No vale da lua 1

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No Vale da Lua... I No meio da mata, aos pés da montanha, via-se uma tímida nuvem de fumaça que subia ao céu, se confundindo com as nuvens. Estava frio. Era uma linda manhã de inverno. Surya acordara cedo e colocara pães para assar. Estava encostada na mesa esperando a água ferver para fazer seu chá de ervas, que ela mesma cultivava em seu quintal. Dentro de casa exalava um cheiro delicioso. Enquanto o pão assava, ela foi tomar o banho. Colocara umas gotas de óleo essencial de maracujá na água, que era calmante. Entrou na banheira devagar, com medo da água muito quente, mas logo seu corpo se acostumou à temperatura e ela relaxou, enquanto bolhas de espumas perfumadas estouravam ao seu redor. Fechando os olhos, seus pensamentos se voltam ao livro que estava escrevendo. Ela passara parte da noite anterior reunindo pesquisas para continuar seu trabalho e assim que 1

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No Vale da Lua...

I

No meio da mata, aos pés da montanha, via-se uma tímida nuvem de

fumaça que subia ao céu, se confundindo com as nuvens.

Estava frio. Era uma linda manhã de inverno. Surya acordara cedo e

colocara pães para assar. Estava encostada na mesa esperando a água ferver para

fazer seu chá de ervas, que ela mesma cultivava em seu quintal.

Dentro de casa exalava um cheiro delicioso. Enquanto o pão assava, ela foi

tomar o banho. Colocara umas gotas de óleo essencial de maracujá na água, que

era calmante. Entrou na banheira devagar, com medo da água muito quente, mas

logo seu corpo se acostumou à temperatura e ela relaxou, enquanto bolhas de

espumas perfumadas estouravam ao seu redor.

Fechando os olhos, seus pensamentos se voltam ao livro que estava

escrevendo. Ela passara parte da noite anterior reunindo pesquisas para continuar

seu trabalho e assim que terminasse o café da manhã, iria direto para o escritório,

que ficava do outro lado do quarto.

Trinta minutos depois, ela se levanta da banheira veste seu roupão branco e

calça chinelos quentes e confortáveis. Enquanto espalhava por seu corpo o

hidratante preferido, ela olhava pela janela. Amava aquele lugar! Jamais se

arrependera de ter se mudado para lá, há cinco anos.

Desde que saíra da cidade, sua qualidade de vida melhorara bastante.

Parara de fumar, sentia o cheiro das flores, do mato, dos pães que ela fazia e das

ervas que ela mesma cultivava nos fundos de casa. Não era mais uma mulher

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ansiosa. Ouvia o canto dos pássaros, a queda das águas das cachoeiras e até

mesmo o silêncio do vale cheio de flores coloridas.

Acostumara-se a dormir cedo. Às vezes assistia a um vídeo, mas gostava

mesmo era de ler um bom livro ou mesmo sentar em seu escritório e escrever seus

contos. Desde pequena, amava escrever e mal imaginava que um dia aquilo seria o

seu ganha-pão, além de hobby.

De vez em quando entrava na internet e matava a saudade da família e dos

amigos, além de se atualizar com as notícias do mundo. Muito raramente, havia

problema no sinal e ela ficava sem luz, sem rádio e internet, mas isso não a

preocupava. Ali se sentia segura e tinha mantimentos suficientes para passar um

mês tranquilamente. Ela escolhera esse mundo para si e não queria outra coisa.

Terminou de passar o creme no corpo e pegou um conjunto macio de

moletom azul escuro. Calçou meias, tênis confortáveis e foi até a cozinha. Preparou

uma bandeja com uma fatia de pão que acabara de assar, untado com a manteiga

produzida ali mesmo no vale, um pedaço de queijo e com uma caneca de chá

fumegante, encaminhou-se para a varanda.

Sentou-se na cadeira de balanço de madeira branca, descansou a bandeja

na mesa ao lado, agasalhou o corpo com uma manta macia bordada por ela mesma

e fitou o céu, aguardando o nascer do sol com suas belíssimas cores que a

encantava todas as manhãs. Suspirava de prazer ao presenciar essa cena e

agradecia a Deus por tamanha beleza.

Estava relaxada, bebericando o chá com os olhos entreabertos, quando de

repente ouviu um barulho à sua esquerda. Era Zion, seu labrador cor chocolate. Ele

chegou perto dela, lambeu sua mão e fez sinal com a cabeça, como se quisesse lhe

mostrar alguma coisa. Ele estava ansioso e latia bastante.

Estranhando o comportamento nervoso do cachorro, ela se pôs de pé, vestiu

mais um casaco e uma touca azul para se proteger do frio. Ninguém aparecia por ali

a não ser José, o rapaz do armazém local, que trazia suas compras, encomendas e

cartas uma vez por mês.

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Encaminhou-se mata adentro seguindo o cão, até chegar a mais ou menos a

150 metros de casa, onde encontrou um corpo caído no chão. Encaminhou-se até lá

com cuidado e arregalou seus grandes olhos cor de mel, surpresa. Era um rapaz

bastante jovem. Aproximou-se dele e sentiu seu pulso. Ele estava fraco, porém, vivo.

Seu corpo estava quente, ele queimava de febre. Surya podia ver as várias picadas

e feridas nas partes descobertas do seu corpo, além de alguns cortes.

Olhando para os lados sem saber o que fazer, voltou rápido para casa,

pegou um edredom no armário da sala e voltou correndo para a mata. O homem

continuava na mesma posição. Seu rosto estava pálido e seus lábios meio azulados,

sinal que ele passara a noite ali sob o frio intenso.

Apalpou o corpo do homem e reparou que ele tinha um osso trincado no

tornozelo direito. Providenciou uma tala com uma madeira encontrada no chão e o

pedaço de uma toalha que ela trouxera para limpar o rosto do rapaz. Com cuidado,

ela passou o edredom por baixo do corpo dele, dobrou as pontas, fez uns nós e

começou a puxá-lo vagarosamente evitando machucá-lo mais.

Demorou um pouco, mas logo chegou até a sua casa. Havia uma rampa na

lateral da varanda, onde José passava o carrinho de mantimentos. Ela arrastou o

corpo por ali com cuidado, entrou na sala e olhando rapidamente ao seu redor,

decidiu deixar o corpo dele no tapete macio em frente a lareira.

Tirou o edredom e não hesitou em despi-lo das roupas úmidas e sujas, afinal

ele estava ferido e ardendo em febre. Enquanto o despia, ela sentiu seu rosto

quente ao observar a força de sua musculatura. Foi até a cozinha e voltou com uma

bacia com água quente, esponja e toalhas limpas. Ajoelhou-se ao seu lado e lavou-o

com cuidado.

Cobriu-o com uma manta e levou a bacia com as toalhas e suas roupas para

a lavanderia. Abriu a porta dos fundos e pegou algumas ervas no quintal. Separou-

as na mesa de granito da cozinha e preparou um curativo para os machucados do

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rapaz. Também fez um chá de ervas para que baixasse sua febre e evitasse uma

infecção.

Quando terminou, ela se sentia exausta. Sentara-se na poltrona de frente à

lareira para observar o rapaz, até que seu estômago fez um barulho engraçado.

Observando o relógio antigo em cima da lareira, ela viu que passara muito da hora

do almoço e sentiu fome. Foi até a cozinha, abriu a geladeira e separou ingredientes

para uma sopa.

