Noções de Traumatologia

33
Noções de Traumatologia Energias lesivas Em todos os casos, quando uma forma de energia entra em contacto com o corpo (ou o corpo entra em contacto com ela), no ponto em que ocorre a transferência para aquele, produzem alterações das estruturas superficiais (cutâneas e mucosas) e/ou profundas, internas (músculos, ossos etc.), ou, ainda modificações das actividades ou funções de tecidos, órgãos e sistemas. A alteração morfológica ou funcional do corpo no local em que ocorre uma transferência de energia é o que se denomina lesão. lesão. Dai que se denominem energias lesivas quaisquer forma de energia capaz de provocar lesões, ou, então, energias vulnerantes todas aquelas em forma de energia capazes de vulnerar o organismo.

Transcript of Noções de Traumatologia

Page 1: Noções de Traumatologia

Noções de Traumatologia

• Energias lesivas• Em todos os casos, quando uma forma de energia

entra em contacto com o corpo (ou o corpo entra em contacto com ela), no ponto em que ocorre a transferência para aquele, produzem alterações das estruturas superficiais (cutâneas e mucosas) e/ou profundas, internas (músculos, ossos etc.), ou, ainda modificações das actividades ou funções de tecidos, órgãos e sistemas. A alteração morfológica ou funcional do corpo no local em que ocorre uma transferência de energia é o que se denomina lesão.lesão.

• Dai que se denominem energias lesivas quaisquer forma de energia capaz de provocar lesões, ou, então, energias vulnerantes todas aquelas em forma de energia capazes de vulnerar o organismo.

Page 2: Noções de Traumatologia

•Agentes lesivos• São todos aqueles capazes de provocar lesões,

podendo ser agrupados em: instrumentos e meios.• Instrumentos• São objectos ou estruturas que transferem energia

cinéticas (mecânicas), como se observa no quadro a seguir:

INSTRUMENTO APLICAÇÃO da ENERGIA sobre

MECANISMO FERIMENTO (LESÃO)

EXEMPLO

Perfurante Um ponto Pressão -penetração

Punctório Alfinete, agulha, sovela, prego, estilete

Cortante Uma linha deslizamento inciso Navalha, gilete

Contundente Área+massa Pressão-esmagamento

Pressão+esgarçamento

Contuso lácera-contuso

Cassetete, chão, muro, pára-choques, pau.

Page 3: Noções de Traumatologia

INSTRUMENTO

APLICAÇÃO da ENERGIA sobre

MECANISMO FERIMENTO

(LESÃO)

EXEMPLO

Pérfuro-cortante

Ponto+linha Pressão -deslizamento

Perfuro - inciso

Peixaria, faca, bisturi

Pérfuro-contundente

Ponto+massa Pressão -penetração

Perfuro - contuso

Projéctil de arma de fogo, chave de fenda

Corto-contundente

Linha+massa Pressão - esmagamento

corto - contuso

Machado, dente, foice, unha, facão

Lacerante Linha+massa esgarçamento laceração Serra, motosserra, serrote, traçador

Page 4: Noções de Traumatologia

• Meios • São todas aquelas situações que transferem quaisquer

outras formas de energia diferente da forma cinética (mecânica).

• Divide-se em:• Meios físicos• Diferente dos mecânicos e que compreendem energias

sob forma de vibrações, sendo certo que a avaliação da energia total do sistema pode ser calculada pela fórmula

• E = hv • Onde h = constante de planck (6,6256 x 10 ³4־ J) e v = a

frequência.• Sonora: instantânea (explosão, impacto) ou contínua

(ruído laboral, música com potência)

Page 5: Noções de Traumatologia

• Eléctrica: cósmica (queroaurântica: raio, centelha) ou artificial (electricidade industrial).

• Térmica: frio (geladeira), calor (queimadura, intermação, insolução).

• Luminosa: solar, artificial• Radioactiva ou actínica: raios X, radium, cobalto,

raios α,β e γ• Barométrica: pressões himperbáricas (escafandros,

caixões)• Meios químicos• Nos quais a energia é liberada pelo sistema durante

uma reacção química, a exemplo do que acontece com as substâncias cáusticas (soda, potassa), substâncias corrosivas (ácidos, e.g. como no caso da vitriolagem) entre outras.

