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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE HISTOacuteRIA
ELAINE RODRIGUES
PATRIMONIO INDUSTRIAL USOS CONFLITOS E DISPUTAS EM TORNO DAS
ESTRUTURAS DO CARVAtildeO EM SIDEROacutePOLISSC
CRICIUacuteMA
2016
1
ELAINE RODRIGUES
PATRIMONIO INDUSTRIAL USOS CONFLITOS E DISPUTAS EM TORNO DAS
ESTRUTURAS DO CARVAtildeO EM SIDEROacutePOLISSC
Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado para obtenccedilatildeo do grau de licenciatura no curso de Histoacuteria da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC
Orientador (a) Prof (ordf) Mestre Michele Gonccedilalves Cardoso
CRICIUacuteMA
2016
1
ELAINE RODRIGUES
PATRIMONIO INDUSTRIAL USOS CONFLITOS E DISPUTAS EM TORNO DAS
ESTRUTURAS DO CARVAtildeO EM SIDEROacutePOLISSC
Trabalho de Conclusatildeo de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenccedilatildeo do Grau de Licenciatura no Curso de Histoacuteria da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC com Linha de Pesquisa em Patrimocircnio Cultural Cultura Material e Memoacuterias
Criciuacutema 8 de dezembro de 2016
BANCA EXAMINADORA
Prof Michele Gonccedilalves Cardoso - Mestre - (UNESC) - Orientador
Prof Marli de Oliveira Costal - Doutora - (UNESC)
Prof Daniela Pistorello - Doutora- (UDESC)
2
Aos meus pais que sempre me ensinaram a natildeo
desistir e a buscar o melhor de mim Aos meus
filhos Ruan e Murilo e ao meu companheiro
Rodrigo que mesmo impaciente entendeu e
respeitou minha ausecircncia E a toda comunidade
do Rio Fiorita sem ela essa pesquisa natildeo seria
possiacutevel
3
AGRADECIMENTOS
Eacute muito bom saber que temos com quem contar nas horas difiacuteceis e que
nunca estamos sozinhos Quando decidi ingressar na vida acadecircmica sabia que natildeo
seria faacutecil tinha certeza que encontraria vaacuterios obstaacuteculos A maior dificuldade que
encontrei fui eu mesma meu jeito estourado e ansioso sincero e sem papas na
liacutengua acabou logo me afastando de muitas pessoas Como natildeo poderia ser
diferente encontrei pessoas que me ajudaram me entenderam e acima de tudo me
respeitaram afinal ningueacutem eacute perfeito
No teacutermino dessa etapa natildeo posso deixar de agradecer a cada um que
esteve ao meu lado desde as que duvidaram da minha capacidade ateacute as que
acreditaram em mim
Comeccedilo agradecendo aos meus pais Joatildeo Rodrigues que mesmo
ausente fisicamente manteve sempre sua presenccedila espiritual comigo e minha matildee
Ana Mordf Ferraro Rodrigues ambos construiacuteram suas vidas no bairro Rio Fiorita
entatildeo esse trabalho tem um pouco dos dois com certeza Quero agradecer meu
marido Rodrigo obrigada por aturar meu estresse minhas inseguranccedilas minhas
noites na frente do computador ou dos livros obrigada por me apoiar e estar do meu
lado nas minhas escolhas Aos meus filhos que sofreram com minha ausecircncia A
toda minha famiacutelia irmatildeos Luciana Deizi Jeizon e Joatildeo Henrique Aos meus sogros
Joseacute e Maria das Dores aos meus cunhados e a minha cunhada Gerusa que
insistiu muito pra eu voltar a estudar deu certo Quero agradecer tambeacutem aos
colegas Rogeacuterio Dalssaso e Macsuel de Bona que sempre que precisei
disponibilizaram seu tempo e seus arquivos sobre Sideroacutepolis
Durante esses quatro anos conheci muitas pessoas algumas delas quero
levar pra sempre comigo Acircngela Rodrigo Carol estamos juntos desde o primeiro
semestre o primeiro trabalho a primeira briga Sei que agora cada um segue sua
vida mas jaacute aviso que natildeo vou perder vocecircs de vista acredito que nossos laccedilos vatildeo
aleacutem das paredes da UNESC obrigada amigos por tornar esses anos mais
divertidos obrigada por compartilharem comigo cada minuto cada laacutegrima cada
angustia da vida pessoal e acadecircmica cada momento de aprendizado e de loucura
que soacute o curso de histoacuteria pode proporcionar adoro vocecircs Agradeccedilo tambeacutem aos
colegas Lucas Jaqueline Lisane Juliana e Juliano que se fizeram presentes em
4
muitos momentos nesses anos
Quero agradecer a todos os mestres que dividiram comigo seus
conhecimentos e um agradecimento especial a Joatildeo Henrique Zanelatto Paulo
Sergio Osoacuterio Marli de Oliveira Costa Ismael Gonccedilalves Alves Gislene Camargo
Michele Stakonski Cechinel e Tiago da Silva Coelho que satildeo mais que mestres satildeo
amigos que levarei pra sempre no meu coraccedilatildeo
Essa pesquisa natildeo seria possiacutevel se uma pessoa natildeo tivesse acreditado
na minha capacidade Desde o comeccedilo vocecirc me apoiou e soube extrair o melhor de
mim mesmo eu achando que natildeo conseguiria Vocecirc brigou nas horas certas e
elogiou tambeacutem Obrigada minha orientadora pela paciecircncia e me desculpe pelos
incocircmodos fora de hora das consultas no whatssap vocecirc eacute a melhor Obrigada
Michele Gonccedilalves Cardoso
Simplesmente obrigada
5
ldquoAmar o perdido deixa confundido este
coraccedilatildeo
Nada pode o olvido contra o sem sentido
apelo do Natildeo
As coisas tangiacuteveis tornam-se insensiacuteveis agrave
palma da matildeo
Mas as coisas findas muito mais que lindas
essas ficaratildeordquo
Carlos Drummond de Andrade
1
RESUMO
Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local
Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo
2
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20
Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35
Figura 6 - Escola do SENAI 36
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel
deacutecada de 1960 39
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47
3
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CSN Companhia Sideruacutergica Nacional
4
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE 15
21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio
Fiorita 17
3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24
31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28
4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34
41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 50
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas
pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo
artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira
pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias
relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de
Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa
nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de
Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas
instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL
Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em
vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias
outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que
atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido
a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar
sobre essas construccedilotildees
Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos
moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da
histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a
intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando
presente ateacute os dias atuais
A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins
do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se
efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de
desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a
intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis
modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas
ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave
construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham
de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo
Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em
1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente
12
iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica
Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades
causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do
governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50
anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas
transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas
estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e
passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa
pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado
especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma
parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da
extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)
Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era
anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a
companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego
significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica
responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo
As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade
Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o
funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios
almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os
engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem
na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram
erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das
casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no
ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma
escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash
SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam
com o jardim de infacircncia
Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa
acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para
1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com
sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)
13
novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da
carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de
tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez
com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas
edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde
funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas
protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro
Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria
prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que
juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor
histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o
patrimocircnio industrial
Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa
busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo
como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados
agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo
A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais
e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a
fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e
com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do
Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As
pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos
particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da
UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios
leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa
Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de
documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno
desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade
do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1
Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em
Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural
Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3
Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN
14
No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade
carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta
regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse
contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa
atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e
econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com
o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre
o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees
deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio
Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e
produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo
enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma
breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro
O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade
de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses
espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila
sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental
e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a
comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela
posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como
associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a
doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura
Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as
relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de
urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos
como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a
loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas
caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos
15
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
16
enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
1
ELAINE RODRIGUES
PATRIMONIO INDUSTRIAL USOS CONFLITOS E DISPUTAS EM TORNO DAS
ESTRUTURAS DO CARVAtildeO EM SIDEROacutePOLISSC
Trabalho de Conclusatildeo de Curso apresentado para obtenccedilatildeo do grau de licenciatura no curso de Histoacuteria da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC
Orientador (a) Prof (ordf) Mestre Michele Gonccedilalves Cardoso
CRICIUacuteMA
2016
1
ELAINE RODRIGUES
PATRIMONIO INDUSTRIAL USOS CONFLITOS E DISPUTAS EM TORNO DAS
ESTRUTURAS DO CARVAtildeO EM SIDEROacutePOLISSC
Trabalho de Conclusatildeo de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenccedilatildeo do Grau de Licenciatura no Curso de Histoacuteria da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC com Linha de Pesquisa em Patrimocircnio Cultural Cultura Material e Memoacuterias
Criciuacutema 8 de dezembro de 2016
BANCA EXAMINADORA
Prof Michele Gonccedilalves Cardoso - Mestre - (UNESC) - Orientador
Prof Marli de Oliveira Costal - Doutora - (UNESC)
Prof Daniela Pistorello - Doutora- (UDESC)
2
Aos meus pais que sempre me ensinaram a natildeo
desistir e a buscar o melhor de mim Aos meus
filhos Ruan e Murilo e ao meu companheiro
Rodrigo que mesmo impaciente entendeu e
respeitou minha ausecircncia E a toda comunidade
do Rio Fiorita sem ela essa pesquisa natildeo seria
possiacutevel
3
AGRADECIMENTOS
Eacute muito bom saber que temos com quem contar nas horas difiacuteceis e que
nunca estamos sozinhos Quando decidi ingressar na vida acadecircmica sabia que natildeo
seria faacutecil tinha certeza que encontraria vaacuterios obstaacuteculos A maior dificuldade que
encontrei fui eu mesma meu jeito estourado e ansioso sincero e sem papas na
liacutengua acabou logo me afastando de muitas pessoas Como natildeo poderia ser
diferente encontrei pessoas que me ajudaram me entenderam e acima de tudo me
respeitaram afinal ningueacutem eacute perfeito
No teacutermino dessa etapa natildeo posso deixar de agradecer a cada um que
esteve ao meu lado desde as que duvidaram da minha capacidade ateacute as que
acreditaram em mim
Comeccedilo agradecendo aos meus pais Joatildeo Rodrigues que mesmo
ausente fisicamente manteve sempre sua presenccedila espiritual comigo e minha matildee
Ana Mordf Ferraro Rodrigues ambos construiacuteram suas vidas no bairro Rio Fiorita
entatildeo esse trabalho tem um pouco dos dois com certeza Quero agradecer meu
marido Rodrigo obrigada por aturar meu estresse minhas inseguranccedilas minhas
noites na frente do computador ou dos livros obrigada por me apoiar e estar do meu
lado nas minhas escolhas Aos meus filhos que sofreram com minha ausecircncia A
toda minha famiacutelia irmatildeos Luciana Deizi Jeizon e Joatildeo Henrique Aos meus sogros
Joseacute e Maria das Dores aos meus cunhados e a minha cunhada Gerusa que
insistiu muito pra eu voltar a estudar deu certo Quero agradecer tambeacutem aos
colegas Rogeacuterio Dalssaso e Macsuel de Bona que sempre que precisei
disponibilizaram seu tempo e seus arquivos sobre Sideroacutepolis
Durante esses quatro anos conheci muitas pessoas algumas delas quero
levar pra sempre comigo Acircngela Rodrigo Carol estamos juntos desde o primeiro
semestre o primeiro trabalho a primeira briga Sei que agora cada um segue sua
vida mas jaacute aviso que natildeo vou perder vocecircs de vista acredito que nossos laccedilos vatildeo
aleacutem das paredes da UNESC obrigada amigos por tornar esses anos mais
divertidos obrigada por compartilharem comigo cada minuto cada laacutegrima cada
angustia da vida pessoal e acadecircmica cada momento de aprendizado e de loucura
que soacute o curso de histoacuteria pode proporcionar adoro vocecircs Agradeccedilo tambeacutem aos
colegas Lucas Jaqueline Lisane Juliana e Juliano que se fizeram presentes em
4
muitos momentos nesses anos
Quero agradecer a todos os mestres que dividiram comigo seus
conhecimentos e um agradecimento especial a Joatildeo Henrique Zanelatto Paulo
Sergio Osoacuterio Marli de Oliveira Costa Ismael Gonccedilalves Alves Gislene Camargo
Michele Stakonski Cechinel e Tiago da Silva Coelho que satildeo mais que mestres satildeo
amigos que levarei pra sempre no meu coraccedilatildeo
Essa pesquisa natildeo seria possiacutevel se uma pessoa natildeo tivesse acreditado
na minha capacidade Desde o comeccedilo vocecirc me apoiou e soube extrair o melhor de
mim mesmo eu achando que natildeo conseguiria Vocecirc brigou nas horas certas e
elogiou tambeacutem Obrigada minha orientadora pela paciecircncia e me desculpe pelos
incocircmodos fora de hora das consultas no whatssap vocecirc eacute a melhor Obrigada
Michele Gonccedilalves Cardoso
Simplesmente obrigada
5
ldquoAmar o perdido deixa confundido este
coraccedilatildeo
Nada pode o olvido contra o sem sentido
apelo do Natildeo
As coisas tangiacuteveis tornam-se insensiacuteveis agrave
palma da matildeo
Mas as coisas findas muito mais que lindas
essas ficaratildeordquo
Carlos Drummond de Andrade
1
RESUMO
Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local
Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo
2
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20
Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35
Figura 6 - Escola do SENAI 36
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel
deacutecada de 1960 39
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47
3
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CSN Companhia Sideruacutergica Nacional
4
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE 15
21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio
Fiorita 17
3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24
31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28
4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34
41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 50
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas
pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo
artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira
pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias
relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de
Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa
nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de
Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas
instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL
Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em
vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias
outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que
atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido
a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar
sobre essas construccedilotildees
Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos
moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da
histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a
intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando
presente ateacute os dias atuais
A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins
do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se
efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de
desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a
intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis
modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas
ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave
construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham
de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo
Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em
1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente
12
iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica
Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades
causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do
governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50
anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas
transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas
estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e
passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa
pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado
especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma
parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da
extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)
Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era
anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a
companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego
significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica
responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo
As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade
Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o
funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios
almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os
engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem
na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram
erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das
casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no
ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma
escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash
SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam
com o jardim de infacircncia
Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa
acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para
1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com
sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)
13
novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da
carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de
tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez
com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas
edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde
funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas
protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro
Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria
prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que
juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor
histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o
patrimocircnio industrial
Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa
busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo
como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados
agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo
A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais
e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a
fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e
com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do
Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As
pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos
particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da
UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios
leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa
Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de
documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno
desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade
do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1
Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em
Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural
Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3
Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN
14
No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade
carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta
regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse
contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa
atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e
econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com
o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre
o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees
deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio
Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e
produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo
enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma
breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro
O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade
de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses
espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila
sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental
e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a
comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela
posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como
associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a
doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura
Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as
relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de
urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos
como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a
loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas
caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos
15
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
16
enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
1
ELAINE RODRIGUES
PATRIMONIO INDUSTRIAL USOS CONFLITOS E DISPUTAS EM TORNO DAS
ESTRUTURAS DO CARVAtildeO EM SIDEROacutePOLISSC
Trabalho de Conclusatildeo de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenccedilatildeo do Grau de Licenciatura no Curso de Histoacuteria da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC com Linha de Pesquisa em Patrimocircnio Cultural Cultura Material e Memoacuterias
Criciuacutema 8 de dezembro de 2016
BANCA EXAMINADORA
Prof Michele Gonccedilalves Cardoso - Mestre - (UNESC) - Orientador
Prof Marli de Oliveira Costal - Doutora - (UNESC)
Prof Daniela Pistorello - Doutora- (UDESC)
2
Aos meus pais que sempre me ensinaram a natildeo
desistir e a buscar o melhor de mim Aos meus
filhos Ruan e Murilo e ao meu companheiro
Rodrigo que mesmo impaciente entendeu e
respeitou minha ausecircncia E a toda comunidade
do Rio Fiorita sem ela essa pesquisa natildeo seria
possiacutevel
3
AGRADECIMENTOS
Eacute muito bom saber que temos com quem contar nas horas difiacuteceis e que
nunca estamos sozinhos Quando decidi ingressar na vida acadecircmica sabia que natildeo
seria faacutecil tinha certeza que encontraria vaacuterios obstaacuteculos A maior dificuldade que
encontrei fui eu mesma meu jeito estourado e ansioso sincero e sem papas na
liacutengua acabou logo me afastando de muitas pessoas Como natildeo poderia ser
diferente encontrei pessoas que me ajudaram me entenderam e acima de tudo me
respeitaram afinal ningueacutem eacute perfeito
No teacutermino dessa etapa natildeo posso deixar de agradecer a cada um que
esteve ao meu lado desde as que duvidaram da minha capacidade ateacute as que
acreditaram em mim
Comeccedilo agradecendo aos meus pais Joatildeo Rodrigues que mesmo
ausente fisicamente manteve sempre sua presenccedila espiritual comigo e minha matildee
Ana Mordf Ferraro Rodrigues ambos construiacuteram suas vidas no bairro Rio Fiorita
entatildeo esse trabalho tem um pouco dos dois com certeza Quero agradecer meu
marido Rodrigo obrigada por aturar meu estresse minhas inseguranccedilas minhas