Assim que ficou pronta, ela foi até à sala e, enquanto tomava a sopa

silenciosamente, fitou o rosto do rapaz, procurando algum sinal de que ele acordava,

mas ele dormia profundamente, no entanto, sua febre estava cedendo. Pouco

depois, levantou-se e foi até a cozinha lavar seu prato e voltou à sala. Pegou um

livro na mesinha ao lado do sofá e enrolou-se numa manta quente e macia.

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II

Max entreabriu os olhos vagarosamente. Estava confuso. Não sabia onde

estava. Tentou mexer a cabeça, mas ela doía terrivelmente, o que o fez ficar imóvel.

De repente a viu. Seus cabelos loiros caindo de um lado da cabeça, que ficava

inclinada por causa do livro e do sofá. Ela usava um conjunto de moletom azul e

estava descalça, sentada em cima de uma de suas pernas, totalmente à vontade. A

mão que segurava o livro era muito bonita, seus dedos eram longos e delicados. Ela

mordia os lábios e às vezes fazia uma careta engraçada como se estivesse

“brigando” com algum personagem do livro.

Seu olhar desceu para os pés da moça. Eram pés pequenos, brancos,

delicados. As unhas estavam bem pintadas com uma cor clara. Às vezes uma de

suas mãos desciam até os pés, massageando-os inconscientemente.

Ela não possuía uma beleza estonteante, mas tinha um charme que nem

mesmo ela se dava conta. O formato de sua boca era perfeito e quando ela mordia

os lábios, Max sentia vontade de beijá-los, o que chocou seus pensamentos, afinal,

não a conhecia. Ela não era magra, tinha curvas como toda mulher deveria ter. Ele

não sabia precisar sua idade, mas ela parecia ter por volta de 32 anos de idade.

Definitivamente, ele gostava do que via!

Surya sentiu uma sensação estranha. Levantou os olhos vagarosamente e

deu de cara com os olhos do rapaz encarando-a. Estremeceu levemente. Apertou os

lábios inconscientemente, numa mistura de timidez e desafio, ao se sentir analisada

por ele.

Ele era magro. Quando o trouxera, vestia calça cáqui de boa qualidade, uma

camisa de manga comprida verde e uma camiseta por cima na cor bege. Calçava

tênis de caminhada e não encontrara nenhum cantil com água ou qualquer provisão

de comida.

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Sentiu seu rosto esquentar ao lembrar de seu corpo despido. Ele parecia ler

seus pensamentos, pois dera um sorriso estranho. Ela não sorrira de volta, estava

irritada com a presença marcante daquele estranho que mexia com sua rotina

tranqüila.

Colocando o livro sobre a mesa ao lado do sofá, ela levantou-se e ajoelhou-

se ao seu lado, tocando sua testa para medir a febre. Ainda estava febril, mas sua

aparência estava melhor.

- Meu nome é Surya. Eu o encontrei desacordado há alguns metros daqui,

perto da cachoeira da Pedra da Lua. Você se lembra de algo?

- Meu nome é Max. Lembro que me perdi e caí em um barranco quando

começou a chover. Foi difícil sair de lá e quando consegui, desmaiei de dor e

cansaço. Acho que perdi minha mochila e meu material de trabalho, falou ele

fazendo uma leve careta.

Sua voz era rouca. Surya achou-a sexy. Franziu a testa.

- Vou trazer um pouco de sopa pra você, afinal precisa se alimentar para

ficar forte e voltar logo para onde veio. Depois que falou isso, ela se desculpou,

achando-se mal-educada.

- Desculpe, é que não costumo receber visitas... falou ela e saiu em direção

à cozinha, voltando logo depois com uma tigela de sopa.

Ajeitou o travesseiro para que ele conseguisse se sentar e ficou ao seu lado,

tentando ajudá-lo.

- Seu tornozelo tem um osso trincado, provavelmente por causa da queda e

você possui cortes e picadas por todo o corpo, mas amanhã cedo, o Dr. Marcos dá

uma olhada nisso tudo, já passei um rádio pra ele e ele está ciente do seu quadro.

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- Obrigado, desculpe o trabalho... você vive sozinha aqui? Falou ele olhando

ao redor.

Desconfiada, ela apertou os olhos e falou, mentindo:

- Não. Moro com o meu marido e meu cachorro Zion, que é muito bravo.

- Hey, calma, não sou um vagabundo, não precisa se preocupar comigo.

Você pode pegar a carteira no bolso de trás da minha calça e....

Ele enfiou a mão por baixo do edredom e só então reparou que estava nu.

- Er... tive que despi-lo para lavar e cuidar das suas feridas. Lavei também

as suas roupas, logo mais estarão secas, falou ela sentindo o seu rosto quente.

- Tudo bem, obrigado. Provavelmente o seu marido deve estar chateado

com toda essa situação.

- Não, ele está tranqüilo, falou ela desviando o olhar do dele.

- Então, você pode pegar a carteira que está no meu bolso. Tem todos os

meus documentos e uma identificação da National Geografic, onde eu trabalho.

Estou na região há três dias para fazer uma matéria sobre o Vale da Lua.

- Ah que interessante! Você é jornalista...

- Sim, adoro o que faço. Estou hospedado na pousada “Sol da meia-noite”,

conhece?

- Ah sim, é uma pousada muito boa. Eles não te indicaram um guia para que

não se perdesse por aí? Ela perguntou erguendo as sobrancelhas.

- Sim, indicaram, mas há dois dias ele não aparece e decidi me aventurar

sozinho - falou com um sorriso irresistível de menino travesso.

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- Você não é muito novo para ser um jornalista? Perguntou desconfiada.

Sorrindo, ele respondeu:

- Trabalho desde os 16 anos. Comecei Na NG como simples estagiário e fui

trocando de cargo até a minha primeira matéria, aos 19 anos de idade. Felizmente

viram o meu potencial e agora faço o que gosto: viajo e escrevo!

Curiosa para saber a sua idade, Surya continuou dando-lhe a sopa.

- Ah... e você escreveu essa matéria há muito tempo?

Rindo de sua curiosidade, ele respondeu:

- Está preocupada com a minha idade? O fato de eu ser novo incomoda

você Surya?

- Não, não... gaguejou, corada.

- Eu tenho 29 anos, aliás, seu nome combina muito com você. É indiano e

significa “luz do sol”, estou certo?

- Sim. Está certo, ela respondeu, sem graça com a sua curiosidade e ao

mesmo tempo, encantada com a sua inteligência. Ninguém nunca sabia o

significado do seu nome. Ela terminou de dar-lhe a sopa, limpou sua boca e

levantou-se.

- Vou até à cozinha buscar um chá para você.

- Obrigado.

Se encaminhando até a cozinha, Surya reclamava consigo mesma: ah que

raiva! Estou há tanto tempo sem uma presença masculina que estou parecendo uma

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tola. Ele é lindo, sem dúvida, mas é muito jovem e geralmente, rapazes daquela

idade só queriam aventuras.

- Mas o que é que eu estou fazendo?? Deus! Não importa a idade do rapaz.

Ele não tem nada a ver comigo. Estou ficando maluca! [pensou batendo a mão

fechada sobre o tampo da pia]

Fez um bule de chá de ervas para os dois e voltou para a sala. Max tentava

se sentar e havia algumas gotas de suor em sua testa. O edredom caíra até sua

cintura e a luz do fogo da lareira dava-lhe um aspecto bem sexy, apesar da careta

de dor.

- Está tudo bem? Precisa de ajuda?

- Não, está tudo bem, obrigado. Me diz uma coisa, como você me trouxe da

mata até aqui, já que você é tão pequena, perguntou ele observando seu corpo e

sorrindo.