Page 6: Noções de Traumatologia

• Meios Físico-químicos• Em há uma somatória de energias, como, por

exemplo, a energia mecânica + energia química, no caso da asfixia.

• Meios bioquímicos• Inanição. • Biodinâmicos • Coma, estado de choque.• Psíquicos (psicossomáticos) • Estresse, ansiedade• Mistos• Fadiga• Bibliografia• As referencias estão incluídas no final do Cap. 9

Page 7: Noções de Traumatologia

Lesões contusasJorge Paulete VanrellJorge Alejandro Paulete Scaglia

• Definição• Designa-se lesões contusas as provocadas por

instrumentos contundentes, cuja classificação se dá por exclusão:

1. A cabeça e as extremidades do homem e dos animais.

2. Instrumentos próprios para o ataque e a defesa (e.g. soco-inglês, borduna, cassetete, nuntchako).

3. Ferramentas de trabalho (e.g. martelo, marreta, e utensílios, desde que utilizados por impacto).

4. Objectos no seu estado natural (pedras, paus etc.).

Page 8: Noções de Traumatologia

5. Objectos dos mais variados: qualquer estrutura, pouco importando se é ela que vem de encontro ao corpo da vitima ou se é este que vai se chocar contra ela (e.g. paredes, solo etc.).

• Modalidade das lesões• Os instrumentos contundentes, animados da

necessária energia cinética, são capazes de provocar soluções de continuidade e lacerações, mais ou menos extensas, dos tecidos moles, dos vasos, das viceras e das estruturas osteoarticulares.

• Formas lesivas• Decorrem em função da massa, da força viva de

que os corpos estão animados, da direcção na qual se movem, da duração do contacto, da elasticidade dos tecidos golpeados, da maior ou menor moleza do local e da presença

Page 9: Noções de Traumatologia

de resistências subjacentes. A acção contundente sobrevém como consequência de:

1. Compressão, que determina esmagamento, mormente quando há uma resistência subjacente;

2. Contacto tangencial, por atrito;

3. Tracção, que pode produzir arrancamentos e lacerações.

• Quando a tracção se exerce sobre uma víscera, pode ocasionar ruptura do aparelho suspensor da mesma, ligamentos e/ou do pedículo vascular, obviamente além das produzidas na próprio víscera nas inserções;

4. sucção, que determina uma depressão circunscrita;

5. Explosão, que decorre do aumento primário, ou secundário da pressão interna. Também por deformação compressiva:

Page 10: Noções de Traumatologia

• Para esta última, lembrar a força, nesseçaria para quebrar uma noz!

• Localização• Superficiais• Com exceção da escoriação, somente ocorrem em

corpos com vida.• Rubefação • A pressão libera histamina, que dá vasodilatação. Há

autores que não a consideram lesão porque não há saída do sangue dos vasos. Encontram se nas compressões e nas irritações agudas ou crónicas.

• Edema traumática• Aumento do líquido extra celular e extra vascular,

provocando distensão com limites nítidos, por vezes com a forma do instrumento.

Page 11: Noções de Traumatologia

• Bossas linfáticas e sanguíneas• Produzida pelo acúmulo de linfa (galo d´água) ou de

sangue, quando há um plano subjacente resistente e impermeável.

• Hematoma • Lago sanguíneo, localizado, formado pelo rompimento de

vasos. Além de superficial, pode ser em profundidade, em plena massa de órgãos (hematomas extradural, subdural intramuscular), e em espaços teciduais (retroperitônio, mediastino).

• Equimose • Sufução hemorrágica, difusa que se infiltra na espessura

dos tecidos, ocasionada pelo rompimento dos vasos em face da acção do instrumento contundente, do qual pode guardar a forma. A transformação química da hemoglobina fora do vaso leva a mudanças cromáticas na evolução:

Page 12: Noções de Traumatologia

• Espectro equimótico de legrand du sulle: avermelhado, vermelho-violáceo, azulado, esverdeado, amarelado. Podem assumir a forma de sufusões (lençóis), de víbices (estriações, cobrinhas), de sugilações (em grau de areia sobre uma área) ou de petéquias (pontos de 1mm ou mais de diâmetro).