noites na frente do computador ou dos livros obrigada por me apoiar e estar do meu
lado nas minhas escolhas Aos meus filhos que sofreram com minha ausecircncia A
toda minha famiacutelia irmatildeos Luciana Deizi Jeizon e Joatildeo Henrique Aos meus sogros
Joseacute e Maria das Dores aos meus cunhados e a minha cunhada Gerusa que
insistiu muito pra eu voltar a estudar deu certo Quero agradecer tambeacutem aos
colegas Rogeacuterio Dalssaso e Macsuel de Bona que sempre que precisei
disponibilizaram seu tempo e seus arquivos sobre Sideroacutepolis
Durante esses quatro anos conheci muitas pessoas algumas delas quero
levar pra sempre comigo Acircngela Rodrigo Carol estamos juntos desde o primeiro
semestre o primeiro trabalho a primeira briga Sei que agora cada um segue sua
vida mas jaacute aviso que natildeo vou perder vocecircs de vista acredito que nossos laccedilos vatildeo
aleacutem das paredes da UNESC obrigada amigos por tornar esses anos mais
divertidos obrigada por compartilharem comigo cada minuto cada laacutegrima cada
angustia da vida pessoal e acadecircmica cada momento de aprendizado e de loucura
que soacute o curso de histoacuteria pode proporcionar adoro vocecircs Agradeccedilo tambeacutem aos
colegas Lucas Jaqueline Lisane Juliana e Juliano que se fizeram presentes em
4
muitos momentos nesses anos
Quero agradecer a todos os mestres que dividiram comigo seus
conhecimentos e um agradecimento especial a Joatildeo Henrique Zanelatto Paulo
Sergio Osoacuterio Marli de Oliveira Costa Ismael Gonccedilalves Alves Gislene Camargo
Michele Stakonski Cechinel e Tiago da Silva Coelho que satildeo mais que mestres satildeo
amigos que levarei pra sempre no meu coraccedilatildeo
Essa pesquisa natildeo seria possiacutevel se uma pessoa natildeo tivesse acreditado
na minha capacidade Desde o comeccedilo vocecirc me apoiou e soube extrair o melhor de
mim mesmo eu achando que natildeo conseguiria Vocecirc brigou nas horas certas e
elogiou tambeacutem Obrigada minha orientadora pela paciecircncia e me desculpe pelos
incocircmodos fora de hora das consultas no whatssap vocecirc eacute a melhor Obrigada
Michele Gonccedilalves Cardoso
Simplesmente obrigada
5
ldquoAmar o perdido deixa confundido este
coraccedilatildeo
Nada pode o olvido contra o sem sentido
apelo do Natildeo
As coisas tangiacuteveis tornam-se insensiacuteveis agrave
palma da matildeo
Mas as coisas findas muito mais que lindas
essas ficaratildeordquo
Carlos Drummond de Andrade
1
RESUMO
Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local
Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo
2
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20
Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35
Figura 6 - Escola do SENAI 36
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel
deacutecada de 1960 39
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47
3
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CSN Companhia Sideruacutergica Nacional
4
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE 15
21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio
Fiorita 17
3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24
31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28
4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34
41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 50
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas
pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo
artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira
pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias
relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de
Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa
nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de
Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas
instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL
Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em
vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias
outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que
atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido
a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar
sobre essas construccedilotildees
Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos
moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da
histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a
intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando
presente ateacute os dias atuais
A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins
do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se
efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de
desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a
intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis
modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas
ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave
construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham
de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo
Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em
1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente
12
iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica
Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades
causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do
governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50
anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas
transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas
estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e
passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa
pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado
especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma
parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da
extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)
Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era
anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a
companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego
significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica
responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo
As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade
Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o
funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios
almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os
engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem
na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram
erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das
casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no
ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma
escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash
SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam
com o jardim de infacircncia
Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa
acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para
1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com
sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)
13
novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da
carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de
tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez
com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas
edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde
funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas
protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro
Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria
prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que
juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor
histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o
patrimocircnio industrial
Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa
busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo
como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados
agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo
A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais
e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a
fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e
com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do
Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As
pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos
particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da
UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios
leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa
Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de
documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno
desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade
do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1
Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em
Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural
Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3
Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN
14
No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade
carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta
regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse
contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa
atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e
econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com
o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre
o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees
deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio
Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e
produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo
enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma
breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro
O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade
de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses
espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila
sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental
e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a
comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela
posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como
associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a
doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura
Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as
relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de
urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos
como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a
loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas
caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos
15
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
16
enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
2
Aos meus pais que sempre me ensinaram a natildeo
desistir e a buscar o melhor de mim Aos meus
filhos Ruan e Murilo e ao meu companheiro
Rodrigo que mesmo impaciente entendeu e
respeitou minha ausecircncia E a toda comunidade
do Rio Fiorita sem ela essa pesquisa natildeo seria
possiacutevel
3
AGRADECIMENTOS
Eacute muito bom saber que temos com quem contar nas horas difiacuteceis e que
nunca estamos sozinhos Quando decidi ingressar na vida acadecircmica sabia que natildeo
seria faacutecil tinha certeza que encontraria vaacuterios obstaacuteculos A maior dificuldade que
encontrei fui eu mesma meu jeito estourado e ansioso sincero e sem papas na
liacutengua acabou logo me afastando de muitas pessoas Como natildeo poderia ser
diferente encontrei pessoas que me ajudaram me entenderam e acima de tudo me
respeitaram afinal ningueacutem eacute perfeito
No teacutermino dessa etapa natildeo posso deixar de agradecer a cada um que
esteve ao meu lado desde as que duvidaram da minha capacidade ateacute as que
acreditaram em mim
Comeccedilo agradecendo aos meus pais Joatildeo Rodrigues que mesmo
ausente fisicamente manteve sempre sua presenccedila espiritual comigo e minha matildee
Ana Mordf Ferraro Rodrigues ambos construiacuteram suas vidas no bairro Rio Fiorita
entatildeo esse trabalho tem um pouco dos dois com certeza Quero agradecer meu
marido Rodrigo obrigada por aturar meu estresse minhas inseguranccedilas minhas
noites na frente do computador ou dos livros obrigada por me apoiar e estar do meu
lado nas minhas escolhas Aos meus filhos que sofreram com minha ausecircncia A
toda minha famiacutelia irmatildeos Luciana Deizi Jeizon e Joatildeo Henrique Aos meus sogros
Joseacute e Maria das Dores aos meus cunhados e a minha cunhada Gerusa que
insistiu muito pra eu voltar a estudar deu certo Quero agradecer tambeacutem aos
colegas Rogeacuterio Dalssaso e Macsuel de Bona que sempre que precisei
disponibilizaram seu tempo e seus arquivos sobre Sideroacutepolis
Durante esses quatro anos conheci muitas pessoas algumas delas quero
levar pra sempre comigo Acircngela Rodrigo Carol estamos juntos desde o primeiro
semestre o primeiro trabalho a primeira briga Sei que agora cada um segue sua
vida mas jaacute aviso que natildeo vou perder vocecircs de vista acredito que nossos laccedilos vatildeo
aleacutem das paredes da UNESC obrigada amigos por tornar esses anos mais
divertidos obrigada por compartilharem comigo cada minuto cada laacutegrima cada
angustia da vida pessoal e acadecircmica cada momento de aprendizado e de loucura
que soacute o curso de histoacuteria pode proporcionar adoro vocecircs Agradeccedilo tambeacutem aos
colegas Lucas Jaqueline Lisane Juliana e Juliano que se fizeram presentes em
4
muitos momentos nesses anos
Quero agradecer a todos os mestres que dividiram comigo seus
conhecimentos e um agradecimento especial a Joatildeo Henrique Zanelatto Paulo
Sergio Osoacuterio Marli de Oliveira Costa Ismael Gonccedilalves Alves Gislene Camargo
Michele Stakonski Cechinel e Tiago da Silva Coelho que satildeo mais que mestres satildeo
amigos que levarei pra sempre no meu coraccedilatildeo
Essa pesquisa natildeo seria possiacutevel se uma pessoa natildeo tivesse acreditado
na minha capacidade Desde o comeccedilo vocecirc me apoiou e soube extrair o melhor de
mim mesmo eu achando que natildeo conseguiria Vocecirc brigou nas horas certas e
elogiou tambeacutem Obrigada minha orientadora pela paciecircncia e me desculpe pelos
incocircmodos fora de hora das consultas no whatssap vocecirc eacute a melhor Obrigada
Michele Gonccedilalves Cardoso
Simplesmente obrigada
5
ldquoAmar o perdido deixa confundido este
coraccedilatildeo
Nada pode o olvido contra o sem sentido
apelo do Natildeo
As coisas tangiacuteveis tornam-se insensiacuteveis agrave
palma da matildeo
Mas as coisas findas muito mais que lindas
essas ficaratildeordquo
Carlos Drummond de Andrade
1
RESUMO
Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local
Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo
2
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20
Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35
Figura 6 - Escola do SENAI 36
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel
deacutecada de 1960 39
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47
3
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CSN Companhia Sideruacutergica Nacional
4
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE 15
21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio
Fiorita 17
3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24
31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28
4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34
41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 50
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas
pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo
artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira
pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias
relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de
Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa
nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de
Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas
instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL
Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em
vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias
outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que
atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido
a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar
sobre essas construccedilotildees
Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos
moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da
histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a
intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando
presente ateacute os dias atuais
A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins
do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se
efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de
desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a
intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis
modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas
ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave
construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham
de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo
Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em
1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente
12
iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica
Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades
causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do
governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50
anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas
transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas
estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e
passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa
pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado
especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma
parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da
extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)
Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era
anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a
companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego
significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica
responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo
As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade
Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o
funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios
almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os
engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem
na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram
erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das
casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no
ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma
escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash
SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam
com o jardim de infacircncia
Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa
acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para
1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com
sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)
13
novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da
carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de
tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez
com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas
edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde
funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas
protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro
Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria
prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que
juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor
histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o
patrimocircnio industrial
Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa
busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo
como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados
agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo
A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais
e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a
fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e
com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do
Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As
pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos
particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da
UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios
leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa
Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de
documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno
desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade
do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1
Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em
Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural
Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3
Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN
14
No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade
carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta
regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse
contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa
atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e
econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com
o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre
o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees
deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio
Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e
produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo
enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma
breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro
O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade
de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses
espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila
sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental
e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a
comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela
posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como
associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a
doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura
Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as
relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de
urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos
como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a
loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas
caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos
15
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
16
enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
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companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
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Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
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3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
3
AGRADECIMENTOS
Eacute muito bom saber que temos com quem contar nas horas difiacuteceis e que
nunca estamos sozinhos Quando decidi ingressar na vida acadecircmica sabia que natildeo
seria faacutecil tinha certeza que encontraria vaacuterios obstaacuteculos A maior dificuldade que
encontrei fui eu mesma meu jeito estourado e ansioso sincero e sem papas na
liacutengua acabou logo me afastando de muitas pessoas Como natildeo poderia ser
diferente encontrei pessoas que me ajudaram me entenderam e acima de tudo me
respeitaram afinal ningueacutem eacute perfeito
No teacutermino dessa etapa natildeo posso deixar de agradecer a cada um que
esteve ao meu lado desde as que duvidaram da minha capacidade ateacute as que
acreditaram em mim
Comeccedilo agradecendo aos meus pais Joatildeo Rodrigues que mesmo
ausente fisicamente manteve sempre sua presenccedila espiritual comigo e minha matildee
Ana Mordf Ferraro Rodrigues ambos construiacuteram suas vidas no bairro Rio Fiorita
entatildeo esse trabalho tem um pouco dos dois com certeza Quero agradecer meu
marido Rodrigo obrigada por aturar meu estresse minhas inseguranccedilas minhas
noites na frente do computador ou dos livros obrigada por me apoiar e estar do meu
lado nas minhas escolhas Aos meus filhos que sofreram com minha ausecircncia A
toda minha famiacutelia irmatildeos Luciana Deizi Jeizon e Joatildeo Henrique Aos meus sogros
Joseacute e Maria das Dores aos meus cunhados e a minha cunhada Gerusa que
insistiu muito pra eu voltar a estudar deu certo Quero agradecer tambeacutem aos
colegas Rogeacuterio Dalssaso e Macsuel de Bona que sempre que precisei
disponibilizaram seu tempo e seus arquivos sobre Sideroacutepolis
Durante esses quatro anos conheci muitas pessoas algumas delas quero
levar pra sempre comigo Acircngela Rodrigo Carol estamos juntos desde o primeiro
semestre o primeiro trabalho a primeira briga Sei que agora cada um segue sua
vida mas jaacute aviso que natildeo vou perder vocecircs de vista acredito que nossos laccedilos vatildeo
aleacutem das paredes da UNESC obrigada amigos por tornar esses anos mais
divertidos obrigada por compartilharem comigo cada minuto cada laacutegrima cada
angustia da vida pessoal e acadecircmica cada momento de aprendizado e de loucura
que soacute o curso de histoacuteria pode proporcionar adoro vocecircs Agradeccedilo tambeacutem aos
colegas Lucas Jaqueline Lisane Juliana e Juliano que se fizeram presentes em
4
muitos momentos nesses anos
Quero agradecer a todos os mestres que dividiram comigo seus
conhecimentos e um agradecimento especial a Joatildeo Henrique Zanelatto Paulo
Sergio Osoacuterio Marli de Oliveira Costa Ismael Gonccedilalves Alves Gislene Camargo
Michele Stakonski Cechinel e Tiago da Silva Coelho que satildeo mais que mestres satildeo
amigos que levarei pra sempre no meu coraccedilatildeo
Essa pesquisa natildeo seria possiacutevel se uma pessoa natildeo tivesse acreditado
na minha capacidade Desde o comeccedilo vocecirc me apoiou e soube extrair o melhor de
mim mesmo eu achando que natildeo conseguiria Vocecirc brigou nas horas certas e
elogiou tambeacutem Obrigada minha orientadora pela paciecircncia e me desculpe pelos
incocircmodos fora de hora das consultas no whatssap vocecirc eacute a melhor Obrigada
Michele Gonccedilalves Cardoso
Simplesmente obrigada
5
ldquoAmar o perdido deixa confundido este
coraccedilatildeo
Nada pode o olvido contra o sem sentido
apelo do Natildeo
As coisas tangiacuteveis tornam-se insensiacuteveis agrave
palma da matildeo
Mas as coisas findas muito mais que lindas
essas ficaratildeordquo
Carlos Drummond de Andrade
1
RESUMO
Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local
Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo
2
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20
Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35
Figura 6 - Escola do SENAI 36
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel
deacutecada de 1960 39
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47
3
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CSN Companhia Sideruacutergica Nacional
4
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE 15
21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio
Fiorita 17
3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24
31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28
4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34
41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 50
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas
pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo
artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira
pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias
relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de
Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa
nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de
Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas
instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL
Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em
vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias
outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que
atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido
a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar
sobre essas construccedilotildees
Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos
moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da
histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a
intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando
presente ateacute os dias atuais
A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins
do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se
efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de
desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a
intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis
modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas
ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave
construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham
de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo
Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em
1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente
12
iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica
Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades
causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do
governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50
anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas
transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas
estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e
passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa
pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado
especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma
parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da
extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)
Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era
anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a
companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego
significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica
responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo
As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade
Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o
funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios
almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os
engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem
na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram
erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das
casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no
ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma
escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash
SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam
com o jardim de infacircncia
Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa
acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para
1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com
sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)
13
novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da
carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de
tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez
com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas
edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde
funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas
protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro
Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria
prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que
juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor
histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o
patrimocircnio industrial
Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa
busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo
como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados
agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo
A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais
e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a
fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e
com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do
Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As
pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos
particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da
UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios
leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa
Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de
documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno
desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade
do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1
Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em
Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural
Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3
Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN
14
No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade
carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta
regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse
contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa
atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e
econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com
o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre
o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees
deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio
Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e
produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo
enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma
breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro
O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade
de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses
espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila
sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental
e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a
comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela
posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como
associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a
doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura
Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as
relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de
urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos
como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a
loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas
caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos
15
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
16
enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
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arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
4
muitos momentos nesses anos
Quero agradecer a todos os mestres que dividiram comigo seus
conhecimentos e um agradecimento especial a Joatildeo Henrique Zanelatto Paulo
Sergio Osoacuterio Marli de Oliveira Costa Ismael Gonccedilalves Alves Gislene Camargo
Michele Stakonski Cechinel e Tiago da Silva Coelho que satildeo mais que mestres satildeo
amigos que levarei pra sempre no meu coraccedilatildeo
Essa pesquisa natildeo seria possiacutevel se uma pessoa natildeo tivesse acreditado
na minha capacidade Desde o comeccedilo vocecirc me apoiou e soube extrair o melhor de
mim mesmo eu achando que natildeo conseguiria Vocecirc brigou nas horas certas e
elogiou tambeacutem Obrigada minha orientadora pela paciecircncia e me desculpe pelos
incocircmodos fora de hora das consultas no whatssap vocecirc eacute a melhor Obrigada
Michele Gonccedilalves Cardoso
Simplesmente obrigada
5
ldquoAmar o perdido deixa confundido este
coraccedilatildeo
Nada pode o olvido contra o sem sentido
apelo do Natildeo
As coisas tangiacuteveis tornam-se insensiacuteveis agrave
palma da matildeo
Mas as coisas findas muito mais que lindas
essas ficaratildeordquo
Carlos Drummond de Andrade
1
RESUMO
Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local
Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo
2
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20
Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35
Figura 6 - Escola do SENAI 36
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel
deacutecada de 1960 39
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47
3
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CSN Companhia Sideruacutergica Nacional
4
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE 15
21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio
Fiorita 17
3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24
31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28
4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34
41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 50
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas
pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo
artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira
pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias
relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de
Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa
nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de
Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas
instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL
Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em
vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias
outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que
atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido
a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar
sobre essas construccedilotildees
Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos
moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da
histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a
intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando
presente ateacute os dias atuais
A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins
do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se
efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de
desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a
intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis
modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas
ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave
construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham
de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo
Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em
1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente
12
iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica
Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades
causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do
governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50
anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas
transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas
estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e
passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa
pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado
especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma
parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da
extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)
Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era
anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a
companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego
significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica
responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo
As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade
Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o
funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios
almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os
engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem
na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram
erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das
casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no
ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma
escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash
SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam
com o jardim de infacircncia
Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa
acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para
1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com
sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)
13
novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da
carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de
tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez
com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas
edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde
funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas
protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro
Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria
prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que
juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor
histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o
patrimocircnio industrial
Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa
busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo
como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados
agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo
A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais
e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a
fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e
com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do
Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As
pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos
particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da
UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios
leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa
Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de
documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno
desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade
do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1
Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em
Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural
Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3
Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN
14
No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade
carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta
regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse
contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa
atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e
econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com
o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre
o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees
deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio
Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e
produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo
enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma
breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro
O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade
de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses
espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila
sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental
e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a
comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela
posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como
associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a
doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura
Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as
relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de
urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos
como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a
loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas
caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos
15
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
16
enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
5
ldquoAmar o perdido deixa confundido este
coraccedilatildeo
Nada pode o olvido contra o sem sentido
apelo do Natildeo
As coisas tangiacuteveis tornam-se insensiacuteveis agrave
palma da matildeo
Mas as coisas findas muito mais que lindas
essas ficaratildeordquo
Carlos Drummond de Andrade
1
RESUMO
Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local
Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo
2
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20
Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35
Figura 6 - Escola do SENAI 36
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel
deacutecada de 1960 39
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47
3
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CSN Companhia Sideruacutergica Nacional
4
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE 15
21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio
Fiorita 17
3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24
31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28
4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34
41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 50
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas
pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo
artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira
pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias
relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de
Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa
nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de
Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas
instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL
Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em
vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias
outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que
atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido
a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar
sobre essas construccedilotildees
Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos
moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da
histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a
intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando
presente ateacute os dias atuais
A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins
do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se
efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de
desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a
intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis
modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas
ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave
construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham
de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo
Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em
1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente
12
iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica
Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades
causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do
governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50
anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas
transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas
estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e
passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa
pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado
especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma
parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da
extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)
Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era
anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a
companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego
significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica
responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo
As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade
Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o
funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios
almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os
engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem
na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram
erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das
casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no
ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma
escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash
SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam
com o jardim de infacircncia
Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa
acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para
1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com
sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)
13
novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da
carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de
tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez
com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas
edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde
funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas
protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro
Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria
prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que
juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor
histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o
patrimocircnio industrial
Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa
busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo
como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados
agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo
A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais
e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a
fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e
com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do
Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As
pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos
particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da
UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios
leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa
Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de
documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno
desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade
do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1
Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em
Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural
Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3
Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN
14
No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade
carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta
regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse
contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa
atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e
econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com
o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre
o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees
deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio
Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e
produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo
enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma
breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro
O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade
de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses
espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila
sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental
e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a
comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela
posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como
associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a
doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura
Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as
relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de
urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos
como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a
loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas
caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos
15
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
16
enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
1
RESUMO
Esta pesquisa consiste em analisar o conjunto de estruturas presentes na antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita situada na cidade de SideroacutepolisSC na perspectiva do Patrimocircnio Industrial A vila operaacuteria inicialmente colonizada por imigrantes italianos com uma economia agriacutecola sofreu vaacuterias mudanccedilas a partir da chegada da Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN no ano de 1941 Ali a sideruacutergica constroacutei todas as estruturas especiacuteficas para atender as necessidades da empresa e de seus funcionaacuteriosas e suas famiacutelias No ano de 1991 com o fechamento da CSN esse conjunto de edificaccedilotildees foi entregue agrave prefeitura municipal Ao longo desses anos alguns desses preacutedios foram e ainda satildeo palco de disputas Os conflitos em torno dos possiacuteveis usos desses espaccedilos evocam tensotildees entre diferentes personagens o sindicato os poliacuteticos e a associaccedilatildeo de moradores Estes grupos fundamentam seus argumentos evocando diferentes memoacuterias e interesses Neste sentido busco por meio da anaacutelise de fontes orais documentais fotos entre outros compreender esse conjunto de bens que ainda fazem parte da antiga vila operaacuteria de Rio Fiorita na perspectiva do patrimocircnio industrial Fundamento a minha pesquisa refletindo a carta de Nizhny Tagil que determina as especificidades do patrimocircnio Industrial Essas edificaccedilotildees do ciclo carboniacutefero permite refletir sobre algumas tensotildees presentes no campo patrimonial reafirmando sua importacircncia para comunidade local
Palavras-chave Patrimocircnio Industrial Vila Operaacuteria estruturas do carvatildeo
2
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20
Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35
Figura 6 - Escola do SENAI 36
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel
deacutecada de 1960 39
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47
3
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CSN Companhia Sideruacutergica Nacional
4
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE 15
21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio
Fiorita 17
3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24
31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28
4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34
41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 50
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas
pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo
artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira
pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias
relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de
Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa
nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de
Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas
instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL
Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em
vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias
outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que
atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido
a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar
sobre essas construccedilotildees
Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos
moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da
histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a
intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando
presente ateacute os dias atuais
A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins
do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se
efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de
desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a
intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis
modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas
ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave
construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham
de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo
Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em
1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente
12
iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica
Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades
causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do
governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50
anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas
transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas
estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e
passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa
pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado
especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma
parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da
extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)
Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era
anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a
companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego
significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica
responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo
As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade
Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o
funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios
almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os
engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem
na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram
erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das
casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no
ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma
escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash
SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam
com o jardim de infacircncia
Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa
acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para
1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com
sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)
13
novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da
carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de
tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez
com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas
edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde
funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas
protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro
Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria
prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que
juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor
histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o
patrimocircnio industrial
Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa
busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo
como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados
agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo
A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais
e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a
fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e
com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do
Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As
pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos
particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da
UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios
leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa
Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de
documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno
desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade
do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1
Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em
Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural
Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3
Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN
14
No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade
carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta
regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse
contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa
atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e
econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com
o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre
o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees
deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio
Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e
produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo
enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma
breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro
O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade
de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses
espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila
sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental
e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a
comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela
posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como
associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a
doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura
Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as
relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de
urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos
como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a
loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas
caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos
15
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
16
enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
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Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
2
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Figura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis 1943 20
Figura 2 - Maacutequina Marion SD 22
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980 22
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 32
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955 35
Figura 6 - Escola do SENAI 36
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel
deacutecada de 1960 39
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo 39
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015 40
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960 42
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016 47
3
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CSN Companhia Sideruacutergica Nacional
4
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE 15
21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio
Fiorita 17
3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24
31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28
4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34
41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 50
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas
pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo
artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira
pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias
relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de
Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa
nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de
Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas
instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL
Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em
vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias
outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que
atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido
a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar
sobre essas construccedilotildees
Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos
moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da
histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a
intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando
presente ateacute os dias atuais
A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins
do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se
efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de
desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a
intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis
modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas
ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave
construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham
de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo
Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em
1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente
12
iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica
Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades
causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do
governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50
anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas
transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas
estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e
passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa
pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado
especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma
parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da
extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)
Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era
anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a
companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego
significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica
responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo
As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade
Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o
funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios
almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os
engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem
na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram
erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das
casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no
ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma
escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash
SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam
com o jardim de infacircncia
Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa
acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para
1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com
sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)
13
novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da
carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de
tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez
com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas
edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde
funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas
protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro
Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria
prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que
juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor
histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o
patrimocircnio industrial
Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa
busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo
como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados
agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo
A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais
e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a
fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e
com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do
Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As
pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos
particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da
UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios
leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa
Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de
documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno
desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade
do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1
Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em
Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural
Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3
Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN
14
No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade
carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta
regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse
contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa
atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e
econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com
o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre
o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees
deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio
Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e
produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo
enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma
breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro
O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade
de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses
espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila
sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental
e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a
comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela
posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como
associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a
doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura
Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as
relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de
urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos
como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a
loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas
caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos
15
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
16
enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
3
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CSN Companhia Sideruacutergica Nacional
4
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE 15
21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio
Fiorita 17
3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24
31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28
4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34
41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 50
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas
pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo
artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira
pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias
relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de
Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa
nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de
Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas
instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL
Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em
vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias
outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que
atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido
a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar
sobre essas construccedilotildees
Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos
moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da
histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a
intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando
presente ateacute os dias atuais
A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins
do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se
efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de
desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a
intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis
modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas
ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave
construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham
de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo
Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em
1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente
12
iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica
Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades
causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do
governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50
anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas
transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas
estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e
passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa
pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado
especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma
parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da
extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)
Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era
anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a
companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego
significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica
responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo
As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade
Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o
funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios
almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os
engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem
na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram
erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das
casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no
ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma
escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash
SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam
com o jardim de infacircncia
Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa
acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para
1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com
sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)
13
novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da
carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de
tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez
com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas
edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde
funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas
protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro
Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria
prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que
juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor
histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o
patrimocircnio industrial
Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa
busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo
como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados
agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo
A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais
e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a
fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e
com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do
Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As
pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos
particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da
UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios
leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa
Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de
documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno
desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade
do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1
Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em
Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural
Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3
Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN
14
No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade
carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta
regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse
contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa
atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e
econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com
o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre
o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees
deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio
Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e
produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo
enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma
breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro
O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade
de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses
espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila
sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental
e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a
comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela
posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como
associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a
doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura
Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as
relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de
urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos
como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a
loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas
caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos
15
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
16
enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
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52
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53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
4
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 11
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE 15
21 A Carboniacutefera Sideruacutergica Nacional ndash CSN e a Formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio
Fiorita 17
3 As estruturas do carvatildeo numa perspectiva patrimonial 24
31 Refletindo sobre o Patrimocircnio Industrial 28
4 O conjunto de edificaccedilotildees presentes na Vila operaacuteria de Rio fiorita 34
41 Memoacuterias e disputas Escritoacuterio da CSN e Recreio do Trabalhador 37
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 48
REFEREcircNCIAS 50
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita 55
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas
pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo
artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira
pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias
relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de
Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa
nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de
Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas
instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL
Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em
vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias
outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que
atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido
a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar
sobre essas construccedilotildees
Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos
moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da
histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a
intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando
presente ateacute os dias atuais
A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins
do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se
efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de
desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a
intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis
modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas
ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave
construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham
de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo
Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em
1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente
12
iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica
Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades
causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do
governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50
anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas
transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas
estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e
passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa
pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado
especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma
parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da
extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)
Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era
anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a
companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego
significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica
responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo
As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade
Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o
funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios
almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os
engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem
na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram
erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das
casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no
ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma
escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash
SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam
com o jardim de infacircncia
Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa
acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para
1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com
sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)
13
novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da
carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de
tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez
com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas
edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde
funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas
protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro
Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria
prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que
juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor
histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o
patrimocircnio industrial
Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa
busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo
como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados
agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo
A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais
e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a
fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e
com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do
Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As
pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos
particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da
UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios
leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa
Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de
documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno
desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade
do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1
Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em
Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural
Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3
Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN
14
No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade
carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta
regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse
contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa
atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e
econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com
o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre
o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees
deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio
Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e
produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo
enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma
breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro
O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade
de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses
espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila
sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental
e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a
comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela
posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como
associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a
doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura
Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as
relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de
urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos
como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a
loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas
caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos
15
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
16
enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
11
1 INTRODUCcedilAtildeO
Este Trabalho de Conclusatildeo de Curso ndash TCC eacute a junccedilatildeo de duas
pesquisas realizadas por meio do Programa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica fomentado pelo
artigo 170 na Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC A primeira
pesquisa realizada em 2015 tinha como objetivo o registro de memoacuterias
relacionadas ao clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo na cidade de Sideroacutepolis sul de
Santa Catarina A outra pesquisa ainda em andamento busca por meio da pesquisa
nos registros escolares das escolas do Centro de Memoacuteria da Educaccedilatildeo do Sul de
Santa Catarina - CEMESSC perceber o impacto das atividades carboniacuteferas nas
instituiccedilotildees escolares da regiatildeo AMESC e AMUREL
Poreacutem essas pesquisas possibilitaram vaacuterios desdobramentos tendo em
vista que o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo eacute apenas uma estrutura dentre vaacuterias
outras construiacutedas pela Companhia Sideruacutergica Nacional - CSN no periacuteodo em que
atuou na exploraccedilatildeo do carvatildeo mineral no municiacutepio de Sideroacutepolis Nesse sentido
a presente pesquisa eacute resultado dessas reflexotildees e tem por objetivo ampliar o olhar
sobre essas construccedilotildees
Essas estruturas evocam diversas memoacuterias e conflitos na vida dos
moradores da vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita Memoacuterias que fazem parte da
histoacuteria do carvatildeo natildeo apenas do municiacutepio mas do sul do estado tendo em vista a
intensidade das atividades carboniacuteferas durante muitos anos na regiatildeo estando
presente ateacute os dias atuais
A descoberta do carvatildeo na regiatildeo sul de Santa Catarina ocorreu em fins
do seacuteculo XIX poreacutem segundo Carlos Renato Carola a exploraccedilatildeo industrial se
efetivou somente a partir da deacutecada de 1910 (2002p15) Os modelos de
desenvolvimento adotados a partir de 1930 em todo paiacutes corroboraram com a
intensificaccedilatildeo da extraccedilatildeo carboniacutefera As transformaccedilotildees foram inevitaacuteveis
modificando toda a paisagem dos locais onde era minerado o carvatildeo As mudanccedilas
ocorreram na economia e na urbanizaccedilatildeo local tornando-se necessaacuteria agrave
construccedilatildeo de vilas operaacuterias para abrigar e controlar os trabalhadores que vinham
de vaacuterios lugares para trabalhar nas minas de carvatildeo
Na cidade de Sideroacutepolis existem registros da exploraccedilatildeo do carvatildeo em
1914 contudo foi a partir da chegada da CSN na deacutecada de 1941 que efetivamente
12
iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica
Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades
causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do
governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50
anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas
transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas
estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e
passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa
pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado
especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma
parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da
extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)
Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era
anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a
companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego
significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica
responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo
As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade
Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o
funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios
almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os
engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem
na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram
erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das
casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no
ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma
escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash
SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam
com o jardim de infacircncia
Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa
acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para
1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com
sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)
13
novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da
carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de
tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez
com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas
edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde
funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas
protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro
Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria
prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que
juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor
histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o
patrimocircnio industrial
Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa
busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo
como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados
agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo
A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais
e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a
fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e
com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do
Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As
pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos
particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da
UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios
leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa
Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de
documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno
desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade
do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1
Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em
Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural
Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3
Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN
14
No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade
carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta
regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse
contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa
atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e
econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com
o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre
o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees
deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio
Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e
produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo
enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma
breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro
O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade
de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses
espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila
sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental
e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a
comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela
posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como
associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a
doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura
Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as
relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de
urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos
como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a
loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas
caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos
15
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
16
enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
12
iniciou o processo industrial de extraccedilatildeo do mineacuterio A Companhia Sideruacutergica
Nacional atuou no municiacutepio ateacute o ano de 1991 quando encerrou as atividades
causada pela queda no mercado de extraccedilatildeo de carvatildeo e a falta de incentivo do
governo federal sendo privatizada no ano de 1993 Durante aproximadamente os 50
anos em que a empresa sideruacutergica da CSN atuou no municiacutepio muitas
transformaccedilotildees ocorreram na cidade seja no acircmbito econocircmico seja nas suas
estruturas fiacutesicas O municiacutepio deixou de ser apenas uma colocircnia de agricultores e
passou a figurar em niacutevel nacional Isso porque a CSN era uma empresa
pertencente ao Governo Federal e que teve seu potencial sideruacutergico ligado
especificamente com a Segunda Guerra Mundial onde o Brasil manteve uma
parceria comercial com os Estados Unidos favorecendo o crescimento do volume da
extraccedilatildeo do carvatildeo (BASTOS 1959 apud GOULART 2011 p220)
Quando se tornou municiacutepio em 19121958 Nova Belluno como era
anteriormente nomeada passou a denominar-se Sideroacutepolis uma referecircncia a
companhia sideruacutergica que atuava haacute alguns anos no municiacutepio ldquoSiderrdquo em grego
significa ferro e poacutelis cidade ldquocidade do ferrordquo em homenagem agrave sideruacutergica
responsaacutevel pelo ldquoprogressordquo estabelecido com a mineraccedilatildeo
As transformaccedilotildees ficaram mais evidentes na urbanizaccedilatildeo da cidade
Para atender a demanda da sideruacutergica foram construiacutedos espaccedilos para o
funcionamento da empresa como o preacutedio do escritoacuterio oficinas laboratoacuterios
almoxarifados entre outros Tambeacutem foram construiacutedas as casas para abrigar os
engenheiros e outros profissionais que vinham do Rio de Janeiro para trabalharem
na estatal Para os operaacuterios e operaacuterias vindos de outros lugares do estado foram
erguidas casas inicialmente as do Tipo 11 como eram chamadas seguidas das
casas geminadas A empresa ainda oferecia accedilougue e serviccedilos meacutedicos no
ambulatoacuterio Para suprir a falta de matildeo de obra especializada construiacuteram uma
escola onde foram oferecidos pelo Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial ndash
SENAI cursos de capacitaccedilatildeo para os filhos dos operaacuterios e as crianccedilas contavam
com o jardim de infacircncia
Com o fechamento da CSN todas as edificaccedilotildees pertencentes a empresa
acabaram entregues agrave prefeitura municipal Alguns pavilhotildees foram doados para
1 Primeiras casas de madeira construiacutedas pela CSN eram casas de pinho com 3 a 4 peccedilas com
sanitaacuterio no quintal (COSTA 2011 p102)
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novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da
carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de
tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez
com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas
edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde
funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas
protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro
Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria
prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que
juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor
histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o
patrimocircnio industrial
Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa
busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo
como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados
agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo
A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais
e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a
fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e
com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do
Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As
pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos
particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da
UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios
leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa
Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de
documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno
desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade
do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1
Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em
Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural
Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3
Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN
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No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade
carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta
regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse
contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa
atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e
econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com
o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre
o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees
deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio
Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e
produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo
enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma
breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro
O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade
de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses
espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila
sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental
e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a
comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela
posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como
associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a
doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura
Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as
relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de
urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos
como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a
loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas
caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos
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2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
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enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
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Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
13
novas empresas na intenccedilatildeo de gerarem novos empregos pois com a saiacuteda da
carboniacutefera deixou muitos trabalhadores desempregados Outros preacutedios apesar de
tombados por lei municipal estatildeo abandonados A falta de manutenccedilatildeo e de uso fez
com que algumas estruturas ruiacutessem Ao longo desses anos algumas dessas
edificaccedilotildees como o preacutedio do clube Recreio do Trabalhador e o preacutedio onde
funcionava o Escritoacuterio da CSN foram e ainda satildeo palco de tensotildees e disputas
protagonizadas por diversas entidades como a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro
Rio Fiorita Sociedade Amigos de Sideroacutepolis Sindicato dos Mineiros e a proacutepria
prefeitura Essas edificaccedilotildees fazem parte de um conjunto arquitetocircnico que
juntamente com as casas dos antigos trabalhadores da CSN evidenciam o valor
histoacuterico a eles agregados e remetem a uma nova categoria de patrimocircnio o
patrimocircnio industrial
Pautada nesses elementos que acabamos de destacar essa pesquisa
busca analisar essas estruturas a partir do conceito de patrimocircnio industrial tendo
como base a carta de Nizhny Tagil que faz referecircncia aos patrimocircnios relacionados
agrave memoacuteria do trabalho e aos meios de produccedilatildeo
A metodologia utilizada foi agrave histoacuteria oral e anaacutelise de fontes documentais
e iconograacuteficas Aleacutem do aporte teoacuterico que se faz indispensaacutevel para a
fundamentaccedilatildeo da pesquisa Foram realizadas trecircs entrevistas com moradores e
com o prefeito responsaacutevel pelo tombamento do preacutedio do escritoacuterio e do Recreio do
Trabalhador todas elas gravadas em aacuteudio e transcritas posteriormente As
pesquisas em documentos foram realizadas em arquivos digitais acervos
particulares arquivos da prefeitura e no Centro de Memoacuteria e Documentaccedilatildeo da
UNESC - CEDOC Foi encontrado um volume consideraacutevel de fotos atas ofiacutecios
leis que contribuiacuteram para o resultado final da pesquisa
Assim atraveacutes das memoacuterias dos entrevistados e da anaacutelise de
documentos ao longo da pesquisa surgiram diversos conflitos gerados em torno
desses patrimocircnios da CSN pois ainda se fazem presente na vida da comunidade
do Rio Fiorita Neste sentido o presente trabalho ficou divido em trecircs capiacutetulos 1
Exploraccedilatildeo carboniacutefera em no sul Santa Catarina e a chegada da CSN em
Sideroacutepolis e formaccedilatildeo da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita 2 Patrimocircnio Cultural
Patrimocircnio Industrial e Estruturas da CSN presentes na cidade de Sideroacutepolis 3
Usos e Conflitos dos Patrimocircnios da CSN
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No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade
carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta
regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse
contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa
atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e
econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com
o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre
o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees
deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio
Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e
produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo
enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma
breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro
O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade
de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses
espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila
sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental
e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a
comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela
posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como
associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a
doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura
Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as
relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de
urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos
como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a
loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas
caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos
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2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
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enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
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Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
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foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
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companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
14
No primeiro capiacutetulo fez-se necessaacuterio contextualizar a atividade
carboniacutefera na regiatildeo sul do estado de Santa Catarina tendo em vista que esta
regiatildeo ainda hoje eacute reconhecida pela extraccedilatildeo e comercializaccedilatildeo do mineacuterio Nesse
contexto apontar a chegada da CSN como fator principal no desenvolvimento dessa
atividade no municiacutepio de Sideroacutepolis enfatizando o crescimento urbano e
econocircmico que se deu apoacutes a instalaccedilatildeo da empresa e as implicaccedilotildees geradas com
o encerramento das atividades O segundo capiacutetulo inicia com uma discussatildeo sobre
o conceito de patrimocircnio e suas categorias evidenciando o conjunto de edificaccedilotildees
deixadas pela CSN e que ainda estatildeo presentes na antiga vila operaacuteria do Bairro Rio
Fiorita como patrimocircnio Industrial pois remetem ao processo de extraccedilatildeo e
produccedilatildeo da induacutestria carboniacutefera e evocam memoacuterias diversas que estatildeo
enraizadas no cotidiano da vila operaacuteria Ainda no segundo capiacutetulo faremos uma
breve apresentaccedilatildeo de cada estrutura presente no bairro
O uacuteltimo capiacutetulo aponta os usos originais dos preacutedios e qual a utilidade
de cada um nos dias de hoje aleacutem de perceber a apropriaccedilatildeo ou natildeo desses
espaccedilos por parte dos moradores Segundo Michel Pollak a memoacuteria reforccedila
sentimentos de pertencimento (1989 p9) Assim por meio da pesquisa documental
e da histoacuteria oral procuramos compreender quais as referecircncias desses bens para a
comunidade Que memoacuterias evocam Aleacutem de problematizar as disputas pela
posse desses bens destacando os conflitos entre diversas entidades como
associaccedilatildeo de moradores e sindicato dos mineiros ambas as entidades solicitam a
doaccedilatildeo dos bens que hoje pertencem agrave prefeitura
Neste sentido o resultado dessa pesquisa buscou compreender as
relaccedilotildees entre esses patrimocircnios e comunidade partindo do processo de
urbanizaccedilatildeo da cidade a partir do ciclo carboniacutefero e a valorizaccedilatildeo desses espaccedilos
como parte importante na formaccedilatildeo da histoacuteria e cultura local Num tempo onde a
loacutegica do descarte estaacute em alta nossas cidades acabam perdendo muito de suas
caracteriacutesticas originais e seus referencias histoacutericos
15
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
16
enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
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arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
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53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
15
2 O DESENVOLVIMENTO DA INDUacuteSTRIA CARBONIacuteFERA NO SUL
CATARINENSE
A regiatildeo sul de Santa Catarina teve seu desenvolvimento econocircmico
urbano social e cultural marcado pela exploraccedilatildeo carboniacutefera A atividade teve iniacutecio
no seacuteculo XX poreacutem a descoberta do carvatildeo na regiatildeo data do seacuteculo XIX quando
ainda havia especulaccedilotildees sobre a qualidade do carvatildeo produzido nas jazidas
catarinenses A descoberta do mineacuterio trouxe uma seacuterie de mudanccedilas para a regiatildeo
sul principalmente Criciuacutema e cidades vizinhas como eacute o caso de Sideroacutepolis
Para atender as demandas desse novo empreendimento econocircmico as
cidades onde havia exploraccedilatildeo do carvatildeo foram adaptando-se a nova realidade Aos
poucos a economia foi sendo substituiacuteda da agricultura pelas minas de carvatildeo
(CAROLA 2002 p15)
Segundo o historiador Carlos Renato Carola (2002 p16) durante o seu
surgimento e crescimento a induacutestria carboniacutefera passou por vaacuterias fases A
primeira entre 1880 a 1930 foi marcada pelo surgimento das carboniacuteferas e da
construccedilatildeo da Estrada de Ferro ldquoDona Tereza Cristinardquo malha ferroviaacuteria arquitetada
para o transporte do carvatildeo produzido nas minas da regiatildeo ateacute os portos de Laguna
e Imbituba Nesta fase a primeira Grande Guerra eacute apontada como fator que
impulsionou a extraccedilatildeo do carvatildeo
Jaacute a segunda e terceira fases estabelecidas pelo historiador entre 1931 e
1973 destaca a elaboraccedilatildeo de leis protecionistas aprovadas por Getuacutelio Vargas
como responsaacuteveis pelo aumento na venda do produto Essas leis aleacutem de financiar
incentivavam a exploraccedilatildeo do carvatildeo nacional Carola (2002) ainda aponta o
contexto da segunda guerra mundial como favoraacutevel para essas poliacuteticas de
incentivo Foi nessa fase que as empresas carboniacuteferas tiveram um aumento
significativo na produccedilatildeo e venda de carvatildeo Segundo o autor ldquocom a garantia de
venda do carvatildeo a regiatildeo de Criciuacutema transformou-se num verdadeiro ldquoqueijo
suiacuteccedilordquo pois em todo lugar se abriu uma boca de minardquo (CAROLA 2002p18)
Alguns destaques dessa fase foram agrave criaccedilatildeo da Companhia Sideruacutergica
Nacional - CSN na deacutecada de 1940 e da Comissatildeo Executiva do Plano do Carvatildeo
Nacional - CEPCAN em 1953 criada juntamente com o ldquoPlano do Carvatildeo Nacionalrdquo
A CSN teve um papel significativo na exploraccedilatildeo do mineacuterio natildeo apenas no estado
16
enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
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Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
16
enquanto a CEPCAN era responsaacutevel pelas obras previstas no Plano do Carvatildeo
desde a elaboraccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo Nesse periacuteodo que vai ateacute 1973 se inicia o
processo de concentraccedilatildeo das companhias carboniacuteferas existiam nove empresas
em atividade na regiatildeo divididas em dois grupos um grupo formado por companhias
privadas e o outro grupo formado por companhias pertencentes ao governo federal
(2002 p21)
As duas uacuteltimas fases que vatildeo de 1973 com a ldquocrise mundial do petroacuteleordquo
e o golpe militar em curso perduram com aumento significativo na produccedilatildeo ateacute
meados 1985 ano em que a produccedilatildeo atinge seu auge ldquoNeste ano havia cerca de
15 mil trabalhadores nas minas e a produccedilatildeo de carvatildeo bruto atingiu mais de 19
milhotildees de toneladas maior iacutendice da histoacuteriardquo (CAROLA 2002 p23) No mesmo
ano iniciaram os processos de reduccedilatildeo dos subsiacutedios ao carvatildeo nacional o que
levou uma concorrecircncia com o mercado externo ocasionando uma queda
significante nas vendas do produto agravadas pelos problemas ambientais
Durante anos entre altos e baixos a atividade carboniacutefera esteve sempre
presente na economia das cidades da regiatildeo sul catarinense As empresas
investiram alto em infraestrutura garantindo que todo o investimento tivesse um
retorno A maioria dessas empresas pertencia a empresaacuterios vindos de outros
estados ou se constituiacuteam em sociedades mistas formadas por empresaacuterios locais e
de fora do estado
Aliada a esse crescimento a oferta de trabalho atraia homens e mulheres
de outros lugares Famiacutelias inteiras chegavam em caminhotildees de mudanccedilas em
busca uma vida melhor oferecida pela extraccedilatildeo do ldquoouro negrordquo Isso fez com que
