Resíduo 5
2. Objetivo 6
3. Fundamentação teórica 6
3.1. Polipropileno (PP) 6
3.2. Mármore 7
3.3. Polímeros Aditivados por Cargas Minerais 7
3.3.1. Principais Características das Cargas Minerais 8
4. Metodologia 8
4.1. Origem dos Materiais 8
4.2. Tratamento do Resíduo de Mármore 8
4.3. Processamento dos Compósitos de Polipropileno e Resíduo de
mármore
8
4.4. Determinação da Densidade 9
4.5. Realização dos Ensaios Mecânicos 9
4.5.1. Ensaio de Flexão 9
4.5.2. Ensaio de Resistência ao Impacto Izod a 23 ºC 9
4.6. Realização dos Ensaios de Alterabilidade 9
4.6.1. Ensaio de Exposição à Névoa Salina 9
4.6.2. Ensaio de Exposição aos Raios Ultravioletas 10
4.6.3. Ensaio de Exposição à Umidade 10
5. Resultados e Discussões 10
5.1. Processamento dos Compósitos de Polipropileno e Resíduo de
mármore
10
5.2. Determinação da Densidade 11
5.3. Determinação do Módulo de Flexão 11
5.4. Ensaio de Resistência ao Impacto Izod 23 ºC 11
5.5. Ensaios de Alterabilidade 12
6. Conclusões 12
7. Agradecimentos 12
8. Referências 13
Anexos 14
Figura 1 15
Figura 2 15
Figura 3 16
Figura 4 17
Figura 5 17
Figura 6 18
Figura 7 18
Figura 8 19
Figura 9 19
Figura 10 20
Figura 11 20
Figura 12 20
Figura 13 21
Figura 14 21
Figura 15 22
Tabela 1 22
Tabela 2 23
Tabela 3 23
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UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS PROVENIENTES DO CORTE DE MÁRMORE COMO CARGA NA MATRIZ DO POLIPROPILENO
1. Introdução 1.1. Histórico 1.1.1. das Rochas
O surgimento da pedra natural na evolução histórica da humanidade é de tal
magnitude que se insere na base de todas as culturas clássicas. As construções erguidas
ao longo do tempo têm colocado a rocha como material imediato de trabalho. E esta
mesma rocha é fisicamente perpetuada na história, registrando as passagens das várias
civilizações, motivo pelo qual lhe foi associado, o sentido de sobrevivência eterna.
Desde a era paleolítica (500.000 a.C.) a rocha vem sendo utilizada para fins
diversos. Embora a utilização da pedra natural pelo homem tenha sido difundida
praticamente por toda a história, sua consideração como atividade industrial é, entretanto,
recente. Apenas a partir do século anterior, principalmente na Itália, foi que começou a
converter-se em um importante setor da indústria mineira, alcançando o desenvolvimento
e crescimento maior nesses últimos 50 anos (MATTA, 2003).
1.1.2. da Indústria das Rochas Ornamentais
A primeira mina de mármore (mármore branco) do Brasil, registrada pelo Cadastro
Geral das minas brasileiras do DNPM em 1982, localiza-se no Rio de Janeiro, no
município de Campos. O direito de lavra foi concedido em 1937 à Indústria de Mármore
Italva LTDA, por meio do ainda regime de manifesto de mina (Código de Mineração –
Decreto Lei 227, de 28/02/1967). As lavras de granito pra revestimento, todavia, deram
início no final dos anos 60 e início dos anos 70, quando a indústria de beneficiamento
evoluiu tecnologicamente.
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As primeiras indústrias de beneficiamento de mármore no Brasil foram implantadas
em moldes artesanais por imigrantes italianos e portugueses, no século XIX. Utilizando
métodos rudimentares, estas indústrias pouco se desenvolveram, essencialmente devido
à concorrência sofrida com as importações de mármores italianos de Carrara.
