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    , Campinas, Vol. XI, n 1, Maro, 2005, p.1-32

    A tese da nova clivagem e a base social do apoio direita radical

    Pippa Norris

    John F. Kennedy School of GovernmentHarvard University, Estados Unidos

    Resumo

    A ascenso da direita radical est aberta a mltiplas interpretaes. A questo abordada neste artigo saber se muitos desses partidos criaram uma base social duradoura entre os eleitores e, se assim for,quais setores sociais apresentam maior probabilidade de apoi-los. A primeira parte discute os marcostericos alternativos oferecidos pelos trabalhos clssicos dos anos 1950 e 1960, a tese da novaclivagem social comum durante a ltima dcada e a teoria do desalinhamento partidrio. Em seguida, oartigo analisa hipteses concorrentes sobre a base social do voto na direita radical em quinze pases,

    usando dados retirados do Survey Social Europeu de 2002 e do Estudo Comparativo de SistemasEleitorais, 1996-2001. A segunda parte trata do papel de indicadores socioeconmicos, enquanto aterceira parte examina a duradoura diferena entre os sexos e os padres geracionais de apoio. Aconcluso considera as implicaes desses resultados para compreender a base da popularidade dadireita radical e para a estabilidade e longevidade desses partidos.Palavras-chave:direita radical, voto, clivagem social, desalinhamento partidrio, dados de surveys.

    Abstract

    The rise of the radical right is open to multiple interpretations. The question addressed in this paper iswhether many of these parties have fostered an enduring social base among core voters and, if so, whichsocial sectors are most likely to support them. The first part discusses the alternative theoreticalframeworks provided by the classic accounts of the 1950s and 1960s, the new social cleavage thesis

    common during the last decade, and the theory of partisan dealignment. Then, it compares evidence toanalyze rival hypotheses about the social basis of the radical right vote across fifteen nations, using datadrawn from the European Social Survey, 2002, and the Comparative Study of Electoral Systems, 1996-2001. The second part focuses upon the role of socioeconomic indicators, while the third part considersthe enduring gender gap and patterns of generational support. The conclusion considers the implicationsof these results for understanding the basis of radical right popularity, and for the stability and longevityof these parties.Keywords: radical right, vote, social cleavage, partisan dealignment, survey data.

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    O enigma central que este estudo busca explicar por que os partidos dedireita radical estabeleceram uma clara presena nos parlamentos nacionais emanos recentes numa grande diversidade de democracias, tais como Canad,Noruega, Frana, Israel, Rssia, Romnia e Chile, e entraram em governos decoalizo na Sua, ustria, Holanda, Nova Zelndia e Itlia, ao mesmo tempo queno conseguiram avanos comparveis em sociedades similares, tais como Gr-Bretanha, Sucia e Portugal. A Figura 1 resume a popularidade crescente de algunsdos mais bem sucedidos partidos de direita radical na Europa ocidental. A ascensodestes partidos ocorreu tanto em sociedades predominantemente catlicas comoprotestantes, em regies nrdicas e mediterrneas, na Noruega liberal e naconservadora Sua, bem como na Unio Europia e nas democracias anglo-americanas. O enigma maior porque eles cresceram em democraciasestabelecidas, abastadas sociedades ps-industriais de conhecimento e estadosque garantem o bem estar social do bero sepultura, com algumas daspopulaes mais bem instrudas e seguras do mundo, caractersticas que deveriamgerar tolerncia social e atitudes liberais opostas aos apelos xenofbicos1. Almdisso, os partidos de direita radical no esto confinados a esses pases: elestambm conquistaram apoio em certas naes ps-comunistas, bem como emalgumas democracias latino-americanas.

    1Para a expectativa de que uma revoluo liberal mundial desbancaria as atraes do autoritarismo,ver, por exemplo, o argumento apresentado por Fukuyama (1992).

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    Figura 1

    Participao mdia do voto em sete partidos de direita radical na Europa Ocidental

    1980-2004

    Nota:Esta figura resume a participao mdia do voto na cmara baixa de 1980-2004 para os seguintes

    partidos da Europa Ocidental, todos os quais participaram de uma srie contnua de eleies

    parlamentares nacionais desde 1980: MSI/AN da Itlia, FP da ustria, SVP da Sua, FP/PP da

    Dinamarca, FrP da Noruega, VIB da Blgica, FN da Frana. Todos esses partidos podem ser definidos

    como relevantes, isto , obtiveram mais de 3% do voto em uma ou mais eleies parlamentares

    nacionais durante o perodo. Nos casos italiano e dinamarqus, ocorreram divises dentro dos partidos,

    mas ainda existem continuidades reconhecveis nos partidos sucessores renomeados.

    Fontes:MACKIE e ROSE, 1991 e 1997;dados sobre eleies recentes extrados de Elections around the

    World,www.electionworld.org.

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    A popularidade de figuras como Jean-Marie Le Pen, Jrg Haider e PymFortuyn provocou ampla preocupao popular e vasta literatura acadmica2. Apesardo interesse, pouco consenso surgiu sobre as razes desse fenmeno. Este trabalhoreexamina uma das questes clssicas sobre as condies sociais subjacentes quefacilitam a ascenso da direita radical, proporcionando insightssobre a natureza damudana eleitoral e as foras por trs dos padres de competio partidria.

    A primeira parte discute os marcos tericos alternativos e examina ashipteses concorrentes sobre a base social do apoio direita radical em maisdetalhes. O estudo compara ento evidncias para analisar a base social do voto nadireita radical em quinze pases, usando dados do Survey Social Europeu de 2002 edo Estudo Comparativo de Sistemas Eleitorais, 1996-2001. Estudos de casoanteriores que analisaram o apoio eleitoral a partidos especficos, tais como oVlaams Blokou a Lega Nord, apresentaram amide resultados inconsistentes. Essasvariaes podem ser atribudas a contrastes genunos encontrados em eleitoradosnacionais, ou podem dever-se ao uso de classificaes inconsistentes daestratificao social e classe ocupacional empregadas em estudos alternativos, bemcomo aos problemas comuns do tamanho limitado de amostras e erros demensurao3. O nmero de respondentes includos nas amostras de vrios pasesreunidas nos surveys usados neste estudo, combinado com a consistncia dasmedidas e a amplitude dos indicadores que elas controlam em diferentes naes,nos permitem superar alguns desses problemas. A segunda parte trata do papel daestratificao social e a terceira examina a duradoura diferena entre os sexos e ospadres geracionais de apoio. A concluso considera as implicaes desses

    resultados para compreender a base da popularidade da direita radical e para aestabilidade e longevidade desses partidos.

    Teorias estruturais da ascenso da direita radical

    Dentre as mltiplas explicaes oferecidas para a ascenso da direitaradical na vasta literatura sobre o tema, as teorias estruturais, muito comuns emSociologia, Psicologia Social e Economia Poltica, enfatizam as condies genricas

    de baixo para cima de longo prazo em especial, o crescimento de umaunderclass marginalizada nas economias ps-industriais, padres de fluxos

    2 Para estudos comparativos ver, por exemplo, Hainsworth (1992, 2000); Merkl e Weinberg (1993,1997); Betz (1994); Kitschelt (1995); Cheles, Ferguson e Vaughan (1995); Betz e Immerfall (1998);Gibson (2002); Schain, Zolberg e Hossay (2002); Ignazi (2003).3Por exemplo, Betz rene muitos estudos separados da literatura, mas cada um deles usa medidas edefinies de classe ocupacional e instruo levemente diferentes. Ver Betz (1994), Captulo 5.

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    migratrios e a expanso do desemprego de longo prazo que teriam facilitado aascenso dos partidos de direita radical como uma vlvula de escape para asfrustraes polticas dos perdedores nas sociedades abastadas4. As condiessociais so consideradas estruturais no sentido em que so compreendidas comofatores persistentes e duradouros que afetam o comportamento de todos os atoresdo sistema poltico. Essa relao envolve alguma endogenia; no longo prazo, aspolticas pblicas podem transformar gradualmente a sociedade, por meio, porexemplo, de cortes no bem estar social, aumentando o nmero de famlias quevivem na pobreza, ou de restries legais ao influxo de imigrantes, de pessoas embusca de asilo e de refugiados. No obstante, as teorias estruturais tratam asociedade como o contexto dado dentro do qual os partidos polticos disputamqualquer eleio determinada.