as empresas investissem em moradias espaccedilos que atendessem as necessidades
dos operaacuteriosas das minas de carvatildeo
ldquoAs casas de madeira construiacutedas pelas mineradoras foram pouco a
pouco substituindo as casas de pau-a-pique2 formando as Vilas
Operaacuteriasrdquo(BERNARDOCOSTA OSTETTO 2002p105) Esse modelo adotado
era ldquoo modelo capitalista vivenciado na Europa Que mostra como tudo na vila
operaacuteria pertencia agrave Companhia Mineradorardquo (BERNARDO COSTA OSTETTO
2002p105)
2 Essas casas eram comuns nas localidades ocupadas pela mineraccedilatildeo construiacutedas por particulares e
alugadas posteriormente
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
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ANEXO(S)
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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
17
Aleacutem das casas as vilas contavam com accedilougue ambulatoacuterios
armazeacutens escolas a sede administrativa da empresa e posteriormente foram
construiacutedos os espaccedilos de lazer ndash como os campos de futebol e as sedes
recreativas Cada uma dessas construccedilotildees cumpria um papel fundamental para o
funcionamento das atividades carboniacuteferas seja para extraccedilatildeo ou escoamento seja
para controle e disciplinarizaccedilatildeo dosas trabalhadoresas das minas
21 A CARBONIacuteFERA SIDERUacuteRGICA NACIONAL ndash CSN E A FORMACcedilAtildeO DA VILA
OPERAacuteRIA DE RIO FIORITA
Sideroacutepolis municiacutepio vizinho de Criciuacutema tambeacutem fez parte do
desenvolvimento advindo da exploraccedilatildeo do carvatildeo A cidade foi criada a partir dos
nuacutecleos da Colocircnia de Nova Veneza em 1891 periacuteodo em que a Regiatildeo Sul recebia
um grande nuacutemero de imigrantes italianos Belluno pertencia agrave comarca de
Urussanga sendo intitulada como Distrito de Nova Belluno em 23 de agosto de
1913(LEI Nordm601913) Sua economia era baseada na agricultura sendo substituiacuteda
como o passar dos anos pela extraccedilatildeo do carvatildeo mineral que modificou a pequena
colocircnia Muitos agricultores eram obrigados a vender suas terras para dar lugar ao
novo empreendimento econocircmico
A exploraccedilatildeo carboniacutefera na cidade de Sideroacutepolis data de 1914 como
aponta uma carta de Polydoro Santiago de 21 de agosto de 1914 onde o agrocircnomo
demonstra interesse sobre a utilizaccedilatildeo do carvatildeo para forjas domiciliares feitas pelo
ferreiro Pedro Genovez nos territoacuterios de Belluno e Cresciuma (BELLOLI
QUADROS GUIDI 2002p33) Poreacutem as transformaccedilotildees econocircmicas e urbanas na
cidade se deram com a implantaccedilatildeo das minas na regiatildeo e a chegada da
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN
Tanto as localidades de Capivari como de Nova Belluno eram pouco povoadas ateacute a deacutecada de 1940 Com a construccedilatildeo da usina de beneficiamento e a unidade de mineraccedilatildeo da CSN comeccedilaram a chegar pessoas nas vilas em busca de emprego ou com intenccedilatildeo de montar um pequeno negoacutecio (MOARES GOULARTI FILHO 2011 p 228)
Segundo Roseli Terezinha Bernardo (2002 p397) ldquoa CSN foi criada no
Rio de Janeiro com o intuito de transformar em accedilo o ferro explorado em Minas
Geraisrdquo sendo necessaacuterio utilizar o carvatildeo produzido em Santa Catarina Sideroacutepolis
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
18
foi escolhida pois atendia as necessidades da empresa naquele momento assim a
empresa se instalou no ainda distrito de Nova Belluno e ali estabeleceu todas as
estruturas necessaacuterias para atender as suas demandas e de seus engenheiros
vindos do Rio de Janeiro iniciando uma nova fase na produccedilatildeo de carvatildeo
A chegada da CSN faz com que a cidade ainda pequena sofresse
grandes transformaccedilotildees econocircmicas urbanas e sociais Segundo Carola a
carboniacutefera praticamente construiu uma nova cidade em Sideroacutepolis com uma
infraestrutura que contrastava com a origem humilde das muitas famiacutelias vindas da
agricultura ou da pesca3 ldquoAleacutem das casas havia armazeacutem accedilougue clube
recreativo escola posto de sauacutede restaurante hospedagem para ldquodoutoresrdquo
engenheiros e autoridades governamentais etcrdquo (2002 p112)
A empresa oferecia melhores salaacuterios e suas vilas operaacuterias eram
melhores equipadas em relaccedilatildeo a outras empresas Logo a CSN se tornou um
paracircmetro para os demais trabalhadores e para as reivindicaccedilotildees do sindicato Jaacute
para o meio ambiente a chegada da estatal foi devastadora4
A extraccedilatildeo de carvatildeo intensificada pela presenccedila CSN acelerou o
processo de urbanizaccedilatildeo na cidade de Sideroacutepolis
Com a chegada da CSN ndash Companhia Sideruacutergica Nacional [] por volta de 1941 surgiu a primeira mina de carvatildeo (galeria) e a montagem da primeira escavadeira Junto iniciou-se a construccedilatildeo em massa de casas operaacuterias em Rio Fiorita (SCAINI MAGAGNIN DUARTE 200 p 71)
Ao longo dos anos a cidade foi crescendo tudo girava em torno da CSN
Um exemplo da importacircncia da instalaccedilatildeo da empresa no municiacutepio foi agrave mudanccedila
do nome da cidade Foi em homenagem a Sideruacutergica que o distrito passou a
denominar-se Sideroacutepolis A Lei municipal nordm60 de 01071913 criou o distrito com a
denominaccedilatildeo de Nova Belluno subordinado ao municiacutepio de Urussanga Em
19121958 atraveacutes da lei estadual nordm 380 foi desmembrado de Urussanga
elevando-se agrave categoria de municiacutepio com a denominaccedilatildeo de Sideroacutepolis
(IBGE2016)
Os territoacuterios do jovem municiacutepio de Sideroacutepolis eram demarcados pelas
estruturas do carvatildeo e pela hierarquia das funccedilotildees desempenhadas na empresa A
3 Na cidade de Sideroacutepolis as famiacutelias viviam apenas da agricultura
4 Com a mineraccedilatildeo a ceacuteu aberto as marcas no meio ambiente ainda podem ser vistas atualmente A
extraccedilatildeo do carvatildeo comprometeu consideravelmente os lenccediloacuteis freaacuteticos da cidade
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
19
cidade era divida entre vilas onde moravam os engenheiros vindos do Rio de Janeiro
e suas famiacutelias e a vila dos operaacuterios
Um reflexo da Revoluccedilatildeo Industrial no Brasil as vilas operaacuterias foram
inicialmente construiacutedas em Satildeo Paulo ldquoNa tentativa de solucionar o problema de
habitaccedilatildeo e da matildeo de obra alguns industriais iniciavam a construccedilatildeo de vilas
operaacuterias junto agraves faacutebricasrdquo (VIEIRA 2014 p7)
Na cidade de Sideroacutepolis o bairro Rio Fiorita foi escolhido pela CSN para
abrigar a sede da empresa Assim como a cidade Rio Fiorita teve sua origem em
1891 a partir da chegada de imigrantes italianos trazidos pela Companhia
Metropolitana de Colonizaccedilatildeo Segundo Ronaldo David historiador e antigo morador
do bairro a concessatildeo para distribuiccedilatildeo de lotes no local era de Acircngelo Fiorita amp
Company por isso o nome de Rio Fiorita (DAVID 2011 P 19-20) Muitas dessas
famiacutelias acabaram vendendo suas terras para a empresa carboniacutefera Uns foram
embora da cidade enquanto outros ficaram para trabalhar na extraccedilatildeo ou nas
oficinas da estatal
As vilas operaacuterias contavam com uma estrutura bem especiacutefica para
atender as necessidades dos trabalhadoresas A vila operaacuteria do bairro Rio Fiorita
foi projetada de maneira que osas operaacuteriosas natildeo precisassem sair dela para
atender suas necessidades Aleacutem das estruturas para atender os operaacuterios a vila
contava com edificaccedilotildees que atendiam a demanda da carboniacutefera CSN como o
preacutedio do Escritoacuterio oficinas laboratoacuterio etc
Na vila operaacuteria tambeacutem foi construiacuteda uma caixa de embarque do
carvatildeo que ainda hoje eacute utilizada por algumas carboniacuteferas em atividade nas
cidades de Sideroacutepolis e Treviso Com a construccedilatildeo de toda estrutura para lavagem
e escoamento do carvatildeo possibilita o aumento da produccedilatildeo assim o transporte
antes realizado por traccedilatildeo animal passou a ser feito por caminhotildees de grande porte
sendo os mais conhecidos os ldquofenemecircsrdquo da Fabrica Nacional de Motores ndash FNM
(DAVID 2015 p43) Posteriormente o transporte passa a ser feito atraveacutes da
ferrovia A Malha ferroviaacuteria corta o municiacutepio ainda hoje transportando o carvatildeo
produzido nas minas ativas em Lauro Muller Treviso e Sideroacutepolis para a usina de
CapivariSC
A ferrovia foi construiacuteda com autorizaccedilatildeo do Governo pela ldquoLei Imperial
740 de 20 de maio de 1874rdquo e inaugurada em ldquo01 de setembro de 1884rdquo pela
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
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arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
20
companhia inglesa ldquoThe Donna Christina Railway Company Limitedrdquo com sede em
Londres Seguiu o seu primeiro carregamento em 09 de Fevereiro de 1886 para o
porto de Laguna Nos primeiros anos sem muito sucesso a ferrovia era utilizada
para transporte de passageiros (BELOLLI QUADROS GUIDE 2002 p33)
Na cidade de Sideroacutepolis na deacutecada de 1942 com a doaccedilatildeo das aacutereas da
Carboniacutefera Metropolitana em TrevisoSC para a CSN se inicia a construccedilatildeo de um
ramal de extensatildeo para escoamento do carvatildeo produzido Segundo o Jornal da
Manhatilde de marccedilo de 1993 o ramal partiu do Km 112 do bairro Pinheirinho em
Criciuacutema passando ainda pelo atual distrito de Rio Maina Construiacutedo pela empresa
SOCIMBRA do Rio de Janeiro o ramal contava com estaccedilotildees de embarque em
Treviso e Belluno atual municiacutepio de Sideroacutepolis
Com de 124 mil metros de extensatildeo o ramal contava com um tuacutenel que
fica localizado na cidade de Sideroacutepolis Medindo 38845 metros de extensatildeo o tuacutenel
ainda faz parte da paisagem do municiacutepio e se tornou atraccedilatildeo turiacutestica por ser a
uacutenica passagem subterracircnea em toda ferrovia A construccedilatildeo do ramal e do tuacutenel foi
essencial para o escoamento do carvatildeo produzido pela CSN na regiatildeo de
Sideroacutepolis e Treviso diretamente agrave usina de Capivari no municiacutepio de
TubaratildeoFigura 1 - Imagem do tuacutenel em Sideroacutepolis
Fonte Arquivo pessoal Macsuel de Bona (1943)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
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ANEXO(S)
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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
21
A CSN investiu muito para garantir o bom funcionamento da empresa
trouxe maquinaacuterio de ponta para extraccedilatildeo de carvatildeo Uma das aquisiccedilotildees da
carboniacutefera foi a maacutequina escavadeira Dragline Marion 7800 medindo 23msup3 de
caccedilamba e lanccedila de 70m de comprimento a Marion foi responsaacutevel pela extraccedilatildeo do
carvatildeo a ceacuteu aberto e pela grande devastaccedilatildeo deixada por onde passava Foi o uso
dessa tecnologia que fez com que a regiatildeo de Sideroacutepolis ficasse conhecida como
ldquopaisagem lunarrdquo uma referecircncia aos estragos feitos pela maacutequina ldquoA Dragline
Marion 7800 trabalhou no municiacutepio de Sideroacutepolis ateacute a deacutecada de 90 onde causou
uma devastaccedilatildeo de aproximadamente de 1000 Ha de aacutereas feacuterteis durante os 30
anos de exploraccedilatildeordquo (LOPES 2013)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
22
Figura 2 - Maacutequina Marion SD
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso
Figura 3 - Maacutequina Marion deacutecada 1980
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1980)
No ano de 1991 com a queda do mercado carboniacutefero a empresa deixou
a cidade gerando uma crise que afetou a economia e a vida de quem dependia dela
para o seu sustento Com o fechamento da CSN o municiacutepio de Sideroacutepolis buscou
novas alternativas para sua economia poreacutem as marcas deixadas pela carboniacutefera
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
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arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
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53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
23
estatildeo por todos os lados seja na devastaccedilatildeo ambiental seja nas suas estruturas
ambas deixadas como heranccedila dos 50 anos de exploraccedilatildeo
No bairro Rio Fiorita a empresa deixou todas as estruturas que foram
construiacutedas essas estruturas foram entregues agrave prefeitura municipal em regime de
comodato conforme consta na Lei Nordm 85091 onde ficou estipulado que
O chefe do Poder Executivo municipal autorizado a firmar Contrato de Comodato a tiacutetulo gratuito com a Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN para a utilizaccedilatildeo do Recreio do Trabalhador Jardim de Infacircncia Campo de Futebol Ambulatoacuterio Clube Uniatildeo Mineira Escritoacuterio e Portaria todos localizados no Bairro Rio Fiorita neste Municiacutepio (Lei Nordm 85091 02 de agosto de1991)
Esse contrato teria validade por 30 anos Ainda na lei outorgada pelo
entatildeo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico consta que esses bens citados acima deveriam
ser destinados a serviccedilos como sauacutede atividades esportivas lazer atividades
escolares e ainda para instalaccedilatildeo de induacutestrias respeitando as caracteriacutesticas dos
imoacuteveis (LEI nordm 85091 art2ordm) Segundo o ex-prefeito Douglas Gleen Warmling que
na eacutepoca era vereador no ano de 1997 esses preacutedios foram definitivamente
comprados pelo municiacutepio por um valor simboacutelico de R$ 1005 Os pavilhotildees onde
funcionavam as oficinas e almoxarifado foram doados a empresas no intuito de
gerarem novos empregos Jaacute a portaria do escritoacuterio e o ambulatoacuterio registram suas
doaccedilotildees agrave Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita Alguns preacutedios citados na
lei acabaram ruindo pela accedilatildeo do tempo falta de manutenccedilatildeo e de uso dos espaccedilos
Todas essas estruturas deixadas pela CSN se constituem como
importantes evocadores de memoacuterias coletiva e referencial identitaacuterio da
comunidade do bairro Rio Fiorita e da proacutepria cidade de Sideroacutepolis pois fizeram e
ainda fazem parte da histoacuteria desse municiacutepio
5 Entrevista realizada com Douglas Gleen Warmling concedida a Elaine Rodrigues em 03fev2016
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
24
3 AS ESTRUTURAS DO CARVAtildeO NUMA PERSPECTIVA PATRIMONIAL
A definiccedilatildeo de patrimocircnio que conhecemos eacute muito ampla e ainda hoje
possibilita diferentes interpretaccedilotildees De modo geral os patrimocircnios podem ser
apresentados como um conjunto de bens que se referem agrave histoacuteria e cultura de uma
determinada sociedade e que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo Estatildeo
relacionados agraves memoacuterias e por vezes satildeo considerados elementos identitaacuterios de
um determinado grupo ou sociedade
Os patrimocircnios nos possibilitam conhecer aspectos de uma sociedade
contemporacircnea ou natildeo sua maneira de viver e se relacionar Para Marly Rodrigues
os patrimocircnios culturais satildeo
Remanescentes materiais de cultura satildeo testemunhos de experiecircncias vividas coletiva ou individualmente e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaccedilo de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepccedilatildeo de um conjunto de elementos comuns que fornecem o sentido de grupo e compotildee a identidade coletiva (RODRIGUES 2009 p17)
A partir da Revoluccedilatildeo Francesa em 1790 se iniciou um movimento de
proteccedilatildeo aos monumentos arquitetocircnicos Em 1837 foi criada da Comissatildeo dos
Monumentos Histoacutericos na Franccedila que foram divididos em trecircs grandes categorias -
vestiacutegios da Antiguidade edifiacutecios religiosos da Idade Meacutedia e alguns castelos A
partir da segunda guerra mundial esses patrimocircnios multiplicaram dez vezes e jaacute
natildeo se voltavam apenas agrave arte erudita mas evidenciavam conjuntos de edificaccedilotildees
urbanas aldeias quarteirotildees (CHOAY 1999 p12)
Durante deacutecadas vaacuterios documentos com o intuito de inventariar e
salvaguardar os patrimocircnios histoacutericos foram elaborados Entre eles a ldquoCarta de
Atenasrdquo (1931) e a ldquoCarta de Venezardquo(1964) de 19 de novembro de 1964 que traz
um novo olhar aos bens que devem ser preservados
Segundo a carta de Veneza
O conceito de monumento histoacuterico engloba natildeo soacute as criaccedilotildees arquitectoacutenicas isoladamente mas tambeacutem os siacutetios urbanos ou rurais nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilizaccedilatildeo particular de uma fase significativa da evoluccedilatildeo ou do progresso ou algum acontecimento histoacuterico Este conceito eacute aplicaacutevel quer agraves grandes criaccedilotildees quer agraves realizaccedilotildees mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo(1964p1)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
25
As cartas de Atenas e Veneza6 tambeacutem norteavam as noccedilotildees de
preservaccedilatildeo dos monumentos histoacutericos no Brasil Aqui na deacutecada de 1920 havia
um esforccedilo em proteger e valorizar o patrimocircnio nacional por meio de produccedilotildees de
intelectuais modernistas como Mario de Andrade e em projetos do arquiteto Lucio
Costa do movimento neocolonial Poreacutem soacute em 30 de novembro de 1937 foi
assinado por Getuacutelio Vargas o Decreto-lei nordm 25 onde eacute criado o Serviccedilo do
Patrimocircnio Histoacuterico Nacional ndash SPHAN Nele ficava definido o patrimocircnio histoacuterico e
artiacutestico nacional como um conjunto de bens moacuteveis e imoacuteveis cuja conservaccedilatildeo
deve estar ligada ou aos fatos memoraacuteveis da histoacuteria do Brasil ou por seu
excepcional valor arqueoloacutegico ou etnograacutefico bibliograacutefico ou artiacutestico e seu valor
seria reconhecido atraveacutes dos registros nos livros tombo (RODRIGUES 2009
p20)
Podemos perceber que inicialmente a preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural
no Brasil tinha o intuito de fortalecer uma identidade nacional que geralmente era
marcada pela classe dominante A escolha dos bens considerados patrimocircnios pelo
SPHAN privilegiava os antigos fortes engenhos e igrejas com destaque para arte
Barroca Segundo Pedro Paulo Funari no Brasil o cuidado do patrimocircnio sempre
esteve a cargo da elite cujas prioridades tem sido tanto miacuteopes como ineficazes
(2001 p32) A ideia de patrimocircnio era representada pela ldquosacralizaccedilatildeo da memoacuteria
em pedra e calrdquo (NOGUEIRA 1995) e voltada a uma tradiccedilatildeo europeia Segundo
Antocircnio Augusto Arantes ldquoo patrimocircnio brasileiro preservado oficialmente mostra
um paiacutes distante e estrangeiro apenas acessiacutevel por um lado natildeo fosse o fato de
que os grupos sociais reelaboram de maneira simboacutelicardquo (1990 p4)
A partir da constituiccedilatildeo de 1988 ocorreram mudanccedilas significativas que
contribuiacuteram para a noccedilatildeo de patrimocircnio cultural uma delas eacute o direito a memoacuteria
Segundo Joseacute Ricardo Oriaacute Fernandes
Uma leitura analiacutetica do texto constitucional permite-nos elencar os seguintes princiacutepios a construccedilatildeo da memoacuteria plural a diversidade de instrumentos de preservaccedilatildeo a municipalizaccedilatildeo da poliacutetica patrimonial e a multiplicidade de sujeitosatores na defesa do patrimocircnio cultural Esses princiacutepios propiciam na praacutetica a construccedilatildeo de uma poliacutetica cultural para o
6 As Cartas Patrimoniais satildeo documentos definem medidas para accedilotildees tanto burocraacuteticas quanto
para preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e restauro de um bem patrimonial Satildeo elaboradas por especialistas e satildeo constantemente complementadas
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
26
patrimocircnio que enseje o exerciacutecio da cidadania a todos os brasileiros( FERNANDES SD p3)
Ainda segundo Fernandes ldquopela primeira vez na histoacuteria constitucional do
Paiacutes passou-se a falar em direitos culturais [] permitindo agrave sociedade a
reivindicaccedilatildeo do acesso aos bens culturais como expressatildeo maior da Cidadaniardquo
(SD p3)
Em Santa Catarina foi a partir do decreto-lei nordm 251937 poucos bens
foram tombados ateacute 1974 em relaccedilatildeo aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
jaacute que ldquoos tombamentos federais privilegiaram naquele periacuteodo a heranccedila
arquitetocircnica da dominaccedilatildeo portuguesa em combinaccedilatildeo com o esplendor barrocordquo
(GONCcedilALVES 2012 p2)
Segundo Janice Gonccedilalves de 1974 ateacute 1993 o Departamento de Cultura
do estado fez algumas adaptaccedilotildees na Lei Federal no que dizia respeito agrave histoacuteria do
estado com uma preocupaccedilatildeo voltada aos bens religiosos poreacutem sem mudanccedilas
expressivas A partir da lei n9342 de 14 de dezembro de 1993 os tombamentos
passaram a ser responsabilidade da Fundaccedilatildeo Catarinense de Cultura ndash FCC nesse
sentido buscou-se rdquovalorizarrdquo o patrimocircnio ligado ao folclore e o patrimocircnio
documental abrangendo tambeacutem monumentos naturais siacutetios e paisagens O
problema eacute que as narrativas histoacutericas evidenciadas nesse processo acabaram
legitimando uma cultura voltada processos migratoacuterios representados na sua maioria
por italianos accedilorianos e alematildees (2012 p3) Nesse sentido os registros de bens
culturais acabavam por negligenciar as memoacuterias relacionadas agraves culturas de uma
parte da sociedade que estava agrave margem como a africana e indiacutegena Vale ressaltar
que os monumentos preservados estatildeo associados aos feitos e a produccedilatildeo cultural
da classe dominante raramente a histoacuteria dos dominados eacute preservada (DURHAM
1984 p33)
A partir do levantamento dos bens imateriais as discussotildees e a noccedilatildeo de
patrimocircnio se ampliaram As memoacuterias relacionadas agraves populaccedilotildees e grupos sociais
antes ausentes passam a ser reconhecidas como patrimocircnios culturais Neste
sentido
Percebemos tambeacutem dentro das designaccedilotildees do que eacute material e do que eacute imaterial a necessidade de aproximarmos essas duas categorias ateacute que se perceba que uma estaacute intrinsecamente ligada agrave outra como se uma estivesse dentro da outra [] Ambas completamente impregnadas
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
27
mutuamente do valor da expressatildeo e da apropriaccedilatildeo de todo o ambiente que obviamente necessita igualmente da construccedilatildeo fiacutesica assim como da construccedilatildeo expressiva artiacutestica do modo de fazer de danccedilar de ouvir de falar de costurar de criar a certa panela de barro de arrastar os peacutes na roda de samba de fazer queijo branco de bordar de guardar os barcos etc (WEISNTEIN 2009 p4)
Assim todos os bens edificados ou natildeo assumem importantes
significados por fazerem parte da memoacuteria coletiva de determinado grupo pois
refletem a memoacuteria de um passado comum e de uma identidade social que faz com
que o grupo se sinta parte daquele lugar do espaccedilo Mas isso natildeo garante de forma
efetiva a sua salvaguarda Para Marly Rodrigues
A perspectiva de patrimocircnio como parte integrante da memoacuteria social tambeacutem o ressaltaria como um campo de conflito simboacutelico da sociedade no qual se registra o jogo memoacuteriaesquecimento em geral vencido pelos seguimentos sociais dominantes que podem impor sua memoacuteria como a de toda a sociedade (RODRIGUES 2001 p18)
Mesmo com todas essas medidas para registro e salvaguarda precisamos
ter em mente que os patrimocircnios culturais estatildeo sempre em processo de
transformaccedilatildeo o que torna indispensaacutevel seu uso sua conservaccedilatildeo sua
preservaccedilatildeo Hoje o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN eacute
responsaacutevel por ldquoproteger e promover os bens culturais do Paiacutes assegurando sua
permanecircncia e usufruto para as geraccedilotildees presentes e futurasrdquo7
Tambeacutem responde pela conservaccedilatildeo salvaguarda e monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimocircnio Mundial e na Lista o Patrimocircnio Cultural Imaterial da Humanidade conforme convenccedilotildees da Unesco respectivamente a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial de 1972 e a Convenccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural Imaterial de 2003
8
Assim podemos afirmar que os patrimocircnios satildeo evidenciados por seu
valor histoacuterico cultural arquitetocircnico ambiental e afetivo Podem evocar diversas
memoacuterias e assumir diversos papeis e assim (re) significar seu valor identitario
valores estes que estatildeo diretamente ligados ao sentimento de pertencimento a eles
relacionado Satildeo de certa forma guardiotildees do passado o que legitima sua
7 Portal IPHAN Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrpaginadetalhes872gt Acesso em 23Out2016 8 Idem
28
importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
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importacircncia poreacutem esse passado apenas teraacute sentido se relacionado com o tempo
presente
A preservaccedilatildeo das memoacuterias relacionadas aos bens patrimoniais se
efetiva atraveacutes de accedilotildees educativas que se fazem natildeo somente necessaacuterias mas
essenciais para sua compreensatildeo e salvaguarda Segundo Janice Gonccedilalves
quando pensamos em accedilotildees educativas acerca do patrimocircnio cultural observa-se
duas concepccedilotildees fundamentais ldquouma que vincula as accedilotildees educativas agrave
necessidade da proteccedilatildeo ou defesa do patrimocircnio culturalrdquo e ldquoa concepccedilatildeo que
articula tais accedilotildees educativas agrave valorizaccedilatildeo ou ao emponderamento de
determinados grupos sociais por meio do reconhecimento do patrimocircnio cultural a
eles associadosrdquo (GONCcedilALVES 2012 p84) Eacute a partir dessas concepccedilotildees aleacutem do
reconhecimento e estima pelos bens patrimoniais que se busca atraveacutes de accedilotildees
sua preservaccedilatildeo
Todo homem tem direito ao respeito e aos testemunhos autecircnticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande famiacutelia humana tem direito a conhecer seu patrimocircnio e o dos outros tem direito a uma boa utilizaccedilatildeo do patrimocircnio tem direito de participar das decisotildees que afetam o patrimocircnio e os valores culturais nele representados e tem direito de se associar para a defesa e pala valorizaccedilatildeo do patrimocircnio (RODRIGUES 2001 p23)
Neste sentido devemos estar em constante aprofundamento sobre a
importacircncia que o patrimocircnio cultural vem adquirindo ao longo de vaacuterias deacutecadas e
como sua permanecircncia e apropriaccedilotildees dependem de accedilotildees que reverberem tanto
na sua salvaguarda quanto da formaccedilatildeo da sociedade em que vivemos Para isso eacute
imprescindiacutevel agrave participaccedilatildeo ativa da comunidade pois eacute a partir dela que seratildeo
encontrados meios para manutenccedilatildeo e valorizaccedilatildeo desses patrimocircnios pensando
em uma educaccedilatildeo patrimonial pautada na cidadania
31 REFLETINDO SOBRE O PATRIMOcircNIO INDUSTRIAL
O Patrimocircnio Industrial eacute um conceito relativamente novo comparado agraves
discussotildees acerca do patrimocircnio cultural O contexto da Revoluccedilatildeo industrial e o
desenvolvimento a partir das produccedilotildees em grandes quantidades favoreceu um
crescimento consideraacutevel natildeo apenas de edifiacutecios mas de uma infraestrutura
necessaacuteria para atender as demandas dos processos de produccedilatildeo A loacutegica do