- Quando Zion veio me “avisar”, eu fui até lá e o encontrei desacordado.

Voltei para casa, peguei um edredom e coloquei por baixo do seu corpo, arrastando-

o até aqui.

- Nossa, quanto trabalho, afinal eu sou mais alto e mais pesado que você. O

seu marido não podia ajudá-la?

Sem graça, ela respondeu:

- Não. Ele está num congresso na cidade e só volta amanhã.

- Sei, ele falou analisando o seu rosto. E vocês moram aqui há muito tempo?

- Há cinco anos. É um lugar lindo. Me apaixonei assim que o vi pela primeira

vez – falou com os olhos brilhando.

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- Sim, é “muito” lindo mesmo – ele falou fitando-a intensamente, o que fê-la

desviar os olhos para o chão.

- Bem, eu preciso me deitar. Tenho muito trabalho a fazer amanhã e logo

cedo, o Dr. Marcos virá vê-lo. Se precisar de algo, toque o sino que deixei ao lado da

mesinha do sofá ok?

- Sim, obrigado. Boa noite e durma bem “luz do sol” – ele respondeu,

deixando-a apreensiva com a intensidade do sentimento que brotou dentro dela.

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III

Surya desligou as luzes, deixando somente a iluminação do fogo crepitando

na lareira. Colocou mais um travesseiro ao lado de Max, caso ele necessitasse,

deixou uma jarra com água ao lado do sofá, deu uma olhada em volta e, satisfeita,

subiu as escadas encaminhando-se para o seu quarto, com pensamentos que a

incomodavam.

- Que droga, não sei que está acontecendo comigo! Porque o sorriso dele

mexe tanto comigo?

Andou pelo quarto se despindo e entrou no banheiro, fitando

cuidadosamente o seu corpo no espelho em cima da bancada da pia. Tinha uma

marca bem fina de cesariana. Seus seios eram medianos e firmes e possuíam bicos

rosados. Passou a observar seu rosto.

Possuía poucas marcas de expressão, apesar dos seus 40 anos, mas

raramente saía de casa sem protetor solar e procurava se cuidar o máximo possível.

Sempre que podia, caminhava em torno de 7 km com Zion pelas redondezas,

aproveitando a beleza do lugar. Uma vez a cada dois meses ia ao salão na cidade,

para retocar a tintura do cabelo. Tinha cabelos castanhos, mas gostava de usá-los

com algumas mexas loiras, que lhe davam um ar mais despojado.

A bancada do banheiro estava repleta de cremes para o rosto, corpo,

cabelo, mãos, etc – e mesmo estando sozinha há cinco anos, desde que se separou

do ex-marido, ela se cuidava bastante, apesar de não pensar em outro

relacionamento.

Suspirando, ela saiu do banheiro, subiu um pequeno lance de escada e foi

ao terraço. Encostou o corpo na grade de madeira crua. Amava sua casa! Cada

cômodo foi projetado com muito amor e carinho. Ela vendera sua casa na cidade e

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investira tudo naquela casa. Ela possuía dois andares, porém, não era uma casa

grande, era aconchegante.

No térreo, circundado por varandas, havia uma sala imensa dividida em dois

ambientes, separada pela lareira. Uma bancada de granito negro com quatro

banquetas abria-se para a cozinha. Panelas de cobre penduradas ao teto davam um

charme ao ambiente. A casa era aconchegante. As vigas do teto completavam o ar

rústico misturado com o moderno, oferecendo um estilo próprio e maravilhoso.

No segundo andar havia três quartos e todo o andar era circundado por

vidros. Seu quarto era o maior de todos, pois era dividido em quarto e escritório,

separados por uma grande estante forrada de livros.

Do seu escritório, Surya tinha a vista da cachoeira da Pedra da Lua, perto de

onde encontrou Max... e de seu quarto, ela via todo o vale da Lua com suas

perfeitas formações rochosas cavadas nas pedras pelas corredeiras de águas

transparentes do rio São Miguel.

O Vale da Lua ficava fora do Parque Nacional, na Serra da Boa Vista, num

vale que se torna muito perigoso na época da chuva devido às repentinas trombas

d'água. O nome Vale da Lua vem da aparência que lembra uma paisagem lunar,

com pequenas crateras escavadas pelo atrito da areia levada pela água com as

rochas, nas curvas onde as corredeiras são mais fortes, dando origem a pequenos

rodamoinhos e funis.

Seus pensamentos voltaram-se para Max e ela fitou o céu negro forrado de

estrelas. Encaminhou-se para o ofurô, ligou a água e foi tirando a roupa até chegar

ao banheiro, onde pegou um roupão de plush branco. Colocou algumas gotas de

óleo de pitanga e maracujá na banheira e sentou-se confortavelmente, pensando no

rapaz.

Era estranho ter um homem em sua casa. Enquanto passava a bucha

delicadamente por seu corpo, pensou no corpo firme e másculo de Max. Seu corpo

estremeceu, arrepiando os pêlos dos seus braços. Apertou os lábios, irritada com

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seus pensamentos, levantou-se e expôs seu corpo ao frio para parar de pensar

bobagem.

Pegou um óleo de amêndoas doces, passou por todo o corpo e agarrou uma

toalha que estava pendurada ao lado da banheira. Enxugou-se vagarosamente para

não tirar o óleo do corpo e pegou o hidratante, esparramando-o pelo corpo. De

repente, sentiu-se observada e olhou para baixo.

Seu corpo estremeceu com o susto. Não havia pensado antes, mas boa

parte do terraço podia ser vista através dos vidros da sala, onde Max se encontrava

deitado, fitando-a sem o menor pudor.

Fingindo naturalidade, virou-se, vestiu o roupão, pegou a toalha e se

encaminhou para o quarto, trancando a porta atrás de si. Nem ligou a luz. A

claridade da lua iluminava o ambiente. Sentia seu rosto corado de vergonha, ficara

irritada. Só faltava ele achar que ela estava se exibindo!

Com esses pensamentos, despiu o roupão e deitou-se em sua cama repleta

de travesseiros, puxou o edredom até a orelha e fechou os olhos. Sonhou com um

par de olhos negros profundos fitando-a cheios de desejo.

Surya acordou com a sensação que dormira pouco. Lembrou-se de Max e

olhou para o relógio que ficava à mesinha ao lado de sua cama. Dr. Marcos chegaria

em uma hora. Levantou-se e encaminhou-se cambaleante até o banheiro, tomando

uma ducha rápida.

Escolheu outro conjunto de moletom, desta vez, na cor branca. Calçou tênis

branco com uma listra azul e complementou o vestuário com uma touca branca e um

cachecol colorido. Passou protetor nos lábios e desceu as escadas.

Max não estava. Preocupada, ela olhou em volta e viu a porta do lavabo

entreaberta. Ele estava com uma toalha enrolada na cintura e lavava o rosto. Seus

olhos se cruzaram através do espelho.

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- Bom dia! Falaram juntos.

- Bom dia Max, como está se sentindo hoje?

- Parece que fui atropelado. Todo meu corpo dói, respondeu ele sorrindo.

- Isso logo vai passar. O Dr. Marcos chega em menos de uma hora, aliás,

nesse armário embaixo da pia tem toalhas, escovas de dente e gilete, caso queira

se barbear.

- Obrigado, eu vou aceitar. Posso tomar um banho também?

- Claro, mas você acha que consegue? Aceita uma cadeira?

- Sim, acho melhor, pelo menos pra não forçar demais a perna.

- Eu já volto, vou buscar a cadeira pra você.