    Os partidos eleitorais menores e marginais continuam a ser, com freqncia,organizaes frgeis e instveis, vulnerveis a choques inesperados causados pordivises internas, difceis transies de liderana, rivalidades entre faces ousbitos escndalos. A histria da direita radical est cheia de partidos de vida curta,exemplificados pelo movimento poujadista na Frana, o Partido Reformista nosEstados Unidos e o Lijst Pym Fortuynna Holanda. Tais partidos podem crescer nasmanchetes, numa onda de protestos pblicos, para a consternao de muitoscomentadores, ganhando assentos em eleies atpicas, mas podem tambmvoltar obscuridade, quando as circunstncias mudam. Sem lastro, eles oscilam naesteira da popularidade do governo e da oposio. Ao contrrio, partidos menoresque criaram razes mais duradouras na massa do eleitorado, consolidando o apoio

    de sua base social e do ncleo dos fiis ao partido, podem revelar-se maisresistentes s sbitas flutuaes da fortuna eleitoral. Muitas vezes, eles conquistamum sucesso numa eleio crtica e conseguem consolidar-se e crescer naseleies subseqentes com base nesse xito. Nessas circunstncias, certos partidosde direita radical se revelaram mais durveis. A Alleanza Nationale, por exemplo,reestruturada em 1994 como Movimento Sociale Italiano(MSI), foi fundada em 1946.O Front Nationalde Le Pen sobreviveu a turbulentos altos e baixos eleitorais numalonga srie de eleies desde sua fundao, em 1972, com um avano decisivo em1984. O Freiheitliche Partei sterreichs (FP) foi fundado como uma organizaomais moderada em 1956, mas deslocou-se fortemente para a direita depois de 1986,

    sob a liderana de Jrg Haider. A questo saber se muitos partidos de direitaradical criaram uma base social duradoura e atraram um ncleo de fiis e, se essefor a caso, quais setores sociais apresentam maior probabilidade de apoi-los.

    4Essa perspectiva exemplificada por Betz (1994).

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    Desde os primeiros trabalhos sobre as origens do fascismo e doautoritarismo, muitos estudos de Sociologia Poltica examinaram essas questes.Trs abordagens distintas surgiram na literatura5. Os trabalhos clssicos publicadosnos anos 1950 e 1960 procuravam explicar o fenmeno da ascenso do fascismoda Alemanha de Weimar, do poujadismo na Frana e do macartismo nos EstadosUnidos como uma revolta contra a modernidade, liderada principalmente pelapequena burguesia pequenos empresrios, pequenos comerciantes, artesos eagricultores independentes espremidos entre o poder crescente do big businessea influncia coletiva dos trabalhadores organizados6. Tericos contemporneos,fazendo eco e atualizando essas preocupaes, sustentam que uma nova clivagemsocial surgiu nas sociedades ricas. Desse ponto de vista, ainda podem serdetectados alguns elementos residuais da atrao exercida pela direita radicalsobre a pequena burguesia, mas na ltima dcada, sua retrica populista encontrouterreno mais frtil para crescer em uma underclass de trabalhadores com poucaespecializao e segurana mnima no emprego e entre aquelas populaes maisvulnerveis aos novos riscos sociais que afligem as sociedades ricas7. Numa outraviso, as teorias do desalinhamento partidriosugerem que hoje a atrao da direitaradical no se baseia em uma nica clivagem social comum a todos os pases, sejaa classe trabalhadora no especializada ou a pequena burguesia. Em vez disso, ateoria prev variaes significativas na base social de apoio aos partidos da direitaradical e uma eroso da relao entre estrutura social e lealdades partidrias sobreo comportamento dos eleitores.

    Trabalhos sociolgicos clssicos: uma crise da modernidade?A obra clssica sobre comportamento eleitoralde Lipset e Rokkan enfatizava

    que as clivagens sociais modelavam padres de competio partidria na Europaocidental (LIPSET e ROKKAN, 1967). Eles afirmavam que os alicerces duradourosdos partidos polticos formavam-se a partir de divises histricas no eleitorado,existentes na poca da expanso do sufrgio universal, entre catlicos eprotestantes, regies centrais e perifricas e patres e trabalhadores. Acreditava-seque os partidos refletiam e canalizavam esses interesses para a esfera pblica.

    5Observe-se que as teorias da economia poltica baseadas em desempenho so diferentes dos estudossociolgicos que tratam de tendncias seculares, pois os economistas polticos enfatizam o impacto deeventos mais especficos no desempenho das polticas governamentais sobre o apoio direita radical,especialmente surtos de imigrao, de refugiados e de pessoas em busca de asilo, combinado com taxasde desemprego e de insegurana no emprego nos setores mais pobres. Ver Givens (2002); Golder(2003).6Exemplificada por Lipset (1960); Bell (2001).7Betz (1994), Captulos 1 e 5; Ignazi (2003). Ver tambm Kitschelt (1995), Tabela 2.11; Anderson eBjorkland (1990).

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    Essas teorias estruturais da sociologia poltica esto enraizadas em processos maisamplos da modernizao social, identificando mltiplas tendncias seculares delongo prazo, associadas ascenso das sociedades industriais e ps-industriais8.Entre os desenvolvimentos econmicos mais fundamentais que modelaram associedades europias no incio do sculo XX esto a consolidao da indstriamanufatureira de larga escala por meio da economia de escala gerada pela linha demontagem, a sindicalizao da fora de trabalho e o crescimento do nmero deempregados, profissionais e gerentes, no setor de servios. Esses fatos estavamintimamente associados expanso da educao secundria e superior, aocrescimento da afluncia da classe mdia e ao aumento dos padres de vida.

    Os primeiros trabalhos seminais de Sociologia Poltica ligavam essedesenvolvimento econmico e social s razes do apoio ao fascismo na Itlia e naAlemanha e ao macartismo nos EUA. Essas idias estavam presentes na srie deensaios de The New American Right, editada por Daniel Bell, publicada pela primeiravez em 1955, e em Political Man, publicado por Seymour Martin Lipset em 1959.Temendo a mobilidade para baixo e a perda de status social, argumentavam Lipsete Bell, os movimentos de direita radical se aproveitavam dos temores einseguranas daqueles que perdiam com a industrializao:

    Os movimentos extremistas tm muito em comum. Eles atraem aspessoas descontentes e psicologicamente sem lar, os fracassadospessoais, os socialmente isolados, os economicamente inseguros,os pouco instrudos, pouco sofisticados e autoritrios (LIPSET,

    1960, p. 175)9.

    Para Lipset, eram os pequenos empresrios, em especial aqueles seminstruo e os socialmente isolados em reas rurais e pequenas cidades, quecompunham o apoio tradicional ao fascismo, apanhados entre a ameaa dasgrandes empresas e da indstria manufatureira, de um lado, e a fora coletiva dostrabalhadores organizados, de outro. A pequena burguesia consistia de pequenosempresrios, lojistas, comerciantes urbanos, artesos trabalhando por contaprpria e agricultores familiares independentes. Esses grupos se diferenciam em

    muitos aspectos. O que tinham em comum que arriscavam suas modestasreservas de capital e no contavam com a segurana que vinha com as carreirasprofissional e gerencial em grandes organizaes, ou dos laos coletivos de um

    8Para alguns dos clssicos essenciais dessa literatura, ver Lerner (1958); Rostow (1952, 1960); Bell(1999).9Lipset (1960), Captulos 4 e 5. Ver tambm Bell (2001); Sauer (1967).

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    sindicato. O autnomo e aquele que trabalhava em negcios familiares estavamexpostos s foras do mercado e eram vulnerveis a sbitas depresseseconmicas, hiperinflao ou elevao de juros. Porm, Bell e Lipset enfatizavamque era a ameaa de perda de status pela pequena burguesia em sociedadesindustriais, mais do que puras ameaas econmicas, que deflagrava seuressentimento contra o big businesse o trabalho organizado, aumentando a atraopor movimentos americanos que ofereciam solues populistas simples,exemplificadas pelo coughlinismo nos anos 1930, o macartismo nos anos 1950 e a

    John Birch Societynos anos 1960, bem como o apoio de massa ao fascismo na Itliae na Alemanha. Pesquisas histricas posteriores sobre as origens dos movimentosfascistas europeus durante o entre-guerras deram mais sustentao a essasconcluses (LINZ, 1976; MHLBERGER, 1987). Se h alguma continuidadehistrica nas bases sociais da poltica contempornea, ento a teoria prev que oapoio eleitoral aos partidos de direita radical se concentrar com mais fora napequena burguesia.