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
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52
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53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
29
progresso a partir do desenvolvimento industrial ganhava forccedila inicialmente na
Europa dando origem aos modelos industriais tambeacutem presentes no Brasil Nesse
periacuteodo tambeacutem data a utilizaccedilatildeo do carvatildeo mineral como combustiacutevel em navios e
trens a vapor uma marca da revoluccedilatildeo industrial
A partir da segunda metade do seacuteculo XX mais precisamente apoacutes a
segunda guerra mundial a destruiccedilatildeo de muitas faacutebricas desencadeou na Inglaterra
um movimento protecionista relacionado ao patrimocircnio industrial Para Beatriz
Mugayar Kuumlhl a partir dos anos 1960 a preocupaccedilatildeo com o ldquolegado do processo
industrialrdquo tornou-se ldquosistemaacuteticardquo principalmente pela destruiccedilatildeo de edifiacutecios
considerados significativos (2010 p 24)
Segundo Graciela Mariacutea Vintildeuales
Para alguns a presenccedila industrial estava cheia de ilusotildees de progresso com suas chamineacutes fumegantes e as multidotildees que ali trabalhavam Mas para outros estava rodeada de ruiacutedos e sujeira Para aqueles que amavam as arquiteturas claacutessicas estas construccedilotildees natildeo tinham nenhum atrativo e ateacute era quase certo que nem sequer as viam como verdadeira arquitetura senatildeo como ldquomera construccedilatildeordquo (2007 on line)
A salvaguarda desses bens relacionados agrave produccedilatildeo industrial tambeacutem foi
ganhando forccedila agrave medida que os meacutetodos tradicionais de trabalho industrial foram
sendo substituiacutedos por novas tecnologias tornando os modelos de produccedilatildeo da
eacutepoca atrasados (FERREIRA 2009 p22)
Apesar da Carta de Veneza (1964) incluir o patrimocircnio industrial em seu
texto ldquomencionando que as marcas dos ofiacutecios comuns poderiam vir a ganhar
significado ao longo do tempordquo (MENEGUELLO 2011 p1821) apenas em julho
2003 o TICCIH ndash The International Committee for the Conservation of the Industrial
Heritage (Comissatildeo Internacional para a Conservaccedilatildeo do Patrimoacutenio Industrial)
aprovou em assembleia Geral a carta de Nizhny Tagil voltada exclusivamente ao
patrimocircnio industrial e que posteriormente foi aprovada pela UNESCO
Segunda a Carta de NizhnyTagil
O patrimocircnio industrial compreende os vestiacutegios da cultura industrial que possuem valor histoacuterico tecnoloacutegico social arquitectoacutenico ou cientiacutefico Estes vestiacutegios englobam edifiacutecios e maquinaria oficinas faacutebricas minas e locais de processamento e de refinaccedilatildeo entrepostos e armazeacutens centros de produccedilatildeo transmissatildeo e utilizaccedilatildeo de energia meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas assim como os locais onde se
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
30
desenvolveram atividades sociais relacionadas com a induacutestria tais como habitaccedilotildees locais de culto ou de educaccedilatildeo(2003p3)
A historiadora Cristina Meneguello afirma que devemos considerar trecircs
pontos importantes quando pensamos em patrimocircnios industriais Em primeiro lugar
a importacircncia da preservaccedilatildeo da memoacuteria do trabalho e dos trabalhadores dentro e
fora das rotinas de produccedilatildeo em segundo a preservaccedilatildeo dos acervos relacionados
a esses patrimocircnios os documentos maquinaacuterio ferramentas peccedilas de reposiccedilatildeo
instrumentos de precisatildeo manuais e revistas teacutecnicas especializadas incluindo os
acervos artiacutesticos que representam a atividade industrial a partir de fins do seacuteculo
XIX E por uacuteltimo a importacircncia das arquiteturas ldquoos bens edificados como a prova
mais evidente e sensoacuteria da importacircncia da induacutestria em dados periacuteodos histoacutericosrdquo
(2011 p1819-1820) Neste sentido podemos perceber a relevacircncia de preservar
natildeo apenas os bens edificados mas tambeacutem as memoacuterias relacionadas a esses
bens os saberes da rotina de trabalho as praacuteticas e relaccedilotildees sociais que se davam
a partir dessa rotina e fora dela
Inicialmente era inventariado um grande nuacutemero de edifiacutecios maacutequinas e
equipamentos mas segundo Caradini ldquoo que se deve estudar natildeo satildeo as coisas
mas sim homens e relaccedilotildees sociais a partir dos seus meios materiais de
subsistecircncia e produccedilatildeo (1979 p 249 apud MENEGUELLO 2011 p 1823)
Relacionados aos processos industriais esses patrimocircnios evocam
diversas memoacuterias e satildeo ldquotestemunhos de mudanccedilas culturaisrdquo (FERREIRA 2009
p23) Eles fazem parte de uma memoacuteria social e uma memoacuteria mutaacutevel que satildeo
ressignificadas com o passar do tempo ldquoO patrimocircnio industrial permite a elucidaccedilatildeo
da transmissatildeo de um saber teacutecnico Ele permite estabelecer hoje um elo entre as
formas de produzir ndash o que envolve homensmulheres e maacutequinas ndash e a culturardquo
(MELLO SILVA 2006 p1)
Para Cristina Meneguello o que torna o ldquopatrimocircnio industrial peculiar eacute
ser entendido como processo e como encontro e confronto entre homem maacutequina e
teacutecnicardquo Um agravante eacute o problema relacionado agrave preservaccedilatildeo desses bens
levando em conta a ldquodimensatildeo das estruturas industriaisrdquo e a ldquofalta de glamourrdquo
presentes na sua arquitetura Diferentes dos grandes casarotildees dos barotildees do cafeacute e
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
31
dos grandes teatros enfatizando que esses locais ao menos parte deles deveriam
remeter ao mundo do trabalho agraves teacutecnicas e rotinas de produccedilatildeo industrial9
Preservar esses bens nos possibilita compreender tambeacutem as relaccedilotildees de
trabalho estabelecidas no periacuteodo industrial relaccedilotildees de poder por meio das
memoacuterias desses trabalhadoresas Isso se torna expliacutecito na Carta de Nizhny Tagil
onde eacute evidenciado que
O patrimocircnio industrial representa o testemunho de atividades que tiveram e que ainda tem profundas consequecircncias histoacutericas As razotildees que justificam sua proteccedilatildeo decorrem essencialmente do valor universal daquela caracteriacutestica e natildeo da singularidade de quaisquer siacutetios excepcionais
10
Assim podemos perceber que o patrimocircnio industrial eacute destacado pela
sua repeticcedilatildeo As induacutestrias fabris geralmente eram marcadas por seus grandes
galpotildees e suas linhas de produccedilatildeo muito parecidas umas com as outras Esses
modelos estavam presentes nas revistas de engenharia e eram copiados Eacute essa a
beleza do patrimocircnio industrial onde a arquitetura eacute de massas repetitiva e
funcional11
Neste sentido podemos evidenciar que esses elementos que definem o
patrimocircnio industrial se fazem presentes na regiatildeo carboniacutefera A exemplo das
grandes produccedilotildees fabris a funcionalidade das linhas de produccedilatildeo do carvatildeo
mineral satildeo repetitivas Era o modelo utilizado desde a revoluccedilatildeo industrial na
Europa para extraccedilatildeo do carvatildeo e que foi empregado na cidade de Criciuacutema e
regiatildeo desde a deacutecada de 1915 com a intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo
Assim como no modelo europeu foi construiacuteda a estrada de ferro que
servia tanto para escoamento do carvatildeo produzido quanto no transporte de
passageiros Estruturas como oficinas galpotildees e escritoacuterios e as vilas operaacuterias
com seu conjunto arquitetocircnico peculiar foram surgindo agrave medida que o
empreendimento econocircmico crescia reverberando uma nova dinacircmica social
Como explicitado no capiacutetulo anterior nas vilas operaacuterias eram
construiacutedas aleacutem das casas toda uma estrutura que serviria para ldquocontrolarrdquo os
operaacuterios dentro e fora das faacutebricas Este conjunto de edificaccedilotildees que pertencia a
9 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista
concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas 10
Idem 11
MENGUELLO Cristina Conferencia Outros Patrimocircnios Disponiacutevel em httpswwwyoutubecomwatchv=iW5DJt18evQ Acesso 21Out2016
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
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arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
32
CSN estaacute presente ainda nos dias de hoje no bairro Rio Fiorita em Sideroacutepolis No
lugar podemos observar o movimento da estrada de ferro que corta o municiacutepio
desde a deacutecada de 1944 quando foi inaugurado o Ramal os preacutedios onde
funcionavam as oficinas e o laboratoacuterio da Companhia Tambeacutem fazem parte desse
conjunto o preacutedio onde funcionava o Escritoacuterio e a Portaria ou guarita o Ambulatoacuterio
a padaria jardim de infacircncia grupo escolar clube recreativo o estaacutedio de futebol
que era muito recorrente nas carboniacuteferas e as casas geminadas como demostrados
no mapa
Estruturas da CSN presentes no bairro Rio Fiorita12
1- Caixa de embarque
2- Estaacutedio Mozart Vieira ndash ITAUacuteNA ATLEacuteTICO CLUBE
3- Clube Recreio do Trabalhador
4- Preacutedio das oficinas almoxarifado laboratoacuterio e garagem
5- Accedilougue e Padaria
6- Escritoacuterio e guarita
7- Ambulatoacuterio
8- Estrada de Ferro
9- Grupo escolar SENAI
10 - Jardim de Infacircncia
Figura 4 - Mapa da Vila Operaacuteria de Rio Fiorita
Fonte Google Earth
12
Em anexo segue algumas fotos das estruturas
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
33
A carta de Nizhny Tagil aponta que a importacircncia do patrimocircnio industrial
estaacute no seu valor social como parte do registro de vida dos homens e mulheres
comuns Assim natildeo apenas o conjunto arquitetocircnico construiacutedo a partir da
industrializaccedilatildeo proporcionada pela CSN e que compotildee a antiga vila operaacuteria de Rio
Fiorita mas as praacuteticas sociais criadas a partir dessa industrializaccedilatildeo e que
acabaram sendo ressignificadas com o passar do tempo por esses homens e
mulheres no seu cotidiano podem ser caracterizadas na perspectiva do patrimocircnio
industrial e eacute nesse sentido que darei continuidade apresentando algumas dessas
estruturas seu estado de conservaccedilatildeo e a importacircncia da sua salvaguarda para
preservar as memoacuterias do lugar
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
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arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
34
4 O CONJUNTO DE EDIFICACcedilOtildeES PRESENTES NA VILA OPERAacuteRIA DE RIO
FIORITA
Na perspectiva do patrimocircnio industrial as memoacuterias do trabalho estatildeo
evidenciadas natildeo apenas processo produtivo mas nas relaccedilotildees cotidianas
vivenciadas nos espaccedilos de trabalho e fora dele Nesse caso especiacutefico do bairro
Rio Fiorita abordaremos os conflitos atuais que reverberam diversas disputas por
algumas dessas edificaccedilotildees Identificando seus usos iniciais e quais os usos que a
comunidade atualmente oferece a elas O que nos possibilita refletir como essas
estruturas satildeo compreendidas e rememoradas ainda nos dias de hoje
Como apresentado no primeiro capiacutetulo o Bairro Rio Fiorita se originou a
partir da chegada da primeira leva de imigrantes italianos e se transformou com a
chegada da CSN e a construccedilatildeo do conjunto de edificaccedilotildees que ainda estatildeo
presentes na memoacuteria e no cotidiano dos moradores
A fundaccedilatildeo da estatal na deacutecada de 1940 refletia o momento de
desenvolvimento nacional e de um intenso processo de industrializaccedilatildeo Legitimado
pelo governo de Getuacutelio Vargas que
Procurava criar uma nova concepccedilatildeo de relaccedilatildeo entre o Estado e a classe trabalhadora Ideais esses que foram incorporados no processo de criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo da CSN Por isso o projeto tinha um determinado padratildeo de
planejamento uma espeacutecie de modelo de gestatildeo urbano-industrial Assim a
empresa estava presente em todas as esferas da vida de seus operaacuterios (ARAUJO 2015 p2)
Neste sentido Rio Fiorita a exemplo da vila operaacuteria construiacuteda em Volta
Redonda no Rio de Janeiro que segundo Arauacutejo foi pensada e estruturada a partir
do modelo de ldquocidade industrial do arquitetordquo francecircs Tony Garnier adaptado pelo
arquiteto Attiacutelio Correcirca Lima ao ldquoautoritarismo populista de Getuacutelio Vargasrdquo O
objetivo era a construccedilatildeo de uma cidade modelo com um planejamento residencial
evidenciando a ldquohegemonia dos mais graduados na empresardquo (ARAUJO 2015 p3)
Nesse modelo aplicado nas Vilas operaacuterias da CSN podemos evidenciar
uma disposiccedilatildeo hieraacuterquica analisando a construccedilatildeo de ldquocasas de alvenaria para
administradores e engenheiros em Vilas especialmente para esse fim e em todo
Rio Fiorita casas de madeiras para todos os demais funcionaacuteriosrdquo (DAVID 2015
p29)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
35
A dinacircmica das vilas operaacuterias da CSN era elaborada para garantir o
controle dos operaacuterios dentro e fora do local de trabalho Assim a construccedilatildeo de
escolas armazeacutem ambulatoacuterio foi essencial para atender as necessidades da
estatal
A estrutura da vila operaacuteria reproduzia a estrutura disciplinar da usina com arranjo espacial que representava essa ordem havendo com isto um duplo controle dos trabalhadores configurando uma verdadeira company-town (CALIFE 2000 MOREIRA 2000 FONTES e LAMARAtildeO 2006 PIQUET 1998 apud ARAUacuteJO 2015 p4)
As ruas eram diferenciadas por nuacutemeros No ano de 1944 chegaram a 39
ruas algumas ainda hoje satildeo identificadas por nuacutemeros Segundo Ronaldo David a
vila operaacuteria de Rio Fiorita foi arquitetada ao longo do rio que corta o bairro e que
possibilitou a construccedilatildeo de uma usina para gerar energia e duas subestaccedilotildees o
que tornava o bairro o uacutenico lugar aleacutem da cidade de Criciuacutema a ter energia eleacutetrica
no sul de Santa Catarina com o diferencial de que em Rio Fiorita todas as casas e
edifiacutecios construiacutedos pela CSN possuiacuteam energia (2015 p39)13
Figura 5 - Transformador Rua 08 Data 27 de setembro de 1955
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
13 Segundo o autor Urussanga tambeacutem dispunha do serviccedilo poreacutem eram precaacuterios
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
36
Nesse periacuteodo que vai de 1944 ateacute 1947 o bairro Rio Fiorita segundo
relatos chegava ser maior que o distrito de Sideroacutepolis ldquoDe 1942 quando tinha
apenas umas 190 pessoas Rio Fiorita passa progressivamente em 1944 para 600 e
em 1950 para aproximadamente 1800 residentes no localrdquo (DAVID 2015p64) Um
dos motivos desse crescimento eram as condiccedilotildees de trabalho proporcionadas pela
empresa considerada uma das melhores do setor carboniacutefero aleacutem de toda
assistecircncia social que realizava desde a distribuiccedilatildeo de cestas baacutesicas ateacute
assistecircncia meacutedica e contava com dentista farmaacutecia e um ambulatoacuterio muito bem
equipado (DAVID 2015 P71)
Tambeacutem foi a CSN que disponibilizou um serviccedilo de educaccedilatildeo gratuito e
de melhor qualidade com a construccedilatildeo da primeira escola do Serviccedilo Nacional de
Aprendizagem Industrial ndash SENAI que tinha como objetivo maior a formaccedilatildeo de matildeo
de obra especializada (idem 66)
Figura 6 - Escola do SENAI
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso
Ao longo de 50 anos a CSN marcou a vida de quem dependia da
empresa Apoacutes seu fechamento 1991 todas as estruturas construiacutedas para atender
as necessidades da estatal e compor a vila operaacuteria de Rio Fiorita foram entregues a
Prefeitura Municipal e desde entatildeo satildeo alvo de diversas disputas seja pela sua
posse seja pelas memoacuterias que elas representam
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
37
Neste uacuteltimo capiacutetulo apresento duas dessas estruturas que reverberam
essas memoacuterias e conflitos ateacute hoje Satildeo elas o antigo Escritoacuterio da CSN e o Clube
Recreio do Trabalhador
As outras estruturas ainda presentes no local apesar de apresentarem a
mesma importacircncia hoje estatildeo destinadas a outros fins diferente do Recreio do
Trabalhador e do Escritoacuterio ambos em completo abandono
O Estaacutedio Mozart Vieira campo do ITAUacuteNA Atleacutetico Clube recebe ainda
que pouco alguns reparos por parte da prefeitura municipal O antigo Ambulatoacuterio
assim com a guarita do Escritoacuterio estaacute sob responsabilidade da Associaccedilatildeo de
Moradores do Bairro ambos estatildeo em bom estado de conservaccedilatildeo no Ambulatoacuterio
funciona uma farmaacutecia e a outra parte recebe o clube de matildees jaacute na portaria ou
casa do guarda a associaccedilatildeo fez sua sede onde acontecem reuniotildees O antigo
preacutedio do SENAI hoje pertence ao estado e ali funciona a Escola de Educaccedilatildeo
Baacutesica Tullo Cavallazzi desde 21 de Janeiro de 195614 O Jardim de Infacircncia passou
a ser responsabilidade da prefeitura a partir de 1991 hoje faz parte da rede
municipal de escolas Os preacutedios das oficinas foram entregues a outras empresas
como mencionado anteriormente No preacutedio onde ficavam a padaria e o accedilougue
hoje funciona uma oficina mecacircnica 15
Neste sentido percebemos que com o passar do tempo agrave comunidade se
adaptou a nova realidade o que possibilitou os novos usos a esses locais que foram
apropriados conforme suas necessidades
41 MEMOacuteRIAS E DISPUTAS ESCRITOacuteRIO DA CSN E RECREIO DO
TRABALHADOR
Apoacutes anos de intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo e de mudanccedilas expressivas
principalmente no bairro de Rio Fiorita a CSN ao encerrar as atividades fecha um
ciclo de trabalho e prosperidade econocircmica deixando para traacutes um alto iacutendice de
desemprego e toda uma estrutura que ao longo desses anos refletem aleacutem das
memoacuterias desse periacuteodo industrial carboniacutefero vaacuterias tensotildees e disputas pela posse
de alguns preacutedios
14
Decreto nordm905 de 21 de Janeiro de 1956 15
Fotos dos edifiacutecios em anexo
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
38
Essas disputas ocorrem principalmente em torno do preacutedio do Clube
Recreio do Trabalhador e do antigo Escritoacuterio da CSN o que evidencia a importacircncia
dessas edificaccedilotildees para as entidades locais Esses interesses em torno desses bens
visavam tanto agrave sua preservaccedilatildeo e de suas memoacuterias quanto interesse econocircmico
jaacute que esses bens estatildeo em espaccedilos privilegiados da cidade
Entre os grupos interessados podemos citar a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis uma associaccedilatildeo formada por moradores e ex-moradores da cidade de
Sideroacutepolis a Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita e o Sindicato dos
Mineiros da cidade de Sideroacutepolis cada qual com objetivos especiacuteficos para o uso
dessas estruturas
O Escritoacuterio da CSN segundo o documento do 2ordm Cartoacuterio do Registro de
Imoacuteveis da Comarca de Criciuacutema Estado de Santa Catarina Matriacutecula 6010 de 30
de agosto de 1999 estaacute situado na Rua 10 no bairro Rio Fiorita cidade de
Sideroacutepolis e eacute composto por uma aacuterea territorial de 3936 msup2 tendo no local duas
construccedilotildees de alvenaria uma com 67537msup2 e outra com 4122msup2 que
correspondem ao preacutedio do Antigo escritoacuterio da CSN e a casa do guarda Neste
documento consta a doaccedilatildeo desses referidos bens agrave prefeitura Municipal de
Sideroacutepolis lavrada no dia 21 de agosto de 2000 livro nordm61 as fls137 agrave 139
conforme documento
O lugar escolhido para a construccedilatildeo do preacutedio com certeza era
estrateacutegico como podemos observar na imagem a baixo o Escritoacuterio fica localizado
em uma aacuterea privilegiada e mais alta da vila operaacuteria uma representaccedilatildeo simboacutelica
de centralizaccedilatildeo de poder Foi construiacutedo com o objetivo de centralizar toda a
demanda burocraacutetica da sideruacutergica No local eram executados os serviccedilos
administrativos da empresa como serviccedilos relacionados aos setores financeiros
comerciais e principalmente toda a parte de departamento de pessoal desde o
fichamento ateacute a demissatildeo dos trabalhadores da companhia Com o tempo passou a
ser conhecido pelos operaacuterios como Escritoacuterio
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
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arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
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Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
39
Figura 7 - Vista do escritoacuterio da CSN abaixo o preacutedio das oficinas Data provaacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssasso (1960)
Figura 8 - Frente do Escritoacuterio Sem dataccedilatildeo
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
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ANEXO(S)
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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
40
Apoacutes a saiacuteda da CSN o preacutedio foi cedido para algumas empresas na
tentativa de gerar novos empregos Primeiro para empresa de calccedilados Crisul16
atuando por alguns anos posteriormente o preacutedio foi cedido a uma empresa de
reciclagem que tambeacutem acabou fechando deixando o local completamente
abandonado
Figura 9 - Antigo Escritoacuterio da CSN 2015
Fonte Arquivo Pessoal (2015)
No ano de 2010 o entatildeo prefeito Douglas Gleen Warmeling17 tombou o
preacutedio como patrimocircnio histoacuterico cultural pela Lei municipal Nordm 1906 de 23 de
Novembro de 2010 Em entrevista o ex-prefeito relembra que o tombamento tinha o
intuito de agilizar a execuccedilatildeo de um projeto que faria do local um centro de muacuteltiplos
usos poreacutem natildeo chegou a ser executado Ainda conforme o ex-prefeito o
tombamento foi necessaacuterio
Porque era na verdade eacute um patrimocircnio histoacuterico neacute Eacute um patrimocircnio que tem muita identificaccedilatildeo com o municiacutepio de Sideroacutepolis com a histoacuteria da mineraccedilatildeo de Sideroacutepolis E ai noacutes comeccedilamos comeccedilamos a trabalhar em Brasiacutelia e trabalhar pra tentar buscar esse recurso Eu me recordo perfeitamente que o Escritoacuterio da CSN a gente conseguiu fazer um projeto encaminhar mas natildeo o governo Federal nunca viabilizou esse recurso pra noacutes
18
16
Industria de Calccedilados local 17
Douglas Gleen Warmmling foi eleito em 2004 com mandato entre 20052008 e reeleito em 2008 mandato 20092012 18
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
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51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
41
Hoje o espaccedilo eacute utilizado por usuaacuterios de drogas e para prostituiccedilatildeo
sendo alvo de muitas criacuteticas por parte dos moradores do bairro que buscam atraveacutes
da associaccedilatildeo de Moradores uma soluccedilatildeo urgente para o problema suscitando uma
discussatildeo sobre a possiacutevel demoliccedilatildeo para a construccedilatildeo de uma aacuterea de lazer
O Sindicato dos Mineiros eacute uma das entidades que buscou obter a posse
do Escritoacuterio Segundo moradores o sindicado tambeacutem solicitou junto a prefeitura a
doaccedilatildeo do preacutedio O objetivo era construir no local um complexo com museu do
carvatildeo biblioteca e outros usos do proacuteprio sindicato
A associaccedilatildeo dos Moradores acabou se posicionando contra a doaccedilatildeo
Para eles o preacutedio deveria ser entregue ao sindicado somente na condiccedilatildeo do
mesmo disponibilizar trecircs salas para uso da associaccedilatildeo de moradores Para o ex-
prefeito Douglas
O projeto da prefeitura que noacutes fizemos ele contempla vaacuterias salas o Sindicato natildeo precisaria nem entrar nessa disputa natildeo precisa o sindicato pegar tudo pra ele se ele quer fazer um museu que eu acho importante interessante disponibilizar um ambiente porque eacute grande laacute eacute muito grande mas a comunidade precisa tambeacutem utilizar aquele espaccedilo pra ela [] foram cedidos dois espaccedilos um do Antigo Ambulatoacuterio e outro onde se faz as reuniotildees da associaccedilatildeo que eacute pequeno assim pra uma associaccedilatildeo porque laacute estava previsto um espaccedilo um ambiente pra daqui a pouco fazer um aniversaacuterio um casamento tem um projeto muito legal
19
O Sindicato recebeu em doaccedilatildeo uma aacuterea localizada em frente ao
Escritoacuterio da CSN conforme estipulado na Lei Nordm 1507 de 19 de maio de 2004
Nessa aacuterea o Sindicato possui sua sede e Associaccedilatildeo dos Mineiros esse eacute um dos
fatores que faz com que alguns moradores do bairro sejam contra a doaccedilatildeo de mais
uma aacuterea para o sindicato
Se o sindicato tivesse a intenccedilatildeo de dizer assim tem uma sala pra vocecircs o clube de matildees ou coisa parecida mas o sindicato tambeacutem natildeo falou assim por isso que associaccedilatildeo foi contra o que adianta o sindicato pegar e pouca demora a gente ter que ir laacute e pagar se eacute da comunidade entatildeo eu acho que as coisas natildeo foram bem esclarecida
20
Para uma das representantes da associaccedilatildeo de moradores
19
Idem 20
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
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Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
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ANEXO(S)
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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
42
A questatildeo do Escritoacuterio eacute um impasse [] eu lamento muito mesmo taacute ali como prostituiccedilatildeo e um centro de drogas e as autoridades do municiacutepio pouco fazem para arrumar para dar atenccedilatildeo pra aquilo ali O sindicato dos mineiros ia pegar mas pra que Pra fazer um Museu uma biblioteca e uma sala que soacute eles podiam usar a comunidade natildeo tinha acesso teria acesso no Museu e na Biblioteca mas noacutes queremos um centro comunitaacuterio que noacutes natildeo temos a 3ordf idade e o clube de matildees se reuacutenem ali no antigo ambulatoacuterio da CSN que estaacute sendo cuidado pela Associaccedilatildeo de moradores se natildeo natildeo tinha nem esse lugar para que a gente pudesse passar uma hora de divertimento e aprender alguma coisa encontrar-se com os amigos
21
Apesar de vaacuterias tentativas e sem chegar a um acordo que agradasse
ambas as partes o Sindicato acabou desistindo da proposta de reforma Agora cabe
a prefeitura o destino do preacutedio que continua a sofrer com o desgaste ocasionado
pela falta de manutenccedilatildeo
Assim como o preacutedio do antigo Escritoacuterio outra edificaccedilatildeo que faz parte
das memoacuterias dos moradores eacute o clube ldquoRecreio do Trabalhadorrdquo Segundo Roseli
Bernardo era uma praacutetica comum entre as vilas operaacuterias as construccedilotildees de
espaccedilos de lazer a exemplo das vilas operaacuterias na Europa (2004p131)
Figura 10 - Recreio do Trabalhador possiacutevel deacutecada de 1960
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1960)
21
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
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REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
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_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
43
O clube Recreio do Trabalhador foi construiacutedo para servir como sede da
Associaccedilatildeo ITAUacuteNA Atleacutetico Clube formada por funcionaacuterios da CSN Conforme ata
a associaccedilatildeo foi fundada em 04 de dezembro de 1952 poreacutem o espaccedilo fiacutesico do