• Escoriação • Resulta da acção mecânica tangencial do instrumento,

que deixa a derme ao descoberto por arrancamento da epiderme. Não havendo secção das papilas, apenas flui serosidade, que forma crosta amarelada (melicérica) quando seca. Quando há secção das papilas, existe mistura de sangue na serosidade, e a crosta que se forma ao secar é castanha ou amarronzada. Ao se destacar a crosta, pode ficar uma mancha hipocrômica temporária. No cadáver, por não haver circulação, ainda que

Page 13: Noções de Traumatologia

possam ocorrer escoriações, não se formarão crostas.

• Pela sua forma, podem indicar o instrumento (lineares estreitas, instrumentos pontiagudos; lineares largas, estigmas ungueais, arranhões; semilunares, unhas; pinceladas, cascalho; em chaga, asfalto; apergaminhadas, no sulco de enforcamento.

• Pela sua localização, orientar sobre o tipo, de crime: em torno do nariz, na sufocação; em torno do pescoço, nas esganadura; nas coxas, nádegas, e mamas, no estupro e no atentado violento ao pudor; esparsas pelo corpo, no atropelamento.

• Laceração (lesão lácero-contusa) • A semelhança da anterior, resulta da acção mais ou

menos tangencial do instrumento, que pela força de arrasto ou de tracção, acaba por provocar esgarçamento ou dilacerações dos tecidos gerando lesões; e estas pelas suas características, gerais, podem parecer-se com as corto-contusas sem,

Page 14: Noções de Traumatologia

contudo, exibir a relatividade nitidez, provocada pelo impacto, do gume do instrumento sobre o corpo: suas bordas são irregulares face a dilaceração.

• As lesões lácero-contusas mostram as seguintes características:

• Profundas• Entorses e luxações• Tracionamento e contusões que distendem

ligamentos (entorses). Quando as superfícies articulares perdem contacto, ainda que seja temporariamente, fala-se em luxação.

• Fractura• É a solução de continuidade do osso. Pode ser

fechado ou exposta; completa ou incompleta; única, múltipla ou cominutiva; em galho verde, transversa, obliqua, longitudinal, espiral ou mapa-múndi.

Page 15: Noções de Traumatologia

• Ruptura visceral• Em geral, resulta de aumento de pressão, mais ou

menos localizado, que faz explodir vísceras ocas com conteúdos líquidos (bexiga, vesícula, estômago) ou dilaceras de vísceras maciças por tracionamento ( arrancamentos esgarçamentos), ou por penetração (perfuração, transfixação, secção).

• Esmagamento• Provocados por compressões violetas de grandes

massas, (desabamentos, acidentes de trânsito com prisão entre as ferragens) ou por ondas de pressão/decompressão alternadas (nas explosões, cf. infra).

Page 16: Noções de Traumatologia

Lesões por armas brancas• Instrumentos lesivos• A característica mais comum, daí o nome arma

branca, é o facto de que, historicamente, na sua maioria brilhavam, principalmente a noite (pareciam ser brancas), a diferença das armas de fogo da época, que, além de não reluzirem, projectavam fogo quando do seu accionamento. Podem ser agrupados conforme o quadro abaixo.

• Características das lesões• Lesões punctórias• Produzidas por instrumentos perfurantes. Embora

circulares, podem ser deformadas pelas linhas de força das fibras elásticas e musculares subcutâneas (ferida oval, triangular, em seta, em quadrilátero),

Page 17: Noções de Traumatologia

seguindo as leis de Filhos e Langer, que não se cumprem no cadáver, mas apenas no vivo.

• Lesões incisas• São típicas dos instrumentos cortantes. Chamam-se

incisão apenas quando é cirúrgica. Apresenta-se mais profunda na parte central (corpo), superficializando-se nos extremos (cabeça e cauda, ou cauda de entrada e cauda de saída).

• A lesão incisa exibe bordas e vertentes regulares que se coaptam perfeitamente. Margens sem escoriações ou equimoses.

• Fundo sem trabéculas.