    Trabalhos sociolgicos modernos: uma nova clivagem social?As explicaes sociolgicas modernas repetem, mas tambm atualizam,

    algumas dessas preocupaes. As idias centrais e os apelos ideolgicos quecaracterizaram o populismo e o fascismo em dcadas anteriores diferem muito dosmovimentos direitistas de hoje e essas alteraes podem atrair uma base socialdiferente. A plataforma tradicional do fascismo do entre-guerras defendiaeconomias corporativistas e controladas pelo Estado, com forte autoridade

    governamental construda em torno de uma liderana poltica hierrquica, ao passoque a direita contempornea defende o livre mercado, o governo mnimo e contrao Estado (MUDDLE, 2000). A questo que mobiliza o apoio direita radical hojeno o medo das grandes empresas e dos trabalhadores organizados per se, masantes a ameaa do outro, impulsionada por padres de imigrao, por pessoasque buscam asilo e pelo multiculturalismo. A direita radical respondeu ao modocomo as sociedades ps-industriais modernas foram transformadas no final dosculo XX por mltiplos desdobramentos sociais que transformaram as condiesde vida, as oportunidades e os padres de desigualdade socioeconmica nassociedades industriais avanadas. Entre essas mudanas esto os processos de

    globalizao, reduzindo as barreiras nacionais para o trabalho, comrcio emobilidade de capital; a reestruturao liberal dos mercados econmicos e oencolhimento do Estado de bem-estar, reduzindo a proteo social e o declnio dascomunidades locais e das tradicionais organizaes formais da classe operria,exemplificadas pelos sindicatos e as cooperativas de trabalhadores. As anlisessociolgicas contemporneas enfatizam que esses processos beneficiaram em largamedida os grupos sociais com as habilidades educacionais e cognitivas, a

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    mobilidade geogrfica e a flexibilidade de carreira profissional que lhes permitemaproveitar as novas oportunidades econmicas e sociais nas sociedades abastadas(IGNAZI, 2003).

    Ao mesmo tempo, os comentadores afirmam que essas mudanas deixarampara trs uma underclass residual de trabalhadores com pouca habilitao queenfrenta um encolhimento das chances de vida, piores oportunidades de empregoem tempo integral e carreiras seguras e bem pagas no mercado de trabalho,benefcios estatais reduzidos e condies crescentes de desigualdade social10. Ospobres menos instrudos ficam presos ao trabalho casual, de pouca especializaoe baixo salrio, em geral com segurana mnima no emprego. Seria possvel pensarque esses grupos naturalmente gravitariam na direo de partidos estabelecidossocialistas, social-democratas, trabalhistas e comunistas de centro-esquerda ouextrema-esquerda, os defensores tradicionais dos desvalidos sociais, ou partidosconservadores estabelecidos que defendem a segurana, a lei e a ordem e aidentidade nacional. Mas, em vez disso, dizem os tericos, os partidos tradicionaistm sido incapazes ou no esto dispostos a responder a uma clientela deslocadagerada pelo aumento da desigualdade social e da insegurana social entre osperdedores da modernidade, combinado com um crescente multiculturalismo.Essas condies estimularam a poltica do ressentimento contra imigrantes,alimentando a chama acesa pela retrica populista e atiada pelos lderes departidos extremistas.

    A velha esquerda talvez no tenha respondido a essas preocupaes, adesigualdade social pode ter piorado, enquanto esses partidos se tornaram cada

    vez mais catch-all na busca de apoio entre as classes mdias em rpida expanso;e as foras da globalizao e das presses do mercado internacional constrangerama autonomia de governos de centro-esquerda de aprovar medidas protecionistas11.Tradicionalmente, a esquerda preocupava-se com proteo

    contra o tipo dedesvantagem social que limita seriamente a capacidade dos assalariados de extrairrenda do mercado de trabalho, tais como acidentes industriais, desemprego,doenas, invalidez e velhice. A proteo contra esses riscos sociais tornou-se oobjetivo essencial dos Estados de bem-estar em toda a Europa ocidental do ps-guerra e em outros lugares, com polticas sociais desenvolvidas principalmente porpartidos social-democratas em aliana com o movimento operrio, bem como por

    partidos cristo-democratas. Onde os partidos de centro-esquerda tradicionaisdeixaram de reconhecer ou responder ao surgimento de populaes que

    10Ver, por exemplo, Esping-Andersen (1990, 1999); Pierson (1998).11Com efeito, a relativa falta de desalinhamento de classe na poltica partidria sueca foi indicada comouma razo para que a direita radical no tenha conseguido muito avano neste pas. Ver Rydgren (2002,2003).

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    experimentam novos riscos sociais e onde os padres de compresso econmicasignificaram fortes redues nos gastos com o estado de bem-estar social, novasclivagens sociais no eleitorado que poderiam ser exploradas por novos partidosempreendedores tornaram-se possveis. Ao mesmo tempo, Betz sugere que aindividualizao e a fragmentao social desgastaram a participao macia emorganizaes coletivas tradicionais, redes sociais e movimentos de massa quecostumavam mobilizar as comunidades operrias, exemplificados pelascooperativas de trabalhadores e o movimento sindicalista. Os partidos socialistas esociais-democratas funcionavam no passado como um canal para a organizaocoletiva e a expresso das demandas das classes trabalhadoras.

    Betz sugere que so esses novos grupos em desvantagem social os maispropensos a culpar as minorias tnicas pela deteriorao das condies, a apoiar oprotecionismo cultural e a criticar o governo por no oferecer a prosperidade e asegurana social que era caracterstica da Europa do ps-guerra. Nessa viso, ofracasso das elites polticas de centro-esquerda em restaurar um sentimento desegurana e prosperidade para os desempregados e desprivilegiados na Europaocidental alimenta o apoio a lderes populistas que fazem tais promessas (BETZ,1994). Em suma, acredita-se que a poltica do ressentimento gera condiesfavorveis aos lderes populistas que oferecem solues simplistas. H algumasprovas empricas que do sustentao a esse argumento. Por exemplo, Lubbers,Gijsberts e Scheeepers mostraram que na Europa ocidental o apoio direita radicalno nvel individual significativamente mais forte entre os desempregados,operrios, aposentados e setores menos educados, bem como entre os eleitores

    mais jovens, os no-religiosos e os homens12. No entanto, tratava-se de efeitosespecficos e no difusos: eles no encontraram votao forte da direita em naescom desemprego mais alto13. A diferena de apoio aos partidos de extrema direitaentre os sexos tem sido um padro bem estabelecido e persistente, embora asrazes disso no sejam bem compreendidas (GIVENS, 2004). Numa comparaoentre cinco pases, Niedermayer descobriu que os empregados de nvel gerencial eos profissionais liberais esto consistentemente sub-representados nos eleitoradosdos partidos de direita radical, embora tambm tenha demonstrado que aproporo de operrios e de pessoas com baixo nvel de instruo variavasubstancialmente entre diferentes partidos, como o FP austraco, os republicanos

    alemes e o Partido Progressista dinamarqus14.

    12Lipset (1960); Betz (1994); Lubbers, Gijsberts e Scheepers (2002), Tabela 4.13 Lubbers, Gijsberts e Scheepers (2002). Ver tambm Lubbers e Scheepers (2001). Knigge tambmregistrou uma relao negativa entre nveis nacionais de desemprego e apoio eleitoral aos partidos deextrema direita, Knigge (1998).14Niedermayer (1990); Kitschelt (1995), Tabela 2.11.

