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UENF nossa Patrimônio natural e cultural ganha CD e Atlas Revista da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - Ano 1 - Nº 1 - Abril de 2008 Projeto de extensão vai divulgar informações sobre Campos Uma história de lutas Testamento, abaixo-assinado, mobilização política... de alguma forma você ou alguém próximo participou da criação da Uenf O parceiro do Nobel Físico da Uenf desenvolveu pesquisas e publicou artigos com o alemão Peter Gruenberg, ganhador do último Nobel A ciência e o uso de animais Lei municipal do Rio de Janeiro chegou a proibir uso de cobaias em laboratórios, mas elas são vitais para o avanço da ciência Foto - Felipe Moussallem Foto - Felipe Moussallem

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Nossa Uenf- Ano1- Numero 1- Abril 2008

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Patrimônio natural e cultural ganha CD e Atlas

Revista da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - Ano 1 - Nº 1 - Abril de 2008

Projeto de extensão vai divulgar informações sobre Campos

Uma história de lutas

Testamento, abaixo-assinado, mobilização política... de alguma forma você ou alguém próximo participou da criação da Uenf

O parceiro do Nobel

Físico da Uenf desenvolveu pesquisas e publicou artigos com o alemão Peter Gruenberg, ganhador do último Nobel

A ciência e o uso de animais

Lei municipal do Rio de Janeiro chegou a proibir uso de cobaias em laboratórios, mas elas são vitais para o avanço da ciência

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Muito prazer, Uenf

ExpedienteGovernador do Estado

Sérgio Cabral

Vice-Governador do EstadoLuiz Fernando Pezão

Secretário de Ciência e TecnologiaAlexandre Cardoso

Reitor da UenfAlmy Junior Cordeiro de Carvalho

Vice-reitorAntonio Abel Gonzalez Carrasquilla

Pró-reitora de GraduaçãoLílian Maria Garcia Bahia de Oliveira

Pró-reitor de Pesquisa e Pós-GraduaçãoEdson Corrêa da Silva

Pró-reitor de Extensão e Assuntos ComunitáriosSilvério de Paiva Freitas

Diretor do CBBArnoldo Rocha Façanha

Diretor do CCT Alexandre de Moura Stumbo

Diretora do CCH Teresa de Jesus Peixoto Faria

Diretor do CCTA Hernán Maldonado Vásquez

Diretor de ProjetosRonaldo Paranhos

Diretor Geral AdministrativoMarco Antônio Martins

Prefeito do CampusPaulo César de Almeida Maia

Jornalistas: Fúlvia D’Alessandri e Gustavo Smiderle - Projeto gráfico: Felipe Moussallem

www.uenf.br [email protected] (22) 2726-1449 / 0800 - 25 2004

Queremos dar as boas vindas aos leito-res e leitoras contando, rapidamente, uma historinha sobre a escolha do nome des-ta publicação: NOSSA UENF. Buscávamos algo que desse a idéia de uma universida-de que é de todos sem ser especificamente de ninguém. Aí surgiu a lembrança de que a jornalista Ângela Bastos — que fez histó-ria no colunismo social da região — quase sempre se referia à Universidade como a “nossa Uenf ”. Seria um bom nome?

Pesquisando o assunto, percebemos que muitas outras pessoas usam habitual-mente esta expressão. Conversamos com algumas delas e vimos que esta fórmula carinhosa é um tanto espontânea, mas um tanto calculada. É como se sua invocação significasse duas coisas ao mesmo tempo: (1) A Uenf é nossa; (2) a Uenf deve ser re-conhecida como nossa.

— É um sentimento nosso. Acho até lindo que vocês pensem assim, porque isso é a oficialização de algo que todos nós queremos. Para mim é fantástico! — disse o jornalista Chico de Aguiar, fazendo coro à colega Silvia Salgado, para quem é pre-ciso que se instaure “uma relação mais ín-tima” entre o cidadão e sua universidade pública.

Ficamos, então, convencidos de que o nome era perfeito. Mas logo percebemos que ele também podia esconder uma “ar-madilha” e passar a falsa impressão de uma instituição “paroquial” e fechada em seu pequeno mundo. Uma coisa meramente “nossa” e de mais ninguém, contrariando frontalmente o sentido desejado por Ân-gela Bastos e todos os que utilizam a fór-mula. Na verdade, toda universidade de verdade tem um caráter universal e, por assim dizer, pertence à humanidade.

Assim é com a Uenf. Ela foi fruto de uma demanda histórica da população de Campos, mas nasceu cosmopolita. Firmou-se no Norte Fluminense, mas não se senti-rá completa enquanto não fincar raízes no Noroeste e na Região dos Lagos. Portanto a Uenf é nossa no sentido mais inclusivo, mais abrangente e mais universalista pos-sível. Você também está incluído. Boa lei-tura!

Nesta Edição

Uma história de lutasOs movimentos populares e a luta política e comunitária que deram origem à Uenf

Vestibular 2009 Maratona começa já em abril, com inscrições para 1.º Exame de Qualificação

Uma trajetória de talento e determinaçãoSeus pais nunca foram à escola, mas ele passou em primeiro lugar para mestrado no RS

Patrimônio natural e cultural ganha CD e AtlasProjeto de extensão divulga informações sobre município de Campos

Crescer com os pés no chão

Rumo ao Noroeste

Reitor da Uenf analisa o momento vivido pela instituição

Universidade discute proposta de expansão para Itaperuna

Pesquisas que viram produtosRegistro de patentes mostra tecnologias da Uenf a caminho do setor produtivo

O parceiro do NobelFísico da Uenf publicou artigo com Peter Gruenberg, um dos ganhadores do último Nobel

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12Histórias reais da educação a distânciaConsórcio Cederj garimpa talentos onde poucos imaginariam que eles existissem

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Pesquisas que viram produtos

Patentes mais recentes

Universidades despertam para a proteção da propriedade industrial

Registro de patentes mostra tecnologias que estão a caminho do setor produtivo

Entre os pedidos de depósito de pa-tente mais recentes está um da área de Engenharia Civil: são blocos de encaixe prensados e queimados e um aditivo para argamassa e concreto. Há ainda um cata-lisador-solvente para síntese de diamantes e o procedimento de uso combinado de ácidos húmicos e certas espécies de bac-térias no cultivo de plantas. Outro pedido de patente depositado envolve um apare-lho eletromecânico móvel de spray piró-lise com leitura a laser para revestimento de superfície.