Nos últimos 50 anos, a indústria de mármores e granitos foi, então, impulsionada
por uma crescente procura de material acabado para revestimento no país e seu
consumo tem sido dia-a-dia mais acentuado, adquirindo no final da década de 80, o
verdadeiro “boom” do setor no Brasil, sendo inclusive denominada como a “nova idade da
pedra” (MATTA, 2003).
A indústria das rochas ornamentais no estado do Espírito Santo originou-se das
marmorarias do final da segunda década do século 20 (FERREIRA, 2000). Enquanto que
as serrarias só foram introduzidas a partir dos anos 50, juntamente com a chegada dos
imigrantes italianos. Este setor é caracterizado, desde a sua origem, pelo grande número
de micro e pequenas empresas de administração familiar, utilizando mão de obra local e
com pouca qualificação (GIOCONI, 1998).
Além da geologia, que foi um dos fatores preponderantes para o início desta
atividade na região, contribuiu para o seu desenvolvimento, nas últimas décadas, a
legislação estadual, uma boa rede rodo/ferroviária, infra-estrutura portuária e localização
geográfica.
1.1.3. dos Plásticos e Borrachas Aditivados com Cargas Minerais Segundo Rabello (2000), com a crise do petróleo nos anos 60 e 70 os materiais
poliméricos atingiram preços exorbitantes. Para reduzir um pouco os custos de
fabricação, os fabricantes de peças adotaram um procedimento antigo como meio de
viabilização econômica: o uso de cargas minerais de baixo custo como aditivos em
plásticos e borrachas com fins não reforçantes. A necessidade despertou um maior
interesse pelo uso técnico de cargas, levando a grandes desenvolvimentos nesta área, de
modo que hoje as cargas se constituem no aditivo mais empregado (em termos
percentuais de consumo) nos plásticos. Dentre as cargas utilizadas encontram-se: o
calcário (calcita, dolomita), o filito, a mica (muscovita, flogopita, biotita), sílica (quartzo,
zeólita), talco, pirofilita (agalmatolito), gesso, barita, wolastonita, esmectita (bentonita,
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montmorilonita, hectorita, saponita) e ilita. A visão de servir apenas como enchimento
ficou ultrapassada, pela possibilidade de grandes alterações nas propriedades dos
materiais caso sejam adicionadas cargas corretas em concentrações apropriadas.
As cargas minerais têm sido utilizadas em misturas com os mais variados tipos de
polímeros, misturas estas, chamadas de compósitos, com a finalidade de barateamento
de custos e, mais particularmente, porque agregam melhorias das características físicas e
químicas das peças fabricadas.
As indústrias químicas fabricantes de polímeros têm procurado desenvolver novos
tipos de polímeros. A disputa torna-se acirrada pelo grande mercado consumidor que
existe. As empresas tentam, então, atender as mais diversas necessidades de tipos e
características físicas e químicas dos materiais e peças fabricados pelas indústrias
consumidoras. No Brasil as cargas minerais ainda são utilizadas pelas indústrias, na sua
maioria, em misturas com os polímeros.
O entendimento das propriedades intrínsecas das cargas minerais e dos polímeros,
da influência da tensão superficial na interação entre eles, o desenvolvimento de novos
equipamentos de medida da tensão superficial, o desenvolvimento de agentes de
tratamento superficial visando melhorar a compatibilidade de energia entre a carga
mineral e o polímero, tudo isso tem contribuído para uma melhor compreensão e previsão
das propriedades de compósitos e nanocompósitos. Várias pesquisas têm sido
desenvolvidas nesta direção, cujo intuito principal é o de comparar o efeito do uso, em
polímeros, de cargas minerais diversas, tratadas e não tratadas superficialmente com
agentes químicos como silanos e ácidos graxos. As características físicas e químicas dos
produtos destas misturas, como alongamento, tensão de ruptura, deformações ao calor,
etc, são medidas e definidas, constatando-se modificações nestas propriedades quando
comparadas com as mesmas propriedades para os polímeros puros (LIMA, 2007).