Surya foi até a varanda e trouxe uma cadeira. Colocou-a dentro do Box do

lavabo, trocou as toalhas, verificou os itens básicos de higiene e saiu. Seu corpo

esbarrou-se com o de Max e ela deu um pulo, assustada. Para não se desequilibrar,

ele segurou-a pelo braço.

- Desculpe... falaram ao mesmo tempo.

- Ah, bem... er... é melhor você tomar logo o banho, pois o Dr. Marcos está

chegando e não é bom você ficar muito tempo em pé. Enquanto isso, vou preparar

um café para nós. Desvencilhou-se do braço dele e saiu quase correndo para a

cozinha.

Ela preparou ovos mexidos com torrada, suco de laranja com acerola,

biscoitos, geléia, requeijão, manteiga, queijo, peito de peru, leite, chá e café e levou

num carrinho até a sala.

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- Nossa, o cheiro está muito bom. Estou morto de fome – ele disse,

chegando perto dela, mancando e sorrindo.

Ela suspirou. Cheiro bom era o que exalava do corpo dele, que acabara de

sair do banho. Seus cabelos molhados caíam sobre os olhos e dava vontade dela

estender a mão e colocá-los para cima.

- É, eu também estou com muita fome. Vamos, eu te ajudo a sentar-se.

Segurou-lhe o braço e puxou-o um pouco para cima, apoiando suas costas

com uma almofada. O cheiro da pele dele entrava-lhe pelas narinas, provocando-lhe

um estremecimento.

- Está com frio? Perguntou ele com os olhos brilhando.

- Não.

- Quando é mesmo que o seu marido retorna de viagem?

- Ah, talvez mais tarde ou amanhã, não sei – ela respondeu desviando os

olhos dos dele.

- Espero que ele não fique chateado por toda essa situação.

- Não, não. Além do mais, o Dr. Marcos deve te levar até o seu hotel, já que

ele vem de carro. [Ela queria que ele fosse embora o mais rápido possível]

Ambos ficaram em silêncio perdidos em seus pensamentos. Ela se

esforçando para não olhar para o peito nu dele e ele lembrando da visão do corpo

dela ontem à noite.

Terminaram o café em silêncio e quando terminavam, escutaram passos na

varanda. Surya estranhou, não ouviu o barulho do carro do Dr. Marcos. Abriu a porta

e recepcionou o médico.

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- Surya, olá, bom dia!

- Dr. Marcos, bom dia, como vai?

- Muito bem. Onde está o nosso paciente? Perguntou o médico olhando em

volta.

- Olá, bom dia doutor, meu nome é Max – falou, se apresentando.

- Bom dia rapaz. Então Surya, o que houve?

- Eu o encontrei desacordado ontem pela manhã na mata. Ele está com um

osso trincado no tornozelo esquerdo, além de vários cortes e picadas pelo corpo

todo.

- Vamos examiná-lo então. Marcos pegou a maleta dentro da mochila e

começou os primeiros procedimentos. Lavou suas feridas com soro e passou

pomada antibiótica e logo depois, preparou uma tala.

- Surya, preciso de sua ajuda.

- Claro Dr.

- Segure a perna dele desta maneira, explicou ele – para que eu coloque a

tala e fique firme.

Uma hora depois, o médico se despedia deles.

- Max, você pode ficar um pouco de pé, mas não muito, pois é necessário

que você repouse por pelo menos quinze dias antes de começar a caminhar.

- Dr. Marcos, o senhor pode dar carona para ele até o seu hotel? Perguntou

Surya, ansiosa, ao médico.

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- Minha querida, você não está sabendo? Eu vim caminhando. A ponte que

corta o rio São Miguel e o Rio Preto está com problemas, além do mais, Max precisa

ficar de absoluto repouso por pelo menos quinze dias.

- Quinze dias???

- Sim, algum problema? Perguntou o médico sem entender a razão da

surpresa.

- Não, não ... é que...

- É que o marido dela pode não gostar Dr.

- Ah? Que marido? [ele perguntou]

- Ah... er...

Não entendendo nada e com pressa, o médico se despede dos dois.

- Bem, eu preciso ir. Bom descanso aos dois e leve a sério o tratamento,

pois você pode ter alguma reação às picadas.

- Está certo Dr., farei tudo que recomendou.

O médico fez um afago na cabeça de Zyon e saiu apressado.

- Você está preocupada, ele falou enquanto observava ela mordendo os

lábios. Se pudesse, eu...

- Não. O Dr. Marcos disse que você precisa de cuidados e repouso e é

assim que tem que ser.

- Desculpe o abuso...

- Não, você não tem culpa...

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- Se o seu marido...

- Marido, marido, marido! Você só sabe falar isso?? Olha, fique tranqüilo,

vamos encontrar uma solução. Eu vou subir, trabalhar um pouco. Nas estantes ao

lado da lareira tem uma coleção de livros, fique à vontade para ler o que quiser e se

precisar de alguma coisa, me chame!

Ela saiu apressada, sentindo raiva de si mesma!

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IV

Ela subiu correndo as escadas. Assim que chegou ao escritório, desabou na

cadeira, pensativa: como ia conseguir encarar Max depois da noite passada? Ela

sentiu uma energia, uma vibração entre eles, mas se negava a aceitar.

Uma semana se passou. Surya evitava Max e ele a perseguia com os olhos.

Ela era incansável em cuidados para com ele. Sua perna melhorara bastante, no

entanto, o tempo parecia se arrastar e ela não conseguiu escrever nada.

Seus pensamentos estavam voltados ao rapaz. Ás 11h levantou-se e foi

preparar o almoço. Geralmente se virava com um lanche, um sanduíche ou uma

fruta, mas agora ela precisava preparar algo para Max, já que ele precisava se

alimentar bem.

Desceu as escadas e não o viu na sala. Entrou na cozinha e preparou algo

rápido, porém nutritivo. Arrumou a comida no carrinho e levou para a sala. Desta

vez, ele estava sentado, pensativo, no sofá, com uma perna apoiada em uma

almofada no banco que ela lhe emprestara para tomar banho.

- Olá, vamos almoçar?

- Não estou com muita fome.

- Mas precisa se alimentar, senão jamais vai sair daqui. Ela falou isso sem

pensar e notou que o semblante dele se fechou, tristonho.

Ela serviu os pratos, entregou um deles para Max e ligou a TV. Fizeram toda

refeição em silêncio.

- Aceita um suco de frutas?

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- Sim, claro!

Ficaram ali saboreando o suco e assistindo ao jornal até que Surya sentiu o

olhar dele sobre ela. Virou-se para ele e indagou:

- Algum problema? Você precisa de alguma coisa?

- Eu só estava pensando... como uma mulher como você decidiu morar num

lugar desses, longe do agito da cidade.

- Uma mulher como eu em que sentido? Ela perguntou desconfiada.

- Desculpe, eu quis dizer uma mulher bonita e, ao que parece, bastante

inteligente.

- Sei... enfim... criei duas filhas, meu ex-marido se casou novamente e meu

trabalho permite que eu tenha flexibilidade de lugar e horário, já que envio tudo pela

Internet à minha agente.

- Então você está no segundo casamento?

- Não!! Pega na mentira.... ela respondeu: - Não sou casada, desculpe pela

mentira. Falou abaixando a cabeça envergonhada.

- Tudo bem, não se preocupe – respondeu ele com um sorriso enigmático no

rosto. Eu já imaginava isso.

- Imaginava como? Porque?

- Porque esta casa não tem nenhuma foto de homem, nenhuma presença

masculina. Agora me diga o que você faz.