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    A anlise em nvel agregado, como a de Jackman e Volpert, tambmencontrou uma relao entre taxas de desemprego nacional e voto para partidos deextrema direita em cada pas. Esses autores enfatizaram que se esperava que oefeito das condies macroeconmicas operassem em nvel socio-trpico, afetandotodos os grupos de uma sociedade, mas no necessariamente no nvel ego-trpico,de modo que no se esperava que o apoio direita radical fosse mais forte entreaqueles com experincia direta de desemprego de longo prazo, trabalhadores noqualificados ou setores sociais mais pobres. Uma ligao similar foi encontradaentre desemprego e voto na direita radical ao se analisar variaes regionais naFrana e na ustria (GIVENS, 2002). No entanto, Golder sustenta que h um efeitode interao, observando que o desemprego s importa onde a imigrao alta(JACKMAN e VOLPERT, 1996; GOLDER, 2003). A tese da nova clivagem, portanto,enfatiza que as tendncias seculares de baixo para cima comuns em ricassociedades ps-industriais, em particular o crescimento de populaes emdesvantagem sujeitas aos riscos sociais contemporneos, criaram uma massa decidados descontentes aberta aos acenos da direita radical. Se essa explicao forsustentada pelos resultados dos surveys reunidos por este estudo, analisados aseguir, devemos esperar encontrar que hoje o apoio eleitoral aos partidos sobcomparao deve vir desproporcionalmente dos trabalhadores manuais noqualificados, dos menos instrudos e daqueles com experincia direta dedesemprego ou insegurana no emprego.

    Desalinhamento partidrio e enfraquecimento dos perfis sociais

    No entanto, nem todos os resultados so consistentes com essa tese. Porexemplo, Van der Brug, Fennema e Tillie examinaram o apoio a sete partidos dedireita radical e constataram que eles atraam igualmente apoio de todos osestratos sociais. Depois de controlar a proximidade ideolgica e as atitudespolticas, eles descobriram que os indicadores de estratificao social raramenteapresentavam uma associao significativa com o apoio partidrio (inclusive opapel da classe social, renda, religio e instruo) e no encontraram padressignificativos consistentemente em todos os partidos (VAN DER BRUG, FENNEMA eTILLIE, 2000; VAN DER BRUG e FENNEMA, 2003). Estudos do comportamentoeleitoral francs tambm sugerem que a classe ou o perfil religioso dos eleitores

    no so um preditor particularmente poderoso para explicar o apoio ao FrontNational (LEWIS-BECK e MITCHELL, 1993; VEUGELERS, 1997; MITRA, 1988). Osprocessos gerais de desalinhamento social e partidrio podem ter corrodo qualquerperfil social distintivo do eleitor da direita radical, junto com o papel das clivagensde classe e religio, na predio de apoio a muitos partidos tradicionais de centro-esquerda e centro-direita. Um grande corpo de pesquisas sugere que a clivagem declasse na poltica partidria desapareceu aos poucos ao longo das ltimas trs

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    dcadas em muitas sociedades ps-industriais, com clivagens mais transversaissurgindo nas sociedades multiculturais e um crescente desalinhamento partidrioenfraquecendo as tradicionais lealdades eleitor-partido (CREWE, ALT e SARLVIK,1977; NIE, VERBA e PETROCIK, 1976; CREWE e DENVER, 1985; FRANKLIN,MACKIE e VALEN, 1992; DALTON, FLANAGAN e BECK, 1984; FRANKLIN, 1985;MANZA e BROOKS, 1999; CLARK e LIPSET, 2001). A mais recente reviso dosdados feita por Dalton e Wattenberg comparou indicadores de ligaes partidriasem uma ampla variedade de democracias industrializadas avanadas, com base naanlise de pesquisas do Eurobarometer e de estudos de eleies nacionais. Elesconcluram que, ao longo do tempo, o nmero total do eleitorado que expressavauma identificao partidria diminuiu significativamente (no nvel .10) em treze dosdezenove pases comparados e o no-partidarismo disseminou-se mais entre oscidados mais instrudos e politicamente mais sofisticados, bem como entre agerao mais jovem (DALTON e WATTENBERG, 2001).

    Se os traos de classe e das identidades partidrias no ancoram mais oseleitores nos partidos tradicionais em sucessivas eleies, isso pode terconseqncias significativas para os padres de volatilidade crescente nocomportamento eleitoral e na competio partidria, abrindo a porta para maisvotos divididos em diferentes nveis, para o surto sbito e ocasional de apoio apartidos baseados em poltica de protesto, bem como para mais troca de votosdentro e entre os blocos esquerda-direita de famlias de partidos (DALTON eWATTENBERG, 2001). A tese do desalinhamento sugere que a direita radical podeser capaz de capitalizar os protestos polticos, beneficiando-se particularmente de

    qualquer descontentamento amplo e temporrio com os partidos governantes, emeleies de segunda ordem realizadas durante os perodos dos mandatosprincipais, ou de eventos sbitos (como a onda de apoio ao Lijst Pym Fortuynaps oassassinato de seu lder), e captar votos geralmente de todos os setores, em vez deapresentar um perfil social distinto. Ao mesmo tempo, essa tese tambm sugereque qualquer ganho de curto prazo da direita radical pode se dissipar nas eleiessubseqentes, pois no est baseado em clivagens sociais e partidrias estveisque faam os seguidores manterem-se fiis aos partidos tanto nos bons como nosmaus tempos.

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    Comparando a base socioeconmica de apoio

    Para recapitular as hipteses alternativas centrais, as razes da direitaradical contempornea continuaro a refletir os padres de apoio eleitoral aofascismo do entre-guerras na tese da crise da modernidade se for possveldemonstrar que seus votos esto desproporcionalmente concentrados na pequenaburguesia, seja de profissionais autnomos e gerentes, tais como agricultoresfamiliares, arquitetos freelance e donos de restaurantes, ou de trabalhadoresmanuais por conta prpria, tais como mestres de obras, taxistas e encanadores.Por outro lado, as anlises sociolgicas modernas do surgimento de uma novaclivagem social sero confirmadas se o apoio direita radical em muitos pasesvier desproporcionalmente dos que esto em maior desvantagem social e dossetores mais pobres do eleitorado. E a tese do desalinhamento partidrio serdemonstrada se as clivagens sociais apresentarem apenas uma relao fraca com ocomportamento eleitoral atual.

    Que evidncias podem ser usados para testar essas proposies? A anlisedos surveysanteriores sobre a base social do voto na direita radical foi muitas vezesdificultada pela mensurao ruim da vulnerabilidade a novos riscos sociais, daexperincia da insegurana de emprego e da desigualdade socioeconmica(inclusive medidas bastante toscas de categorias de classes sociais). Esse problema agravado pelo tamanho limitado das amostras da maioria dos surveys sociais,restringindo a anlise do pequeno nmero de eleitores da direita radical dentro decada setor. Alm disso, devido s limitaes dos dados dos surveyse das medidas

    disponveis, as anlises anteriores deixaram amide de fazer a distino comdetalhes suficientes entre os diferentes segmentos da nova classe trabalhadora,tais como examinar quaisquer semelhanas no comportamento eleitoral dosprofissionais autnomos e trabalhadores manuais por conta prpria, bem como oapoio partidrio daqueles com experincia direta de insegurana de emprego efinanceira.

    Para comparar vrios pases, este estudo se baseia no Survey SocialEuropeu (ESS) de 2002 e no Estudo Comparativo de Sistemas Eleitorais, 1996-2001 (CSES). Esses surveysfacilitam comparaes consistentes entre quinze naesindustriais e ps-industriais que contm partidos de direita relevantes, abrangendo

    diversos pases anglo-americanos, europeus ocidentais e ps-comunistas, para verse existem semelhanas no eleitorado tanto dentro como entre sociedades. Essasfontes tambm permitem anlises de medidas mais finas da estrutura social eatitudinal de apoio direita radical nos nveis individual, partidrio e nacional.Tendo em vista a limitao de espao, os detalhes completos desses surveys, oquadro comparativo e o conceito e definio de partidos de direita radical soapresentados em outro trabalho (NORRIS, 2005).