1.2. Mercado Externo
De acordo com a publicação da Associação Brasileira da Indústria de Rochas
Ornamentais - ABIROCHAS (2008) “O Potencial Chinês para as Exportações Brasileiras
no Setor de Rochas Ornamentais”, a produção mundial de rochas ornamentais e de
revestimento evoluiu de 2 milhões t/ano, na década de 1920, para um patamar atual de
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100 milhões t/ano. Cerca de 45 milhões de toneladas de rochas brutas e beneficiadas
foram comercializadas no mercado internacional em 2007, como podemos verificar na
Figura 1. Devendo-se atingir a casa dos 50 milhões de toneladas em 2008.
Prevê-se que em 2025 a produção mundial de rochas ornamentais ultrapassará a
casa dos 400 milhões t/ano, multiplicando-se por cinco o atual volume físico das
transações internacionais. As atividades de beneficiamento industrial estão cada vez mais
se aproximando dos países produtores de matéria-prima, incrementando-se assim as
exportações de rochas processadas acabadas e semi-acabadas, com maior valor
agregado. Neste sentido, a China, Índia e Brasil, além da Turquia e possivelmente Irã,
consolidarão os grandes pólos mínero-industriais de rochas no século XXI (ver Figura 2).
Globalmente, as atuais transações comerciais do setor estão movimentando de
US$ 80 bilhões a US$ 100 bilhões/ano, incluindo-se aí os negócios com máquinas,
equipamentos, insumos e serviços. O vigoroso crescimento do mercado internacional
caracterizou os últimos 25 anos como a “nova idade da pedra”, transformando o setor de
rochas em uma das mais importantes áreas emergentes de negócios mínero-industriais.
A Figura 3 comprova que, nesse período, o Brasil experimentou um notável
adensamento de atividades em todos os segmentos da cadeia produtiva de rochas,
mercê, sobretudo de sua excepcional geodiversidade para granitos e materiais similares.
Os principais avanços conquistados foram decorrentes do aumento das exportações das
rochas processadas, superando-se expectativas nas vendas de chapas polidas de
granito, mármore e produtos diversos de ardósia, quartzito e pedra-sabão.
No ano de 2006 o Brasil já se colocou como 4º maior produtor e exportador
mundial de rochas em volume físico, 2º maior exportador de granitos brutos, 4º maior
exportador de rochas processadas especiais e 2º maior exportador de ardósias. Mais
importante, no ano de 2007 o Brasil tornou-se o maior fornecedor dos EUA, em valor e
volume físico, superando a própria Itália.
1.2. Mercado Interno
A Figura 4 mostra que a produção brasileira de 2007 atingiu cerca de 8 milhões de
toneladas, envolvendo 1.200 variedades comerciais de rochas, extraídas em 1.800 frentes
ativas de lavra. No mesmo período, as exportações de rochas somaram US$ 1,093
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bilhão, com vendas para mais de 120 países, em todos os continentes, e participação de
82% de produtos beneficiados no total do faturamento dessas exportações. Estima-se
que, entre negócios relativos aos mercados interno e externo, o setor brasileiro de rochas
ornamentais tenha movimentado transações comerciais de US$ 4,5 bilhões em 2007.
As cerca de 11.300 empresas ligadas à cadeia produtiva do setor de rochas no Brasil,
quase todas de pequeno e médio porte são responsáveis por 140 mil empregos diretos e
420 mil empregos indiretos.
Na Figura 5, estão classificados os principais estados brasileiros produtores de
rocha ornamental, da seguinte forma: Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia,
São Paulo, Ceará e Paraíba. Sendo que, somente os três primeiros estados são
responsáveis por quase 90% da produção nacional.