Não foi só a Uenf que acordou para a importância da proteção de suas invenções. Recente estudo do próprio Instituto Nacional da Propriedade In-dustrial (INPI) revela que o número de pedidos de patente depositados por universidades brasileiras aumentou 120% entre a última década e a atual. Apesar do crescimento expressivo, os depósitos das universidades represen-tam somente 0,78% do total de pedidos

feitos ao INPI. Intitulado “Universidades brasilei-

ras — utilização do sistema de patentes de 2000 a 2004”, o estudo dos pesqui-sadores Jeziel da Silva Nunes e Luciana Goulart de Oliveira, do INPI, mostra que ao longo desses cinco anos foram depositados 784 pedidos de patentes pelas instituições de ensino superior do Brasil, mais que o dobro do volume registrado na década de 90.

Quais são as novas tecnologias que sairão dos laboratórios da Uenf para ganhar o setor produtivo na for-ma de novos produtos ou processos? Um bom indicador está nas patentes depositadas pelos pesquisadores da Universidade junto ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). A patente é o caminho para proteger a propriedade intelectual da invenção antes da aplicação.

Desde a criação de um setor es-pecífico para cuidar desta área, em 2005, a Uenf já depositou mais de 17 patentes. Elas envolvem diversas ino-vações, desde novos dispositivos para coleta e congelamento de sêmen de

eqüinos até medicamentos antialérgi-cos, passando por um composto que combate a cárie dentária e novos pro-cedimentos de esterilização aplicáveis em medicina humana, veterinária, biotecnologia e várias outras áreas.

Um novo material para uso em ferramentas diamantadas, com redu-ção de custos estimada em 50% em relação ao similar importado, tam-bém já teve o pedido de patente de-positado. O material se destina a fixar diamantes às ferramentas utilizadas no corte de rochas ornamentais, que interessa potencialmente a qualquer tipo de empresa do ramo de ferra-mentas diamantadas impregnadas. Ferramentas diamantadas usadas no corte industrial de rochas

Doutoranda Moema Peralva e professor Ivo Curcino no Laboratório de Ciências Químicas da Uenf 03

Professor Frederico Straggiotti demonstra o funcionamento de sua mais recente criação

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Uma história de lutasConhecidos ou anônimos, muitos lutaram intensamente para que a Uenf pudesse existir

Em 1989, um abaixo-assinado com mais de 4 mil signatários foi apresentado como emenda popular e incorporado à Constituição Estadual. Abaixo, trecho do testamento de D. Finazinha Queiroz, que legou à universidade pública local a atual Casa de Cultura Villa Maria

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Quem passa pelo campus da Uenf e muitos que nela trabalham ou estudam não imaginam a luta que teve que ser travada, há quase 20 anos, para que a região pudesse abrigar uma universidade pública. Sonho antigo da população local, a Uenf teve seu primeiro sopro de vida quando uma mobilização da sociedade organizada conseguiu reunir mais de 4 mil assina-turas e, assim, incluir na Constituição Estadual de 1989 uma emenda popu-lar prevendo a sua criação.

Uma grande vitória para a região, mas que ainda não garantia a implan-tação da universidade. Era preciso re-gulamentar o dispositivo constitucio-nal — do contrário o projeto poderia nunca ter saído do papel. Graças a um intenso esforço coletivo para sensi-bilizar as autoridades, o Governo do Estado foi autorizado a criar a Uenf em lei sancionada pelo então gover-nador Moreira Franco, em novembro de 1990. Finalmente, em fevereiro do ano seguinte, uma nova lei criava a Uenf e aprovava o seu Estatuto.

Mas a tarefa de implantar efetiva-mente a Universidade coube ao suces-sor de Moreira Franco, Leonel Brizola, que assumiria o posto em 1991. A ta-refa de conceber o modelo e coorde-nar a implantação da Uenf foi, então, delegada ao professor Darcy Ribeiro, primeiro reitor da Universidade de Brasília (UnB) e autor de projetos de instauração ou reforma de universida-des na Costa Rica, Argélia, Uruguai, Venezuela e Peru, Darcy desejava fazer da Uenf o seu melhor projeto.

A “Universidade do Terceiro Mi-lênio” — como designava a Uenf — foi concebida em modelo inovador, no qual os departamentos — que, na Unb, já tinham representado um avan-ço ao substituir as cátedras — seriam trocados por laboratórios temáticos e multidisciplinares como célula da vida acadêmica. A presença da Uenf em Macaé, onde viriam a ser implan-

tados os Laboratórios de Engenharia e Exploração do Petróleo (Lenep) e de Meteorologia (Lamet), também fazia parte de seu projeto original.

A efetiva implantação da Uenf teve início em dezembro de 1991, com a formação de uma comissão específica para esta tarefa. Um passo importante foi a criação, em dezembro de 1992, da Fundação Estadual do Norte Flumi-nense, com a missão de implantar e incrementar o Parque de Alta Tecnolo-gia do Norte Fluminense.

— Depois da criação da Uenf, a primeira dificuldade foi definir onde ela iria funcionar. No início, pensou-se em ocupar prédios já existentes, mas esta idéia não deu certo. Então o Sérgio Mendes, que era prefeito de Campos na época, desapropriou a área onde hoje está sediado o campus — lembra Mário Lopes, que participou ativamente, como professor universi-tário em Campos, dos três momentos mais importantes da Uenf: as mobili-zações pela emenda constitucional e pela sua regulamentação e a sua efeti-va implantação.

Definida a área e iniciadas as obras, em junho de 1993 foi realizado o primeiro vestibular para a Uenf. A primeira aula no campus foi realizada em 16 de agosto de 1993 — data hoje reconhecida como a do início do fun-cionamento da Uenf. Em dezembro do mesmo ano, era inaugurada a Casa de Cultura Villa Maria, no palacete que já havia sido sede da Prefeitura de Campos e que fora deixado em testa-mento por sua proprietária, Finazinha Queiroz, para ser a sede da futura uni-versidade.

Um marco importante na história da Uenf foi a conquista de sua autono-mia administrativa, em 23 de outubro de 2001. Após a autonomia, a Uenf incorporou o nome de seu fundador, passando a se chamar Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.

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O parceiro do Nobel Produtividade científica coloca

Uenf no rankingEdson Corrêa da Silva, professor titular da Uenf, tem artigo conjunto com o alemão Peter Gruenberg, um dos vencedores do Nobel de Física 2007

O físico brasileiro Edson Corrêa da Silva, da Uenf, tem um artigo científico publicado em conjun-to com um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Fí-sica 2007, o alemão Peter Gruenberg. O artigo, des-crevendo experiência de física básica voltada para a obtenção de meios magnéticos alternativos de gra-vação de dados, foi publicado em 1993 no Journal of Magnetism and Magnetic Materials ( JMMM 121, 528). Gruenberg levou o Nobel de Física de 2007, ao lado do francês Albert Fert, pela descoberta do chamado efeito de magnetoresistência gigante em 1988. Este efeito originou tecnologias que estão hoje presentes em iPods e sistemas de freios ABS, entre outros.