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    O surveyESS-2002 inclui vrios indicadores de privao social e experinciade desemprego de longo prazo. Usam-se coeficientes para apresentar os resultados,como maneira mais direta e clara de comparar o quanto o apoio dentro de cadagrupo maior ou menor do que a mdia do voto no partido entre todo o eleitoradode cada pas. Os coeficientes so medidos como sendo a proporo de cada grupoque votou na direita radical dividida pela proporo do eleitorado nacional quevotou na direita radical em cada pas. Um coeficiente de 1.0 sugere que aproporo de um grupo que vota na direita radical reflete a quantidade de votos queo partido recebeu de todo o eleitorado (por exemplo, se a Lega Nordrecebesse 10%do voto nacional e o apoio de 10% da classe trabalhadora no-qualificada). Umcoeficiente menor do que 1.0 indica que, em comparao com a mdia nacional, ogrupo est sub-representado no voto na direita radical. E um coeficiente maior doque 1.0 (marcado em negrito nos quadros) sugere que, em comparao com amdia nacional, o grupo est super-representado no voto nesses partidos.

    Para testar o impacto da estratificao social com dados sistemticos,seguimos a classificao de classes ocupacionais de Goldthorpe-Heath, usada porHeath, Jowell e Curtice para entender o eleitorado britnico, com base em umesquema criado originalmente pelo socilogo John Goldthorpe (HEATH, JOWELL eCURTICE, 1985; GOLDTHORPE, 1980), que distingue cinco grupos: (1) osassalariados (empregados que so gerentes e administradores, supervisores eprofissionais, com segurana, salrios e statusde carreira relativamente altos); (2)trabalhadores no-manuais de rotina (empregados como caixas de bancos,vendedores e secretrias, com mais baixa segurana no emprego, renda e

    prestgio); (3) a pequena burguesia (agricultores autnomos, pequenosproprietrios e trabalhadores manuais por conta prpria, expostos aos riscos domercado por dependerem do capital prprio); (4) trabalhadores qualificados(eletricistas, maquinistas, artesos); (5) operrios no-qualificados (empregadosmais temporrios, como pedreiros, diaristas, domsticas, com as menoressegurana no emprego, salrio e status). Os respondentes foram classificados porseu trabalho, com base no cdigo ocupacional ISCO88, segundo seu pertencimento populao economicamente ativa, e no por sua condio de chefe de famlia.Tratamos neste estudo de modelos descritivos simples que medem os efeitosdiretos das clivagens sociais no voto, deixando de lado, no momento, qualquer

    efeito indireto que possa ir das clivagens sociais ao apoio partidrio atravs deatitudes polticas.

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    Tabela 1

    Estrutura social dos votos da direita radical ESS-2002

    Preditores de voto para a direita radical,amostra reunida de 8 naes europias

    B Erro padro Sig.

    (Constante) -3.08DADOS DEMOGRFICOS

    Idade (em anos) .005 .002 **Sexo (Masc.=1, Fem.=0) .307 .074 ***Minoria tnica (Minoria tnica=1, outros=0) -1.04 .249 ***STATUS SOCIOECONMICO

    Instruo (nvel mais alto atingido numa escala de 6pontos de baixa a alta) -.051 .030 N/s

    Assalariados (empregados profissionais e gerenciais) -.267 .120 *Pequena burguesia (autnomos) .297 .105 **Trabalhadores manuais qualificados .372 .119 **Trabalhadores manuais no-qualificados .390 .102 ***J esteve desempregado (por mais de 3 meses) .198 .085 **Religiosidade (auto-identificado como religioso numaescala de 7 pontos) -.033 .012 **

    Nagelkerke R2 .025

    Porcentagem predita corretamente 93.1Notas: O modelo apresenta o resultado de um modelo de regresso logstica binria (logit), incluindo os

    coeficientes beta (B) no-padronizados, os erros padres e sua significncia, na amostra reunida de oito

    naes europias ponderada por desenho e tamanho da populao. Os pases foram escolhidos dentre os

    presentes no ESS-2002, conforme tivessem um partido de direita radical relevante: ustria, Blgica,

    Sua, Dinamarca, Israel, Itlia, Holanda e Noruega. A Frana foi excluda da amostra reunida porque a

    classificao ocupacional padro no foi medida no survey. A varivel dependente se o respondente

    votou em um partido de direita radical. Confirmou-se que todos os coeficientes estavam livres de erros

    de multicolinearidade. As amostras reunidas continham 13.768 respondentes no total, incluindo 932

    eleitores da direita radical (6,8%). A categoria de classe social trabalhadores no-manuais de rotina foi

    abandonada como caso default(de comparao) neste modelo. Sig.001=***; Sig .01=**; Sig .05 =*.

    Fonte:Amostra reunida de 8 naes, Survey Social Europeu de 2002 (ESS-2002).

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    A Tabela 1 apresenta o resultado de um modelo de regresso logsticabinria (logit), incluindo os coeficientes beta (B) no-padronizados, os erros padrese sua significao, na amostra reunida de oito naes europias. Os pases foramescolhidos dentre os presentes no ESS-2002 conforme tivessem um partido eleitoralde direita radical relevante, definido como aqueles com mais de 3% do voto:ustria, Blgica, Sua, Dinamarca, Israel, Itlia, Holanda e Noruega. A variveldependente se o respondente votou em um partido de direita radical. Osresultados do modelo confirmam que quase todos os indicadores sociais bsicosforam significantes no nvel de probabilidade convencional de .95 e os coeficientesapontaram na direo prevista; a nica exceo foi a instruo, negativamenterelacionada ao apoio direita radical, como predito, mas que s foi significante nonvel de probabilidade .90. Os resultados confirmam o que muitos outrosencontraram em estudos anteriores, a saber, que nesses pases, o apoio direitaradical era significativamente mais forte entre a velha gerao e entre

    os homens, eque os eleitores de minorias tnicas estavam sub-representados. A anlise porclasse social indica que o apoio direita radical estava sub-representado entre osassalariados e super-representado entre a pequena burguesia, bem como entre ostrabalhadores manuais qualificados e no qualificados. Ademais, o apoio a essespartidos era maior entre aqueles que haviam experimentado o desemprego, bemcomo entre os menos religiosos. Esse perfil social dos eleitores da direita radicalreflete, de modo geral, aquele encontrado antes por Lubbers, Gijsberts e Scheepers(2002), baseado numa anlise de outros surveys em vrios pases da Europa

    ocidental em meados dos anos noventa, fortalecendo a confiana na estabilidadedesses resultados15.

    No conjunto, esses padres sugerem que as caractersticas estruturaiscontinuam diferenciando os eleitores da direita radical; sem dados de sriestemporais consistentes, no podemos definir se o impacto dessas variveisenfraqueceu ao longo dos anos, como as teorias do desalinhamento partidrioafirmam. Porm, o que podemos concluir com mais certeza que os partidos dedireita radical no esto atraindo igualmente todos os setores sociais, por exemplo,baseados em protestos polticos temporrios e em um perodo de amplodesencanto pblico com a poltica tradicional, como alguns estudos anteriores

    sugeriram (VAN DER BRUG, FENNEMA e TILLIE, 2000). A contnua atrao dadireita radical contempornea exercida sobre a pequena burguesia, por exemplo,indica que h razes mais profundas que tambm caracterizaram o fascismo doentre-guerras. Para ir adiante, os resultados reunidos precisam ser separados por

    15O estudo de Lubbers, Gijsberts e Scheepers (2002) usou dados derivados do Eurobarometer EuropeanElection Study de 1994 e do International Social Survey Program de 1998.

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    nao e por tipo de clivagem social, bem como ser comparados com o perfil socialdo eleitorado de direita radical em outros pases anglo-americanos e ps-comunistas, para ver se h padres consistentes nas sociedades ps-industriais.