As exportações capixabas de rochas ornamentais somaram US$ 726,1 milhões em
2007, correspondentes à comercialização de 1,44 milhão de toneladas. O Espírito Santo
continua assim liderando as exportações setoriais, respondendo por 66,4% do
faturamento e 57,6% do volume físico do total brasileiro. As rochas processadas,
representadas, sobretudo por chapas polidas de granito, compuseram 86% das
exportações do estado. A Figura 6 apresenta a evolução do faturamento das exportações
capixabas de rochas ornamentais.
A ABIROCHAS (2007), registrou em sua publicação “Rochas Ornamentais no
Século XXI” que a Câmara de Comércio Exterior – CAMEX, selecionou 55 setores
industriais, sendo 10 prioritários – entre estes, o de rochas ornamentais que teria um
grande potencial exportador. Esta mesma publicação compara as exportações de rochas
ornamentais com as commodities mais tradicionais do setor mineral, a saber, o ferro e o
ouro, indicadas pela Tabela 1.
Entretanto, a alta escala de produção do setor de rochas, poderá redundar na
ampliação da geração de outros problemas paralelos, mais precisamente inerentes às
questões ambientais. Pois para se produzir, por exemplo, 3,059 milhões de toneladas de
rocha em um ano, seriam necessários remover pelo menos 7,140 milhões de toneladas, a
mais, de material em forma de resíduo, considerando uma recuperação na lavra de 30%
(MATTA, 2003).
1.4. O Resíduo
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O resíduo gerado pela indústria das rochas ornamentais, cerca de 200.000 t/ ano,
pode ser subdividido em grosso e fino. O grosso é constituído de fragmentos maiores que
areia fina, incluindo placas defeituosas ou quebradas, pedaços de rochas e ou minerais e
aparas de blocos. O resíduo fino é composto pela lama gerada pelo corte dos blocos,
polimento das placas e acabamento das peças (MOTHÉ FILHO, 2002).
O descarte do resíduo tem sido um problema para as indústrias, indicado pela
Figura 7. Elas encontram dificuldades para acondicioná-lo de forma adequada, dependem
de ter um local para colocá-lo ou ainda têm de pagar para depositá-lo em terreno alheio.
Pagava-se cerca de quinze reais por caminhão de entulho retirado. No passado este
resíduo era jogado diretamente nos rios, causando problemas no fluxo hídrico,
assoreamento, desoxigenação, turbidez e destruição das condições biológicas naturais. A
Figura 8 retrata o córrego dos Monos, afluente do rio Itapemirim, parcialmente soterrado
pelos resíduos descartados em suas margens. Também foi constatado que um pequeno
arroio que existia no vale do Morro Grande, foi soterrado.
Equacionar o contínuo desenvolvimento do setor, sem que haja um impacto sobre
o meio ambiente, é uma prioridade (MOTHÉ FILHO, 2005). Por essa questão, surge a
necessidade de se desenvolver pesquisas que visem a utilização desses resíduos de
forma ecologicamente e ambientalmente correta.
2. Objetivo Portanto, o objetivo geral desse projeto é verificar a possibilidade de utilizar
resíduos oriundos do corte de mármores como carga mineral da indústria polimérica.
Dessa forma a reciclagem do resíduo é uma alternativa que possibilita agregar-lhe valor,
gerar novos empregos e minimizar os impactos negativos no ambiente.
3. Fundamentação teórica 3.1. Polipropileno (PP)
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O polipropileno origina-se de uma resina termoplástica produzida a partir do gás
propileno que é um subproduto do refino do petróleo. Em seu estado natural, a resina é
sólida, semitranslúcida e leitosa e de excelente coloração, podendo posteriormente ser
aditivada ou pigmentada. Suas principais características são: baixo custo dentre os
plásticos, fácil usinagem, regular resistência ao atrito, boa estabilidade térmica, alta
resistência ao entalhe, baixas densidade e absorção de umidade e significativa resistência
ao impacto (MANO, 1991).