O trabalho do físico da Uenf foi desenvolvido no período em que ele atuou como professor visitante na Ruhr Universität Bochum, da Alemanha, de 1990 a 1992. Apresentado ao professor Peter Gruenberg, Edson estabeleceu uma cooperação na área de mag-netismo de filmes ultra-finos. O trabalho, de caráter básico, vislumbrava a possibilidade de se obterem memórias maiores em espaços menores.

— O professor Gruenberg preparou as amostras, e nós fizemos as medidas, os cálculos, com um equi-pamento de ressonância ferromagnética de que ele não dispunha em sua instituição — lembra Edson, que chegou à Uenf em 2006 e atualmente é o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação.

A pesquisa se inscreve na mesma grande área do trabalho que rendeu o Nobel para Peter Gruenberg e Albert Fert, mas com foco específico diferente. Outro pesquisador brasileiro, o professor Mario Baibich, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, colaborou especificamente com o trabalho que resultou no Nobel para a dupla Gruenberg-Fert.

Para o pesquisador da Uenf, a conquista do No-bel na área de ciência por um brasileiro parece não estar próxima, apesar dos avanços “expressivos” da produção científica nacional e da existência de pes-quisadores “excepcionais” no país. É que o nível de investimento em pesquisa científica no Brasil

ainda não se compara aos dos países do Primeiro Mundo. Quem chegou mais perto foi o físico

César Lattes, indicado para o Nobel de Fí-sica no ano 1949, mas que acabou não levando o prêmio.

A Uenf figura entre as “campeãs de cita-ção” no ranking das universidades brasilei-ras que publicam mais artigos científicos de impacto. Levantamento publicado na edição de 28/10/07 do jornal Folha de São Paulo, referente ao ano 2005, mostra que pesqui-sadores da Uenf publicaram 99 artigos em revistas e periódicos científicos de todo o mundo. Estes mesmos artigos foram citados 104 vezes por outros pesquisadores até de-zembro deste ano, perfazendo a média de 1,05 citação por artigo.

O levantamento foi feito pelo professor Rogério Meneghini, doutor em Bioquímica pela USP, que há alguns anos resolveu se dedicar ao estudo da comunicação científi-ca e da ciência brasileira. O ranking não se baseia no número absoluto de artigos publi-cados, que pode ter a ver, por exemplo, com o porte da instituição. A base é o número médio de citações geradas por cada artigo publicado. O fato de um artigo ser citado por outro é considerado um indicador de sua relevância para a ciência mundial.

A lista contempla as mais conceituadas instituições de pesquisa do Brasil, incluin-do a USP e a Unicamp — que passaram a figurar entre as 200 principais universidades do mundo, segundo o jornal The Times — e as federais. O primeiro da lista é o Instituto Butantan. Além das paulistas, as únicas uni-versidades estaduais que figuram na relação são a Uenf, a Uerj e a Universidade Estadual de Londrina (Uel).

O levantamento foi feito entre 24 e 28/09/07 no Web of Science, site que con-tém informações sobre os cerca de 8,7 mil periódicos científicos mais prestigiados e de maior impacto do mundo.

Atualmente o Brasil é responsável por cerca de 2% da produção científica mundial, ocupando o 15.º lugar no ranking mundial. Quando se considera o impacto dos artigos medido através do número de citações, o Brasil fica em 20.º lugar.

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Uma história de talento e determinação

Quando a escola e a universidade são fundamentais

Ex-aluno da Agronomia da Uenf fica em primeiro lugar em seleção para mestrado na UFRGS

Filho de trabalhadores rurais que nunca freqüentaram uma escola, sen-do o mais novo entre seis irmãos e o único a chegar ao ensino superior, o ex-aluno da Uenf Armando Fornazier, 26 anos, acaba de ser aprovado em primei-ro lugar para o mestrado em Agronegócio na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Dono de uma trajetória admirada por colegas e professores, Ar-mando adiantou suas disciplinas no curso de Agronomia da Uenf para se formar no meio de 2007 e assim ter tempo para se preparar para a seleção do mestrado.

Antes de fazer a prova de seleção, Ar-mando estava convocado para assumir um posto no Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, após aprovação em concurso público. Como não pôde adiar a posse, abriu mão do em-prego e resolveu arriscar a prova para a UFRGS. Concorrendo com 35 outros can-didatos, o ex-aluno da Uenf foi aprovado em primeiro lugar.

Família humilde - A maioria dos irmãos de Armando estudou somente até a quarta série e hoje ajuda os pais na lavoura. Só uma irmã conseguiu re-

centemente concluir o ensino médio, graças a um curso supletivo. A família mora na zona rural de Alfredo Chaves (ES), onde não há facilidades para avan-

çar nos estudos.— Enquanto morava em Campos, eu

só podia visitar minha família umas três vezes por ano. Daqui para lá são três con-duções e mais quatro quilômetros a pé. Agora vou estar mais longe, mas acho que vai dar para vir umas duas vezes no ano — conta Armando.

Vários professores da Uenf que co-nheceram a trajetória de Armando ao lon-go do curso de Agronomia ficaram grati-ficados com seu desempenho no exame para a Universidade Federal do Rio Gran-de do Sul. Tanto é que o e-mail da Asses-soria de Comunicação da Universidade recebeu pelo menos quatro mensagens de professores sugerindo a matéria.

— Quando a energia de um jovem determinado encontra o ambiente de uma universidade como a Uenf, o resul-tado geralmente é esse — comenta a pró-reitora de Graduação da Universida-de, Lilian Bahia de Oliveira.

Armando Fornazier é um exemplo da importância da universidade pú-blica como instrumento de ascensão social, mas também deve boa parte de sua formação a uma iniciativa bem-sucedida de apoio à escolarização bási-co. O ex-aluno da Uenf cumpriu o ensino médio numa escola onde se passa uma semana estudando, em tempo integral, e outra em casa, ajudando a

família. Trata-se da Escola Família Agrícola de Olivânia, em Anchieta (ES), ligada ao Mepas (Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo).

Depois de se formar técnico agropecuário, em 2000, Armando passou um ano numa escola agrotécnica federal em Santa Teresa (ES), especializan-do-se em olericultura e jardinagem. Em seguida veio para o Estado do Rio

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trabalhar no projeto Frutificar, que dispensou os contratados durante a mudança de governo em abril de 2002.