Page 18: Noções de Traumatologia

INSTRUMENTO

APLICAÇÃO DA ENERGIA sobre

MECANISMO FERIMENTO (LESÃO)

EXEMPLO

PERFURANTE um ponto pressão-penetração

punctório alfinete, agulha, sovela, prego

CORTANTE uma linha deslizamento inciso navalha, gilete

PÉRFURO-CORTANTE

ponto+linha pressão-deslizamento

pérfuro-inciso faca, peixeira

CORTO-CONTUNDENTE

linha+massa pressão-esmagamento

corto-contuso machado, dente, foice, unha, facão

Page 19: Noções de Traumatologia

• Elementos especiais podem ser observados em alguns tipos de lesões incisas:

1. Sinal do espelho (de Bonnet): borrifo ou respingos de sangue no espelho nos casos de esgorjamento suicida.

2. Inclinação da lesão de esgorjamento: para diferenciar suicídio (oblíqua) de homicídio (horizontal).

• Lesões de defesa: localizadas em antebraço (face dorsal e borda ulnar) e palma das mãos.

• Lesões pérfuro-incesas• Provocadas pelos instrumentos pérfuro-cortantes

com um ou dois gumes (faca-peixeira, adaga). Feridas mais profundas do que largas, que tem a maioria dos elementos das lesões incisas (bordas, margens, vertentes, fundo). Assumem forma de botoeira, com uma comissura agudo (gume)

Page 20: Noções de Traumatologia

e outra arredondada (costas), ou as duas em ângulos agudo (instrumentos com dois gumes) ou estreladas, quando a lâmina tem mais de dois gumes.

• Por vezes, há deformação do orifício de entrada, face a movimentação da mão que impunha o instrumento, quer alargando ou ampliando a lesão, quando há inclinação maior na saída, quer mudando a forma, quando a rotação depois de fincada no corpo.

• Um caso especial dessa modificação é a denominada lesão em cauda de andorinha, que aparenta o cruzamento de duas lesões diferentes, quando de facto ambas foram provocadas sem retirar o instrumento.

Page 21: Noções de Traumatologia

• As lesões pérfuro-incisas podem ser:• PenetrantesPenetrantes: entram em cavidades preexistentes:

pleural, pricárdica, peritoneal;• PerfurantesPerfurantes: penetram numa parte maciça do corpo,

sem saída; • TransfixantesTransfixantes: atravessam um órgão ou uma parte

do corpo;• Em fundo-de-sacofundo-de-saco: quando perfuram, atingem um

obstáculo resistente e não penetra além do comprimento;

• Em acordeãoEm acordeão ou em sanfonaem sanfona: (de lacassagne): quando a superfície do corpo é desprezível (parede de abdómen), a lâmina produz uma lesão mais profunda que o seu próprio comprimento.

Page 22: Noções de Traumatologia

• Lesões corto-contusas• São lesões mistas, com algumas das características

dos ferimentos incisos (efeito de cunha), mas produzidas pelo mecanismo das contusas = pressão sem deslizamento. Quando o instrumento, em acréscimo, tem um gume afiado, pode provocar lesões que se assemelham mais com as incisas. As lesões costumam ser muito devastadoras, decepando segmentos, fracturando ou seccionando ossos etc.

Page 23: Noções de Traumatologia

Lesões por armas de fogo• Introdução à balística• A balística é uma parte da física aplicada que estuda

os projécteis (sua trajectória, os meios que atravessam etc.) e as armas de fogo.

• As armas de fogo são instrumentos que utilizam a grande quantidade de gases produzidos pela queima instantânea de uma carga, constituída por um combustível seco (pólvora ou sucedânea) como forma de propulsão dos projécteis. Esta queima somente ocorre na presença de chama viva (que era como se detonavam as armas de fogos antigas: canhões, bombardas, arcabuzes, bacamartes, garruchas, etc., com ajuda de um pavio aceso). Daí a necessidade de existir, nos cartuchos, uma segunda mistura combustível, capaz de acender (inflamar) quando golpeada. Essa mistura forma parte da espoleta ou escorva.