Recreio do Trabalhador foi construiacutedo anos depois sendo inaugurado em 16 de
Dezembro de 1955(DAVID 2015 P72)
Segundo o historiador Ronaldo David com o crescimento da comunidade
houve a necessidade da construccedilatildeo de um clube maior para promoccedilatildeo natildeo apenas
de eventos mas reuniotildees da proacutepria sideruacutergica (2015 P81)
No caso da CSN o interesse da empresa era instituir uma ordem social no espaccedilo urbano criado por ela utilizando-se para isso de inuacutemeros dispositivos que pudessem auxiliar na contenccedilatildeo dos excessos e desvios de normas no tempo do natildeo trabalho de seus empregados (ARAUJO 2015 p7)
Segundo pesquisas podemos perceber que essa era uma praacutetica comum
natildeo apenas na vila operaacuteria do Rio Fiorita mas tambeacutem nas outras vilas construiacutedas
pela CSN como eacute o caso da vila operaacuteria Proacutespera na cidade de Criciuacutema em
CapivariSC e em Volta RedondaRJ Tanto em Capivari quanto na Proacutespera a
exemplo de Sideroacutepolis tambeacutem foram construiacutedos o clube Recreio do Trabalhador
com as mesmas caracteriacutesticas arquitetocircnicas Em Capivari o preacutedio hoje abriga o
foacuterum da cidade jaacute na Proacutespera foi destruiacutedo
No clube Recreio do Trabalhador em Rio Fiorita aconteciam diversos
eventos sociais comprovados pelas fotografias o envolvimento de grande parte da
sociedade em eventos festas cinema etc
Como praacutetica comum no controle do horaacuterio de lazer dos operaacuterios no
local tambeacutem funcionava diariamente um bar onde os funcionaacuterios se reuniam apoacutes
a jornada de trabalho Ali bebiam jogavam dominoacute baralho passavam o seu tempo
livre
Nessa leituraconcepccedilatildeo o lazer eacute visto como um recurso para condicionar corpos mentes e espiacuteritos agraves exigecircncias da nova civilizaccedilatildeo mecacircnica e colocaacute-los em sintonia com os princiacutepios e valores morais que regem a sociedade moderno-industrial de caraacuteter fordista em formaccedilatildeo no paiacutes (DUMAZEDIER 1979 PARKER 1976 apud ARAUJO 2015 p8)
Aleacutem dos funcionaacuterios a proacutepria empresa utilizava o clube para
promoccedilatildeo de festas e jantares O espaccedilo tambeacutem era utilizado pelo sindicato dos
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
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_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
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Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
44
mineiros que realizava suas reuniotildees e assembleias para deliberaccedilotildees diversas
Durante anos o clube foi um dos poucos lugares de diversatildeo da comunidade como
relata uma moradora
O Recreio do Trabalhador foi muito importante pois era o uacutenico lazer que se tinha aqui no bairro Rio Fiorita Que era o Baile as apresentaccedilotildees de teatro que eram feitas ali e o cinema que era muito importante para as pessoas crescerem e aprenderem alguma coisa
22
Outro morador do bairro haacute 60 anos Seu Joatildeo Agostinho conhecido na
cidade como ldquoCanelardquo comeccedilou a trabalhar na CSN como laboratorista em 1978 Ele
tambeacutem fez parte da diretoria do Itauacutena e segundo ele todo funcionaacuterio da CSN
automaticamente se tornava soacutecio do Itauacutena Soacutecios particulares somente eram
aceitos caso fossem apresentados por algum outro associado Ele ainda afirma que
O Recreio pra mim foi tudo foi minha segunda casa eu fiquei 25 anos ali eu fazia e desfazia tudo ali dentro as proacuteprias fechaduras foi tudo eu que botei as manutenccedilotildees tudo eu fazia isso depois que a CSN foi desativada [] Foi todo mundo caindo fora saindo de Sideroacutepolis e ficou pra mim porque eu gostava
23
Joatildeo Agostinho cuidou do clube de 1991 ateacute 2005 Quando o Prefeito
Douglas Gleen Warmling assumiu a prefeitura solicitou sua saiacuteda Assim observou
o desgaste do preacutedio ao longo dos anos ateacute a queda parcial de sua estrutura
Da muita saudade neacute Hoje em dia natildeo tem lugar pra ir os filhos da gente hoje natildeo tem lugar pra sair ai tem que ir fora neacute Agora noacutes ficamos sem nada entendeu [] natildeo tem mais nada pra noacutes aqui A gente leva muita saudade [] hoje em dia o que eu queria eu queria o Recreio desse alguma coisa neacute que algueacutem se movimentava e noacutes erguessemos o Recreio
24
Ele ainda teve o cuidado de guardar consigo alguns documentos em que
estatildeo registradas vaacuterias atividades do clube ao longo dos anos O acervo conta com
livros caixas relatoacuterios do cinema jogos partidas de futebol programaccedilotildees dos
eventos promovidos no local entre outros Ele conta que guarda tudo com muito
carinho pois cuidava mais do clube do que sua proacutepria casa
22
Entrevista realizada com Ana Mordf Ferraro Rodrigues concedida agrave Elaine Rodrigues em 28 de fevereiro de 2016 23
Entrevista realizada com Joatildeo Augusto concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 22 de marccedilo de 2016 24
Idem
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
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Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
45
Percebemos nas entrevistas a importacircncia do clube para a comunidade o
que reforccedila o valor identitaacuterio a ele atribuiacutedo As memoacuterias relacionadas a este
espaccedilo de sociabilidade ainda estatildeo enraizadas nas lembranccedilas da comunidade se
caracterizando natildeo apenas como patrimocircnio local mas de toda regiatildeo carboniacutefera
Essas memoacuterias corroboram com os conflitos em torno do clube desde a saiacuteda da
CSN de Sideroacutepolis Disputavam esse espaccedilo aleacutem da comunidade Associaccedilatildeo de
Aposentados e a Sociedade Amigos de Sideroacutepolis
Conforme o ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 expedido pelo
prefeito Lucio Ubialli solicitava ao Dr Sylvio Nobrega Coutinho entatildeo presidente da
CSN em Volta RedondaRJ a ldquodoaccedilatildeo da aacuterea e instalaccedilotildees do Recreio do
Trabalhador e do Campo do Itauacutena Atleacutetico Cluberdquo para a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis alegando que a doaccedilatildeo desses bens para a associaccedilatildeo era pautado no
fato de que a grande maioria dos membros satildeo ex-empregados eou filhos da extinta
Companhia Sideruacutergica Nacional ndash CSN O pedido foi posteriormente reforccedilado pelo
proacuteprio presidente da associaccedilatildeo Volnei Silva em carta tambeacutem enviada ao Dr
Sylvio no dia 10 de maio do mesmo ano Segundo a carta a Sociedade Amigos de
Sideroacutepolis ldquoatraveacutes da sua diretoria e associados pretende retomar aqueles locais
de lazer que tanta alegria e divertimento proporcionaram a seus pais e reforccedila que
o intuito da sociedade eacute fazer o clube ldquovoltar agraves atividades e com isso fazer com que
a memoacuteria cultural e social implantada pela CSN natildeo venha morrer de inaniccedilatildeordquo 25
Apenas no ano de 2000 o prefeito Dilnei Rossa autoriza a doaccedilatildeo do
Estaacutedio Mozart Vieira e do Clube Recreio do Trabalhador para a Sociedade Amigos
de Sideroacutepolis (Lei nordm132200) No entanto essa doaccedilatildeo acabou sendo revogada no
ano seguinte pelo novo prefeito Joseacute Antocircnio Peacuterico
No que diz respeito a esse episoacutedio podemos destacar a influecircncia
poliacutetico partidaacuteria presente nessas disputas Primeiro os dois prefeitos disputavam as
eleiccedilotildees no ano de 2000 por partidos opostos segundo a movimentaccedilatildeo por parte
de um vereador coligado ao Prefeito eleito que influenciou a Associaccedilatildeo de
Moradores e outras entidades do bairro Rio Fiorita se manifestar contraacuterias agrave lei de
doaccedilatildeo
Em uma nota de repuacutedio intitulada ldquoA irresponsabilidade no apagar das
luzesrdquo divulgada e assinada por Associaccedilatildeo de Moradores do Bairro Rio Fiorita
25
Carta enviada ao Diretor da CSN em 10 de maio de 1996
46
Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
26
Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
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Sindicato dos Mineiros Movimento de Irmatildeos Esporte Clube Estrela Vermelha e
Aposentados da CSN onde expressavam sua indignaccedilatildeo com a comunidade do
barro Rio Fiorita segundo a nota
A COMPANHIA SIDERURGICA NACIONAL (CSN) levou toda a riqueza do nosso bairro soacute nos deixou degradaccedilotildees tiacutenhamos a possibilidade de ficar com algumas migalhas poreacutem a irresponsabilidades de nossos administradores nem isso permitiram [] soacute nos resta o repudio e desafeto pois sabiam de nossos anseios e nada fizeram para mudar aquilo que eacute verdadeiramente de direito de nossa comunidade
Acredita-se que essa pressatildeo da comunidade levou o prefeito seguinte a
rever a decisatildeo e assim revogar a lei de doaccedilatildeo voltando para posse da prefeitura A
partir de entatildeo a prefeitura era total e uacutenica responsaacutevel pela manutenccedilatildeo dos
preacutedios foram anos de uso e de poucos reparos
Apenas em 2007 o Recreio do Trabalhador foi tombando como patrimocircnio
Histoacuterico Cultural de Sideroacutepolis pela lei municipal Nordm 1693 de 20 de julho de 2007
tambeacutem pelo ex-prefeito Douglas Gleen Warmling O objetivo do tombamento era
arrecadar verbas para seu restauro pois havia uma cobranccedila principalmente dos
moradores do bairro Rio Fiorita Segundo Douglas Gleen Warmling jaacute em 2005
quando assumiu a prefeitura a estrutura do clube jaacute estava bem desgastada e o
local abandonado neste sentido ele buscou outros meios para manter o lugar em
atividade26
No ano de 2006 entregou a administraccedilatildeo do clube para alguns
empresaacuterios que em troca realizariam reformas e a manutenccedilatildeo da estrutura
Poreacutem a mudanccedila na cor original que era Azul e Branco ndash Cores que
representavam o Itauacutena Atleacutetico Clube - para o amarelo queimado provocou mais
revolta nos moradores Somando isso a pouca adesatildeo aos eventos promovidos
dificultava a manutenccedilatildeo e continuidade das atividades por parte dos novos
administradores que romperam o contrato provavelmente em 2009
Durante os anos que se seguiram o preacutedio foi alvo de incecircndios
depredaccedilotildees e saques Em abril de 2013 parte de sua estrutura caiu e hoje estaacute
praticamente destruiacutedo restando poucas paredes erguidas
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Entrevista com Douglas Gleen Warmling concedida agrave Elaine Rodrigues no dia 03 de Fevereiro de 2016
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Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
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5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
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As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
47
Figura 11 - Recreio do Trabalhador julho de 2016
Fonte Arquivo pessoal (2016)
Podemos evidenciar que durante os anos que se seguiram as memorias
evocadas por esses espaccedilos e seu valor identitario foram sendo ressiginificadas O
que antes fora construiacutedo para ser utilizado como lugares de trabalho hoje
reverberam disputas que vatildeo muito aleacutem das experiecircncias vivenciadas durante o
auge da extraccedilatildeo do carvatildeo Essas disputas envolvem diversos personagens cada
um deles evidencia a importacircncia e a apropriaccedilatildeo desses bens
Por meio dessas disputas percebemos a representatividade desse
periacuteodo carboniacutefero que marcou natildeo apenas a vila operaacuteria de Rio Fiorita mas toda
a regiatildeo carboniacutefera
48
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
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Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
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5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A intensa exploraccedilatildeo do carvatildeo na regiatildeo sul em particular na cidade de
Sideroacutepolis modificou paisagens e haacutebitos Modificou a rotina e o estilo de vida dos
moradores locais em especial dos moradores do bairro Rio Fiorita Se reinventando
atraveacutes do tempo e pela necessidade de desenvolvimento daquele momento as
marcas do ldquoprogressordquo ainda podem ser vistas nos preacutedios nas ruiacutenas e na memoacuteria
dos moradores locais
A Companhia Sideruacutergica Nacional construiu a vila operaacuteria de Rio Fiorita
conforme modelos proacuteprios que jaacute vinham sendo utilizados em outras vilas para
legitimar a fase que representava o governo daquele periacuteodo Assim como em outros
lugares industrializados o bairro foi idealizado e estruturado para atender a
demanda da produccedilatildeo carboniacutefera
No freneacutetico ritmo de produccedilatildeo a presenccedila da ferrovia se fez essencial
para o escoamento do carvatildeo construiacuteda poucos anos depois da CSN iniciar os
trabalhos de mineraccedilatildeo Aleacutem dos edifiacutecios oficinas laboratoacuterios e das casas que
foram pensadas estrategicamente para abrigar o maior nuacutemero de operaacuterios Assim
como os ambientes de lazer que aleacutem de serem espaccedilos de sociabilidades
cumpriam o papel do controle do tempo
A matildeo de obra operaacuteria era fundamental para que todo o aparato da
companhia pudesse funcionar Assim natildeo apenas os moradores que ali residiam
comeccedilaram a trabalhar na CSN mas muitos operaacuterios vindos de outros lugares
buscavam a promessa de uma vida melhor por meio da estatal Neste sentido
famiacutelias inteiras chegavam com seus costumes ali se estabeleciam e criavam laccedilos
construindo novas identidades para a vila operaacuteria
Essa identidade estabelecida ao longo dos anos ainda estaacute presente na
comunidade do bairro Rio Fiorita natildeo apenas nos edifiacutecios ou nas ruiacutenas que
remetem aquele tempo que a CSN atuou ela tambeacutem eacute representada pelas
memoacuterias dos homens e mulheres que participaram da construccedilatildeo dessa identidade
e ainda lutam para que ela natildeo desapareccedila no tempo e no espaccedilo ldquoSegundo Joseacute
Cordeiro eacute nas faacutebricas e nas minas e natildeo satildeo apenas edifiacutecios ou exemplos de
ofiacutecios e teacutecnicas mas locais de trabalho nos quais se estabelecem relaccedilotildees sociais
de produccedilatildeordquo (CORDEIRO 1987 p 85-86 apud MENEGUELLO 2011 p1824)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
52
Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
53
SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
49
As memoacuterias do trabalho juntamente com o conjunto de edificaccedilotildees
presentes na vila operaacuteria de Rio Fiorita proporciona pensar esse lugar de trabalho
como Patrimocircnio Industrial
Pesquisar a formaccedilatildeo das vilas operaacuterias em especial da Vila Operaacuteria
de Rio Fiorita suas estruturas as relaccedilotildees ali estabelecidas a partir do ciclo
carboniacutefero se mostra essencial para refletir vaacuterios aspectos relacionados natildeo tatildeo
somente a essa praacutetica econocircmica mas principalmente na organizaccedilatildeo social
Essa pesquisa possibilitou analisar como foi pensada e estruturada a
carboniacutefera da CSN o crescimento das cidades ao redor das minas e os costumes
da comunidade local Nesse sentido a pesquisa ainda possibilitou perceber quais as
relaccedilotildees que a sociedade atual tem com as estruturas do carvatildeo tombadas ou natildeo
pelo poder puacuteblico
Os patrimocircnios culturais conferem importacircncia ao passado e os revestem
de significados atraveacutes das memoacuterias A histoacuteria do bairro Rio Fiorita foi e continua
sendo escrita pelas pessoas que chegaram naquele local em busca de uma vida
melhor
A vila operaacuteria hoje Bairro de Rio Fiorita construiacuteda pela CSN ainda hoje
eacute revisitada pelo passado atraveacutes das edificaccedilotildees que se fazem presentes no
cotidiano dos moradores e das memoacuterias que elas evocam ldquoO passado nos cerca e
nos preenche cada cenaacuterio cada declaraccedilatildeo cada accedilatildeo conserva um conteuacutedo
residual de tempos preteacuteritos Toda consciecircncia atual se funda em percepccedilotildees e
atitudes do passadordquo (LOWENTHAL 1994p64)
Neste sentido buscar compreender o conjunto de edificaccedilotildees que estatildeo
presentes no bairro Rio Fiorita como patrimocircnio Industrial tendo em vista as
necessidades atuais da comunidade eacute imprescindiacutevel para a preservaccedilatildeo da
memoacuteria do lugar
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
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_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
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Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
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ANEXO(S)
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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
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Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
50
REFEREcircNCIAS
ARAUJO Fabio Salgado A companhia sideruacutergica nacional (CSN) e as poliacuteticas sociais de lazer para os trabalhadores os clubes soacutecio-recreativos Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleviewFile1074790gt Acesso em 25 de Out de 2016 BERNARDO Roseli Teresinha O tempo e os espaccedilos de entretenimento das famiacutelias operaacuterias mineiras In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BERNARDO Roseli Teresinha COSTA Marli de Oliveira OSTETTO Lucy Cristina A casa e a vila A famiacutelia operaacuteria e a moradia na regiatildeo carboniacutefera 1913-1930 In GOULARTI FILHO Alcides Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina Florianoacutepolis Cidade futura 2004 129 p BLAY Eva Alterman Eu natildeo tenho onde morar vilas operaacuterias na cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Nobel 1985 332 p BONDUKI Nabil Georges Origens da habitaccedilatildeo social no Brasil Arquitetura moderna lei do inquilinato e difusatildeo da casa proacutepria 4ordf ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2004 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE Histoacuterico Sideroacutepolis Disponiacutevel em lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=421760ampsearch=santa-catarina|sideropolis|infograficos-historicogt Acesso em 28 de mai de 2016 CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nordm 15 ndash 1999 disponiacutevel em httpwwwfmnfptUploadCmsArchiveCartadeVeneza1964pdf acesso 13Out2016 CAROLA Carlos Renato (Org) Memoacuteria e cultura do carvatildeo em Santa Catarina impactos sociais e ambientais Santa Cruz do Sul RS EDUNISC 2011 COSTA Marli de Oliveria A infacircncia e as Vilas Operaacuterias Mineiras da CSN In CAROLA Carlos Renato Dos subterracircneos da histoacuteria as trabalhadoras das minas de carvatildeo de Santa Catarina (1937-1964) Florianoacutepolis Ed da UFSC 2002 CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMOacuteNIO INDUSTRIAL de Julho de 2003 CHOAY Franccediloise A alegoria do patrimocircnio Trad Luciano Vieira Machado Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade Editora UNESP 2001 DAVID Ronaldo Rio Fiorita II A Companhia Sideruacutergica Nacional e histoacuterias de uma comunidade Ed Do Autor SideroacutepolisSC 172p
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_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
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Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
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ANEXO(S)
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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
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Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
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Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
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Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
51
_______ Rio Fiorita estado de espiacuterito I Sideroacutepolis SC Ed do autor 2011 163 p DELMO Chiquito Vila Maria Zeacutelia A primeira vila operaacuteria do Brasil Disponiacutevel em lthttpdelmosaudblogspotcombr201203vila-maria-zelia-primeira-vilaoperariahtmlgt Acesso em 20 de out de 2016 FERNANDES Joseacute Ricardo Oriaacute O direito agrave memoacuteria anaacutelise dos princiacutepios constitucionais da poliacutetica de patrimocircnio cultural no Brasil (1988-2010) II Seminaacuterio Internacional de Poliacuteticas Culturais Fundaccedilatildeo Casa Rui Barbosa FERREIRA Maria Letiacutecia Mazzucchi Patrimocircnio industrial lugares de trabalho lugares de memoacuteria In Revista Museologia e Patrimocircnio Vol II nordm 1 JanJun de 2009 p 22-35 FUNARI Pedro Paulo A Os desafios da destruiccedilatildeo e conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural no Brasil In Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto4112 2001 p23-32 GONCcedilALVES Janice Da educaccedilatildeo do puacuteblico agrave participaccedilatildeo cidadatilde sobre as accedilotildees educativas e patrimocircnio cultural Nordm 19 2014 Revista do Museu e Arquivo Histoacuterico La Salle _____ Patrimocircnio em litiacutegio conflitos e tensotildees nos tombamentos estaduais catarinenses Anais do XIV encontro estadual de histoacuteria ndash tempo memoacuterias e expectativas 2012 UDESC Florianoacutepolis SC KUumlHL Beatriz Mugayar Patrimocircnio industrial algumas questotildees em aberto Usjt-
arqurb nordm3 Primeiro semestre 2010 p23-30 LOPES Marcos A devastaccedilatildeo deixada pela Dragline Marion 7800 no sul do paiacutes Disponiacutevel em lthttptecnicoemineracaocombrdevastacao-deixada-dragline-marion-7800-sul-paisgt Acesso em 25 de ago de 2016 LOWENTHAL David Como conhecemos o passado Revista projeto Histoacuteria SP n 17 1998 MELLO E SILVA L (2006) Patrimocircnio Industrial Passado e Presente Patrimocircnio Revista Eletrocircnica do Iphan Brasiacutelia v 4 Disponiacutevel em lthttpwwwiphangovbrgt Acesso em 27 de jul de 2016 MENEGUELLO Cristina Patrimocircnio Industrial como tema de pesquisa In I Seminaacuterio de Histoacuteria do Tempo Presente ANPUHSC Anais Florianoacutepolis UDESC 2011 p1819-1834 MENEGUELLO amp RUBINO (2005) Preservaccedilatildeo do patrimocircnio industrial no Brasil Entrevista concedida a Maria Cristina Schicchi Revista Oacuteculum Ensaios PUC-Campinas MENESES Joseacute Newton Coelho Histoacuteria e turismo cultural Cap I Belo
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Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
54
ANEXO(S)
55
ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
57
Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
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Horizonte Autentica 2004 p 17-30 POLLAK Michael Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Traduccedilatildeo Dora Rocha Flaksman In Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro vol2 n3 1989 p3-15 RODRIGUES Marly Preservar e consumir o patrimocircnio histoacuterico e o turismo In FUNARI Pedro Paulo PINSKY Jaime (Orgs) Turismo e patrimocircnio cultural ed Satildeo Paulo Contexto 2003p 15-24 ROLNIK Raquel Cada um no seu lugar Satildeo Paulo iniacutecio da industrializaccedilatildeo geografia do poder Satildeo Paulo Dissertaccedilatildeo (Mestrado) Faculdade de Arquitetura USP Satildeo Paulo 1981 343p SCAINI Juceacutelia L MAGAGNIN Liana DUARTE Maacutercia R B Conhecendo Sideroacutepolis 4 ed Sideroacutepolis Prefeitura Municipal de Sideroacutepolis 2002 71 p VIEIRA Ronaldo da M A vila Maria Zeacutelia Interesses interessados e pontos de vistas divergentes sobre sua conservaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwfaceqedubrregsdownloadsnumero13a-vila-maria-zeliapdfgt Acesso em 10 de ago de 2016 WEINSTEIN Mary A indissociabilidade do patrimocircnio material e imaterial e o transporte no espaccedilo e no tempo dentro de uma perspectiva tambeacutem etnocenoloacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwcultufbabrenecult200919391pdfgt Acesso em 16 de out de 2016 Entrevistas WARMELLING Douglas Gleen Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 03 de Fev de 2016 RODRIGUES Ana Maria Ferraro Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 28 de Fev de 2016 AGOSTINHO Joatildeo Entrevista concedida a Elaine Rodrigues Sideroacutepolis 22 de Mar de 2016 Documentos SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1906 de 23 de novembro de 2010 Sideroacutepolis 2010 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1693 de 20 de julho de 2007 Sideroacutepolis 2007 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 132200 de 29 de dezembro de 2000 Sideroacutepolis 2000 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 85091 de 02 de agosto de 1991 Sideroacutepolis 1991 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 1507 de 19 de maio de 2004 Sideroacutepolis 2004
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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
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ANEXO(S)
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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
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Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
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Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
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SIDEROacutePOLIS Ofiacutecio nordm 07196 de 07 de maio de 1996 Sideroacutepolis 1996 SIDEROacutePOLIS Lei nordm 134201 de 18 de Abril de 2001 Sideroacutepolis 2001 URUSSANGA Lei nordm 60 de 23 de 01 de Julho de 1913 Urussanga 1913
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ANEXO(S)
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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
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Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
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Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
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Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
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ANEXO(S)
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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
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Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
58
Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
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ANEXO A ndash fotos de algumas estruturas presentes no bairro Rio Fiorita
FIGURA 12 - Foto caixa de embarque
Fonte Google Earth (2016)
Figura 13 - Foto do Ambulatoacuterio deacutecada de 1960 e 2013
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960-2013)
56
Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
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Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
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Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
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Figura 14 - Foto Estaacutedio Mozart Vieira - Campo do ITAUacuteNA
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2011)
Figura 15 - Foto do paacutetio das Oficinas da CSN
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2010)
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Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
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Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)
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Figura 16 - Foto da Guarita do Escritoacuterio anos 1950 e 2016
Fonte Arquivo Pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1950- 2016)
Figura 17 - Vista Parcial do paacutetio das oficinas e da linha feacuterrea
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalsasso (1960)
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Figura 18 - Foto da Padaria ano de 1955 atual oficina mecacircnica
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (1955)
Figura 19- Foto Vila operaacuteria de Rio Fiorita atualmente
Fonte Arquivo pessoal Rogeacuterio Dalssaso (2016)