— Voltei para Alfredo Chaves e fiquei um período em casa estudan-do para o vestibular com livros em-prestados, pois lá não tem facilidade para cursinho. Um colega me falou sobre a Uenf, e passei no vestibular 2003 — conta Armando, que duran-te o curso de Agronomia foi um dos fundadores da primeira empresa jú-nior da Uenf, a Procampo Consulto-ria Agropecuária Ltda.

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A marca de Niemeyer no Centro de Convenções

Centrífuga geotécnica em operação

Inaugurada há quatro meses, a Centrífuga Geotécnica da Uenf está em plena operação. Recursos da Pe-trobras, repassados ao Núcleo de Excelência em Ancoragem de Plata-formas Marítimas, propiciaram a am-pliação do prédio que abriga o equi-pamento para a montagem de uma central de usinagem. A central vai permitir a fabricação de modelos re-duzidos com grande precisão, como explica o professor Fernando Saboya, do Laboratório de Engenharia Civil da Uenf.

Além da própria centrífuga, o Núcleo de Excelência em Ancoragem de Plataformas Marítimas congrega pesquisadores, técnicos e estudantes da Uenf. O aparato é o primeiro do gênero na América Latina, e sua apli-

cação em pesquisas em ancoragens de estruturas off-shore só tem similares na Austrália e nos Estados Unidos.

Adquirida por US$ 400 mil, na década de 1990, a Centrífuga Geo-técnica permite a simulação de fe-nômenos de engenharia em escala reduzida, sendo aplicável em várias áreas, inclusive petróleo e gás. Por exemplo, com um modelo de 1 me-tro de altura pode-se verificar o com-portamento de um protótipo similar de 100 metros. Segundo o professor Fernando Saboya, o funcionamento da centrífuga lançará de imediato a Uenf no cenário internacional de pro-jetos avançados em áreas estratégicas como meio ambiente, petróleo, gás e geração de energia.

O convênio com a Petrobras para

Equipamento abre nova frente de cooperações científicas e tecnológicas

a instalação do Núcleo de Excelência em Ancoragem de Plataformas Maríti-mas viabilizou a liberação de uma ver-ba de R$ 1,7 milhão, o que permitiu à Uenf, entre outras atividades, trazer dois técnicos da empresa fornecedo-ra do equipamento para atualizar os

softwares de controle e realizar os primeiros testes de funcionamento. A instalação abre a perspectiva de novos acordos e parcerias. A univer-sidade americana do Colorado, por exemplo, já fez contatos com os pes-quisadores da Uenf.

Professor Fernando Saboya explica o funcionamento da Centrífuga no ato de inauguração

Obra-prima de Oscar Niemeyer, o Centro de Convenções da Uenf se transformou em cartão postal do Campus Leonel Brizola e da cidade de Campos. Inaugurado em de-zembro de 2007 pelo governador Sérgio Cabral, o Centro ocupa área total de 8.260 metros quadrados. A expectativa do reitor Almy Junior é que o local viabilize novas e in-tensas ações de popularização da ciência e que funcione como mais um elo entre a Universidade e a so-

ciedade da região.— É uma obra belíssima, que

atrai grandes eventos para a re-gião, beneficiando o comércio, o setor de serviços e toda a economia regional.

O Centro de Convenções da Uenf foi construído em três níveis. No primeiro encontram-se anfite-atros, camarins, foyer, cinema, ali-mentação, depósito, espaço para

exposições, administração e sani-tários, num total de 3.600 m2. O nível intermediário abrange um palco externo e uma praça, tam-bém totalizando 3.600m2. No nível superior estão localizadas as áreas técnicas e a platéia, com 1.060 m2.

Além do projeto do Centro de Convenções, Niemeyer é o autor de toda a planta arquitetônica do Campus da Uenf, incluindo o projeto do Hospital Veterinário.

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Patrimônio natural e cultural ganha CD e AtlasProjeto de extensão vai divulgar informações sobre Campos dos Goytacazes

Em um momento de autoridades presas, perplexidades e baixa auto-estima, nada melhor do que conhe-cer a riqueza da história, da cultura e da natureza de Campos dos Goytaca-zes. Todo o acervo de conhecimentos produzidos pelos pesquisadores da Uenf sobre o patrimônio natural e cultural do município de Campos vai servir de subsídio para a confecção de um CD, um Atlas e outros mate-riais de divulgação científica. O pro-jeto de Extensão “Patrimônio natural e cultural de Campos dos Goytacazes:

Conhecendo a história do mundo em que vivemos!”, coordenado pela pro-fessora Maria da Glória Alves, foi con-templado no Edital Proext Cultura 2007 (“Programa de apoio à cultura: Extensão Universitária”), do Ministé-rio da Cultura, que busca apoiar pro-jetos voltados para a inclusão social e que contribuam para a implementa-ção de políticas públicas culturais.

O projeto, que vai mobilizar 13 profissionais das mais diversas áreas e de várias instituições, tem por ob-jetivo disponibilizar, de forma clara e

acessível, informações científicas sobre o patrimônio local (natural e cultural), que poderão servir de subsídios para educadores, gerenciadores do municí-pio, além da população em geral. Espera-se que a divulgação de informações sobre as riquezas naturais e culturais do município ajude a evitar a destruição ou ocupação urbana/industrial das áreas patrimoniais.

— Trata-se de uma proposta inovadora para o Norte Fluminense. A Uenf vem desenvolvendo pesquisas, tanto na área de patrimônio cultural quanto natural, criando um grande acervo sobre a região. É este acervo que vai dar a base necessária ao projeto — explica Maria da Glória.

Segundo a professora, o CD e o Atlas vêm preencher uma lacuna existen-te em Campos. Simplesmente não há fontes de consulta sobre a diversidade do patrimônio natural e cultural existente no município. Por este motivo, grande parte da população sequer imagina que vive num local rico em valores geológicos, geomorfológicos, climáticos, paisagísticos, ecológicos, arqueoló-gicos e culturais.

— Para criar os mecanismos de gestão, é preciso conhecer os locais, principalmente aqueles que tenham importância científica, beleza e sejam representativos da história de uma determinada região. Estes lugares podem apresentar um atrativo turístico diferenciado — afirma.

A Mana-Chica é uma das tradições que remontam aos tempos do Brasil Colônia.

O chuvisco: patrimônio imaterial de Campos.

Idéia surgiu a partir de projeto de GeoturismoO projeto “Patrimônio natural e cultural de

Campos dos Goytacazes: Conhecendo a história do mundo em que vivemos!” começou a ser concebido em 2002, quando a Uenf foi convidada a participar do projeto Caminhos Geológicos do DRM (Departa-mento de Recursos Minerais). Coube à Uenf a indi-cação dos pontos de interesse turístico e geológico do município de Campos.