Page 24: Noções de Traumatologia

• As armas de fogos são compostas de três partes fundamentais:

1. A que se destina a segurar a arma: coronhacoronha (cabo) e armaçãoarmação (corpo)

2. Os mecanismosmecanismos: o de disparodisparo, constituída pelo percutor percutor (agulha), accionado pelo gatilhogatilho, (tecla), e o de extracção para expulsar a cápsula (estojo) extracção para expulsar a cápsula (estojo) uma vez deflagrada.uma vez deflagrada.

3.3. O cano, O cano, que é a peça essencial, constituída por um cilindro metálico, fechado em uma de suas extremidades e aberta pela outra. A extremidade fechada pode sê-lo pela própria fabricação (e.g. pica-pau e armas antigas) ou pelo cartucho quando este se aloja na câmara (parte de diâmetro ligeiramente maior). A extremidade do cano que da continuidade à câmara é conhecida como boca de carga, ao passo que a outra extremidade,

Page 25: Noções de Traumatologia

aquela através do qual o projéctil abandona a arma, recebe o nome de boca de fogo. A superfície interna do cano pode ser lisa (hoje em dia, isso só se vê nas armas de caça: espingardas, escopetas), ou raiada, apresentando cristais internas longitudinais (raias), dispostas de forma helicoidal, ora girando para direita (dextrógiras), ora para a esquerda (sinistrógiras), que imprimem ao projéctil, quando do percurso ao longo do cano, um movimento básico de retoção sobre o seu eixo, que serve para manter a trajectória, a direcção e outorgar-lhe maior força de penetração.

Page 26: Noções de Traumatologia

•Classificação das armas de fogo• A classificação das armas de fogos pode ser feita de

acordo com o seu uso (de caça, de exporte, de defesa), com o comprimento do cano (curtas e longas), segundo o acabamento interior do cano (lisas e raiadas), seu calibre (0,22,0,38,6,35,7,65,12,16,36 etc.), seu funcionamento (de repetição, automáticas, semi-automáticas) e velocidade de projéctil (de baixa velocidade, de alta velocidade). Em criminalística, também são classificadas em armas de mão (revólver, pistola etc.) e armas de ombro (fuzil, carabina etc.).

• calibre• O calibre para as armas de caça ou armas de alma

lisa é determinado pelo número de esferas de chumbo (balins), de diâmetro igual ao cano,

Page 27: Noções de Traumatologia

que perfazem uma libra de massa ( = 454g) (e.g. calibre 12 significa que 12 esferas de chumbo do diâmetro do cano pesam 1 libra). O calibre para as armas raiadas é dado pela medida do diâmetro do cano no fundo de duas raias opostas da alma. O calibre pode ser expresso em milímetros ( Bélgica: 9mm, 7,65mm), em milésimos de polegadas (Inglaterra: 0,303,0,380) ou em centésimos de polegadas (EUA: 0,45,0,38).

• Munição • Um cartucho é composto por diferentes partes: a

cápsula ou estojo, a espoleta ou escorva , a carga (pólvora), as buchas e o (s) projéctil (eis).

• cápsula ou estojo, apresenta uma extremidade fechada – a base ou culote – e uma extremidade aberta, onde se encontra (m) o (s) projéctil (eis).

Page 28: Noções de Traumatologia

A base ou culote pode apresentar um diâmetro algo maior que o estojo – a orla saliente (ressalto ou talão) – ou simplesmente ser desprovida de orla, mas apresentando um gargalho estrangulado. O culote impede que a cápsula entra em profundidade na câmara e, ao mesmo tempo, serve para o cartucho ser empolgado pela garra do extractor nas armas de repetição sem tambor. A forma da cápsula pode ser cilíndrica, tronco-cônica ou semelhante a uma garrafa, podendo ser totalmente metálica ou com um culote de latão, e o corpo do estojo, de papelão ou plástico.

• A espoleta ou escorva pode ser anular ou central, conforme o local em que o percutor deve golpeá-la. A sua finalidade é incendiar a pólvora que constitui a carga do cartucho. Esta, ao queimar, desprende um grande volume de gases ( = 2.000ml/g), que, ao saírem pelo cano, forçam a expulsão do projéctil. As buchas, presentes principalmente nos cartuchos de projécteis múltiplos próprios das armas de caça ou de alma lisa, apenas servem para conter a pólvora

na cápsula (estojo), separando-a dos ballins de chumbo.