- Sou escritora.

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- Jornal? Revista?

- Tenho um livro publicado e também uma coluna de aconselhamento no

jornal da cidade. Estou tentando escrever o meu segundo livro.

- Uau, parabéns! Opa, espere, você é a Surya Singh, eu tenho o seu livro de

contos. Só agora eu liguei o nome à pessoa. Seu livro é muito bom!

- Obrigada, ela respondeu enrubescendo.

- O seu segundo livro de contos, em que pé está? Já tem bastante material?

Os primeiros são todos muito interessantes, a maioria tem um certo apelo sexual e

ao mesmo tempo, remontam a uma certa tristeza.

Sentindo um certo desconforto, ela se levanta, ajeita a almofada e pergunta:

- Você quer mais alguma coisa? Acho que vou dar uma caminhada!

Rapidamente Max se levanta e impede a sua passagem, segurando uma de

suas mãos.

- Espere Surya, eu...

- Max, eu...

[falaram ao mesmo tempo]

Ele fez um carinho em seu rosto. – Você é linda [ele falou rouco]

- Não sou...

- Psiii sim, você é. Você tem uma sensualidade latente. Quando fala, dá

vontade de beijar seus lábios bem desenhados. Você é inteligente, independente,

uma mulher batalhadora e que sabe o que quer.

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Page 22: No vale da lua 1

Ela fitou seus olhos e inconscientemente passou a ponta da língua por seus

lábios ressecados.

- Max, eu não tenho mais idade para joguinhos...

- E eu não estou jogando, nem brincando. Simplesmente estou tentando não

lembrar do seu jeito carinhoso e dos seus cuidados comigo. Não consigo esquecer

do seu jeito sentada no sofá em cima de uma perna e mordendo os lábios enquanto

lia o livro. Não consigo esquecer do seu corpo saindo da hidromassagem ontem, o

apelo do meu corpo ao pensar nisso. Posso ser muito novo em idade, mas sei ser

maduro o suficiente para lutar pelos meus objetivos e, principalmente, lutar por tudo

que eu quero e eu quero você Surya. Se você quiser, eu espero você pensar. Eu

espero o tempo que for necessário, mas quero te provar que não sou um garoto e

sim um homem com responsabilidades.

Segurando seu rosto com ambas as mãos, ele fica seus olhos e lhe dá um

beijo caloroso. Surya corresponde com a mesma intensidade. Ela já não tinha forças

pra lutar contra esse desejo que tomava conta do corpo dela desde que o vira pela

primeira vez.

Uma das mãos de Max percorre seu pescoço e vai até a sua nuca. Ela

suspira e aprofunda mais o beijo, abrindo caminho na boca dele com sua língua

quente e úmida.

Max suspira e pára. Encosta sua testa na dela e respira fundo. Ela se sente

confusa. Queria-o profundamente! Queria fazer amor com ele, queria lhe dizer o que

sentia, queria senti-lo dentro de si.

- Desculpe... eu não entendo... disse ela.

- Surya, não! Eu que peço desculpas, mas eu preciso parar antes que te

jogue ao chão e faça amor com você como nunca fiz antes.

- Mas é isso que eu quero Max! Porque parou?

22

Page 23: No vale da lua 1

- Porque eu quero que tudo seja perfeito. Quero que sinta, não apenas o

meu desejo, mas os meus sentimentos por você e também não quero que pense

que será apenas sexo. Eu quero você também aqui, Surya. [ele disse apontando

para o coração]. E quero ter certeza que é o mesmo que você quer, além do mais,

você está me evitando há mais de uma semana.

- Max, eu não sei, estou confusa. Estou evitando me envolver seriamente

com alguém há muito tempo. Não sei se consigo lidar com isso.

- Psiu. Vamos deixar o tempo rolar e analisar melhor os nossos sentimentos.

Eu quero muito você e não quero ter apenas uma aventura...

- Max, nem sei o que dizer...

- Não fale nada, apenas sinta. Vou entender se desistir e não me quiser

mais, mas por enquanto, vamos nos conhecer melhor. Ainda tenho uma semana pra

te mostrar quem na verdade sou e conhecer mais ainda essa mulher que tanto me

encanta.

Ele sentou-se e puxou-a para o seu colo. Ela podia sentir o desejo dele

ainda duro de encontro ao seu corpo, mas não disse nada.

- Surya, vamos nos dar esta chance por favor!

- Está bem Max, vamos fazer do seu jeito então.

Abraçou-o e em seguida, levantou-se.

- Eu preciso trabalhar, nos falamos depois então.

- Sim Senhora! Ele respondeu rindo.

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Page 24: No vale da lua 1

Sorrindo, ela subiu as escadas. Cada um ficou perdido em seus

pensamentos. Ele pensando numa maneira de conquistá-la e ela pensando no

sentimento forte que ardia em seu peito.

V

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Page 25: No vale da lua 1

Três dias se passaram e a relação deles se transformara. Trocavam alguns

carinhos, mas nada muito íntimo. Tudo que eles queriam era sentir segurança um

com o outro e ter certeza dos sentimentos. Eles faziam pequenas caminhadas,

lanchavam ao ar livre à beira de rios fabulosos e também trocavam impressões

sobre seus trabalhos.

Nesse dia Surya passou a manhã inteira trabalhando. Mal almoçou e subiu

para o escritório. A noite caiu e Surya desceu as escadas sem fazer barulho. Há

pouco tempo ela descera para ver como Max estava e ele dormia profundamente.

Ela aproveitou para analisá-lo melhor.

Seus cabelos castanhos caíam sobre os seus olhos. Um dos braços estava

caído ao longo do seu corpo e o outro apoiado no estômago. A perna ainda estava

dolorida, mas o Dr. Marcos o autorizara a fazer caminhadas.

Seu rosto era moreno, a pele acostumada ao trabalho feito ao ar livre. Ao

redor dos olhos, havia linhas de expressão causadas pelo sol. Os lábios, um pouco

entreabertos, possuíam um formato perfeito. Suas mãos eram longas com dedos

finos, mas só ela sabia como aquela mão podia segurar uma mulher.

Suspirando, ela ouve um barulho. Era Zion, anunciando a chegada de

alguém. Era José, trazendo algumas encomendas. Ela trocou algumas palavras com

o rapaz, despediu-se e voltou para a sala, deixando outros medicamentos em cima

da mesa ao lado do sofá, junto à receita médica.

Foi até a cozinha, preparou um caldo bem forte e foi até o quintal colher

laranjas e cenoura para fazer um suco bem forte para Max. Ela voltou para a sala

quando ele estava despertando.

- Oi, boa noite dorminhoco, disse ela sorrindo.

Seus olhos sorriam felizes. – Boa noite Surya. Acho que dormi demais né?

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Page 26: No vale da lua 1

- Demais não. Você dormiu bem. Estava precisando. Como vai a perna?

Ainda sentindo dores?

- Não, estou me sentindo ótimo. Gostaria apenas de um banho.

- Claro! Eu estava pensando se você não quer subir as escadas e tomar um

banho de ofurô pra você relaxar. Gosto de acrescentar algumas ervas à água. É

muito bom para as dores no corpo e em casos de tensão.

- Eu adoraria, respondeu ele levantando-se.

Surya levou-o escada acima.

Max não perdeu um detalhe pelo caminho até o terraço. Na parede que

subia as escadas, ele viu a fileira de fotos e sorriu diante do retrato de uma garota

de cabelos longos e castanhos com o mesmo olhar e sorriso de Surya.