Os trabalhos tiveram início quando foi aprova-do o primeiro projeto de extensão “Geoturismo — Implementação do Turismo Geológico-Ecológico no

Município de Campos dos Goytacazes”. Mais tarde, foi criado o projeto “Patrimônio Cultural de Cam-pos”, envolvendo, além do patrimônio geológico, o patrimônio geomorfológico-paisagístico, ecológico e climático.

Pela Uenf, participam do projeto, além da profes-sora Maria da Glória Alves (que atua no Laboratório de Engenharia Civil/Leciv), os professores Valdo Mar-ques (Laboratório de Meteorologia/Lamet), Simonne Teixeira (Laboratório de Estudo do Espaço Antrópi-co/Leea) e Francisca Maria Alves Pinheiro (Lamet), a

pedagoga Danuza da Cunha Rangel, a engenheira cartográfica Isabel de Souza Ramos (Leciv), a gradu-anda Mirian Viana Alves (curso de Ciências Sociais, bolsista de Extensão) e o graduando Daniel Rangel de Salles Guerra (bolsista Universidade Aberta).

Também integram o projeto a geóloga Renata Schimidt (Uerj), a arquiteta Aline Nogueira Costa (UFRJ), a coordenadora do Projeto Caminhos Ge-ológicos, do Departamento de Recursos Minerais (DRM), Kátia Mansur, e Vitor Nascimento, da equipe executora do Projeto Caminhos Geológicos.

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Município apresenta dez tipos de relevoUma das áreas do patrimônio

natural de Campos pouco conheci-da é a geomorfológica, relacionada à forma de relevo e sua evolução. Se-gundo a professora Maria da Glória

Alves, o município apresenta dez diferentes formas de relevo, fruto de uma singular interação entre aspectos geológicos (tectônicos) e climáticos. São elas: domínio serra-

no, serras isoladas, colinas isoladas, domínio suave colinoso, domínio colinoso suave, tabuleiros, planícies aluviais, planícies costeiras, planícies colúvio-alúvio-marinhas e planícies

flúvio-lagunares A Serra do Imbé e a Serra da

Pedra Lisa são exemplos de domínio serrano. Já os vales dos rios Imbé e Urubu, que correm paralelamente à Serra do Imbé e desembocam na Lagoa de Cima, são exemplos de planícies aluviais. Formada por pro-cessos de sedimentação marinha e/ou eólica, a planície costeira esten-de-se entre o Farol de São Tomé e o limite do município. No Farol, ela consiste em um único cordão litorâneo, que isola do oceano uma extensa planície flúvio-lagunar ala-gada. Esta, por sua vez, é formada por sedimentos resultantes do res-secamento moderno da Lagoa Feia.

— Embora tenhamos uma diversidade tão rica de relevos, mui-ta gente desconhece este fato — afir-ma a professora Maria da Glória.

Domínio Serrano

Domínio Colinoso Suave

Domínio Suave Colinoso

Colinas Isoladas

Tabuleiros

Planícies Aluviais

Planícies Flúvio-Lagunares

Planície Colúvio-Alúvio-Marinha

Planícies Costeitas

Hidrografia

Serras Isoladas

Serra do Imbé Margem do rio Imbé - nas proximidades da Lagoa de Cima Praia do Farol de São Thomé Planície Aluvial próxima ao Farol de São Thomé

Trecho da BR 356 proximo ao Solar da Baronesa

Vista da cidade a partir do morro do Itaoca

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Não perca os prazos para o Vestibular 2009

Cursos:

Etapa inicial:

Etapa final:

Entenda o Vestibular:

Inscrições para o 1.º Exame de Qualificação já em abrilAtenção você que está completando ou já completou o ensino médio: saiu o calendário com as datas de inscrições e de provas do próximo

Vestibular para a Uenf (Vestibular Estadual). As inscrições para o 1.º Exame de Qualificação (fase inicial) devem ser feitas de 9 a 30 de abril, pela internet (www.vestibular.uerj.br). A prova será aplicada em 22 de junho.

A taxa de inscrição é de R$ 38,00 (trinta e oito reais). Quem pediu isenção da taxa por razões de carência socioeconômica deve conferir o resultado da análise a partir de 1.º de abril, pela internet.

Saiba mais:

Área Agropecuária (*): Medicina Veterinária.Área Biológica: Ciências Biológicas (bacharelado) e Biologia (licenciatura)Área de Humanas (*): Ciências Sociais.Área Tecnológica: Engenharia Civil, Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo, Engenharia de Produção, Engenharia Metalúrgica e de Materiais, Ciência da Computação e Informática, licenciaturas em Física, Matemática e Química.(*) Os cursos de Agronomia, Pedagogia (licenciatura) e Zootecnia serão incluídos em vestibular isolado, em vez de figurar no Vestibular Estadual. Informe-se em www.uenf.br.

1.º Exame de Qualificação. Inscrições de 9 a 30/04/08. Prova em 22/06/08.2.º Exame de Qualificação. Inscrições de 1.º a 21/07/08. Prova em 14/09/08.- Pontuação máxima nesta fase: 20 pontos.

Exame Discursivo. Datas a serem definidas.- Pontuação máxima nesta fase: 80 pontos.

Dúvidas: Disque-Uenf – 0800 25 2004 (segunda a sexta, das 9h às 17h)

O Vestibular para a Uenf (Vestibular Estadual) é aplicado em duas etapas. Na etapa inicial (Exame de Qualificação) o candidato faz apenas provas de múltipla escolha e precisa acertar acima de 40% das questões. Existem duas chances para passar na primeira etapa: o 1.º e o 2.º Exame de Qualificação. Para quem fizer os dois exames de qualificação, fica valendo a melhor nota.Na fase final (Exame Discursivo), o candidato faz apenas provas discursivas. Para ser aprovado ao final das duas etapas, é preciso acumular pelo menos 20 pontos na soma do Exame de Qualificação com o Exame Discursivo. Além disso, o candidato não pode tirar zero em nenhuma prova discursiva.