    Tabela 2

    Base de classe dos eleitores da direita radical

    Coeficiente de apoio eleitoral direita radical em cada classecomparada com a participao mdia nacional

    Pas Partido(s) % quevotou nadireitaradical,todos oseleitores

    Assalariado No-manualderotina

    Pequenaburguesia

    Manualqualificado

    Manual noqualificado

    ustria FP 3.2 1.0 0.8 0.8 1.9 1.8Blgica VB, FN 4.4 0.5 0.9 1.3 2.3 1.4

    Rep. Tcheca RSC 5.6 0.9 0.7 0.7 2.0 1.5Dinamarca DF, FP 6.8 0.3 0.9 0.9 1.4 1.6

    Frana FN 3.2 0.8Hungria MIEP 2.2 1.4 0.5 2.0 0.7 1.0Israel Mafdal, IL 4.6 1.7 0.9 1.1 1.3 0.5Itlia AN, LN, MsFt 6.1 1.2 0.7 2.0 0.3 0.7

    Holanda PF, CD 11.5 0.6 1.2 1.1 1.1 1.1Nova Zelndia NZFP 10.9 0.8 0.9 1.0 1.3 1.1

    Noruega FrP, FLP 11.9 0.5 0.8 1.1 1.3 2.0Romnia PRM, PUNR 3.2 0.3 1.3 2.4 1.3 0.9Sua

    SVP,EDU, SD,LdT, FPS 8.8 0.9 0.9 1.7 0.8 1.0

    MDIA 6.2 0.8 0.9 1.3 1.3 1.2

    Notas:Os nmeros representam o coeficiente de apoio de cada grupo direita radical comparada com a

    mdia nacional (medida como a proporo de cada grupo que votou na direita radical dividida pela

    proporo do eleitorado nacional que votou na direita radical em cada pas). Um coeficiente de 1.0

    sugere que o grupo era perfeitamente proporcional mdia nacional. Um coeficiente menor do que 1.0

    sugere que o grupo estava sub-representado entre os eleitores da direita radical. Um coeficiente maior

    do que 1.0 (em negrito) sugere que o grupo estava super-representado entre os eleitores da direita

    radical.

    Fontes:ustria, Blgica, Sua, Dinamarca, Frana, Israel, Itlia, Holanda e Noruega analisados a partir

    de dados do ESS-2002. Rep. Tcheca, Nova Zelndia, Romnia e Hungria foram analisadas a partir dedados do CSES 1996-2001. Observe-se que autnomos no foi classificada em Canad, Rssia e

    Eslovnia, sendo necessrio tirar essas naes da comparao nesta Tabela, enquanto a categoria

    ocupacional padro no foi classificada na Frana.

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    A Tabela 2 resume os coeficientes do voto de classe na direita radical emtreze pases com partidos de direita radical relevantes, sem qualquer controleprvio. As evidncias confirmam que o apoio a esses partidos continuadesproporcionalmente super-representado na pequena burguesia e nostrabalhadores manuais qualificados e no qualificados na maioria dessas naes.Em particular, comparado com o eleitorado geral, o apoio direita radical pelomenos duas vezes mais forte entre a pequena burguesia da Hungria, Itlia eRomnia, mostrando a maior semelhana com as razes clssicas do fascismoeuropeu. Em contraste, os assalariados esto sub-representados no eleitorado dadireita radical em todos os pases, exceto Hungria, Itlia e Israel. Essa continua aser a maior rea de fraqueza eleitoral da direita radical, tendo em vista o tamanholimitado da pequena burguesia e o crescimento substancial dos empregadosprofissionais e gerenciais na economia do setor de servios em expanso. Algumasdiferenas importantes entre naes tambm ficam claras, exemplificadas pelabase mais operria do FP austraco (confirmando o crescimento substancial deseu apoio entre a classe trabalhadora nas eleies da dcada de 1990,documentado em outro lugar)16, em contraste com a maior atrao que os romenosPRM e PUNR exercem sobre os eleitores de classe mdia inferior

    e a base maisforte da Lega Nord na pequena burguesia. Em outro lugar, examinamos se essasdiferenas sociais relacionam-se com os padres sistemticos de apoio ideolgico,pois as comparaes de estudos de casos indicam que a base de classe diferentedo FP e da Lega Nordpode ser explicada pelos apelos programticos divergentes,com a Lega Nord mantendo sua defesa de polticas neoliberais radicais de livre

    mercado, enquanto o FP alterava sua plataforma sob a liderana de Haider paradefender medidas mais protecionistas17.

    16Ignazi (2003), Tabela 6.2. Ver tambm Riedisperger (1992).17Betz (2002), pg. 76. Para detalhes, ver Norris (2005).

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    Tabela 3

    Grau de instruo dos eleitores da direita radical

    Coeficiente de apoio eleitoral direita radical

    em cada classe comparada com a participaomdia nacional

    Pas Partido(s) % quevotou nadireitaradical,todos oseleitores

    Baixainstruo

    Instruomoderada

    Alta instruo

    ustria FP 3.2 1.1 1.0 0.8Blgica VB, FN 4.4 1.3 1.0 0.3Canad RP 18.9 0.9 1.1 0.9Rep. Tcheca RSC 5.6 1.4 1.1 0.6Dinamarca DF, FP 6.8 1.4 1.1 0.1Frana FN 3.2 1.5 0.5 0.5

    Hungria MIEP 2.2 0.8 1.0 1.7Israel Mafdal, IL 4.6 0.2 0.8 1.8Itlia AN, LN, MsFt 6.1 0.7 1.3 1.4Holanda PF, CD 11.5 1.1 1.0 0.7Nova Zelndia NZFP 10.9 1.5 1.1 0.8Noruega FrP, FLP 11.9 1.3 1.2 0.4Romnia PRM, PUNR 3.2 0.6 1.2 1.3Rssia LDPR 1.5 1.3 1.5 0.7Eslovnia SNS 2.2 0.5 1.3 1.1Sua SVP, EDU, SD, LdT,

    FPS8.8 0.7 1.2 0.5

    MDIA 6.2 1.0 1.1 0.9Notas:Os nmeros representam o coeficiente de apoio de cada grupo direita radical comparada com a

    mdia nacional (medida como a proporo de cada grupo que votou na direita radical dividida pela

    proporo do eleitorado nacional que votou na direita radical em cada pas). Um coeficiente de 1.0

    sugere que o grupo era perfeitamente proporcional mdia nacional. Um coeficiente menor do que 1.0

    sugere que o grupo estava sub-representado entre os eleitores da direita radical. Um coeficiente maior

    do que 1.0 (em negrito) sugere que o grupo estava super-representado entre os eleitores da direita

    radical.

    Fontes:ustria, Blgica, Sua, Dinamarca, Frana, Israel, Itlia, Holanda e Noruega analisados a partir

    de dados do ESS-2002. Canad, Rep. Tcheca, Nova Zelndia, Romnia Rssia, Eslovnia e Hungria foram

    analisados a partir de dados do CSES 1996-2001.

    O perfil educacional dos eleitores foi decomposto em maior detalhe naTabela 3, que mostra um padro similar entre os pases, o que no surpreende,tendo em vista a ligao ntima entre grau de instruo anterior e status socialsubseqente. De novo, a direita radical da Hungria (MIEP), Israel (Mafdal e IL) eItlia (AN, LN e MsFt) atraem desproporcionalmente os mais instrudos, assimcomo deixam uma marca mais forte entre os assalariados. Em quase todos os

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    outros pases, o apoio direita radical tende a ser mais forte entre aqueles cominstruo baixa ou moderada. No obstante, h variaes nesse padro e seriaexagero dizer que o apoio direita est confinado aos que deixam a escola maiscedo, com nvel mais baixo de instruo e sofisticao cognitiva.

    Tabela 4

    Indicadores sociais tipo de rea e eleitores da direita radical

    Coeficiente de apoio eleitoral direita radical emcada classe comparada com a participao mdianacional

    Pas Partido(s) % que votouna direitaradical, todosos eleitores

    Desempregadonos ltimos 5anos

    Baixarendafamiliar

    Vive emrea ruralou cidadepequena

    Vive emcidadegrande

    ustria FP 3.2 0.8 0.8 1.2 0.6Blgica VB, FN 4.4 1.6 1.1 1.2 0.9Canad RP 18.9 0.9 0.9 1.0 1.0Rep. Tcheca RSC 5.6 2.3 1.1 1.2 0.1Dinamarca DF, FP 6.8 1.1 1.2 0.9 0.8Frana FN 3.2 0.8 0.9 0.8 0.6Hungria MIEP 2.2 1.5 1.0 1.0 2.2Israel Mafdal, IL 4.6 0.8 0.6 1.6 0.9Itlia AN, LN, MsFt 6.1 0.8 0.6 0.8 1.7Holanda PF, CD 11.5 1.4 0.9 1.0 0.9Nova Zelndia NZFP 10.9 1.1 1.5 1.3 0.9Noruega FrP, FLP 11.9 1.1 0.7 1.0 0.9Romnia PRM, PUNR 3.2 0.3 0.8 1.0 1.0Rssia LDPR 1.5 2.0 1.5 0.8 1.1Eslovnia SNS 2.2 0.8 0.7 1.0 1.0Sua SVP, EDU, SD,

    LdT, FPS8.8 0.6 0.9 1.1 0.2

    MDIA 6.2 1.1 0.9 1.1 0.9

    Notas:Os nmeros representam o coeficiente de apoio de cada grupo direita radical comparado com a

    mdia nacional (medida como a proporo de cada grupo que votou na direita radical dividida pela

    proporo do eleitorado nacional que votou na direita radical em cada pas). Um coeficiente de 1.0

    sugere que o grupo era perfeitamente proporcional mdia nacional. Um coeficiente menor do que 1.0

    sugere que o grupo estava sub-representado entre os eleitores da direita radical. Um coeficiente maior

    do que 1.0 (em negrito) sugere que o grupo estava super-representado entre os eleitores da direita

    radical.