Chegando ao terraço, Surya ajudou-o a sentar-se no banco e deixou a

banheira enchendo enquanto buscava um roupão no banheiro, junto com uma

toalha, que entregou para ele.

- Aqui está a toalha e o roupão. Fique o máximo que puder e relaxe. Ela

disse sorrindo.

- Obrigado Surya – ele respondeu e tocou levemente em sua mão, fazendo-

a se lembrar da noite que ele a vira nua.

- Quando terminar, eu venho te ajudar.

- E como vai saber que terminei? Ele perguntou com um sorriso cínico,

fazendo-a ficar vermelha.

- Ah... bem... não vou saber, mas tenho uma idéia de que seja daqui a uma

hora.

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Page 27: No vale da lua 1

Ele riu alto observando seu rosto pegando fogo.

- Coloquei algumas gotas de óleos essenciais medicinais na água pra você.

Você vai se sentir relaxado, além de fazer bem para a cicatrização total dos

machucados.

- O cheiro está ótimo, obrigado de novo Surya. Quem sabe um dia eu posso

agradecê-la por tanto trabalho e por sua atenção comigo.

- Não precisa agradecer, qualquer um faria isso...

- Quem sabe...

- Então ta... vou descer. Volto daqui uma hora para te ajudar a descer.

- Ok!

Ela desceu sem olhar para trás. Seu rosto estava quente. Ficou imaginando

o corpo dele deslizando pela banheira... e sentiu um arrepio em sua espinha. Ficou

andando de um lado pro outro até que decidiu sentar na poltrona e ler um livro.

Mal se passaram 15 minutos quando ela notou que não estava prestando

atenção ao que estava lendo. Deixou cair o livro e seu olhar vagou para fora. Ficou

pensando no que Max dissera alguns dias atrás. Ele tinha razão, era melhor esperar

o momento certo... mas quando seria o momento certo? Quem saberia? Ela só sabia

que um forte sentimento acontecia entre eles e não era somente sexo.

Max era um homem inteligente, batalhava pelo que queria. Era jovem, mas

era responsável, tinha uma visão de futuro que a agradava, apesar dela mesmo ter

parado de pensar no futuro desde que se mudara para o Vale da Lua.

Apesar de ser um homem másculo, ela podia observar nele um homem

carinhoso, atencioso e que se preocupava com as pessoas e isso era raro nos

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Page 28: No vale da lua 1

homens. Se ele quisesse somente um caso com ela, eles já teriam feito amor, mas

ele deixou claro que queria conquistá-la e mostrar a ela que era digno de confiança.

Seu olhar voltou-se para cima e ela quase deu um pulo no sofá. Max estava

deitado na banheira, com os olhos fechados. Dava para ver seu torço e seus braços.

Seu rosto estava relaxado, o pescoço inclinado para trás. Suas roupas jogadas no

banco ao lado da banheira.

Ela não sabia há quanto tempo estava observando-o até que seus olhos se

encontraram. Ela sentiu o corpo pegando fogo e podia notar o mesmo através do

olhar dele. Sem pensar, ela molhou os lábios com a ponta da língua e não precisou

de mais nada para que se levantasse do sofá e fosse até o terraço.

O caminho pareceu levar uma eternidade. Max a esperava em silêncio. Os

olhos dos dois traduziam o que ambos já sabiam. Eles se queriam e aquele era o

momento certo.

Despindo-se vagarosamente, ela foi deixando as roupas pelo caminho até

chegar ao lado da banheira. Sentiu a mão dele segurando a sua, puxando-a com

cuidado para junto de si.

A água cobriu o corpo dela até a metade dos seios. Max estendeu a mão e

pegou o sabonete líquido de mel e pitanga. Colocou bastante na palma da mão e

virou-a de costas para si, massageando seus ombros – primeiro com firmeza, para

logo em seguida, transformar a massagem em pequenas carícias.

Ela estava de olhos fechados. Podia sentir cada músculo do seu corpo

relaxando ao toque dele. Abaixou a cabeça e entregou seu pescoço às mãos dele.

Seu toque era firme, gentil, carinhoso. Ele sabia o que estava fazendo e ela sabia

que ele a queria tanto quanto ela o queria.

As mãos dele deslizavam do ombro ao pescoço dela. Ela suspirava de

prazer. Ele puxou-a mais para trás e deslizou as mãos dos ombros até a palma da

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Page 29: No vale da lua 1

mão. A pele dela estava quente pela água e pelas carícias, mas ao mesmo tempo,

um arrepio tomava conta do seu ser.

Ele virou-a para si e ajeitou-a no seu colo, de modo que suas pernas

sustentassem o peso dela. As pernas dela se separaram, uma de cada lado do

corpo dele. Ele apanhou o sabonete e esparramou mais em suas mãos. Voltou a

acariciar os ombros dela e o pescoço, só que agora seus olhares não se

desgrudavam.

A mão dele desceu, traçando vagarosamente um caminho entre os ombros e

seus seios. Os dedos dele tocaram os bicos duros e voltavam-se para cima,

provocando-a ao máximo. Ele observava o rosto dela e ela observava o rosto dele a

cada toque. Sabiam que aquilo não teria fim, eles queriam se amar, apenas isso.

As mãos dele continuaram a acariciá-la, desta vez descendo dos seios para

a barriga. Ela gemeu baixinho o que fez ele entreabrir os lábios. O ponto entre as

pernas dela pulsava desejoso. Ela desceu o olhar e viu seu membro duro quase

tocando sua barriga. Mordeu os lábios, nervosa.

Com um meio-sorriso, ele colocou um dedo na boca dela, impedindo-a de

machucar os próprios lábios. Brincando, ela mordeu a ponta do seu dedo – mas ele

não riu, apenas tocou novamente os lábios dela com o dedo. Ela mordeu

novamente, só que em seguida, ela beijou a ponta de seu dedo e passou levemente

a língua, provocando-o.

Desta vez ele sorriu, como se ela tivesse feito exatamente o que ele queria.

Ela segurou seu dedo entre os dentes e sugou-o vagarosamente, o que fez

ele puxá-la mais contra si, para que ela sentisse a força do desejo que guardava

para ela. Consciente do poder sobre ele, ela traçou uma linha de beijos que

começou em seu queixo, passou por sua bochecha, pelos olhos, testa, nariz.

Os lábios dela eram macios e molhados. A pele dele se arrepiava de prazer.

A boca dela descia pelo pescoço dele e ele jogava o pescoço para trás, de olhos

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Page 30: No vale da lua 1

fechados. As mãos dele acariciavam os seios dela. Ela abriu um pouco mais as

pernas e, ainda beijando-o, fez pequenos movimentos pra frente e pra trás, roçando

seu sexo nas pernas dele, o que provocou uma onda de gemidos nos dois.

Com firmeza, ele abraçou sua cintura e trouxe-a mais para cima, invadindo

sua boca com a língua ao mesmo tempo em que sentia com os dedos, o local exato

de penetrá-la. Ela abafou seu grito com a boca dele. Sentiu seus dedos penetrando-

a devagar, para não machucá-la. Sabia que estava molhada. Seus seios roçavam o

peito dele enquanto seus movimentos ficavam mais intensos. A língua dos dois

traçava um duelo dentro da boca do outro. A vontade que tinha era de fazer o tempo

parar. Sentiu os dedos dele procurando seu ponto sensível em meio ás suas carnes

e gemeu, fazendo-o pressionar mais ainda o ponto duro logo acima da abertura de

seu sexo.