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Estudantes comemoram o sucesso do I Artpoiese, festival de arte e cultura promovido pelos alunos da Uenf

Hospital Veterinário, projetado por Oscar Niemeyer: espaço para teoria e prática dos futuros profissionais

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Nossos CursosGraduação

Agronomia

Ciências Biológicas

Ciência da Computação e Informática

Ciências Sociais

Engenharia Civil

Engenharia Metalúrgica

Engenharia de Produção

Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo

Licenciatura em Biologia

Licenciatura em Ciências Biológicas a Distância

Licenciatura em Física

Licenciatura em Matemática

Licenciatura em Pedagogia

Licenciatura em Química

Licenciatura em Química a Distância

Medicina Veterinária

Zootecnia

Pós-GraduaçãoBiociências e Biotecnologia

Ciências Naturais

Cognição e Linguagem

Ecologia e Recursos Naturais

Engenharia Civil

Engenharia de Produção

Engenharia de Reservatório e de Exploração

Engenharia e Ciência dos Materiais

Genética e Melhoramento de Plantas

Políticas Sociais

Produção Animal

Produção Vegetal

Sociologia Política

Expansão regional em foco na UenfImplantar-se fisicamente no Noroeste Fluminense, como prevê o artigo 49

das Disposições Transitórias da Constituição Estadual de 1989, é um dos desa-fios da Uenf. Em reunião extraordinária realizada em 17 de março, o Conselho Universitário determinou a realização de uma consulta a cada Centro da Uni-versidade quanto às atividades de ensino, pesquisa e extensão que podem vir a fazer parte da proposta de instalação de um campus avançado em Itaperuna (RJ). A Prefeitura do município já manifestou várias vezes a disposição de coope-

rar para a concretização da medida. De sua parte, o governador Sérgio Ca-bral se comprometeu a viabilizar, ainda neste ano, os recursos necessários.

São João da Barra - Definido o local da Unidade Experimental de Pesquisa Técnico-Científica em São João da Barra (RJ). A área, de 20 hec-tares, está sendo cedida pela subsidiária da empresa MMX, responsável pela construção do Porto do Açu. O convênio foi firmado em dezembro de 2007, envolvendo a empresa, a Universidade e a Prefeitura Municipal.

O governador Sérgio Cabral (à esquerda), o prefeito de Itaperuna, Jair Bittencourt (a seu lado), o reitor Almy Junior (à direita) e outras autoridades em evento no Noroeste Fluminense

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Histórias reais da educação a distância

Ricardo Gonzalez, exemplo de talento e superação

Consórcio Cederj

Marina não ficou presa no mangue

O Consórcio Cederj reúne seis universidades públicas do Estado do Rio e o governo do Estado para oferecer educação superior a distância com o padrão de qualidade das instituições federais e estaduais. A Uenf faz parte do Consórcio com os cursos de licencia-tura em Ciências Biológicas e em Química. Os cursos não são nada fáceis, mas têm uma capacidade incomum de garimpar talentos

onde poucos imaginariam que eles estivessem. Confira:

Um dos maiores exemplos de su-peração da Uenf continua dando aula de talento e determinação. Tetraplé-gico desde os 15 anos, como conse-qüência de um acidente de carro, Ri-cardo foi um dos melhores alunos da primeira turma de biólogos formados pelo ensino a distância no Brasil, em setembro de 2006. Agora, aos 26 anos, Ricardo Gonzalez cursa pós-graduação em Análise de Risco Ambiental na Uni-camp, em Campinas (SP).

Quem abriu as portas do ensino superior para Ricardo foi a educação a distância semipresencial do Consórcio Cederj, que integra as principais uni-versidades públicas do Estado (Uenf, Uerj, UFRJ, UFF, UFRRJ e UniRio). O biólogo se formou no curso de li-cenciatura em Ciências Biológicas da

Uenf, mantendo aproveitamento sem-pre superior a 80%. Pela modalidade semipresencial, o aluno estuda com material didático específico e tira dú-vidas pela internet, por telefone ou diretamente com tutores. A obrigação da presença só ocorre nas provas e em atividades práticas.

— Sempre contei muito com meus colegas e tutores para realizar as ativi-dades presenciais obrigatórias ineren-tes ao curso de biologia. Mas a experi-ência mais marcante nesses anos foi a viagem para um trabalho de campo no Parque Estadual da Serra do Mar, em Ubatuba (SP). Foram três dias inesque-cíveis — disse Ricardo ao site do MEC, que o tomou como figura exemplar para marcar o Dia Nacional da Educa-ção a Distância, 27 de novembro.

Cursos:

Administração

Licenciatura em Ciências Biológicas

Licenciatura em Física

Licenciatura em Matemática

Licenciatura em Pedagogia

Licenciatura em Química

Tecnologia em Sistemas de

Computação

Informações:

www.cederj.edu.br

(21) 2568-1226

A ex-catadora de caranguejos Ma-rina Barreto Silva, que também já cui-dou da terra e fez redes de pesca em Gargaú, junto à foz do Rio Paraíba do Sul, é outro exemplo do caráter inclu-sivo da educação a distância oferecida pelo Consórcio Cederj. A exemplo de Ricardo Gonzalez, que se formou em 2006, Marina tem ótimo desempenho, mantendo um coeficiente de rendi-mento (C.R.) na casa dos 8,0.

— Estou mais animada do que nunca — diz Marina, mãe de quatro filhos, única a chegar ao ensino supe-rior numa família de oito irmãos.

Ela já tinha o primeiro grau com-pleto desde 1979, mas ficou 11 anos sem estudar até que o ensino médio chegasse a Gargaú. Para chegar ao en-sino superior, em 2004, Marina contou com o pólo do Consórcio Cederj ins-talado em São Francisco de Itabapoa-na (RJ). Segundo dados da Fundação Cide para o ano 2000, São Francisco

tem o segundo pior Índice de Desen-volvimento Humano (IDH) dentre os 91 municípios do Estado.

— Pensei que nunca mais ia estu-dar. Tinha vontade de fazer Medicina, mas Biologia também lida com vida, está ótimo.

Os cursos do Cederj são muito puxados, às vezes até mais difíceis do que os seus similares no ensino pre-sencial tradicional. Segundo a profes-sora Ana Beatriz Garcia, que coorde-nou o curso de Biologia a distância da Uenf até 2006 e agora é diretora aca-dêmica do Cederj, o verdadeiro vesti-bular ocorre ao longo do curso.

— Muitos alunos não conseguem levar adiante, e isto já é esperado, por-que o ensino é mesmo rigoroso. Mas o importante é que muitos outros, que jamais teriam outra oportunidade de ingressar num curso superior de qua-lidade, deslancham e têm a chance de efetivamente mudar de vida.