    Fontes:ustria, Blgica, Sua, Dinamarca, Frana, Israel, Itlia, Holanda e Noruega analisados a partir

    de dados do ESS-2002. Canad, Rep. Tcheca, Nova Zelndia, Romnia Rssia, Eslovnia e Hungria foram

    analisados a partir de dados do CSES 1996-2001.

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    Podemos ir alm desses indicadores bsicos para ver tambm se aquelescom experincia de desemprego e os grupos mais pobres que vivem em famlias debaixa renda esto mais propensos a votar na direita radical, como muitos sugerem.Isso importante, tendo em vista que muitos estudos de economia poltica em nvelagregado sustentam que o aumento do desemprego, junto com a ameaa percebidados trabalhadores imigrantes segurana de emprego, desempenha um papelessencial na explicao da ascenso da direita radical na Unio Europia18.Podemos tambm examinar a localizao dos respondentes, para ver se os votosnesses partidos concentram-se nos bairros urbanos pobres, ou se, como diziam osestudos clssicos do fascismo, nas reas rurais e cidades pequenas. A Tabela 4

    demonstra que as pessoas com experincia de desemprego esto super-representadas entre os eleitores da direita radical em cerca de metade dos pasessob comparao, com efeitos particularmente fortes na Repblica Tcheca e naFederao Russa. No entanto, dificilmente se pode dizer que os resultadosoferecem uma confirmao forte s idias de que a experincia individual deinsegurana de emprego e desemprego um fator importante do sucesso dessespartidos. As comparaes entre lares de baixa renda so ainda mais equvocas: oapoio direita radical est super-representado nesse grupo apenas em um terodos pases comparados. A anlise por rea tambm demonstra que h padresmistos, com seis pases em que a direita radical era mais forte nas reas rurais esomente trs casos em que ela recebeu mais votos dos residentes urbanos. Emsuma, a interpretao de que a direita contempornea simplesmente um produtodo descontentamento dos setores mais pobres e menos instrudos parece ser um

    esteretipo exagerado; embora seja verdade que os partidos de direita radical daustria, Dinamarca e Repblica Tcheca contem com considervel reservatrio deapoio desses setores sociais, esses partidos tambm atraem considerveis votos detodo o espectro na Hungria e na Holanda e ganham apoio levemente maior do que amdia entre a pequena burguesia e os altamente instrudos na Itlia e em Israel.

    Fatores demogrficos: sexo e gerao

    Pesquisas sobre diferenas entre os sexos no eleitorado tm sido um temarecorrente na cincia poltica desde os primeiros surveys sistemticos docomportamento eleitoral (TINGSTEN, 1937, p. 37-65). Muitos esperavam e outrostemiam que depois que as mulheres conquistaram o direito de votar, haveria umvoto feminino distinto. O sexo no era considerado uma clivagem eleitoral

    18Ver, por exemplo, Jackman e Volpert (1996).

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    importante, equivalente a classe, regio e religio, porque mulheres e homensexperimentavam muitas foras transversais, mas o estudo seminal sobre ocomportamento eleitoral europeu de Lipset e Rokkan considerou o sexo como umadas clivagens secundrias que compunham a base eleitoral da poltica partidria(LIPSET e ROKKAN, 1967). Os primeiros clssicos dos anos 1950 e 1960estabeleceram a ortodoxia na Cincia Poltica: as diferenas no voto entre os sexoseram, em geral, bastante modestas, mas as mulheres apresentavam maiorprobabilidade do que homens de apoiar partidos de centro-direita na Europaocidental e nos Estados Unidos, padro que foi chamado de diferena tradicionalentre os sexos (DUVERGER, 1955, p. 65-6; LIPSET, 1960, p. 143; PULZER, 1967,p. 52; BUTLER e STOKES, 1974, p. 160; CAMPBELL et al., 1960, p. 493). A maioriadas explicaes desse fenmeno enfatizava as diferenas estruturais entre homense mulheres em religiosidade, longevidade e participao na fora de trabalho. Porexemplo, as mulheres italianas e francesas apresentavam maior probabilidade defreqentar igrejas associadas a partidos democratas-cristos (LIPSET, 1960, p.260; BLONDEL, 1970, p. 55-56). Durante essa poca, tambm costumava-se suporque as mulheres eram mais conservadoras em seus valores e atitudes polticos,produzindo uma diferena ideolgica que estava na base de suas prefernciaspartidrias19. Contudo, ao mesmo tempo, muitos estudos indicavam que havia umaprobabilidade muito maior de homens pertencerem a partidos de extrema direita,como o movimento fascista (LIPSET, 1960; GIVENS, 2004). A diferena tradicionalentre os sexos na centro-direita desapareceu gradualmente e a literatura sugeriuque a velha tese do conservadorismo feminino no era mais evidente; em vez disso,

    a situao nos anos oitenta parecia depender das circunstncias polticas: emalgumas democracias estabelecidas, as mulheres pareciam se inclinar para adireita, em outras, para a esquerda, e em outras ainda, no era possvel detectarnenhuma diferena significativa (LISTHAUG, MILLER e VALLEN, 1985; OSKARSON,1995; MAYER e SMITH, 1985; DEVAUS e MCALLISTER, 1989; STUDLAR,MCALLISTER e HAYES, 1998; WILCOX, 1991; BANASZAK e PLUTZER, 1993a e1993b; RUSCIANO, 1992). Porm, no final dos anos noventa, as mulheres haviamse deslocado para a centro-esquerda dos homens em muitas democraciasestabelecidas (NORRIS e INGLEHART, 2003). Qual o padro na extrema direita?Houve mudanas semelhantes?

    19Porm, para um resumo crtico dos pressupostos da literatura inicial, ver Goot e Reid (1984).

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    Tabela 5

    Diferena entre os sexos entre os eleitores da direita radical

    Coeficiente de apoio eleitoral direitaradical em cada classe comparada com aparticipao mdia nacional

    Pas Partido(s) % quevotou nadireitaradical,todos oseleitores

    Homens Mulheres

    ustria FP 3.2 1.3 0.7Blgica VB, FN 4.4 1.2 0.8Canad RP 18.9 1.2 0.8Rep. Tcheca RSC 5.6 1.4 0.6Dinamarca DF, FP 6.8 1.3 0.7Frana FN 3.2 1.3 0.8Hungria

    MIEP 2.2 1.2 0.9Israel Mafdal, IL 4.6 1.0 1.0Itlia AN, LN, MsFt 6.1 1.4 0.7Holanda PF, CD 11.5 1.0 1.0Nova Zelndia NZFP 10.9 1.0 1.0Noruega FrP, FLP 11.9 1.2 0.7Romnia PRM, PUNR 3.2 1.2 0.8Rssia LDPR 1.5 1.6 0.7Eslovnia SNS 2.2 1.0 1.0Sua SVP, EDU, SD, LdT,

    FPS8.8 1.2 0.9

    MDIA 6.2 1.2 0.8

    Notas:Os nmeros representam o coeficiente de apoio de cada grupo direita radical comparado com a

    mdia nacional (medida como a proporo de cada grupo que votou na direita radical dividida pelaproporo do eleitorado nacional que votou na direita radical em cada pas). Um coeficiente de 1.0

    sugere que o grupo era perfeitamente proporcional mdia nacional. Um coeficiente menor do que 1.0

    sugere que o grupo estava sub-representado entre os eleitores da direita radical. Um coeficiente maior

    do que 1.0 (em negrito) sugere que o grupo estava super-representado entre os eleitores da direita

    radical.