Page 29: Noções de Traumatologia

• Os projécteis podem ser únicos ou múltiplos (bagos de chumbo, nas armas de caça). Os primeiros, por sua vez, podem ser nus ou jaquetados (encamisados), quando o núcleo de chumbo antimónio é revestido por uma delgada camada de latão, que facilita o deslocamento dentro do cano aquecido. Esta jaqueta (camisa) de latão pode ser completa, isto é, cobrir integralmente o núcleo, ou incompleta, isto é, deixando exposta a extremidade do núcleo.

• Por razões de ordem física (aerodinâmica), os projécteis tendem ser ogivais na extremidade que se constitui na frente de avanço. Todavia, de modo a aumentar o seu poder vulnerante, os projécteis podem apresentar modificações que facilitam sua deformação, multiplicando o seu poder devastador quando impactam contra o alvo (e.g. o corpo da vítima). Essas modificações visam aumentar o diâmetro da extremidade anterior do projéctil:

Page 30: Noções de Traumatologia

• Quer utilizando uma aleação mais maleável ou menos dura que o resto do núcleo (projécteis soft nose),

• Quer com modificações estruturais que facilitam a sua ruptura/expansão (projécteis ponta-oca, hollow point ou dum-dum).

• Mecanismos de disparo• O mecanismo de disparo de um projéctil segue,

basicamente as quatro etapas esquematizadas na fig. 7.5:

• Lesões pérfuro-contusas. Tanto do ponto de vista forense quanto do ângulo criminalístico, os disparos podem ser efectuados a distâncias, variando entre a boca do fogo do cano da arma e a vítima.

1. Disparos (tiros) apoiados ou encostados, a distância zero;

Page 31: Noções de Traumatologia

2. Disparos (tiros) próximos, a curta distância ou a queima roupa; e,

3. Disparos (tiros) a distância.• Projécteis de baixa energia. Com velocidade de

100 m/s até 500 m/s na saída do cano.• Ferimentos de entrada do projéctil. É variável

segundo a distância do disparo e conforme o projéctil seja único ou múltiplo. Existe elemento que são comuns em todo tipo de tiro, independendo da distância entre a arma e a vítima: são os denominados efeitos primários do tiro.

• Designa-se como efeitos primários do tiro as acções mecânicas do projéctil sobre o alvo e que, em regra, são próprias do orifício de entrada. É mister lembrar que esse efeitos independem da distância do disparo, ou seja, da distância entre a boca do fogo do cano da arma e o ponto de impacto sobre o alvo (corpo da vítima). Os efeitos primários do tiro compreendem:

Page 32: Noções de Traumatologia

a) O ferimento pérfuro-contuso ou lácero-contuso, e

b) As orlas, a saber:

1. Orla de enxugo ou orla de alimpadura:

É produzida pela limpeza dos resíduos existentes no cano da arma (pólvora, ferrugem, partículas etc.) que o projéctil transporta e que deixa ao atravessar a pele ou as vestes, ficando sob forma de uma auréola escura em volta do orifício de entrada.

2. Orla de escoriação:

corresponde a uma delicada área, localizada em torno do ferimento pérfuro-contuso de entrada, em que a epiderme é arrancada pelo atrito do projéctil, quando penetra, deixando exposto o córion: vermelha e brilhante, quanto recente; mate e escura, após algumas horas.

Page 33: Noções de Traumatologia

3. Orla equimótica ou orla de contusão: É produzida pelo projéctil quando impacta sobre o

corpo, quando se comporta apenas como um instrumento contundente (inclusive ao longo do túnel de trajecto). Evidencia-se como uma equimose cuja extensão e intensidade estarão em relação não apenas com o impacto do projéctil, mas também com a textura dos tecidos da região: mais ampla, quando os tecidos são mais laxos; mais estreitas e menos evidente, quando mais firme ou consistentes.

• O conjunto desta três orla é denominada pelos autores saxões como anel de fisch.anel de fisch.

• Já nos tiros a curta distância ou disparos a queima roupa – isto é aqueles desferidos contra o alvo situado dentro dos limites da região espacial varrida pelos gases e pelos resíduos da combustão do explosivo propelente expelidos pelo cano da arma - ,