3.2. Mármore
O mármore é uma rocha metamórfica originada do calcário exposto a altas
temperaturas e pressão. Geralmente, essa rocha é composta em sua maioria, por calcita
e dolomita. O mármore é utilizado como matéria-prima ornamental na construção civil e
ocasionalmente para fabricação de cal e/ou corretivos de solos.
3.3. Polímeros Aditivados por Cargas Minerais
No presente trabalho, carga mineral é o termo empregado para definir o uso de
determinados pós-minerais em misturas com polímeros; a estas misturas de polímeros
com cargas minerais dá-se o nome de compósito.
Em compósitos com polímeros, as cargas minerais são usadas devido a várias
razões: redução de custo, melhorar o processamento, controle de densidade, efeitos
óticos, controle da expansão térmica, retardamento de chama, modificações no que se
refere às propriedades de condutividade térmica, resistência elétrica e susceptibilidade
magnética, além de melhora de propriedades mecânicas, tais como a dureza, módulo de
flexão, resistência ao impacto, dentre outras. Por exemplo, a metacaulinita é usada como
carga de plásticos de revestimento de cabos elétricos para fornecer refratariedade
elétrica; outros, como a muscovita, são usados em compósitos como retardadores de
chama (CIMINELLI, 1988). A Tabela 2 elaborada por Charles H. Kline & Co. Inc. Plastic
Compounding apresenta alguns minerais incorporados a polímeros e suas respectivas
funções no compósito.
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3.3.1. Principais Características das Cargas Minerais
As principais características consideradas no desempenho de uma carga mineral
para produção de um compósito são: propriedades mineralógicas (composição química,
estrutura cristalina, propriedades ópticas, hábito, clivagem e dureza, densidade, brilho, cor
e propriedades físico-químicas de superfície), granulometria, área de superfície específica
e relação de aspecto (aspect ratio) (LIMA, 2007).
4. Metodologia 4.1. Origem dos Materiais
O polipropileno utilizado apresenta índice de fluidez 12g/10 min (2,16 Kg/230ºC) e
densidade de 0,903 g/cm³.
Os resíduos de mármore estudados são oriundos de uma serraria da cidade de
Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo.
4.2. Tratamento dos Resíduos de Mármore
Os mesmos foram peneirados até a obtenção de uma granulometria inferior a
0,037 mm. Após o peneiramento, foram secos em estufa a 70ºC, por 24 horas.
4.3. Processamento dos Compósitos de Polipropileno e Resíduo de Mármore
O processamento dos compósitos foi realizado por meio da extrusora dupla-rosca
modelo DCT 20, 20 mm, marca Teck Trill, com L/D=36, utilizando-se uma velocidade de
200 r.p.m., com zonas de temperaturas compreendidas entre 165ºC e 230ºC. Os teores
de mármore utilizados foram: 0, 5, 10, 20, 30, 40, 50, 60 e 70%, em massa. A Figura 9
mostra que, acoplada à extrusora, encontram-se uma mesa calibradora com sistema de
refrigeração e uma calandra, para resfriar uniformemente a fita e puxar o material
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extrusado, respectivamente. Foram obtidos perfis planos, semelhantes a fitas. É
importante salientar o rigoroso controle de regularidade e de espessura das fitas formadas
durante a etapa de refrigeração, uma vez que o referido controle é extrema importante
para a preparação dos corpos-de-prova e posterior caracterização dos materiais obtidos.
Para melhor identificar as fitas extrusadas foram utilizados sais inorgânicos
capazes de pigmentar os compósitos, como indicado na Tabela 3.
4.4. Determinação da Densidade
A densidade dos compósitos foi determinada segundo a norma ABNT 08/98. A
partir das fitas obtidas da extrusora, foram confeccionados corpos-de-prova.