    Fontes:ustria, Blgica, Sua, Dinamarca, Frana, Israel, Itlia, Holanda e Noruega analisados a partir

    de dados do ESS-2002. Canad, Rep. Tcheca, Nova Zelndia, Romnia Rssia, Eslovnia e Hungria foram

    analisados a partir de dados do CSES 1996-2001.

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    Tabela 6

    Perfil etrio dos eleitores da direita radical

    Coeficiente de apoio eleitoral direita radicalem cada classe comparada com a

    participao mdia nacional

    Pas Partido(s) % quevotou nadireitaradical,todos oseleitores

    Mais jovem Mdio Mais velho

    ustria FP 3.2 0.9 0.8 1.8Blgica VB, FN 4.4 1.0 1.2 0.8Canad RP 18.9 0.8 1.1 1.1Rep. Tcheca RSC 5.6 1.3 1.2 0.2Dinamarca DF, FP 6.8 1.2 0.8 1.4Frana FN 3.2 0.3 1.4 1.3

    Hungria MIEP 2.2 0.7 1.1 1.1Israel Mafdal, IL 4.6 0.9 1.2 0.9Itlia AN, LN, MsFt 6.1 0.7 1.1 1.0Holanda PF, CD 11.5 0.7 1.1 0.9Nova Zelndia NZFP 10.9 0.7 1.0 1.6Noruega FrP, FLP 11.9 0.9 1.0 1.1Romnia PRM, PUNR 3.2 1.0 1.1 0.9Rssia LDPR 1.5 1.2 1.1 0.7Eslovnia SNS 2.2 1.7 0.6 0.3Sua SVP, EDU, SD, LdT,

    FPS8.8 0.7 1.2 1.3

    MDIA 6.2 1.0 1.0 1.0Notas:Os nmeros representam o coeficiente de apoio de cada grupo direita radical comparado com a

    mdia nacional (medida como a proporo de cada grupo que votou na direita radical dividida pela

    proporo do eleitorado nacional que votou na direita radical em cada pas). Um coeficiente de 1.0

    sugere que o grupo era perfeitamente proporcional mdia nacional. Um coeficiente menor do que 1.0

    sugere que o grupo estava sub-representado entre os eleitores da direita radical. Um coeficiente maior

    do que 1.0 (em negrito) sugere que o grupo estava super-representado entre os eleitores da direita

    radical.

    Fontes:ustria, Blgica, Sua, Dinamarca, Frana, Israel, Itlia, Holanda e Noruega analisados a partir

    de dados do ESS-2002. Canad, Rep. Tcheca, Nova Zelndia, Romnia Rssia, Eslovnia e Hungria foram

    analisados a partir de dados do CSES 1996-2001.

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    Os resultados da comparao da Tabela 5 confirmam um padroconsistente: os homens continuam a ser super-representados no eleitorado daextrema direita em doze dos pases e no outro no h diferena entre os sexos. Adiferena no apoio entre os sexos maior em relao aos democratas liberais daRssia, o RSC na Repblica Tcheca e na Itlia. Embora alguns partidos, como oFront Nationalde Le Pen, tenham feito um esforo especial para mudar sua imagemtradicional masculina, escolhendo algumas mulheres para concorrer a cargos, aliderana e a base desses partidos continuam predominantemente masculinas. Emoutro trabalho, examino se esse padro se deve s questes e polticas defendidaspela direita radical, tais como seus apelos xenofbicos e contra o Estado, ou sepode ser atribudo, de um modo mais geral, a antigas diferenas entre os sexosquanto ao uso da violncia e associao dos movimentos de extrema direita comatos de agresso e tticas radicais de ao direta (NORRIS, 2005).

    O perfil geracional importante pois pode nos dizer muito sobre o futurodesses partidos. Se seu apoio super-representado na velha gerao, refletindouma atrao nostlgica do passado, ento, no longo prazo, eles podem perderpopularidade aos poucos, por meio do processo comum de substituio dapopulao e encolhimento de sua base de massa. Se, porm, eles conseguem atraire manter uma gerao mais jovem, seduzindo fortemente, por exemplo, os jovensdesempregados, ento, isso poder contribuir para sua expanso futura. A Tabela 6demonstra o perfil etrio dos eleitores da extrema direita. Os resultados mostramque h pouca consistncia entre os pases: em alguns (em especial a Rssia, aEslovnia e a Repblica Tcheca ps-comunistas), a gerao mais jovem

    desproporcionalmente atrada por esses partidos, mas em outros (Nova Zelndia,Sua e ustria, em particular), seu apelo mais sentido pela gerao mais velha.Isso sugere que o perfil especfico desses partidos relacionado com a idade varia depas para pas, o que pode se dever s suas razes histricas em cada sociedade e imagem de suas lideranas, estratgias de campanha e aos apelos ideolgicos aosdiferentes grupos de eleitores.

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    Concluses

    Uma das maneiras clssicas de explicar os padres de apoio partidriorelaciona-se com a distribuio das clivagens sociais no eleitorado. Onde baseiam-se em setores sociais distintos, os partidos podem forjar laos duradouros comesses grupos, representando seus interesses e preocupaes no sistema poltico.Quando esses laos se enfraquecem, com desalinhamento social e partidrio, ento,devemos esperar maior volatilidade eleitoral e maior potencial para o voto deprotesto. O que os resultados indicam sobre padres duradouros de apoio direitaradical?

    A comparao do perfil de classe social do eleitorado da extrema direita,incluindo indicadores de desigualdade social, sugere que eles estodesproporcionalmente super-representados na pequena burguesia, assim comonostrabalhadores qualificados e no-qualificados. Em muitos pases, os padres deapoio eleitoral no nvel individual entre os desempregados e os residentes emdomiclios de baixa renda no so to fortes como sugerem muitos estudos de nvelagregado da economia poltica. Essa coalizo entre classes significa que devemosver com ceticismo a idia de que a direita radical somente um fenmeno doressentimento poltico da nova clivagem social de trabalhadores poucoqualificados das grandes cidades, ou que sua ascenso pode ser atribuda de modomecnico ao aumento do desemprego e de insegurana no emprego na Europa. Operfil social mais complexo do que os esteretipos populares sugerem. Restaexaminar se, como afirmam alguns, a combinao particular de experincia do

    desemprego e atitudes contra os imigrantes que importa, em vez da inseguranaapenas20. Ao mesmo tempo, a diferena tradicional entre os sexos persiste, com oshomens dando apoio a esses partidos. Ademais, embora a anlise conjunta sugiraque h alguns fatores comuns, os resultados desagregados por nao mostramvariaes considerveis em quem vota na extrema direita. Em outro trabalho,examino com mais detalhes o impacto sistmico de eleies desalinhadas e asconseqncias do enfraquecimento da lealdade eleitor-partido para os padres dacompetio partidria e as oportunidades com que se defrontam os desafiantes danova direita radical. Em alguns pases, demonstro que o desalinhamento facilitou aascenso desses partidos, com eleies atpicas ou crticas, enquanto em

    outros casos, como Inglaterra e Estados Unidos, apesar de amplas evidncias daeroso de longo prazo das identidades partidrias, os partidos de extrema direitano conseguiram superar as barreiras eleitorais para obter uma srie sustentada deganhos.

    20Tal como sustentado por Golder (2003).

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    Portanto, com base nesses dados, podemos concluir que as teoriassociolgicas clssicas de uma crise da modernidade, ou os estudos modernos queenfatizam o surgimento de uma nova clivagem social no nos levam muito longena explicao das variaes de sucesso e fracasso dos partidos de direita radical. Oque precisamos compreender no apenas como as condies sociais podemfacilitar sua ascenso mas, o que mais importante, como os partidos reagem aesses fatores ao criar suas estratgias e apelos programticos, ao montar suaorganizao e ao consolidar seu apoio.

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    Recebido para publicao em novembro de 2004.Traduo e publicao autorizada pela autora.

    Este texto extrado do Captulo 6 de Radical Right: Parties and Electoral Competition, livro queser publicado pela Cambridge University Press em 2005.

    Traduo de Pedro Maia Soares.