Marina Silva

Ricardo recebe seu diploma das mãos do professor Carlos Eduardo de Rezende, à época diretor do CBB

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A ciência e o uso de animais

Uenf conta com Comissão de Ética desde 2001

Não há dúvidas de que os ani-mais usados em pesquisas científi-cas sofrem. A questão é: o sofrimen-to dos animais justifica o seu uso em prol do avanço da ciência? Para o vereador carioca Cláudio Caval-canti, não. Ele foi o autor de uma lei que prevê punição para quem causar sofrimento físico, medo, estresse, angústia, patologias ou morte a animais — inclusive insti-tuições de pesquisa. A lei foi muito contestada, mas acendeu o debate sobre o tema, especialmente em universidades e institutos.

Para a comunidade científica, proibir o uso de animais em expe-rimentos significa o fim de pesqui-sas importantes, principalmente na área de saúde. O professor Milton Kanashiro, pesquisador do Labora-tório de Biologia do Reconhecer (LBR) e presidente da Comissão de Ética para o Uso de Animais da Uenf, afirma que o teste em ani-

mais, em muitos casos, ainda é o método mais eficaz para avaliar a qualidade de medicamentos e va-cinas.

— O vereador tomou por base trabalhos de ONGs que garantem ser possível substituir, em todos os casos, os animais por outros méto-dos. Mas isso não é verdade. Exis-tem pesquisadores no mundo todo trabalhando no desenvolvimento de novas tecnologias com esta fi-nalidade, mas até hoje não existe um conjunto de testes que possa efetivamente substituir o uso de animais — afirma.

Ele cita como exemplo o tra-balho realizado pelo Instituto Na-cional de Controle de Qualidade e Saúde (INCQS), responsável pelo controle de produtos biológicos fabricados no Brasil, tais como vacinas, antibióticos, soros an-tiofídicos, entre outros. Segundo Kanashiro, se tais medicamentos

Embora ainda não seja obrigatório, desde 2001 a Uenf tem in-centivado seus pesquisadores a encaminharem projetos que incluam o uso de animais para análise da Comissão de Ética para o Uso de Animais. A Comissão é formada por seis professores, representantes dos Centros que utilizam animais em suas pesquisas: o Centro de Bio-ciências e Biotecnologia (CBB) e o Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA).

— Até hoje, já analisamos cerca de 30 projetos de pesquisa. Em muitos, fizemos recomendações e houve até um projeto que não foi aprovado — afirma o professor Milton Kanashiro, que preside a Co-missão. Para ele, esta é a forma mais adequada de controlar eventuais abusos no uso de animais dentro das instituições de pesquisa.

Segundo o professor, aos poucos os pesquisadores vêm se conscientizando da necessidade de terem seus projetos avaliados pela Comissão. Muitas revistas científicas já exigem que artigos sobre pes-quisas envolvendo o uso de animais incluam o parecer de uma comis-são de ética, exigência que também vem sendo feita pelo CNPq antes de liberar os recursos para pesquisas que envolvam experimentação animal.

No final do ano passado, a Câmara dos Deputados aprovou pro-jeto de lei que obriga as instituições de pesquisa a criarem comissões de ética para o uso de animais. O projeto encontra-se atualmente em tramitação no Senado.

forem testados por métodos alter-nativos os resultados podem não refletir a qualidade necessária para o consumo humano.

— Uma vacina, por exemplo, pode ser liberada sem o controle adequado de pirogênicos, que são

os componentes que induzem a febre, trazendo complicações. Ou pode até mesmo não imunizar. Um soro antiofídico também pode ser liberado e não produzir o efeito desejado, acarretando até a morte de quem for usá-lo — explica.

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Crescer com os pés no chãoEm entrevista ao primeiro número da revista NOSSA UENF, o reitor Almy Junior avalia o momento vivido pela Universidade. Expansão para outros municípios, criação do Colégio de Aplicação e avanços no orçamento e na gestão financeira estão entre os pontos mais importantes na agenda da instituição. Prestes a completar 15 anos, a Uenf está empenhada em ampliar a interação com a sociedade regional e tornar mais visível a sua pres-tação de contas. Almy Junior elogia a decisão do governo do Estado de cumprir os percentuais orçamentários destinados por lei à área de ciência e tecnologia e diz que a Uenf está madura para exercer de fato e de direito o princípio constitucional da autonomia de gestão financeira. Confira:

NOSSA UENF: A Uenf completa 15 anos agora em 2008, e é visível o esforço para parecer mais presente, responder às demandas, participar da vida da região. Será que a universidade finalmente resolveu mostrar sua cara?

Almy Junior: Ao longo destes 15 anos, a face da Uenf não mudou: é a univer-sidade pública comprometida com o desenvolvimento regional. Mas não há como negar que a instituição vive um período muito especial. Tivemos em 2007 um ano histórico do ponto de vista da execução orçamentária e começamos 2008 com a perspectiva de muitos e importantes avanços. Neste momento a Universidade está mobilizada para discutir as atividades

que poderemos vir a implantar em Itaperuna, no Noroeste Fluminense, conforme encaminhamento do Con-selho Universitário. Também estamos empenhados no exame da proposta do governo do Estado de transfe-rir para a Uenf os cursos superiores vinculados à Faetec e sediados em Campos, Itaperuna, Santo Antônio de Pádua e Bom Jesus do Itabapoana. Estamos ainda produzindo subsídios para a possível criação do Colégio de Aplicação da Uenf no Instituto de Educação Professor Aldo Muylaert, o Iepam. Se conseguirmos viabilizar nosso Colégio de Aplicação, ainda mais numa escola tradicional como é o caso do Iepam, será fantástico!

NOSSA UENF: Ainda que a iden-tidade da instituição seja perene, agora ela está mais visível para a sociedade. Esta revista, por exem-plo, é um projeto inédito. O que se pretende que seja o seu papel?

Almy Junior: A revista NOSSA UENF está a serviço desse esforço de apro-ximar a Universidade da sociedade, de chegar mais perto, de prestar con-tas do recurso público que se investe aqui. Às vezes as pessoas têm uma idéia vaga da Universidade e não re-cebem informações básicas sobre a instituição. Por exemplo, sabem que a Uenf faz muitas pesquisas, mas não imaginam que temos aqui a carreira que o seu filho sonha cursar. A univer-

sidade pública tem um dono, que é a sociedade, e esta tem o direito de ser informada sobre o que se passa no campus.

NOSSA UENF: Por obri-gação constitucional, a Uenf já deveria estar em várias cidades da região...

Almy Junior: Sim, a presença física da Uenf no Noroeste Fluminen-se atende a uma exi-gência da Constituição Estadual, mas também a um desejo autêntico da Universidade e da

população dessa região. Estamos trabalhando intensamente nessa direção, junto com a Prefeitura de Itaperuna e o governo do Estado. Nossa filosofia é expandir a Univer-sidade de forma sustentável e man-tendo o padrão Uenf de qualidade.