4.5. Realização dos Ensaios Mecânicos 4.5.1. Ensaio de Flexão
Para a determinação do módulo no ensaio de flexão, foi utilizada a máquina
universal de ensaios mecânicos da Instron, modelo 4204. O ensaio de flexão em três
pontos foi realizado de acordo com a norma ASTM D790, a temperatura de 25 ºC e
velocidade de 1mm/min (ver Figura 10).
4.5.2. Ensaio de Resistência ao Impacto Izod a 23 ºC
O ensaio de resistência ao impacto do PP e dos compósitos foi realizado a partir da
mediana dos resultados de energia cinética absorvida para romper cada corpo-de-prova.
Foram utilizados 10 corpos-de-prova, que foram entalhados e analisados segundo a
norma ASTM D256, utilizando o martelo de 2J. A Figura 11 mostra o equipamento
utilizado para essa determinação.
4.6. Realização dos Ensaios de Alterabilidade
4.6.1. Ensaio de Exposição à Névoa Salina
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Para o ensaio de exposição à névoa salina, os corpos-de-prova foram pesados e
mediu-se o brilho. Após esta etapa, os mesmos foram condicionados em câmara sob a
ação de spray salino por 6 horas e secagem por 12 horas, totalizando 18 horas (1 ciclo).
Durante o ciclo, a temperatura da câmara climática marinha foi mantida em (40 ± 5) ºC.
Passados 30 ciclos, os corpos-de-prova foram pesados e mediu-se o brilho novamente,
obtendo deste modo, o seu peso e brilho final. O ensaio baseou-se na norma ABNT/NBR
8094/83.
4.6.2. Ensaio de Exposição aos Raios Ultra-Violetas
No ensaio de exposição aos raios UV, mediu-se o brilho inicial dos corpos-de-
prova. Em seguida foram colocados na câmara de Ultra-Violeta. Ao final de 50 ciclos,
realizou-se a medição do brilho. Foram observadas possíveis alterações superficiais em
comparação ao corpo-de-prova padrão, de acordo com a norma ASTM G 53/91.
4.6.3. Ensaio de Exposição à Umidade
Para o ensaio de exposição à umidade, os corpos-de-prova foram pesados e
mediu-se o seu brilho inicial. Ao fim dos 30 ciclos de 24 horas cada, os corpos-de-prova
ensaiados foram secos. Em seguida, foram feitas as medições de brilho e a pesagem
final, segundo a norma ABNT/NBR 8095/83.
5. Resultados e Discussões
5.1. Processamento dos Compósitos de Polipropileno e Resíduo de mármore
A Figura 12 apresenta os perfis de fita obtidos no processamento dos compósitos
por extrusão, onde se verificou visualmente que foi possível a realização do
processamento com até 60% em massa de resíduo, indicado pela fita verde clara. A
tentativa de utilização de 70% em massa de resíduo na matriz do PP não foi realizada
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com sucesso, pois a extrusão desse compósito não permitiu a obtenção de uma fita com
perfil homogêneo, limitando o teor de resíduo em 60% em massa. Isso se explica pelo alto
teor de carga na matriz polimérica que dificultou o processamento do referido compósito.
5.2. Determinação da Densidade
A densidade determinada do PP puro foi 0,945 g/cm³, compatível com o valor da
literatura, 0,920 g/cm³ (MANO, 1991). Observou-se também que após a adição de 30%
em massa de resíduo houve uns aumentos consideráveis da densidade, que permaneceu
constante até a utilização de 60% em massa de carga. A Figura 13 apresenta os
resultados de densidade dos compósitos.
5.3. Determinação do Módulo de Flexão
A Figura 14 apresenta um crescimento nos resultados de módulo de flexão à
medida que aumenta a incorporação do resíduo de mármore na matriz do PP. Com 40%
em massa desse resíduo, por exemplo, observa-se um aumento de 50% dessa
propriedade, em relação ao polímero puro. Já com 60% em massa, observa-se um ganho
da propriedade de quase três vezes o valor obtido para o PP puro, indicando que o
resíduo de mármore é bastante eficaz na melhoria da propriedade de módulo de flexão do
PP.