Ela não conseguia se conter, muito menos ele. Queria dar todo prazer para

ela. Queria que ela se sentisse a mulher mais amada do mundo. Queria vê-la

gemendo e se contorcendo de prazer em seus braços para sempre.

Com apenas um movimento, ele guiou seu sexo para dentro dela. O grito

dela fora abafado pelo grito dele. Ela colocou as mãos no ombro dele e começou a

se movimentar em seu colo. Ele segurou sua cintura com ambas as mãos e ajudava-

a a rebolar em cima dele. Ela jogava a cabeça para trás e ele não parava de

observá-la.

Inconscientemente ela lambia e mordia seus próprios lábios, apertava os

ombros dele como se implorando para que não parasse. Os cabelos dela voavam de

um lado pro outro em seu rosto úmido de suor misturado ao vapor da água da

banheira.

Ele estendeu uma mão e puxou-a para um beijo ao mesmo tempo em que

se afundava dentro dela e puxava seu cabelo com firmeza. Ela soltou o grito mais

sensual que ele já havia visto no mundo e sorriu.

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Page 31: No vale da lua 1

Ela queria falar pra ele não parar, mas nenhum som, além dos gemidos, saía

de sua boca. Ele adivinhava seus desejos e fazia-a delirar.

Pelos gemidos dela, ele sabia que ela estava próxima do gozo e desceu

seus dedos novamente até o ponto que ela mais gostava. Acariciou-a a princípio

com cuidado, provocando. Logo depois, acelerou os movimentos e se preparou para

senti-la gozando em si e nos seus dedos.

Não deixando de observá-la, em poucos segundos ele sentiu seu sexo

sendo sugado para mais fundo dentro dela de uma maneira que ele nunca havia

sentido. Ela girou os olhos e do fundo de sua garganta saiu um grito rouco, se

transformando depois em gemidos altos e demorados, logo se misturando ao dele,

terminando, enfim, num longo suspiro.

Ela abriu os olhos surpresa, como se estivesse voltando de uma longa

viagem. Ele sorriu. Estava apaixonado por ela. Queria esta mulher em sua vida para

sempre. E diria ainda hoje isso pra ela. Queria cuidar dela, ser seu companheiro,

fazer caminhadas diárias com ela, explorar o lugar lindo em que morava. Queria ser

seu homem, seu namorado, seu marido, seu amante. Queria-a para sempre ao seu

lado!

Abraçou-a fortemente. Ela estava relaxada, entregue a este homem. Teve a

impressão que ouvira-o falar que a amava, mas ela não tinha certeza. Os gemidos

na hora do gozo não permitiam prestar muita atenção aos ruídos externos.

- Max.... você disse.... ?

- Sim, eu disse – falou ele sorrindo.

- É sério?

- Não precisa falar nada Surya. Eu a amo e quero você na minha vida. Mas

se você não estiver se sentindo confiante ou não tem certeza do que sente, eu

espero.

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Page 32: No vale da lua 1

Ela deu-lhe um beijo terno na boca e abraçou-o.

- Você é uma pessoa maravilhosa Max. Eu o amo! Eu também quero você

na minha vida. Para sempre...

- Surya...

- Max, vamos sair daqui, está esfriando. Vamos! – Ela falou isso levantando-

se da banheira rindo. Pegou o roupão, vestiu e ajudou-o a enrolar a toalha em sua

cintura, correndo abraçados pra dentro do quarto dela.

Rindo muito, eles caíram em cima da cama. Ele rolou seu corpo para cima

dela e beijou-a fazendo-lhe cócegas.

- Você é linda!

- Ah, sou nada! Ela riu alto.

- É sim e eu estou muito feliz.

- Max, você tem certeza mesmo do que quer?

- Sim, tenho. Nunca senti isso por outra mulher e estou amando amar você.

Ele falou isso e abriu o roupão dela, expondo seus seios. Baixou a cabeça e

beijou-os carinhosos, dando início a outra onda de calor em seus corpos que os

levaram a outros gozos maravilhosos noite adentro, até que, cansados, dormiram

abraçados.

VI

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Page 33: No vale da lua 1

Lá fora, a lua cheia se juntava ao brilho das estrelas, formando uma visão

digna de cartão postal.

Algo acordava Surya. Ela abriu os olhos sem saber onde estava e logo

desceu os olhos para o braço de Max em cima de sua barriga. Ela sorriu. Estava

apaixonada. Ele era perfeito!

Ela puxou delicadamente o braço dele de cima dela e pulou da cama. Estava

nua. Seu corpo estava marcado pelo amor da noite passada. Ela desceu as escadas

procurando a origem do barulho. Em cima da mesinha ao lado do sofá, o celular de

Max tocava sem parar. Surya não sabia se podia atender, e, na dúvida, atendeu.

- Alô!

- Ah, acho que liguei errado. Esse celular não é o do Max? [era uma voz de

mulher]

- Sim, é dele sim. Surya respondeu nervosa.

- E quem é que está falando aí? Perguntou a voz novamente do outro lado,

desta vez, com uma ponta de irritação.

- Olha, ele está dormindo, gostaria de deixar recado?

- Diz pra ele que a noiiiiiiiva dele ligou. Meu nome é Julia. Dizendo isso, ela

bateu o telefone com toda força.

Tremendo muito, Surya senta-se no sofá.

- Não é possível! Não pode ser! Meu Deus, diz que não é possível por favor!

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Page 34: No vale da lua 1

Depois de alguns minutos, ainda em choque, Surya sobe as escadas e entra

em seu banheiro. Deixa a água cair por seu rosto, lavando suas lágrimas. Ela estava

em pedaços, não podia acreditar no que estava acontecendo. Max não podia ter

mentido pra ela, não era possível! Ela podia ver em seus olhos o quanto a amava,

mas então, porque.... ??

Diante da possibilidade de um novo sofrimento, ela só via um caminho: fugir!

Entrou no closet e pegou uma pequena maleta, onde colocou algumas

poucas peças de roupa e algumas sandálias. Vestiu uma calça jeans, uma camiseta

regata branca, tênis all-star branco e jogou uma jaqueta de couro marrom por cima

dos ombros.

Desceu quase correndo as escadas. Pegou as chaves do Jeep em cima do

móvel, abriu a porta e voltou-se para escrever um bilhete. Colocou-o na mesinha ao

lado do celular dele e saiu.

As lágrimas impediam-na de enxergar à frente. Ela parou o jeep há poucos

km dali, junto às pedras do Vale da Lua.

- Eu não posso acreditar que mais uma vez cometi um erro. Como pude ser

tão burra? Como pude acreditar nas palavras dele?

Voltou para o jeep e seguiu até encontrar a via principal que levava à cidade.

Uma hora depois estava dentro de um avião.

Max acordou com o sol batendo em seus olhos. Virou-se de lado, tentando

abraçar Surya e encontrou a cama vazia. Imaginando que ela estava no banho, ele

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Page 35: No vale da lua 1

desceu as escadas. Ainda estava nu, mas nem ligou para o fato e foi direto à

cozinha. Lá preparou ovos mexidos, pães, torradas, suco de laranja, geléia, leite,

chá e bolo. Saiu pela porta dos fundos e colheu um lindo girassol, colocando-o junto

à bandeja de café da manhã. Subiu as escadas assoviando, tranqüilo. Entrou no

quarto e Surya não estava.

Olhou no banheiro e não a encontrou. Sorrindo, foi até o terraço chamando-a

e nada.

- Pra onde ela foi??? Ele perguntou surpreso.

Desceu as escadas, desta vez já vestido. Olhou a mesa ao lado do sofá e

viu um bilhete ao lado do seu celular.