NOSSA UENF: O senhor assu-miu a Reitoria, em junho de 2007, tendo a autonomia de gestão fi-nanceira como principal ban-deira. Como anda essa questão?

Almy Junior: Primeiro é importante explicar o porquê dessa bandeira. Só com a autonomia de gestão financei-ra respaldada em lei a Universidade pode ter tranqüilidade para fazer o que sabe e a sociedade precisa, que é formar pessoas com qualidade, gerar novos conhecimentos e atuar fortemente na extensão. A autono-mia financeira é também um serviço à boa aplicação dos recursos públi-cos. A Uenf é vista, dentro dos órgãos do Estado, como um modelo de boa gestão. Não estou falando da nossa administração, estou falando da insti-tuição, porque isso vem de longe, são 15 anos de história. Então, se a Uni-versidade tem autonomia, ela execu-ta o que tem orçado para ela e paga em dia seus compromissos. Havendo segurança quanto aos prazos de pa-gamento, teremos condições de atrair maior número de fornecedores, o que elevará a competitividade e abri-

Entrevista / Almy Junior - Reitor da Uenf

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rá margem para a redução de custos.

NOSSA UENF: Mas, ao que pa-rece, o governo do Estado está pagando todas as dívidas...

Almy Junior: Sim, a Universidade não tem mais dívidas, nem com for-necedores, nem com seus servidores. Está tudo zerado, tudo em dia! Luci-damente, o atual governo do Estado tomou a decisão política de respeitar os percentuais de arrecadação desti-nados à área de ciência e tecnologia, e por isso tem havido mais recursos para a Faperj e as universidades es-taduais. Mas é fundamental que isto não seja uma política de governo, mas de Estado. Temos exercido in-tensamente as oportunidades de au-tonomia na gestão. É hora de garantir esse princípio independentemente

do governo que venha no futuro.

NOSSA UENF: O campus está re-cebendo melhorias, mas a verdade é que obras têm sido algo relativa-mente comuns na vida da Uenf, não?

Almy Junior: Tivemos muitas e im-portantes obras ao longo destes 15 anos de construção da Uenf. Algumas foram grandiosas, como o Centro de Convenções projetado por Oscar Niemeyer. Mas nunca tínhamos tido a oportunidade de exercer também nesse terreno o princípio da auto-nomia universitária. Atualmente, é a Universidade quem define suas priori-dades e quem administra os recursos orçamentários. Sabe o que isto signi-fica? Não é só a satisfação da própria instituição de ver contempladas as re-ais prioridades. Isto também significa

boa gestão do dinheiro público, lici-tações, pregões eletrônicos, enfim, a garantia das condições para que o re-curso seja aplicado no seu verdadeiro fim. Criamos a Prefeitura do Campus, com status de diretoria, para cuidar devidamente desse patrimônio que é de todos. A Uenf está se estruturando para receber mais alunos e para pro-porcionar a todos, estudantes ou não, um espaço agradável e humanizado.

NOSSA UENF: A Uenf foi conce-bida por Darcy Ribeiro e teve seu projeto arquitetônico assinado por Oscar Niemeyer. Isso às vezes não pesa, no sentido de ter gera-do uma expectativa muito ambicio-sa para o futuro da universidade?

Almy Junior: Você esqueceu o tercei-ro, Leonel Brizola, que tomou a deci-são política de implantar a Universi-dade, na década de 1990, e para isso chamou o Darcy. Olha, isso não é um fardo, é uma baita de uma honra! De alguma forma, essa ‘herança bendita’ paira sobre a Universidade e explica coisas como a efervescência da nossa iniciação científica, as ações pioneiras na extensão, a vocação da instituição para a pesquisa. Recentemente, o Ins-

tituto Lobo, de São Paulo, fez um cru-zamento entre os financiamentos con-cedidos às instituições brasileiras e sua efetiva produção científica. A Uenf figurou nesse ranking com um custo médio por artigo publicado equiva-lente à metade da média nacional.

NOSSA UENF: Como anda a interação da Uenf com a sociedade de Campos, onde a situação política vem sendo marcada por alto grau de instabilidade?

Almy Junior: Essa instabilidade atra-palha todos os setores, mas ela é mui-to mais um sintoma do que um pro-blema. O problema de boa parte dos municípios que recebem royalties do petróleo é a construção de mecanis-mos institucionais que assegurem a transparência na gestão. Mas estas coi-sas não acontecem espontaneamen-te, nem aqui nem em lugar algum. É preciso haver pressão da sociedade. Em Campos, os últimos governos não deram grande abertura à cooperação, mas a Universidade está madura para discutir em alto nível sua contribui-ção para o desenvolvimento local. Prova disso é a aproximação efetiva com a sociedade organizada, que vem avançando bastante nos últimos anos.

Acima, projeto preliminar do Restaurante Universitário a ser submetido ao Conselho Universitário. Abaixo, bosque situado no Campus Leonel Brizola

A Uenf está discutindo a abertura de cursos em Itaperuna

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A Uenf nasceu de um sonho.O sonho da população de ter aqui uma universidade pública.

Darcy Ribeiro enxergou na criação da Uenf uma grande oportunidade de construir a “Universidade do Terceiro Milênio”, e Oscar Niemeyer transformou essa idéia em um projeto arquitetônico.

Leonel Brizola sonhava transformar o Brasil através da Educação.

Temos cerca de 5.000 alunos matriculados em 17 cursos de Graduação e 22 de pós-graduação e mais de 1.000 teses defendidas.

Queremos estar cada vez mais próximos de você. Queremos ser uma das mais importantes universidades do Brasil e, quem sabe, do mundo.

Foi criada por dois sonhadores,

a pedido de outro sonhador.

Hoje, a Uenf é real,

mas continua a sonhar.

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Entre os sonhos e sua realização existe o trabalho solidário. Se não fos-se o envolvimento e a dedicação de milhares de pessoas que acreditaram e acreditam nesse projeto, talvez hoje a Universidade Estadual do Norte Flu-minense Darcy Ribeiro fosse apenas a lembrança de uma boa idéia que não se concretizara.

Por isso, não basta sonhar. É preciso compartilhar as idéias. Contagiar

os outros com seu entusiasmo. Procurar companheiros para a luta e, é claro, trabalhar para que as idéias não fiquem aprisionadas nas brilhantes mentes de seus criadores. Os sonhos precisam transcender os sonhadores, ter vida própria, existir apesar de nós, mas também dentro de cada um. Assim são os grandes sonhos. Aqueles que valem o esforço, a luta, o sacrifício e dão um sentido maior às nossas ações e à própria vida em sociedade.