5.4. Ensaio de Resistência ao Impacto Izod 23 ºC
Os resultados de resistência ao Impacto Izod à 23ºC obtidos para os compósitos de
PP com resíduos nos teores de 0, 5, 10, 20, 30, 40, 50 e 60%, em massa, foram bastante
satisfatórios, indicados pela Figura 15. Determinou-se que a aplicação de resíduo de
mármore na matriz de polipropileno proporciona um aumento bastante expressivo e
crescente na resistência ao impacto, principalmente nos teores de 20 a 50% em massa. O
resultado mais considerável foi obtido com 50% de resíduo, o qual apresentou um
aumento de mais de 400% na resistência ao impacto comparado ao PP puro. A partir de
60% em massa de resíduo, observou-se uma queda nessa propriedade, possivelmente,
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pela baixa homogeneização do compósito. Contudo, essa propriedade ainda mostrou-se
superior comparado ao valor obtido para o PP puro, o que em termos ambientais, é
bastante interessante.
5.5. Ensaios de Alterabilidade
Resultados preliminares em relação aos ensaios de alterabilidade (exposição à
névoa salina, raios ultravioletas e umidade), não apresentaram variações significativas de
perda de brilho ou massa nos compósitos gerados. Tal fato revela a potencialidade de
utilização desses compósitos como materiais de revestimento interno e externo. No
entanto, existe a necessidade de que todos os ciclos dos ensaios sejam concluídos, o que
representa mais um mês de exposição a esses ambientes.
6. Conclusões
Pode-se concluir que existe a possibilidade de incorporar até 60%, em massa, de
resíduo em compósitos do polipropileno.
Os compósitos processados apresentaram um aumento na resistência ao impacto
e módulo de flexão, quando comparados ao PP puro.
Ensaios preliminares revelaram elevada resistência a intempéries como chuva,
raios ultravioletas e salinidade.
Sendo assim, sugere-se a utilização dos compósitos produzidos em algumas
aplicações, tais como: pisos, quebra-molas, cercas, corrimãos, eletrodutos,
antiderrapantes de escadas, limitador de vagas para carros e aviões, entre outros.
7. Agradecimentos Ao CNPQ pelo apoio financeiro. Ao IMA (Instituto de Macromoméculas Professora
Eloisa Mano) da UFRJ pela infra-estrutura fornecida. À empresa Ipiranga Petroquímica
S.A. pelo PP cedido. Às empresas Tribel, Koleta Ambiental S.A. e CRR. Ao técnico Elton
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Souza dos Santos pelo monitoramento das câmaras de alterabilidade e ao bolsista Thiago
Santiago Gomes pelo auxílio na preparação dos corpos-de-prova e análise das
propriedades mecânicas.
8. Referências
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. G 53-96: Standard Practice for
Operating Light-and Water Exposure Apparatus (Fluorescent UV - Condensation Type)
for Exposure of Nonmetallic Materials. Philadelphia: ASTM, 1991.
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D256: Standard Test Methods
for Determining the Izod Pendulum Impact Resistance of Plastics. Philadelphia: ASMT,
1993.
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D790: Standard Test Methods
for Flexural Properties of Unreinforced and Reinforced Plastics and Electrical Insulating
Materials. Filadélfia: ASTM, 1984.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE ROCHAS ORNAMENTAIS.
ABIROCHAS e Catálogo de Rochas Ornamentais do Brasil. ABIROCHAS/CETEM,
2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE ROCHAS ORNAMENTAIS. O Potencial
Chinês para as Exportações Brasileiras No Setor de Rochas Ornamentais. Informe
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14
Prêmio PETROBRAS de Tecnologia - 4ª edição
Anexos
Figura 1. Evolução da produção e do intercâmbio mundial de rochas.