“Por favor, saia da minha casa! Tranque a porta e coloque as chaves

embaixo do vaso de tulipas vermelhas. Eu cometi um erro e não voltarei a cometê-lo

novamente.”

Sentindo o sangue sumir de seu rosto, ele sentou-se na ponta do sofá.

- Mas.... porque?? O que houve???

Seus pensamentos se perderam entre mil explicações, mas não encontrara

nenhuma a não ser que ela tenha se arrependido e voltara atrás.

Chateado, ele reuniu suas coisas, colocou numa sacola e saiu porta afora.

Não conseguia acreditar no que tinha acontecido. Em um dia estava vivendo no

paraíso e no outro fora até o inferno.

- Ah Surya... falou ele gemendo, atordoado, porque você fez isso?

Seu celular tocou.

- Alô!

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Page 36: No vale da lua 1

- Max! Gritou uma voz histérica.

- Sim Julia, o que houve?

- Onde é que você está?

- Pra que você quer saber Julia, o que você quer?

- Você está com uma mulher que eu seiiii!

- Como você......... ???

- Você sabe que eu amo você Max, mas você sempre me humilha, falou ela

choramingando.

- Julia, nunca te prometi nada. Tivemos um caso, só isso. Não temos

nenhuma relação. Nosso namoro começou e terminou rapidamente, não deu certo!

- Mas eu sempre sonhei com o dia que você viesse a me amar....

- Julia, eu estou apaixonado por outra mulher como nunca estive antes.

- É a moça que atendeu o telefone?

- Como? ........ espere... Julia, que moça, do que está falando? – ele

pergunta confuso.

- Eu liguei pra você, queria saber notícias suas e uma moça atendeu.

- O que você disse pra ela Julia? – perguntou ele sobressaltado, agora

entendendo tudo.

- Eu não disse nada.... só queria falar com você! – respondeu ela insolente.

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Page 37: No vale da lua 1

- Julia, me diz exatamente como foi a conversa! – ele perguntou nervoso.

- Ah... eu....

- Julia!!!!!!!! – gritou ele.

VII

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Page 38: No vale da lua 1

José estava a caminho da cidade quando vê um homem caminhando com

certa dificuldade. Demorou a reconhecê-lo, até que chegou perto e parou o carro.

- Olá, o Sr. não é aquele amigo da Dona Surya que estava machucado?

- Sim, sou eu – respondeu Max cansado e com o rosto coberto de suor.

- Aceita uma carona? O Sr. não me parece bem.

- Aceito sim, obrigada.

Entrando no carro com certa dificuldade, ele começou a sondar o rapaz.

- Você por acaso sabe onde fica a cidade onde moram as filhas da Surya?

- Claro que sei moço, as meninas dela moram em Brasília.

- Sim, mas você sabe mais ou menos onde ou como posso achá-las ou o

endereço delas?

- Aconteceu alguma coisa moço? Perguntou José desconfiado.

- Não. É que eu escrevo pra um jornal e fiquei de entregar uma encomenda

para as filhas dela, só que esqueci de pegar o endereço e agora estou muito longe

para voltar.

- Eu tenho aqui comigo uma encomenda das meninas pra mãe, só que não

deu tempo de entregar pra ela ontem. Deixei pra entregar hoje. Acho que talvez

tenha o endereço delas. Parou o carro e jogou o corpo para trás, pegando uma caixa

de papelão.

- Aqui! Olha que sorte! Anote aí!

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Page 39: No vale da lua 1

Tremendo, nervoso, Max anotou o endereço das filhas de Surya e

agradeceu.

- Pra onde o Sr. está indo?

- Preciso ir até o aeroporto. Você pode me levar até lá?

- Sem problemas moço, eu o levo, respondeu José, sorrindo.

Uma hora depois Max se encontrava sentado em uma poltrona no avião que

o levava à Brasília. Seu rosto estava pálido. Ele chamou uma comissária de bordo,

pediu-lhe água e tomou os remédios. Encostou a cabeça na poltrona e fechou os

olhos.

- Maldita Julia e sua inconveniência! Droga! Porque Surya não me acordou e

brigou comigo para eu poder me explicar? Porque ela não confiou em mim? Depois

de tudo que aconteceu...

Chateado, Max ficou pensando no que fazer. Não queria perder Surya, mas

também não queria passar por cima do seu orgulho ferido e procurá-la com

explicações, depois de ter passado a noite inteira falando que a amava e fazendo

amor com ela.

Abatida, Surya olha o relógio em seu pulso. Era 17h.

- Será que Max já saíra de sua casa?

Pegou um táxi e foi para a casa das filhas, pensando nele com tristeza.

- Porque eu sou tão estourada? Eu devia ter ficado e conversado com ele.

Eu não deveria ter saído da minha própria casa. Mas não tinha coragem de olhar pra

ele.... e ver a mentira em seu olhar.

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Page 40: No vale da lua 1

Pouco tempo depois, estava abraçando as filhas.

- Mãeeeeeeeee!! Gritavam as duas, felizes. O que aconteceu que você veio

ver a gente antes das férias??

- Ué, não posso vir a hora que eu quero não? – respondeu ela rindo.

- Claro que pode mãe, foi uma ótima surpresa!

Abraçadas, as três entraram em casa. Tudo estava arrumado e limpo. Surya

gostava da moça que trabalhava na casa das filhas. Ela era responsável e

carinhosa, além de satisfazer todas as vontades delas.

- Ah que saudade daqui filhotas! Como estão as coisas?

- Estão bem mãe e você? Como está o Vale da Lua?

Abaixando a cabeça, Surya responde:

- Está tudo bem, lá continua lindo como sempre.

Trocando olhares, as filhas levam-na até o quarto de hóspedes.

- Mãe, aconteceu alguma coisa?

- Não, nada. Eu só quero tomar um banho e descansar um pouco.

- Tudo bem mãe. Vou pedir pra Marta fazer um lanche pra nós para quando

você acordar.

As filhas fecharam a porta atrás de si conversando baixinho.

- Aconteceu alguma coisa, a mamãe não está bem. Notou os olhos dela

como estavam vermelhos?

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Page 41: No vale da lua 1

- Sim. Vamos deixá-la descansar e quando ela quiser se abrir, estaremos

aqui.

As duas foram até a cozinha e conversaram com Marta sobre o lanche para

logo mais à noite.

Surya entrou no banho e deixou as lágrimas correrem livres sob o chuveiro.

Ela estava profundamente magoada. A dor em seu peito era imensa. Sentia ainda

em seu corpo as carícias de Max. Entregara-se a ele completamente. Mas ele era

noivo. Ele mentira para ela.

Saindo do chuveiro, enrolada numa toalha, Surya deita-se na cama e dorme,

cansada de tanto chorar.

Enquanto isso, Max toma um táxi no aeroporto e vai direto a um hotel. Ao

entrar em no quarto, ele deita na cama com um dos braços embaixo da cabeça e

outro na texta. Estava se sentindo confuso, talvez fosse melhor deixá-la ir. Talvez

ele não fosse o homem ideal para ela. Talvez ele não se sentisse à altura dela o

suficiente e talvez ela não o amasse como ele a amava. Talvez ela esperasse

demais dele ou vice-versa.

Ficou pensando na noite maravilhosa que tiveram. Tudo foi tão perfeito! Será

que foi um sonho? Fechou os olhos e dormiu, exausto. Logo a noite cairia e ele

pensaria melhor numa maneira de resolver a história entre eles.... ou não !!

[Continua.... ou não!]

41