Nocturna- Uma Cena
-
Upload
janaina-oliveira -
Category
Documents
-
view
216 -
download
0
description
Transcript of Nocturna- Uma Cena
Eu caminho na rua, sinto o sopro do vento,
Tem algo diferente no ar...
Acelero o passo, dentro da noite, hora tardia,
O coração também acelera.
Ouço meus saltos contra a calçada
A música distante, blues excitante,
Em algum bar.
Sorrateira, pressinto, há uma sombra
Que me segue, que ofega,
No ritmo do meu caminhar...
O medo, companhia do instante,
Faz-me tremer, exitar,
Já não sei se corro ou paro
(Não posso parar)
Sigo, olhando para os lados,
Procuro algum transeunte,
Um passante que seja
(Rua austera e vazia)
Pressinto e antecipo a aproximação
É inevitável, é assustadora!
Projeto meu corpo para a fuga
Mas me vejo paralisada
A sombra no chão, Pela lua desenhadaÉ máscula, com um sobretudo trajada,
Desfaz-se de um cigarro
E o meu braço, firmemente agarra!
Trêmula, respiração sôfrega,
Um movimento débil que faço
(Não consigo escapar)
Agarrou-me o outro braço
Puxou-me e encostou-me
Á parede
Voz grave, autoritária:
- Fica quieta! Nem pense em gritar!
(Eu já tentara, mas a voz também não saía)
Mexo-me, me contorço, nada é forte
O suficiente...
Ele com o corpo me aperta ainda mais
Contra a parede, prende-me os braços
Desta forma, e cobre-me a boca
Com uma das mãos!
( Aflição, desconforto,mas tem outra sensação
Que percorre o meu corpo
E não ouso confessar!)
Eu o sinto contra minhas nádegas
Está ereto, pulsando,
Em mim friccionando... (Ah!)
Sua boca bafeja contra minha nuca,
Um hálito quente, mas comedido,
-Afaste as pernas, agora!
É quase inconsciente, obedeço,
Não consigo lutar
Com a outra mão, tendo o meu corpo
Ainda mais comprimido contra o muro,
Ele aperta, apalpa entre minhas pernas,
Sente as ligas sob a roupa
Faz-me ouvi-las estalando contra a pele.
A calcinha, ele arrancou-a,
Forçou minha face para que visse
Atirando-a na rua!
Despida, desguarnecida,
Mas estranhamente excitada
Senti de seu dedo anelar a estocada
E logo mais dois dedos, se movendo
Rapidamente, dentro de mim,
Uma lágrima deixo escapar
Recrimino-me porque gosto da sensação
Porque espero por mais
E aquilo é só Violência
- Não adianta, vadia! Você gosta!
Como qualquer puta! Tá querendo mais!
Vai implorar!
A voz é dele ou é minha Consciência?
Abrupto sobe a mão que me atacava,
Sinto afastar-se um pouco,
O suficiente para retirar do bolso,
Algo que não vejo, mas logo escuto,
É um estalido, é metal contra metal...
Um canivete se abrindo!
Meu coração é ritmo e confusão,
Pulsa de horror e loucura!
Lágrimas brotam enquanto a lâmina fria,
Passa rente à sensível região de minhas coxas!
- Não seja tola! Não faça nada!
Você não quer que essa lâmina escape...
Eu vou deixá-la respirar um pouco,
Não grite, não fale!
E destapando-me a boca, afastou a lâmina,
E virou-me num gesto rápido!
Pude ver um queixo anguloso,
Um chapéu de abas largas,
Um olhar penetrante contra a penumbra,
Ombros largos, de um homem alto,
E o mais hipnotizante riso forjado
Entre o inferno e a terra!
Eu queimava!
Ele, seguro, novamente em minha direção
Lançava-se, canivete em riste,
Do meu corpete as fitas e nós, cortava!
Libertos, meus seios, na tensão do momento
E na brisa gélida da noite,
Os mamilos arrebitavam...
Contemplou, satisfeito, num breve segundo.
Seus olhos já me comiam
Minhas entranhas se contorciam,
Minha respiração era um fastio
Eu era um lago, um rio,
Era uma mulher molhada!
No desejo de ser possuída,
Naquela rua, contra o bom-senso,
Contra tudo!
Ele,entretanto, cumpria o seu papel naquela cena
Torturando-me naquele estranho ritual,
Contra o meu mamilo o aço da lâmina fria,
Mais excitada, eu me perdia...
- Abra as pernas! Já!
Hipnotizada, abrira!
Ele novamente se esfregava,
A pulsação era forte, intensa!
Desabotoou a calça, eu ouvia
Todos os sons naquele instante,
As folhas secas percorrendo a rua,
A pulsação do meu coração,
O zíper dele descendo...
Novamente, com um movimento apenas,
Virou-me de costas contra a parede,
Minhas bochechas sentindo os tijolos
Sua mão puxando o meu cabelo!
Dentro de mim o corpo inteiro implorando,
Pulsando, querendo...
Ele penetrou-me viril e abrupto, forte e animalesco,
(Exatamente como eu precisava)
Veio inteiro, foi profundo!
Meu corpo fundido ao dele
Era meu corpo se tornando noite
E o gozo vindo numa sequência de açoites
Entrando, saindo, entrando...
Escorrendo de nós, nos lambuzando!
E, ao fim de tudo,
Lancei o seu chapéu na sarjeta, ao meu lado.
Sorrimos, extasiados, cansados,
Cúmplices saciados em mais uma Cena!
.Nocturna: Uma Cena.
♠
Com carinho e boas intenções à Léia Diaz.
Espero, em verdade, que fique a contento este pequeno mimo!
Janaína Oliveira