Figura 2. Principais países participantes no mercado internacional de rochas processadas especiais
(produtos de mármore e granito).
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Figura 3. Evolução das exportações brasileiras de rochas ornamentais. RSB – rochas silicáticas brutas (quartzitos e granitos); RCB – rochas carbonáticas brutas (calcários e mármores); RP – rochas processadas
(chapas polidas).
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Figura 4. Perfil da produção brasileira por tipo de rocha (2007).
Figura 5. Principais estados exportadores de rochas ornamentais (2007).
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Figura 6. Evolução do faturamento das exportações capixabas de rochas ornamentais.
Figura 7. Acúmulo de resíduos de forma aleatória em primeiro plano e plano de fundo. Serraria no bairro Aeroporto, Cachoeiro de Itapemirim.
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Prêmio PETROBRAS de Tecnologia - 4ª edição
Figura 8. Rio dos Monos com as suas margens assoreadas pelo descarte de resíduo. Bairro Aeroporto, Cachoeiro do Itapemirim.
Processo de Extrusão
FitasAquecimento Resfriamento
Puxador
Mármore PP
165 a 230 ºC
Figura 9. Processo de Extrusão.
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Força
Pontos de Apoio
Compósito
Cutelo
Figura 10. Ensaio de flexão.
Martelo
Compósito
Figura 11. Equipamento para o ensaio de resistência ao impacto Izod 23ºC.
Figura 12. Corpos-de-prova (fitas) ordenados segundo sua composição de resíduo de mármore.
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Determinação da Densidade dos Compósitos
0
0,5
1
1,5
0 20 40 60
Porcentagem em Massa de Rejeito (%)
Dens
idade
(g/cm
³)
80
Figura 13. Densidade dos compósitos de resíduo de mármore e polipropileno.
0 10 20 30 40 50 600
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
Mód
ulo
de F
lexã
o (M
Pa)
Teor de mármore (% em massa)
Figura 14. Resultados de módulo de flexão versus teor de resíduo de mármore.
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0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 700
50
100
150
200
250
300
Res
istê
ncia
ao
Impa
cto
Izod
à 2
3o C(J
/m)
Teor de Mármore (% em massa)
Figura 15. Resultados de resistência ao impacto versus teor de resíduo de mármore.
9. Tabelas
Tabela 1. Comparação das commodities mais tradicionais do setor mineral com as exportações de rochas ornamentais.
FERRO OURO ROCHAS ORNAMENTAIS
USS 22/ton USS 93/ton USS 185/ton
1.
2.
3.
Valor base de minério USS 22/t;
Valor base de USS 9,3/g em minério com teor de 10 g/t;
Valor médio de USS 500/m3 no mercado internacional (densidade = 2,7/t)
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Tabela 2. Minerais e suas funções em compósitos poliméricos.
MINERAL RESINA PRINCIPAL FUNÇÃO
Alumina Hidratada Poliester Anti-Chama
Calcita Natural PVC Carga
CaCO3 Precipitado PVC Resistência ao Impacto
Caulim (“Air Floated”) Poliester Tixotropia
Caulim Calcinado PVC Resistência Elétrica
Caulim (Surface-Treated) Nylon Estabilidade Dimensional
Mica Polipropileno Resistência à Flexão
Quarzto Moído Epoxy Estabilidade Dimensional
Talco Polipropileno Rigidez
Wollastonita Nylon Reforço Mecânico
Tabela 3. Identificação dos códigos e das cores dos compósitos.
PPM0 PPM05 PPM10 PPM20 PPM30 PPM40 PPM50 PPM60 PPM70
PP Puro PP+5% de rejeito
PP+10% de rejeito
PP+20% de rejeito
PP+30% de rejeito
PP+40% de rejeito
PP+50% de rejeito
PP+60% de rejeito
PP+70% de rejeito
Identificação dos Compósitos
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